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Curitiba
2008
Para Evelio e Thiago que ficaram privados de minha companhia nas horas de
recolhimento para a elaboração deste trabalho, o meu carinho.
Rosa Lydia Teixeira Corrêa,
é natural do estado Pará. Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará, é
Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas e Doutora em História
Econômica pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professora do Programa de
Mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, onde atua por
meio da Linha de Pesquisa História e Políticas da Educação. Tem livros e artigos
publicados na área de História da Educação.
SUMÁRIO
Apresentação
Capítulo 01
Cultura
Capitulo 02
Cultura brasileira
Capitulo 03
Etnias e cultura no Brasil
Capítulo 04
Diversidade cultural brasileira
Capitulo 05
Cultura e educação
Capitulo 06
Cultura e religiosidade
Conclusão
APRESENTAÇÃO
A proposta contida neste livro resulta de estudos que venho realizando nos
últimos cinco anos no que considero sejam dois campos inter-relacionados: o ensino e a
pesquisa no processo de formação de professores em nível de pós-graduação stricto
sensu. A história cultural tem me permitido enveredar pelo caminho da cultura escolar
em distintas formas de manifestação, quer por meio daquilo que vem sendo produzido
no campo da História da Educação, quer de meus próprios estudos. O entendimento da
cultura escolar, não se faz a meu ver sem a devida compreensão do significado do termo
cultura, idéia que pressupõe amplitude maior em relação à de cultura escolar,
imprescindível para a compreensão desta. Por isso, foi no percurso desse entendimento
que comecei a trilhar o caminho que ora me proponho a sistematizar neste livro.
Quando a oportunidade de enfocar a questão da cultura e seus nexos com a realidade
brasileira se torna imperativo ao estudo que propicia a formação para atuação
profissional em Ensino Religioso.
Essa interconexão se faz necessária levando em conta os fundamentos que
subjazem o Ensino Religioso desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96
que no artigo 33 determina:
Plano de Ensino
Ementa
Aborda a cultura brasileira, tomando como ponto partida uma compreensão de cultura para entender as
diferentes manifestações culturais e seus desdobramentos existentes no Brasil. Destaca a religião
como um desses desdobramentos para estabelecer relação com a educação.
Objetivo Geral: Análise da cultura e cultura brasileira destacando suas múltiplas manifestações, levando
em conta as especificidades locais e regionais do Brasil, bem como a importância dessas
manifestações para o processo educacional escolar no estudo do fenômeno religioso em particular.
Objetivos específicos: 1. Analise critica de diferentes conceitos de cultura a fim de que os alunos possam
fazer uma opção conceitual, considerando o caráter antropológico/fenomenológico da abordagem a
ser realizada na disciplina; 2. Apreender o caráter simbólico e concreto da cultura e o seu significado
social, político, econômico e subjetivo; 3. Problematizar a idéia de cultura brasileira em face da
multiplicidade de manifestações culturais existentes no Brasil; 4. Promover a articulação analítica
entre cultura e educação, destacadamente a escolar, tendo por base experiências dos alunos e o
cenário cultural proveniente dos estudos feitos nas unidades temáticas anteriores; 5. Estimular a
produção de materiais impressos e digitais sobre cultura a partir das particularidades regionais em
relação com o nacional.
Conteúdo Programático
Unidade Temática - 1. Diferentes conceitos de cultura - aspectos gerais - Analise critica de diferentes
conceitos de cultura a fim de que os alunos possam fazer uma opção conceitual, considerando o
caráter antropológico/fenomenológico da abordagem a ser realizada na disciplina. Destaque deve ser
dado ao caráter simbólico e mítico da cultura.
Unidade Temática – 4. Cultura e educação - Promover a articulação analítica entre cultura e educação,
destacadamente a escolar, tendo por base experiências dos alunos e o cenário de compreensão
cultural proveniente dos estudos feitos nas unidades temáticas anteriores;
Avaliação - a avaliação tem por finalidade promover a aprendizagem, por essa razão após cada tele aula
os alunos realizarão atividades com vistas a sistematização dos conhecimentos estudados para a sua
melhor compreensão. Essas atividades serão realizadas individualmente e em equipe, embora o
estudo deva ser realizado sobremaneira de modo não coletivo. A auto-avaliação é importante a fim
de que o aluno possa dimensionar seus avanços e dificuldades
Bibliografia Básica
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2007.
Bibliografia complementar
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Educação como Cultura. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2002.
__________. O Saber local: novos caminhos sobre a antropologia interpretativa. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara, 1989.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. RJ: São
Paulo: Editora Record, 2001.
AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil. Rio de
Janeiro: IBGE, 1943. 535 p.
Capítulo 01
Sobre Cultura
Neste capitulo me proponho abordar o conceito de cultura, tomando-o na acepção que a entende
como teia de significados. Para tanto há que considerar algumas acepções usuais do termo
cultura, a fim de melhor situar a opção conceitual que está sendo feita. Em seguida estritamente
articulada a opção conceitual faço uma apreciação dos símbolos como expressões culturais, bem
como o que na cultura situamos no âmbito de tradições culturais, chamado atenção para que
muitas tradições são criadas justamente para permanecerem como marcas culturais e ou
singularidades de certas culturas. Os ritos como manifestações culturais são formas tácitas das
diferentes sociedades expressarem de modo consciente ou inconscientemente modos de viver
modos de viver próprios.
a interpretação antropológica não deve ser vista com uma operação exata entretanto ela
não pode ser lida e entendida fora das exigências do rigor científico; é preciso buscar na
cultura categorias de análise para procurar entendê-la por dentro (p. ?);
Todavia a etnografia não será motivo de apreciação neste trabalho. Vale ressaltar
antes de tudo que, em primeiro lugar estudaremos o que é cultura e, posteriormente seu
aspecto simbólico, como necessários às reflexões que serão nos próximos capítulos. É
nesta perspectiva e guiado por este olhar que foi pensada a elaboração deste texto.
Entendo que a cultura encontra sua explicação mais singular nessa perspectiva.
Suas particularidades só podem ser vistas, embora possa parecer redundante, a partir e
dentro dela mesma. São os seus próprios sinais que a explicitam. Razão pela qual
tomarei em todo este trabalho a definição de Geertz (1989), na sua apreensão semiótica
para quem o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu
(p. 40). Teia essa que, segundo ele, precisa ser analisada, interpretada no sentido de
procurar os múltiplos significados que ela comporta. Neste sentido, sua interpretação
permite desvendá-la em termos dos componentes desses significados. Poderíamos dizer
com esse autor que o caráter semiótico de compreensão da cultura se traduz em signos,
particularidades próprias de cada manifestação cultural.
Por outro lado, o materialismo histórico aqui trazido do por meios dos trabalhos
de Hobsbawn (1984) e Williams (1992), me fazem ir além de fronteiras para muitos
consideradas inconciliáveis.
Dadas às particularidades que os símbolos contêm, Geertz nos estimula a pensar
Ao não admitir o caráter casual da cultura, esse autor assinala sua historicidade e
intencionalidade. Assim, a cultura é um processo cumulativo resultante de toda a
experiência histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação
criativa do homem (LARAIA, 2007, p.49). No processo de criativo humano a cultura
tanto pode ser perpetuada como recriada. Não seria demais dizer com Brandão que
Tudo aquilo que criamos a partir do que nos é dado, quando tomamos as coisas da
natureza e as recriamos como os objetos e os utensílios da vida social representa uma
das múltiplas dimensões daquilo que, em uma outra, chamamos cultura (2002, p. 22).
Admito com Geertz que ela não é um poder mas que por outro lado tem o poder.
O poder de conter, simbolizar e traduzir formas de viver socialmente construídas e
valorizadas. A antropologia tem demonstrado que muitas atividades atribuídas às
mulheres em uma cultura podem ser atribuídas aos homens em outras (LARAIA, 2007,
p.19). Para esse autor as diferenças são explicadas pela história cultural de cada grupo.
A cultura tem o poder de enraizamento do sujeito em modos de vida, em modos
ser que o sujeita às práticas, comportamentos: a tipos de alimentos, modos de vestir.
Gafanhotos e cobras são iguarias alimentares na china. No Brasil pensar em comê-los
causa repulsa. A carne de vaca é proibida aos hindus, da mesma forma que a de porco é
interditada aos mulçumanos (LARAIA, 2007, p.15)
A importância do que cada aspecto da cultura tem para o grupo social e sujeitos
nele inserido acha-se estritamente vinculado ao significado que a cultura tem para eles,
eis o seu sentido mais profundo: a macarronada tem um sentido, e por isso, um
significado peculiar para os italianos e somente para eles, do mesmo modo que o pato
no tucupi para os paraenses. Ainda que afirmemos estar imersos em uma cultura que
não que é a nossa de origem, mesmo assim não fazemos parte dela, não nascemos nela
mesmo que tenhamos aprendido a língua nela falada. Neste aspecto Geertz (1989) fala
da dimensão enigmática da cultura por que esta expressão a dimensão enigmática de
homem. Diz ele:
... aprendemos isso quando chegamos a um país estranho, com tradições imensamente
estranhas e, o que é mais, mesmo que se tenha um domínio total do idioma do país. Nós
não compreendemos o povo (e não por não compreender o que eles falam entre si). Não
nos podemos situar entre eles (grifo no original, p. 10).
Avançando um pouco mais sobre cultura diríamos que ela representa o próprio
significado do existir humano. Ela se confunde com esse existir, na medida em que ela o
significa, o marca enquanto como seu criador, mas também como o sentido ou os
sentidos do seu existir. Essa dimensão quase que metafísica da cultura, que talvez
explicite um pouco a dificuldade e controvertida de defini-la não me permitem deixar de
fora o trecho a seguir de Brandão que, como ser, se projeta na tentativa de decifrá-la:
Carrego na antevisão de um qualquer dia, amanhã, a minha morte, assim como levo pela
vida afora a experiência humana da Vida, e minha vida na memória carregada de nomes
e de cenas, de cenários e símbolos, de palavras e frases. De tessituras sempre inacabadas
onde se entrelaçam gestos e seus arremedos de sensibilidades, sentidos e de significados
gravados nos genes que me habitam, no corpo que eu habito e, imagino no espírito onde
acredito que esteja a parte mais etéria e – quem sabe? – imortal de uma pessoa chamada
Carlos.
Os simbolos
Neste trabalho estamos tomando os símbolos na mesma acepção d e sugnos. Assim,
a variedade de culturas denota a também variedades de símbolos, signos que expressam
essa variedade. Como vimos adiante, a cultura, segundo a idéia de teia de significados,
se constitui num entrelaçamento de simbolos interpenetráveis. Justamente por haver
uma gama de realizações que a simbolizam, bem como os significados e sentidos que
expressam. Símbolos se relacionam mutuamente digamos assim ou se quisermos, são
partes de uma mesma moeda. Mas avencemos um pouco mais na tentativa de entender
melhor esse assunto.
Em Santos (2003), numa linguagem bastante oportuna o signo é uma coisa que
representa outra coisa: seu objeto (p.58). A bandeira de cada país é um objeto ou uma
materialização da pátria, do país que ela simboliza. O signo é a representação contida no
objeto não o objeto em si. Tal representação é feita pelos signos contidos nele, no caso
do Brasil: as cores, as estrelas representado os diferentes estados da federação, entre
outros. Para aquele autor, um signo
só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma
coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto.
Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa
capacidade. Por exemplo: a palavra casa, a pintura de uma casa, o desenho de uma
casa, a maquete de uma casa, fotografia de uma casa, o esboço de uma casa, um filme
de uma casa, a planta baixa de uma casa, a maquete de uma casa, ou mesmo o seu olhar
para uma casa, são todos signos do objeto casa. Não são a própria casa, nem a idéia
geral que temos de casa. (....) (SANTOS, 2003, p. 58).
Mas este trecho nos parece tão importante quanto a definição de cultura.
Vejamos por que. Se o simbolo é a representação de algo por meio de um objeto, então
ele pode ser considerado como uma das expressões mais acabadas da cultura. Um iglu
por seu estilo arquitetônico nos remete a cultura dos esquimós. Já os palácios .......... nos
indicam algo referente a cultura japonesa. No mesmo sentido a oca como moradia
indígena, ou a palafita como casa dos ribeirinhos amazônidas.
Ferreira (1986), na mesma linha de Santos diz que símbolo é aquilo que por
natureza evoca, representa, ou substitui num determinado contexto algo abstrato ou
ausente (p. 1586). Desse modo os símbolos ou signos trazem à tona também a
possibilidade de rememorarmos elementos de nossa criação que é humana.
Os símbolos que representam em termos culturais épocas, períodos distintos da
humanidade nas diferentes modos e ser e viver do homem. Há certos símbolos que
permanecem por longos e longos tempos, como é o caso das bandeiras que podem ser
substituídas em um país se houver mudança drástica de regime político. Assim como
aqueles que passam a simbolizar especificamente uma época como é o caso da
arquitetura. Talvez ela seja uma das expressões culturais que traduzem por um lado a
dinamicidade da cultura como, por outro, sua validade em uma época. Quando
visitamos centros antigos de cidades brasileiras fundadas no período colonial,
constamos por meio do estilo arquitetônico daquela época, não só um estilo específico,
mas podemos abstrair valores sobre como morar e por que morar. Do mesmo modo
quando podemos contrastar esses estilos com mais modernos e contemporâneos.
Sem dúvida são os símbolos que mais expressam as particularidades e diferenças
existentes em nosso planeta em todos os sentidos, desde a língua com sua simbologia
mais marcante por meio de como ela é grafada. Sem dúvida os japoneses sentirão a
mesma dificuldade de aprender nossa língua como certamente sentiremos em relação à
deles. Este é um entendimento valido não só para a grafia da língua como para a fala.
Catedrais, bandeiras, flores, modos de vestir, comidas, palácios, igrejas e suas
arquiteturas, são formas simbólicas de representações culturais de países, cidades, enfim
de povos. Cada um deles comporta um significado específico para o povo, sociedade na
qual está inserida.
Podemos dizer também que os símbolos são os vestígios que, no processo de
humanização, o homem vai deixando no tempo como resultado das transformações que
ele vai imprimindo no mundo. São suas marcas, pois só ele entre todos os animais cria,
produz cultura.
Tal como a natureza onde vivemos e de quem somos parte, também a cultura não é
exterior a nós. A diferença está em que o “mundo da natureza” nos antecede, enquanto o
“mundo da cultura” necessita de nós para ser criado, para que ele, agindo como um
criador sobre os seus criadores, nos recrie a cada instante como seres humanos. Isto é,
como seres da vida capazes de emergirem dela e darem a ela os seus nomes
(BRANDÃO, 2002, p. 22)
Esta passagem de Brandão nos faz avançar para além da idéia de símbolo como
representação ou se quisermos de sua materialização para a do valor simbólico da
cultura. Diz ele:
Todos os bichos comem cru, fresco ou apodrecido. Nós criamos escolhas e processamos
o cru para ser também o cozido, o assado, o frito, e assim por diante. Aprendemos com
o tempo – cada cultura humana faz isto segundo os seus termos e de acordo com os
padrões de sua própria lógica de sentir, do pensar e do agir – a lidar com os alimentos
naturais como entidades de um profundo valor simbólico. Assim, em um almoço entre
amigos comemos a comida quente e boa à volta da mesa, enquanto trocamos entre nós
as mensagens. Sentimentos, evocações, idéias e valores de vida que nos dizemos uns
aos outros através do que comemos (2002, p.20).
Com este pensamento sou provocada a dizer que a cultura não é homogênea.
Não é uma produção democrática em seu sentido geral. Ela está relacionada ao tipo de
segmento ou grupo social do qual provém. Ela denota diferenças nas criações humanas.
As diferenças assim como aproximam também distanciam, subjugam, servem como
elementos de discriminação preconceituosa. Daí a necessidade daquele entendimento da
cultura dentro dela mesmo como disse anteriormente. A cultura e sua dimensão
simbólica são geradas de acordo com as possibilidades e necessidades de cada grupo
social. Desse modo, as trocas simbólicas, por exemplo, de valores, costumes, tradições
são singulares a certos grupos sociais mesmo dentro de uma mesma sociedade. Não
podemos ser ingênuos e, por assim dizer, românticos em achar que a cultura enquanto
produção/criação/elaboração humana é consenso. Embora não façamos aqui uma
apreciação especifica sobre cultura popular, vale a penas referir um trecho de Canclini
(1983).
(....). O enfoque mais fecundo é aquele que entende a cultura como um instrumento
voltado para a compreensão, reprodução e transformação do sistema social, através do
qual é elaborada e construída a hegemonia de cada classe. De acordo com esta
perspectiva, trataremos de ver as culturas das classes populares como resultado de uma
apropriação desigual do capital cultural, a elaboração específica das suas condições de
vida e a interação conflituosa com os setores hegemônicos (p. 12-13).
2 Raymond Williams em seu livro cultura, embora desde a perspectiva de um referencial bem diferente do aqui abordado sobre
cultura. A estuda desde uma abordagem bem ampla. Entende-a como sistema de significados de produção de vida global. Caminha
na lógica de entendimento da cultura como produção material humana. Vale a pena conferir.
se constitui apenas em questão de tradição e que tradição tem a ver exclusivamente com
o passado. Muitas vezes tendemos a desprezar as tradições, deixando de valorizá-las por
entendermos ou termos sido acostumados a vinculá-la a conservadorismo no sentido
pejorativo do termo quando usada na acepção de algo ultrapassado. Vamos falar disso
neste subitem por que estaremos mais adiante tratando de cultura e educação.
A tradição aqui entendida diz respeito ao que às práticas sociais que
permanecem. Geralmente são significativamente manifestadas por meio de rituais. O
ritual do casamento católico segue a tradição da noiva de vestida de branco. Neste
sentido ele é um retrato de um tipo de manifestação cultural religiosa da Igreja católica.
O quimono é uma veste que simboliza a tradição oriental japonesa. Ele é usado em
cerimônias, rituais, como o do chá, por exemplo.
De modo geral tendemos a relacionar tradição apenas ao folclore por meio de
danças típicas regionais ou de grupos étnicos específicos. As formaturas talvez
representem uma das tradições mais conservadas e praticadas em nossa cultura quando
do término de cursos de diferentes níveis. Embora tenha escrito sobre as tradições e sua
invenção desde uma perspectiva teórica diferente daquela que estamos usando neste
livro. Ousaremos, em sã consciência sobre o que estamos fazendo, dizer que Hobsbawn
(1984), escreveu uma das mais elucidativas páginas sobre o que denominou de Invenção
das Tradições. Para ele há tradições inventadas. Significa dizer que elas são criadas para
permanecerem no seio da cultura por muito tempo tal como foram criadas na sua
origem. Ele utiliza o termo “Tradição Inventada” em sentido amplo, para designar tanto
aquelas criadas e instituídas com o fito de permanecerem por muito tempo, quanto par
as que foram criadas e são difíceis de serem localizadas no tempo. Ele define tradição
inventada como:
Um exemplo bem oportuno que ele dá é o do uso da toga pelos magistrados. Não
só os magistrados usam togas. Os advogados também fazem uso da toga quando se
apresentam em tribunais em defesa de um réu, em sessão pública. Além de simbolizar a
tradição do poder supremo da justiça, ela também traduz poder e saber que poucos na
sociedade possuem. Aqui a cultura enquanto produção humana tem o um de seus
diferenciais. Ela tem visibilidade aqui e ali e, ao mês o tempo está em toda parte de
algum modo como obra substancial da humanidade, com suas idas e vindas, sua
nuances, demarcando este ou aquele grupo social, suas práticas, enfim, suas realizações.
Nessa perspectiva vamos encontrar as becas de formaturas, especialmente nas
Universidades pelo mundo afora. O cerimonial pode variar. Dependendo do país ele é
ou menos descontraído. Mas o certo é que ela faz parte da tradição universitária desde a
criação das Universidades no período medieval.
A tradição do casamento católico nas culturas ocidentais. É uma tradição
inventada. Feita para ficar, permanecer. Há, sabemos toda uma simbologia em torno
dele. A noiva chama mais atenção com o seu tradicional vestido brando, simbolizando
pureza, embora este aspecto já não tão prevalente. No ritual do casamento a troca de
alianças além de simbolizar a união, confere o status de efetivamente comprometido ou
casado ao par que dele participa. A aliança é símbolo de impedimento de relação
amorosa, como também significa fronteira a ações que devem ou não ser praticadas por
quem a possui. De modo geral as mulheres tendem a ser as mais penalizadas e a
carregá-las por mais tempo.
A tradição também carrega sua força na oralidade por meio da linguagem
cotidiana que, para Hoggart (1973), não morreu completamente e permanece presente
entre nós, nos usos dos aforismos, dos mitos e das superstições. Para ele, estes
constituem uma espécie de consolação: depois da tempestade a bonança (p. 36). Vamos
nos deter nos mitos e nas superstições que acredito sejam os mais populares. Esse autor
considera que mitos e superstições operam em dois mundos. Os das coisas que dão sorte
e o das que dão azar. Entrar com pé direito em um ambiente onde se busca um emprego
dá sorte. Dá azar colocar a bolsa no chão. Dá azar também, passar por debaixo de uma
escada, quebrar espelho. Assim como a noiva não pode ver o noivo no dia do
casamento. Nem o noivo vê-la vestida de branco antes da cerimônia. No mundo das
superstições, comer manga e tomar leite pode matar e por ai afora.
Os ritos
Os ritos também são formas visíveis digamos assim, expressão de manifestação
cultura. Talvez seja por meio deles que a tradição mais revele. Os ritos podem ser
entendidos como espécies de lugares, com formas e modos específicos de
acontecimentos onde são desenvolvidas ações com valor, significado e por isso sentido.
Eles devem ser datados. Para Vilhena (2005),
o rito é entendido também como ação ordenada. Como toda ação está orientada para a
consecução de um objetivo, para uma finalidade, assim também nos ritos estão contidas
destinações que podem ser mais ou menos conscientes ou inconscientes, explícitas ou
implícitas (p. 21).
O rito age sobre os seres humanos por sua capacidade de emocionar; o rito coloca-se em
movimento, corpo e espírito, graças á coalizão de meios que provoca [....] Explora o
registro simbólico e o conhecimento reservado ou “profundo”[...] Conjuga linguagens: a
sua própria, mas também a música, a dança, o gesto (BALANDIER, 1997, Apud,
Vilhena, 2005, P. 21-22).
Referenciais:
BALANDIER, Georges. A Desordem: elogio e movimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Educação como Cultura. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2002.
CANCLINI, Nestor Garcia. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
GEERTZ, C. As interpretações das culturas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1989.
HOGGART, Richard. As utilizações da Cultura. Lisboa: Editorial Presença, 1973.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
SANTOS, Jorge Luis. O que é Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
VILHENA, Maria Ângela. Ritos: expressões e propriedades. São Paulo: Paulinas, 2005.
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Atividades
Indicações culturais
arte música
arquitetura
ritos religião
símbolos
tradição
literatura
O termo cultura pela variedade conceitual que abraça pode ser descrita de modo visual
por meio de imagens. A primeira delas é a que embasa este trabalho, qual seja teia de
significados tecida pelo homem. Essa teia é feita de materialidades e não materialidade.
Nesta dimensão estão os sentidos e os significados, os valores. Na oura aquilo que é
vivo palpável. Que pode ser observado, mas também apropriado quer pela
intelectualidade (a mensagem contida em um livro, quer pelo organismo por meio de
uma iguaria culinária). São modos embora diferentes, de objetivação da cultura no
processo de imersão que nos encontramos em relação a ela. Por isso a imagem acima
me pareceu a mais oportuna para essa objetivação. Ela é uma tentativa de aproximação
de um amaranhado de sentidos e significados traduzidos por uma infinidade de obras
humanas no amplo sentido do termo.
Atividade de auto-avaliação
Nas questões de 1 a 4 marque as sentenças com verdadeiro (V) ou falso (F).
1) Em relação à cultura
( V ) Faz parte da cultura universitária o uso de becas de formaturas, especialmente nas
Universidades pelo mundo afora. O cerimonial pode variar. Dependendo do país ele é
ou menos descontraído. Mas o certo é que ela faz parte da tradição universitária desde a
criação das Universidades no período medieval.
( V ) “Tal como a natureza onde vivemos e de quem somos parte, também a cultura não
é exterior a nós. A diferença está em que o “mundo da natureza” nos antecede, enquanto
o “mundo da cultura” necessita de nós para ser criado, para que ele, agindo como um
criador sobre os seus criadores, nos recrie a cada instante como seres humanos. (...)”.
( F ) Podemos dizer que a cultura não tem poder de conter, simbolizar e traduzir formas
de viver socialmente construídas e valorizadas.
É correta a alternativa
a. FVF
b. VFV
c. VVF
2) Cultura e ritos
( V ) Os ritos podem ser entendidos como espécies de lugares, com formas e modos
específicos de acontecimentos onde são desenvolvidas ações com valor, significado e
por isso sentido.
( V ) O rito é entendido também como ação ordenada. Como toda ação que está
orientada para a consecução de um objetivo, para uma finalidade.
( F ) Os ritos do casamento, do batismo e da comunhão são formas de aproximação de
todas as pessoas indistintamente da divindade maior que é Deus.
É correta a alternativa:
a. VFV
b. VVF
c. VFV
5. Os símbolos culturais
( V) A cultura e sua dimensão simbólica são geradas de acordo com as possibilidades e
necessidades de cada grupo social.
( F ) Se o símbolo não é a representação de algo por meio de um objeto, então ele pode
ser considerado como uma das expressões mais acabadas da cultura. Um iglu por seu
estilo arquitetônico nos remete a cultura dos esquimós
( V ) Os símbolos que mais expressam as particularidades e diferenças existentes em
nosso planeta em todos os sentidos, desde a língua com sua simbologia mais marcante
por meio de como ela é grafada.
Atividade de aplicação
No livro da Laraia sobre cultura encontramos várias idéias que nos fazem
entender cultura e suas diferenciações no mundo. Procure encontrá-las e vinculá-las às
experiências que possui e foram adquiridas no seu cotidiano. Do texto de Geertz
podemos, ainda no mesmo entendimento anterior, retirar um trecho que exemplifica
bem as particularidades da cultura. Ele diz que uma pisadela de olho entre duas pessoas
tem um sentido para elas dentro de uma situação, significando um tipo de comunicação
especial que traduz certa cumplicidade entre ambas. Entretanto ela pode não ter o
mesmo sentido e não possuir importância entre pessoas que não partilhem uma
convivência que permita a elas realizarem trocas simbólicas como essa. O exercício de
práticas culturais também aproxima as pessoas, as identifica com esta ou aquela
sociedade, com este ou aquele grupo. Procure das exemplos nesse sentido levando em
conta as experiências que você possui.
Capítulo 02
Cultura brasileira
Neste capítulo o propósito se situa dentro daquilo dentro do que o próprio título do
capítulo indica. Aborda a cultura brasileira estabelecendo sua relação com o entendimento de
cultura contido no capítulo anterior, portanto em articulação com a perspectiva semiótica de
Geertz de signos com diferentes significados simbolizados genericamente falando por meio da
idéia de teia de múltiplos sentidos.
Falar sobre cultura brasileira não se constitui tarefa fácil, assim como conceituá-la.
Assim à primeira vista me parece oportuno esclarecer que usarei o termo cultura no singular
para me referir á cultura brasileira ainda que ela seja composta de uma magnífica multiplicidade
de realizações da gente brasileira, ou seja, dos sujeitos viventes no Brasil quer pelo fato de aqui
terem nascidos, quer por terem adotado esse país como uma terra para viver. Não o termo povo
brasieliro, como cunhou Ribeiro (....), porque já indicamos no primeiro capítulo que cultura
comporta sentidos e significados diferentes para cada grupo ou segmento de classe social. Há
diferenciações culturais quer de produção, quer de apropriação e uso.
Assim é na perspectiva de teia de significados usada por Geertz e explicitada no
capítulo anterior que estarei me reportando a cultura brasileira. Nessa compreensão, portanto, o
olhar semiótico permite entendê-la sob diferentes matizes, representados por símbolos, enfim,
signos sob os quais se manifesta em nosso meio social.
Multicultura é palavra que entendo ser a mais apropriada quando se deseja abordar
cultura brasileira. Ela indica para uma composição de uma infinidade de culturas que se
interpenetram. Interpenetrar exclui a idéia de sobreposição e chama de entrelaçamento na
compreensão de teia, de emaranhados, de cruzamentos. Estes, digamos aspectos, traduzidos por
estas palavras e que podem nos dar a dimensão do que seja multicultura, são podem
exclusivamente ser interpretados como entrelaçamentos que existem, pelo fato de terem sido
criados na sociedade. Esta é uma questão verdadeira. Mas também e principalmente ela é
caracterizada pela pelas formas e modos de apreensão que os sujeitos sociais vão fazendo no
uso da produção/criação cultural existente na sociedade. Por exemplo; quando a macarronada
como parte da culinária italiana é inserida na culinária nordestina ou nortista, ao ser introduzida
nesses universos passa a fazer parte destes e, na medida em que ela é freqüentemente saboreada,
passa a integrar as iguarias culinárias existentes nessas regiões como resultante de um processo
de assimilação e, por assim dizer, de apropriação. Um exemplo típico nessa alinha de raciocínio
e a pizza. Prato da culinária tipicamente italiana como a macarronada, certamente ela é uma das
iguarias que mais têm tem sofrido adaptações desde que os imigrantes italianos para cá as
trouxeram. Um exemplo bastante peculiar vem no Pará/Belém com a criação da Pizza com
recheio de jambú3, camarão e mussarela. Aqui temos tanto a composição italiana com o queijo
e a massa quanto a regional com ocamarão e o jambú. Desse modo, poderemos dizer então que
existem significados e sentidos que se entrecruzam tanto na composição objetiva do prato,
quanto do que dessa comida se pode usufruir quando ela for degustada (sabores, odores, a
própria estética). A essa prática podemos denominar de processo de interculturalidade. O que há
de comum é uma matriz que une diferentes grupos sociais, cujos costumes são diferentes, mas
que agregaram algo que passa a fazer sentido para um grupo na medida em que introduz
3 Planta comestível da Amazônia considerada afrodisíaca que na tradição local compõe um prato típico regional: o pato no tucupi.
elementos seus.
Mas passemos a pensar sobre alguns aspectos que consideramos centrais e que por isso
são fundamentais na definição, caracterização e compreensão de uma cultura e da cultura
brasileira.
Língua e linguagem
A língua é, sem dúvida, a matriz de qualquer cultura. Ela traduz seu significado
pelo fato de traduzir a obra humana em sentido bem amplo. Ela é talvez o referencial
mais forte da identidade de uma pessoa, pois a vincula e um país no sentido de
pertencimento e de possibilidades de tradução de coisas que lhe fazem sentido e que
para ele, por conseguinte têm significado. Ela nos permite falar um pouco de identidade
cultural, questão ainda bem problematizada no campo das Ciências Sociais como nos
indica Cuche (1999). E é neste autor que vou buscar uma contribuição para pensarmos
sobre a relação língua e identidade cultural. No sentido de aproximarmos esta daquela.
Para ele
(....) Todo grupo é dotado de uma identidade que corresponde à sua definição social,
definição que permite situá-lo no conjunto social. A identidade social é ao mesmo
tempo inclusão e exclusão: ela identifica o grupo (são membros do grupo os que são
idênticos sob um certo ponto de vista). Nessa perspectiva, a identidade cultural aparece
como uma modalidade de categorização da distinção nós/eles, baseada na diferença
cultural (Cuche, 1999, p. 177).
Com efeito, a língua não é uma questão exclusivamente individual, mas
fundamentalmente grupal por que é social. Neste caso ela inclui aqueles que falam a
língua portuguesa num país chamado Brasil. Mais do que isso: um país dividido
geograficamente em cinco regiões, cada uma delas com suas idiossincrasias
caracterizadas também pelo uso da língua portuguesa. Quando falo de uso estou me
referindo à linguagem e, nestes termos às variações lingüísticas. É comum no universo
da língua portuguesa como certamente de outras línguas, o uso de termos diferentes para
definir um mesmo objeto. Por exemplo, na região norte denomina-se fio para o barbante
no sul e sudeste do país. Outro exemplo nesse sentido pode ser dado com Laraia (2007,
p. 16): o ato de parir é denominado “descansar”. Esta mesma palavra é utilizada no
sul do país, para se referir à morte (fulano descansou, isto é, morreu).
A língua é o elemento mor da cultura de qualquer povo. As pessoas que vivem
experiências imigratórias sentem bem isso na pele. Muitas delas levam muitos anos para
aprender falar regularmente outra língua. Muitas nem conseguem. Este é na maioria das
vezes um fenômeno inconsciente. Até porque o a idéia de pertencimento a certa cultura
não é fácil de ser construído. Pode levar décadas. Geertz nos fala que por mais que
aprendamos a falar a língua, tenhamos algumas informações sobre a cultura, não
pertencemos a ela. Trata-se de uma situação que eu chamaria de exigência de imersão.
De estar profundamente enraizado em certo espaço e tempo e saber e compreender o
que é próprio deles. Bourdieu (1983) chamou isso de habitus para definir a incorporação
pelas pessoas de elementos da cultura e que as caracteriza como sendo este ou aquele
indivíduo. Como
Este ou aquele por sua vez resulta das possibilidades que a este são propiciadas
de inserção cultural, mediadas pelas condições objetivas e por alguns traços de
personalidade que permitem aos sujeitos avançar em diferentes direções na criação tanto
de oportunidades culturais (universo da produção) quanto da apropriação. Neste aspecto
também podemos falar de enriquecimento cultural dentro das muitas acepções nas quais
se insere o termo cultura.
Ainda que nós brasileiros desde o nosso processo colonizador tenhamos nos
desenvolvido nas bases da língua portuguesa que não é efetivamente nossa língua
nativa, pois a nossa é o tupi guarani, mas ela é a matriz de todos os nossos referenciais,
de toda nossa produção social. Fomos nela colonizados e foi nela que aprendemos a nos
identificar como brasileiros. A propósito quando nos referimos a enriquecimento
cultural.
O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e crer,
de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo a acção sobre o mundo,
portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é
obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só
se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário. (...). (BOURDIEU,
1989, p. 14)
Língua e linguagem como parte da cultura, têm seus aspectos dominantes, por
meio da prevalência quer de uso, por exemplo, da língua quanto da linguagem culta,
consideradas rebuscadas. Elas, no processo histórico estão vinculadas à condição de
classe social em sociedades desiguais como o Brasil. Seus usos se vinculam a espaços,
lugares específicos. A escola é um deles, o campo da produção levando em conta a
hierarquia nele existente também. Elas estabelecem diferenciações se não
exclusivamente do ponto vista econômico. Mas de escolarização. Deste modo, a escola
é um dos lugares, senão o lugar supremo, como verei adiante, de promoção não só de
linguagens específicas por meio dos conhecimentos nela veiculados, como da tentativa
cada vez mais ferrenha do uso correto da língua padrão. Os tempos pós-modernos que o
digam. Os processos de comunicação por meio de uso de e-mails, tem posto
sobremaneira em cheque o uso correto da língua assim como tem promovido a criação
de novas linguagens. A linguagem virtual por meio dos blogs também é um produto
bem interessante de comunicação na cultura virtualizada. Neste sentimos podemos dizer
que temos novos elementos compondo o sistema simbólico da comunicação.
A introdução de novos elementos no sistema simbólico de comunicação por
meio da internet traz também novas possibilidades não só de acesso e por isso de
participação de um número maior de pessoas de diferentes classes sociais no sistema de
comunicação, como por essa razão, torna-o mais democrático.
A riqueza da língua portuguesa como componente central dessa cultura como da
cultura de modo geral se é um fator de unificação da cultura é também por outro lado,
de diferenciação social como já disse anteriormente.
Diríamos que não. Nessa mesma direção esse autor afirma que embora os
homens de negócios tenham assim pensado em princípio, logo tiveram que rever suas
posições em decorrência de exigências culturais ás quais foram obrigados a adequar
4 Tubérculo produzido na raiz do arbusto chamado maniva de onde é extraído o tucupi e o amido. Da massa de aipim ou mandioca
é fabricada a farinha.
seus produtos. Fala sobre o caso da adequação pela Coca-cola que teve de reduzir o
tamanho da garrafa em atenção às exigências das geladeiras dos espanhóis. Há por
assim dizer necessidades particulares da cultura que não podem no processo global ser
homogeneizadas. Nesta perspectiva entra em jogo a questão do significado do que cada
produção cultural representa para cada sociedade em particular em termos de criação. A
cultura por não ser reduzir apenas ao pertencimento.
Penso que a homogeneização pode ser visível em tempos de globalização por
meio da moda. Embora ela tenha aspectos particulares, como os relacionados a
adaptação da costura às características físicas das mulheres nos diferentes países há um
padrão que tem sido comum em termos de tecidos e também de estilo, com destaque
para a prevalência de um padrão jovem de moda. Este talvez tenha sido um dos aspectos
da cultura mais abalados em escala mundial em termos de interferir nos costumes da
vida local.
Não especificamente a moda, mas no âmbito da vestimenta, da indumentária
própria de uma cultura, aquela que resiste a tradição, como por exemplo, o quimono
japonês. No Brasil temos particularidades tais como, a bombástica gaúcha, tipa
indumentária tradicional dos homens do sul, resiste ao tempo. A vestimenta caipira
ainda localizada nas festas juninas pelo Brasil afora indica ser uma tentativa de
manutenção cultural que se mantém vinculada ao folclore, à tradição do matuto.
Os artefatos, neste caso expresso pelo artesanato, provavelmente são os que mais
visibilidade dão á cultura nacional e local. No Brasil as variações dentro cada região são
grandes e a circulação dos mesmos já não se restringe aos seus locais de produção. As
possibilidades de mobilidade por meio de diferentes vias de transporte facilitam a
aquisição pelos diferentes segmentos sociais. O artesanato nordestino é rico em
expressões que vão desde as rendas cearenses e pernambucanas à manutenção do
artesanato de mestre Vitalino. O retirante tornou-se marca do homem nordestino e, por
assim dizer dessa cultura e da cultura brasileira, que abandona sua terra ante o
sofrimento causado pela seca em busca de dias melhores. Neste caso trata-se
fundamentalmente do abandono da cultura local e de seus significados para o retirante.
Na mesma perspectiva está à rede como simbologia da cultura indígena que
integra os costumes de diferentes grupos sociais desta feita não mais exclusivamente nas
regiões norte e nordeste, mas nas demais quando incorporada às praticas de veraneio
nos centros de lazer destinados para esse fim. A posse do artefato pelos diferentes
grupos sociais e talvez muito mais para os grupos que detém médio e maior poder
aquisitivo guardam, além de um significado histórico, também educacional. A tradição
aqui tem alguns valores importantes.
Neste capítulo tratei da cultura brasileira. Ela foi definida sob as bases do entendimento de
Geertz, como teia de significados, numa abordagem semiótica. Neste sentido cabe falar de sua
manifestação simbólica. Ela é caracteristicamente marcada pelo caráter multi e intercultural. A
língua é entendida como sua dimensão fundamental, a língua portuguesa que juntamente com a
linguagem promove diferenciações culturais no interior da grande cultura. Além disso,
contempla outros aspectos da manifestação cultural brasileira, na tentativa de construir modos
objetivos de explicitá-la, tais como: a música, a dança, a culinária, artefatos e arquitetura. Na
Constituição Brasileira de 1988, na Seção II, Art. 215, cultura é destacada em uma acepção bem
mais restrita em relação a vimos até aqui. Este, no entanto não deixa de ser um entendimento. o
Etaso no fundo está preocupado assegurar que os cidadãos possam se manifestar livremente
numa sociedade de direitos. Por isso assegura naquele artigo: “O Estado garantirá o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais.” Mesmo sendo nesse entendimento o que
está subjacente é o elemento de realização humano social, particularmente vinculado à
sociedade brasileira.
Referências:
BOUDIERU. Pierre. Sociologia. São Paulo: Ática, 1983.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 1999.
GEERTZ, C. As interpretações das culturas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1989.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2007.
Atividades
Indicações culturais
Aquarela do Brasil
Gravação: João Gilberto
Composição: Ary Barroso
Consultar no site: http://letras.terra.com.br/joao-gilberto/100377/
Sinópse
Em “A Aquarela do Brasil” Ari Barroso retratou o Brasil dos anos de 1930. Exalta o
que nele era então marcante e deveria ser valorizado. Clama de certo modo, segundo as
aspirações de intelectuais da época pela valorização do que è nosso, das nossas coisas.
Do nosso povo, da alegria, da musicam, das contribuições do negro à nossa cultura.
Chama atenção para a mistura religiosa entre, outros. Assim, procure nessa canção
outros elementos que possam ser somados a esses, levando em conta a atualidade
diversa da cultura brasileira. Feito isso estabeleça conexão com a idéia
Atividade de auto-avaliação
2. A cultura brasileira pode ser relacionada a uma teia de significados por que:
( V ) Pelo fato de ser múltipla e conter uma multiplicidade de outros elementos que a
tornam ainda mais particulares em se tratando da cultura de cada uma das regiões do
Brasil em Particular. Cada composição cultural tem sentidos diferenciados para as suas
comunidades.
( F ) Por ser diversa em etnias variadas que têm interesses específicos e que fragmentam
em demasiado essa cultura contribuindo em longo prazo para que ela se torne
excessivamente pulverizada.
( V ) Significados e sentidos explicitam o modo de ser de cada cultura. São ao mesmo
tempo particulares e coletivos, regionais e nacionais, podendo ser exemplificados por
meio de festas religiosas, costumes, culinárias entre outras expressões.
Levando-se em conta a seqüência de respostas a correta é:
a. FFV
b. VFV
c. FFV
3. São princípios que norteiam uma leitura cultural do Brasil:
( F ) Multiplicidade, diversidade, homogeneização e pluralidade.
( F ) Pluralidade, singularidade, diferenciação, homogeneização.
( V ) Multiplicidade, diversidade, singularidade e variação.
Atividade de aplicação
A cultura brasileira possui muitos matizes que a tornam rica de possibilidades de
estudo, mas ao mesmo tempo difícil de ser apreendida numa possibilidade de síntese.
Por isso, de posse daquele conceito de cultura brasileira elaborado por você crie um
painel fotográfico onde suas idéias podem ser traduzidas e divulgadas.
Capítulo 03
Etnias e cultura no Brasil
A sociedade brasileira é marcada sobremaneira por sua múltipla cultura. Isso faz dela
não só um lugar onde se manifestam variedades de expressões culturais, como também um
cenário de possibilidades de realizações de trocas infindas. É nesta linha de raciocino que
procurei explorar a relação entre etnias e cultura no Brasil. As etnias no Brasil devem ser
abordadas de um lado, como decorrentes do processo de colonização na relação índios os
portugueses e, mais tarde a partir da entrada de outros grupos como os africanos, os alemães, os
italianos, os japoneses e os árabes. Destes serão abordados neste capítulo, os índios, os negros,
os italianos e os japoneses. Justifica-se pela prevalência de contribuições à nossa cultura, bem
como pelos limites deste texto. Os chineses, os espanhóis também estão presentes em nossa
sociedade e por assim dizer em nossa cultura, mas não de um ponto de vista expressivo como os
grupos acima indicados, por isso eles e outros que tenham ficado fora desta apreciação não estão
sendo objeto de atenção neste trabalho.
5 Manoel da Nóbrega, Diálogo sobre a conversão do gentio in Serafim Leite. Cartas dos primeiros
O trecho acima é elucidativo quanto a aspectos da cultura indígena. A
antropofagia, as guerras entre tribos, o estado de vida natural, a mercê do tempo e do
cotidiano. A religiosidade. Além disso, em contraposição a estes dados da cultura o
trecho traz a critica contundente à tradição do gentio. Eram maus costumes que
precisavam ser desfeitos pela educação jesuíta. Esta foi feita de modo louvável desde a
infância e por meio da língua tupi. Como matriz da cultura os jesuítas bem se
apropriaram dela para incutir seus propósitos religiosos nos índios do Brasil.
A lei natural é alei de Deus á qual devem ser submetidos todos os índios.
Novamente o combate à antropofagia ao costume de viverem nus e conviverem com
mais de uma mulher, a feitiçaria são dados da cultura que precisariam ser suprimidos
como foram.
Dizimar uma cultura, no entanto nem sempre é uma tarefa simples. O processo
de reeducação é lento e demorado. Há idas e vindas. É difícil de desfazer de habitus
antigos para incorporar outros e novos. Segundo Daher (2201), Anchieta em Carta ao
padre Geral Diogo Laines, escrita em São Vicente, em 30 de julho de 1561, diz:
Jesuítas do Brasil, São Paulo, Comissão do V Centenário da cidade de São Paulo, 1954, vol. II, p. 319.
Conf. DAHER, Andréa. A conversão do gentio ou a educação como constância. In: Brasil 500 anos:
tópicas em história da educação. VIDAL, Diana G.; HILSDORF, Maria L. (Orgs.). São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2001.
6 Carta ao padre Manuel Torres, da Bahia , em 8 de maio de 1558, texto conhecido
como Plano Civilizador. Conf. DAHER, Andréa. A conversão do gentio ou a educação como
constância. In: Brasil 500 anos: tópicas em história da educação. VIDAL, Diana G.; HILSDORF, Maria
L. (Orgs.). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.
Quando os visitamos por suas aldeias [...] recebem-nos [....] sem ter nenhum respeito à
salvação de suas almas ou doutrinas de seus filhos, totalmente metidos em seus antigos
diabólicos costumes. Exceto o comer carne humana, que parece está um tanto
desaraigado entre eles, que já ensinamos. Verdade é ainda fazem grandes festas de
matança na matança de seus inimigos, eles e seus filhos, etiam os que sabiam ler e
escrever, bebendo grandes vinhos, como antes costumavam e, senão os comem, dão-nos
a comer a outros seus parentes que de diversas outras partes vêm e são convocados para
as festas.7
O conteúdo desse trecho nos leva a pensar sobre o fato de que o processo de
imposição cultural portuguesa sobre a cultura indígena, não foi fácil. Apesar de a
história ter nos testemunhado que essa imposição não se deu sem conflitos de ambas as
partes, ela, contudo não foi capaz de dizimar por completo a cultura indígena. Mesmo
tendo provocado a extinção de muitas tribos e consequentemente de comunidades
indígenas, o processo colonizador embora as tenha fortemente impactado, muitas tribos
permaneceram.
Hoje no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades
indígenas, que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que
Desse trecho destaque deve ser dado para o percentual de índios existentes em
relação ao total da população brasileira. Esses 0,25% estão distribuídos em diferentes
etnias ao longo do território brasileiro. Na tabela a seguir podemos entender melhor:
Desse ponto de vista, trabalho e cultura brasileira têm na história as marcas das
relações escravocratas. Se cultura também significa construção/elaboração/criação
humana como legado á posteridade, essas marcas perpassam e permanecem por muitos
séculos na sociedade. Hoje conviemos ainda como muitos modos de trabalho e relações
escravas: o trabalho infantil, o trabalho em condições desumanas, o pagamento indevido
de horas trabalhadas, entre outros. Por isso considero importante retomar aqui um pouco
de história, a fim de que possamos entender o legado cultural propriamente dito. As
condições objetivas determinaram formas e modus vivendi dos escravos como
estratégias de resistência e de convivência com as situações sobre maneiras adversas
com as quais se defrontavam principalmente nas fazendas de café. Foram muitas dessas
estratégias que resultaram em legados culturais importantes para a posteridade social
brasileira.
O negro foi, em algumas regiões, a mão-de-obra exclusiva desde os primórdios da
colônia. Durante todo esse período a história do trabalho é, sobretudo, a história do
escravo. Primeiro nos canaviais, mais tarde nas minas de ouro, nas cidades ou nas
fazendas, era ele o grande instrumento do trabalho. Derrubando matas, roçando
plantações, nas catas de ouro, nos engenhos, na estiva, carregando sacos de mercadorias
ou passageiros.o escravo foi figura familiar na paisagem colonial. Foi mais do que mão-
de-obra, foi sinal de abastança. Época houve em que a importância do cidadão era
avaliada pelo séqüito de escravos que o acompanhava à rua. A legislação e o costume
consagravam esse significado. Concediam-se datas e sesmarias a quem tivesse certo
número de pretos. A posse de escravos conferia distinção social: ele representava o
capital investido, a possibilidade de produzir.(idem.)
9 Cfr. PEREIRA, José Galdino. Colégio São Benedito: a escola na construção da cidadania. In: Memórias da Educação: Campinas,
1850-1960. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, Centro de Memória - UNICAMP, 1999.
É importante frisar que a cultura afro-brasileira é parte integrante da cultura
brasileira e se confunde, por assim dizer, com ela. Digamos que é ponto de partida e de
chagada no atual estágio em essa sociedade se encontra. É de lamentar que em razão
daquelas bases escravocratas antes indicadas se tenha que considerar os afro-brasileiros
minoria: prevenir e combater a intolerância religiosa, inclusive no que diz respeito a
religiões minoritárias e a cultos afro-brasileiros, como medida a ser adotada por meio
de ação do governo editada no ano de 2002, como integrante de medidas humanitárias e
de cidadania. Nessa mesma direção se compromete o estado em:
Para finalizar essa breve apreciação chamo atenção para a simbologia de rituais
importantes. Os realizados nas escadarias do Senhor do Bom Fim na Bahia, os rituais de
Orixás e de Eguns da Nação Ijexá no Rio Grande do Sul, muito pouco conhecido no
restante do país, provavelmente por se veicular que no sul do Brasil estão
exclusivamente os brancos de origem italiana e alemã.
10 METODO FACILE TEORICO-PRATICO per imparare senza maestro la lingua portoghese. Manuale Indispensabile per
l'emigrante che si rega al Brasile. O guia foi organizado pelo prof. Carlo Del Rosso em Milão e data de 1892. Faz parte de acordo
firmado com o governo brasileiro. Ressalte-se ainda, que foi dedicado a Antonio da Silva Prado. Acha-se organizado em dez partes,
cujo objetivo é "uma apropriação fácil da língua brasileira falada".
buon cristiano è molto più onesto e lavatore."11
“protestou contra os galos de uma alfaiate, que se divertia a fazê-los brigar, no meio de
uma grande roda entusiasmada e barulhenta. Vituperou os italianos, porque estes, na
alegre independência do Domingo, tinham à porta da casa uma esterqueira de cascas de
melancia e laranja, que eles comiam tagarelando, assentados sobre a janela e a calçada.
Quero isto limpo! Bramava furioso. Está pior que um chiqueiro de porcos ! Apre!
Trento (1989) entende essa questão não como uma simples expressão de
mentalidade, mas como ódio de classe já que difícil de conter. Contudo, ambos acham-
se nas bases sociais, ou seja, não faziam parte dos que definiam concretamente os rumos
do Brasil da época.
A mentalidade dirigente pode ser traduzida através de uma passagem de Ianni
(....) que considera que
os "imigrantes europeus vindos para o Brasil no século XIX, foram escolhidos a dedo
para branquear o país. Era necessário branquear o país que estava muito mulato, muito
negro. (...). Havia uma preocupação de eliminar ou reduzir a presença visível do negro e
do mulato e por isso é que não se continuou a trazer negros da África como
trabalhadores livres. Foi por isso que não se trouxe, e inicialmente se cogitou disso,
chineses que estavam disponíveis, por que eram amarelos (p. 14).
Assim, as desavenças entre nacionais e italianos, que têm como ponto de partida
o fato de serem sujos e barulhentos é antes a negação de uma etnia. A etnia que ora
impõe sua cultura e ora quer misturá-la com a nacional. Neste sentido então,
imaginamos que esses conflitos ultrapassam a condição de classe social. O imigrante ao
instalar-se na cidade não se constitui apenas numa referência étnica diferente, mas vem
disputar com o nacional tanto o espaço urbano quanto o trabalho e a cultura. Assim, ao
mesmo tempo em que imigrantes italianos estruturam-se através de uma organização,
outros menos privilegiados economicamente vendem sua força de trabalho utilizando-se
de dispositivos que a cidade oferece. Vejamos alguns exemplos:
"COZINHEIRA
Quem precisar de uma cozinheira italiana ou para lavar e engomar, pode dirigir-se à
quarta casa acima da Ponte Preta."12
"AMA DE LEITE
Quem precisa de uma ama de leite, italiana dirija-se à fazenda do senhor João Franco,
ou,
"CRIADA
Precisa-se de uma boa criada preferindo-se alemã ou italiana. Para tratar no largo de
Santa Cruz n. 21."17
"CRIADA
Precisa-se de uma criada branca, prefere-se estrangeira. Rua Francisco Glicério, esquina
do General Osório, no armazem."18
13 Idem, 11/08/1888.
14 Idem, 20/09/1888.
15 Idem, 25/01/1889.
16 Idem, 29/08/1889.
17 Idem, 20/11/1889.
18 Idem, 22/01/1890.
"Duas mil criadas - Attendendo as difficuldades com que nas cidades da provincia se
luta para obter criadas para o serviço domestico, resolveu a Sociedade Promotora da
Immigração mandar vir da Europa duas mil criadas solteiras, sendo 1.000 italianas e
1.000 alemãs.
Conforme o exito desta primeira experiência decidirá a Sociedade Promotora mandar
vir ou não maior numero de criadas”19.
“Serviço domestico - Tratam na corte alguns capitalistas de mandar vir da Europa
criadas para o serviço domestico, a exemplo do que ultimamente resolveu a Sociedade
Promotora da Immigração desta provincia”.20
ou ainda,
"LOCAÇÃO DE SERVIÇOS
47 13 DE Maio 47
Telephone 24
N'esta agência há para alugar 3 criadas solteiras, italianas, para serviços domésticos, um
perfeito cozinheiro afiançado, um jardineiro...".(Diário de Campinas, 1897)
Posto isso, nos parece que apenas procedemos a uma elementar aproximação
daquilo que consubstanciaram conseqüências, uma extensão das políticas imigratórias
para o Brasil e para o Estado de São Paulo em particular. Não foi apenas em função e
através do café que lucros foram obtidos com a imigração. Os centros urbanos para os
19 Idem, /12/1888.
20 Idem, 21/12/1888.
21 Diário de Campinas, 9/07/1889.
quais imigrantes certamente se dirigiram, guardam na memória muitos dos interesses a
que serviram aqueles que vieram para fazer a América. Muitos deles venderam a força
de trabalho que possuíam, que significava uma possibilidade melhor do que as
existentes em seus países de origem. Na Itália, por exemplo, as oportunidades de
atividade produtiva no período da grande imigração eram ínfimas, principalmente para o
camponês do norte.
Não seria demais chamar atenção para o fato de que estamos falando de grupos,
segmentos sociais de imigrantes diferenciados: de um lado aquele que procura incluir-se
socialmente através de estratégias coletivas, presidindo associações e promovendo
eventos. São também comerciantes e profissionais liberais que se fazem conhecer na
sociedade por intermédio da imprensa e das relações que vão estabelecendo com a
cidade de modo geral. De outro, aqueles que anonimamente vão compondo um processo
nada idílico de convívio sócio-cultural.
Assim, conviver, sobreviver, aparece como algo difícil de ser obtido mesmo para
aqueles em nome dos quais presumivelmente possa ter sido criada uma associação. Isso
nos leva a pensar no que escreveu Cenni (1975) quando se referiu à criação das
sociedades italianas,
"as origens de quase todas as sociedades italianas que se formaram no Brasil são
bastante parecidas: certo dia um emigrado, ou um número pequeno deles, resolve
convocar uma assembléia mais ou menos numerosa, são estabelecidas as linhas gerais,
quase sempre assistencial ou recreativa, é escolhido um nome e trata-se de juntar
dinheiro para realizar aquilo que sempre constituiu a principal aspiração dêstes grêmios:
a sede própria" (p.247).
Os japoneses
Podemos dizer que as etnias, negra, italiana e japonesa têm em comum o fato de
terem contribuído à cultura brasileira com o trabalho, principalmente no cultivo da terra.
Ainda que em situações diferentes principalmente em relação ao negro, cada uma delas
é certo possui modus vivendi que, de algum modo concorre para enriquecer, somar à
cultura brasileira.
Os japoneses ingressaram no Brasil, a partir do tratado da Amizade Brasil/Japão
de 1895. A chegada dos primeiros imigrantes deu-se em 1908. Os primeiros Núcleos
Coloniais datam de 1913. Suas vindas acompanharam a ideologia do desenvolvimento
nacional, calcado de um lado na industrialização e de outro na compreensão de que ela
deveria ser nacional. Aparentemente contraditório já que se tratava de nacionalizar o
Brasil, de fazê-lo caminhar com os próprios pés.
Mas a inserção dessa etnia em solo brasileiro também não se deu sem conflitos,
de diferentes naturezas.
O conhecimento sobre as diferentes etnias se faz necessário como imperativo de leitura social.
Imaginemos um ônibus lotado, ou um aglomerado de pessoas nas ruas. A mistura racial está
presente em todos os rostos e com ela estão condutas, comportamentos, costumes, religião,
religiosidade, enfim modos de ser e de viver que em muito se diferenciam, mas que também
possuem algo em comum: o uso da língua, onde a maioria da linguagem é comum, mas que
encontra diferenciações em decorrência da origem regional, do grupo étnico em cujo uso de
duas línguas faz com que o português soe carregado, a exemplo: corgo para córrego, porrta para
porta. Penso que a cultura tem um sentido de transversalidade, ou seja, a idéia de teia de Geertz
demonstra bem essa compreensão. Ainda que estejamos vivemos um intenso processo de
globalização econômica e cultural os homens fazem cultura segundo suas necessidade imediatas
e cotidianas também e principalmente. A riqueza cultural está na troca e a sociedade brasileira
certamente vive um de seus momentos mais significativos nesse sentido. É só olharmos para as
associações, as cooperativas, nos mais longínquos lugares.
Referenciais:
A. AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1985.
CENNI, Franco. Italianos no Brasil. São Paulo: Martins, 1975.
COSTA, Emília Viotti da. Da Senzala à colônia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.
DAHER, Andréa. A conversão do gentio ou a educação como constância. In: Brasil 500 anos: tópicas em
história da educação. VIDAL, Diana G.; HILSDORF, Maria L. (Orgs.). São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2001.
BRASIL. Ministério da Justiça. Portal do Cidadão. Disponível em:
http://www.funai.gov.br/projetos/Plano_editorial/Pdf/Legisl/capitulo-01.pdf, acesso em 16/03/2008.
GEERTEZ, C. O Saber local: novos ensaios sobre antropologia interpretativa. Petrópolis: Rio de Janeiro:
Vozes, 1997.
IANNI, O. Aspectos Políticos e Econômicos da Imigração Italiana.
SANTANA, Marise de. O legado Africano às Culturas Brasileiras. In: Diálogo. Revista de Ensino
Religioso. AnoXIII, n. 49, Fevereiro, 2008.
TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil. São Paulo:
Nobel, 1989.
Atividades
Indicações culturais
Filme: A Missão
Sinopse:
Em “A Missão” estão contemplados modos de imposição cultural feitos aos indígenas
no processo de colonização brasileira pelas missões jesuítas em nome modo estado
Português. Como resultado que somos dessa imposição cultural á cultura nativa isso nos
torna responsáveis pelo fomento constante á preservação dessa cultura que estão na
origem de nossa sociedade e que muito dela resiste em sobreviver.
Atividade de auto-avaliação
Nas questões a seguir, marque as sentenças com verdadeiro (V) ou falso (F).
1) Em relação a cultura brasileira e etnias
( V ) O descobrimento do Brasil por Portugal trouxe a imposição da cultura portuguesa
sobre a existente, no caso a indígena, constituindo numa forma de dominação. A cultura
indígena, portanto nossa cultura nativa representada pela língua Tupi Guarani, foi
imperiosamente afetada pela descoberta do Brasil pelos Portugueses em 1500.
( V ) O negro é integrante fundamental da cultura brasileira. “O negro foi, em algumas
regiões, a mão-de-obra exclusiva desde os primórdios da colônia. Durante todo esse
período a história do trabalho é, sobretudo, a história do escravo. Primeiro nos
canaviais, mais tarde nas minas de ouro, nas cidades ou nas fazendas, era ele o grande
instrumento do trabalho. Derrubando matas, roçando plantações, nas catas de ouro, nos
engenhos, na estiva, carregando sacos de mercadorias ou passageiros.o escravo foi
figura familiar na paisagem colonial. Foi mais do que mão-de-obra, foi sinal de
abastança.(....).”
( F ) As etnias que aqui se instalaram depois do descobrimento o fizeram de modo
simples e fácil. Do ponto vista dos imigrantes italianos, ao mesmo tempo em que uns
estruturam-se através de organizações, outros menos privilegiados economicamente
venderam sua força de trabalho utilizando-se de dispositivos que a cidade oferecia.
.
Apenas uma seqüência está correta:
a. FVV
b. VFV
c. VVF
Nos (i) sentidos antropológico e sociológico, como “modo de vida global” distinto, dentro do
qual percebe-se, hoje, um “sistema de significações” bem definido não só como essencial, mas
como essencialemnte envolvido em todas as formas de atividade social e, (ii) o sentifdo mais
especializado, ainda que também mais comum, de cultura como “atividades artísticas e
intelectuais”, embora estas, devido à ênfase em um sistema de significações geral, sejam agora
definidas de maneira muito mais ampla, de modo a incluir não apenas as artes e as formas de
produção intelectual tradicionais , mas também todas as “práticas significativas” – desde a
linguagem, passando pelas artes e filosofia, até o jornalismo, moda a publicidade - que agora
constituem esse campo complexo e necessariamente extenso.
22 Ver nesse sentido a obra de Alfredo Bosi “Dialética da colonização”. São Paulo; Companhia das Letras, 1992.
Destacadamente o primeiro sentido representado pela idéia de modo de vida
global distinto dentro de um sistema de significações envolvendo todas as formas de
atividade social nos é oportuno para refletir sobre a diversidade cultural brasileira.
Cenário cultural que se manifesta desafiador e exigente quando se trata de requerer para
o professor no exercício da docência o domínio de saberes que o permita apreendê-la no
seu labor cotidiano. Ela faz parte de um contexto social que não é uma abstração
sociológica, nem um horizonte longínquo ou situado “fora” da escola. É, ao mesmo
tempo, individual e coletivo e concreto.
A idéia de sistema de significados é própria a diferentes grupos sociais pela
natureza subjetiva a diferentes práticas, representações, modos simbólicos sob ou a
partir dos quais diferentes grupos sociais e/ou sujeitos estabelecem convívios sociais e
produzem. No processo de convivência direta ou indireta os significados dimensionam
sentidos explicativos às suas existências. Assim os significados também são múltiplos e
complexos daí o sentido de sistemas. Um amaranhado de realizações que, por se
situarem fundamentalmente desde um nível subjetivo ultrapassam a própria aparência
simbólica das práticas, dos ritos que não são mais do que manifestações exteriores de
uma interioridade que precisa ser dada a conhecer a outrem.
Desse modo, o entendimento de sistema de significados torna-se, ao mesmo
tempo, princípio fundamente à compreensão da diversidade cultural em decorrência da
multiplicidade de elementos que lhe é constitutiva.
Por isso, entender as diversas culturas implica ultrapassar padrões de leitura
exclusivos da própria cultura para compreender o ser em relação, estender o campo de
visão para outros modos de fazer religião, a exemplo. Bem como a religiosidade. Tais
modos configuram também imagens que são múltiplas e seus sentidos variados. Poder-
se acercar delas, experimentá-las, contemplá-las, porém jamais penetrá-las para além
das aparências. Por isso, as práticas culturais só são inteligíveis no universo da própria
cultura.
Os sistemas de representações simbólicos estão inseridos em processos e
contextos sócio-históricos específicos, nos quais eles são produzidos e, acham-se por
assim dizer, situados no âmbito daquela multiplicidade.
Com efeito, cabe sem dúvida falar sobre produção cultural (WILLIANS, 1992),
e sua decomposição em suas possibilidades de produção material, por meio de artefatos,
mas concomitantemente de produção simbólica, gerada quer por artefatos, quer de
manifestações por meio de comportamentos, música, dança e religião, práticas
costumeiras cotidianas e sua articulação com certos rituais, a exemplo, a cerimônia de
chá para os japoneses e seus descendentes. Tais manifestações sem dúvida têm como
conseqüência a promoção de relações sociais de cultura (WILLIANS, 1992), gerando
também novas relações de produção cultural quando as experiências culturais se
interconectam. Um exemplo já bastante comum são as feiras de artesanato e/ou de
comidas típicas (regionais e internacionais, promovidas por migrantes e imigrantes), que
viraram lugar comum em centros urbanos. Em processos de relações como esses, além
de trocas simbólicas interculturais, também há, certamente, apropriação. Nesse sentido,
a compreensão de diversidade não encerra em si mesma, não é estanque, mas se nutre
também de outros referenciais culturais, dai sua complexidade.
A diversidade cultural é um tema de especial relevância porque permite-nos
também refletir sobre a inclusão de culturas que têm sido historicamente excluídas de
direitos e que é, ao mesmo tempo, necessária para a construção de uma escola
democrática e, por essa razão, mais inclusiva. Ao mesmo tempo em que se manifesta
como um imperativo, é conseqüência salutar de progressivas mudanças que expressam
ambivalentemente conquistas, mas também recuos, razão pela qual faz-se necessário ao
universo educativo escolar abrir-se para à convivência com as diferentes expressões
culturais e estimular movimentos de afirmação da identidade cultural dos diferentes
grupos existentes no Brasil.
Nessa perspectiva, os desafios da reflexão contemporânea circundam uma
situação irremediavelmente pluralista, onde um tipo de racionalização fechada cedeu
espaço à outra de diferente natureza, mais flexível, cuja pretensão é fornecer descrições
ou explicações abrangentes e totalizantes do mundo e da vida, fato este que proporciona
a possibilidade de manifestações de muitos processos de hibridização cultural. Estes
processos podem ser definidos por meio de várias linguagens que se interpenetram (o
hip hop), cuja matriz serve de base para composições musicais que contém narrativas de
denuncias de violências e de segregação de grupos que encontram nessa forma de
comunicação, um meio de serem ouvidos e, ao mesmo tempo, constituírem-se em
protagonistas e participarem de modo ativo de manifestações culturais de seu tempo.
A compreensão sobre a diversidade e, conseqüentemente, o respeito a ela pode
ser traduzida como o passar de uma visão refratária para outra onde valores são
redefinidos de modo a deixar emergir modos de ser e de fazer próprios não dominantes
principalmente do ponto de vista econômico, aspecto que não pode ser descurado nas
interpretações sobre diversidade.
Uma apreciação sobre cultura e diversidade requer que nos remetamos à idéia de
diversidade estritamente conectada a multiculturalismo, principalmente em sociedades
como o Brasil quando é possível falar de muitas culturas que, em si são plurais porque
guardam singularidades devida ao componente regional, as etnias e suas contribuições.
Neste sentido, práticas e crenças religiosas, artefatos, música, dança, vinculadas por
grupos étnicos, ou mesmo modus vivendi das tradicionalmente chamadas minorias, se
constituem em culturas que, por sua vez, contém particularidades que as tornam plural
desde sua interiorização. Por isso essa é uma questão não simples de ser incorporada
pela escola, por exemplo, que tem a tradição de lidar com um padrão homogêneo de
cultura. Este não pode deixar de ser analisado fora das relações de dominação e de
imposição cultural fartamente postos na literatura educacional, bem como sobre sua
validade pretensamente universal dentro de nossa sociedade.
Olhar a diversidade significa em sociedades desiguais como a nossa, mirar os
diferentes segmentos de classe social. Isso é fundamental porque é um requisito
necessário para os modos de inserção social que são criados por aqueles que desejam
participar mais ativamente do mundo múltiplo no qual vivem. A diversidade se encontra
em modos de fazer e viver dos grupos sociais. Cada um desses grupos possui em seu
interior maneiras de viver e formas de produzir objetos culturais.
A diversidade cultural, além disso, pode ser também caracterizada por diferentes
elementos, tais como: a genética e suas variações entre grupos e classes, as línguas, as
linguagens e os modos como estão distribuídas nas diferentes regiões no mundo e
dentro dos países e, como já indicamos anteriormente a gama de indivíduos, seus
comportamentos em um contexto histórico comum.
Cultura, diversidade e globalização
No mundo atual são muitos os desafios a serem enfrentados pelos povos no
interior de seus espaços geográficos é em tempos do que Ortiz (1994) chamou de
desterritorialização da cultura. Ainda que a cultura seja diversa em seu interior, e o
Brasil é um exemplo disso, essa diversidade também é invadida por elementos de outras
culturas que se manifestam em decorrência do processo de globalização. São entradas
de costumes, de valores, de práticas comerciais, de práticas de fabricação, de línguas
diferenciadas, enfim de produtos que deixam de ser exclusivos de um território e que
têm também os meios de comunicação como os seus principais veículos de transmissão.
Já há mais de dez anos esse autor indicava o que considerou os sinais de
desterritorialização da cultura e que hoje vemos consolidados em nosso espaço
geográfico:
São vários os sinais de desterritorialização da cultura. Um carro esporte Mazda é
desenhado na Califórnia, financiado por Tóquio, o protótipo é criado em Worthing
(Inglaterra) e a montagem é feita nos Estados Unidos e México, usando componentes
eletrônicos inventados em Nova Jérsei, fabricados no Japão. O “Ford-Fiesta” é montado
em Valência (Espanha), mas os vidros vêm do Canadá; o carburador da Itália; os
radiadores da Áustria; os cilindros as baterias e a ignição da Inglaterra; o pistão da
Alemanha; e o eixo de transmissão da França. (...). As roupas japonesas, consumidas no
mercado americano, São fabricadas em Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e
Cingapura; já a indústria de confecção norte-americana quando inscreve em seus
produtos “made in USA”, esquece de mencionar que eles foram produzidos no México,
Caribe, ou Filipinas. (ORTIZ, 1994, p. 108)
Observa-se que desse mundo diverso participam outros mecanismos que são
culturais e que não estão diretamente incluídos naqueles elementos indicados
anteriormente como característicos da diversidade cultural, mas são produzidos no seu
interior em relações sócio-econômicas específicas. Ainda Para Ortiz (1994),
O movimento de desterritorialização não se consubstancia apenas na realização de
produtos compostos, ele está na base da formação de uma cultura internacional-popular
cujo fulcro é o mercado consumidor. Projetando-se para além das fronteiras nacionais,
esse tipo de cultura caracteriza uma sociedade global de consumo, modo dominante da
modernidade-mundo. (....). (p. 111).
Olhar, fazer uma leitura da diversidade se constitui um exercício novo do ponto de vista cultural
sob a abrangência que ela se manifesta e pode ser lida. O potencial da leitura certamente será
dado pelas possibilidades do olhar de quem lê. Essa leitura requer abertura para o novo que, ao
mesmo tempo é velho em muitos aspectos. Novo enquanto, por exemplo, decorrentes do
processo de globalização: as novas linguagens, os novos comportamentos; o volume de
informações disponíveis na rede, a inserção cada vez mais acentuada da mulher no mundo do
trabalho e as conseqüência que isso traz para a a família em termos de revolução de costumes. O
velho expresso nas etnias indígenas, e negras com suas infinitas contribuições à cultura
brasileira que a idéia de diversidade traz à tona contraditoriamente como novas. Certamente a
diversidade se manifesta com mais destaque em tempos considerados pós-modernos, também
pela necessidade de sobrevivência nos conturbados espaços urbanos onde a criatividade vale
também como condição para a conquista de um lugar ao sol.
Referenciais:
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. São
Paulo: Saraiva, 2000.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo; Companhia das Letras, 1992.
FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Lngua Portuguêsa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo, Brasiliense, 1996.
TAKAHASHI, T. Diversidade Cultural e Direito a Comunicação.In: Pensar Ibero América. Revista de
Cultura on-line, n. 6, maio de 2004.
HOBSBAWM, Eric, RANGES, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
LINHARES, Célia; LEAL, Maria Cristina (Org.). Formação de professores: uma crítica à razão e à
política hegemônicas. Rio de Janiero: DPA, 2002.
McLaren, Peter Multiculturalismo revolucionário:pedagogia do dissenso para o novo milênio. Porto
Alegre: Artes Médicas, Sul, 2000.
WILLIAMS, R. Cultura. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992.
Atividades
Indicações culturais
Filme: A Fuga das galinhas.
Ver, biblioteca, www. gper.com.br
Sinopse:
Em “A Fuga das Galinhas” aborda-se o sentido do coletivo e do grupo por meio das
diversidades individuais em relação ao grupo. Trata-se por assim dizer de uma
discussão sobre a natureza de cada um e como ela se manifesta no grupo e é por esse
coletivo, o grupo, gerida. Nesta perspectiva é possível fazer uma analogia entre essa
forma de diversidade e a diversidade cultural, por exemplo, em nossa sociedade. Onde
historicamente tem se lidado com uma ideologia de cultura homogênea apresentado
hoje o imperativo de olhar essa cultura sob a ótica da diversidade.
Atividade de auto-avaliação
Nas questões a, b, c, d a seguir, marque as sentenças com verdadeiro (V) ou falso (F).
4) Cultura e tecnologia
( V ). O avanço tecnológico dentro da lógica global que nele encontra um dos seus
mecanismos de funcionamento mais eficientes, impõe para as diferentes culturas
necessidades não convencionais. O acesso à informação é uma delas. Se até os anos de
1980 do século XX a informação era adquirida via jornais, rádio e televisão. Hoje a
televisão e a internet têm supremacia
( V ) A cultura é entendida como produção humana que se manifesta socialmente de
modos simbólicos diferenciados num cenário de múltiplas realizações, a tecnologia
como produção certamente se insere no conjunto de produções humanas que
historicamente vem sendo aperfeiçoada embasada no vertiginoso avanço científico
desde a modernidade.
( V ) No universo da diversidade a educação escolar se faz uma exigência por uma série
de razões. A primeira delas diz respeito à própria alfabetização. Aqui ela se manifesta
em três sentidos: o de aprendizado da leitura e da escrita, o do domínio de
ferramentas/equipamentos que permitem o acesso à rede mundial de computadores e, a
leitura crítica dos conteúdos veiculados nos diferentes sitios.
5. Sobre a diversidade
(F) A diversidade pode ser entendida apenas como a contribuição de diferentes etnias á
cultura.
(V) A diversidade pode ser entendida como um dos modos de exemplificar a idéia de
teia de significados considerando suas possibilidades de contribuição á cultura
brasileira.
(V) O processo de globalização traz importantes contribuições á cultura, embora haja o
perigo de imposição.
A educação é uma prática social que, não só simboliza como torna concreta uma dimensão
eminentemente humana através de seu caráter histórico que sintetiza o próprio devir do existir
do homem tanto sob sua forma sistemática como assistemática. Por ser uma prática humano-
social acha-se intrinsecamente disseminada na sociedade. Por isso é imprescindível enquanto
elemento caracterizador de múltiplos modus vivendi de diferentes povos.
Por ser uma prática social historicamente construída cujo propósito é a formação do
sujeito visa incutir hábitos e desenvolver condutas, valores, socialmente aceitos em certa cultura
de acordo com o momento histórico vivido e necessidades existentes.
Assim, as características humano-sociais determinam e exigem modos diferenciados de
educação de vida para cada povo e, por assim dizer, de cada cultura. De modo amplo, uma
sociedade caracteriza-se pelas experiências, práticas educativas que transmite às gerações
posteriores seus valores, costumes, tradições, hábitos que fazem com que sua cultura seja
mantida ou modificada dependendo por isso, de como se desenvolve historicamente cada grupo.
Esses grupos podem ser exemplificados pela família, a igreja, os grupos de amigos, a vizinhança
entre outros.
Importa destacar que nenhuma sociedade é culturalmente superior ou inferior a outra.
Há a existência de grupos socialmente diferentes. Por isso, cada cultura só pode ser
compreendida a partir e dentro dela.
Observe-se que esta é uma compreensão bastante ampla de educação já que não se
restringe a um tipo específico, mas a educação de modo geral. Neste sentido, para Brandão
(1989), existem tipos diferenciados de educação na medida em que estes se acham estritamente
vinculados a um tipo particular de cultura. Assim, existirão tantos tipos de educação quanto
forem os de cultura. Mas é não é só isso. Estamos nos educando a todo instante considerando
que, a educação encontra-se difusa nas relações e práticas sociais exercitadas pelos diferentes
grupos sociais.
Por outro lado, para Saviani (1986), correlacionando educação a cultura, distingue três
tipos:
educação escolar", "educação difusa" e "educação popular". A Educação escolar corresponde à
cultura erudita. Rege-se por padrões eruditos, sua finalidade é formar o homem "culto" no
sentido erudito da palavra, seu conteúdo e sua forma são eruditos; é enfim, o principal meio de
difusão da "cultura erudita. Aquilo que estamos chamando, na falta de uma expressão mais
adequada, de “educação difusa”, corresponde à “cultura popular”. (1986, p. 82).
Relaciona educação difusa à cultura de massa para o que participam decisivamente os meios de
comunicação de massa. Esse autor vincula ainda, educação popular à cultura popular por sua
característica animista, realista e prática (SAVIANI, 1986, p. 81-2).
O que chama atenção na definição de Saviani é a relação que estabelece entre educação
e cultura. É diferente daquela defendida por Brandão. Nesta ela é própria de certo grupo,
significando, por assim dizer, aquilo que o caracteriza que o torna peculiar. Em Saviani a cultura
tem também fins mercadológicos, ou seja, vincula-se estreitamente á idéias e valores, enfim,
interesses que se deseja sejam veiculados por entre um contingente amorfo de indivíduos
(1986).
Freire (1987), diferentemente de Saviani e avançando para uma compreensão mais abrangente
de educação, entende-a como sinônimo de conscientização. Valores, atitudes, comportamentos
só serão válidos se estiverem correlacionados à libertação que significa a tomada de consciência
do sujeito sobre o seu estar aqui e agora no mundo que o rodeia. Deve, pois significar
instrumento de libertação na sua relação com e mundo, para poder assim interferir sobre ele.
Quer em seu sentido formal quanto informal por achar-se disseminada na sociedade, a educação
se presta a certo tipo de serviço no sentido tanto de libertar como de oprimir pessoas. Eis aqui
seu caráter político. A educação informal e a formal estão disseminadas na sociedade por meio
de diferentes instituições e é por estas que realiza sua função política tendo como protagonistas
diferentes sujeitos sociais. Entre estas instituições está a Igreja que, enquanto tal, e, por sua
natureza cumpre uma finalidade doutrinária do ponto de vista social. Esta finalidade é diferente
da educação que se desenvolve no interior da escola.
De um modo ou outra as pessoas são educadas no interior da sociedade. No entanto no modo
escolar é preciso direcionamento, finalidade definida pelo estado principalmente. Ele tem o
papel e função de ofertar educação para a maioria da população, neste particular da sociedade
brasileira. O estado cumpre uma função ideológica importante como definidor de um projeto
social por meio da educação escolar. Esse papel e função devem estar estritamente relacionados
com as aspirações sociais quando se trata de formato de estado democrático.
Considerando a questão do Estado, é preciso compreender por um lado, como a educação
escolar tem sido propiciada à grande parcela da população brasileira correlatamente ao fato de
que ela pode tornar-se instrumento de libertação levando em conta a realidade educacional do
país historicamente construída. Quando falamos sobre os negros no capitulo III e o modo como
eles foram introduzidos no Brasil, aquele entendimento contribui sobremaneira para
entendermos a relação entre estado e sociedade no Brasil. A sociedade brasileira, de bases
escravocratas, pouco têm contribuído por meio de Estado com a maioria da sua população no
campo educacional. O analfabetismo que é histórico. Embora hoje tenhamos reduzido o
analfabetismo entre jovens de entre 15 a 18 anos para o percentual de 13%, este ainda se revela
um problema a ser resolvido. Trata-se de indivíduos jovens que poucas chances têm de inserção
no mundo do trabalho. Estarão sem dúvida às margens do processo produtivo. A educação
escola não tem sido ao longo da história do Brasil uma questão de eminente preocupação social.
Desse modo poucas têm sido as possibilidades de acesso á cultura, que como conhecimento
sistematizado, quer como arte, por exemplo.
A escolarização é uma exigência que está posta na base da formação do homem moderno.
Correspondentemente a essa exigência a escola tem sido o espaço institucionalizado responsável
pela formação sistemática de sucessivas gerações, onde professores interagindo com os
estudantes e outros atores interferem de algum modo na formação de indivíduos. Fator
fundamental para a compreensão de transformações nas diferentes sociedades e culturas e, nesse
universo, no mundo do trabalho. É evidente que o impacto do ensino escolarizado sobre esse
mundo, não se limita à variáveis econômicas, pois a escolarização está, mais do que nunca, no
coração do processo de renovação social no seu sentido mais amplo por meio da distribuição de
conhecimentos na sociedade.
A sociedade atual cada vez mais exige dos diferentes profissionais, o domínio de saberes que os
possibilite responder às suas múltiplas demandas. É justamente neste aspecto, ou seja, suas
múltiplas demandas, que incide a questão da diversidade e sua relação com a cultura e os
saberes, termos esses que serão mais bem analisados em itens posteriores.
Para tanto me parece importante estruturar uma concepção educativa escolar cujo entendimento
reside na importância de o aluno apreender novos conhecimentos que dêem conta de
compreender e traduzir aquela diversidade em sua especificidade e natureza para que o ato
educativo possa dar-se em consonância com os requisitos da diversidade cultural. Esse é sem
dúvida um grande desafio que tem sido posto para a escola brasileira, fundamentalmente em
nível básico que, nas grandes capitais recebe migrantes de diferentes regiões na medida em que,
essas capitais como grandes centros tiveram intensificado a urbanização, a indústria, bem como
os serviços de diferentes naturezas. Há que se falar também de diferentes linguagens que
acessam o terreno escolar no processo de escolarização de sujeitos que, por essa razão,
ultrapassam o âmbito meramente lingüístico para abarcar o entendimento de cultura em seu
complexo significado.
A educação escolar tem papel fundamental no sentido de promover interpretações das diferentes
manifestações simbólicas, ao fomentar o exercício educativo consubstanciado no respeito à
diversidade.
Por isso, a educação aberta à diversidade cultural não emerge por razões pedagógicas
exclusivamente, mas por motivos sociais, políticos e ideológicos 25. Nas últimas décadas, tem
crescido no Brasil a consciência sobre ser a realidade brasileira formada por matizes de novos
cidadãos brasileiros que a partir de movimentos articulados (negros, indígenas, feministas, sem
terras, homossexuais, mulheres, etc.), buscam fazer-se conhecer e reconhecer como parte
substantiva de uma diversidade múltipla e de características próprias.
Assim, tanto as produções como as trocas culturais são eivadas de significado, razão pela qual,
os significados culturais nos remetem também ao domínio do simbólico que, por “pertencer” ao
universo subjetivo, desafia a escola a ultrapassar o âmbito das condições objetivas e
interconectar aquele a estas.
Saberes Escolares
Os saberes escolares se consubstanciam em conhecimentos que são considerados
importantes de serem apreendidos pelos alunos. Na tradição escolar formal eles têm
natureza diferente. Podem advir de disciplinas, mas também de praticas, experiências
vivenciadas pelos alunos na escola, razão pela qual estão vinculados ao currículo formal
e ao oculto.
Os saberes escolares como articulados à idéia de disciplinas escolares são
também adotados neste trabalho. São saberes que correspondem aos diversos campos de
conhecimento, aos saberes de que dispõe a nossa sociedade, tais como se encontram
hoje integrados nas universidades sob a forma de disciplinas, no interior das faculdades
e de cursos distintos (Tardif, 2002, p. 38). Mas também são saberes difusos que
tradicionalmente estiveram fora da cultura dominante e que hoje a perspectiva de
diversidade tenta incorporar aos currículos escolares. Por exemplo:
26 Ver nesse sentido Antonio Viñao, Fracassan las reformas educativas? La respuesta de um historiador. In: Educação no Brasil.
SBHE: Autores Associados, 2000.
Por outro lado, os saberes dos professores não podem ser separados de todas as
dimensões do ensino, pois é sempre o saber de alguém que ensina alguma coisa no
intuito de concretizar um objetivo. O saber docente é um saber plural e implica um
processo coletivo. Esse saber media a prática educativa que mobiliza diversos saberes
que podem ser denominados de pedagógicos, apresentando concepções epistemológicas
sobre a relação que os alunos estabelecem com o conhecimento. Os saberes de um
professor são uma realidade sócio materializada por meio de sua formação, dos
programas e suas práticas coletivas.
O saber docente é resultante da experiência pessoal e profissional, conseqüência
da vivência dos professores, produto da atuação na escola e da formação acadêmica.
Este sincretismo de experiências orienta à construção da identidade do professor.
Importa destacar que o saber docente por integrar a cultura escolar, talvez seja um dos
seus constitutivos mais tradicionais, pois são eles que significam o existir também das
disciplinas escolares.
Os saberes são compartilhados por grupos de profissionais que possuem uma
formação comum, trabalham em uma mesma organização e estão sujeitos, por causa da
estrutura coletiva de seu trabalho cotidiano, a condicionamentos e recursos
comparáveis, entre os quais programas, matérias a serem ensinadas, regras do
estabelecimento, etc. Desse ponto de vista, as representações ou práticas de um
professor específico, por mais originais que sejam, ganham sentido somente quando
colocadas em destaque em relação a essa situação coletiva de trabalho (TARDIF, 2002,
12).
Os saberes que integram o conjunto dos saberes escolares são provenientes de
diversas fontes e são produzidos socialmente. Contudo, essa fontes, em se tratando do
Brasil têm originado saberes dominantes próprios de grupos econômica e politicamente
dominantes. Quando os saberes provem de conhecimentos sistematizados acumulados
por meio da ciência, a dificuldade escolar está em conectá-los à vida. Afinal eles se
originam dai. Diz-nos Pereira (2008), em relação à necessidade de abordagens das
culturas africanas e afro-brasileiras na escola, que há desafios a enfrentar por parte dos
educadores:
Ao enfrentar tal questão os educadores se deparam com um grande desafio que decorre
da necessidade de se desfazer os equívocos que deturparam as culturas de origem
africana nas áreas onde se desenvolveram relações de trabalho escravo. O desafio
decorre, ainda, da urgência de se analisar os esquemas de violência que perpassam as
relações entre os diferentes grupos da sociedade brasileira, de se estudar e de vivenciar
as culturas africanas e afrodescendentes como realidades dialéticas, dispostas no jogo
social, permeadas por contradições e em constante processo de reinterpretação de si
mesmas. (p. 10)
Com efeito, a cultura escolar precisa então saber incorporar novos saberes à sua
cultura. Ela que entendo ser composta por uma complexidade geral e outra específica.
Da primeira, fazem parte práticas, saberes, normas, materiais, comportamentos e,
vinculados a estes, modos de ser, de pensar, valores, a organização e dinâmica interna
da escola, rituais, a arquitetura que, além do aspecto estético, dimensiona o uso do
espaço pelos alunos e professores. Da segunda, fazem parte os saberes oriundos das
disciplinas ou os conhecimentos que devem ser ensinados pelos professores que
também possuem saberes vinculados estritamente ao campo pedagógico e que orientam
e dinamiza esse fazer. Por outro lado, eles também estão de posse de saberes próprios às
suas áreas de conhecimento que se interrelacionam com outros de caráter profissional e
socialmente construídos.
Tardif (2000), nos alerta para as fontes diferenciadas das quais provém os
saberes dos professores, entre as quais as do próprio sistema de ensino. Mas, da cultura
escolar também faz parte seu modo de gestão que indica, por sua vez, a maneira de ser
da escola ao longo do tempo e que sofre modificações e demarca sua singularidade
conforme os sujeitos que a toma nas mãos. A cultura escolar seria uma síntese de algo
que permanece e que dura, algo as sucessivas reformas não conseguem aranhar, que
sobrevive as novidades e são sedimentadas com o tempo. (VIÑAO, A. 1996,28-29). O
perigo está no fato de ela poder tornar-se rígida em relação a abertura para o novo, neste
particular a diversidade cultural. A escola tem uma tradição homogeneizadora em
relação aos sujeitos que adentram seus espaços. Ela assim foi organizada para que
pudesse melhor funcionar. Nesse sentido a educação ai veiculada cumpriria melhor sua
função de condução de grupos em maior escala e menor tempo.
A apreensão da diversidade pela escola deve ser feita por seus educadores, entre
eles os professores, justamente pelo fato de que a cultura é um produto histórico com
certa autonomia para gerar formas de pensar e agir próprios que interferem no cotidiano
das comunidades promovendo a identidade destes espaços. Desse modo, a dinâmica
social impõe à escola brasileira, nas últimas décadas o imperativo de incorporar à sua
cultura esta outra diversidade. Assim, ela requer uma formação de professores que
englobe saberes cuja natureza permita a compreensão dessa diversidade, já que são eles
os principais protagonistas da efetivação de qualquer projeto educativo escolar. Essa
compreensão envolve, entre outros, que os professores conheçam o conceito e o
desenvolvimento das estruturas de significações, inclusive no campo religioso a fim de
que compreendam os elementos e categorias básicas da linguagem das estruturas dessa
diversidade. Para tanto é indispensável que o professor seja formado nos diferentes
códigos culturais das diferentes estruturas de significações e desenvolva por meio destes
códigos o diálogo e a capacidade de compreender e se aproximar de um panorama
plurireligioso.
MacLaren (2000) trabalha com a idéia de hibridização de discursiva para
discutir sobre a necessidade de que a escola incorpore múltiplas linguagens, o que
requer reinterpretar culturas, já que elas estão a abarcar novos elementos que sintetizam
sua própria dinâmica e renovação. As múltiplas linguagens podem, a nosso ver, ser
relacionadas com uma perspectiva de totalidade levando-se em conta que os diferentes
sujeitos sociais são “resultados” sociais, políticos, históricos, geográficos, psicológicos,
por exemplo, mas sem perder de vista as particularidades culturais locais. Por outro
lado, muitas dessas culturas por muito tempo estiveram caladas, suprimidas por formas
de culturas dominantes e por isso sobrepujantes. A linguagem hibrida é uma
necessidade que se impõe seja incorporada aos diferentes saberes que compõem a
formação de professores. Os processos migratórios internos, em se tratando do Brasil
têm muito a nos ensinar nesse sentido. Embora façamos parte de um mesmo país,
vivemos em regiões, locais onde o modus vivendi das pessoas tende a ser
substancialmente diferente uns dos outros, sem descurar de aspectos de ordem física.
Outra questão, se refere à linguagem e as diferenciações que apresenta de região para
região quando, por exemplo, se trata de nomear um mesmo objeto de maneira diferente.
Há também a linguagem da subjetividade (emoções, sentimentos), que tende a ser mais
compartilhada por grupos cujas práticas de sociabilidade são constantes e diferentes
daqueles que há muito incorporam comportamentos acentuadamente individualizados
nos grandes centros urbanos. Esta não se trata de uma questão de cunho exclusivamente
sociológico, mas psicológico e antropológico já que consubstancia práticas carregadas
de significados que aproximam ou distanciam pessoas no chamado processo
civilizatório urbano. Estamos falando novamente de relações sociais de cultura no
sentido proposto por Willians (1992) e anteriormente já abordado.
Eis uma possibilidade de romper gradativamente com uma cultura escolar que
impõe aos alunos, uma cultura rígida, homogênea em grande medida separada do
universo social mais amplo que tem muito pouco a ver, geralmente, com a realidade
familiar e social dos alunos. Isso traz para o campo da educação, uma série e desafios,
tais como: o respeito à diversidade cultural e religiosa e o redimensionamento das
práticas educativas, a fim de adequá-las às recentes demandas por uma escola mais
democrática e inclusiva e plural. Para atuação responsável diante da diversidade cultural
nacional é importante que o docente tenha consciência do pensar e refletir sobre este
contexto característico de uma sociedade como a brasileira de modo criativo e não de
mera reprodução de situações alheias aos cenários deste país (ALARCÃO, 2003, 41).
Diante disso, torna-se necessário falar de formação e a estamos associando a um
conceito referente a alguma atividade, sempre que se trata de formar para algo. Assim, a
formação pode ser entendida como uma função social de transmissão e, ao mesmo
tempo, de apreensão de saberes, de saber fazer ou do saber-ser que se exerce em
benefício do sistema socioeconômico, ou da cultura dominante. A formação pode
também ser entendida como um processo de desenvolvimento e de estruturação da
pessoa que se realiza com o duplo efeito de maturação interna e de possibilidades de
aprendizagem, de experiências dos sujeitos (GARCIA, C. 2002,18-19). Ela também
pode se dar no sentido de ampliar o olhar dos sujeitos para questões que estão que não
se enquadram nos moldes convencionais.
A formação pode adotar diferentes aspectos conforme se considere o ponto de
vista o objeto (a formação que se oferece, organizada exteriormente ao sujeito), ou do
sujeito (a formação que se ativa como iniciativa pessoal). Formar-se nada mais é senão
um trabalho sobre si mesmo, livremente imaginado, desejado e procurado, realizado
através de meios que são oferecidos ou que o próprio sujeito procura.
Em se tratando de professores, o processo de formação é constituído por fases,
princípios éticos, filosóficos, didáticos e pedagógicos comuns. Um aspecto que não
pode ser esquecido é o de integrar a formação de professores a processos de mudanças,
inovação e desenvolvimento curricular (GARCIA, C., 2002, 26-27). Exigência hoje
posta para o trato com a diversidade cultural.
Trata-se da formação profissional que prepara para o exercício de um ofício que
lida com problemas complexos, particularmente pelo fato de essa formação visar um
fazer voltado para o humano, como o ensino. Implicando domínio cognitivo de
situações dinâmicas, gerenciamento de pessoas, autonomia e responsabilidade nas
decisões, adaptabilidade e adequação sem erros a um contexto específico.
Por outro lado, as relações entre pesquisa e formação foram e continuam sendo
objeto de debates, cuja permanência e vivacidade ilustram seu caráter problemático.
Esses debates são freqüentemente centrados na natureza dos saberes que devem ser
dominados, transmitidos e adquiridos no quadro da formação e do exercício
profissional. Dizem respeito, sobretudo a articulação entre saberes oriundos da prática e
saberes científicos.
Seria ilusório pensar, por fim, que as instituições de formação são unicamente a
expressão de concepções epistemológicas ou o lugar de aplicação de teorias da
aprendizagem e da socialização: elas resultam também de interações sociais que
apresentam desafios às vezes muito distantes de questões teóricas/epistemológicas.
Seria igualmente ilusório considerar que o conjunto dos atores (formadores,
pesquisadores, responsáveis institucionais...) compartilham de modo homogêneo
epistemologias e teorias.
Tenho pensado também sobre o fato de que se tornou lugar comum não só na
literatura educacional, principalmente nos anos oitenta e parte dos noventa do século
XX, o fato de que a escola precisa adequar os conteúdos que ensina por meio das
diferentes disciplinas do currículo à realidade do aluno. Virou jargão, como tantos
outros. Somos adeptos da idéia de que precisamos significar certos termos. Nesse caso,
torna-se necessário precisar o que entendemos por realidade do aluno, ou para sermos
mais precisos já que estamos falando de diversidade, dizer que precisamos
primeiramente por o sujeito da oração no plural, ou seja, os alunos. Eles são muitos e,
mais do que isso, representam uma diversidade que, a cada ano prossegue e ingressa na
escola em cuja relação pedagógica são chamados a assimilar conteúdos no mesmo
espaço, tempo, ritmo e formato pedagógico. Neste sentido, a escola não inovou. Ela
continua sendo uma instituição onde a relação ensino aprendizagem segue sendo
realizada, grosso modo, segundo os moldes do entendimento simultâneo.
Mas voltemos a questão sobre o entendimento do termo realidade dos alunos
(usando desta feita o sujeito no plural). A expressão realidade cujo significado pode ser
entendido como o que é real, visível, objetivo, aquilo que é vivido, entre outros, ainda
assim torna-se bastante amplo a ponto de dificultar um recorte de abordagem conceitual
que permita-nos articulá-lo a um conteúdo e/ou conhecimento escolar do qual os alunos
possam apropriar-se com significado, ou seja, com sentido de vida, de existência.
Por outro lado, há também uma questão que nos parece óbvia, a de que o
conhecimento escolar diz respeito à vida dos sujeitos. Ele existe e se interpõe às nossas
existências cotidianas, porém não de um modo criterioso, crítico e, por essa razão,
submetido a crivos teóricos da cientificidade. Talvez seja este um entendimento que
tenha historicamente dificultado a compreensão de que realidade dos alunos e conteúdo
escolar são duas coisas absolutamente distintas e incompatíveis.
A idéia de cultura de abarca a de realidade, mas que por outro lado pode
restringi-la pela vinculação possível de ser feita a partir do conceito de sistema de
significados. Traz para os sujeitos a necessidade de realizações que lhes façam sentido.
Quando estudamos um conteúdo de geografia vinculado ao impacto da construção de
hidrelétricas para o ecossistema e para populações ribeirinhas residentes às margens de
rios podemos tratar sobre as vantagens trazidas pelo potencial energético gerado pela
usina, como do abandono forçado de muitos aspectos de uma cultura. Isso por meio do
deslocamento populacional para outro espaço geográfico. Nesse sentido estamos
lidando com dois níveis ou tipos de significado diferenciados para os sujeitos
envolvidos. Obviamente que esse assunto está intimamente relacionado à vida, pelo fato
de dizer respeito a uma produção cultural (casas e arquitetura, templos religiosos,
relações comerciais, espaços de encontro de grupos, festividades ligadas ou não às
práticas religiosas). Neste caso, ainda que não façamos parte deste grupo o objeto de
estudo e o modo como ele foi abordado, tem significado existêncial, mesmo sendo esse
um exemplo bastante genérico.
Outro aspecto a considerar vinculado ao sistema de significados e sua relação
com a diversidade cultural está na problemática do preconceito racial. È comum
vincularmos o preconceito racial apenas ao negro, obviamente ele não se restringe
apenas a essa etnia. Talvez essa vinculação seja feita devido ao processo histórico de
sua inserção particularmente em nossa sociedade. O preconceito racial não pode ser
estudado sem a conexão com a escravidão e com a problemática da inferioridade racial,
razão explicativa para a prática escrava em relação ao negro. Em outro sentido, há
substanciais contribuições trazidos pela cultura negra, cujo sistema de significados pode
ser traduzido, pela religião, canto, dança, vestuário, alimentos, linguagem, pintura.
Lidar com o entendimento da diversidade cultural não é tarefa fácil quando se
trata de trazê-la para a escola. Em primeiro lugar há a necessária exigência pedagógica
de identificarmos quem são nossos interlocutores, o que requer estratégias específicas a
fim de que a seleção de conteúdos e o trato pedagógico seja elaborado em conformidade
com a diversidade que se constitui na identidade do grupo. Esse exercício requer o
domínio de certos saberes por parte do professor (a): saberes de ordem sociológica,
geográfica, política, pedagógicos, filosóficos/epistemológicos, só para citar alguns.
Sem dúvida a aparente redescoberta da cultura como categoria chave na relação
ensino/aprendizagem, se manifesta como um dos caminhos contemporânes possível de
incluir na escola grupos sociais cujas culturas dela estiveram ausentes. Neste caso, não
se trata de simplesmente incluir e fazer parte de, mas do significado tácito e simbólico
que essa manifestação de grupo tem em termos daquilo que sua cultura representa para
ela.
Cultura e educação acham-se intimamente relacionadas. A educação opera sobre a cultura e esta
não se reproduz sem aquela. A cultura retrata a sociedade e suas particularidades e a educação
cuida por meio de processos formais e não formais de garantir a permanência da cultura. Uma e
outras se consubstanciam em praticas sociais historicamente construídas. Em cada uma delas há
uma composição de saberes variados dos quais a educação depende para fazer sentido no
processo de interlocução que a sociedade realiza com os seus indivíduos visando sua
conservação, perspectivas e renovação. Cada cultura tem um projeto social a se disseminado. A
educação escolar tem papel preponderante no processo de disseminação desse projeto. Ele é
antes de nada político pelas intencionalidades demarcadas que abarca. Nesse universo a
educação para a diversidade na diversidade é relevante não só enquanto projeto civilizatório,
mas principalmente como resposta á prementes necessidades humanas.
Referenciais
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.
BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores. Campinas: Papirus, 2000.
GARCIA, Carlos M. Formação de professores. Para uma mudança educativa (2002). Porto: Porto
Editora, (1986).
McLaren, Peter Multiculturalismo revolucionário:pedagogia do dissenso para o novo milênio. Porto
Alegre: Artes Médicas, Sul, 2000.
PEREIRA, EDMILSON DE Almeida. valores culturais afrodescendentes na escola. In: Diálogo.Revsita
de Ensino religioso, Ano XIII, n. 49, fevereiro de 2008.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente. Elementos para uma teoria da docência
como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2005.
VIÑAO, Antonio. Fracasan las reformas educativas? Las respuestas de um historiador. In: Sociedade
brasileira de História da Educação (2001). Educação no Brasil. História e historiografia. Campinas:
Editora Autores Associados. pp. 21-52.
Atividades
Indicações culturais
“......Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e
agradecemos de todo coração.
Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções
diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores são ficarão ofendidos ao saber que a
vossa idéia de educação não é mesma que a nossa.
Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam
toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores,
ignorantes da vida da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não
sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa
língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros,
como caçadores ou como conselheiros.
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceita-la
para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos
enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos,
deles, homens”(In: Brandão, 1989, p. 8-9).
Comentário:
Essa carta publicada no livro “O que é Educação” de Carlos Rodrigues Brandão, é uma
resposta dos Índios das Seis Nações dentro do tratado de paz assinado na Virginia e
Maryland, onde os governantes destes estados se comprometeram a dar educação aos
índios que fossem enviados às suas escolas. Depois dos índios terem regressado às suas
tribos vindos das escolas dos brancos, os chefes enviaram essa carta em agradecimento
e recusa. O que ela nos demonstra é que educação e cultura estão intimamente
relacionadas e que a educação só faz sentido se feita dentro e para sua própria cultura.
ela deve estar conectada aos “sinais” manifestados pela cultura de seu tempo.
Atividade de auto-avaliação
Nas questões a, b, c, d a seguir, marque as sentenças com verdadeiro (V) ou falso (F).
1) A educação
( F ) É uma pratica social que independe das relações humanas e ocorre de modo formal
e informal.
( F ) Quer em seu sentido formal quanto informal por achar-se disseminada na
sociedade, a educação se presta a certo tipo de serviço no sentido tanto de libertar como
de oprimir pessoas. Eis aqui seu caráter político. A educação informal e a formal estão
disseminadas na sociedade por meio de diferentes instituições e é por estas que realiza
sua função política tendo como protagonistas diferentes sujeitos sociais. Entre estas
instituições está a Igreja que, enquanto tal, e, por sua natureza cumpre uma finalidade
doutrinária do ponto de vista social. Esta finalidade é diferente da educação que se
desenvolve no interior da escola.
(V) De um modo ou outra as pessoas são educadas no interior da sociedade. No entanto
no modo escolar é preciso direcionamento, finalidade definida pelo estado
principalmente. Ele tem o papel e função de ofertar educação para a maioria da
população, neste particular da sociedade brasileira. O estado cumpre uma função
ideológica importante como definidor de um projeto social por meio da educação
escolar. Esse papel e função devem estar estritamente relacionados com as aspirações
sociais quando se trata de formato de estado democrático.
5. Cultura escolar
( V ) A diversidade traz a necessidade de romper gradativamente com uma cultura
escolar que impõe aos alunos, uma cultura rígida, homogênea em grande medida
separada do universo social mais amplo que tem muito pouco a ver, geralmente, com a
realidade familiar e social dos alunos.
( F) A idéia de cultura escolar também abarca a de realidade, mas que por outro lado
pode restringi-la pela vinculação possível de ser feita a partir do conceito de sistema de
significados. Traz para os sujeitos a necessidade de realizações que lhes façam sentido.
( F ) Normas e praticas que sintetizam uma teia de relações desenvolvidas dentro e no
interior da instituição escolar.
Questão de reflexão
A apreensão da diversidade pela escola deve ser feita por seus educadores, entre eles os
professores, justamente pelo fato de que a cultura é um produto histórico com certa
autonomia para gerar formas de pensar e agir próprios que interferem no cotidiano das
comunidades promovendo a identidade destes espaços. Desse modo, a dinâmica social
impõe à escola brasileira, nas últimas décadas o imperativo de incorporar à sua cultura
esta outra diversidade. Que considerações você faz sobre este trecho?
Atividade de aplicação
Na escola na qual trabalha realize uma atividade visando estabelecer mudanças
quanto às suas atividades curriculares: elabore um questionário com dois campos: um
visando saber quem são os seus alunos, de onde provém (se migraram ou não), origem
étnica entre outros dados que considerar relevante saber; 2ª. em aspectos sobre a
linguagem saber que termos eles consideram novos em suas convivências lingüísticas,
caso provenham de outras regiões do Brasil. Faça uma pesquisa para incorporara outros
termos e os relacione á cultura e a diversidade .
Capítulo 06
Cultura e Religiosidade
Dessa perspectiva podemos inferir que a religiosidade por ser uma manifestação cultural
de natureza imaterial é considerada como patrimônio cultural. Ela diz respeito à identidade de
grupos formadores da sociedade brasileira, objetivada por meio de diferentes formas de
expressão. Por isso poderíamos também dizer que a religiosidade presente em nossa sociedade
faz com que os sujeitos que as tem como princípio de vida, passem a cultivá-la por meio de
diferentes modos de criar, fazer e viver. Significa falar então que a religiosidade pode ser
exteriorizada por meio de diferentes práticas.
Uma pessoa poder ter religiosidade sem, no entanto, adotar como pratica uma religião em
especial, como pode assim o ser estando estritamente vinculada a uma religião. A religiosidade
pode então diante disso se manifestar de varias maneiras. Por significar um modo de
transcendência, a religiosidade é uma característica bastante comum de ser presenciada em
sujeitos na sociedade. Ela tem dimensão simbólica importante na dimensão da transcendência e
se processa por meio de diferentes mecanismo.
Os santos ficam no céu, mas isso não significa que estejam separados dos homens. É por
meio das imagens, de que o catolicismo o catoliscismo populat tanto gosta , que os santos se
fazem presentes na terra. A identificação da iamgem com o santo no céu é taõ forte que o
deveoto chega a infringir punições as estátuas quando seus pedidos não são atendidos ou
quando demoram vê-lo. Santo Antônio, o santo padreoeiro do casamento, bem sabe como
sufrem as suas imagens..... (idem, p. 67)
É comum encontrar em casas urbanas, com menos, e em rurais com mais freqüência,
oratórios ou pequenos altares feitos de madeira num canto reservado da casa. Os oratórios,
ainda de caráter particular, doméstico, no entanto se revestem também de caráter coletivo
porque a família se reune ao seu redor. Muistas vezes estão presentes, amigos e convidados
para tomar parte da devoção. (JORGE, 1998, p. 68, grifo no original). sobre esles esse autor
ainda diz o seguinte:
No meio popular, os oratóriso domésticos são normalmente colocados num canto da parede,
tendo no centro a imagem do santo padroeiro e outros quadros de santos . Já nas cedes das
fazendas, lugares, portanto mais afastados. O ratório doméstico é mutio mais amplo e normal
mente possui um andar onde o padre vem celebrara a Missa de vez em quando.(Idem, p 68-
9).
Aos santos27 se venera como se fosse a Deus. Coroas e fitas enfeitam as imagens,
aparentemente como maneiras de melhor exteriorizar a fé. O oratório e o altar são espaços do
sagrado, do transcendente por que materializam de certo modo a oportunidade de
aproximação do ser menor com Deus. A religiosidade se expressa ao deitar e ao levantar. A
festa ao santo padroeiro é oportunidade de veneração. Tempo e espaço são dedicados á
devoção, nestes, o trabalho torna-se secundário. Por ser uma dádiva divina, reserva tempo
para a veneração que é grantia de sobrevivência duradoura.
Outros modos de expressão da religiosidade podem ser depreendidos dos grandes
rituais católicos, como as festas das padroeiras. Elas arregimentam um grande número de
fiéis. O Círio de Nazaré, realizado em homenagem à nossa Senhora de Nazaré, a padroeira
dos paraenses é um testemunho interessante da religiosidade e da força que ela contém.
Dentro desse majestoso ritual que se desenvolve sobre a forma de procissão,
A perspectiva religiosa difere da perspectiva do senso comum (...) por que se move além das
realidades da vida cotidiana em direção a outras mais amplas, que as corrigem e completam,
e sua procupação definidora não é a ção sobre essas realidades mais amplas, mas sua
aceitação, a fé nelas. Ela difere da perspectiva científica pelo fato de questionar as realidades
da vida cotidiana não a partir de um ceticismo institucionalizado que dissolve o “dado” do
muma aspiral de hipóteses probabilísticas, mas em termos do que é necessário para torná-las
verdades mais amplas, não hipotéticas. Em vez de desligamento, sua plavra de ordem é
compromisso, em vez de analise , o encontro.(.....). (GEERTZ, 1989, p. 82)
Adoutrina espírita, como o própro nome anuncia, não é uma religião tem suas
práticas institucionalizadas em ritaus como a palestra que dá subsídio ao passe e os trabahos
de intercâmbio em mesas, desenvolvido por médiuns habilitados na doutrina. A religiosidade
além de poder ser manifestada nessas condições deve atender ao requitivo de não ingestão de
carne vermelha, cafeina e bebidas alcoólicas.
Daí o rigor com que as com as promessas são feitas e cumpridas causando até mesmo
estranheza, sobretudo as de caráter penitencial; longas e fatigantes caminhadas até o
santuário, capela ou oratório, onde se venera o santo; jejuns abstinências e outros atos
penosos; ofertas de esmolas, com conseqüente privação às vezes até do necessário;
construções ou ajudas para construções de Igrejas ou outros locais de culto; práticas de
caridade e, especialmente, obras de misericórdia. (....) (MENDONÇA, 1998, p. 67).
(....), o simbólico é uma expressão e fala que se dirige ao ser humano por inteiro: aos
sentidos, à percepção, às emoções, à razão, à subjetividade e à objetividade humana.
Somos corpo vivo(soma), dotado de sentidos, no qual se apresentam em dinamismo (al
lado do logos) o eros (vida e paixão), o pathos (afetividade e sensibilidade) e o daiamon
(voz que brota da interioridade cada ser humano). O simbólico possui uma dimensão
dinâmica que estimula a mente á atividade, convoca a memória e a criatividade ao
exercício de imaginação, á busca do que subjaz ao imediatamente perceptível. é aquilo
pelo qual se conhece uma realidade que dele próprio difere, constituindo não uma
dimensão atenuada de conhecimento, mas uma extensão da amplitude da cognição
humana.(VILHENA, 2005, p. 60)
É importante para finalizar, que essa autora nos permite pensar que a
religiosidade ao conter um caráter intrinsecamente simbólico representado por
diferentes práticas, estejam articuladas á alguma instituição ou não, ela é desdobrada por
meio de diferentes rituais. Do mais simples ao mais complexo, ou seja, desde o devoto
colocar-se de joelhos diante de um altar de imagens à prática de peregrinação, por
exemplo, no Caminho de Santiago de Compostela na Espanha.
O estudo religiosidade e sua articulação com a cultura se torna importante não só pela tradição
dessa relação, mas principalmente pelo fato de podermos retomar o entendimento de que a
religiosidade se manifesta independente da religião, embora na tradição de nossa cultura ela
esteja a ela vinculada por meio de diferentes ações humanas. A religiosidade, portanto,
independe da instituição Igreja vinculada a uma religião em particular. A conexão sobremaneira
da religiosidade à religião católica, se deve, como vimos, à tradição católica do Brasil desde a
sua colonização. Por outro lado as etnias negras e índia, por exemplo, deixam em nossa cultura
marcas de religiosidade. Esta se faz presente de diferentes modos em nossa cultura, ela
estabelece uma intrínseca relação com o cotidiano das pessoas. Certamente significa
possibilidade de fortalecimento do ser humano ante o difícil desafio de sobreviver.
Referenciais:
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. São
Paulo: Saraiva, 2000.
FRREIRA. Sérgio Buarque de H. Novo Dicionário da Língua Portuguêsa. Rio de Janeiro: Nova
fronterira, 1986.
GEERTZ, C. As interpretações das culturas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1989.
JORGE, J. Simões. Cultura religiosa: o homem eo fenômeno religioso. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
MENDONÇA, Antônio G. A volta do Sagrado Selvagem: misticismo e êxtase no protestantismo no
Brasil. In: Religiosodade popular e misticismo no Brasil. São Paulo; edições Paulinas, 1984.
PAIVA, José Maria de. Religiosidade e Cultura Brasileira. In: Revista Diálogo Educacional.. Curitiba, vl.
4, n. 9 , maio/ago. 2003.
http://www.religiosidadepopular.uaivip.com.br/artigos.htm, acesso em 17/03/2008.
VILHENA, M.A. Ritos: Expressões e propriedades. São Paulo: Paulinas, 2005.
Atividades
Indicações culturais
Texto:
“O amanhã” de autoria de João Sérgio, gravada por Simone.
Gravação no CD intitulado “Pedaço de Mim”
Comentário
A letra da música acima é profícua quanto à possibilidade de estabelecer relações com a
idéia de religiosidade e cultura. Ela contém elementos de misticismo e de crendices
próprios de nossa cultura. Há, por outro lado, uma mistura de astrologia, quiromancia,
com a crença em Deus, traduzindo ambivalências da condição humana.
Atividade de auto-avaliação
Nas questões a, b, c e d a seguir, marque as sentenças com verdadeiro (V) ou falso (F).
1).Quanto a religiosidade:
( F ) Requerer certas práticas especificamente religiosas católicas.
(V) A religiosidade pode estar vinculada na sua origem à institucionalização do sagrado
pelo indivíduo que depois dele se desvincula praticando sua religiosidade de maneira
autônoma.
(V) A religiosidade é certamente a expressão maior de sentimento inconsciente de
incompletude humana. Ela de algum modo se manifesta, para aqueles que crêem em
uma força superior seja ele Deus ou um ser não claramente entendido. Ela pode estar ou
não vinculada à religião.
3) Nas religiões:
(F) A religiosidade está sempre presente no ser humano.
(V) Nas religiões a religiosidade se confunde com determinação para a pratica do ritual
religioso, sendo mais difícil, abstrair o estado de religiosidade.
(F) Religiosidade e religião se confundem.
4) O misticismo
(V) O misticismo no seu sentido amplo e genérico, e sociologicamente considerado, é
uma criação marginal da institucionalização do discurso e do rito religioso. O processo
de institucionalização do discurso e do rito religioso. O processo de institucionalização
e racionalização expropria indivíduos e grupos que recriam relações com sagrado de
modo, direto, recomeçando, assim, o processo originário da religião. É um retorno às
fontes. Como quase sempre a espoliação é um ato de poder religioso, que acompanha o
poder político, o misticismo tem seu tem seu campo predileto nas camadas dominadas.
Á medida que as camadas dominadas aumentam, o misticismo coletivo tende a
acompanhar esse aumento.
(F) O misticismo independe de classe social e é praticado principalmente por pessoas
intelectualmente desenvolvidas.
(V) A prática do esoterismo também é via para manifestação da religiosidade. Ela se
confunde com o sobrenatural ao ser meio de possibilidades de prever o futuro. Nesse
sentido tem o potencial de antecipar o que, por outras vias levaria mais tempo. O futuro
no seu decurso natural (....).
Atividade de aplicação
Levando em conta o que foi abordado neste capítulo sobre cultura e
religiosidade faça juntamente com seus alunos em seu município e região um
levantamento e registro de diferentes práticas que configuram-s em ações que
expressam formas de religiosidade. Organize um banco de dados.
Faça o mesmo exercício com as festas Juninas. Organize entrevistas para serem
feitas por seus alunos, com pessoas da comunidade dos bairros e onde eles residem, a
fim de compor uma memória sobre os santos homenageados nessas festas, inclusive
resgatando canções típicas da época.
Conclusão
A cultura além de ser lida sob muitos prismas, concebê-la como produção
humana é um desafio inacabado pelas infinitas possibilidades de interpretação dadas
pela produção humana. Esta produção que por ser humana, envolve suas dimensões
materiais e não materiais. Vimos isso quando discorremos sobre as tradições reveladas
por meio de práticas que permanecem ou que são reinventadas como a finalidade de
ficarem, ou até mesmo de inconscientemente, se perpetuarem na sociedade. Quando nos
referimos aos símbolos que, de algum modo visam a demonstrar a materialidade da
cultura. A religiosidade em grande medida se materializa em rezas, orações, práticas,
rituais. Certamente é uma das mais significativas formas de cultura sob sua face
imaterial. Ela tem a ver com devoção, fé, crença, aspectos estritamente relacionadas a
interioridade do sujeito.
Por isso me parece cada mais vez oportuno conceituar cultura no termo indicado
por Geertz como teia de significados. Essa compreensão nos permite pensar também em
cultura duplamente, ou seja, como produção material e imaterial humana, como me
referi acima. Um complexus de realizações que na sociedade se entrelaçam numa
infinidade de inter-relações somente explicadas pelos sentidos das obras humanas para e
em cada sociedade e grupo social em particular. Significados e sentidos que traduzem
subjetividades de pessoas, indivíduos na relação que estabelecem com o universo do
qual participam.
Sentido e significado permitem entender os porquês dessas produções e não
simplesmente o fato delas existirem. O que significa ou o que entendo seja para mim
participar de uma procissão religiosa em Juazeiro no Ceará, torna-se digamos mais
substancial do que simplesmente descrever a procissão como um dado daquela cultura.
É preciso apreendê-la no universo do que ela é para o devoto, do porque ele dedica
horas a fio de seu tempo para aquela prática exclusivamente em estado de contrição.
Assim, foi nessa perspectiva que discorri sobre cultura nas relações que entendi
serem pertinentes de serem com ela estabelecidas nos seis capítulos que compõem o
livro. Importa destacar que eles se constituem em apenas um recorte que me foi possível
fazer ante as interfaces que cada assunto de capítulo permite entre si. Justamente por se
resumirem em cultura.
Cultura é ao mesmo tempo um assunto novo a antigo. Antigo enquanto prática
humano social cuja definição remonta ao século XIX e novo como compreensão a ser
retomada não só no campo da história, mas também da educação. Neste de modo
bastante reduzido, sendo muito mais adotado por antropólogos que estudam práticas
educativas em sociedades indígenas ou grupos populares e historiadores da educação
nos domínios da história cultural. Desse modo, a tradição educacional, principalmente
escolar não tem o costume de lidar com o conceito de cultura para estruturar sua
concepção educativa e compor os currículos escolares.
O distanciamento entre educação e vida significa, a meu ver, o próprio fosso
existente entre ação escolar e cultura. A educação escolar tem lidado com conteúdos
escolares de maneira ideal como se eles não tivessem sido originados da própria cultura,
ou seja, do mundo onde as pessoas vivem. Daí o distanciamento entre escola e vida. Por
isso a escola se tornou um ente metafísico para grande parte dos alunos. Penso que isso
se explica pelo desvalor histórico construído em relação à cultura nativa. Por cultura
nativa entendo a cultura na qual o sujeito nasceu. Nosso processo colonizador foi tão
tenaz com os nossos índios, com os negros que depois vieram que construímos
concomitantemente uma cultura de valorização do que vem de fora. Por isso são tantos
os modelos que chegam à escola, mas que deles, os professores, os alunos não se
apropriam. Há por isso uma relação muito mecânica com a escola e com o que ela
ensina. Não há significado, por que os conteúdos, as práticas enfim estão distantes da
cultura. Porque não há sentido para os sujeitos por ser inviável relacionar, na maioria
das vezes o conhecimento escolar á vida. Acostumamos-nos ouvir em eventos de
educação que temos que adequar os conteúdos escolares à realidade e necessidades dos
alunos. Há algo mais mecânico do que isso? Sabemos que o conhecimento escolar de
um olhar mais criterioso do homem sobre realidade, sobre o que ele produz. Aqui reside
somente a diferença, ou seja, o saber que está na sociedade enquanto uma gama infinita
de realizações humanas e essas mesmas realizações vistas pelo prisma da ciência,
portanto da sistematicidade. O desafio para nós está em o que consideramos como ponto
de partida e de chegada. Se a cultura em seu estado bruto ou ela de modo lapidado
estudado, refletido pela ciência como meio de explicar e entender nossas próprias
realizações. Este é o sentido deste livro. Como professores nós temos mais do que o
dever de criar condições para que aluno faça a passagem do “senso comum à
consciência filosófica”. Penso que os estudos sobre religiosidade que estão no cerne de
qualquer cultura propiciam também o estudo da dimensão simbólica da cultura, suas
tradições religiosas e não, a idéia de diversidade contida nas práticas e nas crenças. As
contribuições étnicas para a expressão dessa característica da condição humana
largamente presente na sociedade brasileira.
Por fim entendo que precisamos acordar para o fato de que educação e cultura
são duas faces de uma mesma moeda. Sentidos e utilidades de ambas se interpenetram e
por isso se significam.
Bibliografia comentada
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2007
Este é um texto que chamaria de pequeno grande livro. Ele contém uma apreciação bem
articulada e simples de cultura. Trabalha com exemplos que podem ser retirados do
cotidiano para definir cultura. Organizado em duas partes traz na primeira um resumido
histórico sobre o conceito de cultura do iluminismo à contemporaneidade. na segunda
parte analisa a relação entre cultura e sociedade por meio de sua influência no
comportamento social. É um livro síntese, fundamental para quem deseja saber de
cultura de um ponto de vista mais sistematizado e didático.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Educação como Cultura. Campinas, SP: Mercado das
Letras, 2002.
Este é mais um dos grandes trabalhos de Carlos Rodrigues Brandão. De leitura ao
mesmo tempo densa e fácil pela simplicidade como expõe suas idéias sobre cultura e
educação, ele nos leva aos meandros dessa imbricada relação. Divido em sete capítulos
o livro está articulado da compreensão de cultura aos relatos de experiências que o
exercício de antropólogo lhe permitiu fazer basicamente no campo da educação, campo
pelo qual transita de maneira bastante peculiar e com muita propriedade. Ele nos instiga
a fazer educação escolar, educação popular a partir e com os instrumentos culturais que
os sujeitos possuem daí o seu significado e sentido. É uma obra imprescindível para
educadores, contém um pouco de história na experiência educativa com grupos
populares nos anos 80 do século XX. Nas entrelinhas ele indica caminhos sobre como
ser e fazer educação escolar. Justamente pelo fato de que educação e cultura estão
imbricadas.
Glossário
Cultura: significados, sentidos expressados por meio de diferentes realizações humanas.
Cultura brasileira: diferentes manifestações provenientes de uma coletividade, de grupos
sociais, comunidades de uso geral (comum a todos) ou de significado e sentido
particular a cada uma dessas manifestações. O caracteriza de modo geral ou particular a
sociedade brasileira.
Religiosidade: modo de ser, estado permanente ou não do sujeito que se expressa por
meio de diferentes praticas de caráter transcendente.
Resultado
Capítulo 1
1.c; 2. b; 3. a; 4.b; 5. c
Capítulo 2
1. c; 2. b; 3. c; 4. c; 5. c
Capítulo 3
1.c; 2. a; 3. c; 4. b; 5.c
Capítulo 4
1.c; 2.c; 3. c; 4. b; 5. a
Capítulo 5
1.b; 2. c; 3. b; 4. a; 5. a
Capítulo 6
1. c; 2. a; 3. c; 4. c; 5. a