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CAPÍTULO 2 – CARACTERIZAÇÃO

DAS ABORDAGENS
PEDAGÓGICAS
- a maneira como ensinamos é impulsionada por nossas crenças sobre o que
significa aprender e sobre o que se constitui o conhecimento válido na área da
educação.

 Objetivo: identificar as bases gerais das teorias e abordagens pedagógicas que


orientam o design dos cursos on-line. Conceituar “epistemologia” e os principais
pontos relativos a abordagens pedagógicas dominantes.

- Agrupar as abordagens em grandes vertentes espistemológicas, que descrevem


basicamente a relação entre as pessoas que aprendem e o conhecimento. Além de
ter consciência de que métodos, ténicas e estratégias não são neutros nem
subsistem em um vácuo teórico. E compreender que estas podem vir revestidas de
novas roupagens tecnológicas.

1. Teorias e abordagens na atuação profissional com tecnologias educaionais

- questão de natureza epistemológica  como sabemos o que sabemos.

- Espistemologia  ramo da filosofia que se ocupa da natureza e da justificação do


conhecimento.

- com as novas formas de produzir, registrar e compartilhar conehcimento, novas


teorias de aprendizagem têm surgido.

- Inúmeras formas de agrupar as premissas epistemológicas que explicam a


relação entre o sujeito que conhece e o objeto (a ser) conhecido no fenômeno
educacional. Mizukami (1986) indica três vertentes fundamentais identificadas –
empirismo, nativismo e interacionismo.

 Empirismo: o conhecimento se baseia na experiência humana e é adquirido por


meio daquilo que se aprende pelos sentidos tradicionais (visão, audição, tato, olfato e
paladar) e por sentidos internos (memória, sentimento, etc.). O ser humano está
sujeito às contigências do meio, e o conhecimento aprendido é uma cópia de algo
presente no mundo exterior. Ênfase: está no objeto [a ser] conhecido. Não há
construção de novos conhecimentos ou realidades. O conhecimento é uma
descoberta para o sujeito que a atinge. Síntese: o conhecimento é o resultado de uma
experiência exógena (que ocorre de fora para dentro), realizado a partir de
verbalizações, recursos e materiais didáticos.

 Nativismo: ênfase está no sujeito que conhece, uma vez que as formas de
conhecimento já estão predeterminadas no indivíduo. O fenômeno educativo é
compreendido como uma experiência endógena (que ocorre de dentro para fora) ou
o “exercício de uma razão pré-fabricada (Piaget, 1976). Síntese: o ser humano possui
a priori categorias de conhecimento já prontas para as quais toda estimulação
sensorial é canalizada. Dessa maneira, a percepção sobre o objeto é construída pelo
sujeito na sua relação com o meio.

 Interacionismo: síntese das duas vertentes anteriores, assumindo uma relação


dinâmica entre a bagagem genética hereditária e a adaptação do sujeito ao meio. O
conhecimento não depende isoladamente de uma realidade externa preexistente ou
do aparato cognitivo do sujeito. Ao contrário, é da interação entre esses dois
elementos que se faz a passagem de um nível de compreensão para outro.
Ênfase: está em atividades do sujeito em sua interação com o mundo físico e
social. O processo de ensino-aprendizagem é uma construção contínua de
conhecimento (FILATRO, 2015, p. 39).

Dessas 3 grandes vertentes derivam as abordagens a seguir:


2. Pedagogias tradicionais/positivistas/condutivistas

- Vertentes epistemológicas empiricistas:

 Pedagogia Tradicional: não se fundamente implicitamente em teorias


empiricamente validadas, mas numa prática educacional que se reproduz ao longo
dos anos.

 Indivíduo: tábula rasa, onde as informações que lhe permitirão


conhecer o mundo no qual se insere serão gravadas
progressivamente. Receptáculo, receptor passivo, até que possa
repetir a outros as informações recebidas.
 Evidencia pelo caráter cumulativo atribuído ao conhecimento
humano, “adquirido” por meio de memorização, bem como pela
imitação de modelos.
 Relação individual e vertical entre professor e aluno.

 Pedagogia Positivista: inspirada nos ideais de Auguste Comte. Superação do


pensamento teológico e matafísico pelo pensamento positivo, que considera apenas
os fenômenos científicos, ou seja, sujeitos à observação.

 Combatem a escola humanista e religiosa, prevalecendo as


ciências exatas sobre as humanas.
 Influência do método científico na prática pedagógica: seleção,
hierarquização, observação, controle, eficácia e previsão, o que
resultam na elaboração de currículos multidisciplinares e Commented [FL1]: Multidisciplinar é um sistema de
ensino que engloba experiências em várias disciplinas,
fragmentados, restringindo qualquer tipo de relação entre diferentes em busca de metas a atingir, dentro de um programa
específico.
disciplinas.
 Ideais de ordem e progresso: na educação, aparecem sob a forma
de disciplina (com forte ênfase no planejamento) e educação
(como processo evolutivo).

Valorização da ciência como forma de


conhecimento objetivo laçou as bases para a escola tecnicista.
O elemento primordial é a tecnologia. Nessa abordagem,
educadores e aprendizes podem ocupar papel secundário e
serem relegados à execução de um processo cuja concepção,
planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de
especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos e
imparciais. Essa é uma das críticas contundentes ao design
instrucional.

 Pedagogia Condutivista: behaviorism ou comportamentalismo. Modela o


estudo do comportamento humano segundo os métodos das ciências físicas,
concentrando a atenção nos aspectos passíveis de observação e mediações
diretas.

 Premissa essencial: certas respostas comportamentais se associam


de maneira mecanicista e invariante a estímulos específicos.
Determinado estímulo evocará uma resposta particular.
 Reforço, por meio de recompensa ou punição, a associação entre
estímulo-resposta comportamental.
 Situação de ensino-aprendizagem, o reforço pode ser expresso de
modo simples: Feedback imediato para uma atividade ou obtenção de
uma resposta correta a um teste de múltipla escolha.
 Interesse pelo comportamentalismo se reavivou com a expansão das
tecnologias na educação, particularmente com a ascensão da instrução
assistida por computador.

A preocupação das pedagogias tradicionais,


positivistas e condutivistas/comportamentalistas não é como conceitos
ou habilidades são representados internamente no sujeito que
aprende, mas como isso se manifesta em comportamentos externos,
que, para essa vertente, são, em última instância, o indicador final do
que foi aprendido.

3. Pedagogias interpretativas/cognitivismo

- Vertentes epistemológicas nativistas:

- Final do anos 1960 – revolução na teoria da aprendizagem com o foco da psicologia


voltando-se para processos mentais envolvidos na aprendizagem.

Mente  considerada o locus onde acontecem os processos mentais


internos, como pensamento, lembrança, conceitualização, aplicação e
solução de problemas.

 Pedagogia Interpretativa: apendizagem ocorre por um processo ativo de


construção.

 Abordagens humanistas: proposta por Carl Rogers, para quem a


percepção é a realidade, no sentido que cada pessoa conhece
apenas o que percebe – escola também conhecida como
subjetivismo.
 Conteúdos externos têm importância secundária.
 Professor – facilitador da aprendizagem.
 Sujeito que aprende – tem papel central na elaboração e na criação
do conhecimento por meio das experiências pessoal e subjetiva.
 Pedagogia Cognitivista: principal teórico Jean Piaget, na década de 1920.

 Conceito-chave: Esquema – estrutura de conhecimento interno que


pode ser combinada, ampliada ou alterada para dar espaço às novas
informações aprendidas.
 Aprender envolve reorganizar as estruturas de conhecimento.
 Esquemas mentais coincidiu com o desenvolvimento da tecnologia
computacional na metade do século XX.
 Processos mentais assemelham-se aos padrões de funcionamento
das máquinas de computação. A mente, tal qual um computador,
recebe, inicialmente, registros sensorias que são processados em
uma memória de curto prazo. Depois, esses registros processados
são transferidos à memória de longo prazo, na qual os conhecimentos
são armazenados na forma de esquemas, que, por sua vez, são
ativados e reestruturados no processo de aprendizagem e
recuperados quando necessário.
 Prática educacional – aluno como pensador independente, que
processa a informação significativamente e a relaciona a seus
conhecimentos anteriores.
 Professor – assume papel de facilitador.

Pedagogias interpretativas – encontra-se a


“escola nova”, também denominada pedagogia renovada,
influenciada pela psicologia do desenvolvimento e pelas
teorias de Jean Piaget, como uma pedagogia essencialmente
ativa, em que todo processo de ensino-aprendizagem é
centrado na atividade do aluno e na ação do sujeito sobre
o conhecimento a ser construído, com respeito aos ritmos
individuais e à valorização do trabalho coletivo. Pode-se traçar
um paralelo entre essa perspectiva e as propostas de design
instrucional mais aberto, que fazem uso de ferramentas
cognitivas e de tecnologias de interação para colocar o
aprendiz no centro do processo de aprendizagem.

4. Pedagogias Construtivistas e Pedagogias Críticas

- Vertentes epistemológicas interacionistas:

 Pedagogias Construtivistas: a necessidade de uma compreensão mais


holística das interações dos alunos e de uma forma de análise menos
reducionista impulsionou a aceitação do construtivismo como uma nova técnica
de compreender o processo de ensino e aprendizagem.

 1967 – um dos marcos da consolidação do construtivismo, com a


publicação do modelo de aprendizagem por descoberta (Brunner).
 Brunner – a estrutura cognitiva (esquemas, modelos mentais) do
indivíduo fornece significado e organização para as experiências e
lhe permite ir além da informação dada.
 Conhecimento é processo.
 Aprender – alunos devem ser colocados diante de situações
discrepantes, de modo que a aprendizagem se dê através da
descoberta.
 Ensino – relacionado aos contextos e às experiências pessoais.
 Currículo – organizado de maneira espiral, de modo que o conceito
seja construído sobre o conhecimento previamente construído.
 Dois tipos de construtivismo:
 Construtivismo individual: pessoas aprendem ao explorar
ativamente o mundo que as rodeia, recebendo feedback de
ações e formulando conclusões.
 Cada indivíduo é único, porque a interação de suas
experiências diferentes e sua busca pelo significado
pessoal resultam no fato de que cada pessoa é
diferente uma da outra. Capacidade de um indivíduo
construir conhecimento leva à integração de conceitos e
habilidades dentro das estruturas conceituais já
existentes.
 Embasamento – concepção genético-evolutiva
piagetiana.
 Conhecimento – fruto da interação entre o sujeito e
o objeto (ou mundo exterior), através de um processo
permanente de construção e reconstrução, que
resulta na formação das estruturas cognitivas. Se as
estruturas lógicas do pensamento são elaboradas
ativamente pelo inidivíduo, a aprendizagem não
pode equivaler a uma recepção passiva do
conhecimento.
 Ensino é a ação de potencializar e favorecer a
construção de estruturas cognitivas.
 Construtivismo social: ou sociointeracionismo – entende a
aprendizagem como intensamente suportada por outras
pessoas que interagem no ambiente social.
 É a interação que possibilita aos aprendizes chegarem
além do que seriam capazes individualmente.
Conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP) – Lev Vygotsky.
 Lev Vygotsky – importância dos instrumentos criados
pelo ser humano (linguagem) e como estes
modificam o mundo e o próprio sujeito e servem
como mediadores, potencializando corpo e mente.

Avanços tecnológicos tornaram possível que o


design instrucional incorporasse as pedagogias construtivistas
(seja por hipertexto ou por ambientes completos de
interação social). As tecnologias e as redes sociais
trouxeram à tona o potencial de construção de
conhecimentos nos níveis individual e coletivo.
 Pedagogias Críticas: enfatizam aspectos sociopolíticos e culturais ligados à
educação e tem, no Brasil, Paulo Freire como principal expoente.

 Principal obra – Pedagogia do Oprimido: destaca a educação


progressista e emancipatória como o elemento fundamental no
processo de desenvolvimento da consciência histórica e
libertária.
 Perspectiva Freiriana – não existe uma educação neutra e não
existe ciência neutra – ambas são produtos históricos. A
construção e reconstrução contínuas de significados podem se
realizar em outros lugares além da escola.
 Verdadeira educação – educação problematizadora, que ajudará o
indivíduo na superação das relações opressor-oprimido.
 Ensino – ato de desvelamento da realidade.
 Educação formal – alunos devem assumir, desde o início, o papel
de sujeitos criadores, atuantes, em uma relação horizontal como
professor.
 Educação – sempre um ato político.
 Conhecimento – sempre transformação contínua.

Pedagogia da virtualidade (Gomez) –


possibilidade de os sujeitos, por meio da aprendizagem em
rede,

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