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Revista Brasileira de Futsal e Futebol


ISSN 1984-4956 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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ANÁLISE DA INGESTÃO DE MACRONUTRIENTES EM JOGADORES DO


PROFISSIONAL B DA SOCIEDADE ESPORTIVA PALMEIRAS
1
Stephanie Iafrate da Fonseca

RESUMO ABSTRACT

O objetivo deste estudo foi verificar a Analysis of intake of macronutrients in second


adequação da ingestão diária dos category footaball players of Sociedade
macronutrientes em 16 jogadores de futebol Esportiva Palmeiras
da categoria profissional B, com média de
idade de 20,9 ± 1,1 anos. Todos os atletas The objective of the study is to verify the
eram pertencentes ao Departamento de proportionality of a daily macronutrients
Futebol não Profissional da Sociedade ingestion in 16 “professional B category”
Esportiva Palmeiras, localizado em São Football players, with average age about
Paulo. A composição corporal foi 20,9. The Athletes belong to the non-
determinada através das medidas das professional Football department of
dobras cutâneas e os dados nutricionais “Sociedade Esportiva Palmeiras”, placed in
obtidos por recordatório de 24 horas durante São Paulo. The body composition was
3 dias. Os atletas apresentaram em média determinate trough the coetaneous folds and
77,5±9,7 kg e 11,5±1,4 de gordura corporal, the nutritional data obtained by a 3 days 24
representando um valor considerado ideal hours reminder. The athletes showed an
para jogadores de futebol. Verificou-se uma average body fat percentage between
ingestão energética média de 2456,89 ± 77,5±9,7 kg e 11,5±1,4, which represents an
626,33 kcal, ficando um pouco abaixo do ideal number for a football players, was
valor recomendado, podendo interferir no verified an average energy intake between
rendimento físico do atleta. Em relação ao 2456,89 ± 626,33 kcal, a little bit lower than
carboidrato foi encontrado valores de 5,04 ± the recommended, what can interfere the
1,78 g/kg/peso e 59,61%, resultando em performance of the athlete. About the
uma quantidade próxima ao limite inferior carbohydrate, was founded values between
preconizado para essa categoria, a proteína de 5,04 ± 1,78 g/kg/weight and 59,61%,
apresentou valores de 19,41%, sendo resulting in a quantity close to the lowest
classificada como uma dieta hiperproteica, limit recommended for this category. The
mas se for avaliada em relação a protein results showed values of 19,41%,
composição corporal dos indivíduos o classified as a hyper-proteic diet, but if the
resultado foi de 1,58 ± 0,40 g/kg/peso, results were measured in relation with a
classificando como uma dieta body composition, the result was 1,58 ±
normoproteica, já os lipídeos resultaram em 0,40g/kg/weight, classified as a normal-
um valor de 20,98 ± 5,25%, e foi proteic diet. The lipids was resulted in a
considerado abaixo das recomendações value of 20,98 ± 5,25%, and was considered
dietéticas. O resultado deste estudo afirma o lower than dietary recommendation. The final
quanto é primordial a inserção do results of this study says how much is
nutricionista nos clubes esportivos, visando primordial the participation of a Nutritionist in
à adequação da dieta em relação alimentos the clubs, in order to adequate the diets and
que devem ser consumidos pelos atletas foods which must be absorb by the athletes
antes, durante e após o treino. before, during and after training.

Palavras-chave: Atletas. Nutrição esportiva. Key words: Athletes. Nutrition.


Macronutrientes. Futebol. Macronutrients. Football

1-Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da


Universidade Gama Filho em Bases E-mail:
Nutricionais da Atividade Física: Nutrição ste.iafrate@hotmail.com
Esportiva

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INTRODUÇÃO de endurance recomenda-se de 1,2-1,6g de


proteína por Kg de massa corporal ao dia.
O futebol é o esporte mais popular Para atletas de força a recomendação é de
em todo o mundo, sendo praticado por todas 1,4-1,8g por Kg de massa corporal diária
as nações e, por isso, nos últimos anos, (Panza e colaboradores, 2007).
verifica-se um crescente interesse das Os lipídios participam de diversos
ciências biológicas e da saúde em processos celulares de especial importância
aprofundar os estudos nas mais diversas para atletas, como o fornecimento de
áreas dos conhecimentos referentes a essa energia para os músculos em exercício, a
atividade (Prado e colaboradores, 2006). síntese de hormônios esteroides e a
A nutrição voltada para o esporte de modulação da resposta inflamatória. As
alto rendimento tem sido bastante valorizada recomendações de lipídeos para atletas são
pelos profissionais do esporte, já que atletas de 20%-25% da ingestão energética diária
submetidos à constante treinamento e a (Panza e colaboradores, 2007).
grandes volumes de atividade física intensa Lembrando que a refeição antes do
têm requerimentos nutricionais diferentes evento esportivo é uma das principais fontes
quando comparados com indivíduos não de energia, mas salienta-se que o gasto
atletas. energético necessário para este dia é
Sendo assim, quando a dieta também resultado da ingestão nos 2 ou 3
balanceada e o treinamento são prescritos dias que antecedem o evento. Essa refeição
de maneira correta, podem otimizar os pré-competição deve ser ingerida de 3 a 4
depósitos de energia para a competição, horas antes da partida, sendo
melhorando o desempenho, o que pode ser recomendados alimentos de fontes
a diferença no resultado final (Guerra, energéticas de fácil digestão (Mcardle e
Soares e Burini, 2001; Reeves e Collins, colaboradores, 2001).
2003). Quanto mais o atleta conhecer a
A adequação deve ser quanto ao respeito dos nutrientes e seus benefícios
consumo energético, distribuição de macro e para com o organismo, associado ainda à
micronutrientes, consumo ideal de fibras e atividade física, melhor ele poderá conduzir
boa hidratação. Deve-se ter o cuidado para a escolha dos alimentos que farão parte da
que não ocorram deficiências ou consumo sua alimentação diária. (Guerra, Soares e
excessivo de determinados nutrientes, o que Burini, 2001; Reeves e Collins, 2003).
pode ocasionar problemas de saúde a curto, A orientação nutricional proporciona
médio ou longo prazo (Panza e não somente um equilíbrio energético diário,
colaboradores, 2007). como também um ajuste na qualidade
O consumo apropriado de dietética dos atletas, condutas nutricionais
carboidrato é fundamental para a otimização inadequadas podem ser responsáveis por
dos estoques iniciais de glicogênio fracassos em treinamentos e competições 6
muscular, a manutenção dos níveis de (Quintão e colaboradores, 2009; Viebig,
glicose sanguínea durante o exercício e a Nacif, 2008).
adequada reposição das reservas de Portanto, com todos esses
glicogênio na fase de recuperação (ADA, benefícios, fica fácil compreender por que a
2001). nutrição tem recebido tamanha atenção dos
A Sociedade Brasileira de Medicina profissionais que militam no esporte (Rebello
do Esporte (SBME, 2003) recomenda e colaboradores, 1999).
ingestão de carboidratos correspondente a Entretanto, é importante salientar
60-70% do valor energético total e 5-8g de que a nutrição é parte de um todo, ela não
carboidratos por Kg de massa corporal ao faz milagre, não interfere no fator genético
dia. para a prática de esporte e não substitui o
O reparo e crescimento muscular e a treinamento do atleta; ela apenas contribui
relativa contribuição no metabolismo com a melhora do organismo para realizar
energético são exemplos que confirmam a exercícios, de acordo com as necessidades
relevância do adequado consumo proteico energéticas da atividade física (Rebello e
para indivíduos envolvidos em treinamento colaboradores, 1999).
físico diário. Segundo a SBME, para atletas

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O principal objetivo deste estudo foi = Σ das dobras cutâneas x 0,153 + 5,783),
verificar, por meio de questionário alimentar, usada com mais frequência no futebol
a adequação da ingestão calórica diária dos brasileiro.
macronutrientes em jogadores de futebol da
categoria Profissional B. Ingestão Alimentar

MATERIAS E MÉTODOS Utilizou-se o Recordatório de 24


Amostra horas durante três dias consecutivos ou não,
sendo um deles final de semana.
Foram analisados 16 atletas da O recordatório de 24 horas, como o
categoria Profissional B, pertencentes ao nome indica, consiste em definir e
Departamento de Futebol não Profissional quantificar todos os alimentos e bebidas
da Sociedade Esportiva Palmeiras, ingeridas no período anteriores a entrevista,
localizada em São Paulo, todos eram do que podem ser às 24 horas precedentes ou,
sexo masculino, com idade variando de 20 a mais comumente, o dia anterior (Thompson
23 anos. e Byers, 1994).
Foram respeitados os aspectos O inquérito foi aplicado pelo
éticos que consta na resolução 196/96, do pesquisador, onde os atletas foram
Conselho Nacional de Saúde que assegura questionados sobre os alimentos ingeridos
total sigilo das informações coletadas e seu nas ultimas 24 horas, durante três dias, bem
uso exclusivo para fins acadêmicos, assim como o número de refeições, tipos de
aplicou-se o termo de consentimento preparações e bebidas ingeridas. Os dados
autorizado a todos os entrevistados. foram inseridos no software Avanutri versão
4.0 para análise dos macronutrientes
Procedimentos contidos nos alimentos ingeridos.
Medidas Antropométricas Foram consideradas as
recomendações da SBME, que recomendam
Para obtenção dos valores taxa calórica total de 30 a 50 kcal/kg de
referentes à massa corporal foi utilizada uma peso/dia, carboidrato pelo menos 60%,
balança mecânica de marca Welmy (Brasil) proteína de 10-15%, e lipídeos de 20-25%.
com sensibilidade de 100 g e capacidade de Quanto à recomendação relativa ao tamanho
150 Kg. Para a medida de estatura, foi corporal (g/Kg/d) a SBME recomenda para
utilizado um estadiômetro da marca Sanny carboidratos de 5 a 8 g/Kg/d, para proteínas
(Brasil) que apresenta escala em milímetros. de 1,2 a 1,8 g/Kg/d e para lipídios pelo
Para avaliação das dobras cutâneas menos 1 g/Kg/d.
(tríceps, subescapular, suprailíaca,
abdominal), utilizou-se adipômetro científico Análise estatística
da marca Cescorf (Brasil) de alta precisão
com sensibilidade de 0,1mm. Cada dobra Para a análise estatística descritiva,
cutânea foi medida três vezes do lado direito foi utilizado o software Microsoft Excel. Os
do corpo considerando como valor final a dados foram analisados utilizando a média,
média entre os três registros. Utilizou-se a valor mínimo, valor máximo e desvio padrão.
equação para obtenção da percentagem de
gordura corporal proposta por Faulkner (% G RESULTADO

Tabela 1 - Valor mínimo, Valor máximo, Média e Desvio Padrão da Idade, Peso, Estatura e % de
Gordura corporal (n = 16)
Variável Valor mínimo Valor máximo Média Desvio Padrão
Idade (anos) 20 23 20,9 1,1
Peso (kg) 60 91,5 77,5 9,7
Estatura (cm) 171 191 180,7 6,2
GC (%) 9,2 14 11,5 1,4

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Tabela 2 - Ingestão energética e o consumo de cada macronutrientes (Carboidrato, Lipídeo e


Proteína) conforme Recordatório de 24 horas (n = 16)
Nutrientes Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Ingestão energética (kcal/dia) 1636,52 3766,5 2456,89 626,33
Proteínas % 9,58 25,64 19,41 4,3
Proteínas (g/Kg) 0,92 2,54 1,58 0,4
Carboidrato% 46 78,73 59,61 7,92
Carboidrato (g/Kg) 2,61 8,02 5,04 1,78
Lipídeos % 11,69 31,23 20,98 5,25

DISCUSSÃO considerado ideal, conforme os estudos


citados acima.
Na tabela 1 estão apresentados os A tabela 2 apresenta a ingestão energética e
resultados referentes aos dados o consumo de cada macronutrientes
antropométricos e composição corporal. Os (Carboidrato, Lipídeo e Proteína) conforme
resultados estão expressos em mediana, Recordatório de 24 horas.
valores máximos (Vmáx) e valores mínimos A dieta de um jogador de futebol
(Vmín). deve atender a sua demanda energética e
A média de idade dos atletas ser adequada em termos tanto de
profissionais foi de 20,9 ± 1,1 meses, quantidade quanto de qualidade, antes,
variando de 20 até 23 anos. A estatura durante e após treinamentos e competições.
média é de 180,7 ± 6,2 cm, enquanto o seu Segundo Gomes e Colaboradores
peso corporal é 77,5 ± 9,7 kg. (2005), futebolistas brasileiros possuem
O percentual de gordura corporal ingestão média de 3333 Kcal e conforme
apresentado por atletas é, em geral, menor Biesek e Colaboradores (2005), tal ingestão
quando comparados a indivíduos não varia de 3150 a 4300 Kcal.
treinados, e se tratando de jogadores de O gasto energético diário estimado
futebol, que necessitam transportar o seu por Reilly e Thomas (1979), Reilly e
peso, qualquer acréscimo de gordura colaboradores (1994) e Williams citado por
diminuirá a sua capacidade de trabalho, pois Ebine e colaboradores, (2002) para
exigirá maior consumo de energia e jogadores profissionais ingleses está entre
provavelmente fadiga muscular precoce. 3131 – 3513 Kcal/dia ±13,1 – 14,7, e à
Porém há uma grande variabilidade nos média publicada por Rico-Sanz (1998) após
valores de porcentagem de gordura revisão de diversos estudos com jogadores
observados por vários autores em jogadores profissionais foi de 3525 Kcal ±14,8.
de futebol, podendo variar de 5,2 a 16,4% Ebine (2002) em estudo com 07
(Silva, Visconti e Roldan, 1997). jogadores de futebol profissionais com
O estudo realizado por Silva, idades de 22 ± 1,9 anos, durante o período
Visconti e Roldan (1997) com 18 jogadores de competições observou que o gasto
de futebol profissional apresentou um valor energético dos mesmos apresentava uma
médio de 11% e uma revisão da literatura média de 3.532 ± 408 kcal/dia e um
realizada por Rico Sans (1998) mostrou que consumo de 3.113 ± 581 kcal/dia.
a gordura corporal de jogadores de futebol Sendo assim, considerando os
está em torno de 10% do peso corporal. resultados destes autores, os valores
Estudos mais recentes dizem que os valores informados através do recordatório de 24
de %GC encontrados na literatura para esta horas em nosso estudo está abaixo da faixa
população variam de 5,9 a 15%, esta grande relatada, a média de energia consumida
discrepância ocorre por diversos fatores pelos jogadores foi de 2.456,89 kcal/dia
como diversidade na técnica de medição, (±626,33kcal), e teve uma variação de
examinador, protocolo, nível técnico, 1.636,52 a 3.766,50 kcal/dia, lembrando que
categoria, entre outros (Lima e a Sociedade Brasileira de Medicina do
colaboradores, 2009). Exercício e do Esporte (2009), preconiza
No presente estudo o valor médio recomendação calórico de 3000kcal a
encontrado do percentual de gordura foi de 5000kcal.
11,5% ± 1,4, representando um valor

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A alimentação deficiente pode Prado e Colaboradores (2006) verificaram


influenciar de forma importante o rendimento que atletas futebolistas apresentavam alta
físico no atleta. O glicogênio no músculo ingestão protéica, acima dos 15%
trabalhado parece ser o mais importante preconizados pela ADA (2000).
substrato durante a partida. Entretanto, a necessidade de
No entanto, triglicerídeo muscular, proteína pode ser mais bem definida em
glicose e ácidos graxos livres no sangue são relação ao tamanho corporal dos indivíduos.
também utilizados como substratos para o Para sedentários recomenda-se o consumo
metabolismo oxidativo nos músculos diário de proteínas entre 0,8 e 1,0g/Kg/d.
(Bangsbo, 1994). Conforme Guerra e Colaboradores,
Em relação aos macronutrientes, (2001), a ingestão de 1,4 a 1,7g/kg/d para
pudemos observar que os futebolistas jogadores de futebol é considerada a mais
profissionais consomem carboidratos com adequada. Segundo Gomes e
valores que se encontram próximos ao limite Colaboradores (2005), o consumo proteico
inferior preconizado, 59,61% ±7,92, podendo médio de atletas de futebol era 3,0 g/Kg/d,
ser prejudicial ao seu desempenho, uma vez aproximadamente o dobro da recomendação
que pelo menos 60% do total energético da SBME. O presente estudo teve as
utilizado durante uma partida de futebol necessidades atendidas, resultando em 1,58
advém dessa fonte. g/kg ±0,40 de proteína, sendo classificada
Quando se considera o consumo de como uma dieta normoprotéica para atletas.
carboidrato relativo à massa corporal, a As necessidades protéicas de atletas
SBME (2003) preconiza de 5 a 8g/Kg/d, têm recebido atenção especial dos
visando otimizar a recuperação muscular. investigadores nas últimas décadas por
Para atividades de longa duração ou treinos fazerem parte essencial no reparo de
intensos a recomendação pode chegar até microlesões musculares decorrentes da
10g/kg/d. Os resultados do presente estudo prática esportiva. Essas necessidades
para o consumo de carboidrato em gramas aumentam com o tipo de exercício praticado,
por quilo de peso, segundo a análise do sua intensidade, duração e freqüência e não
recordatório de 24 horas aponta consumo de há uma definição em relação a diferenças
5,04 g/kg, igualando o resultado do quanto ao gênero (Hernandez e Nahas,
percentual e também ficando próximo do 2009).
limite inferior preconizado. Os atletas devem ser
Os atletas que iniciam o jogo com conscientizados de que o aumento do
concentrações baixas de glicogênio consumo protéico na dieta além dos níveis
muscular percorrem distâncias menores, em recomendados não leva aumento adicional
velocidade menor, andam mais e realizam da massa magra. Há um limite para o
menos sprints que aqueles jogadores com acúmulo de proteínas nos diversos tecidos
concentrações normais no início da partida (Hernandez, Nahas, 2009).
(Zeederberg e colaboradores; Shepard e Juntamente com o carboidrato, a gordura é a
Leatt; Bangsbo e Lindovist; Hargreaves, principal fonte energética durante o
Leatt e Jacobs citados por Guerra, Soares e exercício. O consumo elevado de gordura é
Burini, 2001). um problema comum entre os atletas. A
De fato, esses jogadores com níveis redução muito intensa no consumo de
iniciais baixos de glicogênio muscular lipídios não é recomendada, já que os
apresentam, particularmente na segunda lipídios não só participam na produção de
metade do jogo, menor velocidade e energia como também são responsáveis
percorrem distância menor que os demais pelo transporte de vitaminas lipossolúveis.
(Ekblom, Shepard e Leatt; Hawley, Dennis e Para os atletas, tem prevalecido a
Noakes citado por Guerra, Soares e Burini, mesma recomendação nutricional destinada
2001). à população em geral, o consumo ideal de
Em relação às proteínas, o presente lipídeos, deve ser igual ou menor a 30% do
estudo resultou em 19,41% ±4,30, sendo valor energético total (Guerra, Soares e
classificada como uma dieta hiperprotéica Burini ,2001).
para atletas. A tabela 2 mostra a média de
20,98% ±5,25 de consumo de lipídio por dia,

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valor considerado abaixo das 5-Gomes, A.I.S.; Ribeiro, B.G.; Soares, E.A.
recomendações dietéticas, segundo a SBME Caracterização nutricional de jogadores de
que recomenda 25 a 30 % do VET. Estudos elite de futebol de amputados. Revista
sugerem que níveis abaixo de 15% do valor Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 11.
calórico total já produzem efeitos negativos Num. 1. 2005. p. 11-16.
(Hernandez e Nahas, 2009).
6-Guerra, I.; Soares, E.A.; Burini, R.C.
CONCLUSÃO Aspectos Nutricionais do futebol de
competição. Revista Brasileira de Medicina do
Os jogadores de futebol Esporte. Vol. 7. Num. 6. 2001. p. 200-206.
apresentaram uma ingestão insuficiente de
energia, e em relação aos macronutrientes 7-Hernandez, A. J.; Nahas, R. M. Modificações
foi observado um consumo ideal de dietéticas, reposição hídrica, suplementos
carboidratos e proteínas e uma baixa alimentares e drogas: comprovação de ação
ingestão de lipídeos. ergogênica e potenciais riscos para a saúde.
Estes resultados afirmam o quanto é Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol.
primordial a inserção do nutricionista nos 15. Num. 3. 2009. p. 3-12.
clubes esportivos, visando à adequação da
dieta em relação à macronutrientes e 8-Lima, C.B.N.; Martins, M.E.F.; Liberali, R.;
alimentos que devem ser consumidos pelos Navarro, F. Estado Nutricional e Composição
atletas antes, durante e após o treino. Corporal de Jogadores de Futebol Profissional.
Tornando-se necessárias maiores Revista Brasileira de Nutrição Esportiva. São
intervenções nutricionais em atletas de Paulo. Vol. 3. Num. 18. 2009. p. 562-569.
futebol, pois é necessário que as
recomendações nutricionais sejam seguidas, 9-Mcardle, W.D.; Katch, F.I.; Katch, V.L.
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Endereço para correspondência:


Rua Marechal Malet, 780
Vila Zelina - São Paulo - SP
03140-020

Recebido para publicação em 26/09/2012


Aceito em 10/10/2012

Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo, v.4, n.13, p.175-181. Set/Out/Nov/Dez. 2012. ISSN 1984-4956

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