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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Dissertação Nº / PPGCEM
NATAL – RN
2016
Felipe Fernandes Cavalcante
Brasil
2016
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial
Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET.
𝐺𝑃 Zona de Guinier-Preston.
𝑛 Coeficiente de encruamento.
𝑡 Tempo.
𝑇 Temperatura.
𝜎𝑌 𝑆 Limite de escoamento.
𝜈 Coeficiente de Poisson.
𝛾 Energia de superfície.
Sumário
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1 Objetivo principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Objetivos secundários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
I REVISÃO DA LITERATURA 27
3 LIGAS DE ALUMÍNIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1 Considerações gerais sobre ligas de alumínio . . . . . . . . . . . . . . 28
3.2 Tratamentos térmicos em ligas de alumínio . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2.1 Tratamento térmico de solubilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.2.2 Tratamento térmico de precipitação ou endurecimento por envelhecimento . 31
3.2.3 Sensibilidade à têmpera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2.4 Tratamentos alternativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2.5 Tenacidade à fratura em ligas de alumínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3 Mecanismos de endurecimento das ligas de alumínio . . . . . . . . . 39
3.3.1 Mecanismo de endurecimento por precipitação . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.1.1 Precipitação homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.1.2 Precipitação heterogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3.1.3 Precipitação dinâmica e autorreparo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.3.2 Mecanismo de endurecimento por zonas de GP . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.3.3 Mecanismo de endurecimento por precipitados coerentes . . . . . . . . . . 48
3.3.4 Mecanismo de endurecimento por precipitados incoerentes . . . . . . . . . 49
3.4 Liga 2024 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.5 Liga 7075 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.6 Ensaio de tração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.7 Ensaio de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.8 Mecânica da fratura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.8.1 Considerações gerais sobre a mecânica da fratura . . . . . . . . . . . . . . 62
3.8.2 Mecânica da fratura linear elástica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.8.2.1 Limitações da Mecânica da fratura linear elástica . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.8.3 Tenacidade à fratura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.8.4 Metodologias utilizadas na determinação da tenacidade à fratura . . . . . 69
3.8.4.1 Metodologia Chevron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
II MATERIAIS, METODOLOGIA E EQUIPAMENTOS 77
4 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.1 Materiais utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.2 Divisão e quantitativo de corpos de prova . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.3 Caracterização da microestrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.3.1 Caracterização do estado de entrega das ligas . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.3.2 Caracterização das ligas envelhecidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.4 Esquema de retirada dos corpos de prova das placas para os ensaios
mecânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.4.1 Retirada dos corpos de prova chevron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.4.1.1 Entalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.4.2 Retirada dos corpos de prova para o ensaio de tração . . . . . . . . . . . . 84
4.5 Tratamentos térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.5.1 Solubilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.5.2 Envelhecimento artificial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.6 Ensaios mecânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.6.1 Ensaio de tração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.6.2 Ensaio de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.6.3 Ensaio chevron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.6.3.1 Caracterização das superfícies de fratura do ensaio chevron . . . . . . . . . . . 89
4.6.3.2 Critérios para validação do ensaio chevron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.1 Caracterização do estado de entrega das ligas . . . . . . . . . . . . . 92
5.2 Caracterização das ligas envelhecidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.2.1 Caracterização das ligas envelhecidas - 2024 . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.2.2 Caracterização das ligas envelhecidas - 7075 . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
5.3 Ensaios mecânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
5.3.1 Ensaio de tração da liga 2024 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
5.3.2 Ensaio de tração da liga 7075 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.3.3 Critérios de validação do ensaio chevron para as ligas 2024-S1 e 2024-S2 . 111
5.3.4 Critérios de validação do ensaio chevron para a liga 7075 . . . . . . . . . . 112
5.3.5 Ensaio chevron da liga 2024 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
5.3.6 Ensaio chevron da liga 7075 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
5.3.7 Caracterização das superfícies de fratura - 2024 . . . . . . . . . . . . . . . 122
5.3.8 Caracterização das superfícies de fratura - 7075 . . . . . . . . . . . . . . . 124
Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
21
1 Introdução
Por outro lado, Wanhill (WANHILL, 2007), num relato para o NLR, na Holanda,
a partir de uma revisão da literatura, especificamente para as chamadas trincas curtas
em ligas Al-Cu-Mg-Ag, tratadas tanto nas condições de pico de dureza, subenvelhecidas
e superenvelhecidas, apresenta em suas discussões ponderações que contestam o proposto
por Lumley (LUMLEY et al., 2005). Indica ainda que se o fenômeno do autorreparo pode
atuar, este parece pouco aplicável na prática da indústria aeronáutica, uma vez que seria
pouco ativo para o caso de fadiga de alto ciclo. Uma observação interessante acerca desta
controvérsia, é que em anos recentes não se encontrou outras publicações sobre o tema
daqueles autores que iniciaram esta discussão. Por outro lado, a NASA propõe o uso do
conceito do autorreparo em estruturas aeroespaciais com trincas de fadiga, constituídas
por ligas de Al, baseado em fase líquida e ligas de efeito memória de forma em compósitos
metal-metal (MMC), denominado de SMASH. Neste caso, materiais aeroespaciais sujeitos
a carregamento cíclico são susceptíveis a falha por fadiga, por vezes catastróficas, sob
cargas bem abaixo do limite de escoamento (WRIGHT; MANUEL; WALLACE, 2013;
MANUEL, 2009).
Conforme discutido acima, e de forma resumida, o processo de autorreparo nas
ligas de alumínio, está associado à precipitação dinâmica de fases intermetálicas, que
ocorre quando a liga, em condições subenvelhecidas, tende, sob a ação de carregamentos
mecânicos a reparar um defeito (LUMLEY; MORTON; POLMEAR, 2002). A necessidade
de condições subenvelhecidas cria uma outra questão importante a ser correlacionada: a
resistência à corrosão sob tensão. De acordo com Koch e Kolijn (KOCH; KOLIJN, 1979)
estabelecer um ciclo térmico ótimo para as ligas de alumínio deve se levar em considera-
ção a possibilidade de obtenção de uma ótima combinação de propriedades de resistência,
Capítulo 1. Introdução 24
2 Objetivos
Revisão da Literatura
28
3 Ligas de alumínio
Duas características obrigatórias devem ser exibidas pelos diagramas de fases dos
sistemas das ligas para haver endurecimento por precipitação: i) deve haver uma solubili-
Capítulo 3. Ligas de alumínio 30
liga para outra. As propriedades das ligas são intrinsecamente dependentes da tempera-
tura e tempo de envelhecimento. Usando temperaturas de envelhecimento mais baixas, há
promoção de propriedades mais uniformes nos materiais tratados (FRANSSON, 2009).
Esse processo envolve várias etapas, que são: i) solubilização, ii) resfriamento rápido
e iii) o envelhecimento natural ou artificial, como mostrado na Figura 3.
(a) (b)
dureza de 200 ∘ C em 24h; já utilizando uma temperatura de 150 ∘ C, não houve mudança
significativa na dureza em tempos de até 25h (Figura 4).
Figura 5 – Dureza versus tempo de envelhecimento para a liga 7075 na temperatura 145
∘
C (KAÇAR; GÜLERYÜZ, 2015, adaptado).
temperatura ambiente, dessa forma não são usadas nessa condição, já que acarreta mu-
danças de propriedades com o tempo, que podem fugir dos valores estipulados no projeto
mecânico (ZANGRANDI, 2008).
Para as ligas da série 7XXX, o intervalo de tempo de permanência na temperatura
ambiente, antes do início do tratamento de precipitação, é um outro parâmetro impor-
tante, que varia de acordo com a composição da liga e, deve ser considerado, pois esses
períodos específicos de atraso se não forem observados, refletem numa redução brusca da
tensão de escoamento e da resistência à tração da liga, após o tratamento de precipitação
artificial (HUNSICKER et al., 1984).
Assim, por exemplo, o tempo de permanência na temperatura ambiente para uma
liga 7075 solubilizada, não poderá ultrapassar quatro horas, enquanto que para outras
ligas, esse tempo deverá ser reduzido ao mínimo possível. As razões desse fenômeno não
foram perfeitamente esclarecidas, mas há evidências de que está relacionado com o grau
de supersaturação obtido pela solubilização e a subsequente reversão das zonas de GP
durante o envelhecimento artificial. Segundo Hunsicker (HUNSICKER et al., 1984), esse
fenômeno pode ser eliminado utilizando-se tratamentos de precipitação em dois estágios.
O primeiro estágio do envelhecimento desenvolve uma melhor distribuição das zonas de
GP, que se mantém estável durante o segundo estágio do envelhecimento.
Geralmente, verifica-se um maior aumento nas propriedades de resistência à tra-
ção e tensão de escoamento e menor ductilidade no envelhecimento artificial, quando
comparadas com aquelas obtidas pelo envelhecimento natural. Assim, por exemplo, uma
liga envelhecida na condição T6 apresenta maior resistência mecânica (resistência à tra-
ção e tensão de escoamento) e menor ductilidade do que na condição T4 (solubilizada)
(ZANGRANDI, 2008).
O tempo e o precipitado adequado para que o material atinja o seu maior nível
de dureza é dependente da composição química da liga. Um maior aumento no tempo
de envelhecimento da liga 7075, diminui a resistência a tração, tensão de escoamento e
dureza. A fase estável 𝜂 (𝑀 𝑔𝑍𝑛2 ) pode ser responsável pelo decaimento de dureza em
uma amostra superenvelhecida (KAÇAR; GÜLERYÜZ, 2015). Em contrapartida, o supe-
renvelhecimento pode ser benéfico pois ele aumenta a resistência à corrosão de algumas
ligas (LIU; KLOBES; MAIER, 2011; HAN et al., 2011).
Estudos realizados por Koch e Kolijn (KOCH; KOLIJN, 1979) mostraram uma
tendência geral que o ganho em resistência está associado a perda em tenacidade, e
que, segundo observações realizadas por vanLeeuwen e colaboradores (VANLEEUWEN;
SCHRA; VANDERVET, 1972), os tratamentos térmicos que beneficiam propriedades de
resistência como limite de escoamento e limite de resistência a tração, entram em conflito
com a propagação de trincas por fadiga e tenacidade à fratura.
Capítulo 3. Ligas de alumínio 35
mente, altamente dúctil em microescala, devido ao crescimento dos vazios ser controlado
por deformação (LIU, 2005).
No geral, as ligas de alumínio das séries 2XXX e 7XXX, tendem a apresentar
comportamento como mostrado na Figura 7 (TOTTEN; MACKENZIE, 2003).
Figura 7 – Relação entre tenacidade e limite de escoamento para as ligas 2XXX e 7XXX.
Ocorre uma menor variação de tenacidade na sequência subenvelhecida ->
pico de dureza -> superenvelhecimento (TOTTEN; MACKENZIE, 2003, adap-
tado).
obtém alta resistência mecânica. Por causa desse efeito, por exemplo, a liga 2024 geral-
mente é tratada com têmpera T3 (solubilizada e envelhecida naturalmente) (TOTTEN;
MACKENZIE, 2003).
Quando uma liga de alumínio possui alto teor de soluto, contorno de grão de alto
ângulo, baixa taxa de resfriamento do tratamento de solubilização, ou até mesmo envelhe-
cimento em altas temperaturas sem ser precedido envelhecimento a baixas temperaturas,
há favorecimento de precipitação nos contorno de grão e produção de zonas livres de preci-
pitados largas, que facilitam a fratura intergranular e diminuem a tenacidade (VARLEY;
DAY; SENDOREK, 1958; STALEY, 1978).
Já Ryum (RYUM, 1968) sugere que as zonas livres de precipitados possuem uma
tensão de escoamento mais baixa do que a matriz, o que reduz a concentração de tensão
nos contornos de grão, melhorando a tenacidade, enquanto que Unwin e Smith (UNWIN;
SMITH, 1969) mostraram que a largura da zona livre de precipitado tem pouco efeito
na tenacidade a fratura em condições de deformação plana (𝐾𝐼𝐶 ), sendo esta fortemente
dependente do modo de fratura. A tenacidade devido a fratura intergranular é considera-
velmente menor do que aquela observada pela fratura transgranular.
De acordo com Hunsicker et. al. (HUNSICKER et al., 1984), durante o estágio
inicial da precipitação homogênea ocorre uma redistribuição de átomos de soluto por
difusão na solução sólida supersaturada, segregação desses átomos em várias pontos da
matriz, formação de pequenos aglomerados (clusters), cuja concentração é maior do que
a concentração média da solução sólida e o crescimento dos aglomerados dando origem às
zonas de Guinier-Preston.
As zonas de Guinier-Preston (zonas GP) formam interfaces coerentes, aumentando
a deformação da estrutura cristalina da matriz numa vizinhança que se estende por várias
distâncias interatômicas a sua redondeza. A presença das zonas de GP interfere e difi-
culta o movimento das discordâncias, produzindo o endurecimento nessa fase do processo
Capítulo 3. Ligas de alumínio 41
De acordo com Sanders (SANDERS, 1979), uma forma de minimizar estes efeitos é
aumentar a taxa de resfriamento na solubilização, e com isso aumentar a concentração de
lacunas, favorecendo a predominância da nucleação homogênea durante o envelhecimento.
Para os casos em que a taxa de resfriamento na solubilização for lenta, deve-se
realizar do envelhecimento em baixas temperaturas, o que também minimiza a nucleação
heterogênea (HUNSICKER et al., 1984).
A terceira alternativa, que tem sido um solução usualmente adotada, é realizar
o envelhecimento em dois estágios. O primeiro estágio realizado a uma temperatura de
envelhecimento mais baixa, maximiza a nucleação homogênea das zonas de GP. O se-
gundo estágio realizado a uma temperatura mais alta, permite que uma certa quantidade
das zonas de GP nucleadas homogeneamente cresçam, atingindo um tamanho suficiente,
para se transformarem nos precipitados de transição. As zonas de GP que não atingem
esse tamanho crítico, não se transformam em precipitados de transição e se dissolvem
novamente (HUNSICKER et al., 1984).
Pequenas partículas que são coerentes ou parcialmente coerentes com a matriz
de alumínio são cisalhadas pelo movimento das discordâncias. Com isso, o mecanismo
de endurecimento associado com a presença dessas partículas é reduzido porque há um
decrescimento local de resistência a medida que aumenta o movimento das discordâncias.
Conforme as partículas crescem, as deformações se acumulam e são desprendidas quando
as partículas se tornam incoerentes, por exemplo, quando há transformação de fase de
transição para fase de equilíbrio. Nesse estágio, discordâncias são criadas na interface entre
o precipitado e a matriz como resultado de defeitos nessas regiões. A perda de coerência
é acompanhada com uma mudança na interação partícula-discordância, fazendo com que
a discordância contorne a partícula ou desvie, promovendo um aumento significativo de
resistência, chamado de mecanismo de Orowan (TOTTEN; MACKENZIE, 2003).
A Figura 8 mostra o diâmetro crítico em que ocorre a mudança de interação de
cisalhamento da partícula para ocorrência somente do desvio. No diâmetro crítico se obtém
a máxima resistência.
Capítulo 3. Ligas de alumínio 43
(a) (b)
Sabendo que a ponta da trinca tem alta energia livre e uma grande densidade de
discordâncias próximo a zona plástica, esta região é preferível para a ocorrência de preci-
pitação heterogênea, como discutido no tópico anterior. O movimento de discordâncias e
a formação de bandas de deslizamento elevarão a difusividade e auxiliarão a precipitação
de soluto na ponta da trinca. A Figura 10 mostra esse efeito em uma liga Al-Zn-Mg-Cu.
O mais importante é saber que uma quantidade suficiente de átomos de soluto pode ser
rapidamente entregue nas proximidades da trinca, devido à difusão em tubo (do inglês
”pipe diffusion”) que ocorre ao longo das linhas de discordâncias (LUMLEY, 2007).
Capítulo 3. Ligas de alumínio 45
Figura 10 – Micrografia mostrando uma trinca com precipitação heterogênea na sua ponta
em uma liga Al-Zn-Mg-Cu. O precipitado MgZn2 está representado como a
fase branca na microestrutura (LUMLEY, 2007, adaptado).
(a)
(b)
Para ligas da série 7XXX, as zonas GP (1) são aglomerados de átomos de soluto
de zinco e magnésio posicionados nos planos cristalinos (001)𝐴𝑙 . Estes acúmulos de áto-
mos mantêm características cristalinas da matriz sem formarem compostos secundários.
Determina-se que para estas ligas, as zonas GP (1) são coerentes com a matriz, contendo
entre 2 a 3,5 nm e com forma esférica, formadas em temperaturas a partir da temperatura
ambiente até 140 ∘ C, independentemente do tratamento de solubilização prévio. As zonas
GP (2) são ricas em zinco nos planos (111)𝐴𝑙 , formadas durante o processo de envelhe-
cimento acima da temperatura de 70 ∘ C. Sua forma parece com agulhas, e seu tamanho
depende da temperatura e tempo do tratamento, mas tipicamente são finas e levemente
mais compridas do que as demais partículas precipitadas (BERG et al., 2001).
Uma vez que as zonas GP são cisalhadas, as discordâncias podem continuamente
passar pelas mesmas partículas, com isso, a deformação tende a se tornar localizada
em planos de escorregamento ativos, desenvolvendo bandas de escorregamento. Como
consequência, as discordâncias se acumulam nos contornos de grão, promovendo uma
microestrutura favorável a uma fratura intergranular (TOTTEN; MACKENZIE, 2003).
Figura 13 – Figura esquemática que mostra a solução sólida super saturada (a), precipi-
tados coerentes (b), precipitados semi-coerentes (c) e incoerentes (d).
acontece quando a distância entre as partículas precipitadas são as mesmas do raio limite
da curva das discordâncias. A resistência da liga é variável com a temperatura e será au-
mentada quando alcançado um bom tempo que promova um certo aumento na partícula
(FRANSSON, 2009)
aproximam e como seus segmentos tem sinais contrários, eles são atraídos e se anulam mu-
tuamente, deixando anéis de discordâncias ao redor dos precipitados (Figura 15d). Com
isso, as discordâncias passam até encontrarem novos obstáculos e, novas discordâncias ao
passarem por este mesmo processo, adicionam novos anéis aos precipitados (HUMMEL,
2013; POLMEAR; JOHN, 2005).
endurecimento acontecem simultaneamente. Com isso, ligas Al-Cu geralmente são enve-
lhecidas até o estágio 𝜃’, pois seu efeito é maior do que aqueles promovidos por partículas
coerentes, com distribuição umas próximas das outras e alta densidade de precipitação.
Nas ligas Al-Cu-Mg, a presença do magnésio eficientemente refina as partículas 𝜃’ e au-
mentam sua densidade de precipitação, com isso melhorando o endurecimento. Partículas
incoerentes da fase 𝐴𝑙2 𝐶𝑢 não tem virtualmente nenhum efeito na resistência por causa
do seu tamanho, baixa densidade de precipitação e falta de campos de tensão ao seu redor
(TOTTEN; MACKENZIE, 2003).
diretamente nas discordâncias e contornos de subgrãos, enquanto que a fase 𝜂 pode nuclear
e crescer diretamente nos contornos de grãos e outros contornos incoerentes (TOTTEN;
MACKENZIE, 2003).
Zonas GP esféricas são formadas se a diferença no tamanho entre o alumínio e
o átomo de soluto é pequena (ligas Al-Zn). Tanto as zonas GP quanto o precipitado 𝜂’,
são cisalhados pelas discordâncias e a energia para cisalhar a fase 𝜂’ é quase duas vezes a
requerida para cisalhar as zonas GP (TOTTEN; MACKENZIE, 2003).
Por causa da grande importância do tamanho e distribuição dos precipitados, a
máxima resistência é atingível em ligas comerciais quando aplica-se a condição T6 (pro-
dutos solubilizados e envelhecidos artificialmente, que não sofreram deformação plástica
pós tratamento de solubilização) e T7 (produtos solubilizados e sobreenvelhecidos, que
sofreram estabilização depois do tratamento de solubilização).
de um equipamento.
Propriedades como módulo de elasticidade, tensão limite de escoamento de enge-
nharia e real, limite de resistência à tração de engenharia e real, tensão limite de ruptura
de engenharia, tensão máxima real, resiliência, módulo de resistência à deformação plás-
tica uniforme, coeficiente de encruamento, ductilidade (redução de área e alongamento),
fragilidade, tenacidade, entre outros, podem ser avaliados após o ensaio, fornecendo uma
gama de propriedades largamente utilizadas em projetos mecânicos sejam eles estruturais,
de componentes e de segurança (CZICHOS; SAITO; SMITH, 2007).
Segundo (LOVEDAY; GRAY; AEGERTER, 2004), a resistência de um material
submetido a um ensaio de tração há muito tempo sido considerada como uma das mais
importantes características requeridas para efeitos de projeto mecânico, controle de qua-
lidade na produção e previsão de vida útil de equipamentos e componentes em plantas
industriais.
O ensaio de tração é de suma importância para a avaliação do comportamento
mecânico dos materiais. A descrição de sua execução, bem como as propriedades nele ob-
tidas, estão largamente disponíveis nas literaturas especializadas da área de Ciência e En-
genharia de Materiais (CALLISTER; RETHWISCH, 2007; HOSFORD, 2010; MEYERS;
CHAWLA, 2009). A Figura 18 abaixo mostra a resposta da um material metálico a um
carregamento de tração, levando-se em consideração o conceito de curva de engenharia.
Nesta figura ficam evidentes os valores do limite de resistência ao escoamento, obtido a
partir da deformação de 0,2% (S0,2 ) da ordem de 250 MPa; e do limite de resistência à
tração (S𝑀 ) da ordem de 450 MPa, o módulo de elasticidade de 80 GPa (CALLISTER;
RETHWISCH, 2007); a deformação na ruptura é da ordem de 37,5 % (0,375); o coefici-
ente de encruamento da ordem de 0,24, feitas as devidas conversões para a curva real (ver
discussão abaixo).
Existem dois conceitos importantes utilizados para descrever os resultados de tra-
ção: curvas tensão x deformação de engenharia ou convencional e curvas tensão x defor-
mação real. No primeiro caso tem-se uma simplificação bastante grosseira, que trata o
processo de deformação sob tração como sendo independente das variações da área da
seção transversal das variações do comprimento inicial dos corpos de prova. Desta forma,
a tensão (Si) e a deformação (e𝑖 ) de engenharia, ambas num instante qualquer durante o
ensaio, são assim definidas:
𝐹𝑖
𝑆𝑖 = (3.1)
𝐴0
Δ𝐿𝑖
𝑒𝑖 = (3.2)
𝐿0
Onde ΔL𝑖 é o alongamento, isto é, a diferença entre o um comprimento no instante
i (L𝑖 ) e no instante inicial do ensaio (L0 ); F𝑖 é a força atuante no instante i; A0 é a área
Capítulo 3. Ligas de alumínio 57
𝐿𝑖
(︂ )︂
𝜖𝑖 = 𝑙𝑛 (3.4)
𝐿0
A Figura 19 mostra a diferença entre estas duas curvas. Fica evidente que as
tensões na curva real são maiores que as tensões na curva de engenharia e que esta
primeira apresenta tensões sempre crescentes. Estas diferenças decorrem do fato de que
na curva real trata-se o fenômeno como ele de fato ocorre, isto é, para cada incremento de
alongamento tem-se uma redução correspondente da área da seção transversal da amostra.
No regime elástico linear, tem-se uma equação de estado que estabelece o compor-
tamento do material, definida pela lei de Hooke, cuja constante de proporcionalidade é o
módulo de elasticidade (E):
𝑆𝑖 = 𝐸.𝑒𝑖 (3.5)
No regime plástico uniforme, descrito numa curva tensão x deformação real, tem-se
uma equação de estado que estabelece o comportamento do material, definida pela lei de
Capítulo 3. Ligas de alumínio 58
Hollomon:
𝜎𝑖 = 𝐻.𝜖𝑛 (3.6)
∫︁ 𝑒𝑓
𝑈𝑇 = 𝑆.𝑑𝑒 (3.7)
0
2015) mostrou que existe uma relação direta entre a tenacidade à fratura e a capacidade de
absorver energia de deformação plástica à frente da trinca. Esta capacidade está associada
ao raio da zona plástica que será tanto maior quanto mais deformável for o material, ou
maior for a capacidade deste em distribuir deformação plástica uniformemente, ou seja,
quanto maior for o coeficiente de encruamento. Em outras palavras, a tenacidade à fratura
do material crescerá com o aumento do coeficiente de encruamento deste material. Hahn
e Rosenfield (HAHN; ROSENFIELD, 1975), mostram que a tenacidade à fratura sofre
diretamente as influências de diferentes parâmetros obtidos num ensaio de tração:
√︁
𝐾𝐼𝐶 = 𝑛. 𝑐.𝑆𝑒 .𝐸.𝑒𝑓 (3.8)
BROUGHTON; KUTZAK, 1971). Sua execução é bastante simples e rápida, sendo apli-
cada a uma gama elevada de materiais.
A dureza pode ser conceituada como sendo a capacidade que um material tem de
resistir à penetração ou pequenas deformações superficiais. Essa propriedade é de grande
importância tecnológica, tendo em vista que ela serve para controle de qualidade de rotina
em peça e produtos semiacabados. Um exemplo, é a realização do ensaio em engrenagens
cementadas e nitretadas, em que se deseja verificar o quanto esses processos irão influenciar
a mudança das propriedades mecânicas como resistência ao desgaste nessas regiões mais
superficiais da peça. Outro exemplo bastante prático, é a utilização do ensaio de peças que
sofreram tratamentos térmicos, cujo objetivo é o acompanhamento da influência desses
tratamentos nas propriedades finais dos produtos semiacabados.
Ao contrário de valores de propriedades relativos a tensão obtidos pelo ensaio de
tração, a dureza não é um parâmetro característico do material, pois é dependente da
carga aplicada, tipo de penetrador, entre outros. Pode ser considerado um ensaio não
destrutivo, pois, dependendo da aplicação do produto e o tamanho da indentação, a
deformação produzida por esta pode não influenciar o comportamento/funcionamento do
material ensaiado. Em contrapartida, o ensaio é considerado destrutivo quando o tamanho
da indentação for relativamente grande, tornando o corpo ensaiado não mas capaz de
exercer suas funções pós ensaio.
Existem varias metodologias diferentes para a aplicação do ensaio de dureza, sejam
elas: dureza Brinell, dureza Vickers, dureza Rockwell, dureza Knoop, entre outras. Cada
uma possui sua particularidade, tendo em vista a mudança do indentador, cargas de
aplicação e maneiras de medições dos valores de dureza.
A dureza Vickers possui um indentador padronizado, de forma de uma pirâmide
de diamante de base quadrada com ângulo de 136∘ entre as faces opostas (Figura 20).
Capítulo 3. Ligas de alumínio 61
O valor de dureza Vickers é representado pelo valor de dureza, seguido pelo símbolo
HV e de um número que indica o valor da carga aplicada. Por exemplo, 500 𝐻𝑉15 significa
que a carga de 15 kgf for aplicada para obtenção dos valores de dureza. O cálculo de dureza
nada mais é do que a relação entre força (kgf) e área da indentação (mm2 ), de forma que:
𝐹
𝐻𝑉 = (3.9)
𝐴
sabendo que:
2
𝑑
𝐴= (︁
136
)︁ (3.10)
2.𝑠𝑒𝑛 2
𝐹.2.𝑠𝑒𝑛(68)
𝐻𝑉 = (3.13)
𝑑2
chegando-se a fórmula resumida:
1, 8544.𝐹
𝐻𝑉 = (3.14)
𝑑2
A vantagem do ensaio Vickers é que ele fornece uma escala contínua de dureza,
medindo todas as gamas de valores de dureza numa única escala, além de que as impressões
Capítulo 3. Ligas de alumínio 62
são extremamente pequenas e, na maioria dos casos, não inutilizam as peças, mesmo as
acabadas. Seu penetrador, por ser de diamante, é praticamente indeformável, gerando
resultados mais precisos.
Uma de suas desvantagens é que em alguns casos, a preparação do corpo de prova
para microdureza deve ser feita, obrigatoriamente, por metalografia, utilizando-se, de
preferência, o polimento eletrolítico, para evitar o encruamento superficial. Outro aspecto
importante é que, quando são utilizadas cargas menores do que 300 gf (microdureza Vic-
kers), pode haver recuperação elástica, dificultando as medidas das diagonais. A máquina
de dureza Vickers requer aferição constante, pois qualquer erro na velocidade de aplicação
da carga traz grandes diferenças nos valores de dureza.
onde 𝜎𝑖𝑗 é o tensor tensão definido nas coordenadas i e j; 𝑓𝑖𝑗 (𝜃) é uma função do ângulo 𝜃;
𝐾𝐼 é o fator de concentração de tensões na ponta da trinca, a partir do qual pode se definir
componentes de tensão, deformação e abertura da trinca como função de coordenadas r
e 𝜃.
Uma vez que esteja governado por um componente um estado de deformação
plana a MFLE pode ser aplicada com uma notável precisão. É possível estabelecer uma
relação entre a tensão aplicada e o fator de intensificação de tensão considerando uma
placa infinita. Se todos os componentes de tensão locais forem proporcionais à tensão,
K também será proporcional a 𝜎, e, através de considerações oriundas das teorias da
elasticidade, pode-se estabelecer uma relação que também envolva o tamanho de trinca,
na condição mais comum em que o esforço externo seja perpendicular ao plano desta
Capítulo 3. Ligas de alumínio 65
por
)︂2
1 𝐾𝐼𝐶
(︂
𝑟𝑦 = (3.17)
6𝜋 𝜎𝑌 𝑆
onde 𝐾𝐼𝐶 é a tenacidade à fratura do material no estado plano de deformação; e 𝜎𝑌 𝑆 é o
limite de escoamento do material e representada na Figura 22.
De acordo com Broek (BROEK, 1982), a mecânica da fratura linear elástica terá
validade enquanto esta zona plástica for pequena quando comparada ao tamanho da trinca
que a origina. Este é o caso em materiais onde a fratura ocorre em tensões apreciavelmente
abaixo do limite de escoamento e sob condições de deformação plana. Estas considerações
teóricas acrescidas de observações experimentais dos resultados a tenacidade a fratura de
diversos materiais estabelecem que 𝐾𝐼 pode ser tomado como 𝐾𝐼𝐶 desde que o tamanho
Capítulo 3. Ligas de alumínio 67
corpo de prova no qual exista uma trinca. No entanto, a determinação experimental desse
valor não é algo imediato, havendo uma série de requisitos e condições para realizar um
ensaio válido. De forma resumida, o ensaio consiste na aplicação de uma carga, com baixa
velocidade de carregamento, registrando-se ao mesmo tempo a intensidade da carga e
a abertura da trinca junto à superfície do corpo de prova. Esta carga é aplicada até a
ruptura do material ou instabilidade da trinca. O corpo de prova, anteriormente ao ensaio,
deve ter sofrido uma solicitação de fadiga para provocar uma trinca aguda no fundo do
entalhe usinado (ROSA, 1997).
Na análise dos efeitos da curva R em corpos de prova chevron, Baker sugeriu que
este tipo de corpo de prova é intrinsecamente independente da porção crescente da curva
R. A curva R crescente tem seu efeito visto como um aumento na tensão, resultado do
desenvolvimento de uma zona plástica na frente da trinca. Um valor de tenacidade válido
é medido somente após uma quantidade considerável de extensão de trinca e completo
desenvolvimento de plasticidade na frente de trinca acima do patamar da curva R. A
tenacidade pode, entretanto, ser menor do que aquela medida pelo corpo de prova chevron.
Esse efeito seria mais pronunciado em ligas de alta resistência como a liga 2024, onde
os efeitos associados a plasticidade são mais importantes (MORRISON; KARISALLEN,
1992).
detalhado pela norma ASTM E1304, que é o ensaio utilizado neste trabalho.
A metodologia convencional utiliza uma pré-trinca de fadiga com tamanho conhe-
cido, como uma forma de preparar o corpo de prova para o ensaio de tenacidade à fratura.
Isso é um problema quando se tem materiais frágeis devido à dificuldade de controlar o
crescimento da trinca (MUNZ, 1981). Em experiências realizadas no IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas), não foi possível controlar o crescimento de trincas de fadiga utili-
zando amostras extraídas de cilindros laminadores, pois o material se comportou de forma
extremamente frágil, fraturando catastroficamente durante o método do pré-trincamento
(SILVA; MENDANHA; GOLDENSTEIN, 2005).
Figura 26 – Curvas R em (a) para materiais idealmente frágeis e (b) para materiais de
engenharia (ANDERSON, 2005, adaptado).
Δ𝑊 = 1/2.𝑃.Δ𝑣 (3.23)
Δ𝐶 = Δ𝑣/𝑃 (3.24)
Ainda, relacionando a equação 3.25 com a equação 3.22, vem que a relação entre
a taxa de liberação de energia (𝐺) e a variação da flexibilidade (𝑑𝐶) com o aumento do
tamanho de trinca (𝑑𝑎) é:
𝑑𝐶
𝐺 = (𝑃 2 /2.𝐵) (3.26)
𝑑𝑎
e como
𝐾𝐼2
𝐺𝐼 = (3.27)
𝐸
e tomando ΔC → 0 e Δa → 0 temos que:
𝑃𝑚á𝑥
𝐾𝐼𝐶𝑉 = √ .𝑌𝑚 (3.28)
𝐵 𝑤
onde 𝐾𝐼𝐶𝑉 é a tenacidade a fratura, 𝑃𝑚á𝑥 é a carga máxima obtida durante o ensaio, W e
B são as dimensões do corpo de prova e 𝑌𝑚 é o fator de intensidade de tensão geométrico
mínimo, definido pela geometria do corpo de prova e independente do material ensaiado.
(︃ )︃
(1 + 𝑝) 𝑑𝐶
𝐺= (𝑃 2 /2.𝐵) (3.29)
(1 − 𝑝) 𝑑𝑎
logo:
(︃ )︃1/2
𝑃𝑚á𝑥 1+𝑝
𝐾𝐼𝐶𝑉 = √ 𝑌𝑐* (3.30)
𝐵 𝑤 1−𝑝
A norma ASTM 1304 (ASTM, 2014) sugere que se faça pelo menos dois ciclos
de carregamento e descarregamento da carga durante o ensaio, antes e depois de chegar
na carga máxima, para assim definir o grau de plasticidade (p) do corpo de prova. Ele é
definido pela relação entre distância entre as tangentes médias de dois ciclos adjacentes
de descarregamento e carregamento tomada na abscissa, ou seja, com carga nula (Δ𝑥0 ) e
a tomada no ponto médio das cargas máximas de cada um dos ciclos de carregamento e
descarregamento (Δ𝑥), como mostra a Figura 28.Com isso, p = Δ𝑥0 /Δ𝑥.
O fator 𝑌𝑐* pode ser definido pelo método da “compliance” (SAKAI; BRADT,
1993) e através de métodos numéricos (NEWMAN, 1984). Além do método experimen-
tal da flexibilidade (“compliance”) proposto por Barker, Munz propôs um tratamento
diferente, em que tomou como similares a flexibilidade do corpo de prova chevron e a fle-
xibilidade do corpo de prova com entalhe reto. Este modelo é conhecido como o STCA (do
inglês, Straight Through Crack Assumption. Os resultados experimentais apresentados na
literatura confirmam esta possibilidade, uma vez que o erro inerente a esta aproximação
foi da ordem de 1,0 %. Neste caso, o tratamento analítico da variação da flexibilidade do
sistema com o tamanho da trinca, a partir dos conceitos de taxa de liberação de energia
Capítulo 3. Ligas de alumínio 75
durante o crescimento de uma trinca (𝐺) proposta por Irwin apenas acrescenta à formu-
lação para o corpo de prova com entalhe reto (equação 3.31) as correções geométricas
próprias do entalhe chevron.
{︃ }︃1/2
1 𝑑𝐶𝑠 (𝛼)
𝑌𝐶 = (3.31)
2 𝑑𝛼 𝛼=𝛼𝑐
{︃ }︃1/2
1 𝑑𝐶𝑠 (𝛼) 𝛼1 − 𝛼0
𝑌𝐶* (𝛼0 , 𝛼1 , 𝛼𝐶 ) = (3.32)
2 𝑑𝛼 𝛼 − 𝛼0 𝛼=𝛼𝑐
De acordo com a norma ASTM E 1304 (ASTM, 2014), deve-se examinar a su-
perfície de fratura não somente para determinar qualquer imperfeição no crescimento de
trinca, como também o quão bem o plano da trinca esteve inserido dentro da espessura do
entalhe. Se a superfície real da trinca desviou por mais de 0,04B dos limites estabelecidos
pela espessura do entalhe quando a largura da frente da trinca é um terço da espessura
B, o teste é considerado inválido. A Figura 30 mostra a representação esquemática dessa
limitação. Em um ensaio considerado ideal, a trinca cresceria até a fratura do corpo de
prova em 90∘ com relação à direção de carregamento. Seria considerado ótimo, o ensaio
que o crescimento de trinca se desse nos limites estabelecidos pela espessura do entalhe.
4 Materiais e Métodos
Ensaio de tenacidade
Condição Ensaio de tração
à fratura
Entrega (2EE-S1) / (2EE-S2) / (7EE) 3/3/3 0/2/2
8h (208-S1) / 1h (201-S2) / 8h (708) 3/3/3 0/2/2
10h (210-S1) / 3h (203-S2) / 10h (710) 3/3/3 0/2/2
12h (212-S1) / 5h (205-S2) / 12h (712) 3/3/3 0/2/2
16h (216-S1) / 8h (208-S2) / 16h (716) 3/3/3 0/2/2
24h (224-S1) / 12h (212-S2) / 24h (724) 3/3/3 0/2/2
Liga 2024 = 36 Liga 2024 = 12
Liga 7075 = 18 Liga 7075 = 12
Subtotal = 54 Subtotal = 24
Total = 78 amostras para as duas ligas
disco dentado específico para corte em materiais metálicos. Podemos considerar que este é
um método inovador e de baixo custo, visto que para grandes chapas, geralmente o corte
é feito a laser (o que afeta termicamente a liga), ou utilizando uma serra fita vertical
(custo elevado e de difícil disponibilidade), além de que o disco é utilizado somente para
cortes em chapas de pequeno comprimento. O disco é específico para corte à seco e sem
grande aumento de temperatura, o que é desejoso para o trabalho de forma a não promover
nenhum evento térmico no material que possa comprometer alguma propriedade antes dos
ensaios. Foi verificado (manualmente) que não houve nenhum aumento de temperatura
significativo nas chapas e nos tarugos após o corte.
4.4.1.1 Entalhamento
Para a produção do entalhe em todos os corpos de prova chevron, foi utilizado uma
fresadora horizontal, em que a ferramenta de corte foi uma serra circular de aço rápido
com 63 mm de diâmetro e espessura 0,4 mm. Para produzir metade do entalhe, o corpo
de prova foi preso pela morsa formando um ângulo de aproximadamente 27,5∘ em relação
à horizontal, onde a serra circular foi retirando material com movimentos horizontais e
profundidade de 0,8 mm. Isso foi feito também para a outra metade, produzindo um
entalhe com ângulo de aproximadamente 55∘ C (Figura 33). Em todo o corte, foi utilizado
querosene para um melhor acabamento superficial e óleo para diminuir o atrito.
Capítulo 4. Materiais e Métodos 83
O último passe foi dado promovendo uma profundidade de 0,10 mm, com mo-
vimento discordante, cujo objetivo é promover um melhor acabamento superficial (MA-
CHADO et al., 2009) nas faces do entalhe. Foi utilizado uma maior quantidade de quero-
sene nesta operação e não foi utilizado óleo.
Apesar da norma ASTM E1304 especificar uma geometria de corte do entalhe
como mostra a Figura 34a, o entalhe produzido, devido a dificuldade de aquisição de
ferramenta corte com essa geometria, apresenta geometria como mostrada na Figura 34b.
Capítulo 4. Materiais e Métodos 84
(a) (b)
existe mesmo depois que se atinge o regime permanente dependendo da posição da amostra
dentro do forno.
Foi utilizado um indicador de temperatura ICEL TD-880, com resolução de dé-
cimo de grau e termopar tipo K, colocado o mais próximo possível das amostras, com o
objetivo de monitorar a temperatura em torno de 480 ∘ C. Para garantir a temperatura
de tratamento, o termopar e o indicador de temperatura foram calibrados no laboratório
de Metrologia da UFRN (LABMETROL/UFRN), em que, pós calibração, a variação de
temperatura medida no termopar utilizado está dentro de um erro considerado admissível.
Esse procedimento é essencial para que o tratamento seja o mais homogêneo pos-
sível, sendo este medido em todas as ligas que sofreram tratamento térmico.
Após o tempo de tratamento, as amostras eram temperadas em água a temperatura
ambiente, utilizando um recipiente relativamente grande quando comparado ao tamanho
das amostras, cujo objetivo de se realizar a maior taxa de resfriamento possível, já que,
dependendo da forma que ocorre o resfriamento rápido ou não nas ligas de alumínio,
ocorrem variações importantes nas propriedades mecânicas finais (KAÇAR; GÜLERYÜZ,
2015).
Para o ensaio chevron, foi utilizado uma máquina de ensaios universal Shimadzu
com célula de carga de 300 kN. Garras especiais com dureza superior a 45 HRC foram
utilizadas para os ensaios das duas ligas com espessuras diferentes, sendo fabricadas de
Capítulo 4. Materiais e Métodos 88
𝑃𝑚á𝑥
𝐾𝐼𝐶𝑉 = √ .𝑌𝑚 (4.2)
𝐵 𝑤
Figura 37 – Curva obtida durante o ensaio chevron do estado de entrega da liga 7075. Os
limites de dados válidos são obtidos para as inclinação dentro do intervalo 1,2
𝑟𝑐 e 0,8 𝑟𝑐 .
Alguns critérios foram utilizados para validação dos valores finais de tenacidade à
fratura. Um deles é a verificação da curva força x deslocamento obtida do ensaio chevron,
com o objetivo de verificar qualquer irregularidade que venha comprometer os resultados,
comparando os gráficos apresentados na literatura (ESCHWEILER; MARCI; MUNZ,
1984).
A superfície de fratura foi examinada não somente para enxergar qualquer im-
perfeição no crescimento de trinca, como também o quão bem o plano da trinca esteve
inserido dentro da espessura do entalhe, cujo desvio não deve ultrapassar mais do que
0,04B a superfície prevista pela espessura do entalhe quando a largura da frente da trinca
Capítulo 4. Materiais e Métodos 90
)︂2
𝐾𝐼𝐶
(︂
𝐵 ≥ 1, 25 (4.3)
𝜎𝑌 𝑆
Para isso, essa relação foi verificada através dos valores de tensão de escoamento
médio obtidos pelo ensaio de tração (seção subsequente) para cada corpo de prova chevron
ensaiado. Se o valor de espessura B ensaiado por este trabalho for maior do que este critério
utilizado, K𝐼𝑄 pode se tornar K𝐼𝐶𝑉 juntamente com os critérios de validação estabelecidos
anteriormente.
Parte III
Resultados e Discussão
92
5 Resultados e discussão
Em relação à liga 2024, pode ser observado uma quantidade menor de precipitados
primários em relação à liga 7075, além de que essa última apresenta uma maior direci-
onalidade no sentido de laminação. Isso pôde ser comprovado utilizando o software de
refinamento de imagem ImageJ, obtendo-se tamanho e fração de área dos precipitados
primários em cada microestrutura. Para a liga 2024, sua fração em área média foi 2,667 %
± 0,024, enquanto que para a liga 7075 sua fração de área média corresponde a 4,684 %
± 0,472, mostrando que realmente há uma maior quantidade de precipitados na liga 7075
para os mesmos aumentos quando comparados com a liga 2024. Em relação ao tamanho
médio dos precipitados primários, a liga 2024 apresentou média de 68,992 𝜇𝑚2 ± 43,544,
enquanto que a liga 7075 apresentou 56,611 𝜇𝑚2 ± 4,65.
Outra característica a ser considerada quando se observa a superfície S (de maior
deformação), é que na liga 7075 há um maior estiramento entre as camadas, muito pro-
vavelmente provocado por um nível de deformações maiores. Esta diferença decorre da
diferença das duas ligas terem sido fornecidas em diferentes graus de laminação a quente,
estando a liga 2024 com menor grau de redução (espessura de 38 mm) em comparação
com a liga 7075 (espessura de 26 mm).
Estudando-se o processo de fabricação de ambas as chapas da liga 2024 e 7075,
podemos afirmar que a microestrutura não está recristalizada. Isso se deve ao fato de que,
o processo de fabricação das chapas é caracterizado pela têmpera T351 (liga 2024) e T651
(liga 7075), sendo especificados por norma (NBR 6835) os processos de: i) solubilização,
com temperaturas típicas entre 480 ∘ C e 505 ∘ C (TOTTEN; MACKENZIE, 2003; POL-
MEAR, 1989) (o que recristalizaria ambas as ligas, pois a temperatura de recristalização
Capítulo 5. Resultados e discussão 94
Composição % peso
Liga Si Fe Cu Mn Mg Cr Zn Ti Al
0,16 0,13 4,83 0,72 1,77 0,03 0,14 0,05
2024 restante
±0,01 ±0,001 ±0,06 ±0,02 ±0,10 ±0,01 ±0,01 ±0,01
0,17 0,30 1,57 0,07 3,34 0,26 6,30 0,03
7075 restante
±0,01 ±0,01 ±0,03 ±0,01 ±0,11 ±0,01 ±0,08 ±0,01
(e) Solubilizada a 480 ∘ C 2,5h + envelhecimento a (f) Solubilizada a 480 ∘ C 2,5h + envelhecimento a
190 ∘ C por 3h (máximo de dureza) 190 ∘ C por 12h (liga superenvelhecida)
Figura 40 – Comparação das micrografias da liga 2024 obtidas por MEV do estado de
entrega (a), solubilizada por 1h (b), solubilizada por 8h (c), subenvelhecida
(1h) (d), máxima dureza (3h) (e) e superenvelhecida (12h) (f). Elétrons re-
troespalhados e ataque Poulton modificado.
Capítulo 5. Resultados e discussão 96
Tamanho em
Fração em área
Condição área médio
[%]
[𝜇𝑚2 ]
20,52 0,99
2EE
±17,43 ±0,29
Solubilizada 26,99 1,55
1h ±25,51 ±0,77
Solubilizada 31,04 3,18
8h ±25,21 ±0,98
27,54 2,03
201
±22,45 ±0,14
30,60 3,06
203
±26,80 ±1,78
31,42 3,20
212
±26,83 ±0,76
visto que esta composição é a que mais se aproxima estequiometricamente desse tipo de
precipitado; o precipitado mais facetado em tom de cinza escuro (PONTO 3); o precipitado
mais escuro envolto de uma região mais clara (PONTO 4); e o precipitados parecidos com
os mostrados no PONTO 2, são mais claros, mas apresentam certas ”manchas” cinza no
plano do precipitado, possuindo (os únicos) pouca quantidade de zinco (PONTO 5).
vista que esses precipitados apesar de serem pequenos, são responsáveis por uma certa fra-
gilização do material quando comparados com a microestrutura que não apresentam esses
precipitados. Conforme propõe a literatura, tempos maiores de envelhecimento promovem
um engrossamento cada vez maior dos precipitados. Observando-se a Figura 42f, que re-
presenta a condição superenvelhecida por 24h, a técnica de caracterização microestrutural
aqui utilizada, nos limita a comprovar este fato, visto que não há variação significativa do
tamanho dos precipitados mais finos que apontem um engrossamento maior.
Capítulo 5. Resultados e discussão 99
(e) Solubilizada a 480 ∘ C 2,5h + envelhecimento a (f) Solubilizada a 480 ∘ C 2,5h + envelhecimento a
145 ∘ C por 12h (máximo de dureza) 145 ∘ C por 24h (superenvelhecida)
Figura 42 – Comparação das micrografias da liga 7075 obtidas por MEV do estado de
entrega (a), solubilizada por 1h (b), solubilizada por 8h (c), subenvelhecida
(8h) (d), máxima dureza (12h) (e) e superenvelhecida (24h) (f). Elétrons
retroespalhados e ataque Poulton modificado.
Capítulo 5. Resultados e discussão 100
Assim como na liga 2024, praticamente não houve crescimento dos precipitados
primários mesmo após solubilização mesmo variando-se o tempo em 1h e 8h, e também
na solubilização (2,5h) mais o envelhecimento das ligas. A Tabela 5 apresenta os valores
de tamanho médio em área e fração volumétrica desses precipitados primários para a liga
7075.
Tabela 5 – Tamanho médio e fração em área dos precipitados da liga 7075.
Tamanho em
Fração em área
Condição área médio
[%]
[𝜇𝑚2 ]
39,33 1,42
7EE
±23,09 ±1,06
Solubilizada 26,67 1,22
1h ±24,01 ±0,12
Solubilizada 30,67 1,40
8h ±27,61 ±0,14
26,72 2,19
708
±25,01 ±1,11
23,26 1,58
712
±18,14 ±1,39
33,86 2,45
724
±28,16 ±0,64
Os precipitados mais distinguíveis, estão apresentados na Figura 44, são eles: pre-
cipitados com aparência um pouco mais clara, apresentando uma certa ”rugosidade”
(PONTO 1); precipitados que apresentam regiões mais claras e lisas (PONTO 2); preci-
pitados em um tom de cinza para preto (PONTO 3); e precipitados facetados em tom
mais cinza, envolto por um tom mais escuro (PONTO 4).
Capítulo 5. Resultados e discussão 101
Liga 2024-S2
Estado de entrega
500
envelhecido 1h
400
envelhecido 5h
envelhecido 3h
envelhecido 8h
Tensão [MPa]
300
envelhecido 12h
200
100
Deformação [mm/mm]
Figura 45 – Curvas características obtidas nos ensaios de tração para a liga 2024-S2 em
diferentes condições de tratamentos térmicos.
E S𝑒𝑠𝑐 S𝑚𝑎𝑥 S𝑟 RA 𝜖𝑓 U𝑇 H
Liga n
[GPa] [MPa] [MPa] [MPa] % [m/m] [MJ/m3 ] [MPa]
64,64 372,15 467,5 447,17 25,07 0,2130 91,63 702,51 0,1509
2EE-S2
±1,25 ±10,03 ±1,73 ±3,01 ±2,05 ±0,0002 ±0,09 ±8,74 ±0,0033
66,73 251,02 418,9 393,4 34,13 0,2889 108,05 715,25 0,2286
201-S2
±19,54 ±1,18 ±4,41 ±1,19 ±10,45 ±0,0282 ±12,29 ±7,56 ±0,0033
63,93 303,22 431,05 402,38 38,26 0,2238 87,89 697,89 0,1850
203-S2
±6,52 ±2,78 ±3,26 ±1,93 ±0,93 ±0,0025 ±0,6 ±4,46 ±0,0001
62,05 368,67 454,89 412,79 32,02 0,1333 55,95 669,62 0,1259
205-S2
±3,61 ±5,42 ±1,68 ±1,23 ±3,73 ±0,0084 ±3,52 ±0,25 ±0,0029
63,14 373,89 444,54 384,69 36,18 0,0991 40,34 639,74 0,1101
208-S2
±5,57 ±8,68 ±5,32 ±7,40 ±5,31 ±0,0067 ±2,22 ±0,31 ±0,0052
67,93 372,47 445,7 379,3 33,85 0,0991 37,20 662,04 0,1194
212-S2
±0,29 ±5,48 ±1,17 ±0,47 ±0,78 ±0,0026 ±1,59 ±17,86 ±0,0076
Outro fato interessante a ser notado é que, no gráfico mostrado na Figura 46,
que relaciona limite de resistência à tração, porcentagem de redução de área e tempo de
envelhecimento, aponta algo também não comum. Para o tempo de 3h de envelhecimento
(máxima dureza) o material nessa condição apresenta os maiores valores de redução de
área (38,26% ± 0,93%) quando comparadas as outras condições.
Liga 2024-S2
480 60
Limite de resistência à tração
58
Estado de entrega
% Redução de área
56
Limite de resistência à tração [MPa]
460 54
52
50
48
% Redução de área
440
46
44
42
420
40
38
36
400 34
32
30
380 28
Estado de entrega
26
24
360 22
0 2 4 6 8 10 12
Tempo de envelhecimento a 190 °C [h]
tende a uma certa relação proporcional com o limite de resistência à tração. Porém, como
a liga na condição de envelhecimento por 3h apresenta alto valor de dureza e relativo
alto valor de redução de área, e, observando o comportamento da deformação longitudi-
nal, ocorre relação proporcional com a alta estricção, visto que os valores se apresentam
próximos na condição de mais baixa dureza (1h), confirmando que a liga para o envelhe-
cimento de 3h (máxima dureza), apresenta tanto elevado valor de redução de área, como
de deformação longitudinal.
2024-S2
480 0,30
Limite de resistência à tração
400 0,24
0,22
Tensão [MPa]
360
0,20
Estado de entrega
320
0,18
0,16
280
0,14
240
0,12
0,10
200
0,08
0 2 4 6 8 10 12
Liga 2024-S2
76
72
380
360 70
340 Estado de entrega
68
320
300 66
280 64
260
62
240
220 60
0 2 4 6 8 10 12
Tempo de envelhecimento 190 °C [h]
Liga 2024-S2
120 0,30
Tenacidade (área abaixo da curva)
Deformação longitudinal
110
90
Tenacidade [MJ/m ]
3
80
60
0,15
50
40
30 0,10
20
0 2 4 6 8 10 12
Liga 7075
envelhecido 12h
Estado de entrega
600
envelhecido 10h
400
300
200
100
Deformação [mm/mm]
Figura 50 – Curvas características obtidas nos ensaios de tração para a liga 7075 em
diferentes condições de tratamentos térmicos.
E S𝑒𝑠𝑐 S𝑚𝑎𝑥 S𝑟 RA 𝜖𝑓 U𝑇 H
Liga n
[GPa] [MPa] [MPa] [MPa] % [m/m] [MJ/m3 ] [MPa]
69,45 528,2 587,74 575,72 17,48 0,0992 54,46 778,85 0,0829
7EE
±0,45 ±2,60 ±4,77 ±3,43 ±2,14 ±0,0025 ±1,32 ±15,92 ±0,0045
68,17 527,6 585,69 565,43 21,77 0,0904 49,17 775,39 0,0813
708
±0,89 ±1,30 ±1,48 ±6,11 ±4,13 ±0,0005 ±0,15 ±0,86 ±0,0002
66,39 535,1 587,57 553,87 19,58 0,0867 47,88 768,91 0,0756
710
±7,38 ±3,90 ±5,40 ±0,76 ±3,14 ±0,0061 ±2,74 ±17,35 ±0,0055
67,67 532,8 587,27 555,99 18,17 0,0822 44,27 785,08 0,0828
712
±11,08 ±26,00 ±19,43 ±16,80 ±1,16 ±0,0078 ±3,07 ±15,72 ±0,0058
65,44 491,3 536,64 509,06 21,52 0,0705 32,86 720,75 0,0818
716
±2,07 ±36,60 ±49,27 ±36,19 ±3,77 ±0,0236 ±15,89 ±64,52 ±0,0039
65,14 497,3 538,51 504,78 23,74 0,0672 33,53 714,73 0,0772
724
±4,14 ±47,40 ±57,57 ±51,93 ±6,91 ±0,0283 ±17,82 ±80,03 ±0,0072
Liga 7075
680 Limite de resistência à tração
220
Dureza HV 7075
660 10
620 180
600
10
Estado de entrega
Dureza HV
160
580
560
140
540
520 120
500
100
480
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo de envelhecimento a 145 °C
por outro lado, algumas características apontam certos desvios, levantando uma hipótese
que, essas ligas quando submetidas a um carregamento, há ocorrência de fenômenos que
influenciam essas respostas.
Liga 7075
640
Limite de resistência à tração
50
% Redução de área
620
Limite de resistência à tração [MPa]
600 45
580
% Redução de área
40
560
35
540
Estado de entrega 30
520
500 25
480 20
460
15
440
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo de envelhecimento a 145 °C
como na liga 2024-S2, ocorre uma relação quase direta entre limite de resistência à tração
e tensão de escoamento. Porém, a deformação longitudinal tendeu a fugir um pouco dos
moldes mais clássicos, pois a medida que estas tensões começaram a diminuir, os valores
de deformações também caíram. Comparando com os valores de dureza obtidos para essa
liga em cada condição, não é possível afirmar que a deformação longitudinal explicite
alguma relação com esta propriedade, já que a relação é mais distinta ainda. Com isso, há
necessidade de implementação de novas técnicas para verificar o porquê dessa propriedade
ser bastante diferente das demais.
Liga 7075
620 Limite de resistência à tração 0,20
Tensão de escoamento 0,2%
Deformação longitudinal
0,19
600
0,18
0,16
560
0,15
540
Tensão [MPa]
0,13
520
0,12
500
0,11
480 0,10
0,09
460
0,08
440 0,07
0,06
420
0,05
400 0,04
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Liga 7075
Tensão de escoamento
540
520 80
500
480 Estado de entrega
75
460
70
440
420 65
400
380 60
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo de envelhecimento 145 °C [h]
Liga 7075
60 0,14
Tenacidade (área abaixo da curva)
Deformação longitudinal
55 0,13
Deformação longitudinal [mm/mm]
50 0,12
45 0,11
Tenacidade [MJ/m ]
3
40 0,10
35 0,09
Estado de entrega
30 0,08
25 0,07
20 0,06
15 0,05
10 0,04
5 0,03
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
K𝐼𝑄
√ S𝑒𝑠𝑐 B𝑚𝑖𝑛
Liga W/B 𝑎0 /W 𝑌𝑚*
[MPa 𝑚] [MPa] [mm]
56,88 372,15
2EE 1,45 0,332 28,22 29,21
±2,56 ±10,03
73,541 251,02
201 1,45 0,332 28,22 107,30
±0,96 ±1,18
58,66 303,22
203 1,45 0,332 28,22 46,78
±2,41 ±2,78
55,54 368,67
205 1,45 0,332 28,22 28,38
±5,33 ±5,42
60,28 373,89
208 1,45 0,332 28,22 32,49
±2,27 ±8,68
62,34 372,47
212 1,45 0,332 28,22 35,02
±3,61 ±5,48
1
Os valores de tenacidade à fratura apresentados por esta condição (201) são tomados na verdade como
K𝑄 , tendo em vista que esses corpos de prova apresentaram desvio significativo do estado plano de
deformações, passando a fratura a se tornar uma mistura de modo I + modo II.
Capítulo 5. Resultados e discussão 112
Figura 56 – Relação entre tenacidade à fratura e espessura para a liga 2024 com valores
de K𝐼𝐶 e espessura B estabelecidos pela ASTM E1304.
K𝐼𝑄
√ S𝑒𝑠𝑐 B𝑚𝑖𝑛
Liga W/B 𝑎0 /W 𝑌𝑚*
[MPa 𝑚] [MPa] [mm]
24,99
7EE 1,45 0,332 28,22 528,23 2,80
±2,80
30,59
708 1,45 0,332 28,22 527,61 4,20
±4,20
31,51
710 1,45 0,332 28,22 535,14 4,33
±4,34
30,57
712 1,45 0,332 28,22 532,785 4,11
±4,11
30,68
716 1,45 0,332 28,22 491,26 4,88
±4,88
32,08
724 1,45 0,332 28,22 497,25 5,20
±5,20
Figura 57 – Relação entre tenacidade à fratura e espessura para a liga 7075 com valores
de K𝐼𝐶 e espessura B estabelecidos pela ASTM E1304.
Mecânica da Fratura Linear Elástica (MFLE) e tornando o ensaio inválido. Além disso,
foi visto após os ensaios dos corpos de prova, uma deformação na direção Z (mesma di-
reção da espessura), novamente provando que a espessura B = 15 mm não foi suficiente
para validação do ensaio nessas condições de envelhecimento. Apesar disso, a condição de
entrega (2024-T351) apresentou uma fratura puramente modo I, e seu gráfico apresentou
semelhança com aquele encontrado na Figura 29c.
4000
3000
Força [N]
ga
tre
2000
en
h
h
h
10
24
8h
de
12
16
o
o
o
o
o
cid
cid
cid
d
cid
cid
1000
ta
lhe
lhe
lhe
lhe
lhe
Es
ve
ve
ve
ve
ve
en
en
en
en
en
Deslocamento [mm]
(a) (b)
13500
12000
10500
9000
Força [N]
7500
a
6000
eg
h
3h
5h
1h
8h
tr
12
en
4500
do
do
do
do
do
de
ci
ci
ci
ci
ci
e
e
e
3000
e
o
lh
lh
lh
lh
lh
ad
ve
ve
ve
ve
ve
st
en
en
en
en
1500
en
E
Deslocamento [mm]
(c) (d)
Figura 58 – Curvas obtidas pelo ensaio chevron força versus tempo para os diferentes
tempos de envelhecimento da liga 2024-S1 (a), (b) plano da trinca com desvio
fora dos limites que a ASTM E1304 especifica, curvas obtidas pelo ensaio
chevron força versus tempo para os diferentes tempos de envelhecimento da
liga 2024-S2 (c) e (d) plano de trinca dentro dos limites que a ASTM E1304
especifica.
160
Estado de entrega 2024-S1 (HV )
10
150
145
140
135
Dureza HV
130
125
120
115
110
105
Solubilizada 480°C 2,5h
100
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo de envelhecimento [h]
Isso nos mostra que, o tratamento térmico realizado na liga 2024-S1 com espessura
B = 15 mm, tratamento de solubilização a 480 ∘ C e envelhecimento a 145 ∘ C, mesmo va-
riando o tempo em 8h, 10h, 12h, 16h e 24h, ocorreu uma tenacificação significativa nesta
liga, tornando a espessura B insuficiente para a predominância do estado plano de defor-
mação. Fato que também ocorreu na liga 2024-S2, em que mesmo aumentando a espessura
para B = 25 mm e alterando o tratamento (solubilização a 480 ∘ C e envelhecimento a 190
∘
C por 1h), ambas fugiram dos moldes da mecânica da fratura linear elástica, portanto,
Capítulo 5. Resultados e discussão 116
2024-S2
76 Estado de entrega 160
Tenacidade à fratura
74 Dureza 2024-S2
72 150
]
1/2
70
Tenacidade à fratura [MPa.(m)
68 140
66
15
130
Dureza HV
64
62
120
60
58 110
56
54 100
Solubilizada
52
Estado de entrega
50 90
0 2 4 6 8 10 12
Tempo de envelhecimento a 190 °C [h]
Liga 2024-S2
76 0,28
Tenacidade à fratura (K )
Q
74
Coeficiente de encruamento
72 0,26
]
70
1/2
68 0,24
Coeficiente de encruamento
Tenacidade à fratura [MPa.(m)
66
64 0,22
62
60 0,20
58
56 0,18
54
52 0,16
50
46
44 0,12
42
40 0,10
38
0 2 4 6 8 10 12
Liga 2024-S2
76
74
Tenacidade à fratura (K
IQ
)
140
72 Tenacidade
130
70
]
1/2
68 120
Tenacidade [MJ/m³]
64
62 100
60
58 90
56
54 80
Estado de entrega
52 70
50
48 60
46
50
44
42 40
40
0 2 4 6 8 10 12
Tempo de envelhecimento a 190 °C [h]
3500
3000
2500
2000
Força [N]
a
1500
eg
h
h
h
h
24
8h
10
16
tr
12
en
do
do
do
do
do
1000
de
ci
ci
ci
ci
ci
e
e
e
e
o
lh
lh
lh
lh
lh
ad
ve
ve
ve
ve
ve
500
st
en
en
en
en
en
E
Deslocamento [mm]
Figura 63 – Curvas obtidas pelo ensaio chevron força versus tempo para os diferentes
tempos de envelhecimento da liga 7075.
(a) liga 2024 no estado de entrega (b) liga 7075 no estado de entrega
gráfico é que, mesmo a dureza variando significativamente entre alguns desses tempos
de envelhecimento, a tenacidade à fratura não experimentou grandes mudanças. Pode-se
concluir que, para essa liga, nesses tempos de tratamento com temperatura de 145∘ C, não
há influencia significativa na tenacidade à fratura.
Liga 7075
36 Tenacidade à fratura 220
Dureza HV 7075
10
34 215
]
210
1/2
32
Tenacidade à fratura [MPa.(m)
205
30
200
10
28
Dureza HV
195
26 190
185
24 Estado de entrega
180
22
175
20 170
18 165
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo de envelhecimento a 145 °C
Liga 7075
36
Tenacidade à fratura
0,100
Coeficiente de encruamento
34
]
0,096
1/2
Tenacidade à fratura [MPa.(m)
Coeficiente de encruamento
32
0,092
30
0,088
28
0,084
26
0,080
24
0,076
Estado de entrega
22 0,072
20 0,068
18 0,064
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Como discutido anteriormente para a liga 2024-S2, que mostra a relação entre
tenacidade à fratura e a tenacidade obtida pelo ensaio de tração, os precipitados secun-
dários aumentaram de tamanho devido aos longos tempos de envelhecimento, causando
uma diminuição de átomos de soluto na matriz adjacente, tornando-a mais dúctil. Com
a matriz mais dúctil ocorre um ”freamento” no crescimento de trinca, elevando o valor
de tenacidade. Aqui este efeito pode ser visualizado de forma mais pronunciada, em que
a razão tenacidade/tenacidade à fratura está, em termos valores numéricos, em torno de
2,6 para 24h, enquanto que para a 2024-S2 está em torno de 1,4 (quase metade) para 12h.
Capítulo 5. Resultados e discussão 122
Liga 7075
36
Tenacidade à fratura
Tenacidade
90
34
]
80
1/2
32
Tenacidade [MJ/m³]
30
60
28
50
26
24 Estado de entrega
40
22 30
20 20
18 10
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo de envelhecimento a 145 °C
Figura 68 – Comparação das superfícies de fratura da liga 2024-S1 obtidas por MEV do
estado de entrega (a), envelhecida 8h (b) e envelhecida 24h (c).
as superfícies, pode ser visto uma mistura de fratura por dimples e algumas fraturas por
clivagem dos precipitados maiores, sejam estes com o aspecto mais rugoso ou mais liso.
As superfícies mostradas nas Figuras 69a e c, apresentam algumas similaridades, visto
que ambas possuem algumas regiões mais planas e menos rugosas quando comparadas
com as Figuras 69b e d, indicando que esses materiais, nessas configurações, são mais
duros e consequentemente menos tenazes. Isso pode ser comprovado pelo gráfico da Fi-
gura 60, em que pode ser encontrado valores de tenacidade e dureza bastante próximos.
Para as condições subenvelhecida (b) e superenvelhecida (d), estas apresentaram regiões
com grande quantidade de dimples, tornando a superfície com um aspecto mais rugoso,
indicando uma característica de material dúctil.
Capítulo 5. Resultados e discussão 124
Figura 69 – Comparação das superfícies de fratura da liga 2024-S2 obtidas por MEV do
estado de entrega (a), subenvelhecida (1h) (b), máximo de dureza (3h) (c) e
superenvelhecida (12h) (d).
Figura 70 – Comparação das superfícies de fratura da liga 7075 obtidas por MEV do
estado de entrega (a), subenvelhecida (8h) (b), máximo de dureza (12h) (c)
e superenvelhecida (24h) (d).
Conclusões
Diante dos resultados obtidos neste trabalho as seguintes conclusões podem ser
apresentadas:
1) Em relação à caracterização microestrutural das ligas estudas pode-se concluir que:
Tanto para a liga 2024 quanto para a liga 7075, as técnicas de caracterização micro-
estrutural utilizadas neste trabalho não permitiram estabelecer com mais profundidade
características microestruturais mais peculiares e presentes nas diferentes condições de
tratamentos térmicos, especialmente no caso das precipitações secundárias.
Qualitativamente pode se afirmar que a liga 2024 apresenta uma estrutura carac-
terizada por menor fração volumétrica de intermetálicos primários insolúveis e um ban-
deamento mais grosseiro que a liga 7075. Esta diferença obviamente decorre da diferença
químicas entre os respectivos sistemas e do fato de as duas ligas terem sido fornecidas em
diferentes graus de laminação a quente, estando a liga 2024 com menor grau de redução
(espessura de 38 mm) em comparação com a liga 7075 (espessura de 26 mm).
2) Em relação aos ensaios de tenacidade à fratura, pode se concluir que:
2.1) Liga 2024
No caso da liga 2024, tanto para a Série 1 quanto para a Série 2, os resultados
de tenacidade à fratura não atendem aos requisitos da norma ASTM E 1304 e nem aos
fundamentos da Mecânica da Fratura Elástico-Linear em condições de deformação plana,
uma vez que os critérios de validação dos ensaios relativos ao modo de carregamento e
valor da espessura crítica (B𝑚𝑖𝑛 ) não foram atendidos.
Tanto na Série 1 quanto na Série 2 verifica-se a ocorrência de modo de carrega-
mento misto I + II, com elevado desvio da planicidade da superfície de fratura, mesmo
aumentando-se o valor de espessura de B = 15 mm para B = 25 mm. No caso específico
da Série 2, verificou-se ainda que as dimensões dos corpos de prova utilizados estão aquém
do valor mínimo de B𝑚𝑖𝑛 , estando portanto as amostras ensaiadas em condições de estado
plano de tensões e não, como esperado em condições de estado plano de deformações. Os
desvios da linearidade elástica foram tanto mais elevados para as amostras nas condições
de subenvelhecimento, o que indica eleva tenacidade do material nestas condições.
Os valores mais baixos de tenacidade à fratura se deram no estado de entrega
(2024-T351) e em 5h de envelhecimento por 190 ∘ C, apesar da liga envelhecida não apre-
sentar máxima dureza neste tempo e sim em 3h. O maior valor de tenacidade à fratura
√
(condicional) encontrado foi de 73,5 MPa 𝑚, para a condição subenvelhecida (1h) com
a ressalva de que o ensaio não foi válido devido ao grande desvio de trinca fugindo dos
Capítulo 5. Resultados e discussão 127
limites da MFLE.
2.2) Liga 7075
Em relação à liga 7075, a tenacidade à fratura do material não apresentou signi-
ficativa variação com o tempo de envelhecimento variando entre 8h, 10h, 12h, 16h e 24h
para a temperatura de 145 ∘ C mesmo tendo a dureza sofrido algumas variações significa-
tivas. Adicionalmente, esses valores apesar de pouco variantes, são bem maiores quando
comparados com o estado de entrega dessa liga (7075-T651).
3) Em relação aos micromecanismos de fratura pode-se concluir que:
De maneira geral, as superfícies de fraturas obtidas nos ensaios de tenacidade à
fratura das amostras tanto das ligas 2024 e 7075, nas diferentes condições de tratamentos
térmicos, apresentaram a presença dos dimples clássicos, em muitos casos associados à
clivagem dos precipitados mais grosseiros. Qualitativamente, o tamanho médio e a dis-
tribuição dos dimples variaram de acordo com o grau de envelhecimento: no caso das
amostras subenvelhecidas, mais tenazes, estes dimples se mostraram mais refinados e em
maiores quantidades, enquanto no caso das amostras superenvelhecidas, dimples maiores,
associados a partículas maiores inerentes ao tratamento.
No caso da liga 2024 os dimples se mostraram mais uniformemente distribuídos e
mais arredondados. No caso da liga 7075, os dimples se mostraram mais heterogêneos e se
verifica ainda a presenta de pequenos lábios de cisalhamento, aparentemente orientados
em relação à direção de laminação.
4) Em relação aos ensaios de tração:
4.1) Liga 2024
A liga 2024 apresentou um comportamento sob tração bastante dependente das
condições de envelhecimento. As amostras subenvelhecidas apresentaram indícios do fenô-
meno da precipitação dinâmica e maior tenacidade, ductilidade (maior redução de área e
maior deformação no instante da fratura) e coeficiente de encruamento. A identificação da
ocorrência da precipitação dinâmica nessas ligas abre boa perspectiva para a investigação
do fenômeno do autorreparo nas condições de subenvelhecimento.
No caso das ligas superenvelhecidas, verifica-se uma redução na ductilidade, na
tenacidade e no coeficiente de encruamento, em que pese os valores mais baixos de dureza.
Este fenômeno pode estar associado ao engrossamento dos precipitados com o tempo de
envelhecimento, o que facilita a nucleação de dimples e, por consequência a nucleação de
trincas, reduzindo a capacidade do material em absorver energia de deformação.
Os resultados de tração para a liga 2024 estão, de maneira geral coerentes com
os resultados de tenacidade à fratura, uma vez que as ligas na condição subenvelhecida
apresentaram-se mais tenazes tanto sob tração quanto na presença de trincas.
Capítulo 5. Resultados e discussão 128
Em função dos resultados obtidos neste trabalho bem como das dificuldades enfren-
tadas no mesmo, sugere-se como investigações em trabalhos futuros os seguintes temas:
1) Caracterização, através de técnicas analíticas com maior poder de resolução,
dos aspectos microestruturais das fases intermetálicas presentes nas ligas 2024 e 7075,
submetidas aos ciclos térmicos propostos neste trabalho, como o tamanho, a distribuição,
morfologia e composição química.
2) Caracterizar a tenacidade à fratura da liga 2024 utilizando corpos de prova
chevron de maiores dimensões e/ou utilizando as técnicas da mecânica da fratura elasto-
plástica (integral J e/ou CTOD).
3) Caracterização das propriedades mecânicas em outras orientações em relação à
direção de laminação, de forma a estabelecer a influência da anisotropia sob a resposta
à tração, à fratura e em relação a eventual precipitação dinâmica, de amostras ensaiadas
nas condições executadas no trabalho que ora se encerra e em outros ciclos térmicos
alternativos.
4) Avaliar a resposta em fadiga, seja através de curvas S-N, seja através de curvas
de Paris (da/dN), de amostras ensaiadas nas condições executadas no trabalho que ora
se encerra e em outros ciclos térmicos alternativos, de forma a avaliar a efetividade da
ocorrência do proposto fenômeno do autorreparo (self healing).
5) Avaliar a resposta em condições de corrosão sob tensão de amostras ensaiadas
nas condições executadas no trabalho que ora se encerra e em outros ciclos térmicos
alternativos, de forma a contribuir para controvérsia em torno da dualidade tenacificação
x perda de resistência à CST em ligas de alumínio.
130
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