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TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA - Política Educacional: Organização da Educação

Brasileira.

Discentes:
Mariana Graf Mazzotti - RA 193211
Jorge Henrique De Andrade Pacheco Reis - RA 237966
Marcelo de Arruda Leme – RA 221422

Professor Dr. Luis Enrique Aguilar

O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL

PRIMÓRDIOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL (1500-1889)

No período colonial as profissões exercidas no Brasil, em geral, reproduziram as


necessidades de uma economia bastante elementar. Assim, no ciclo da cana de açúcar surgiram
profissionais para atuarem nos engenhos, cujo os primeiros eram estrangeiros que acabaram
por ensinar informalmente, na prática diária, os que aqui habitavam o mesmo se dá no ciclo do
Ouro, durante o século XVIII, onde formas de mineração e de metalurgia são aprendidas pelos
locais a partir de especialistas vindos de fora.
Neste momento, o ensino formal propedêutico se restringia ao aplicado pelos Jesuítas
a um pequeno número de pessoas, que incluía alguns nativos, mas que era dominantemente
aplicado aos filhos de Comerciantes e autoridades portuguesas que aqui estavam estabelecidos.
Somente após 1808, com a vinda da corte e da família imperial portuguesa para o Brasil,
é que se cria uma demanda por novos profissionais, que ainda assim, tinham um aprendizado
informal nos próprios locais de ofício, e continuou deste modo, após a independência, até
meados do Segundo Império.
Nesse cenário que surgem os primeiros cursos profissionalizantes, algumas escolas se
instalaram para atender cegos e surdos, e outras, como asilos, especialmente para atender
crianças em situação de abandono. Elas buscavam dar uma formação em profissões manuais
como de alfaiate, marceneiro, encadernador e sapateiro. Nesse intuito, em 1874 é criado o que
viria ser chamado Asilo dos Meninos Desvalidos do Rio de Janeiro e mais 10 instituições
similares. (FONSECA, 1961)
O ensino no Brasil sempre refletiu as divisões sociais e econômicas, enquanto um grupo
restrito tinha acesso ao ensino propedêutico com vistas ao ensino superior, a maioria da
população ficava com o ensino elementar, quando muito, e mesmo assim só era acessível a
uma parcela muito reduzida das pessoas. (TAVARES, 2104)
Assim, no Brasil, o ensino profissionalizante nasceu para atender grupos de jovens e
adultos que viviam em situação marginal, e mesmo com o desenvolvimento da Educação
Profissional nos séculos seguintes, ainda hoje esse tipo de educação carrega consigo esse
estigma que o desvaloriza e relega há uma categoria secundária de formação escolar.
Por outro lado, o ensino profissional sempre buscou responder as demandas do mercado
produtor e comercial, refletindo o desenvolvimento econômico do país.
O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL: A EDUCAÇÃO DOS
“DESVALIDOS” (1890-1955)
Em 1909, sobre a presidência de Nilo Peçanha, é criada a primeira Rede Federal de
Educação Profissional, a Escola de Aprendizes e Artífices. No entanto, ela vem fortemente
caracterizada para atender os mesmos desvalidos elencados no período anterior - órfãos e
pessoas com deficiência, embora nos pareça hoje uma medida bastante inclusiva, estava longe
de proporcionar a elevação do padrão profissional da maioria da população.
No entanto, uma frase deste presidente permite antever que suas expectativas iam além
do assistencialismo: “O Brasil atual saiu das academias, o Brasil do futuro sairá das oficinas.”
Isso nos faz entender que, naquele momento, já haviam homens públicos que percebiam a
necessidade da formação profissional para o desenvolvimento econômico do país.
O advento da Primeira Guerra Mundial dificultou a entrada de produtos manufaturados
no Brasil, provocando uma pressão e um estímulo à produção local, levando o governo, em
1918, a estabelecer o novo regulamento para a Escola de Aprendizes que estendeu sua
abrangência para outras pessoas da população, além dos já citados desvalidos. E, pressão
similar é observada após a crise de 1929, incrementada ainda mais pela segunda guerra mundial
que afetou as 2 décadas seguintes.
Nos anos 30 tem início o processo de industrialização do Brasil, e a crise no setor rural,
principalmente cafeeiro, propiciou o surgimento de uma burguesia industrial e o início da
demanda por profissionais mais especializados. Mesmo assim, a demanda era pequena e a
educação profissional ainda era tratada com o objetivo de atender os “desfavorecidos da
Fortuna" e resolver o problema da ociosidade na crescente população urbana, vista como
agravante para o crescente índice de criminalidade.
No início dos anos 40 surgem as primeiras leis regulamentando o ensino profissional,
que na prática buscava engajar o setor privado industrial e comercial e rural como responsável
pela formação profissionalizante. então o serviço nacional dos industriários que logo passaria
a ser chamado SENAI. Era o nascimento do que hoje chamamos de Sistema “S”. Não obstante
o caráter dominantemente privado desse sistema, foi nesse mesmo período que as Escolas de
Aprendizes passaram a serem chamadas Escolas Técnicas Federais, mas, no entanto, o ensino
público profissionalizante continuava relegado a um segundo plano, e assim continuou na
década seguinte, mesmo com a instalação no país das primeiras multinacionais.

A TEORIA DO CAPITAL HUMANO E A EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL (1956-1984)

“A Teoria do Capital Humano afirma que investimentos em educação e saúde


podem aprimorar as aptidões e habilidades dos indivíduos, tornando-os mais
produtivos, o que em larga escala pode influenciar positivamente as taxas de
crescimento dos países. Diferentes níveis de Capital Humano também seriam
os responsáveis pelos diferentes níveis salariais. Esse “fator humano” é
considerado capital pois é capaz de gerar incrementos na produtividade do
trabalhador, logo gastos com saúde, educação e treinamento são considerados
investimentos em capital. Os indivíduos decidem investir em Capital
Humano baseados nos custos e ganhos futuros desse investimento,
consideram também a taxa de retorno do investimento e a taxa de juros de
mercado.” (ANDRADE, 2010)

No final do governo Vargas, a industrialização estava consolidada em suas bases.


Inicia-se então um processo de incrementação na indústria de bens de consumo, esse
aprimoramento demandava mão de obra mais qualificada para atender a demanda do Capital
internacional que se instalavam no país através das multinacionais o destaque para a indústria
automobilística.
O modelo Agrário exportador é substituído pelo modelo nacional-desenvolvimentismo
que adotava a receita de desenvolvimento proposta pela CEPAL, órgão da ONU voltado para
a economia latino-americana. Para a CEPAL o Desenvolvimento se daria por um processo de
substituição de importações em que, paulatinamente, se instalaria no país uma indústria capaz
de suprir os produtos outrora importados, no entanto, era necessário qualificar melhor os
trabalhadores através da elevação da escolaridade média e da formação técnica.
O nacional-desenvolvimentismo tem um grande avanço no governo de Juscelino
Kubitschek, com grande participação estatal nos investimentos, e a atração de multinacionais.
Após o seu governo, em 1961 uma lei equipara o ensino profissional a educação propedêutica
permitindo a ambas o direito de acesso aos exames para admissão nos cursos superiores.
O início da década de 60 é marcada por uma profunda crise econômica, com inflação
alta e desemprego, que combinados com uma instabilidade política culmina no golpe militar
de 1964. O modelo desenvolvimentista não é abandonado na ditadura, ao contrário, ele se
intensifica, aproximando ainda mais o capital internacional dos investimentos de
industrialização.
O governo da ditadura tentou de forma frustrada equiparar o ensino propedêutico ao
profissionalizante, até mesmo unificando-os, mas não obteve sucesso, e só aumentou a
desigualdade social no ensino. A rede Federal ficou praticamente estagnada durante os anos 70
e 80. Por outro lado, o sistema “s” teve um grande impulso nesse período.
Paralelamente, na República, algumas instituições de ensino profissional foram se
constituindo de forma desordenada e dispersa pelos estados da federação, é o caso do CEFET.
O Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ) teve
sua origem em 1917 como Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau Braz. Atualmente, é
uma instituição federal de ensino que se compreende como um espaço público de formação
humana, científica e tecnológica.
Hoje, oferece cursos técnicos integrados ao ensino médio, subsequentes (pós-médio),
tecnológicos, de graduação e de pós-graduação lato sensu e stricto sensu (mestrado e
doutorado), nas modalidades presencial e a distância. O Cefet/RJ atua na tríade ensino, pesquisa
e extensão e visa contribuir para a formação de profissionais e cidadãos bem preparados para
o desenvolvimento econômico, humano e social do país. Sua história pode ser alinhada na
mesma orientação, ou direção, que o ensino profissional seguiu nestes anos:

1942: Transformação para Escolas Industriais e Técnicas: A partir desse ano, inicia-se,
formalmente, o processo de vinculação do ensino industrial à estrutura do ensino do país como
um todo, uma vez que os alunos formados nos cursos técnicos ficavam autorizados a ingressar
no ensino superior em área equivalente à da sua formação.

Governo JK (1956 – 1961): O objetivo era a formação de profissionais orientados para as metas
de desenvolvimento do país. No ano de 1959, as Escolas Industriais e Técnicas são
transformadas em autarquias com o nome de Escolas Técnicas Federais. As instituições
ganham autonomia didática e de gestão. Com isso, intensificam a formação de técnicos, mão
de obra indispensável diante da aceleração do processo de industrialização.

Em 1978: Três escolas são transformadas em CEFETs Em 1978, com a Lei nº 6.545, três
Escolas Técnicas Federais (Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro) são transformadas em
Centros Federais de Educação Tecnológica - CEFETs. Esta mudança confere àquelas
instituições mais uma atribuição, formar engenheiros de operação e tecnólogos, processo esse
que se estende às outras instituições bem mais tarde.

Em 1996: Lei 9394/ LDB: Define-se o sistema de certificação profissional que permite o
reconhecimento das competências adquiridas fora do sistema escolar

Em 1999: Retomada da transformação em CEFETs (por que parou?) Em meio a essas


complexas e polêmicas transformações da educação profissional de nosso país, retoma-se em
1999 o processo de transformação das Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de
Educação Tecnológica, iniciado em 1978.

REFORMA DO ESTADO E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL – OS ANOS PERDIDOS


(1986-2002)

Os anos 80 e 90 foram marcados pela redemocratização do país, e também, por crises


econômicas recorrentes. A educação profissionalizante da rede federal ficou bastante estagnada
nesse período e somente nos anos 90 que houve expansão baseada no ensino superior privado.
Um caso à parte nesse cenário foram as FATECs no estado de São Paulo, que surgindo
no ano de 1970, receberam algum impulso nos anos 80 e 90, inclusive com a fundação das
ETECs em 1988. Constituindo até hoje uma importante rede pública de ensino profissional.
Em 1997 é criada uma matriz curricular e matrículas distintas para o Ensino Técnico e
Tecnológico visando a empregabilidade imediata após o curso, mas dificultado o acesso destes
estudantes ao curso superior. O ensino profissionalizante ainda era tratado como ensino para
os menos favorecidos, apesar das demandas do setor produtivo.

RETOMADA DA EXPANSÃO DA REDE FEDERAL (2003-2010)

Em 2002, a ascensão de um governo de centro-esquerda, mais preocupado com uma


agenda social do desenvolvimento, começa a mudar a postura frente ao ensino, com a retomada
do investimento público, indo na contramão das políticas neoliberais privatizantes de
anteriormente.
Em 2008 começa a reformulação da Rede Federal de ensino com a integração de várias
instituições e a criação dos Institutos Federais. A expansão da Rede Federal nos anos seguintes
é impressionante. Ao mesmo tempo que surgem formas alternativas de financiamento de
estudos em instituições privadas, como o ProUni e o PRONATEC.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foi criado
em 2011 pelo Governo Federal, sob o contexto do governo Dilma, antecedido por um
crescimento da indústria (investimento) no quadriênio anterior (2007-2010) em 59%, gerando
atenção para a necessidade de mão-de-obra qualificada. A princípio, o governo tinha por
intenção trazer trabalhadores qualificados de outros países, porém, com pressões sindicais a
saída foi a criação do Pronatec. Para isso, foram criados 24.306 cargos efetivos de professor do
ensino básico, técnico e tecnológico, integrantes do Plano de Carreira e Cargos de Magistério
do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, como condição para operar a expansão da rede de
educação técnica e tecnológica. (CASSIOLATO, 2014)
Com o objetivo a expansão das redes federais e estaduais de Educação Profissional e
Tecnológica (EPT), juntamente com a ampliação da oferta de cursos a distância, ampliação do
acesso gratuito a cursos de EPT, tanto em instituições públicas, quanto em privadas, expansão
de oportunidade de capacitação de trabalhadores de forma articulada com as políticas de
geração de trabalho, emprego e renda e difusão dos cursos pedagógicos para EPT. O programa
é voltado principalmente para estudantes do ensino médio de escolas públicas, EJA,
trabalhadores, beneficiários de programas de transferência de renda. (MEC, 2019)
Para a permanência estudantil, há a possibilidade de auxílio (bolsa-formação):
destinada ao estudante e ao trabalhador. Em ambos os casos, os beneficiários têm direito a
cursos gratuitos, alimentação, transporte e material didático-instrucional necessário. E também
de Fies Técnico e Fies Empesa, na qual as empresas que desejem oferecer formação
profissional e tecnológica a trabalhadores figuram como tomadoras do financiamento,
responsabilizando-se integralmente pelos pagamentos perante o Fies. Os cursos E-TEC
também fazem parte do Pronatec. Os E-TECs são ofertados à distancia por meio de centenas
de polos e financiados pelo MEC, FAT (fundo de amparo ao trabalhador) e BNDES.
(CASSIOLATO, 2014)
A expansão dos Institutos Federais de Educação atingiu em 2019 a impressionante
marca de 619 unidades em funcionamento (MEC, 2019), mas, em um país de mais de 200
milhões de habitantes, ainda é insuficiente para atender a demanda por profissionais atualizados
conforme os rumos do desenvolvimento econômico e tecnológico de que o Brasil precisa.

BIBLIOGRAFIA:

ANDRADE, Rita de. Teoria do capital humano e a qualidade da educação nos estados
brasileiros. 2010. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/25425>. Acesso em:
25 nov. 2019.

CASSIOLATO, M.; Garcia, R. Pronatec: múltiplos arranjos e ações para ampliar acesso
à educação profissional. Rio de Janeiro: Ipea, 2014. (Texto para Discussão, nº 1.919).
disponível em:
<https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/2319/1/variacoes%20setoriais%20em%20arranjo
s.pdf>. Acesso em: Novembro 2019
FONSECA, Celso Suckow. História do Ensino Industrial no Brasil. Rio de Janeiro:
Escola Técnica, 1961. v.1.

INSTITUIÇÕES DA REDE FEDERAL, MEC, Portal do Ministério da Educação, 2019.


Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/rede-federal-inicial/instituicoes>. Acessado em:
novembro de 2019.

TAVARES, Moacir Gubert. Evolução da Rede Federal de Educação Profissional e


Tecnológica: as Etapas Históricas da Educação Profissional no Brasil, 2014. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/177/103

OUTRAS BIBLIOGRAFIAS E FONTES CONSULTADAS

AFONSO, Anthone Mateus Magalhães; GONZALEZ, Wania Regina Coutinho. Educação


Profissional e Tecnológica: análises e perspectivas da LDB/1996 à CONAE 2014. Ensaio:
Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 24, n. 92, p. 719–742, 2016.

ESPECIAL 40 ANOS DO CENTRO PAULA SOUZA: CONHEÇA A LINHA DO TEMPO


DA INSTITUIÇÃO. Governo do Estado de São Paulo. Disponível em:
<http://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/especial-40-anos-do-centro-paula-souza-
conheca-a-linha-do-tempo-da-instituicao/>. Acesso em: novembro de 2019.

HISTÓRIA DA REDE FEDERAL. CONIF, Youtube, Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=thb-jQlzMus&feature=emb_logo>.
Acesso em: novembro de 2019.

NILO PEÇANHA, O PRIMEIRO PRESIDENTE NEGRO DO BRASIL - EDUARDO


BUENO - YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Umm-fM-HTnI>.
Acesso em: novembro de 2019.

OLIVEIRA, Adriana Rivoire Menelli de; ESCOTT, Clarice Monteiro. Políticas públicas e o
ensino profissional no Brasil. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 23,
n. 88, p. 717–738, 2015.

PINTO, José Marcelino de Rezende. Uma análise da destinação dos recursos públicos, direta
ou indiretamente, ao setor privado de ensino no brasil. Educação & Sociedade, v. 37, n. 134,
p. 133–152, 2016.

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