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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
FUNDAMENTOS PSICOSSOCIAIS DA EDUCAÇÃO
PROFESSORA: Dra. Gessica Fabiely Fonseca
ALUNO: José Rolfran de Souza Tavares

Entre o necessário, o desejado e o indigesto: compreensão da


aprendizagem por discentes e docentes na Escola Estadual Anísio
Teixeira

Resumo

Este trabalho visa compreender, a partir dos conhecimentos da psicologia da educação,


como circula a noção de aprendizagem entre professores e estudantes na escola
estadual Anísio Teixeira. Para isso foi realizado um questionário que ouviu um
representante de cada grupo, sendo as respostas posteriormente refletidas com base
nos textos 1 e 4 da primeira unidade da disciplina de fundamentos psicossociais da
educação. Os resultados apontam para um estresse comum dos dois segmentos com os
efeitos da precarização da estrutura física da escola, o qual é remediado na busca por
relações prazerosas entre professor-aluno conseguido através da efetividade da
construção de conhecimentos no espaço escolar.
Palavras-chave: Aprendizagem; Psicologia Escolar; Desejo.

Introdução

Na modernidade, a escola foi hegemonicamente regulamentada no ocidente


como sendo a instituição estatal que deveria fazer a transmissão do conhecimento
científico. As demandas sociais mobilizadas pelo ideário liberal que impulsionou as
revoluções burguesas reivindicavam o acesso a direitos sociais como a educação
escolar, pautando que só com o acesso a essa instituição os homens poderiam se igualar
para ter liberdade e poderem viver de forma fraterna, no pós segunda guerra mundial,
com a criação de uma organização mundial e a polarização ideológica de duas
superpotências que rivalizavam tendo como um dos meios a ameaça nuclear, uma série
de tratados educacionais internacionais começaram a ser firmados com o objetivo de
desenvolver ou fortalecer as nações mutuamente. É nesse contexto histórico que na
década de 90 no Brasil fica legalmente determinado a universalização da educação
básica, entendida como direito fundamental na constituição de 1988 e tendo suas
diretrizes traçadas em uma perspectiva neoliberal na LDB de 1996. Com isso o
alinhamento político dado para materialização da produção do conhecimento na escola
segue as recomendações do Banco Mundial, que a grosso modo podem ser resumidas
como detendo um modelo de ensino-aprendizagem tecnicista com o objetivo de forma
mão de obra qualificada.

A sucinta reconstrução histórica da universalização da educação escolar no Brasil


feita acima só possui como função aqui demonstrar uma perspectiva de problematização
sobre como certas contradições se articulam nas escolas públicas, uma delas é o
caminho de efetivação da aprendizagem, já que em alguns contexto ele não se realiza
conforme o idealizado pelas políticas públicas, pensando a partir dos relatos de um
professor e de um estudante como esse processo é feito em uma escola potiguar (Anísio
Teixeira), usando para isso os textos “A psicologia Educacional e a Formação de
Professores: Tendências Contemporâneas” (Bzuneck, 1999) e “Vozes das Crianças e
Adolescentes: o que dizem da escola" (Coutinho; Carneiro; Salgueiro, 2018), é possível
notar que dimensões subjetivas são acionadas para garantia da realização da missão
social daquele local. Com isso o objetivo deste trabalho é compreender como circula
entre professores e alunos a compreensão sobre aprendizagem.

Metodologia

Para realização desta atividade foi aplicado um questionário contendo três


perguntas a um professor e um estudante que exerciam atividades no primeiro ano
(turma E), sendo elas: O que é aprendizagem? Fale sobre suas experiências na escola?
Apresente aspectos negativos e positivos sobre a escola?

As perguntas foram feitas individualmente, posteriormente foram analisadas.

Resultados e discussão
O estudante entrevistado se chama Yarrelison Matheus, tem 16 anos e está no
primeiro ano do ensino médio. O professor se chama Eduardo Leandro, tem 26 anos e
é graduado na licenciatura em matemática.

Yarrelison relatou, depois de pensar alguns segundos, que aprendizagem para


ele era “estudar o básico”. Quanto as experiências na escola, foi rápido e sucinto, pois
disse que não acontece muita coisa, ele só entra no prédio estuda e vai embora com
seus amigos. Quanto aos aspectos negativos da escola, disse que o calor é o que mais
o atrapalha, sendo mais generalista posteriormente, apontou também que a
“infraestrutura era baixa" e que não gostava do lanche. No que concerne aos positivos,
relatou que a escola é bem localizada, a redondeza é segura e “os professores são
ótimos”.

Já Eduardo falou, após reclamar da pouca objetividade da pergunta, que


aprendizado era “o aluno conseguir internalizar o conteúdo de forma que ele consiga
contextualizar no seu cotidiano". Relatou, com uma resposta rápida, que suas
experiências na escola são “agradáveis, mas estressantes, pois existem muitos alunos
que não querem estar na escola, mas há também os que têm paixão pelo
conhecimento". Quanto aos negativos da escola, apontou “a climatização e a
infraestrutura pouco agradável”. Ao falar do ponto positivo, foi direto e firme “a equipe
pedagógica”.

Apesar das entrevistas terem sido feitas separadamente, algumas respostas são
muito próximas, nisso já cabe um ponto pra análise, haja visto que tal aproximação é
resultado de uma leitura semelhante sobre as relações estabelecidas na escola. É
preciso salutar que uma leitura possível das respostas é que tanto o estudante quanto o
professor vem suas atividades de for bem definida, um é sujeito de aprendizado e outro
de ensino, também é notório que ambos se sentam mal acomodados na estrutura do
prédio, sendo a não climatização a principal reclamação. Todavia, apesar do
desconforto, o ambiente parece mais atraente quando existe a sensação de que há um
forte desejo no bom desempenho dos papéis de professor-aluno.

No texto “Vozes das Crianças e Adolescentes: o que dizem da escola” (Coutinho;


Carneiro; Salgueiro, 2018) as autoras vão relatar como o desempenho normatizado dos
papéis na escola é desgastante para crianças e adolescentes, sendo muitas vezes as
interações extra sala de aula (onde as normas são afrouxadas) as de maior interesse
desse público, ao final sugerem que seja fomentado certo ludicidade nos espaços de
maior institucionalização para que a circulação afetiva seja positiva e flua melhor as
relações. No contexto do Anísio, onde a estrutura é precária e professor e aluno só se
enxergam dentro do prédio para exercer seu papel, não há possibilidade de uma boa
aprendizagem se tanto um segmento quanto o outro não tiver desejo na escolarização,
o que o professor Eduardo traduziu como “paixão pelo conhecimento". Esse saber é algo
que na experiência em sala o professor pode desenvolver, mas se caso houvesse tido
na sua formação acesso a um material produzido pelo campo da psicologia educacional,
conforme o trazido por “A psicologia Educacional e a Formação de Professores:
Tendências Contemporâneas” (Bzuneck, 1999), provavelmente seu traquejo seria maior
e mais rápido.

Considerações finais

A presente pesquisa buscou mostrar de forma sucinta como está circulando a


compreensão de aprendizagem entre professores e alunos da Escola Estadual Anísio
Teixeira, tal trabalho buscou trazer mais uma experiência para diversificar as
compreensões sobre esse fenômeno e problematizar a questão. Há muitas limitações
nele, a amostragem é pequena, as perguntas são muito abertas e a bibliografia é
limitada, por isso é necessário um melhor aprofundamento para apresentar informações
mais concretas, contudo, esse foi um esforço inicial que tem o seu valor.

Referências
BZUNECK, J. A. A psicologia Educacional e a Formação de Professores:
Tendências Contemporâneas. Londrina: UEL, 1999.
COUTINHO, L. G; CARNEIRO, C; SALGUEIRO, L. M. Vozes das Crianças e
Adolescentes: o que dizem da escola. São Paulo: Psicologia Escolar e Educacional,
Volume 22, N⁰ 1, 2018 (pg. 185-193).

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