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Poder Judiciário

Justiça Militar da União


Superior Tribunal Militar
Gab Min Carlos Augusto de Sousa

HABEAS CORPUS Nº 7001116-65.2019.7.00.0000


RELATOR: Ministro Alte Esq CARLOS AUGUSTO DE SOUSA
PACIENTE: ANDERSON CARDOSO DOS SANTOS
IMPETRANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
IMPETRADO: Juiz Federal da Justiça Militar da 1ª Auditoria da 1ª CJM - JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – Rio de
Janeiro/RJ

DECISÃO

Trata-se de Habeas Corpus impetrado pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO em favor do Civil ANDERSON
CARDOSO DOS SANTOS, respondendo à Ação Penal Militar nº 7001143-18.2019.7.01.0001, em trâmite na 1ª
Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar, em que aduz estar o Paciente sofrendo constrangimento
ilegal em sua liberdade de locomoção.

Alega a Impetrante, em síntese, que o Paciente está respondendo a persecução penal em virtude de ter,
supostamente, no dia 3/3/2018, desobedecido a ordem legal de autoridade militar durante operação de
Garantia da Lei e da Ordem (GLO) – Operação Furacão XXV, nas proximidades da Comunidade Vila Kennedy,
bairro de Bangu, no estado do Rio de Janeiro-RJ, fato pelo qual lhe foi imputado o crime constante do art.
301 do CPM.

Aduz que o Parquet, no momento de oferecimento da Denúncia, propôs a suspensão condicional do


processo, porquanto, ao seu entendimento, o Acusado é civil e encontram-se preenchidos os requisitos
constantes do art. 89 da Lei nº 9.099/95.

Registra, ainda, que, muito embora o Titular da Ação Penal tenha proposto o instituto despenalizador, o
Magistrado não acatou o pedido, fato ensejador do presente Remédio Heroico, sobretudo porque o
Impetrante alude que o sursis processual é um direito subjetivo do Paciente e que a vedação constante do
art. 90-A da Lei nº 9.099/95 fere o primado da isonomia.

Por essas razões, requer a concessão de liminar para reconhecer a aplicação do art. 89 da Lei nº 9.099/95 à
Justiça Militar da União, “reconhecendo-se a inconstitucionalidade parcial do art. 90-A da referida Lei”.
Subsidiariamente, requer a suspensão do curso da Ação Penal Militar em referência, até a decisão definitiva
do presente Writ. No mérito, pugna pela concessão da Ordem de modo a garantir a aplicação da suspensão
condicional do processo no âmbito da Justiça Militar da União. Alfim, requer seja prequestionada a matéria
objeto do presente Remédio Heroico.

Relatado o essencial, DECIDO.

No presente caso, a discussão reside na possível afronta à liberdade ambulatorial do Paciente advinda da
recusa do Estado-Juiz em acatar a proposição da suspensão condicional do processo pelo Titular da Ação
Penal.

Na hipótese dos autos, após analisar os argumentos expendidos pela Impetrante, não vislumbro a presença
dos pressupostos necessários à concessão da tutela de urgência.

O deferimento de liminar em sede de habeas corpus exige a apreciação de dois requisitos fundamentais
cumulativos: o periculum in mora, quando existe probabilidade de dano irreparável; e o fumus boni iuris,

Documento assinado eletronicamente por CARLOS AUGUSTO DE SOUSA - MINISTRO DO STM, Matricula
9319. Em 04/10/2019 18:47:51.
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quando os elementos da impetração evidenciam, inequivocamente, a existência de ilegalidade na restrição
de liberdade do Paciente.

O periculum in mora encontra-se presente, sobretudo porque o Paciente encontra-se respondendo a


persecução penal em relação a crime que possui como preceito secundário a pena de detenção de até 6
(seis) meses.

Em relação ao fumus boni iuris, não transparece, ao menos sob a análise perfunctória deste momento,
ilegalidade ou abuso de poder no ato atacado que justifique a concessão da medida de urgência.

A uma, porque a suspensão condicional do processo, estabelecida no art. 89 da Lei nº 9.099/95, não é
aplicável no âmbito desta Justiça Especializada, por força da vedação legal contida no seu art. 90-A, norma
que mantém higidez e se encontra em plena vigência.

A duas, porque o Plenário do Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre a constitucionalidade do


citado dispositivo, não somente em relação a Acusados militares, mas, também, quando se trata de
Acusados civis processados nesta Justiça Especializada[1].

A três, porque o Plenário desta Corte Castrense consolidou o entendimento segundo o qual o referido
diploma legal não é passível de aplicação no âmbito desta Justiça Especializada, conforme se verifica dos
seguintes precedentes: HC nº 193-37.2014.7.00.0000/RJ, Relator Min. Gen Ex Fernando Sérgio Galvão. DJe
9/2/2015; Apelação 100-59.2015.7.02.0202/SP, Relator Min. Ten Brig Ar Cleonilson Nicácio Silva. Julgado em
27/4/2017, bem como a consubstanciação da Súmula nº 9 do STM.

Além do mais, da análise dos autos, é possível constatar que os argumentos expostos na impetração se
voltam contra a norma impeditiva, constante do art. 90-A, da Lei nº 9.099/95. Outrossim, normas de caráter
geral e abstrato, ainda que possam ser consideradas em desarmonia com a Constituição Federal, não
podem ser impugnadas por meio de Habeas Corpus, porquanto essa é a jurisprudência remansosa do
STF[2].

Alfim, a medida requerida de suspensão do curso da Ação Penal Militar, não obstante os motivos expostos,
consoante se extrai do entendimento do Pretório Excelso, a suspensão do curso da Ação Penal exige a
demonstração cabal de manifesta (i) atipicidade da conduta, (ii) presença de causa extintiva de punibilidade
ou (iii) ausência de suporte probatório mínimo de autoria e materialidade delitivas, o que, em tese, não
ocorre no presente caso.

Assim, diante da ausência de evidente constrangimento ilegal, nessa análise perfunctória não há que cogitar
a presença dos requisitos autorizadores da medida pleiteada, razão pela qual INDEFIRO a liminar.

Abra-se vista à PGJM, para manifestação.

Após, tornem-me os Autos conclusos.

Providências pela SEJUD.

Brasília-DF, 4 de outubro de 2019.

Ministro Alte Esq CARLOS AUGUSTO DE SOUSA


Relator

[1] STF. AgRg no RE nº 879.330/DF. Rel. Min. Dias Toffoli. Decisão de 3/8/2015.
[2] STF. HC 109.101/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Segunda Turma. Julgamento em
7/2/2012; STF. HC 90.364/MG. Rel. Ricardo Lewandowski. Tribunal Pleno. Julgamento em

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31/10/2007.

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