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Revista Brasileira de

NUTRIÇÃO
FUNCIONAL
Brazilian Journal of Functional Nutrition

ISSN 2176-4522
ano 17. edição 72
www.vponline.com.br

RECEITA
Drink refrescante com toque
de erva-doce e hortelã-pimenta

Reflexão sobre a interação Energia-Vida


e sua influência na saúde do solo e do ser humano

Microbiota intestinal
e doença gordurosa hepática

Série Agroecologia: Parte III


Sementes Crioulas - O DNA da Agricultura Sustentável
Editorial

Dra. Valéria Paschoal


Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional

Para encerrar mais um ano de publicações científicas para a prática do


nutricionista, trazemos artigos para iniciar 2018 com importantes atualizações.

Na área de nutrição clínica, duas revisões esclarecedoras acerca do papel


antioxidante do tucum-do-cerrado, um alimento da biodiversidade de nosso
Centro-oeste, e sobre a importância da promoção e modulação de uma microbiota
intestinal saudável para reduzir os riscos e complicações da doença gordurosa
hepática, uma das doenças crônicas não transmissíveis que têm sua incidência
aumentada nos últimos anos.

Na área esportiva, um importante artigo sobre o papel do exercício e da alimentação


nos centros motivacionais da sensação de prazer no sistema nervoso central, e como a sua influência
no comportamento compulsivo pode implicar no tratamento da obesidade.

Em fitoterapia, trazemos um estudo de caso sobre o tratamento com Rhodiola


rosea em associação a outros fitoterápicos sobre agentes estressores.

Para dar continuidade à série de Agroecologia, sua terceira parte tratará


das Sementes Crioulas, que caracterizam o DNA da Agricultura Sustentável.

Uma deliciosa receita de drink de abacaxi com ervas deixará o seu verão
repleto de nutrientes para proteção antioxidante e contra os raios UV com um
toque de refrescância e muito sabor!

Ótima leitura e um 2018 com muita vitalidade positiva!

Dra. Paula Gandin


Presidente do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

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Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2017 - edição 72


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Diretoras Responsáveis Redação, Publicidade e Administração
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Valéria Paschoal e Andréia Naves VP Centro de Nutrição Funcional
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Coordenação e Autores
Conselho Editorial
Ana Cláudia Poletto
Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em
Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do
programa de Fisiologia Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia
Endócrina, atuando nos temas: mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene
SLC2A4, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus.

Ana Vládia Bandeira Moreira


Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Ceará (1996), mestre em Ciências dos Alimentos pela
Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (2003).
Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Viçosa (MG). Coordenadora do Laboratório
de Análise de alimentos e coordenadora do Projeto de extensão pró-celíaco. Ministra as disciplinas de
Técnica Dietética na Graduação e Dietética Aplicada no Mestrado e Doutorado e Gastronomia Funcional na
especialização na UFV.

Andréia Naves
Nutricionista e Educadora Física. Diplomada pelo The Institute for Functional Medicine (USA) em 2007. Editora
Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Docente
convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP
Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Autora dos Livros “Nutrição
Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Nutrição Clínica Funcional: Obesidade”, “Nutrição Clínica
Funcional: Modulação Hormonal” e “Tratado de Nutrição Esportiva Funcional”. Colaboradora do livro
www.vponline.com.br

“Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”. Membro do The Institute
for Functional Medicine – USA. Coordenadora científica dos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

3
Coordenação e Autores
Anna Cecília Queiroz de Medeiros
Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição e metabolismo de nutrientes nos diversos estados
fisiológicos.

Fátima Aparecida Arantes Sardinha


Nutricionista. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Mestre em
Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP/EPM. Especialista em Nutrição e Saúde Pública pela UNIFESP/
EPM. Docente convidada do curso de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição
Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

Fernanda Serpa
Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de
residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente
convidada dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com
a Universidade Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de
Bombeiros do RJ. Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar.

Gilberti Hübscher
Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde
pela PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada
dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria
com a Universidade Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e
Trabalho da Feevale (RS). Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).

Márcia Cristina Paiva


Nutricionista, graduada na Universidade de Passo Fundo - RS. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e
pós-graduanda em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade
Cruzeiro do Sul. Educadora em diabetes certificada pela empresa Medtronic Brasil de equipamentos médicos
(Bombas de infusão de insulina). Atua em atendimento clínico em clínica de gastroenterologia em São José
dos Campos - SP.

Rosangela Passos de Jesus


Professora Adjunta da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA). Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade
de Medicina da USP. Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Nutrição
Clínica Funcional, coordenadora do Ambulatório de Nutrição e Hepatologia do Hospital Universitário Prof
Edgard Santos.

Sandra Matsudo
Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós-
doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do
Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal
de Envelhecimento e Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade
Física e Saúde Pública - Agita Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário
FMU. Editora Executiva da Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso
- Física e Funcional”, “Envelhecimento e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”.
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Valéria Paschoal
Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista
Brasileira de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição
Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a
Universidade Cruzeiro do Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição
Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos
Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica Funcional: câncer” e “Tratado de Nutrição Esportiva Funcional”.
Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Membro do The
Institute for Functional Medicine – USA. Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported Agriculture -
Agricultura Sustentada pela Comunidade). Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação Nacional
dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados).
4
Coordenação e Autores
Lista de Autores
Alexandre Justo de Oliveira Lima
Possui licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Braz Cubas e bacharelado em
Farmácia e Bioquímica pela Universidade Nove de Julho. Mestrado e Doutorado em Ciências com área de
concentração Farmacologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pós-graduado em Análises
clínicas pelo CRBIO. Atualmente é professor Adjunto do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC em Ilhéus - BA), leciona a matéria de Farmacologia e é Membro do comitê de
ética e pesquisa em seres humanos, do comitê de iniciação científica e coordenador do Centro Regional de
Referência sobre Álcool, Crack e Outras Drogas. Atualmente é coordenador do programa de Mestrado em
Ciências da Saúde da UESC.

Ana Cristina de Macena Freitas


Graduação em Nutrição pela UFRJ. Pós-graduação em Nutrição Clínica pela UFRJ. Pós-graduação em Fitoterapia
Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Nutricionista
da Prefeitura de Três Rios/RJ com atuação na equipe de reabilitação intelectual (CER). Nutricionista em
Consultório de Endocrinologia. Nutricionista na Clínica de Psicologia – CLIPSI.

André Barroso Heibel


Nutricionista e mestre em Bioquímica Nutricional pela Universidade de Brasília. Faz pós-graduação em
Nutrição Esportiva e Fisiologia do Exercício na Universidade Federal de Goiás. Graduação-Sanduíche na
Rutgers, State University of New Jersey, EUA.

Gabriela Pimentel
Nutricionista graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-graduada em Nutrição nas doenças
crônico não transmissíveis pelo Albert Einstein. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade
Cruzeiro do Sul. Pós-graduada em Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul. Docente dos
cursos de pós-graduação em Fitoterapia Funcional Universidade Cruzeiro do Sul. Atua em atendimento
clínico nutricional em consultório.

Luis Gustavo Patricio Nunes Pinto


Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (Unesp)
de Bauru, integrante da OCS – Você social de Bauru-SP e da Articulação Regional de Agroecologia (ARA);
principais temas de pesquisa: Agroecologia e produção orgânica, Agricultura familiar e sustentabilidade rural.

Silvia Marinho Ferolla


Nutricionista. Doutora e Mestre em Ciências Aplicadas a Saúde do Adulto pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Especialista em Nutrição Clínica pela Faculdade São Camilo e em Nutrição Parenteral e Enteral pela
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral. Docente convidada do curso de pós-graduação em
Nutrição Clínica Funcional VP Centro de Nutrição Funcional.

Wagner Alessandro dos Reis


Nutricionista formado pelo Centro Universitário Newton Paiva/BH. Especialista em Formação Pedagógica
para Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pós-graduado em Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Pós-graduando em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidado do curso
de pós-graduação da Universidade Cruzeiro do Sul. Docente da Escola Técnica Profissional de Nível Médio
do SITIPAN – MG. Nutricionista e diretor do Espaço Wagner dos Reis. Personal Nutrition Funcional. Realiza
palestras em empresas, escolas e academias.
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5
Índice

Reflexão sobre a interação Energia-Vida e sua influência na saúde do solo e do ser


humano.
7

O uso da Rhodiola rosea na modulação do estresse e compulsão alimentar: um


estudo de caso
13

O papel do exercício e da alimentação nos centros motivacionais (de prazer) no SNC


e sua influência no comportamento compulsivo: implicações para o tratamento da
obesidade
20

Ações do tucum-do-cerrado na saúde – Benefícios na modulação gênica e no estresse


oxidativo.
26

Microbiota intestinal e doença gordurosa hepática


30

Receita: Drink refrescante com toque de erva-doce e hortelã-pimenta


40
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Série Agroecologia parte III: Sementes Crioulas - O DNA da Agricultura Sustentável


42

6
André Barroso Heibel

Ações do tucum-do-cerrado na saúde –


Benefícios na modulação gênica e no estresse
oxidativo

Actions of tucum-do-cerrado on health – Benefits in the genic modulation and oxidative stress

Resumo
O metabolismo do ferro deve ser estritamente controlado, a fim de evitar reação de oxirredução com este metal, resultando em danos a
biomoléculas. Os polifenóis são componentes dietéticos fundamentais na saúde humana. Evidências sugerem que o consumo de polifenóis
está ligado à modulação do estresse oxidativo e da inflamação. O tucum-do-cerrado se destaca pelo teor de compostos bioativos e por
sua ação na modulação da hepcidina, do Nrf2 e da sirtuína 1, resultando na melhora do estresse oxidativo e da defesa antioxidante,
mesmo em animais submetidos a uma sobrecarga de ferro. Esta revisão foca em estudar os benefícios do consumo do tucum-do-cerrado.

Palavras-chave: Tucum-do-cerrado, antioxidante, estresse oxidativo, ferro.

Abstract
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Iron metabolism must be strictly controlled in order to avoid oxidation-reduction, resulting in damage to biomolecules. Polyphenols are
fundamental dietary components in human health. Evidence suggests that the consumption of polyphenols is linked to the modulation
of oxidative stress and inflammation. The tucum-do-cerrado fruit stands out for its content of bioactive compounds and for its action in
the modulation of hepcidin, Nrf2 and Sirtuin 1, resulting in an improvement of oxidative stress and antioxidant defense, even in animals
submitted to iron overload. This review focuses on studying the benefits of the consumption of the tucum-do-cerrado fruit.

Keywords: Tucum-do-cerrado, antioxidant, oxidative stress, iron.

26
Ações do tucum-do-cerrado na saúde – Benefícios na modulação gênica e no estresse oxidativo

D
Introdução a insulina pode aumentar o estresse oxidativo de
diferentes maneiras. A ativação de vias de formação
Dados epidemiológicos da Organização de sorbitol, como mecanismo compensatório para
Mundial da Saúde mostram uma expansão diminuir a concentração de glicose no sangue,
alarmante da obesidade e de outras doenças depleta o conteúdo de moléculas redutoras como
crônicas não transmissíveis com base em o NADH e o FADH2 dentro da célula, tornado
alterações metabólicas no Brasil e no mundo. o meio citossólico mais propenso a reações de
O aumento das comorbidades associadas aos oxirredução. A geração de produtos de glicação
desbalanços metabólicos pode ser explicado avançada também é uma possível justificativa para
de diferentes maneiras: fatores genéticos como os desequilíbrios vistos nesses pacientes10.
polimorfismos influenciam ostensivamente no Além da geração de produtos oxidantes
risco de desenvolvimento de síndrome metabólica, na mitocôndria e dos efeitos causados pela
por exemplo1. Ainda no campo da genômica hiperglicemia constate, o pool de ferro pode ser
nutricional, diversos artigos mostram a epigenética importante agente causador de estresse oxidativo11.
como reguladora da gênese e do desenvolvimento
da obesidade2-4. Metabolismo do ferro e estresse oxidativo
Em se tratando de fatores ambientais, a literatura
mostra que um estímulo persistente da secreção Tendo em vista o grande potencial em causar
de insulina causado pela ingestão exacerbada danos a biomoléculas, o metabolismo do ferro é
de carboidratos de alto índice glicêmico pode estritamente controlado por diversos mecanismos
desencadear um quadro metabólico denominado moleculares pré e pós-transcricionais. Um ser
resistência a insulina5. O uso de adoçantes como humano saudável em idade adulta tem cerca
a sacarina sódica também vem sendo associado de 3 a 5 gramas de ferro no corpo. Por vias
à piora na homeostase de glicose por meio de dietéticas, o consumo é usualmente superior a
alterações no padrão bacteriano intestinal6. Ainda 10 mg por dia, mas a absorção fica em torno
sobre a microbiota, diversas pesquisas atribuem de 10% do valor ingerido. A regulação de ferro
alterações na quantidade, qualidade e proporção acontece principalmente no intestino delgado e
dos microrganismos residentes no intestino a no fígado. Três principais formas de ferro podem
alterações moleculares associadas à obesidade7. ser obtidas por meio da alimentação: a forma
Ademais, boa parte da evidência científica hêmica, obtida de alimentos de origem animal e
atual mostra a relação entre doenças crônicas com melhor biodisponibilidade, é absorvida por
não-transmissíveis, geração de danos oxidativos meio da proteína carreadora de heme (HCP-1); a
e inflamação. O aumento no nível de peroxidação forma inorgânica oxidada (Fe3+) é reduzida pela
lipídica e na formação de proteínas carboniladas citocromo B redutase duodenal (DcytB) e segue
em indivíduos com disfunções metabólicas é o mesmo rumo da terceira forma, o ferro reduzido
frequentemente visto em estudos que avaliam (Fe2+), que é absorvido pela transportadora de
esse tipo de patologia. Concentrações plasmáticas metal divalente 1 (DMT-1)12.
elevadas de interleucinas com ação inflamatória, Uma vez no meio celular, o ferro poderá ser
IL-1β, IL-6 e 1L-18 têm sido vistas de maneira utilizado, armazenado na ferritina ou exportado
crônica em quadros de disfunções metabólicas8. para a corrente sanguínea pela ferroportina. No
O desbalanço entre as defesas antioxidantes e a sangue, o ferro será transportado majoritariamente
geração de espécies reativas de oxigênio, chamado pela transferrina, que se liga então ao seu receptor
de estresse oxidativo, é quadro característico (TfR1) e sofre uma endocitose, tornando, assim,
em vários órgãos nos obesos e diabéticos 9. o ferro disponível no tecido alvo12.
A mitocôndria parece ser o principal sítio de Em nível de regulação sistêmica, o fígado é o
geração de radicais livres, com destaque para o maior orquestrante do controle de mobilidade do
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superóxido. Indivíduos com sobrepeso parecem metal. A hepcidina, hormônio proteico produzido
ter desregulações mitocondriais que favorecem no fígado, é capaz de regular a mobilidade de ferro
o extravasamento de oxigênio molecular, o por meio da inibição da ferroportina no intestino
qual gerará radical superóxido. Além disso, a e macrófagos, além de diminuir a produção de
hiperglicemia constante em indivíduos resistentes eritropoietina nos rins. Diversos fatores podem
27
André Barroso Heibel

estimular a produção de hepcidina, dentre eles a processos importantes em nosso organismo14-16.


IL-6, e a partir daí destaca-se o papel da inflamação Sabe-se que a concentração de polifenóis em
sistêmica no controle homeostático do ferro11. uma planta depende de vários fatores, que vão desde
Além do controle inflamatório, o conteúdo de o tipo de solo em que o vegetal se encontra até o
ferro deve ser mantido em controle por conta de uso ou não de compostos agrotóxicos. A literatura
reações espontâneas capazes de gerar produtos mostra que ambientes mais inóspitos, com menor
oxidativos. Em 1899, Fenton descreveu a reação teor de água no solo, humidade no ar e variações
na qual o ferro elementar, quando oxidado por mais bruscas de temperatura, geram frutos e folhas
um peróxido de hidrogênio, pode gerar um com maiores quantidades de nutrientes. No Brasil,
radical hidroxil. Tal agente oxidante tem meia diferentes biomas podem gerar espécies nativas
vida de cerca de 10-9 segundos, caracterizando ricas em compostos bioativos. O cerrado brasileiro
uma altíssima reatividade. Esta reatividade leva destaca-se como fonte de várias plantas ricas
o radical hidroxil a se ligar a outros compostos em polifenóis. Um estudo publicado na revista
rapidamente, desestabilizando e alterando a PLoS ONE17 caracterizou o perfil de doze plantas
estrutura de biomoléculas como os lipídeos de nativas do cerrado brasileiro. Foi visto que nove
membrana, o DNA e proteínas em geral. delas apresentavam um conteúdo de fenólicos
totais maior que a maçã vermelha, usualmente
Defesa antioxidante e compostos bioativos considerada boa fonte de tais compostos. Ainda
no mesmo estudo, viu-se que um fruto em
Diferentes mecanismos protegem o organismo particular se destacava, em se tratando de potencial
humano de estresse oxidativo. Dentre os antioxidante. O tucum-do-cerrado (Bactris Setosa
mecanismos endógenos, destaca-se a maquinaria Mart.) mostrou um conteúdo de catequinas cerca
enzimática capaz de manter o equilíbrio redox de vinte vezes maior que a maçã da espécie red
celular. Além das enzimas, fontes alimentares e delicious. Além disso, o conteúdo de vitamina C
não-enzimáticas podem proteger as biomoléculas foi duas vezes maior, e o de antocianinas foi 40
de oxirreduções13. vezes maior que a mesma fruta17.
Além das vitaminas A, C e E e suas respectivas
variações, uma classe importante de compostos Tucum-do-cerrado e suas ações
dietéticos não essenciais emerge como fundamental
na regulação da saúde humana: os compostos Outro estudo do mesmo grupo buscou
bioativos. Tais substâncias são originadas do caracterizar os tipos de polifenóis presentes
metabolismo secundário de plantas e não têm no tucum-do-cerrado, e os os flavonóis, as
caráter de essencialidade: sua estrutura rica em antocianinas, as flavonas, os estilbenos e os ácidos
hidroxilas e duplas ligações favorece a capacidade fenólicos foram encontrados, principalmente, na
antioxidante13. casca do fruto18.
Três principais ações caracterizam a ação O efeito do tucum-do-cerrado na homeostase
dos compostos bioativos e dos polifenóis na do ferro e em parâmetros de estresse oxidativo
proteção do estresse oxidativo. A primeira diz e proteção antioxidante foi analisado em outro
respeito à capacidade quelante exercida em artigo. Viu-se que, mesmo sob uma sobrecarga
metais, indisponibilizando-os para reações do tipo de ferro, os animais que ingeriram o fruto tiveram
Fenton. Além da possibilidade de quelar metais uma redução no conteúdo de ferro plasmático e na
reativos, os polifenóis podem atuar diretamente saturação de transferrina. Além disso, o conteúdo
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

nos radicais livres. A atividade sequestradora do metal no baço e intestino foi normalizado após
(do inglês scavanger) é amplamente conhecida a sobrecarga de ferro com o consumo do fruto19.
na literatura. Por fim, os compostos bioativos Uma vez que o ferro se tornou indisponível para
têm potencial de modular a atividade de diversas reações de oxirredução, a peroxidação lipídica
enzimas por meio de suas respectivas expressões no fígado e o conteúdo de proteínas carboniladas
gênicas. O potencial nutrigenômico dos alimentos no intestino foram reduzidos, caracterizando o
que contêm compostos bioativos se dá por meio alimento como possível agente antioxidante e
da ativação ou inativação de genes que regulam modulador do estresse oxidativo na saúde humana.

28
Ações do tucum-do-cerrado na saúde – Benefícios na modulação gênica e no estresse oxidativo

Possivelmente, esse efeito foi visto por conta da e na longevidade. Este efeito se dá principalmente
modulação de hepcidina que o tucum-do-cerrado pela regulação do estresse oxidativo por meio
pode promover. A expressão do gene Hamp, da de enzimas antioxidantes, como as da família da
hepcidina, foi reduzida significativamente em glutationa. Da Cunha e Arruda20 mostraram que o
relação aos animais que não consumiram o fruto. consumo de tucum-do-cerrado poderia aumentar a
Ainda, a expressão do gene da ferritina, importante concentração de sirtuína 1 no fígado, causando um
marcador inflamatório, também sofreu redução19. aumento no fator nuclear eritroide 2 relacionado
Existem evidências que mostram que o consumo ao fator Nrf2. Em termos de saúde, a modulação
de tucum-do-cerrado pode aumentar a atividade do Nrf2 traria diversos benefícios, uma vez que
da enzima superóxido dismutase no fígado, ele está relacionado a parâmetros de modulação
confirmando o efeito nutrigenômico do alimento20. de enzimas antioxidantes e de envelhecimento.
Entretanto, um dos efeitos mais importantes O tucum-do-cerrado se mostra como uma
que o tucum-do-cerrado pode exercer é o da excelente fonte de compostos bioativos, capaz de
modulação dos genes da sirtuína 1. Tal enzima age modular a saúde por meio do controle do estresse
na desacetilação de histonas, regulando a expressão oxidativo. Apesar da evidência atual, mais estudos
de centenas de genes. Diversos estudos mostram são necessários para confirmar as ações do tucum-
as sirtuínas como enzimas responsáveis por do-cerrado e de outras plantas alimentícias não
diferentes ações nos processos de envelhecimento convencionais na saúde humana.

Referências
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