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Mestrado Integrado em Engenharia Química

Eletroquímica e Corrosão
2019/2020

Docente:

Christopher Brett

Aluno:

Denner Nunes | 2014115192

Coimbra, 11 de novembro de 2019.


Sumário
1. Introdução ............................................................................................................................ 2
2. Tipos de Líquidos Iónicos ................................................................................................... 3
2.1 LI´s com Amónio ............................................................................................................ 3
2.2 LI´s com Fosfónio ......................................................................................................... 3
2.3 LI´s com Imidazólio ...................................................................................................... 4
2.4 LI´s com Piridino .......................................................................................................... 4
2.5 LI´s Próticos e Apróticos............................................................................................... 5
2.6 LI´s Magnéticos............................................................................................................. 6
3. Síntese de Líquidos Iónicos................................................................................................. 6
3.1. Reação de Metátese ....................................................................................................... 7
3.2. Neutralização Ácido – Base .......................................................................................... 7
3.3. Reação de carbenos de imidazol como bases fortes ...................................................... 8
3.3.1. Design do Catião ....................................................................................................... 8
3.3.2. Design do Anião ........................................................................................................ 8
4. Aplicações de LI´s................................................................................................................ 8
4.1. Eletrocatálise [17] ......................................................................................................... 9
4.2. Absorção de Gases [18]............................................................................................... 10
4.3. Eletrodeposição de Metais e Ligas [19] ...................................................................... 11
4.3.1. Eletrodeposição de Alumínio (Al) ...................................................................... 11
4.3.2. Eletrodeposição de Zinco (Zn) ............................................................................ 12
4.3.4. Eletrodeposição de Ferro (Fe), Cobalto (Co) e Níquel (Ni) ................................ 12
4.3.5. Eletrodeposição de metais leves .......................................................................... 12
4.3.6. Eletrodeposição de metais de terras raras............................................................ 13
5. Conclusões .......................................................................................................................... 14
6. Bibliografia ........................................................................................................................ 15

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1. Introdução

Durante os últimos anos, diversos esforços vêm sendo tomados com a iniciativa
de transformar os processos químicos cada vez mais em processos sustentáveis, gerando
cada vez menos resíduos e diminuindo a quantidade de utilização de compostos químicos
nocivos à saúde em todas as suas etapas. Esses conceitos, amplamente discutidos na
química verde, vem se tornando realidade a cada dia, onde buscamos novos métodos para
continuar produzindo os produtos necessários para o desenvolvimento do mundo, sempre
com atenção nos indicadores de poluição e de responsabilidade socioambiental.
Um dos principais pontos a melhorar nessa busca por uma produção amiga do
ambiente é a busca por novos solventes, que venham a diminuir a quantidade de resíduo
e também diminuir a periculosidade deste. Desta maneira, os Líquidos Iónicos (LI´s)
aparecem como tecnologia promissora no desenvolvimento de solventes cada vez mais
limpos, eficientes e renováveis.[1]

Figura 1 - Evolução das publicações científicas envolvendo LI´s.[2]

O primeiro registo de utilização dos LI´s em eletroquímica é de 1914, onde Paul


Walden, que durante investigações sobre as propriedades físicas do nitrato de etilamônio,
que fora obtido através da neutralização de etilamina com acido nítrico concentrado.
Contudo, só após a Segunda Guerra Mundialo tópico ressurgiu com força, através de
esforços de Hurley e Wier, que fizeram eletrodeposição de alumínio, a temperatura
ambiente, com uma mistura de cloreto de alumínio e brometo de etilpiridino. Desde então
o interesse pelos LI´s tem crescido a cada ano, sendo sua temática relevante nas aplicações
eletroquímicas, em tópicos como: capacitores eletrolíticos, células fotovoltaicas,
eletrocatálise, meios de reação e etc. [2] [3]
Os LI´s são definidos como sais (geralmente orgânicos) multiusos que formam
pares de iões com pontos de fusão inferior aos 100 ºC, podendo chegar as vezes a ser
líquido mesmo em temperaturas ambientes. Estes possuem pares iónicos que são
constituídos por catiões assimétricos orgânicos com aniões inorgânicos com pouca
coordenação, gerando assim as conexões com fortes interações de Coulomb no campo
onde as moléculas possuem um movimento livre, ao contrário dos sais convencionais.[4]

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Algumas das principais características dos líquidos iónicos são:
1. Boa estabilidade térmica (até 400 ºC);
2. Alta estabilidade química;
3. Polaridade;
4. Não-volatilidade;
5. Dissolubilidade;
6. Não-inflamabilidade;
7. Larga Janela de Potencial Eletroquímico;
8. Viscosidade ajustável;
9. Miscibilidade ajustável;
10. Menos tóxicos que os sais convencionais.
A liquidez observada nos LI´s é explicada pelo fato das interações iónicas
possuírem uma baixa entalpia latente, que é provocada pelo rearranjo de iões inorgânicos
com grandes iões orgânicos.[5] É também por causa desse rearranjo que os LI´s são
conhecidos como “design solvents”, pois a estrutura de cada um destes irá variar
conforme a escolha do anião e do catião, tendo assim múltiplas opções de combinações
para que se possa satisfazer uma necessidade do processo ou do produto.

2. Tipos de Líquidos Iónicos

De forma a tentar diferenciar as categorias de líquidos iónicos foram estabelecidas


algumas diferenciações que levam em conta seus reagentes, tipo de reação ou
propriedades. São eles:

2.1 LI´s com Amónio

Pioneiro na criação dos LI´s, os baseados em alquilamónio, foram sintetizados pela


primeira vez por Gabriel em 1888 (nitrato de etanolamónio), e fazem parte da primeira
geração de LI´s. São utilizados como eletrólitos em dispositivos eletroquímicos de
elevada energia, visto que apresentam elevada estabilidade eletroquímica catódica, baixo
ponto de fusão e baixa viscosidade. Também possui atualmente investigações ligadas aos
seu potencial de absorvência de gases, como maneira de limpeza em correntes gasosas.[6]
2.2 LI´s com Fosfónio

Os LI´s que possuem fosfónio na sua estrutura geralmente possuem maior


estabilidade térmica, menores viscosidades e mais altas condutividades que os demais
cátions. São utilizados como uma tecnologia alternativa ao tratamento de gases, onde
estudos comprovam sua eficiência na absorção de CO2 e SO2 de correntes gasosas, onde
facilitam a transferência de massa no meio reacional. [2][4][7]
Também existem registos de sais de fosfónio auxiliando o processo reacional
catalisado por paládio, como por exemplo a hidroformilação e as reações de Heck, onde
este também atua como catalisador e solvente. Este LI vem sendo utilizado e investigado
3
devido à capacidade de regeneração e de reutilização do catalisador, diminuindo os custos
de operação da reação. [8]

Figura 2 - Exemplo da fórmula química de um LI (P, para os baseados em fosfónio, e N


para os baseados em amónio).[7]

2.3 LI´s com Imidazólio

Atualmente estes são os líquidos iónicos mais estudados pela ciência por conta de
algumas das suas propriedades, como elevada estabilidade de oxidação e redução, baixa
viscosidade e facilidade de síntese. Tais propriedades podem ser alteradas mediante o
material final que se pretende obter, podendo ser alterado o anel de imidazólio escolhido
como catião para obter diferentes propriedades. Eles podem ser desde serem catiões
escolhidos para aumentar a estabilidade redutiva, melhorar a condutividade, facilitar a
catálise e otimizar o tempo de reação, o rendimento e a quimioseletividade das reações.
Contudo, a seletividade ainda é um processo chave neste tipo de reações, pois muitas das
vezes subprodutos são gerados através de reações secundárias que ocorrem em paralelo à
principal.[9]

Figura 3 - Reação de Baylis-Hilman, que descreve um mecanismo secundário à base de


imidazólio com benzoaldeído.

2.4 LI´s com Piridino

Um dos mais recentes cátions utilizados na produção de LI´s biodegradáveis é o


piridínio, cujas bases anfifílicas possuem uma alta vulnerabilidade ao ataque enzimático.
Este processo de ataque através das enzimas ocorre devido à presença de cadeias lineares
de alquila presentes na estrutura, que irão facilitar o ataque posterior das oxigenases.
Outra propriedade importante é a sua estabilidade térmica, onde o material mantém suas
características iniciais até aproximadamente 200 ºC, a depender da posição de
substituição no anel do piridino [10]
Os LI´s que contém esse catião na sua composição, possuem maiores rendimentos em
alguns tipos de catálise e também tem alta seletividade química. Isto deve-se ao fato do
alongamento da cadeia alquílica no catião, que reduz a densidade e a tensão superficial,

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contudo isto provoca um aumento da viscosidade dinâmica. Eles também possuem
entropias de formação de superfície baixas, o que é confirmado pelo auto grau de
organização na estrutura.[11]

Figura 4 -Síntese de LI´s a base de peridíno.[10]

2.5 LI´s Próticos e Apróticos

Mais generalizadamente é possível distinguir os LI´s como próticos ou apróticos, que


diferem entre si pela presença ou ausência de iões de hidrogénio dissociáveis, sendo que
os primeiros apresentam esses iões e os segundos, por sua vez, é carente desse tipo de
iões. Os líquidos iónicos próticos (LIP) possuem maior interesse, pois comparativamente
aos líquidos iónicos apróticos (LIA), apresentam maior condutividade, menor viscosidade
e também menor ponto de fusão.
Os LIP´s são relativamente mais baratos, apesar de possuírem certas limitações nas
suas ligações por causa da formação de redes de ligações de hidrogénio, o que reduz a
sua ionicidade. São sintetizados através da neutralização de uma base por um ácido ou
por mistura equimolecular de ácido e base. Eles também têm sido aplicados em sistemas
biológicos, em cromatografia, e também como eletrólitos condutores de protões para
células de combustível com membrana polimérica visto que apresentam elevada
condutividade de protões, permitindo á célula operar a altas temperaturas e operar sem
precisar de humidificação. [12]
Os LIP´s não apresentaram nenhuma reatividade com os reagentes usuais de reações
químicas e além disso apresentam uma faixa facilmente ajustável e interessante de
propriedades físico-químicas que os tornam potenciais candidatos para aplicações em
baterias de iões alcalinos e alcalinoterrosos e também em células de combustível. [13]
Já os LIA´s são geralmente produzidos a partir da reação de Menshutkin, onde uma
amina terciária é convertida em um sal quaternário de amônio. Vários estudos já foram
realizados com este tipo de LI´s globalmente por causa das suas melhores propriedades
(em comparação com os LIP´s) em toxicidade e biodegradabilidade, o que os coloca na
linha de frente da investigação para os tornar candidatos à novos tipos de solventes verdes
e menos tóxicos.[14]

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Figura 5 - Comparação entre o comportamento de LIP e LIA num processo de
destilação.

2.6 LI´s Magnéticos

Outra categoria importante dos LI´s é a dos magnéticos, estes compostos se


caracterizam pela incorporação de um componente paramagnético dentro do catião ou do
anião (a depender das propriedades almejadas). Estes materiais se caracterizam, além de
obter uma grande resposta à campos magnéticos exteriores, uma grande hidrofobia e
também a capacidade de solvatar uma grande quantidade de espécies diferentes de
moléculas. [15]
Os líquidos iónicos magnéticos (LIM´s) são vantajosos quando aplicadas em análises
de extração (aquosa ou não-aquosa), separações cromatográficas, absorção de gases,
dispositivos microfluídicos e sensores à base de ímanes. Estes LIM´s em concentrações
inferiores a 20% em água apresentam miscibilidade completa, sem separação de fases.

Figura 6 - Manipulação de um LI magnético quando exposto a um campo magnético


externo.

3. Síntese de Líquidos Iónicos

A síntese de LI´s é geralmente um processo demorado, mesmo quando aquecida


num banho de óleo, pois a quaternização (reação que modifica a estrutura dos reagentes)
é a chave do processo. Este período de síntese pode chegar até 72 horas, com a presença
de refluxo, contudo a adição de uma atmosfera ultrassónica e ativação por micro-ondas,
pode acelerar o seu processo de formação. Como a quaternização se torna o passo mais

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importante e demorado da produção de LI´s é necessária que a reatividade de haletos de
alquila (agente quaternizante mais comum) seja bem compreendida, pois ela que
controlará o tempo de reação total.[1]
Neste processo é necessário um rígido controlo de temperatura, pois o excesso de
calor durante a reação pode levar à formação de impurezas no solvente. Outro fator
importante de ressaltar na síntese deste tipo de material químico é a homogeneização, que
é imprescindível para que haja contato entre as fases presentes no sistema, favorecendo
assim a transferência de massa entre estas.
Algumas propriedades dos LI´s devem ser almejadas através da melhor forma de
interação (mistura) entre os catiões e aniões, como:
 Pequeno tempo de reação;
 Reação simples (sem multi-steps);
 Alto rendimento;
 Ambientalmente seguro e amigo;
 Mínimo de impurezas possível;
 Recuperação de catalisadores (quando presentes).

Existem três rotas básicas de reações químicas para a síntese de líquidos iónicos,
são elas:[1]

3.1. Reação de Metátese

Depois de definir o catião e o anião a serem utilizados, a síntese é realizada por


uma reação de dupla troca (metátese), onde sais de metais ou ácidos de Bronsted são
utilizados para obter alquilamônio, piridínio ou haletos de imidazólio. Este é o método
mais preferido para a síntese de LI´s, pois esse método permite um melhor controlo do
equilíbrio através dos parâmetros cinéticos (a variar com a temperatura, pressão) da
reação e também é reversível. Da mesma maneira, uma parte de impurezas que aparecem
depois da reação pode reagir com o soluto, removendo eficiência e dificultando o
processo posterior de separação. (Situação demonstrada na Figura 4)

3.2. Neutralização Ácido – Base

É um processo muito simples, sem contaminações e barato. Sendo os líquidos


iónicos formados por um recebedor e um doador de protões, geralmente os ácidos fortes
tem melhor efeito na transferência de protões que as bases, dessa maneira os líquidos
iónicos próticos são preparados mediante uma neutralização ácido-base de Bronsted. Esta
neutralização produz protões ativos no meio de reação contendo ligações de hidrogénio,
por isso que é importante monitorar não só o equilíbrio ácido-base, mas também a reação
de aniões de aminoácidos com a concentração de iões OH- no mesmo meio reacional.

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3.3. Reação de carbenos de imidazol como bases fortes

Os líquidos iónicos de imidazólio não possuem ligações entre nitrogénio e


hidrogénio, sendo reativos com sais básicos, potássio e bases. Nessa reação, o catião de
imidazólio funciona como pares conjugados de ácido-base, já o carbeno age como uma
base, regenerando o seu ião parental. Uma vantagem deste processo é que os LI´s
formados já não possuem contaminantes como iões de haleto ou de metais.
Neste tipo de síntese, dois passos são relevantes para a obtenção dos LI´s de
segunda geração:
3.3.1. Design do Catião
Existem dois tipos de síntese de catiões, sendo a primeira a protonação de uma
amina por um ácido livre, e a segunda sendo a quaternização de aminas ou fosfinas. De
todo modo, é necessário um rigoroso controlo sobre o catião, pois os LI´s baseados em
catiões se mostram bastante favoráveis a práticas industriais, sendo facilmente escaláveis,
de barata preparação e com uma estabilidade termo/química apreciável. Além do mais,
esse tipo de LI é geralmente feito com 1-metilimidazólio, que para a ativação necessita
de temperaturas médias e também contém haletos como impurezas.
3.3.2. Design do Anião
A formação do anião pode ser feita através do tratamento de sais de haletos com
ácidos de Lewis ou aniões em metátese, sendo os aniões mais comuns: haletos, nitratos,
cloroaluminatos, hexafluorofosfato, etc.

Figura 7 - Mecanismo de preparação para a síntese de LI´s.[16]

4. Aplicações de LI´s

Os LI´s por terem na sua composição uma infinidade de opções que conforme são
misturadas e testadas podem contribuir para o aparecimento de características únicas e
otimizáveis, são amplamente utilizados em diversas aplicações práticas, como já foi
referido anteriormente. Dessa maneira, sintetizaram-se três destes exemplos para melhor

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explicar a contribuição dos LI´s em diversas áreas do saber e tentar perceber um pouco
do sentido da investigação e pesquisa nestes materiais.

Figura 8 - Exemplos de aplicações dos LI´s

4.1. Eletrocatálise [17]

Líquidos iónicos são também utilizados como eletrocatalisadores, favorecendo o


acontecimento de reações como: redução de oxigénio (ROO), reação de evolução de
oxigénio (REO) e a oxidação de metanol.
Neste caso, foram testados alguns LI´s que além de conter nitrogénio na sua estrutura,
que faz com que haja doadores de eletrãos, melhorando assim as capacidades de
ajustabilidade das suas propriedades, também são sintetizados através de compostos com
carbono N-dopado.
O processo de dopagem por nitrogénio na estrutura do sal é realizado de forma a
modular a estrutura eletrónica dos carbonos através da conjugação do par de eletrãos do
nitrogénio com as ligações π do carbono, e este processo cria grupos funcionais na
estrutura da superfície da cadeia carbónica que depois vão interferir diretamente na sua
condutividade elétrica, basicidade, estabilidade e atividade catalítica.
No caso da ROO, os LI´s sintetizados com materiais de carbono N-dopados, são de
grande interesse na eletrocatálise não só por causa da sua alta condutividade elétrica, mas
também por causa da abundância de nitrogénio na estrutura que criam pontos positivos
favoráveis para uma aproximação do O2 na sua estrutura, devido à diferença de
eletronegatividade do carbono e do nitrogénio. Dessa maneira, estes carbonos eletroativos
facilitam o transporte de massa e a difusão de produtos e reagentes, aumentando a área
de sítios ativos para a eletrocatálise.

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Nas tecnologias já existentes para este tipo de processo, onde catalisadores a base de
Pt/C são utilizados como catalisadores, é comprovado que o produto primário desta
reação é a água, além acontecer somente em meios alcalinos. Já alguns materiais
mesoporosos N-dopados, quando comparados com os usuais, são também altamente
seletivos para a ROO, até em meios ácidos. Outro critério onde são percebidas vantagens
na promoção de LI´s nesse tipo de processo é o rendimento, onde através dos N-dopados
conseguimos atingir um rendimento aproximadamente ideal da ROO, produzindo muito
mais peróxido de hidrogénio do que o método anterior, sendo assim muito mais rentável.

Figura 9 - Exemplo de uma síntese de LI´s N-dopados por carbonização direta.

4.2. Absorção de Gases [18]

Atualmente uma das valências dos LI´s vem do fato destes serem bons capturadores
de gases, nomeadamente CO2, azoto e até mesmo ar. Os primeiros estudos de absorção
de gases através dos LI´s vem de 2005, desde então a quantidade de estudos que abordam
essas propriedades dos LI´s tem crescido numa progressão geométrica. Estas
propriedades que os fazem ser capturadores gasosos eficientes estão diretamente ligadas,
como já fora anteriormente comentado, aos LIP´s, já que seus polieletrólitos são capazes
de atrair as moléculas gasosas, variando a absorção apenas pela natureza do catião e do
anião, a massa molecular do eletrólito e a sua capacidade de absorver a humidade
atmosférica.
Geralmente, para a absorção de CO2, a capacidade de absorção está compreendida
entre 10 – 20 mg CO2/g de polímero, e estes resultados tendem a ficar melhores quando
há ligações cruzadas entre as cadeias carbônicas dos LIP´s, sendo muito mais efetivo
quando estes possuem cadeias ramificadas em comparação com as lineares. Neste último
caso retratado, a habilidade de absorver dióxido de carbono tem pouca relação com a
massa molecular do eletrólito. As principais vantagens dos LIP´s para este tipo de
processo são: fácil síntese, baixo custo, alta resistência ao uso repetitivo e atóxico, não
representando um perigo para o ambiente e para a sociedade.
Em outro ponto de vista, também é possível separar misturas gasosas contendo
dióxido de carbono através de LIP´s com alta seletividade e permeabilidade, baseados em
filmes de LIP´s acoplados a membranas porosas. Contudo, estudos recentes comprovam

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que existe uma mistura de LIP´s com LI´s, para evitar com que a base polimérica da
membrana utilizada seja afetada com o aumento da pressão do sistema. Esta mistura
efetuada também altera algumas propriedades, pois quanto mais parecidas as estruturas
químicas dos LIP´s com os LI´s na mistura, há um súbito aumento da permeabilidade,
porém há um decréscimo na seletividade.
Há também uma opção à mistura de LIP´s com LI´s, que vem se mostrado eficiente
na separação de uma corrente gasosa de etano-etileno, que é a da adição de um sal de
prata, formando um compósito ternário: LIP-LI-sal. O filme formado consegue, por
exemplo, separar alcenos em mistura com alcanos, e tem sua seletividade proporcional à
concentração de sais de prata no compósito.

4.3. Eletrodeposição de Metais e Ligas [19]

Os LI´s, assim como já foi referido anteriormente, distinguem-se dos demais líquidos
utilizados como solventes, em muitos aspetos e propriedades, tais como, a sua baixa
toxicidade e baixa pressão de vapor (que torna difícil a sua volatilização). Eles não são
inflamáveis e muitas vezes são utilizados em temperaturas razoavelmente baixas, onde
durante toda essa gama de temperaturas é observada uma boa estabilidade eletroquímica,
com potenciais que variam entre os 2-6 V. Dessa maneira, ao garantir esses parâmetros,
é interessante do ponto de vista prático a deposição de metais com potenciais redox muito
negativos.
Na literatura, percebeu-se que por causa das suas propriedades, há um grande
interesse de pesquisa e inovação na área da deposição de ligas e metais com um potencial
redox negativos, e são exemplos:

4.3.1. Eletrodeposição de Alumínio (Al)

Com o seu potencial de redox muito negativo (-1,76 V), o alumínio apresenta fortes
tendências a utilizar os LI´s como uma nova tecnologia de deposição. Como este metal
também apresenta alta facilidade de reagir com a água e pode, facilmente, formar um
filme de óxido na sua superfície, é necessário encontrar um método que facilite a
eletrodeposição com soluções aquosas. Nesse ponto de vista, os LI´s apresentam uma
vantagem prática como agente de solvatação, neste caso os feitos a base de AlCl3.
Contudo, é necessária uma película de zinco como pré-tratamento, necessário para fazer
com que as forças de adesão sejam fortes o suficiente para manter a estrutura da camada
de alumínio no metal (liga) e esta força tem a grandeza maior que 15MPa. O processo de
revestimento com alumínio é feito com a polarização com pulso de corrente bipolar no
substrato coberto com zinco. É importante ressaltar que as vezes podem ser adicionados
compostos que venham a introduzir mudanças na estrutura/morfologia das camadas
depositadas, como o etilenoglicol e a nicotinamida.

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4.3.2. Eletrodeposição de Zinco (Zn)

Como foi ressaltado no caso anterior, o zinco é muito utilizado como película
protetora, feita para prevenir a corrosão dos substratos. Este metal também pode ser
eletrodepositado através de LI´s à base de vitaminas naturais modificadas com cloro, visto
seu potencial redox ainda possuir valores muito negativos. É importante ressaltar que a
morfologia da cobertura de zinco pode ser manipulada através de variações na sua
temperatura e no potencial elétrico, muitas vezes a deposição se tornando não-uniforme
com a diminuição do potencial.

4.3.3. Eletrodeposição de Cobre (Cu)

A eletrodeposição de cobre também acontece em soluções aquosas, por isso é de


interesse da comunidade científica a substituição desta prática pela deposição através dos
LI´s. No caso do cobre, a investigação realizada tenta entender como é o mecanismo de
nucleação, os parâmetros cinéticos de deposição e também perceber os fatores que
contribuem na mudança da estrutura. Também foi estudada a deposição de cobre-níquel,
por causa da sua semelhança de potenciais de redução, onde se concluiu a facilidade neste
tipo de procedimento, com uma organização 3D no mecanismo de crescimento de grão.

4.3.4. Eletrodeposição de Ferro (Fe), Cobalto (Co) e Níquel (Ni)

Esta junção desses três metais no tópico deve-se às suas propriedades magnéticas
e termofísicas. Tais metais, pertencentes ao grupo do ferro, são de elevado interesse na
deposição através de LI´s por causa da facilidade de formação de camadas desses tipos
de metais com muita qualidade e boa estrutura tridimensional, sendo os LI´s, um solvente
ideal para este tipo de transformação.

4.3.5. Eletrodeposição de metais leves

Estes são comumente chamados o Lítio (Li), Sódio (Na), Magnésio (Mg), entre
outros, que são classificados assim por conta da sua alta reatividade e potencial redox
bastante negativos. Há também uma lacuna na eletrodeposição deste tipo de metais, visto
que esta não pode ocorrer em soluções aquosas devido à evolução do hidrogénio que
ocorre após a redução dos metais. Neste caso em específico, a introdução da deposição
utilizando os LI´s como solvente resulta numa ótima combinação, onde temos uma boa
estabilidade térmica alinhada com uma ampla janela de potencial eletroquímico que
tornam estes materiais ideais para a eletrodeposição dos metais anteriormente citados.

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4.3.6. Eletrodeposição de metais de terras raras

Pode-se m também efetuar eletrodeposições de metais raros e metais nobres


utilizando líquidos iónicos, nomeadamente do Lantânio (La), Cério (Ce), Samário (Sm),
entre outros. Vários estudos foram feitos e constataram semelhanças em algumas
propriedades destes metais entre si e a variar com os diferentes LI´s utilizados. Finas
películas de cério-alumínio foram depositadas em substratos de platina, isto para melhorar
a eficiência do metal contra os processos de corrosão, contudo ainda falta otimizar a
concentração de cério utilizada para obter uma formulação ótima para um filme protetor.
Em geral, foi demonstrada a aplicação dos LI´s na deposição dos mais variados metais
existentes no planeta, abrindo um vasto caminho para que novas e limpas técnicas de
eletrodeposição de metais possam surgir nos próximos anos. Atualmente estes processos
ainda não se encontram otimizados, são dispendiosos e seu uso ainda não vingou na
prática, sendo muitas das vezes taxado como tecnologia alternativa, sem que o seu
potencial possa ser realmente estudado e aproveitado em prol da sociedade.

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5. Conclusões

Depois de uma extensiva pesquisa sobre os líquidos iónicos foi possível perceber a
dimensão deles e a importância que vem tendo no passar dos últimos anos. Muito desse
sucesso se deve à sua capacidade de ser projetável, conforme o uso que se queira obter, e
também por ser um material que requer, geralmente, temperaturas mais baixas (ou mesmo
à temperatura ambiente) para ocorrer.
Foi revisto também uma quantidade interessante de categorias dos LI´s de modo
a perceber cada uma de suas principais valências e composições estruturais, bem como a
alteração dos seus reagentes em prol da melhoria de algumas propriedades fundamentais
para diferentes tipos de processos. Com destaque para a pesquisa e inovação que deve ser
ampliada no caso dos LI´s à base de piridino e os LIA´s, pois remetem a grandes
percentuais de biodegradabilidade, o que deve ser algo essencial na composição de
qualquer processo químico.
A síntese de LI´s também foi estudada e três técnicas diferentes foram abordadas
e vimos que o número de combinações de reagentes diferentes, para conseguir inúmeras
estruturas e propriedades diferentes, é alto. Este controlo também passa por um estudo
prévio e analítico sobre as propriedades físico-químicas dos catiões e aniões a ser
utilizados, para que se adequem melhor aos interesses práticos e também para evitar
desperdício de recurso em pesquisa e investigação.
A polivalência dos LI´s foi apresentada também em três exemplos, onde podemos
observar aplicações práticas deste tipo de materiais na melhoria de processos, sendo um
vetor de iniciativa para a promoção desta tecnologia. Desde a eletrocatálise, onde foi
observado os LI´s N-dopados que, em comparação com as tecnologias atualmente
acessíveis, são muito mais eficientes. As correntes gasosas também podem ter um avanço
no seu tratamento fracionamento com a introdução dos LI´s nos processos, aumentando
o rendimento e seletividade de separação. E, por fim, na eletrodeposição de vários metais
e formação de ligas, onde os LI´s tem um papel ativo e verde no processo, pela ausência
de materiais nocivos ao ambiente e pela sua taxa de reciclagem, contudo necessitam de
mais estudos e investimento para começarem a ser rentáveis.
Os LI´s são atualmente um grande campo em potencial de exploração onde a sua
maleabilidade prática é uma grande vantagem. Na eletroquímica percebemos a
importância deste tópico onde muitos conceitos práticos de físico-química e eletricidade
que são cruciais para o entendimento da estrutura e do funcionamento deste tipo de
material. É importante ressaltar a necessidade de investimento em pesquisa e investigação
nessa área, de modo a produzir mais tecnologias que venham ser amigas do ambiente por
meio da química verde.

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6. Bibliografia

[1] D. Disasa Irge, “Ionic Liquids: A Review on Greener Chemistry Applications,


Quality Ionic Liquid Synthesis and Economical Viability in a Chemical
Processes,” Am. J. Phys. Chem., vol. 5, no. 3, p. 74, 2016.
[2] N. V. Plechkova and K. R. Seddon, “Applications of ionic liquids in the chemical
industry,” Chem. Soc. Rev., vol. 37, no. 1, pp. 123–150, 2008.
[3] F. H. Hurley and T. P. Wier Jr, “The Electrodeposition of Aluminum from
Nonaqueous Solutions at Room Temperature,” J. Electrochem. Socity, vol. 98,
no. 5, pp. 207–212, 1951.
[4] F. Sarf, “Synthesis , Analysis and Thermoelectrochemical Applications of Ionic
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