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Súmula 550-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO DO CONSUMIDOR

ESCORE DE CRÉDITO

Súmula 550-STJ: A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação de risco que
não constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o direito de
solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados
considerados no respectivo cálculo.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015.

O que é "escore de crédito"?


Escore de crédito (escore = pontuação), também chamado de “credit scoring” ou “credscore” é um
sistema ou método utilizado para analisar se será concedido ou não crédito ao consumidor que pedir a
concessão de um empréstimo ou financiamento.
No “credit scoring”, a pessoa que está pedindo o crédito é avaliada por meio de fórmulas matemáticas,
nas quais são consideradas diversas variáveis como a idade, a profissão, a finalidade da obtenção do
crédito etc. Tais variáveis são utilizadas nas fórmulas matemáticas e, por meio de ferramentas da
estatística, atribui-se uma espécie de pontuação (escore) para a pessoa que está pedindo o crédito.
Quanto maior a nota (escore), menor seria o risco de se conceder o crédito para aquele consumidor e,
consequentemente, mais fácil para ele conseguir a liberação.
Algumas das informações que são consideradas como variáveis na fórmula matemática do “credit
scoring”: idade, sexo, estado civil, profissão, renda, número de dependentes, endereço, histórico de outros
créditos que pediu etc.
Com base em estudos estatísticos, concluiu-se que pessoas de determinado sexo, profissão, estado civil,
idade etc. são mais ou menos inadimplentes. Logo, se o consumidor está incluído nos critérios
considerados como de “bom pagador”, ele recebe uma pontuação maior.

Não constitui banco de dados


Vale ressaltar que o escore de crédito não é considerado como um cadastro ou banco de dados de
consumidores. O "credit escoring" é, na verdade, uma metodologia de cálculo do risco de crédito,
utilizando-se de modelos estatísticos e dos dados existentes no mercado acessíveis via “internet”.
Constitui, em síntese, uma fórmula matemática ou uma ferramenta estatística para avaliação do risco de
concessão do crédito (Min. Paulo de Tarso Sanseverino no REsp 1.419.697-RS).

Origem
Segundo o Min. Sanseverino (REsp 1.419.697-RS), o escore de crédito originou-se no EUA (por isso,
conhecemos pelo nome "credit scoring"), a partir de um trabalho elaborado por David Durand, em 1941,
denominado “Risk Elements in Consumer Installment Financing”, em que foi desenvolvida a técnica
estatística para se distinguir os bons e os maus empréstimos, atribuindo-se pesos diferentes para cada
uma das variáveis presentes.
A partir da década de 60, esse sistema de pontuação de crédito passou a ser amplamente utilizado nos
EUA nas operações de crédito ao consumidor, especialmente nas concessões de cartão de crédito.

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O “credit scoring” pode ser utilizado no Brasil como sistema de avaliação do risco de concessão de crédito?
SIM. O STJ entende que essa prática comercial é LÍCITA, estando autorizada pelo art. 5º, IV e pelo art. 7º, I,
da Lei n. 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos
bancos de dados, menciona indiretamente a possibilidade de existir a análise de risco de crédito. Confira:
Art. 5º São direitos do cadastrado:
IV - conhecer os principais elementos e critérios considerados para a análise de risco, resguardado o
segredo empresarial;
(...)
Art. 7º As informações disponibilizadas nos bancos de dados somente poderão ser utilizadas para:
I - realização de análise de risco de crédito do cadastrado; ou

Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 551).

Limites ao “credit scoring”


Vale ressaltar que para o escore de crédito ser lícito, é necessário que respeite os limites estabelecidos
pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima transparência
nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011.
Assim, podemos apontar duas limitações (exigências) impostas ao escore de crédito:
1) Desnecessidade de autorização, mas exigência do dever de prestar esclarecimentos ao consumidor;
2) Limite de tempo

Desnecessidade de autorização, mas exigência do dever de prestar esclarecimentos ao consumidor;


A empresa/instituição que for fazer a análise do crédito não precisa de autorização do consumidor para
utilizar o “credit scoring”. No entanto, este poderá solicitar que lhe sejam fornecidos esclarecimentos
sobre as fontes dos dados que foram considerados (histórico de crédito), bem como sobre as suas
informações pessoais valoradas. Em outras palavras, o consumidor pode pedir para saber os dados que
foram avaliados no seu pedido de análise de crédito.
Por outro lado, nem o consumidor nem ninguém terá direito de saber a metodologia de cálculo, ou seja,
qual foi a fórmula matemática e os dados estatísticos utilizados no “credit scoring”. Isso porque essa
fórmula é fruto de estudos e investimentos, constituindo segredo da atividade empresarial (art. 5º, IV, da
Lei n. 12.414⁄2011: ..."resguardado o segredo empresarial”).

Limitações temporais
Além disso, o “credit scoring” deve respeitar as limitações temporais para as informações a serem
consideradas, estabelecidas pelo CDC e pela Lei n. 12.414⁄2011, que são de 5 anos para os registros
negativos (CDC) e de 15 anos para o histórico de crédito (Lei n. 12.414⁄2011, art. 14).

Caso haja violação de tais limites


O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit scoring” configura abuso de direito (art.
187 do CC), podendo ensejar:
- a responsabilização objetiva e solidária
- do fornecedor do serviço, do responsável pelo banco de dados, da fonte e do consulente
- pela ocorrência de danos morais
- nas hipóteses de utilização de informações excessivas ou sensíveis
- e também nos casos de recusa indevida de crédito pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.

Nesse sentido, confira os dispositivos da Lei n. 12.414/2011 que, inclusive, conceitua o que sejam
informações excessivas e sensíveis:

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Art. 3º (...)
§ 3º Ficam proibidas as anotações de:
I - informações excessivas, assim consideradas aquelas que não estiverem vinculadas à análise de risco de
crédito ao consumidor; e
II - informações sensíveis, assim consideradas aquelas pertinentes à origem social e étnica, à saúde, à
informação genética, à orientação sexual e às convicções políticas, religiosas e filosóficas.

Art. 16. O banco de dados, a fonte e o consulente são responsáveis objetiva e solidariamente pelos danos
materiais e morais que causarem ao cadastrado.

Ex.: na fórmula matemática do “credit scoring” não é possível que uma das variáveis analisadas seja a religião
do consumidor, ou seja, seguidores de determinada religião não podem ser considerados como bons ou maus
pagadores. Esse não é um critério lícito a ser utilizado por se enquadrar como informação sensível.

Assim, se a nota atribuída ao risco de crédito decorrer da consideração de informações excessivas ou


sensíveis, violando a honra e a privacidade do consumidor, haverá dano moral “in re ipsa”.

No mais, para a caracterização de um dano extrapatrimonial, há necessidade de comprovação de uma


efetiva recusa de crédito, com base em uma nota de crédito baixa por ter sido fundada em dados
incorretos ou desatualizados.

Súmula 550 do STJ


Vamos ler novamente a súmula dividindo-a em partes:
- A utilização de escore de crédito,
- método estatístico de avaliação de risco que não constitui banco de dados,
- dispensa o consentimento do consumidor,
- que terá o direito de solicitar esclarecimentos sobre
- as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados considerados no respectivo cálculo.

Principal precedente que deu origem à súmula:


STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 551).

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