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Rm 12:1-2: Adoração, santidade e conhecimento de Deus

INTRODUÇÃO

Como conhecer àquele de quem a sabedoria e o conhecimento são mais


profundos que o oceano, e os juízos e caminhos, insondáveis e inescrutáveis? Talvez,
Romanos 12:1-2 seja o texto que melhor explica a forma pela qual podemos ter a mente
de Cristo, ainda que o assunto continue envolto no mistério tremendo da fé. “Porque,
quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente
de Cristo” (1Co 2:16). No capítulo 11 de Romanos, Paulo diz que o desejo de Deus é
que todos os homens da terra – judeus e gentios – sejam salvos. Ao iniciar a leitura do
capítulo 12, percebemos que o apóstolo está nos mostrando o caminho que levará ao
conhecimento desta vontade soberana. Em apenas dois versículos, somos ensinados
sobre o que é a verdadeira adoração, qual a postura de santidade que devemos ter diante
do mundo, e como podemos conhecer a Deus e Sua vontade.

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso


corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E
não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus” (Rm 12:1-2).

“...Rogo-vos...” (exorto... a vós): No original grego, Paulo usou a palavra exortação[1].


Porém, no contexto, percebemos que ela tem um tom de pedido. É que a compreensão
geral que se tem da palavra “exortação” é equivocada, pois não quer dizer “repreensão”,
mas sim, “chamar para perto, auxiliar, ajudar, consolar, encorajar”[2]. Portanto, neste
texto, estamos diante de uma autêntica exortação.
“...Irmãos...”: Embora o texto sagrado deva ser proclamado a todos indistintamente, na
situação original ele foi endereçado aos crentes em Cristo Jesus. Sim, esta exortação
bíblica é dirigida aos salvos, eu e você. Nós somos os destinatários. Portanto, nós
precisamos aprender mais sobre adoração, santidade, e conhecimento de Deus sim.
Ninguém aqui é sabe-tudo. Todos somos discípulos em processo de aprendizado e
aperfeiçoamento.

“...Pelas misericórdias de Deus...”: No original, não existe virgula depois da palavra


“Deus”, o que sugere que somente pela misericórdia de Deus é que podemos apresentar-
lhe nossas vidas como oferta totalmente consagrada. Não fosse a misericórdia de Deus,
jamais seríamos aceitos, mas graças à obra de Cristo na cruz, somos aceitos pelo Deus
santo e justo.

“...O vosso corpo...”: O conceito paulino de “corpo” vai além da ideia de matéria. O
templo de Espírito Santo envolve tudo em nós. Significa que o apóstolo está nos
exortando a apresentar tudo de nós a Deus.
“Nem, tampouco, apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de
iniquidade;” (Rm 6:13).
“Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo...” (1Co 6:19).

“...Sacrifício vivo, santo e agradável...”: Não se trata de sacrifícios de animais, pois


Cristo os invalidou (Hb 10:4,9,10). Trata-se de uma ilustração (“sacrifício de louvor=
ação de graças” – Sl 50:14). Devemos nos consagrar totalmente a Deus, vivendo para
Sua glória em cada detalhe de nossas vidas.
Sacrifício vivo é a vida do crente que morreu para o pecado e agora vive para Deus, por
meio de Cristo, pela própria vida do Cristo e pela fé nEle.
Somos “corpo de Cristo” (1Co 12:27), e “pedras vivas” (“Vós, também, como pedras
vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios
espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” – 1Pd 2:5). Isso é agradável a Deus,
pois a justiça e santidade de Cristo são perfeitas, e satisfazem a perfeita vontade do
Deus perfeito. É como diz o teólogo brasileiro Alfredo Borges Teixeira (1878-1975):
Na cruz, “a Jesus foram imputados os pecados dos homens, e aos homens foi imputada
a justiça de Jesus”[3].

“...A Deus...”: Esta pequena expressão fecha a porta para a “religiosidade”. No sentido
negativo, a palavra “religiosidade” refere-se à preocupação meramente externa e teatral
daqueles que realizam atos piedosos com o propósito de impressionar os outros e
conquistar seus aplausos. Em outro texto, Paulo também combate este mal, dizendo:
“Procura apresentar-te a Deus... (2Tm 2:15)”. A Deus, não aos homens.

“...Culto racional...”: O ato de apresentar envolve a decisão da mente. Entregamos


nossas vidas a Deus, e isso racionalmente. Decidimos que viveremos para Ele, o que só
é possível por meio dEle, mas que também não aconteceria sem a participação da nossa
vontade. Existe aqui uma cumplicidade entre a vontade de Deus e a vontade do homem.
É bem verdade que quase tudo em nossa salvação e espiritualidade depende da vontade
dEle, mas também é verdade que Deus optou por posicionar-se eticamente diante da
nossa vontade/escolha. Em outras palavras, apesar de o culto racional depender de
Deus, ele também requer (em um segundo momento) a nossa contribuição e decisão. O
“sacrifício vivo, santo e agradável”, é o “culto racional”, e ambos podem também ser
chamados de “verdadeira adoração em espírito e em verdade”.

“...Não vos conformeis com este século...”: O texto original diz: “E não sejais
amoldados a este século...”[4]. Isso significa não acreditar em tudo o que a mídia diz,
nem aderir ao estilo de vida dos ímpios. Precisamos trabalhar, estudar, conversar,
compreender e ajudar os ímpios em suas necessidades físicas, sociais, emocionais e
espirituais, influenciando-os, sem sermos influenciados.

“Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia
em vossa ignorância;” (1Pd 1:14).
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai
não está nele.” (1Jo 2:15).
“E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus
permanece para sempre” (1Jo 2:17).

Significa não alienar-se dos ímpios, mas também, não assemelhar-se a eles. Seja
você. Sejamos nós mesmos. Nosso verdadeiro “eu” sobrevive somente em Cristo.
Aquele que não for moldado pelo mundo, este sim poderá ser um verdadeiro cristão. Ser
cristão é ser parecido com Cristo. O Criador nos fez imagem e semelhança Sua. O
pecado, por sua vez, quando nos alienou do Criador, manchou nossa imagem e
falsificou nosso “eu”. Não se conformar com o mundo é afastar-se do pecado e
aproximar-se de Deus, por meio de Cristo, e assim, nosso “eu” verdadeiro encontra o
caminho aberto para vir à tona. “Alienar-se do pecado é assemelhar-se a Cristo,
alienar-se de Cristo é, de certa forma, assemelhar-se ao Diabo”. Digo isso porque o
Diabo foi criado muito diferente do que é hoje, pois ele era um anjo de Deus (Lúcifer).
Quando separou-se de Deus, Lúcifer foi deformado pelo próprio mal, e veio a ser
Satanás. Sim, separado de Deus ele está totalmente deformado. Guardadas as devidas
proporções, também ficamos deformados quando nos afastamos de Deus. A diferença é
que para Satanás não há volta, mas para nós, Jesus é o caminho que nos leva de volta
para Deus.

“...Transformai-vos pela renovação da vossa mente...”: Segundo a linguagem


bíblica, a renovação da mente acontece quando nos despimos do velho homem e nos
vestimos do novo, que se renova pelo poder do Espírito de Deus em nós.
“E vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que,
segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:23-24)
“E vos vestistes do novo [homem], que se renova para o conhecimento, segundo a
imagem daquele que o criou;” (Cl 3:10).
Este é um ato de fé e de regresso. Renovação, de certa forma, significa retrocesso. É
como que voltar ao jardim do Éden, o qual encontramos na cruz de Cristo. Lá ficou a
vida eterna que perdemos por causa do pecado. Somente lá podemos ser “nova
criatura”. Essa nova criatura que nasce “da água e do Espírito” tem mente nova. Sua
mente é renovada pela Palavra, para semelhança da mente de Cristo, e traduzida pelo
Espírito Santo de Deus.

“...Para que...”: Há um propósito em tudo isso.

“...Experimenteis...”: Experimentar aqui também pode ser entendido por “provar,


saborear, conhecer”.
“Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia” (Sl
34:8).
“Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (Ef
5:17).

“...A boa, agradável e perfeita vontade de Deus...”: Porque Deus é Bom, Agradável e
Perfeito, Sua vontade, que dEle é inseparável, também é boa, agradável e perfeita. O
original grego abre espaço para estas duas possibilidades. Não precisamos escolher uma
em detrimento de outra, pois ambas são verdadeiras.

“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da


prostituição ... não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem a
Deus ... Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação” (1
Ts 4:3,5,7).

Não nos esqueçamos que no capítulo 11 o apóstolo Paulo nos informara do


plano universal de salvação de Deus. A vontade de Deus é que todos os homens sejam
salvos. Portanto, somos desafiados a uma vida de santidade e missão, pois Deus quer
que sejamos santos, e quer salvar o mundo através de nós.
O conhecimento de Deus implica em pelo menos estas duas mudanças de vida.
Primeiro: “conhecer a Deus é ser santo”.
Segundo: “conhecer a Deus é dedicar a vida para Sua glória e proclamar o Evangelho de
Cristo ao mundo”.

CONCLUSÃO

Se seguirmos a exortação bíblica, dedicaremos toda a nossa vida para a glória de


Deus em verdadeira adoração, contrapondo-nos ao sistema pecaminoso deste século,
com a mente renovada em Cristo (ter a mente de Cristo – 1Co 2:16)), e assim
conheceremos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, que é a salvação do mundo,
e a nossa santificação – sem a qual ninguém verá ao Senhor.
EM OUTRAS TRADUÇÕES:

Rm 12:1-2 – A Mensagem: 1: “Portanto, com a ajuda de Deus, quero que vocês façam
o seguinte: entreguem a vida cotidiana – dormir, comer, trabalhar, passear – a Deus
como se fosse uma oferta. Receber o que Deus fez por vocês é o melhor que podem
fazer por Ele. 2: Não se ajustem demais à sua cultura, a ponto de não poderem pensar
mais. Em vez disso, concentrem a atenção em Deus. Vocês serão mudados de dentro
para fora. Descubram o que Ele quer de vocês e tratem de atendê-lo. Diferentemente da
cultura dominante, que sempre os arrasta para baixo, ao nível da imaturidade, Deus
extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês uma verdadeira maturidade”.

Rm 12:1-2 – NTLH: 1: “Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia


divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo,
dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês
devem oferecer a Deus. 2: Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem
que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim
vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a
ele”.

Rm 12:1-2 – NVI: 1: “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se


ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.
2: Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua
mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus”.

A todos, abraços, graça e paz!!!

Éder Carvalho
http://fb.com/officialedercarvalho

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