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Como citar este artigo: Machado AW, Caldas SGFR. Arco de três peças para o controle tridimensional da retração dos incisivos Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais,
superiores. Rev Clín Ortod Dental Press. 2015 ago-set;14(4):97-109. de propriedade ou financeiros que representem conflito de
interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
Enviado em: 15/07/2015 - Revisado e aceito: 15/08/2015
O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo
Endereço de correspondência: Andre Wilson Machado - Faculdade de Odontologia da UFBA autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias
Av. Araújo Pinho, 62 - 7º Andar, Canela – Salvador/BA – CEP: 40.110-150 - E-mail: awmachado@gmail.com faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
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Arco de três peças para o controle tridimensional da retração dos incisivos superiores
Outro ponto bastante importante e controverso é a re- encaixados na região posterior em tubos auxiliares ou
tração dos dentes anteriores (em massa ou apenas dos em tubos cruzados fixados no arco.
incisivos) quando se utiliza a técnica de deslizamento
ou arco contínuo com alças (T-loops ou Bull loops). Se- Durante a ativação desse sistema, os cantilevers geram
melhante à retração dos caninos, independentemente forças intrusivas na região anterior e, como reação a esse
do modo de fechamento de espaços escolhido, a força efeito, forças extrusivas na região posterior. No segmento
aplicada nos dentes anteriores passa distante do CRes posterior, além da tendência de extrusão, existe, , quando
do conjunto, determinando uma tendência de giro e ex- se amarra os cantilevers na região anterior, um momento
trusão do segmento anterior, pela ação exclusiva do mo- horário promovido por um binário. Para realizar a retra-
mento da força. Diversos autores têm sugerido meios de ção dos incisivos, elásticos em cadeia ou molas fechadas
se evitar esse efeito colateral, tais como: incorporação são encaixados entre os segmentos posterior e anterior.
de Gable bend na região anterior e aumento do torque Essa ativação irá criar forças e momentos opostos (dista-
na região dos incisivos (no próprio arco ou escolhen- lização e momento da força no sentido horário, no seg-
do-se uma prescrição de braquetes com mais torque, mento anterior; e mesialização e momento da força em
por exemplo a MBT). O raciocínio de ambos os meios é sentido anti-horário, no posterior). Percebe-se que essa
contrapor o momento da força com um momento pro- ativação, per si, também tenderia a aprofundar a mordida.
veniente de um binário no interior do slot. Dessa forma,
esses momentos se anulariam e o dente distalizaria por O grande diferencial desse mecanismo é a possibilidade
translação, com excelente controle vertical. Contudo, de se encaixar o cantilever em diversos locais da região
esquece-se que esse tipo de conduta determina o apa- anterior. Assim, dependendo do ponto de aplicação,
recimento de uma assimetria no arco denominada, na além da tendência de intrusão dos incisivos, poderemos
literatura, como “V” assimétrico. Dessa forma, por se ter momentos horários (lingualização), anti-horários (ves-
tratar de um sistema estaticamente indeterminado, for- tibularização) ou até mesmo anular o momento, quando
ças resultantes verticais de extrusão na região anterior, e a força passar pelo centro de resistência.
de intrusão na região posterior, determinam um aprofun-
damento significativo da mordida (Fig. 4 e 5)1-9,11. Alguns trabalhos pesquisaram sobre o ponto de aplicação
da força para proporcionar intrusão adequada dos incisi-
Nesse sentido, em virtude do fechamento de espaço ser vos superiores. Os resultados desses estudos levaram à
rotina no consultório ortodôntico, o objetivo do presente criação de uma afirmação clínica que, muitas vezes, acar-
artigo é sugerir o uso do arco de três peças para a cor- reta em erros: quando se deseja intruir os quatro incisivos
reção desse efeito colateral e/ou retração dos incisivos e manter sua inclinação axial (eliminando a criação de mo-
superiores com o máximo controle tridimensional. mentos), deve-se aplicar a força intrusiva na região próxima
à distal do incisivo lateral; para gerar intrusão e vestibu-
O ARCO DE TRÊS PEÇAS PARA O larização, a força deve ser localizada na região mesial ao
CONTROLE TRIDIMENSIONAL DA RETRAÇÃO lateral; e, para criar intrusão com retroinclinação, a força
DOS INCISIVOS SUPERIORES deve estar localizada na região distal ao canino (Fig. 7)13-16.
O arco de três peças foi introduzido por Shroff et al.12,
em 1995. Um esquema desse sistema pode ser vis- Vale lembrar que um bom controle de ancoragem deve
to na Figura 6, o qual consiste de dois segmentos de ser realizado devido às forças e, principalmente, os mo-
arcos rígidos unindo os pré-molares e molares, em mentos criados pelo arco de três peças. O máximo de
ambos os lados, que podem ou não estar unidos por dentes posteriores deve estar incorporado nos segmen-
uma barra palatina. Na região anterior, um arco rígido tos posteriores e, em alguns casos, pode-se utilizar uma
envolve todos os incisivos, com extensões para distal barra palatina para transformar os segmentos posterio-
em ambos os lados. Esses componentes compõem res em um bloco único de ancoragem. Além disso, a
as unidades passivas desse sistema. Nos dois la- literatura também recomenda o uso do extrabucal oblí-
dos, são confeccionados cantilevers com fios flexíveis quo, com o braço externo curto12,17, embora essa estra-
( -Ti, TMA®, Ormco Co., Glendora, EUA, por exemplo), tégia seja pouco utilizada clinicamente.
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Figura 4: Exemplo da incorporação de Gable bend (região an- Figura 5: A) Representação de aumento do torque nos incisi-
terior) nos arcos contínuos, com alças para retração de incisi- vos, com objetivo de criar um momento do binário significativo,
vos. A) Em uma análise visual rápida, pode parecer que esse que possa contrapor o momento da força quando se ativa o
sistema irá gerar forças de intrusão na região anterior; porém, arco de retração. B) Contudo, essa abordagem gera um sistema
essa interpretação está equivocada. B) O que ocorre, de fato, é de força semelhante ao demonstrado na Figura 4 e com tendên-
que, como essa configuração forma um “V” assimétrico em um cia de extrusão dos incisivos.
sistema estatisticamente indeterminado, irá gerar força extrusi-
va na região anterior e intrusiva na posterior (setas vermelhas),
além de um grande momento anti-horário na região anterior e
um pequeno momento na região posterior, no mesmo sentido.
Figura 6: Arco de três peças para controle tridimensional em Figura 7: Diferentes pontos de aplicação da força e efeitos me-
caso de fechamento de espaço por retração anterior. As setas cânicos nos incisivos: 1, 2 e 3 = Intrusão + Vestibularização;
azuis indicam as forças e o momento gerado pelo cantilever. 4 = Intrusão e 5 = Intrusão + Retroinclinação.
As setas rosas indicam as forças e momentos gerados pelo dis-
positivo de retração (ligadura elástica).
*A presença desse momento está diretamente vinculada à rela-
ção entre a linha de força da ligadura elástica e o CRes do bloco
de dentes anteriores (incisivos). Em geral, o momento estará
presente; porém, se a extensão para distal estiver mais alta e
a linha de força passar pelo CRes, esse momento não existirá.
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Arco de três peças para o controle tridimensional da retração dos incisivos superiores
A técnica do arco de três peças também possui algu- espaços, para redução da biprotrusão. Nenhum tipo de
mas desvantagens, tais como: dificuldade técnica na recurso adicional de ancoragem foi planejado, visto que
confecção das peças, o que pode aumentar o tempo não existia a intenção de reduções significativas do vo-
de cadeira; possível desconforto do paciente, devido ao lume labial pós-retração dos incisivos.
volume das peças; e possível impacto antiestético, caso
as peças estejam visíveis ao sorriso. Inicialmente, foi realizado o alinhamento e nivelamento
com arcos contínuos. Em seguida, os caninos foram
Um aspecto fundamental, que também deve ser lembra- retraídos parcialmente, por meio de mecânica de desli-
do antes da indicação do arco de três peças, diz respei- zamento (Fig. 11). Posteriormente, os incisivos começa-
to ao risco de a intrusão dos incisivos superiores afetar ram a ser retraídos, também por meio da mecânica de
negativamente a estética do sorriso. Durante o diagnós- deslizamento. Devido ao aprofundamento da mordida,
tico, é vital analisar a posição vertical dos incisivos supe- essa mecânica foi interrompida e instalou-se o arco de
riores e seu nível de exposição no repouso, no sorriso e três peças. Com o manejo do ponto de aplicação do
na fala, bem como a idade e o sexo do paciente. Essas cantilever, foi possível aumentar o torque vestibular de
informações serão cruciais para definir a viabilidade ou coroa nos incisivos (momento anti-horário) e terminar a
não da intrusão dos incisivos superiores. Como o objeti- sua retração (Fig. 12). Nesse exemplo, percebe-se que
vo principal desse artigo é focar em considerações me- o objetivo do arco de três peças não foi alcançar uma
cânicas voltadas ao controle tridimensional dos incisivos intrusão verdadeira dos incisivos, mas, sim, controlar tri-
superiores durante a retração, sugerimos leitura adicio- dimensionalmente os incisivos durante a retração.
nal para esclarecer critérios estéticos para auxiliar na to-
mada de decisão na indicação da intrusão de incisivos18. As Figuras 13 e 14 ilustram os resultados faciais al-
cançados após o tratamento ortodôntico: percebe-se
CASOS CLÍNICOS uma melhora significativa no posicionamento labial, em
Caso 1 vistas de perfil e frontal em repouso. A avaliação do
Paciente com 23 anos de idade compareceu ao con- sorriso demonstra que não houve mudanças significa-
sultório com a queixa principal voltada para sua bipro- tivas; porém, mesmo frente a uma mecânica intrusiva
trusão. A análise facial demonstrou adequada simetria de incisivos, o arco do sorriso adequado foi mantido,
e perfil levemente convexo (Fig. 8). A avaliação dos lá- com a borda incisal dos incisivos centrais abaixo das
bios em repouso demonstrou o impacto antiestético da pontas de cúspide dos caninos.
biprotrusão e, embora o sorriso não fosse ideal, apre-
sentava um bom posicionamento vertical dos incisivos Do ponto de vista dentário, uma adequada intercuspi-
centrais, ilustrando um arco do sorriso convexo (Fig. 9). dação e uma relação de molares e caninos em chave de
oclusão foram alcançadas, o apinhamento foi corrigido
No diagnóstico dentário, a paciente apresentava má e as arcadas alcançaram um bom alinhamento, além de
oclusão de Classe II, 1ª divisão, subdivisão esquerda, adequados níveis de overjet e overbite (Fig. 15).
com mordida profunda e leve apinhamento (Fig. 10).
Em seguida, três anos após o término do tratamento,
O plano de tratamento consistiu da exodontia de qua- a manutenção dos resultados obtidos demonstra a
tro primeiros pré-molares, seguida do fechamento dos estabilidade do caso (Fig. 16).
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Figura 11: Fase intermediária do tratamento, com a retração parcial dos caninos.
Figura 12: Percebe-se a leve extrusão dos incisivos superiores e a perda de torque. Para correção desse efeito, foi iniciada a me-
cânica com o arco de três peças.
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Figura 19: Fase intermediária do tratamento, após alinhamento e nivelamento com arcos contínuos.
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Após a conclusão do alinhamento na arcada inferior, Nesse exemplo, percebe-se que o objetivo do arco de
iniciou-se o fechamento dos espaços em massa, com três peças foi recolocar verticalmente os incisivos supe-
arcos contínuos e alças em “T”. Em seguida, na arca- riores (intrusão) e corrigir o torque para, posteriormente,
da superior, iniciou-se a mecânica de fechamento por retomar a mecânica de retração.
deslizamento. Nessa fase, o efeito colateral de apro-
fundamento da mordida começou a acontecer. Devido Ao final do tratamento, foi possível corrigir a biprotrusão e
a esse problema, a mecânica foi interrompida e insta- alcançar um ótimo resultado na estética do sorriso, obede-
lou-se o arco de três peças (Fig. 21). Com o manejo do cendo as principais caraterísticas de um sorriso ideal (Fig.
ponto de aplicação do cantilever, foi possível aumentar 23 e 24). Do ponto de vista dentário, uma adequada inter-
o torque vestibular de coroa nos incisivos (momento cuspidação, uma correta relação de molares e caninos foi
anti-horário) e retomar o overjet para, então, continuar alcançada, bem como um bom alinhamento das arcadas
a mecânica de retração dos incisivos. Nessa fase, op- dentárias (Fig. 25). Em seguida, 4 anos e 2 meses após o
tou-se pelo arco contínuo com alças em “T” para finali- término do tratamento, a manutenção dos resultados obti-
zar a retração dos incisivos (Fig. 22). dos demonstra a estabilidade do caso (Fig. 26).
Figura 21: Percebe-se a leve extrusão dos incisivos superiores e a perda de torque. Para correção desse efeito, foi iniciada a me-
cânica com o arco de três peças.
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