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7 Além da com paixão e das credencias,

havia um terceiro motivo para os milagres: a


preocupação de Jesus em revelar às pessoas
a verdade salvadora. O s milagres eram "ser-
O P o d er d o R ei mões práticos". Até Nicodem os ficou impres-
sionado com eles (Jo 3:1, 2). É importante
M a t eu s 8 - 9 observar que cinco desses milagres foram
realizados em Cafarnaum, mas ainda assim
o povo dessa cidade rejeitou Jesus (Mt 11:21-
23). Até mesm o a rejeição pelo povo de
Israel cumpriu as profecias do Antigo Testa-
mento (ver Jo 12:37-41). Com o os julgamen-

F omos apresentados à pessoa do Rei (Mt


1
tos contra o Egito nos dias de Moisés, os
- 4) e aos princípios do Rei (Mt 5 - 7 ) , milagres do Senhor foram julgamentos con-
e agora estamos prontos para o poder do tra Israel, pois o povo teve de encarar fatos
Rei. Afinal, se um rei não tem poder para incontestáveis e de tomar decisões. O s líde-
realizar coisa alguma, de que valem suas res religiosos decidiram que Jesus trabalha-
credencias e seus princípios? Nos capítulos va para Satanás (Mt 9:31-34; 12:24).
8 e 9, Mateus relata dez milagres. Exceto Um a coisa é certa: Jesus não realizou
pelos quatro últimos, não se encontram em milagres para "atrair multidões". Na verda-
ordem cronológica, pois Mateus segue abor- de, procurou evitá-las. Instruiu os que eram
dagem própria para o agrupamento de men- curados a não falar do assunto (Mt 8:4, 18;
sagens ou acontecimentos. 9:30; Lc 8:56). Não desejava que as pessoas
Antes de estudar esses milagres, porém, cressem nele sim plesmente por causa de
é bom fazer uma pausa para responder à seus feitos miraculosos (ver Jo 4:46-54), pois
pergunta axiom ática: por que Jesus reali- a fé deve ser embasada em sua Palavra (Rm
zou milagres? Sem dúvida, desejava suprir 10:17).
as n e ce ssid a d e s hum anas. D eu s não se O s milagres registrados nestes capítulos
preocupa apenas com nossa alegria eter- encontram-se reunidos em três grupos, se-
na, mas também com nosso bem-estar tem- parados por acontecimentos relacionados ao
porário. É errado separar o m inistério à discipulado. Mateus não explica a seus lei-
alm a do m inistério ao corpo, pois é preci- tores o que o levou a organizar o texto des-
so ministrar à pessoa com o um todo (ver sa maneira, mas isso não impede que se use
Mt 4:23-25). essa estrutura. Para melhor compreensão de
Por certo, os milagres de nosso Senhor algumas das lições espirituais dessas seções,
foram credenciais adicionais para corrobo- cada uma delas é apresentada de acordo
rar suas asserções com o o Messias de Is- com uma ênfase específica.
rael. "Porque [.„] os judeus pedem sinais"
(1 C o 1:22). Apesar de os milagres, por si 1 . G r a ç a p a r a o s r e j e it a d o s
mesmos, não provarem que alguém foi en- (M t 8 :1 -2 2 )
viado por Deus (até mesmo Satanás pode Muitos judeus, especialm ente os fariseus,
realizar milagres [2 Ts 2:9]), eles dão peso a consideravam os leprosos, os gentios e as
suas afirmações, especialmente se seu cará- mulheres párias da sociedade, e vários fari-
ter e conduta são piedosos. No caso de Je- seus costum avam dizer em suas orações
sus Cristo, seus milagres também cumpriram matinais: "Agradeço por ser um homem e
profecias do Antigo Testamento (ver Is 29:18, não uma mulher, um judeu e não um gen-
19; 35:4-6). Mateus 8:1 7 nos remete a Isaías tio, e um homem livre e não um escravo".
53:4, e em Mateus 11:1-5, Jesus pede a João A p u rifica çã o do le p ro so (vv. 1-4). A
Batista que volte às promessas do Antigo Bíblia caracteriza diversas aflições com o le-
Testamento (Mt 10:8; H b 2:1-4). pra. Essa infecção terrível obrigava a vítima
40 MATEUS 8 - 9

a viver separada dos outros e a gritar: "Imun- A cura do criado do centurião (w. 5-
do! Imundo!", quando alguém se aproxima- 13). Centurião era um oficial romano que
va, para que não fosse contaminado. O fato liderava cem soldados do exército. Todos os
de o leproso correr para Jesus e quebrar essa centuriões mencionados nos Evangelhos e
regra mostra quanto ele tinha fé que Jesus no Livro de Atos eram homens de caráter
poderia curá-lo. e de grande senso de dever. Vemos que esse
A lepra é uma ilustração do pecado (Is homem não era exceção, pois se mostrou
1:5, 6). As instruções dadas aos sacerdotes preocupado com um servo humilde.
em Levítico 13 ajudam a entender a nature- Pela lógica, o centurião tinha motivos de
za do pecado: não é um mal superficial (Lv sobra para não procurar Jesus. Era um solda-
13:3), espalha-se (Lv 13:8), contamina e iso- do profissional; Jesus era um homem de paz.
la (Lv 13:45, 46) e serve apenas para ser Era um gentio; Jesus era judeu. No entanto,
destruído pelo fogo (Lv 13:52, 57). era um homem de muita fé e sabia que, assim
Quando Jesus tocou o leproso, contraiu como ele, Jesus estava sujeito a uma autori-
a contaminação dele, mas também transmi- dade. Tudo o que precisava fazer era dar
tiu sua saúde! Não foi exatamente isso o que uma ordem e a doença lhe obedeceria, assim
fez por nós na cruz, quando se fez pecado como o soldado obedece a seu superior.
por nós? (2 Co 5:21). O leproso não ques- Apenas aqueles que se encontram sob auto-
tionou se Jesus era capaz de curá-lo, mas ridade têm o direito de exercer autoridade.
apenas perguntou se ele estava disposto a Os Evangelhos registram duas ocasiões
fazê-lo. Claro que Deus está disposto a sal- em que Jesus maravilhou-se: aqui, diante
var! Ele é nosso "Deus, nosso Salvador, o da fé do centurião gentio, e em Marcos 6:6,
qual deseja que todos os homens sejam sal- diante da incredulidade dos judeus. Mateus
vos" (1 Tm 2:3, 4). Deus "não [quer] que relata dois milagres "gentios": este e o da cura
nenhum pereça" (2 Pe 3:9). da menina siro-fenícia (Mt 15:21-28). Em
Jesus pediu ao homem que não contasse ambos os casos, o Senhor ficou impressiona-
a ninguém, mas que procurasse os sacerdo- do com a grande fé dos gentios. Vemos aqui
tes a fim de que o declarassem restaurado e um dos primeiros indícios de que, ao contrá-
pronto a ser reintegrado na sociedade. Essa rio dos gentios, os judeus se recusariam a
cerimônia, descrita em Levítico 14, é outra crer no Messias. Além disso, nesses dois mi-
bela representação da obra de Cristo pelos lagres o Senhor curou â distância, lembrando
pecadores. O pássaro sacrificado represen- que, do ponto de vista espiritual, os gentios
ta a morte de Cristo, e o pássaro solto repre- encontravam-se "separados" (Ef 2:12).
senta sua ressurreição. O pássaro colocado A cura da sogra de Pedro (vv. 14-17).
no jarro representa a encarnação, quando Quando voltaram do culto na sinagoga,
Cristo assumiu um corpo humano para que Pedro e André contaram a Jesus que a so-
pudesse morrer por nós. A aplicação do san- gra de Pedro estava de cama com febre (Mc
gue na orelha, no polegar e no dedão do pé 1:21). As mulheres não desfrutavam uma
ilustra a necessidade de uma fé pessoal em posição muito elevada na sociedade, e é de
sua morte. O óleo no sangue lembra o Espí- se duvidar que um fariseu tivesse se interes-
rito de Deus, que vem habitar naquele que sado pelo que estava acontecendo na casa
crê no Salvador. de Pedro. Jesus, porém, a curou com ape-
O homem não obedeceu à ordem de nas um toque. Efa se levantou e serviu ao
Jesus; antes, contou a todos o que o Senhor Senhor e aos outros homens ali presentes.
havia feito! (Jesus diz para contar as boas A princípio, essa cura pareceu um "mila-
novas a todo mundo, e nos calamos!) Mar- gre secundário", mas, na verdade, teve con-
cos 1:45 diz que, por causa do testemunho seqüências importantes, pois, logo após o
do leproso curado, Jesus não pôde entrar pôr-do-sol (quando terminou o sábado), a ci-
na cidade. No entanto, as multidões foram dade toda se reuniu à porta da casa de Pedro
até ele. para que Jesus atendesse a seus pedidos (Mc
MATEUS 8 - 9 41

1:32-34). As bênçãos no lar devem redundar Paz na tempestade (w . 23-27). O mar


em bênçãos na comunidade. Graças à mu- da Galiléia tem cerca de 21 quilômetros de
dança na vida de uma mulher, muitas outras comprimento por 13 de largura, e é comum
pessoas puderam experimentar milagres. tempestades violentas se formarem de repen-
Mateus vê nesse fato um cumprimento te sobre suas águas. Sem dúvida, Jesus sa-
de Isaías 53:4. É importante observar que bia que a tempestade estava a caminho e,
Jesus cumpriu essa profecia em vida, não na por certo, poderia tê-la impedido. No entan-
cruz. Carregou sobre si os pecados e as en- to, permitiu que a tempestade viesse, a fim
fermidades durante seu ministério na Terra. de ensinar algumas lições a seus discípulos.
A idéia de que há "cura na expiação" e de Ao contrário do caso de Jonas, a tem-
que todo cristão tem o "direito de apropriar- pestade veio porque obedeceram ao Senhor.
se" dessa cura é resultante de uma interpre- Jesus dormia, pois descansava seguro na
tação totalmente equivocada das Escrituras. vontade do Pai, e os discípulos deveriam ter
1 Pedro 2:24 aplica essa mesma verdade ao feito o mesmo. Em vez disso, porém, fica-
perdão de nossos pecados, os quais Jesus ram todos amedrontados e acusaram Jesus
levou sobre si na cruz. O pecado e a enfer- de não se importar com eles! Mateus dese-
midade andam juntos (ver Sl 103:3), pois a java que seus leitores vissem o contraste gri-
enfermidade é conseqüência do pecado de tante entre a "pequena fé" dos discípulos e
Adão e também uma ilustração do pecado. a "grande fé" do centurião gentio.
No entanto, Deus não tem obrigação algu- Paz num a com unidade (w . 28-34). Esse
ma de curar todas as doenças. Antes, sua episódio dram ático é bastante revelador.
grande preocupação é salvar todos os peca- Mostra o que Satanás faz com o homem
dores que o invocam. necessitado: tira dele sua sanidade e domí-
O p rim e iro in te rlú d io so b re o disci- nio próprio, enche-o de medo, priva-o das
pu la do (w . 18-22). Tendo em vista as gran- alegrias de um lar e das am izades e (se pos-
des multidões que seguiam Jesus e o fato sível) condena-o ao julgamento eterno. Tam-
de a oposição ainda não haver se iniciado, bém revela o que a sociedade faz com o
não faltavam candidatos a discípulo, ansio- homem necessitado: reprime, isola e amea-
sos para seguir o Mestre. M uitos deles, ça o indivíduo, mas não é capaz de mudá-
porém, não desejavam pagar o preço do dis- lo. Vemos, em seguida, o que Jesus Cristo
cipulado. Essa é a primeira vez que Mateus pode fazer por um homem cuja vida - inte-
usa a designação "Filho do homem" em seu rior e exterior - é de escravidão e de guerra.
Evangelho para se referir a Jesus. Trata-se de Tudo o que Cristo fez por esses dois ende-
um nome encontrado em Daniel 7:13 e, sem m oninhados também pode fazer por todos
dúvida alguma, de um título m essiânico e os necessitados que buscam seu socorro.
um a d e clara çã o da realeza do M essias. Cristo foi até eles, enfrentando uma tem-
Mateus 8:22 pode ser expresso da seguinte pestade para chegar até lá. Assim é a graça
forma: "Deixem que os espiritualmente mor- de Deus! Libertou-os pelo poder de sua Pa-
tos enterrem os fisicamente mortos". Jesus lavra e restaurou sua sanidade, seu convívio
não estava pedindo ao homem que desres- social e seu serviço. O relato em M arcos
peitasse seu pai (que ainda estava vivo), mas 5:1-21 mostra que um dos homens pediu
sim que colocasse em ordem suas priorida- para se tornar discípulo do Senhor. Mas, em
des. É melhor pregar o evangelho e dar vida vez de atender a seu pedido, Jesus o enviou
aos mortos espirituais do que esperar pela de volta para casa para testemunhar a seu
morte do pai só para sepultá-lo. povo. O serviço cristão deve com eçar em
casa.
2 . P a z a o s a t r i b u l a d o s (M t 8 : 2 3 - 9 : 1 7 ) Encontramos três orações nesse episó-
Todas as pessoas envolvidas nesses três dio: (1) os demônios rogaram a Jesus que
milagres careciam de paz, e Jesus proveu os mandasse para os porcos; (2) os cidadãos
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um dos homens implorou para se tornar um Cabe aqui comentar apenas quatro imagens
de seus seguidores (ver Mc 5:18-20). Jesus de seu ministério que Jesus apresenta nes-
atendeu ao pedido dos demônios e do povo, ta mensagem. Como médico, veio para dar
mas não atendeu ao pedido do homem saúde espiritual a pecadores enfermos.
curado! Como noivo, veio para dar alegria espiri-
Podemos elaborar uma "declaração de tual. A vida cristã é uma festa, não um fune-
fé" a partir da palavra dos demônios (os de- ral. A ilustração do pano lembra que Jesus
mônios têm fé; ver Tg 2:19). Crêem na exis- veio oferecer plenitude espiritual, não ape-
tência de Deus e na divindade de Cristo, nas "remendar" a vida e depois deixar que
bem como na realidade do futuro julgamen- se desintegre. A ilustração dos odres de vi-
to. Também crêem na oração e sabiam que nho mostra que Jesus trouxe abundância
Jesus tinha poder para mandá-los entrar nos espiritual. A religião judaica era como um
porcos. odre velho que se romperia, caso fosse
O fato de os demônios terem destruído cheio com o vinho novo do evangelho. Je-
dois mil porcos não é nada comparado ao sus não veio para renovar Moisés nem para
fato de que Jesus libertou dois homens das misturar a lei com a graça. Veio para dar
garras de Satanás. Todas as coisas perten- vida nova!
cem a Deus (SI 50:10, 11), e ele pode fazer
com elas o que bem entender. Jesus dá mais 3. R e s t a u r a ç ã o pa r a o s d e v a s t a d o s
valor aos homens do que a porcos ou a ove- (M t 9:18-38)
lhas (Mt 12:12). Trouxe paz a esses homens Nesta seção, Mateus registra quatro milagres
e à comunidade, na qual os dois haviam envolvendo cinco pessoas.
causado problemas durante tanto tempo. Um lar devastado (w. 1 8 1 9 , 23-26).
Paz de consciência (w. 1-8). Jesus ha- Deve ter sido difícil para Jairo procurar Je-
via demonstrado seu poder sobre as doen- sus, pois era um judeu devoto e chefe da
ças e as tempestades, mas o que poderia sinagoga. Mas o amor de Jairo por sua filha
fazer com respeito ao pecado? O homem à beira da morte o compeliu a buscar o so-
no leito não conseguia locomover-se sozi- corro de Jesus, mesmo considerando a oposi-
nho, mas felizmente recebeu a ajuda de ção dos líderes religiosos a Cristo. Quando
quatro amigos com amor, fé e esperança. Jairo se encontrou com Jesus, sua filha es-
Eles o levaram a Jesus e não permitiram que tava prestes a morrer. O atraso causado pela
coisa alguma os detivesse. Não sabemos se cura da mulher deu ao "último inimigo" a
a condição física desse homem era resulta- oportunidade de fazer seu trabalho. Os ami-
do de seus pecados, mas sabemos que Je- gos de Jairo chegaram em seguida e avisa-
sus tratou do pecado primeiro, pois essa é ram que sua filha havia falecido.
sempre a maior necessidade. No mesmo instante, Jesus tranqüilizou
Não devemos concluir desse milagre que Jairo e o acompanhou. Na verdade, a demo-
toda doença é causada pelo pecado, nem ra deveria ter ajudado a fortalecer a fé de
que receber o perdão implica automati- Jairo, pois ele viu o que a pequena fé da-
camente receber cura física. Conheço um quela mulher havia realizado na vida dela.
pastor que sempre diz: "Deus pode curar Devemos aprender a confiar em Cristo e em
qualquer doença exceto a última". Mais im- suas promessas a despeito de nossos senti-
portante do que a cura física desse homem mentos, daquilo que os outros dizem e da
era a purificação de seu coração. Voltou para forma como a situação se apresenta. Jairo
casa com o corpo curado e o coração em deve ter se assustado diante da cena com a
paz com Deus. "Para os perversos, diz o meu qual se deparou ao chegar em casa. Ainda
Deus, não há paz" (Is 57:21). assim, Jesus assumiu o controle e ressusci-
Segundo interlúdio sobre o discipulado tou a menina.
(w. 9-17). Falamos sobre o chamado de Uma esperança desfeita (vv. 20-22).
Mateus no primeiro capítulo deste estudo. Marcos 5:26 diz que esta mulher havia
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consultado muitos m édicos, mas nenhum Outros tocaram na orla das vestes Cristo e
deles havia conseguido ajudá-la. Podemos foram curados (Mt 14:34-36).
im aginar seu desespero e seu desânim o. Quando Sir James Simpson, inventor do
Suas esperanças foram despedaçadas. Por clorofórm io, estava à beira da morte, um
causa da hemorragia, a mulher permanecia amigo lhe disse: "Logo estarás descansando
cerimonialmente impura (Lv 15:25ss), o que junto ao peito do Senhor", ao que o cientista
apenas fazia aumentar sua angústia. A "orla" respondeu: "Não sei com o vou fazer isso, mas
se refere às borlas ou franjas que os judeus creio que estou segurando a orla de sua ves-
usavam em suas vestes para lembrá-fos de te". Não é a força de nossa fé que nos salva,
que eram o povo de Deus (Nm 15:37-41; mas sim nossa fé em um Salvador forte.
D t 22:12). C orpos devastados (w . 27-34). O texto
É interessante observar que Jairo e a não diz por que esses homens eram cegos.
mulher - duas pessoas diametralmente opos- A cegueira era um problema sério no O rien-
tas - encontraram-se aos pés de Jesus. Jairo te naquele tempo. De acordo com os relatos
era um judeu importante, enquanto a mu- dos Evangelhos, Jesus curou pelo menos seis
lher era uma anônim a sem prestígio nem cegos e realizou cada milagre de maneira
recursos. Ele era um líder na sinagoga, en- diferente. Esses dois cegos reconheceram
quanto a aflição dela a impedia de adorar. que Cristo era o Filho de Davi (ver Mt 1:1),
Jairo foi suplicar por sua filha, e a mulher foi persistindo em segui-lo até dentro da casa
procurar ajuda para si mesma. A m enina (sem dúvida, tinham alguém para guiá-los).
havia desfrutado boa saúde durante doze Jesus honrou sua fé. A resposta afirmativa
anos e, então, havia morrido; a mulher ha- dos dois ("Sim, Senhor!") foi a confissão de
via sofrido durante doze anos e, agora, es- fé que liberou o poder para a cura e para a
tava curada. A necessidade de Jairo era de restauração de sua visão.
conhecim ento geral; a necessidade da mu- A cegueira é uma das ilustrações usadas
lher era secreta - somente Jesus sabia. Tanto para a ignorância espiritual e a incredulidade
Jairo quanto a mulher creram em Cristo, e (Is 6:10; Mt 15:14; Rm 11:25). O pecador
ele supriu suas necessidades. só pode nascer de novo depois de enxergar
Talvez Jairo tenha se ressentido com a as coisas de Deus (Jo 3:3). O cristão deve se
mulher, pois ela atrasou Jesus, impedindo-o dedicar a crescer espiritualmente, pois de
de chegar antes de a menina morrer. Mas outro modo sua visão espiritual vai se dete-
seu verdadeiro problema não era a mulher, riorar (2 Pe 1:5-9).
mas sim e/e próprio: precisava ter fé em Cris- O último milagre dessa seção é relacio-
to. Jesus compeliu a mulher a dar seu teste- nado a um dem ônio (Mt 9:32-34). Apesar
munho (ver o relato em Marcos), tanto para de enfermidades e possessões demoníacas
o benefício dela própria quanto de Jairo. O serem duas coisas distintas (Mt 10:8), os
socorro de Deus na vida de outras pessoas demônios têm poder de causar aflição físi-
deve ser um estímulo para confiarmos nele ca. Nesse caso, o demônio privou o homem
ainda mais. Não devemos ser tão egoístas da fala. Jesus libertou o homem, e o povo
em nossas orações a ponto de não mais es- reconheceu que algo novo estava aconte-
perar no Senhor. Sabemos que ele nunca se cendo em Israel.
atrasa. Mas os líderes religiosos recusaram-se a
A fé dessa mulher era quase supersticio- reconhecer que Jesus era o Messias. Então,
sa, e, ainda assim, Jesus a honrou e curou. com o explicavam seus milagres? Só lhes res-
As pessoas precisam "tocar em Cristo" onde tou afirmar que Cristo operava milagres em
são capazes de alcançá-lo, mesmo que te- nome do "maioral dos demônios". Em oca-
nham de com eçar pelas franjas de suas ves- sião posterior, os fariseus voltam a fazer essa
tes. O s fariseus alongavam as franjas das acusação, e Jesus a refuta (Mt 12:22ss). Em
vestes para aparentar mais espiritualidade, sua incredulidade, os fariseus faziam exata-
44 M AT EU S 8 - 9

O terceiro interlúdio sobre o discipu- participassem dos ministérios de pregação,


lado (w. 35-38). Jesus não se ateve a curar; de ensino e de curas (ver Mt 10). Do mes-
também ensinou e pregou. No entanto, não mo modo, quando orarmos conforme Cristo
podia fazer todo o trabalho sozinho; preci- nos ordenou, veremos o que ele viu, senti-
sava de outros para ajudá-io. Pediu aos dis- remos o que sentiu e faremos o que fez.
cípulos que orassem pedindo a Deus que Deus multiplicará nossa vida ao participar-
enviasse "trabalhadores para a sua seara". mos da grande seara pronta para a ceifa
Não tardou para que os discípulos também (Jo 4:34-38).

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