Identifique as diferentes correntes em torno da responsabilidade pela prática
de ilícito estritamente fiscal no Brasil (interpretações em torno do art. 136 do CTN) e destaque, justificadamente, a que lhe parece mais justa.
Há, no Brasil, grande divergência no que tange à interpretação da
responsabilidade relativa a infrações à legislação tributária, notadamente no que concerne ao art. 136, CTN. Existem doutrinadores que defendem a previsão de uma responsabilidade objetiva, com a existência de uma presunção absoluta sobre a culpa do infrator. Ainda defendendo a responsabilidade objetiva, existem aqueles, como o Prof. Sacha Calmon, que a admitem, desde que condicionada pelas atenuantes previstas na legislação tributária (art. 108,§2º e 112, CTN). Por outro lado, há aqueles, como Hugo de Brito Machado, que sustentam ter o CTN, em seu art. 136, estabelecido uma presunção relativa de culpa do infrator tributário, de modo a desincumbir o Fisco, a princípio, de comprovar a culpa lato sensu do infrator. Luiz Flávio Gomes é um representante da corrente doutrinária que entende a responsabilidade objetiva para infrações fiscais como inconstitucional, posto que não recepcionada pela Constituição/1988. Nesse sentido, assevera ser a responsabilidade objetiva contrária à presunção de inocência e à presunção de boa-fé, princípios caros ao aspecto sancionador do Direito e cristalizados na Constituição. Por fim, inspirados pela construção teórica do Direito Penal, doutrinadores como Daniela Victor e o Prof. Paulo Coimbra defendem a aplicação de uma teoria da imputação objetiva ao ilícito estritamente tributário. Assim, na “tipificação”, qual seja a conduta legalmente prevista, deveria constar necessariamente o elemento subjetivo a ser verificado. Logo, o ilícito tributário somente existiria mediante a presença do elemento subjetivo normativamente previsto. A meu ver, a teoria mais justa e de melhor aplicabilidade é aquela que entende o art. 136,CTN como determinando uma presunção relativa de culpa para o infrator da legislação tributária, de modo a estabelecer, a nível processual, uma inversão do onus probandi em benefício do Fisco. Isso porque tal posição, além de privilegiar a supremacia do interesse público e a eficiência do processo, não teria o condão de ferir, a meu entender, os princípios da presunção de inocência ou da presunção da boa-fé. Tratar-se-ia, tão somente, de um modo legalmente previsto, e, portanto, consoante a segurança jurídica, de se proceder na análise da responsabilidade tributária em caso de infração estritamente tributária. O suposto infrator ainda poderia, durante a instrução processual, demonstrar a existência das hipóteses previstas nos arts. 108 e 112, CTN ou mesmo da impossibilidade justificada de adimplir a obrigação tributária, não havendo que perquirir, portanto, qualquer prejuízo à sua defesa ou violação ao princípio constitucional da presunção de inocência.