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Relatório de Inflação
Volume 21 | Número 4 | Dezembro 2019
Relatório de Inflação
Volume 21 | Número 4 | Dezembro 2019 ISSN 1517-6576
CNPJ 00.038.166/0001-05
Os textos, os quadros estatísticos e os gráficos são de responsabilidade dos componentes nomeados a seguir:
É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Inflação, volume 21, nº 4.
Convenções estatísticas
O hífen (-) entre anos (1970-1975) indica o total de anos, incluindo-se o primeiro e o último.
A barra (/) entre anos (1970/1975) indica a média anual dos anos assinalados, incluindo-se o primeiro e o último, ou, se especificado no texto, o
ano-safra ou o ano-convênio.
Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamento.
Não é citada a fonte dos quadros e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.
Atendimento ao Cidadão
Em 19 de dezembro, mesma data da publicação original, correções foram efetuadas no boxe “Atualização
da estrutura de ponderação do IPCA e repercussão nas suas classificações”. Foram retiradas as menções a
“artigos ortopédicos” nas tabelas e no texto. No texto da página 52, o original "... experimentarão ajustes
pontuais: “tapete” e “artigos ortopédicos”, que estavam classificados como bens semiduráveis, passarão a
integrar o grupo de bens duráveis; ..." foi substituído por " ...experimentarão ajustes pontuais: "tapete", que
estava classificado como bem semidurável, passará a integrar o grupo de bens duráveis; ...".
Na tabela 5 as alterações de classificação foram: exclusão do item “Frango” dos itens não comercializáveis;
substituição do trecho “Recreação (exceto Jogos de azar)” por “Recreação (exceto Jogos de azar, Instrumento
musical, Bicicleta, Alimento para animais, Brinquedo e Material de caça e pesca)”; e substituição do trecho
“Serviços pessoais (exceto Cartório)” por “Serviços pessoais (exceto Cartório e Conselho de classe) ”.
Na tabela 6 os pesos de alguns componentes, na nova classificação, foram corrigidos: Livres, de 74,97% para
74,91%; Serviços subjacente, de 21,72% para 21,66%; Serviços ex-subjacente, de 15,49% para 15,55%; Bens
industriais, de 24,64% para 24,59%; Bens industriais semi-duráveis, de 6,35% para 6,29%; Monitorados, de
25,03% para 25,09%; e Não-comercializáveis, de 44,10% para 44,04%.
Ademais, os nomes de alguns itens e subitens foram substituídos nas tabelas 3, 4 e 5 para refletirem a
nomenclatura que passará a ser usada pelo IBGE com a adoção da nova estrutura. As alterações foram: de
“Milho” para “Milho (em grão)”, de “Palombeta” para “Peixe-palombeta”, de “Filhote” para “Peixe-filhote”,
de “Aruanã” para “Peixe-aruanã”, de “Salmão (pescados)” para “Peixe-salmão”, de “Microcomputador” para
“Computador pessoal”, de “Telefone fixo” para “Plano de telefonia fixa” e de “Telefone celular” para “Plano
de telefonia móvel”.
Sumário executivo 7
Conjuntura econômica 11
1.1 Cenário externo________________________________________________________________________ 11
1.2 Conjuntura interna______________________________________________________________________ 14
Atividade econômica e mercado de trabalho ______________________________________________ 14
Crédito________________________________________________________________________________ 19
Fiscal __________________________________________________________________________________ 22
Demanda externa e Balanço de Pagamentos_______________________________________________ 23
1.3 Inflação e expectativas de mercado_______________________________________________________ 25
Índices de preços _______________________________________________________________________ 26
Índice de difusão e núcleos_______________________________________________________________ 28
Expectativas de mercado ________________________________________________________________ 28
Boxes
Projeções para crescimento do PIB em 2019 e 2020____________________________________________ 29
Evolução dos mercados de trabalho formal e informal nos recentes ciclos
de atividade econômica__________________________________________________________________ 32
Indicadores de subutilização da força de trabalho ajustados por horas trabalhadas________________ 37
Projeção para a evolução do crédito em 2019 e 2020___________________________________________ 41
Projeção para o Balanço de Pagamentos de 2019 e 2020_______________________________________ 43
Evolução recente da balança comercial_______________________________________________________ 46
Atualizações da estrutura de ponderação do IPCA e repercussão nas suas classificações___________ 51
Impacto de atualizações na cesta de referência do IPCA________________________________________ 56
Proxy da taxa de juros estrutural implícita nas expectativas da pesquisa Focus____________________ 59
Apêndice 69
Sumário executivo
50
Nos EUA, o PIB cresceu 2,1% no terceiro trimestre (taxa
49
trimestral anualizada), com contribuição dominante do
48
consumo e sinais de fraqueza no investimento. Dados
47
Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov parciais do quarto trimestre sugerem persistência
2017 2018 2019
dessa composição, ainda sem evidências para a
Manufatura Novas encomendas de exportação
Fonte: Thomson Datastream retomada de investimento, tendo a demanda externa
bastante pressionada pelas incertezas do comércio
global. O mercado de trabalho mantém ritmo robusto
de geração de postos de trabalho, com aumento
da taxa de participação e crescimento gradual dos
rendimentos. Os preços ao consumidor seguem
sem demonstrar pressões significativas e o deflator
Gráfico 1.4 – Inflação (núcleo), economias avançadas dos gastos com consumo (PCE, em inglês) continua
Variação % anual
3 abaixo da meta de política monetária. O núcleo de
serviços tem se mantido em patamar moderado nos
2
últimos meses, enquanto o núcleo de bens continua
1
em deflação persistente, apesar do movimento de
alta recente. O Comitê de Política Monetária (FOMC)
0 do Federal Reserve reduziu a taxa dos Fed Funds em
0,25 p.p. na reunião de outubro, continuando
-1
Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out o ciclo atual que já soma 0,75 p.p. Na visão do
2017 2018 2019
FOMC, a economia americana tem apresentado
EUA Área do Euro Japão Reino Unido crescimento próximo ao potencial, ausência de
Fonte: Bloomberg pressões inflacionárias e perspectivas positivas,
entretanto, as incertezas associadas ao cenário
1/ A alíquota do IVA, no Japão, aumentou de 8% para 10% em 1º de outubro de 2019, incidindo sobre a maioria dos produtos. O ajuste
nas alíquotas do IVA é uma medida de consolidação fiscal planejada em duas fases: a primeira etapa teve um aumento da alíquota
de 5% para 8% em 1º de abril de 2014.
Gráfico 1.6 – Retorno anual, títulos soberanos 10 anos Em síntese, o cenário externo mostra um processo
% a.a. % a.a
0,2 3,0
gradual de diminuição do ritmo do crescimento
0,1 2,8
global, porém com redução dos riscos de cauda e
0,0
2,6
sinais tentativos de estabilização da atividade. Por
-0,1
-0,2 2,4 sua vez, os índices de preços ao consumidor nas
-0,3 2,2 economias avançadas continuam com variações
-0,4 2,0 abaixo das metas para a inflação e sem mostrar
-0,5
-0,6
1,8 pressões adicionais. Apesar de um balanço de riscos
-0,7 1,6 mais favorável, permanecem incertezas relacionadas
-0,8 1,4 à sustentação do crescimento global, à disputa
27.2 18.6 9.7 30.7 20.8 10.9 1.10 22.10 12.11 3.12
2019 comercial entre EUA e China e ao desfecho do Brexit.
Alemanha Japão EUA (direita)
Fonte: Thomson Datastream
Com a atuação sincronizada dos bancos centrais de
países avançados e emergentes para ajustamento das
políticas monetárias, as condições financeiras globais
mostram relativo afrouxamento, com a recuperação
do apetite ao risco dos investidores internacionais
por ativos de maior retorno nas economias avançadas
e emergentes.
2/ Ressalte-se que as estatísticas das CNT divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro incorporaram
revisões do desempenho do PIB no primeiro trimestre (de -0,1% para 0,0%) e no segundo trimestre (de 0,4% para 0,5%).
3/ A expansão da indústria extrativa no terceiro trimestre foi impulsionada pelo aumento da produção de petróleo e pela recuperação
da produção de minério de ferro, esta última após forte redução no primeiro semestre, provocada pelo rompimento da barragem
em Brumadinho.
4/ O aumento do carregamento estatístico para o ano corrente decorre da revisão das contas nacionais para o primeiro semestre e do
desempenho melhor que o esperado no terceiro trimestre.
5/ Ver boxe “Projeções para evolução do PIB em 2019 e 2020”, neste Relatório.
8/ O boxe “Evolução dos mercados de trabalho formal e informal nos recentes ciclos de atividade econômica”, neste Relatório, analisa
a evolução do mercado de trabalho sob o prisma da segregação entre trabalhadores formais e informais.
9/ O boxe “Indicadores de utilização da força de trabalho ajustados por horas trabalhadas” apresenta medidas alternativas de
desocupação, com enfoque nas horas totais disponíveis no mercado de trabalho.
12/ Estatística que inclui, além dos saldos das operações de crédito do SFN, empréstimos e financiamentos concedidos pelos demais
setores institucionais residentes; os estoques dos títulos públicos, privados e instrumentos securitizados; e os empréstimos e
emissões de títulos cujos credores são não residentes. Para maiores detalhes, ver o boxe “Crédito ampliado ao setor não financeiro”,
publicado no Relatório de Economia Bancária do Banco Central Brasil, ano 2018.
13/ Mede o custo médio das operações de crédito em aberto, independentemente da data de contratação.
14/ O Copom reduziu a meta para a taxa Selic em 0,5 p.p. nas reuniões de 31 de julho, 18 de setembro e 30 de outubro, reduzindo a taxa
de 6,5% a.a. para 5,0% a.a. nesse período.
15/ Para mais detalhes, ver boxe “Projeção para a evolução do crédito em 2019 e 2020” neste Relatório.
-1,2
em todos os segmentos considerados: de pessoas
I I I I I I I I jurídicas (grandes empresas e micro, pequenas e
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020*
Micro, pequenas e médias empresas médias empresas) e de pessoas físicas (consumo e
Grandes empresas
Pessoas física – Consumo habitacional).
Pessoa física – Habitacional
* Os valores do I 2020 correspondem às expectativas dos respondentes para esse
trimestre. Os demais correspondem às percepções sobre a situação em cada
trimestre.
Fiscal
Gráfico 1.27 – Necessidades de Financiamento do Setor O deficit primário do setor público consolidado,
Público excluindo estatais financeiras e empresas dos
Acumulado em 12 meses (% PIB)
11,0
grupos Petrobras e Eletrobras, totalizou R$33,0
9,2
10,0 8,8 bilhões nos dez primeiros meses de 2019, ante
9,0
8,0 6,8 deficit de R$51,5 bilhões no mesmo período de
6,4
7,0 2018. O resultado primário do governo central foi
6,0
5,0 negativo em R$54,6 bilhões, em decorrência de
6,6 6,3
4,0
5,5
deficit de R$179,9 bilhões do Instituto Nacional
3,0 2,9 5,1
2,0 2,2 de Seguro Social (INSS), que prevaleceu sobre o
1,2 1,3
1,0 superavit de R$125,7 bilhões do governo federal. Em
,0
Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out 2018, o deficit do governo central totalizou R$66,3
2016 2017 2018 2019
bilhões no mesmo período.
Juros nominais Nominal Primário
16/ Os dados apresentados neste Relatório referem-se a avaliação das instituições sobre a porcentagem de aprovação de novos
empréstimos, considerando quatro segmentos (grandes empresas; micro, pequenas e médias empresas; crédito habitacional pessoas
físicas; e crédito voltado ao consumo) tanto no que se refere aos últimos três meses, como para os próximos três meses. Os indicadores
apresentados correspondem a uma média das respostas de cada entrevistado, variando entre -2 (aprovação consideravelmente
inferior) a +2 (aprovação consideravelmente superior). Para mais detalhes da metodologia da PTC, ver Annibal, Clodoaldo e Koyama,
Sérgio (2011), “Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil”, BCB, Trabalho para Discussão nº 245.
17/ Até a data de corte para as informações desta publicação, os dados das contas externas não estavam ainda compilados para novembro.
Assim, a análise desta seção considerou estimativas para os dados do balanço de pagamentos do mês, a partir de dados parciais
para o período.
18/ Vale destacar que os números de 2018 e 2019 sofreram revisão na divulgação dos dados em outubro de 2019, quando foram
incorporados as informações das pesquisas Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) e Censo de Capitais Estrangeiros no País.
19/ Para detalhamento da projeção do balanço de pagamentos, ver boxe “Projeções para o Balanço de Pagamentos de 2019 e 2020”.
20/ Para evolução das exportações, ver boxe “Evolução Recente da Balança Comercial”.
21/ O aumento na constituição de ativos brasileiros no exterior vem ocorrendo por meio de reinvestimento de lucros e de redução dos
regressos ao Brasil de participação no capital de empresas estrangeiras por residentes.
Índices de preços
Gráfico 1.29 – IC-Br e seus componentes A evolução do setor externo mostrou-se inflacionária
Variação % em 3 meses
no trimestre encerrado em novembro, quando
40
o Índice de Commodities – Brasil (IC-Br) avançou
30
12,86% (-5,37% no trimestre anterior), resultado da
20
alta de 9,13% no índice em dólares e depreciação
10 cambial de 3,40%. A alta no trimestre foi disseminada
0 entre os três segmentos, com as commodities
-10 agropecuárias avançando 15,68%, as metálicas
-20 4,36% e as energéticas 11,04%. Entre os produtos,
-30
destaquem-se os avanços dos preços, em dólares, do
Mai
2017
Ago Nov Fev
2018
Mai Ago Nov Fev
2019
Mai Ago Nov boi gordo, do zinco e do petróleo tipo Brent.
IC-Br Agropecuárias
Metálicas Energéticas
Nesse contexto, o Índice de Preços ao Produtor
Amplo – Disponibilidade Interna (IPA-DI) avançou
Gráfico 1.30 – Preços ao produtor – IPA-DI
Variação % em 3 meses 2,68% nos três meses encerrados em novembro, ante
8 recuo de 0,30% no trimestre anterior, acumulando
elevação de 6,24% em doze meses (4,48% em
4
agosto). A variação dos preços agropecuários passou
de 1,05% no trimestre encerrado em agosto para
0
7,22% em novembro, influenciada, sobretudo, pela
alta nos preços do milho e da carne bovina. Dentre
-4
os preços agropecuários relevantes para a dinâmica
-8
da inflação ao consumidor, destaque para a forte
Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov aceleração dos preços das carnes bovina e suína,
2017 2018 2019
IPA-DI Agrícola Industrial em meio ao aumento das exportações brasileiras
Fonte: FGV desses produtos para China.
22/ Núcleo da transformação exclui da variação do IPA da indústria de transformação o movimento nos preços de alimentos e combustíveis.
23/ Padrão sazonal obtido a partir das médias aparadas mensais, com exclusão de 20% de cada cauda, para o período de 2012 a 2018,
ajustadas para que o acumulado no ano se situe em 4,25%. A faixa sazonal do gráfico 1.28 foi igualmente calculada, considerando
padrão sazonal do período, ajustado para que o acumulado no ano se situe no intervalo entre 2,75% e 5,75%.
24/ Os preços dos alimentos in natura usualmente sobem de forma mais acentuada no final do ano, após o início do período chuvoso.
O atraso das chuvas em 2019, no entanto, favoreceu preços mais baixos no trimestre.
Gráfico 1.36 – Índice de difusão e núcleos de inflação O índice de difusão, que mensura a proporção dos
3 meses dessazonalizado
% de subitens com aumentos no mês Var. % anualizada componentes do IPCA com variação de preços
63 5 positiva, registrou média de 54,31% no trimestre
encerrado em novembro, ante 50,57% no finalizado
4
58
em agosto e 59,01% em igual período do ano anterior.
Na série livre de efeitos sazonais, a média trimestral
3
do índice de difusão recuou de 55,39% em agosto
53
2 para 53,55% em novembro.
48 1
Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov
A média dos núcleos de inflação acompanhados pelo
2017 2018 2019 BCB25 oscilou de 2,67% em agosto para 2,63% em
Índice de difusão Média dos núcleos de inflação (dir.) novembro, sob a métrica anualizada da média móvel
Fontes: IBGE e BCB
trimestral dessazonalizada. Quatro dos sete núcleos
mostraram recuo. No acumulado em doze meses, a
média dos núcleos manteve-se relativamente estável,
passando de 3,04% para 3,00%.
Expectativas de mercado
Gráfico 1.37 – Expectativas de mercado – IPCA De acordo com a Pesquisa Focus, a mediana das
Mediana (%) projeções para a variação anual do IPCA em 2019
4,1
passou de 3,45% em 13 de setembro para 3,84%
4,0
em 6 de dezembro. As medianas das projeções para
3,9
2020, 2021 e 2022, que eram respectivamente de
3,8
3,80%, 3,75% e 3,50% em 13 de setembro, passaram
3,7
para 3,60%, 3,75% e 3,50% em 6 de dezembro. Para
3,6 a inflação doze meses à frente, suavizada, a mediana
3,5 das previsões passou de 3,41% para 3,90%.
3,4
3,3
26.4 17.5 6.6 27.6 17.7 6.8 26.8 6.12
As medianas das expectativas para o aumento dos
2019 preços administrados ou monitorados por contratos
2019 2020 2021 2022
em 2019 e 2020 atingiram, respectivamente, 5,10%
e 4,00% em 6 de dezembro (4,50% e 4,20% em 13 de
setembro). A mediana das projeções manteve-se em
4,00% para 2021 e em 3,75% para 2022.
Tabela 1.4 – Resumo das expectativas de mercado Tabela 1.4 – Resumo das expectativas de mercado
(continuação)
14.6.2019 13.9.2019 6.12.2019 14.6.2019 13.9.2019 6.12.2019
2019 2020 2019 2020 2019 2020 2021 2022 2021 2022 2021 2022
Em % Em %
IPCA 3,84 4,00 3,45 3,80 3,84 3,60 IPCA 3,75 3,75 3,75 3,50 3,75 3,50
IGP-M 5,98 4,10 5,07 4,05 5,79 4,14 IGP-M 4,00 4,00 4,00 3,75 4,00 3,85
IPA-DI 7,25 4,45 5,61 4,21 6,94 4,32 IPA-DI 4,00 3,88 3,87 3,75 3,75 3,75
Preços administrados 5,20 4,40 4,50 4,20 5,10 4,00 Preços administrados 4,00 3,75 4,00 3,75 4,00 3,75
Selic (fim de período) 5,75 6,50 5,00 5,00 4,50 4,50 Selic (fim de período) 7,50 7,50 7,00 7,00 6,25 6,50
Selic (média do período) 6,31 6,50 5,94 5,00 5,88 4,41 Selic (média do período) 7,50 7,50 6,25 7,00 5,60 6,50
PIB 0,93 2,20 0,87 2,00 1,10 2,24 PIB 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50
Em R$/US$ Em R$/US$
Câmbio (fim de período) 3,80 3,80 3,90 3,90 4,15 4,10 Câmbio (fim de período) 3,85 3,90 3,90 3,95 4,00 4,00
Câmbio (média do período) 3,82 3,79 3,90 3,89 3,95 4,07 Câmbio (média do período) 3,80 3,85 3,90 3,95 4,00 4,00
(continua)
25/ Ex-0, Ex-1, Ex-2, Ex-3, Dupla ponderação, Médias aparadas com e sem suavização.
Este boxe atualiza as projeções do Banco Central para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em
2019 e 2020.
A projeção para o crescimento do PIB em 2019 foi revisada para 1,2%, ante 0,9% no Relatório de Inflação de
setembro (Tabela 1). Esse ajuste na projeção repercute os resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) para o terceiro trimestre do ano, a revisão da série histórica do PIB e o conjunto
de informações setoriais disponíveis para o trimestre em curso.
O resultado acima do esperado para o PIB do terceiro trimestre de 2019 favoreceu o carregamento estatístico
para o ano corrente, contribuindo para a elevação da estimativa de crescimento anual. Para o crescimento
do quarto trimestre, destaca-se o impulso decorrente das liberações extraordinárias de recursos do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Programa de Integração Social (PIS)/ Programa de Formação
do Patrimônio do Servidor Público (Pasep).
Para a exportação e importação de bens e serviços, estimam-se variações respectivas de -3,0% e 1,7%, em
20191, ante projeções anteriores de -0,5% e 1,9%. A alteração na projeção para as exportações reflete, em
grande medida, a redução dos valores referentes ao primeiro semestre do ano, no contexto da revisão da
série histórica do PIB.2 Nesse cenário, as contribuições da demanda interna e do setor externo para a evolução
do PIB em 2019 são estimadas em 1,9 p.p. e -0,7 p.p., respectivamente.
A projeção para o crescimento do PIB em 2020 foi revisada de 1,8% para 2,2% (Tabela 2), refletindo elevação
do carregamento estatístico, após a revisão das projeções para 2019, além de previsão de ritmo de crescimento
ao longo de 2020 ligeiramente superior ao considerado no Relatório de Inflação anterior. Ressalta-se que essa
perspectiva está condicionada ao cenário de continuidade das reformas e ajustes necessários na economia
brasileira.
Pelo lado da oferta, as previsões para agropecuária, indústria e serviços foram revistas, respectivamente,
para 2,9%, 2,9% e 1,7%, ante 2,6%, 2,2% e 1,4% no Relatório de Inflação anterior. A elevação na previsão da
atividade no setor primário repercute os primeiros prognósticos para a safra de 20203 e as boas perspectivas
para a pecuária. Na indústria e em serviços, as elevações nas previsões foram bastante disseminadas entre
atividades, repercutindo melhores perspectivas para os diversos setores da economia.
Consumo das famílias 2,1 2,0 2,2 2,3 A estimativa para o crescimento das exportações foi
Consumo do governo 0,4 -0,6 0,5 0,3 revista de 1,7% para 2,5%, enquanto a projeção para
Formação bruta de capital fixo 3,9 3,3 2,9 4,1
as importações passou de 1,6% para 3,8%. O aumento
Exportação 4,0 -3,0 1,7 2,5
Importação 8,3 1,7 1,6 3,8
na previsão para as exportações está associado,
entre outros fatores, a elevações nas estimativas de
Fonte: IBGE
1/ Estimativa.
crescimento da produção agropecuária e extrativa
mineral, setores voltados ao mercado externo. O
1/ Prognósticos para exportação, importação e FBCF estão sujeitos a níveis de incertezas mais elevados que o usual devido a indefinições
quanto ao volume de exportação e importação de equipamentos para a indústria de petróleo e gás, no âmbito do Regime Aduaneiro
Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás
Natural (Repetro).
2/ Sobre a evolução recente das exportações, ver boxe “Evolução Recente da Balança Comercial”, neste Relatório.
3/ A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê alta de 1,9% para a safra de grãos de 2019/2020 ante a safra de 2018/2019,
com a produção de soja, leguminosa com elevada participação no valor adicionado bruto da agricultura, crescendo 5,3%. Além disso,
a safra de café deve apresentar elevação acentuada, em ano de sazonalidade bianual favorável. Em sentido oposto, a produção da
segunda safra de milho deve recuar, influenciada por atraso no plantio de soja em importantes regiões produtoras, motivado por
atraso no início das chuvas.
A população ocupada (PO)1 no Brasil aumentou 7,3% entre o primeiro trimestre de 2012 e o terceiro trimestre
de 2019, ao longo de três fases distintas: crescimento até o primeiro trimestre de 2015, recuo nos sete
trimestres seguintes e retomada a partir do final de 2016, em linha com a evolução da atividade econômica
(Gráfico 1). No mesmo período, a massa real de rendimentos do trabalho (massa de rendimentos) acumulou
alta de 14,4%, com períodos de expansão e contração aproximadamente coincidentes com os da PO (Gráfico 2).
A desagregação dos dados por categorias de ocupação mostra que a evolução da PO e da massa de
rendimentos não ocorreu de forma homogênea ao longo do tempo. Entre o primeiro trimestre de 2012 e o
quarto trimestre de 2016, os trabalhadores formais foram responsáveis pelas maiores variações na PO e na
massa de rendimentos, enquanto no ciclo de expansão iniciado ao final de 2016, os informais tiveram papel
preponderante (Gráficos 3 e 4)2. Considerando que trabalhadores formais, em geral, trabalham mais horas
semanalmente, recebem mais por hora trabalhada, possuem maior nível de escolaridade e também maior
6 15
4 10
2 5
0 0
-2 -5
-4 -10
I Tri 2012 I Tri 2015 IV Tri 2016 Período I Tri 2012 I Tri 2015 IV Tri 2016 Período
a a a completo a a a completo
I Tri 2015 IV Tri 2016 III Tri 2019 I Tri 2015 IV Tri 2016 III Tri 2019
Fontes: IBGE e BCB Formal Informal Total Fontes: IBGE e BCB Formal Informal Total
1/ De acordo com dados da PNAD Contínua. Considerou-se neste boxe somente a PO com rendimento. A medida de rendimentos
utilizada foi a habitualmente recebida em todos os trabalhos, deflacionada pelo IPCA. Os dados foram ajustados sazonalmente pelo
Banco Central.
2/ Neste boxe, trabalhadores formais são formados por empregados de setor privado com carteira, trabalhadores domésticos com
carteira, trabalhadores do setor público e empregadores, enquanto informais são formados pelo restante da população ocupada.
No primeiro ciclo de expansão da PO, iniciado no primeiro trimestre de 20124 e encerrado no primeiro trimestre
de 2015, o contingente de trabalhadores formais cresceu 7,8%, com altas expressivas entre os trabalhadores do
setor privado com carteira, do setor público e empregadores. A PO do setor informal ficou praticamente estável
(+0,8%), com recuos nos números de empregados do setor privado sem carteira e de domésticos sem carteira
compensando boa parte da elevação na quantidade de trabalhadores por conta própria. No mesmo período,
os rendimentos médios dos trabalhadores formais e informais cresceram em magnitudes semelhantes (5,0%
e 6,2%, respectivamente), repercutindo, principalmente, as altas nos rendimentos médios de empregados do
setor privado com carteira e de trabalhadores por conta própria. Como resultado dos crescimentos da PO e
do rendimento médio de formais e informais, a massa de rendimentos acumulou alta expressiva no período
(11,4%), com os trabalhadores formais contribuindo com a maior parte desse crescimento.5
Entre o primeiro trimestre de 2015 e o final de 2016, período em que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional
recuou 6,4%, houve diminuição de 5,1% no contingente de trabalhadores do setor formal, com queda de 6,4%
entre os empregados do setor privado com carteira, enquanto o rendimento médio desse setor manteve-se
praticamente estável, evidenciando rigidez de salários. Nessa fase de forte recuo da atividade econômica, o
desempenho do setor informal começou a se destacar. A PO desse setor cresceu 1,7%, compensando parte
da queda entre os formais, com destaque para o aumento no número de empregados do setor privado sem
carteira e, principalmente, de trabalhadores por conta própria. Porém, o rendimento médio dos informais
apresentou forte recuo (-4,9%), refletindo a maior flexibilidade para ajustes nos rendimentos e a ampliação da
oferta de trabalhadores, em razão da escassez de vagas no setor formal. Dessa forma, a massa de rendimentos
recuou 4,5% no período, com contribuições de -3,6 p.p. dos trabalhadores formais, repercutindo recuo na
ocupação, e de -0,9 p.p. dos informais, em virtude da redução nos rendimentos médios no segmento.
Por fim, no período mais recente, diferentemente do observado no primeiro ciclo de expansão da série, os
trabalhadores informais dominaram o crescimento da PO. Entre o quarto trimestre de 2016 e o terceiro
trimestre de 2019, o contingente de trabalhadores informais apresentou expressiva elevação (12,0%),
contribuindo com 5,0 p.p. do aumento de 4,7% da PO – a maior parte da contribuição decorreu de aumentos
de empregados nos segmentos do setor privado sem carteira e, principalmente, de trabalhadores por conta
própria. No setor formal, recuos no número de empregados com carteira do setor privado e de empregados
domésticos com carteira sobrepujaram as elevações nas quantidades de trabalhadores do setor público e de
empregadores. Em relação aos rendimentos médios, houve incrementos de 4,4% e 4,3% para os trabalhadores
formais e informais, respectivamente, interrompendo as tendências observadas na fase anterior. A massa de
rendimentos acumulou alta de 7,5% no período, com a maior parte (4,6 p.p.) repercutindo elevações da PO
e do rendimento médio dos trabalhadores informais.
3/ Considerando a média dos últimos quatro trimestres, os trabalhadores formais receberam 62,4% a mais por hora trabalhada do que
os informais e trabalharam 15,6% mais horas semanalmente. Neste período, 73,2% dos trabalhadores formais possuíam ao menos
o segundo grau completo, ante 44,6% entre os informais. Além disso, a taxa de transição da ocupação para desocupação ou para
fora da força de trabalho entre dois trimestres consecutivos foi, em média, de 4,7% entre os formais e de 14,8% entre os informais.
4/ O primeiro trimestre de 2012 é o início da série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
5/ As Tabelas 1, 2 e 3, ao final do boxe, permitem uma análise mais detalhada de cada uma das distintas fases da evolução recente
do mercado de trabalho. As contribuições de cada categoria populacional “i” para a variação da PO com rendimento, da massa de
∆𝑃𝑂𝑖 ∆𝑀𝑖 𝑅𝑖 ∆𝑅𝑖 𝑅𝑖 − 𝑅
rendimentos (M) e do rendimento médio (R) foram calculadas, respectivamente, como , 𝑒 𝑓𝑖 + ∆𝑓𝑖 , onde
𝑃𝑂𝑖 ∆𝑃𝑂 ∆𝑀 𝑅 𝑅𝑖 𝑅
𝑓𝑖 = . No caso do rendimento médio, o primeiro termo representa o efeito da variação do rendimento médio de cada categoria
𝑃𝑂
e o segundo, o efeito da variação de composição.
21 21
14 14
7 7
0 0
-7 -7
I Tri 2012 I Tri 2015 IV Tri 2016 Período I Tri 2012 I Tri 2015 IV Tri 2016 Período
a a a completo a a a completo
I Tri 2015 IV Tri 2016 III Tri 2019 I Tri 2015 IV Tri 2016 III Tri 2019
PO Horas médias PO Horas médias
Fontes: IBGE e BCB Rend./hora Total Fontes: IBGE e BCB Rend./hora Total
Para complementar a análise, a variação da massa de rendimentos do setor informal foi decomposta por
categorias de ocupação (Gráficos 7 e 8)7, 8
Entre o primeiro trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2016 a massa salarial dos trabalhadores informais
recuou 3,2%. Parcela expressiva dessa queda (-2,2 p.p.) decorreu de recuos na população ocupada, no número
médio de horas trabalhadas semanalmente e nos rendimentos médios por hora de trabalhadores qualificados
da construção civil. Em sentido oposto, elevações na população ocupada de trabalhadores qualificados da
agropecuária; dirigentes e especialistas em administração pública e de empresas; condutores de veículos
e operadores de equipamentos pesados móveis9, entre outras categorias, evitaram que a queda da massa
salarial fosse ainda mais pronunciada. Destaca-se ainda que nesse período a maioria das ocupações apresentou
redução na média de horas trabalhadas semanalmente e no rendimento médio por hora.
A partir do quarto trimestre de 2016 a massa de rendimentos do setor informal passou a crescer, acumulando
alta significativa, de 16,8%, até o terceiro trimestre de 2019. Contribuíram positivamente para a elevação
da massa de rendimentos 31 das 43 ocupações, com a principal contribuição proveniente de vendedores10.
Profissionais de saúde e condutores de veículos e operadores de equipamentos pesados móveis ampliaram
suas contribuições para elevação da massa de rendimentos. Os destaques negativos foram trabalhadores
ambulantes e gerentes de hotéis, restaurantes, comércios e outros serviços.
6/ Nesse período, houve também redução no número médio de horas trabalhadas semanalmente entre os formais, porém em menor
intensidade.
7/ Ocupações de acordo com o Código Brasileiro de Ocupações para pesquisas domiciliares, na abertura de dois dígitos, totalizando
43 ocupações. A análise com este nível de desagregação deve ser tomada com o devido cuidado tendo em vista a perda de precisão
associada à fragmentação amostral.
8/ Nos Gráficos 7 e 8, somente as oito ocupações que mais contribuíram para elevação e para o recuo da massa de rendimentos são
apresentadas.
9/ Desagregação adicional desta ocupação mostra que a maior parte da elevação da PO foi proveniente do aumento no número de
condutores de automóveis, caminhonetes e motocicletas, possivelmente associado à disseminação de serviços de transporte de
passageiros e de mercadorias contratados por meio de aplicativos. Convém ressaltar, novamente, que a análise com este nível de
desagregação deve ser tomada com relativa cautela, tendo em vista a perda de precisão associada à fragmentação amostral.
10/ A população ocupada de vendedores, especialmente os vendedores à domicílio, já vinha subindo de maneira expressiva entre
o primeiro trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2016. Porém, neste período a contribuição para a evolução da massa de
rendimentos foi praticamente nula em decorrência de reduções no rendimento médio por hora e no número médio de horas
trabalhadas semanalmente.
1,0 3
2,5
0,5
2
0,0
1,5
-0,5
1
-1,0
0,5
-1,5
0
-2,0
-0,5
-2,5
-1
Espec. adm. pública e de empresas
Vendedores
Prof. ensino
Em suma, o processo de recuperação do mercado de trabalho observado nos últimos anos tem se apoiado
primordialmente no setor informal, diferentemente do que foi observado no ciclo de expansão que precedeu
a última recessão. O movimento pode estar associado não apenas ao gradualismo que caracteriza a retomada
da atividade econômica, mas também a fatores tecnológicos que ampliaram as possibilidades de se ofertar
trabalho autonomamente. Ademais, trabalhadores do setor informal, em geral, trabalham menos horas por
semana e recebem menos por hora trabalhada, e isso tem impactos em medidas de produtividade do trabalho
usualmente computadas, que ignoram esses fatores.11
Período completo I Tri 2012 – I Tri 2015 I Tri 2015 – IV Tri 2016 IV Tri 2016 – III Tri 2019
1/ Contr. 1/ Contr. 1/ Contr. 1/ Contr.
Part. % Var. % Part. % Var. % Part. % Var. % Part. % Var. %
p.p. p.p. p.p. p.p.
Total 100,0 7,3 7,3 100,0 4,9 4,9 100,0 -2,3 -2,3 100,0 4,7 4,7
Formal 58,4 1,9 1,1 59,6 7,8 4,6 59,0 -5,1 -3,0 56,9 -0,4 -0,2
Privado com carteira 39,0 -1,4 -0,5 40,5 7,8 3,1 39,5 -6,4 -2,6 37,2 -2,2 -0,9
Domésticos com carteira 2,1 -7,6 -0,2 2,2 0,3 0,0 2,3 1,0 0,0 2,1 -8,7 -0,2
Setor público 12,7 6,2 0,8 12,7 6,3 0,8 12,7 -3,5 -0,5 12,8 3,6 0,5
Empregador 4,5 25,4 1,0 4,2 17,0 0,7 4,5 -0,3 0,0 4,8 7,6 0,4
Informal 41,6 14,9 6,2 40,4 0,8 0,3 41,0 1,7 0,7 43,1 12,0 5,0
Privado sem carteira 12,0 5,8 0,8 12,1 -7,3 -0,9 11,3 1,2 0,1 12,3 12,9 1,5
Domésticos sem carteira 4,8 8,2 0,4 4,7 -1,4 -0,1 4,6 0,2 0,0 4,9 9,6 0,5
Conta própria 24,8 21,1 5,0 23,5 5,6 1,3 25,1 2,4 0,6 26,0 12,0 3,0
Familiar 0,0 17,4 0,0 0,0 36,2 0,0 0,0 -57,1 0,0 0,0 101,0 0,0
11/ Ver boxe “Produtividade do trabalho e horas trabalhadas”, no Boletim Regional de outubro de 2019, para uma análise de como o
controle para horas trabalhadas pode mudar a avaliação de como evoluiu a produtividade do trabalho desde a última recessão.
Período completo I Tri 2012 – I Tri 2015 I Tri 2015 – IV Tri 2016 IV Tri 2016 – III Tri 2019
Rend. Contr. Rend. Contr. Rend. Contr. Rend. Contr.
1/ Var. % 1/ Var. % 1/ Var. % 1/ Var. %
R$ p.p. R$ p.p. R$ p.p. R$ p.p.
Total 2 266 6,6 6,6 2 254 6,2 6,2 2 255 -2,2 -2,2 2 286 2,6 2,6
Formal 2 791 9,6 6,0 2 738 5,0 4,0 2 764 0,1 -0,3 2 866 4,4 2,3
Privado com carteira 2 201 5,9 2,3 2 179 5,1 2,0 2 195 -1,3 -0,5 2 230 2,2 0,8
Domésticos com carteira 1 227 15,8 0,3 1 186 9,9 0,2 1 215 1,4 0,0 1 281 3,9 0,2
Setor público 3 711 11,6 2,3 3 618 4,3 1,0 3 680 2,3 0,4 3 830 4,6 0,9
Empregador 6 040 -1,1 1,0 6 238 0,3 0,9 5 963 -3,1 -0,2 5 878 1,8 0,4
Informal 1 530 5,3 0,6 1 540 6,2 2,2 1 524 -4,9 -1,9 1 520 4,3 0,3
Privado sem carteira 1 368 7,5 0,6 1 351 -0,2 0,6 1 348 -1,9 -0,3 1 396 9,7 0,4
Domésticos sem carteira 751 9,3 0,1 734 10,1 0,4 761 -2,1 -0,1 766 1,4 -0,1
Conta própria 1 758 2,6 -0,2 1 799 7,1 1,3 1 746 -6,4 -1,5 1 721 2,4 0,0
Familiar 746 27,7 0,0 778 57,2 0,0 652 -34,9 0,0 777 24,7 0,0
Período completo I Tri 2012 - I Tri 2015 I Tri 2015 - IV Tri 2016 IV Tri 2016 - III Tri 2019
Total 100,0 14,4 14,4 100,0 11,4 11,4 100,0 -4,5 -4,5 100,0 7,5 7,5
Formal 71,9 11,8 8,4 72,4 13,2 9,5 72,3 -5,0 -3,6 71,3 3,9 2,8
Privado com carteira 37,9 4,5 1,7 39,2 13,2 5,1 38,4 -7,6 -3,0 36,3 -0,1 0,0
Domésticos com carteira 1,2 7,0 0,1 1,1 10,2 0,1 1,2 2,3 0,0 1,2 -5,1 -0,1
Setor público 20,8 18,6 3,8 20,3 10,9 2,2 20,8 -1,3 -0,3 21,4 8,3 1,8
Empregador 12,0 24,1 2,8 11,8 17,3 2,0 11,8 -3,4 -0,4 12,5 9,5 1,2
Informal 28,1 21,0 5,9 27,6 7,0 2,0 27,7 -3,2 -0,9 28,7 16,8 4,6
Privado sem carteira 7,3 13,8 1,1 7,3 -7,5 -0,6 6,8 -0,7 0,0 7,5 23,8 1,7
Domésticos sem carteira 1,6 18,3 0,3 1,5 8,5 0,1 1,6 -1,9 0,0 1,6 11,2 0,2
Conta própria 19,2 24,3 4,5 18,8 13,2 2,4 19,4 -4,2 -0,8 19,6 14,7 2,8
Familiar 0,0 49,9 0,0 0,0 114,1 0,0 0,0 -72,1 0,0 0,0 150,7 0,0
Períodos de contração econômica e recuperação gradual, como o vivenciado pela economia brasileira nos
últimos anos, podem provocar aumento da subocupação, saída de pessoas do mercado de trabalho por
desalento1 e entrada de pessoas oferecendo trabalho para complementar a renda domiciliar. Simultaneamente,
inovações tecnológicas e alterações da legislação têm contribuído para a flexibilização das relações
trabalhistas nos últimos anos. Nesse contexto, medidas mais amplas de subutilização da força de trabalho
(FT) – comparativamente à usual taxa de desocupação (TD) – ganham relevância para avaliação do nível de
ociosidade no mercado de trabalho. Explorando dados da PNAD Contínua, este boxe apresenta medidas de
subutilização do fator trabalho com enfoque nas horas totais disponíveis da força de trabalho ou, de forma
mais abrangente, nas horas totais disponíveis do mercado de trabalho, considerando-se não só a FT, mas
também a força de trabalho potencial (FTP)2.
em que PO e PD são, respectivamente, as populações ocupada e desocupada, a abordagem com enfoque nas
horas disponíveis da FT estima uma taxa de desocupação ajustada pelas horas (TDAH) dada por:
𝐻𝑝 𝑃𝑂𝑝 + 𝐻𝑠 𝑃𝑂𝑠
𝑇𝐷𝐴𝐻 = 1 − ,
𝐻𝑝 𝑃𝑂𝑝 + 𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷
A TDAH dá peso diferenciado para a população plenamente ocupada e para a população subocupada,
diferentemente do que ocorre na medida tradicional de desemprego. Também difere da “taxa combinada da
subocupação por insuficiência de horas e da desocupação”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), que exclui totalmente as horas trabalhadas pelos subocupados (i.e., imputa Hs = 0).
1/ A força de trabalho é composta de pessoas ocupadas ou desocupadas. Essas últimas são aquelas que estavam sem trabalho e
disponíveis para trabalhar na semana de referência e realizaram busca efetiva por trabalho no período de referência de 30 dias.
Trabalhadores subocupados, um subgrupo da população ocupada, correspondem aos que trabalharam por menos de 40 horas
semanais, estavam disponíveis e gostariam de trabalhar por mais horas. Desalentados são pessoas que gostariam de ter um trabalho
e estavam disponíveis para trabalhar, mas não realizaram busca efetiva por trabalho.
2/ A força de trabalho potencial é definida como o conjunto de pessoas de 14 anos ou mais de idade que não estavam ocupadas nem
desocupadas, mas que possuíam potencial de migrar para a força de trabalho; inclui os chamados desalentados e pessoas que
realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar na semana de referência.
3/ Uma medida ideal seria o número de horas de trabalho que os indivíduos subocupados, desocupados e na FTP estivessem dispostos
a ofertar. Na ausência dessa informação, utilizou-se como proxy a média de horas trabalhadas pelos ocupados que não se declararam
subocupados. Uma vantagem de se usar essa proxy, e não um valor fixo para o número de horas potenciais, é tornar o indicador mais
robusto a mudanças de caráter estrutural nas jornadas de trabalho.
O Gráfico 1 mostra que os indicadores ajustados por horas trabalhadas evoluem de forma semelhante à TD no
longo prazo, sendo que a TDAH e a TDAAH são, respectivamente, 2,5 p.p. e 7,3 p.p. maiores que a TD, considerada
a média da série iniciada em 20124. No período mais recente, no entanto, a retração da ociosidade sugerida
pelo indicador tradicional de desocupação não é tão evidente nas medidas mais amplas. Enquanto a TD recuou
0,6 p.p. entre o terceiro trimestre de 2017 e o mesmo período de 2019, essa retração ficou em 0,3 p.p. na TDAH,
refletindo o aumento da subocupação5. A TDA AH diminuiu 0,2 p.p. nesse intervalo, evidenciando elevação da
FTP, decorrente do crescimento do desalento6. Os níveis atuais da TD, TDAH e TDA AH são, respectivamente,
12,1%, 15,4% e 21,2%7.
Gráfico 1 – Taxa de desocupação e indicadores
alternativos1/
%
25
20
15
10
0
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
TD TDAH TDAAH
Fontes: IBGE e BCB
1/ Dados dessazonalizados.
As taxas de desocupação ajustadas pelas horas podem ser reescritas como funções da população ocupada
total, da população desocupada, da razão entre os subocupados e a população ocupada total (f) e da razão
entre as horas médias trabalhadas pelos subocupados e pelos plenamente ocupados (h)8, o que permite
decompor as variações da TDAH e da TDA AH como resultado da evolução dessas variáveis. A decomposição da
variação da TDAH mostra que, apesar da redução da população de desocupados e do aumento dos ocupados
terem contribuído para o recuo da TDAH ao longo dos últimos trimestres, a elevação da participação dos
subocupados evitou sua queda, deixando-a praticamente estável (Gráfico 2). Portanto, a ociosidade medida
4/ Consideraram-se as horas habitualmente trabalhadas em todos os trabalhos e foram descartados da amostra os ocupados sem
informação sobre horas trabalhadas. Mudança metodológica da pesquisa – vide Nota Técnica do IBGE “Reformulação do questionário
da PNAD Contínua a partir do 4º trimestre de 2015” – alterou conceitos e medidas, provocando quebra de nível em algumas séries,
inclusive nas de subocupados e horas trabalhadas. Para mitigar o problema, foi realizado encadeamento/retropolação das séries
calculadas antes e depois do 4º trimestre de 2015.
5/ O número de subocupados cresceu 13,2% entre o 3º trimestre de 2017 e o mesmo período de 2019. A participação dos subocupados
na população ocupada alcançou 7,5% no 3º trimestre de 2019, enquanto o mínimo da série foi 3,7% e ocorreu no 2º trimestre de
2014.
6/ O número de desalentados aumentou 11,8% entre o 3º trimestre de 2017 e o mesmo período de 2019. O número de pessoas que
realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar na semana de referência, diminuiu 2,1%
nesse intervalo.
7/ Entre as taxas de subutilização divulgadas pelo IBGE, a taxa combinada da subocupação por insuficiência de horas e da desocupação
ficou estável em 18,6% na comparação do 3º trimestre de 2019 com os mesmos períodos dos dois anos anteriores; a taxa combinada
da desocupação e da força de trabalho potencial passou de 18,5% no 3º trimestre de 2017, para 18,3% e 18,1% nos anos seguintes; e a
taxa composta da subutilização da força de trabalho, de 24,1% para 24,3% e 24,2%, nas mesmas referências (dados dessazonalizados).
𝑃𝑂[1 − 𝑓 1 − ℎ ] e 𝑃𝑂 1 − 𝑓 1 − ℎ 𝑃𝑂𝑠 𝐻𝑠
8/ 𝑇𝐷𝐴𝐻 = 1 − 𝑇𝐷𝐴𝐴𝐻 = 1 − , em que 𝑓 = e ℎ= .
𝑃𝑂 + 𝑃𝐷 𝑃𝑂 + 𝑃𝐷 + 𝐹𝑇𝑃 𝑃𝑂 𝐻𝑝
pela TDAH não diminuiu tanto quanto a medida pela TD porque houve aumento da margem extensiva de
participação de subocupados, mas não devido à uma redução das horas médias trabalhadas por esse grupo
em relação aos plenamente ocupados.
Destaca-se que as medidas de ociosidade apresentadas são menos tempestivas que a medida tradicional de
desocupação, pois as horas trabalhadas são disponibilizadas apenas em frequência trimestral. No entanto,
essa limitação pode ser contornada por meio de versões modificadas da TDAH e da TDA AH10:
𝐻
𝑃 𝑂𝑝 + 𝑠 𝑃𝑂𝑠
∗
𝐻𝑝
𝑇𝐷𝐴𝐻 = 1− 𝑒
𝑃𝑂𝑝 + 𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷
𝐻𝑠
𝑃𝑂𝑝 +
𝑃𝑂𝑠
∗
𝐻𝑝
𝑇𝐷𝐴𝐴𝐻 =1− ,
𝑃𝑂𝑝 + 𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷 + 𝐹𝑇𝑃
em que 𝐻𝑠 e 𝐻𝑝 são, respectivamente, as médias ao longo dos quatro trimestres anteriores da média de horas
trabalhadas semanalmente pelos subocupados e pelos plenamente ocupados. Essas versões modificadas
produzem resultados muito próximos dos obtidos com as versões originais, com a vantagem de poderem ser
computadas mensalmente (Gráfico 3).
9/ A Lei nº 13.429/2017 flexibilizou as regras para contratação de empresas de prestação de serviços a terceiros. A Lei nº 13.467/2017,
da reforma trabalhista, entre outras medidas, introduziu a modalidade de trabalho intermitente, modificou as regras da modalidade
de trabalho em regime de tempo parcial (antes, a jornada era de até 25 horas semanais, sem possibilidade de realização de horas
extras; atualmente, esses contratos podem prever jornada de até 30 horas semanais, sem possibilidade de horas extras, ou jornada
de até 26 horas semanais, com possibilidade de até 6 horas extras) e regulamentou o teletrabalho. Note-se que, para efeito da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), o trabalhador intermitente que não foi convocado para
trabalhar na semana de referência é considerado desocupado.
𝐻 𝐻
𝑃𝑂𝑝 + 𝑠 𝑃𝑂𝑠 𝑃 𝑂𝑝 + 𝑠 𝑃𝑂𝑠
𝐻𝑝 𝐻𝑝
10/ As versões originais de TDAH e TDAAH podem ser escritas como 𝑇𝐷𝐴𝐻 = 1 − 𝑃𝑂 + 𝑃𝑂 + 𝑃𝐷 e 𝑇𝐷𝐴𝐴𝐻 = 1 − 𝑃𝑂 + 𝑃𝑂 + 𝑃𝐷 + 𝐹𝑇𝑃 . Para
𝑝 𝑠 𝑝 𝑠
construção das versões modificadas, os valores contemporâneos de Hs e Hp foram substituídos pelas médias dos quatro trimestres
anteriores.
20
15
10
0
Abr Out Abr Out Abr Out Abr Out Abr Out Abr Out Abr Out
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Em síntese, o presente boxe apresentou indicadores de taxa de desocupação ajustados pelas horas de
trabalho para complementar a avaliação do nível de ociosidade no mercado de trabalho. A evolução recente
dos indicadores alternativos sugere retomada mais lenta do mercado de trabalho do que a apontada pela
TD, evolução explicada, em parte, pelo aumento dos subocupados.
Este boxe apresenta a revisão das projeções de crescimento do saldo de crédito em 2019 e 2020, desagregadas
nos segmentos de pessoas jurídicas e físicas, e de recursos livres e direcionados (Tabela 1). As novas estimativas
consideram as estatísticas de crédito divulgadas desde o Relatório de Inflação de setembro, assim como a
evolução recente da economia doméstica e suas perspectivas.
Em comparação ao Relatório de Inflação anterior1, houve aumento na projeção para crescimento do estoque
total de crédito em 2019, de 5,7% para 6,9%, com elevações nas estimativas para o saldo do crédito destinado
a pessoas jurídicas, de -0,9% para 0,9%, bem como para pessoas físicas, de 11,0% para 11,8%.
No que tange ao estoque de crédito a pessoas jurídicas, houve elevação na projeção de crescimento do
segmento de recursos livres (de 8,0% para 10,5%), influenciada pela aceleração recente no ritmo de expansão
das novas operações, especialmente para as empresas de pequeno e médio porte, movimento consistente
com a recuperação da atividade econômica. O crédito às grandes empresas segue contido, influenciado pelo
processo de substituição de financiamento bancário por dívidas fora do Sistema Financeiro Nacional (SFN).2
A projeção para a variação do saldo do crédito direcionado às empresas em 2019 segue indicando
contração acentuada (-11,0%, ante -12,0%), em linha com a redução de participação do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Há que se destacar a diminuição na diferença entre o custo
de financiamento nos créditos livre e direcionado, que tem contribuído para a dinâmica mais vigorosa do
segmento livre.
Os empréstimos para pessoas físicas financiados com recursos livres continuam sendo o principal vetor de
crescimento do crédito no país. A expansão generalizada dessas modalidades de crédito, em linha com o
1/ Boxe “Projeções para a evolução do crédito em 2019 e 2020”, publicado no Relatório de Inflação de setembro de 2019.
2/ O endividamento de todas as empresas não financeiras que buscaram recursos com emissão de debêntures e notas promissórias
entre janeiro e outubro de 2019, consideradas de grande porte em sua maioria, aumentou R$133,8 bilhões no mercado de capitais
doméstico, enquanto a dívida dessas empresas no SFN diminuiu R$37,8 bilhões (82,6% desse valor em operações com recursos
livres).
Para 2020, manteve-se a projeção de crescimento de 8,1% do estoque de crédito no SFN, porém, com revisão
para cima na previsão de desempenho dos empréstimos a pessoas físicas (de 11,2% para 12,2%) e redução na
evolução esperada para os financiamentos às empresas (de 3,8% para 2,5%). A revisão da trajetória do crédito
às famílias incorpora o ritmo de crescimento mais forte que vem sendo observado em 2019, com repercussão,
principalmente, no segmento de recursos livres. Em que pese o aumento na projeção de crescimento do crédito
livre às famílias (de 13,0% para 15,4%), espera-se ligeira moderação em relação ao desempenho estimado para
2019, tendo em vista a evolução ainda gradual do mercado de trabalho, o aumento da base de comparação
e a elevação nos indicadores de endividamento e comprometimento de renda com serviços financeiros. As
operações com recursos direcionados devem registrar crescimento de 8,1%, ante projeção anterior de 9,0%,
com as operações de financiamento de imóveis mostrando uma dinâmica mais forte que a do crédito rural.
A evolução dos empréstimos às pessoas jurídicas deve seguir limitada pelo segmento de recursos direcionados
(projeção revisada de -5,0% para -8,6%), no contexto de diminuição da participação de bancos públicos. Por
outro lado, o segmento de recursos livres deve registrar expansão de 9,7% (projeção anterior de 9,5%), em
consonância ao processo de recuperação da atividade econômica.
Em conjunto, as projeções apresentadas apontam aceleração gradual do estoque total de crédito nos próximos
meses, sustentado pelo crescimento robusto das operações com recursos livres em 2019 (13,9%) e 2020
(12,9%). Concomitante, espera-se gradual aceleração do crédito com recursos direcionados, com perspectiva
de retração em 2019 (-1,3%) e discreto crescimento em 2020 (1,6%).
Este boxe apresenta as projeções revisadas para o balanço de pagamentos de 2019 e 2020. As novas estimativas
consideram a evolução econômica doméstica e internacional e os dados mais recentes relativos aos fluxos
de bens, serviços e de capitais, bem como revisões das estatísticas divulgadas desde a edição anterior do
Relatório de Inflação.
A revisão da projeção do saldo da balança comercial para 2019 incorporou os impactos da desaceleração
da economia Argentina, da peste suína que afeta principalmente a China, bem como a evolução recente do
câmbio e do comércio mundial, além das revisões nos dados de setembro, outubro e novembro provenientes
da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia (ME). A nova projeção estima superavit
de US$39 bilhões da balança comercial este ano, ante superavit de US$43 bilhões indicados na projeção feita
em setembro de 2019. Essa alteração refletiu a desaceleração das exportações em ritmo superior ao esperado
anteriormente, haja vista a evolução recente. Para as importações, a revisão decorre fundamentalmente
da incorporação dos dados divulgados desde o Relatóriode Inflação anterior, ligeiramente aquém do nível
esperado, em parte pela menor importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas
de petróleo e de gás natural – (Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados
às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás Natural – Repetro)1. Estima-se que as
exportações e as importações atinjam US$226 bilhões e US$187 bilhões, na ordem, considerando importações
líquidas de US$7 bilhões no âmbito do Repetro.
O deficit da conta de serviços está estimado em US$35,6 bilhões para o ano, valor US$1,5 bilhão acima da
previsão anterior. A revisão reflete ligeiro ajuste na conta de aluguel de equipamentos, que passou de deficit
de US$13,5 bilhões para US$14,5 bilhões, além de ajustes marginais nas demais contas.
Os pagamentos líquidos de juros foram projetados em US$24,3 bilhões, acima da projeção anterior de
US$20,5 bilhões, considerando a atualização do cronograma de pagamento do serviço da dívida externa.
Adicionalmente, a projeção para as remessas líquidas de lucros e dividendos para 2019 passou de US$26,5
bilhões para US$32 bilhões, majoritariamente em virtude de revisões estatísticas nas contas de receitas e
despesas, que vieram acima do esperado.2
O superavit da renda secundária foi mantido em relação ao Relatório anterior e deverá atingir US$1,5 bilhão
no ano.
Dessa forma, o saldo em transações correntes deverá alcançar deficit de US$51,1 bilhões em 2019 (2,8% do
Produto Interno Bruto – PIB), acima da previsão constante no Relatório de Inflação de setembro (US$36,3
bilhões, correspondente a 2,0% do PIB), notadamente em razão da revisão no saldo da balança comercial,
bem como da incorporação de revisões estatísticas nas contas de serviços e renda primária.
1/ A Lei n° 13.586/2017 instituiu alterações no tratamento tributário dispendido aos investimentos no setor de óleo e gás, o que
produzirá impactos nas transferências de propriedade de bens entre empresas não residentes e residentes. Os valores considerados
nas projeções apresentadas neste Relatório podem passar por ajuste em decorrência das estratégias empresariais sobre o pagamento
dessas importações. A esse respeito ver, por exemplo, Nota divulgada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços em
julho de 2018, disponível em: http://www.mdic.gov.br/index.php/component/content/article?id=3423.
2/ Para maiores detalhes: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticassetorexterno.
Para a conta de serviços, projeta-se ligeiro aumento do deficit em relação a 2019, atingindo US$36 bilhões
(1,1% em relação ao previsto para 2019), acima do esperado no Relatório de setembro. Destaca-se a redução,
em relação a 2019, das despesas líquidas com aluguel de equipamentos, que deverão atingir US$13 bilhões
ao final do ano, influenciada, entre outros fatores, pelos impactos das mudanças no Repetro, uma vez que
Do lado da renda primária, espera-se relativa estabilidade das remessas líquidas de 2020, atingindo deficit
de US$55,8 bilhões (ante US$48 bilhões no Relatório de setembro). A projeção para o pagamento de juros,
US$22 bilhões, situa-se abaixo do valor esperado para 2019, refletindo cenário de menores taxas de juros
no mercado internacional. As remessas líquidas de lucros e dividendos, US$34 bilhões, deverão crescer em
relação ao previsto para 2019, em linha com a retomada da atividade doméstica.
A melhor perspectiva para a performance da economia brasileira em 2020 deverá também estimular a
continuidade de ingressos de investimentos estrangeiros em volumes expressivos, a despeito das incertezas
no cenário externo e no comércio internacional. Projeta-se IDP em US$80 bilhões no ano (manutenção em
relação ao Relatório de Inflação anterior) já incorporando as contrapartidas das importações de plataformas
e equipamentos no âmbito do Repetro. Estima-se aumento dos investimentos em ações em 2020, para US$5
bilhões, ante saídas líquidas de US$1,6 bilhão projetadas para 2019. Assim como em 2019, as captações de
longo prazo, por meio de empréstimos e títulos, deverão se manter no mesmo patamar das amortizações,
com a taxa de rolagem atingindo 100%.
Do lado dos ativos, a projeção para o investimento brasileiro no exterior para 2020 situa-se em US$14 bilhões
(mesmo valor do Relatório de Inflação anterior), com recuo em relação ao esperado para 2019 (US$22 bilhões),
em cenário de desaceleração da economia mundial. Por último, manteve-se a projeção dos investimentos em
carteira no exterior, em US$5 bilhões.
O saldo das transações correntes vem mostrando deterioração nos últimos meses, atingindo deficit de 2,8%
do Produto Interno Bruto (PIB) em novembro deste ano1, ante 0,7% do PIB registrado em janeiro de 2018.
O movimento reflete, entre outros fatores, o resultado da balança comercial, cujo superavit recuou de 3,1%
para 2,2% do PIB nesse período (Gráfico 1).2
Gráfico 1 – Transações Correntes Gráfico 2 – Evolução recente do saldo Gráfico 3
Acumulado 12 meses (% PIB) comercial Jan
4 Rendas Primária e Secundária Acumulado 12 meses (US$ bilhões)
Serviços 3,1
240
3 Saldo Balança Comercial
Transações Correntes / PIB 2,2 230
2
220
52 52
1 -0,3 210 52 53 50 50 49 48 46
51 51
51 46 45 41 41 39
Variação %
0 200 54
-0,7 60 58 57
190 62 61
-1
180
-2
170
-3 -2,8
160
-4 150
Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out *Dez
-5 -4,2 2018 2018 2018 2018 2018 2018 2019 2019 2019 2019 2019 2019
Nov Nov Nov Nov Nov Nov Nov Nov Nov Nov Nov Saldo Balança Comercial Importações
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019*
*Dados preliminares. Exportações * Projeção
A deterioração no saldo comercial refletiu, inicialmente, o aumento mais intenso das importações
relativamente às exportações, em contexto de retomada gradual da economia doméstica. A partir de janeiro
de 2019, contudo, as exportações iniciaram movimento de retração moderada, acompanhado de relativa
estabilidade nos valores importados (Gráfico 2). Assim, a diminuição de 26,7% do saldo comercial nos dez
primeiros meses de 20193 em relação ao mesmo período do ano anterior – equivalente a US$11,6 bilhões –
decorreu, fundamentalmente, da perda de dinamismo das vendas externas. Nesse contexto, o objetivo deste
boxe é analisar os fatores que explicam a piora das exportações, identificando os principais destinos e produtos
responsáveis pelo movimento que contribuiu para o aprofundamento do deficit em transações correntes.
15% -0,6
ao mesmo período de 2018. No lado positivo,
compensando parcialmente a redução dessas
-5%
Holanda
Estados
Unidos
exportações, houve aumentos de US$0,8 bilhão
-1,2 Chile
-25%
Argentina
-5,0 -0,9
0,8 para Estados Unidos e US$0,7 bilhão para o Japão.
Índia
-0,9
O Gráfico 3 ilustra essa evolução, apresentando as
-45%
-5,5 -4,5 -3,5 -2,5 -1,5 -0,5 0,5 1,5
variações das exportações, por destino, tanto em
Fonte: Secex/ME Variação US$ bilhões bilhões de dólares (eixo horizontal), quanto em
1/ Dados referentes a novembro de 2019 são estimativas baseadas na apuração preliminar do balanço de pagamentos do mês.
2/ A redução do saldo da balança comercial é, em termos de eventos de natureza econômica contemporânea, o principal fator de
deterioração recente das transações correntes, cujo saldo também foi afetado por revisões de dados estatísticos (principalmente
na conta de lucros e dividendos).
3/ Os exercícios apresentados neste boxe não incorporam a estimativa de novembro do Balanço de Pagamentos, mas consideram
os novos valores divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia (ME) para as exportações de
setembro e outubro.
Argentina
O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina4, com participação média de 25,6% no total das importações
do país na última década. A pauta de exportação brasileira para o país vizinho é predominantemente de
produtos manufaturados, que responderam por mais de 90% do valor exportado na média dos últimos dez
anos (Gráfico 4).
Gráfico 4 – Importações argentinas
%
US$ bilhões
100 35
Malásia 90
30
80 30,6 26,3
70 25
60 19,5
16 20
50 16 1 9
15
40 1 1
30 10
49
20 40 41
5
10
0 0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019*
Manufaturados – Brasil Básicos e SemiManuf. – Brasil
Demais países Part. Brasil - Imp. Arg. (eixo dir.)
Fontes: Secex/ME e Indec *Acumulado 12 meses até outubro.
No entanto, a participação brasileira no total das importações argentinas passou de 26,3%, em 2017, para
19,5%, em 2019, este último considerando o acumulado em doze meses até outubro. Essa queda, influenciada
pela crise econômica argentina, teve como principal fator a redução das importações de automóveis no país
vizinho, que é o principal destino de produtos do setor automotivo brasileiro. Segundo dados do Instituto
Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), da Argentina, as importações de automóveis de passageiros
diminuíram, em termos interanuais, 56,3% de janeiro a outubro de 2019, enquanto as demais importações
argentinas recuaram 22,8%.
Para estimar os impactos da crise econômica argentina sobre as exportações brasileiras, considerou-se cenário
contrafactual, simulando condições menos adversas para a economia do país vizinho em 2018 e 2019. Para a
taxa de câmbio, utilizou-se a evolução de uma cesta de moedas de países latino americanos5, enquanto para
o crescimento real do PIB delineou-se estabilidade em relação ao ano anterior6. Usaram-se dados ocorridos
para a participação das importações argentinas em relação ao seu PIB. Para a participação das exportações
brasileiras no total das importações argentinas, utilizou-se a média de 2015 a 2017, como forma de atenuar
o recuo mais acentuado das importações no setor automotivo.
4/ Segundo informações do Indec, o Brasil foi o principal parceiro comercial do país no período de janeiro a outubro de 2019. No lado
das exportações argentinas, o Brasil comprou US$8,6 bilhões em bens argentinos, o que representou 16,0% das exportações totais.
No lado das importações, o Brasil vendeu US$8,8 bilhões no período, atingindo participação de 20,6% nas importações totais do
país.
5/ A cesta de moedas foi composta por países sul-americanos como Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai. Consideraram-se as evoluções médias
da taxa de câmbio desses países para o cálculo do efeito cambial. Assim, o cenário considera desvalorizações cambiais interanuais na
Argentina de 5,7% e 9,4% em 2018 e 2019, respectivamente, ante 69,6% e 64,1% efetivamente observadas. Também foi considerado
um repasse de 55% da variação do câmbio para a inflação em 12 meses, em linha com o seguinte trabalho: Carriere-Swallow, Y., B.
Gruss, N. Magud, and F. Valencia (2016), “Monetary Policy Credibility and Exchange Rate Pass-Through,” IMF Working Paper 16/240.
Considerando os valores contrafactuais do câmbio e o repasse cambial citado, corrigiu-se o deflator do PIB (em moeda local).
6/ Foram presumidas taxas de crescimento real do PIB de 0%, para os anos de 2018 e 2019, ante os valores de -2,5% e -3,1%
disponibilizados e estimados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no documento World Economic Outlook (WEO) de outubro
de 2019.
16
14,5
14 13,8
12,2 13,3
12
10,9
11,0
10
8 8,3
6
2014 2015 2016 2017 2018 2019
Exportações ocorridas Contrafactual
Fontes: Secex/ME e BCB
O contrafactual evidencia que os efeitos da crise argentina foram importantes na redução das exportações
brasileiras. A queda da demanda gerada pela crise econômica impactou as importações totais do país
sul-americano, que, de janeiro a outubro de 2019, recuaram 25,6% em termos interanuais, destacando-se o
impacto mais pronunciado nas importações do setor automobilístico.
China
Nas últimas décadas, a China aumentou substancialmente a importação de produtos brasileiros, com destaque
para soja, petróleo e minério de ferro, representando importante vetor na mudança da pauta de exportações
do Brasil8. As vendas para o país asiático saltaram de US$16,5 bilhões, em 2008, para US$63,9 bilhões, em
2018, passando a representar 26,6% da pauta de exportações brasileira, ante 8,4% em 2008 (Gráfico 6). O
resultado recorde de 2018 foi influenciado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, que elevou
tanto o preço da soja brasileira como o volume vendido pelos produtores nacionais.
50
21,0 20%
US$ bilhões
40
15%
30
8,4%
10%
20
1,1 35,0
2,6
10 5,3 5%
7,5
- 0%
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019*
Manufaturados Semimanufafutrados
Soja Básicos (Ex-Soja)
Part. China Exp. Brasil (eixo dir.)
Fonte: Secex/ME * Acumulado 12 meses até outubro.
7/ A diferença entre os valores no gráfico e o valor apresentado se deve ao arredondamento dos números.
8/ Conforme apresentado no boxe “Evolução da pauta exportadora brasileira e seus determinantes”, publicado no Relatório de Inflação
de março de 2019.
Milhões de toneladas
Participação (em %)
60 90
50
85
40
30 80
20
75
10
0 70
Abr Out Abr Out Abr Out Abr Out
2016 2016 2017 2017 2018 2018 2019 2019
Brasil Estados Unidos Demanda chinesa (eixo dir.)
Fonte: Bloomberg
Com o intuito de mensurar os efeitos desses dois fatores, delinearam-se dois cenários contrafactuais. O
primeiro busca mensurar os ganhos decorrentes do aumento nas exportações da soja brasileira em 2018, no
contexto da guerra comercial. Para a estimativa do impacto sobre a quantidade exportada, foi construído
cenário considerando que a participação brasileira no total das importações de soja da China9 apresentou
crescimento igual ao crescimento médio observado entre os anos 2015 e 2017. O efeito preço foi estimado
a partir da diferença média entre as cotações da soja brasileira e estadunidense10, no período entre 2015 e
2017, o qual foi adicionado aos preços na bolsa de Chicago de 2018 e 201911. Portanto, considerou-se que
todo aumento do prêmio foi causado pelas tensões comerciais.
9/ A participação brasileira foi calculada utilizando dados da Secex/ME para exportações do Brasil, aplicados sobre os dados de
importação total da China, provenientes da China Customs obtidos junto à Bloomberg.
10/ Prêmio da soja brasileira foi calculado considerando a diferença entre o preço médio anual do Porto de Paranaguá e o preço médio
anual negociado na bolsa de Chicago, ambos obtidos no sítio da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove),
disponíveis em http://abiove.org.br. Foi considerado que o impacto no preço se deu inteiramente pelo aumento do valor da soja
brasileira, sem impacto nos preços norte-americanos.
11/ Uma vez obtido o contrafactual para o preço dos embarques de soja no porto de Paranaguá, foi calculado o contrafactual do preço
implícito da balança comercial (que equivale à divisão do valor das exportações pela quantidade em quilogramas exportada),
mantendo a razão observada entre o preço implícito e o do porto de Paranaguá.
12/ O efeito agregado da guerra comercial foi construído multiplicando os contrafactuais da quantidade e do preço estimados, de modo
que a soma dos efeitos quantidade e preço não corresponde ao efeito total.
Combinando os dois cenários, é possível inferir que, na ausência dos choques do país asiático, o valor acumulado
de janeiro a outubro das exportações brasileiras teria sido US$2,4 bilhões menor em 2018 e US$5,8 bilhões
maior em 201916, sendo o episódio da guerra comercial o principal vetor desse impacto no ano passado e a
peste suína o mais relevante em 2019.
Analisando conjuntamente os efeitos estimados da Argentina e da China, dois importantes destinos dos
produtos brasileiros, conclui-se que grande parte da recente deterioração das exportações adveio dos choques
sofridos por esses dois países (Tabela 2). Se esses episódios não tivessem ocorrido, a queda das exportações
no acumulado dos dez primeiros meses de 2019, em relação ao mesmo período de 2018, teria sido de US$0,3
bilhão, ante US$10,6 bilhões observados. Nesse cenário, considerando a deterioração menos pronunciada do
saldo da balança comercial, o deficit de transações correntes em 2019 teria sido menor: US$31,8 bilhões, ante
US$43,2 bilhões efetivamente realizados, considerando o valor acumulado no ano (Gráfico 8). Esse resultado
representaria ligeira piora em relação ao contrafactual do mesmo período de 2018.
Tabela 2 – Efeito dos choques nas exportações brasileiras Gráfico 8 –Transações Correntes
Acumulado ano até outubro, em US$ bilhões*
Acumulado ano (Jan-out)*
US$ bilhões
2018 2019 Diferença
13/ Assumiu-se que toda a redução na demanda chinesa por soja foi ocasionada pela peste suína, ignorando os possíveis efeitos da
desaceleração econômica do país asiático. Considerando que a soja é um produto básico, largamente utilizada como ração animal,
sendo, portanto, menos sensível ao ciclo econômico, essa hipótese é plausível.
14/ Optou-se por um cenário conservador, no qual não foram considerados os possíveis efeitos da queda da demanda chinesa sobre o
preço internacional da soja. Considerando esse efeito, a magnitude do resultado encontrado seria ainda maior.
15/ É importante notar que a redução nos rebanhos suínos na Ásia devido à peste africana impulsionou a venda de carnes brasileiras
para a China, que teve aumento de 45% no acumulado do ano até outubro, o equivalente a aproximadamente US$1,0 bilhão. Tal
cifra é significativamente inferior ao valor não recebido devido à soja que deixou de ser exportada.
16/ O efeito total dos dois choques sobre o país asiático foi construído utilizando as hipóteses dos dois cenários contrafactuais, da
seguinte forma: i) utilizou-se a participação da soja brasileira no total das importações do efeito quantidade da guerra comercial; ii)
essa participação foi atribuída à demanda chinesa do cenário contrafactal da peste suína, obtendo o montante de soja exportada; iii)
utilizou-se o preço calculado no cenário contrafactual da guerra comercial; e iv) com o preço e a quantidade estimados, calculou-se
o valor equivalente das exportações.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atualizará, a partir de janeiro de 2020, a estrutura de
ponderação do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC), composto pelo Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
A nova estrutura reflete as mudanças no padrão de consumo das populações-objetivo captadas pela Pesquisa
de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, em substituição à estrutura atual derivada da POF 2008-2009,
que vigorou por 96 meses (de janeiro de 2012 a dezembro de 2019).
Tabela 1 – Mudanças na ponderação regional do IPCA A população-objetivo para o IPCA continua sendo
a de famílias com renda entre 1 e 40 salários
Município ou POF 2008-2009 POF 2017-2018 Diferença mínimos1, residentes nas áreas urbanas das regiões
Região Metropolitana (RM) (%) (%) (p.p.)
de abrangência – as mesmas 16 áreas que compõem
Brasil 100,00 100,00 0,00 o índice atualmente2. Contudo, os pesos regionais
Aracaju 0,79 1,02 0,23 foram atualizados (Tabela 1), refletindo a evolução
Belém 4,23 3,91 -0,32 da renda das famílias entre as diferentes regiões3.
Belo Horizonte 10,86 9,74 -1,12 Destacam-se as quedas nas participações das regiões
Brasília 2,80 4,09 1,29 metropolitanas do Rio de Janeiro (-2,65 p.p.) e Belo
Campo Grande 1,51 1,58 0,07 Horizonte (-1,12 p.p.); e os aumentos nas participações
Curitiba 7,79 8,05 0,26 da região metropolitana de São Paulo (+1,65 p.p.), de
Fortaleza 2,91 3,22 0,31 Brasília (+1,29 p.p.) e de Goiânia (+0,57 p.p.).
Goiânia 3,59 4,16 0,57
Porto Alegre 8,40 8,59 0,19
Com as mudanças no padrão de consumo, o IPCA
Recife 4,20 3,93 -0,27
passará a ser composto por 377 subitens, ante os
Rio Branco 0,42 0,51 0,09
atuais 383, resultado da inclusão de 58 subitens e
Rio de Janeiro 12,06 9,41 -2,65
da exclusão de 64. Não houve mudança no nível de
Salvador 6,12 5,99 -0,13
São Luís 1,87 1,62 -0,25
grupos. Mesmo no nível inferior, apenas o subgrupo
São Paulo 30,67 32,32 1,65
72, antes referido como Recreação, fumo e fotografia,
Vitória 1,78 1,86 0,08 foi renomeado para Recreação e fumo, devido à
supressão do item Fotografia e filmagem. A Tabela 2
Fonte: IBGE (Notas Técnicas 01/2018 e 02/2019)
apresenta, em nível de grupos e principais subgrupos
ou itens, os pesos correspondentes ao mês de janeiro de 2018, de acordo com as POFs 2008-2009 e 2017-2018.
Destacam-se a redução no peso do grupo Alimentação e bebidas (-5,59 p.p.) e os aumentos nos grupos
Transportes (+2,55 p.p.) e Comunicação (+2,54 p.p.). A diminuição do peso de Alimentação e bebidas no
orçamento das famílias ocorreu tanto em Alimentação no domicílio (-2,56 p.p.) como em Alimentação fora do
1/ Esta faixa garante cobertura de 90% das famílias pertencentes às áreas de cobertura do SNIPC.
2/ Em janeiro de 2012, quando a POF 2008-2009 foi implementada, a coleta de preços do IPCA cobria 11 localidades: as regiões
metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além
de Brasília e do município de Goiânia. Ao longo da vigência da POF, no entanto, a abrangência geográfica do IPCA foi ampliada,
com a inclusão da região metropolitana de Vitória e do município de Campo Grande, em janeiro de 2014; e posteriormente com a
incorporação dos municípios de Rio Branco, São Luís e Aracaju, em maio de 2018.
3/ Os pesos regionais são calculados em dois estágios. Primeiro, calcula-se o peso de cada Grande Região do país (N, NE, SE, S, CO) com
base na participação de cada região na renda familiar monetária disponível nacional. Em seguida, o peso de cada Grande Região é
distribuído entre as áreas de cobertura da própria região, sendo o coeficiente de proporcionalidade também calculado com base
na renda familiar monetária disponível.
domicílio (-3,03 p.p.). A elevação do peso de Transportes resultou, principalmente, do acréscimo no peso de
Veículo próprio (+3,55 p.p.), destacando-se os aumentos nos subitens “emplacamento e licença”, “automóvel
usado”, “seguro voluntário de veículos” e “automóvel novo”. No grupo, o maior peso em Veículo próprio foi
em parte compensado por redução no peso de Transporte público (-1,53 p.p.), explicado especialmente pelo
menor gasto das famílias com “ônibus urbano”. O maior peso no grupo Comunicação está associado a gastos
maiores na aquisição de “aparelho telefônico” e em diversos tipos de serviços.
Em razão das mudanças na composição do IPCA, as classificações dos segmentos de serviços (S), bens duráveis
(D), não duráveis (ND) e semiduráveis (SD), que observam critérios internacionais4, experimentarão ajustes
pontuais: "tapete", que estava classificado como bem semidurável, passará a integrar o grupo de bens duráveis;
e “aparelhos ortodônticos” serão reclassificados como serviços.
4/ De acordo com a revisão de 2018 da Classificação do Consumo Individual de Acordo com a Finalidade (sigla em inglês: Coicop), sob
responsabilidade da divisão de estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU).
A Tabela 3 apresenta a classificação para os novos subitens, introduzidos com a POF 2017-2018, enquanto
a Tabela 4 mostra as alterações realizadas na classificação dos componentes já existentes na POF atual.
Destaque-se que essas atualizações serão implementadas em janeiro de 2020 de forma não retroativa. A
Tabela 5, na sequência, apresenta as classificações para a nova estrutura completa, incluindo também a
composição dos núcleos por exclusão.
A Tabela 6 compara os pesos das diversas classificações nas duas POFs. Observa-se importante diminuição
do peso de alimentos e, em sentido contrário, aumento do peso de serviços, este último influenciado pelo
componente “ex-subjacente”. Destaca-se, ainda, o aumento do peso do segmento de não-comercializáveis,
em detrimento dos comercializáveis. Os bens industriais terão peso um pouco maior, enquanto a ponderação
dos monitorados ficará relativamente estável.
Referências
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017 – 2018
/ Primeiros Resultados. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101670.pdf
(consulta em nov/2019).
UN, United Nations – Statistical Papers – Series M – No. 99, Classification of Individual Consumption
According to Purpose (COICOP) 2018. Disponível em https://unstats.un.org/unsd/classifications/Econ/
Download/In%20Text/COICOP_2018_pre_edited_white_cover_version_2018_12_26.pdf (consulta em
nov/2019).
A estrutura de ponderação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será atualizada em
janeiro de 2020, com a incorporação da nova cesta de referência gerada a partir da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) 2017-20181. Nesse contexto, este boxe avalia os impactos da nova estrutura de pesos do
IPCA sob diferentes aspectos. Primeiramente, são apresentadas estimativas de como a inflação teria se
comportado no período recente, caso a nova estrutura já estivesse em vigor. Em seguida, apresenta-se o
impacto observado em outros episódios de mudança de estrutura de ponderação. Por fim, estima-se o impacto
que a mudança deve exercer sobre a inflação em 2020.
Esta seção compara o IPCA divulgado2 para o período 2017-2019 com o contrafactual baseado na hipótese
de que a nova estrutura do IPCA já estivesse em vigor. O período escolhido abarca aquele em que ocorreu
a coleta de dados da nova POF, de tal forma que inflação recalculada sob a nova estrutura tende a refletir
melhor a variação do custo de vida da população objetivo no período.
O cálculo do contrafactual sob a nova estrutura de ponderação considera as variações divulgadas para os
subitens que já faziam parte da cesta do IPCA e imputa a variação do item a que pertence ou de subitem
correlato no caso dos novos subitens. O exercício sugere que a inflação medida pelo IPCA teria sido de 10,75%,
no acumulado do período, caso a nova estrutura já estivesse em vigor – pouco abaixo dos 11,02% registrados
sob a estrutura atual. Em termos anualizados, a diferença é de -0,09 p.p. (3,46% contra 3,55%).
Em 2017, a inflação teria sido maior caso a nova estrutura estivesse em vigor (3,19%, contra 2,95%), repercutindo
o aumento no peso do grupo educação e, principalmente, a diminuição do peso do subgrupo alimentação no
domicílio. Naquele ano, houve deflação dos preços de alimentos, enquanto o grupo educação registrou alta
bem superior à inflação. Em 2018 e 2019, contudo, a inflação teria sido menor sob a nova estrutura (3,48%
1
Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez
2017 2018 2019
Media Núcleos POF 2008 Média Núcleos POF Nova
IPCA POF Nova IPCA POF 2008
Fonte: BCB
* Projeção
1/ Para maiores detalhes, ver boxe “Atualizações da estrutura de ponderação do IPCA e repercussão nas suas classificações”, neste
Relatório.
2/ Para o IPCA de dezembro de 2019, considerou-se a projeção divulgada no capítulo 2 deste Relatório.
O mesmo exercício foi aplicado para estimar o impacto de outras mudanças na estrutura de pesos, decorrentes
da adoção de atualizações de POF pelo SNIPC4. Os episódios considerados foram: (i) da POF 1987-1988 para
a POF 1995-1996, em agosto de 1999; (ii) da POF 1995-1996 para a POF 2002-2003, em julho de 2006; e (iii)
da POF 2002-2003 para a POF 2008-2009, em janeiro de 2012.
Usando como referência os três anos que antecederam as respectivas atualizações de estrutura, o exercício
encontrou aumento da inflação em dois dos três episódios: o da POF 1987-1988 para a 1995-1996 (impacto
anualizado de +0,71 p.p.) e o da POF 1995-1996 para a 2002-2003 (impacto anualizado de +0,40 p.p.). Apenas
na mudança da POF 2002-2003 para 2008-2009 teria ocorrido redução da inflação, de -0,49 p.p. (Tabela 1).
A influência de aspectos conjunturais sobre esse tipo de exercício é evidenciada quando se compara a inflação
oficial dos três anos seguintes à mudança da POF com aquela que teria ocorrido caso a estrutura não tivesse
sido atualizada (Tabela 2). Para o primeiro episódio considerado, encontrou-se novamente aumento da inflação,
mas desta vez bem menor. Nos dois episódios seguintes, observou-se redução significativa da inflação:
-0,56 p.p. na mudança da POF 2002-2003 para 2008-2009 e -0,34 p.p. na mudança da POF 1995-1996 para
2002-2003.
3/ Atualizações na estrutura de pesos do IPCA tendem a provocar redução na inflação em decorrência de questões metodológicas
relacionadas a mudanças de qualidade em bens duráveis e do viés de substituição que índices de Laspeyres (como o IPCA) trazem
ao cálculo da inflação.
4/ Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para a avaliação do impacto da mudança a ser implementada no próximo ano foram utilizadas projeções
de inflação para 2020 desagregadas no nível de subitem. Essas projeções foram então agregadas usando
tanto a estrutura de ponderação derivada da POF 2008-2009 quanto a estrutura de ponderação derivada
da POF 2017-2018. Esses exercícios sugerem que a atualização da cesta de referência terá impacto de cerca
de -0,30 p.p. sobre o IPCA de 2020, dependendo do cenário utilizado. Ao controlar variações de preços no
nível mais desagregado do IPCA e isolar exclusivamente o impacto da diferença nos pesos, esses exercícios
fornecem uma medida direta do efeito esperado da mudança da POF. Não obstante, a magnitude do efeito
esperado da atualização da cesta de referência é condicional às projeções para as variações de preços dos
diversos subitens que compõem o IPCA, de tal forma que o impacto efetivo dependerá da composição da
inflação que será de fato observada em 2020. Portanto, a incerteza em relação ao impacto da mudança na
estrutura guarda correspondência com a própria incerteza em relação às projeções desagregadas de inflação.
Naturalmente, projeções diferentes resultarão em estimativas de impacto diferentes, ainda que a mesma
metodologia seja seguida.
É importante ressaltar que essas projeções desagregadas não correspondem às projeções divulgadas neste
Relatório de Inflação, construídas com o uso de modelos macroeconômicos semiestruturais. Projeções
desagregadas componente a componente, que combinam de forma flexível modelagem econométrica
mais simples com julgamento de analistas, fazem, contudo, parte do conjunto mais amplo de projeções
consideradas internamente para fins analíticos. Diferentemente do exercício aqui proposto, o impacto da
mudança na estrutura de ponderação do IPCA é capturado nas projeções dos modelos semiestruturais por
intermédio das expectativas de mercado, cuja fonte são as previsões apontadas na Pesquisa Focus; do efeito
sobre as projeções nos preços administrados; do impacto sobre a inércia inflacionária sobre os preços livres,
entre outros.
A taxa de juros estrutural da economia, referência fundamental na formulação da política monetária, pode
ser definida como aquela consistente, no médio prazo, com inflação na meta e crescimento do produto igual
ao crescimento potencial (Blinder, 1998). Em linha com esse conceito, quando a taxa de juros real efetiva
está acima do valor estrutural, a política monetária é contracionista; quando está abaixo, é expansionista.
Uma dificuldade inerente à condução da política monetária reside no fato de que a taxa de juros estrutural
não é observável. Além disso, tal taxa pode variar ao longo do tempo, de acordo com a evolução de seus
determinantes, como a taxa de crescimento do produto potencial, preferências dos agentes econômicos
entre consumo, poupança e investimento, eficiência do sistema financeiro e o prêmio de risco da economia.
Portanto, a literatura e a prática da política monetária atribuem elevado grau de incerteza às estimativas da
taxa estrutural e prescrevem que sejam reavaliadas frequentemente. Nesse sentido, este boxe complementa
as estimativas usuais de taxa estrutural, ao apresentar uma variável calculada a partir de informações
extraídas do Sistema Expectativas de Mercado (pesquisa Focus1) e que, sob algumas condições, deveria ser
correlacionada com a taxa estrutural.2
Na pesquisa Focus, as instituições participantes apresentam suas expectativas para diversas variáveis
macroeconômicas. Em particular, são informadas expectativas da taxa do Sistema Especial de Liquidação e
de Custódia (Selic) e taxa de inflação para até quatro anos-calendário à frente. Partindo da premissa de que
as expectativas para horizontes mais longos sejam pouco influenciadas por flutuações econômicas de curto
prazo, espera-se que a taxa de juros real implícita nas expectativas de Selic e inflação para esses horizontes
reflita percepções dos agentes sobre a taxa de juros estrutural da economia brasileira.3 Com essa motivação,
extraíram-se as expectativas individuais para as duas variáveis, para o horizonte de três anos-calendário à
frente, a partir de março de 2010.4
O Gráfico 1 ilustra a evolução da média mensal dos dados diários da proxy da taxa de juros estrutural implícita
nas expectativas presentes na pesquisa Focus. São apresentadas duas medidas: uma restrita e uma ampliada.
A primeira delas considera somente as instituições que informaram simultaneamente expectativas para
Selic e Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) (em média, 41 ao longo do período). Nesse
caso, com as expectativas individuais, calcula-se uma taxa de juros real para cada instituição e, em seguida,
computa-se a mediana. A segunda medida, que leva em conta todas as instituições que informaram ao menos
uma das duas variáveis (em média, 50 ao longo do período), refere-se à taxa de juros real calculada a partir
das medianas das expectativas de taxa Selic e inflação. A área sombreada no gráfico representa o intervalo
entre os percentis 10 e 90 das medidas individuais. Após atingir o nível de 5,76% a.a. em janeiro de 2016, a
segunda proxy situava-se em 2,9% a.a. em novembro de 2019, valor mínimo do período considerado, sugerindo
tendência de redução da taxa estrutural.
0
Mar Mar Mar Mar Mar Mar Mar Mar Mar Mar
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Percentis 10 a 90 Medida restrita
Medida ampliada
Em abril de 2017, no âmbito do Questionário Pré-Copom5, o Banco Central incluiu uma questão acerca da
taxa de juros estrutural. Com o intuito de contrastar as respostas coletadas por tal questionário com os dados
da proxy aqui apresentada, o Gráfico 2 compara as respostas dos agentes à época com as suas respectivas
estimativas implícitas levantadas na pesquisa Focus do mesmo período.6 Observa-se relativa aderência das
respostas ao questionário com as expectativas válidas na pesquisa Focus, do conjunto de 24 agentes que
informaram ambas, corroborando a abordagem proposta para inferir a avaliação dos agentes econômicos
sobre o nível da taxa estrutural.
Gráfico 2 – Estimativas da taxa de juros estrutural,
em abril/2017
% a.a.
7
Proxy implícita na pesquisa Focus
2
2 3 4 5 6 7
Estimativas diretas – Questionário Pré-Copom
Em suma, usando um enfoque não explorado anteriormente, o boxe apresentou uma nova variável proxy para
a taxa de juros estrutural da economia brasileira, referenciada na percepção dos agentes econômicos. Essa
métrica sugere que a taxa de juros estrutural se encontra em níveis historicamente baixos.7 Nesse contexto,
a continuidade do processo de reformas e a perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira são
essenciais para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural, para o funcionamento pleno da
política monetária e para a recuperação sustentável da economia.
Referência
Blinder, A. (1998). Central Banking in Theory and Practice, Cambridge: The MIT Press.
5/ Questionário enviado aos participantes da pesquisa Focus na semana anterior ao Copom com o objetivo de colher subsídios acerca de
temas relevantes da conjuntura econômica. A pergunta foi “Qual sua estimativa para a taxa de juros neutra da economia brasileira,
no curto prazo, daqui a 2 anos e daqui a 5 anos?”. A análise desses dados aparece no boxe “Taxa de juros estrutural e condução da
política monetária no Brasil” do Relatório de Inflação de setembro de 2017.
6/ Para o questionário de 2017, utilizou-se a média entre as respostas para 2 e 5 anos, por coincidir com o horizonte médio utilizado
para construir a taxa neutra extraída do Focus. Isso porque, para os primeiros dias de cada ano, o horizonte é de 48 meses, e vai se
reduzindo até chegar a 36 meses, ao fim do ano.
7/ Dentre os possíveis fatores responsáveis pela redução da taxa de juros estrutural nos últimos anos, estão a redução nos prêmios
de risco, decorrente da perspectiva de continuidade de reformas e ajustes na economia brasileira; a mudança na composição do
crédito, com menor participação do segmento direcionado; além dos juros internacionais mais baixos.
Tabela 2.2 – IPCA – Projeções de curto prazo As projeções de curto prazo no cenário básico do
Variação % Copom consideram variações de 0,81%, 0,53% e
2019 2020
0,45% para o IPCA nos meses de dezembro, janeiro
12 meses
Dez Jan Fev No trim.
até fev e fevereiro, respectivamente (Tabela 2.2). Caso
se concretize, a alta de 1,80% no trimestre será
Cenário do Copom1/ 0,81 0,53 0,45 1,80 4,19
consideravelmente superior à variação de 0,90%
Fontes: IBGE e BCB
1/ Cenário na data de corte.
observada entre dezembro de 2018 e fevereiro de
2019, implicando aceleração da inflação acumulada
em doze meses, de 3,27% em novembro de 2019 para
4,19% em fevereiro de 2020.
Gráfico 2.2 – Meta da taxa Selic usada nas projeções No caso da taxa Selic, na comparação com o Relatório
% a.a.
8,0
de setembro, o valor suposto nos cenários que
7,5 utilizam taxa constante reduziu-se de 6,00% a.a.
7,0
6,5
para 5,00% a.a. (Gráfico 2.2). Consistente com essa
6,0 trajetória para a taxa Selic e com o comportamento
5,5
5,0
dos prêmios de risco, a taxa projetada do swap pré-DI
4,5 de 360 dias, depois da queda verificada até o quarto
4,0
3,5
trimestre de 2019, apresenta valores crescentes nos
I II
2019
III IV I II
2020
III IV
I II III IV I II III IV I II
2021 2022 2023
III IV dois trimestres seguintes, ficando relativamente
Expectativa Focus (RI Set 19) estável a partir de então.
Constante (RI Set 19)
Constante (RI Dez 19)
Expectativa Focus (RI Dez 19)
Obs.: Os valores referem-se a médias trimestrais.
A mediana das expectativas para a taxa Selic
extraídas da pesquisa Focus, também na comparação
entre 13.9.2019 e 6.12.2019, reduziu de 5,00% a.a.
para 4,50% a.a. para os finais de 2019 e 2020, de
7,00% a.a. para 6,25% a.a. para o final de 2021 e
de 7,00% a.a. para 6,50% para os finais de 2022 e
2023 (Gráfico 2.2).27 Nessa trajetória, a taxa Selic cai
0,50 p.p. na reunião de dezembro e 0,25 p.p. na
reunião de fevereiro de 2020, chegando então a
4,25% a.a., e permanece nesse patamar nas quatro
reuniões seguintes, subindo então em setembro e
outubro de forma a terminar 2020 em 4,50% a.a.
A taxa Selic volta a subir em março, abril e maio de
2021, atingindo 5,25% a.a. em maio, último mês
para o qual a pesquisa Focus coletou dados mensais.
Nessa trajetória, a taxa Selic atinge 6,25% a.a. ao final
de 2021 e 6,50% a.a. ao final de 2022, mantendo-
se nesse patamar em 2023. Consistente com essa
trajetória para a taxa Selic e o comportamento dos
26/ Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis
encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.
27/ Como descrito no boxe “Modelo agregado de pequeno porte – 2017” (Relatório de Inflação de junho de 2017), a trajetória da taxa
do swap pré-DI de 360 dias depende da trajetória da taxa Selic usada como condicionante para o mesmo período e da trajetória do
prêmio (diferença entre a taxa do swap e a taxa esperada para a Selic). Portanto, a taxa do swap ao longo de 2022 depende também
da trajetória da Selic ao longo de 2023.
2019 IV 3,9 3,9 4,0 4,0 4,0 4,1 4,1 2.3 Condução da política
2020 I 3,3 3,5 3,6 3,7 3,8 3,9 4,1
2020 II 3,0 3,3 3,5 3,6 3,7 3,9 4,2 monetária e balanço de riscos
2020 III 2,9 3,3 3,6 3,7 3,8 4,1 4,5
2020 IV 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3 Dados de atividade econômica a partir do segundo
2021 I 2,2 2,6 2,9 3,1 3,3 3,6 4,0 trimestre indicam que o processo de recuperação
2021 II 2,3 2,7 3,0 3,2 3,4 3,7 4,1 da economia brasileira ganhou tração, em relação
2021 III 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3 ao observado até o primeiro trimestre de 2019.
2021 IV 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3 O cenário do Copom supõe que essa recuperação
2022 I 2,6 3,0 3,3 3,5 3,7 4,0 4,4 seguirá em ritmo gradual.
2022 II 2,7 3,1 3,4 3,6 3,8 4,1 4,5
2022 III 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6
No cenário externo, a provisão de estímulos
2022 IV 2,9 3,3 3,6 3,8 4,0 4,3 4,7
monetários nas principais economias, em contexto de
Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).
inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir
ambiente relativamente favorável para economias
emergentes.
Diretoria Colegiada
Fabio Kanczuk
Diretor de Política Econômica
Fernanda Nechio
Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de
Riscos Corporativos
Diretor
Paulo Sérgio Neves de Souza
a.a. Ao ano
ABCR Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias
Abiove Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais
Anfavea Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
BCB Banco Central do Brasil
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Caged Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
CBE Capitais Brasileiros no Exterior
CMN Conselho Monetário Nacional
CNT Contas Nacionais Trimestrais
Conab Companhia Nacional de Abastecimento
Copom Comitê de Política Monetária
DBGG Dívida Bruta do Governo Geral
Depec Departamento Econômico
Depep Departamento de Estudos e Pesquisas
Derin Departamento de Assuntos Internacionais
DLSP Dívida Líquida do Setor Público
DSTAT Departamento de Estatísticas
EUA Estados Unidos da América
FBCF Formação bruta de capital fixo
Fenabrave Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FGV Fundação Getulio Vargas
FMI Fundo Monetário Internacional
FOMC Comitê Federal de Mercado Aberto
FT Força de trabalho
FTP Plano de Transações Financeiras
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC-Br Índice de Commodities – Brasil
ICC Indicador de Custo do Crédito
ICC Índice de Confiança do Consumidor
ICI Índice de Confiança da Indústria
ICOM Índice de Confiança do Comércio Ampliado
ICS Índice de Confiança de Serviços
IDE Investimento Direto no Exterior
IDP Investimentos Diretos no País
Indec Instituto Nacional de Estadística y Censos
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
IPA Índice de Preços ao Produtor Amplo
IPA-DI Índice de Preços ao Produtor Amplo – Disponibilidade Interna
IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo