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A LIÇÃO DO OGRO

Eu sou Garg. Eu sou forte. Eu sou forte porque sou ogro. Ninguém na floresta é mais forte que eu. Quando eu era jovem, os
velhos ogros faziam as regras, me batiam quando eu não seguia. Agora sou mais velho. Eu faço regras. Eu vou onde eu quero. Eu
como o que eu quero. Eu pego o que quero.

Um dia encontro algo que quero. Porrete afiado dos pele-rosa. Pedras brilhantes no lado curto, e a extremidade longa e
pontiaguda brilha como água da lagoa. Eu quero, então eu pego.

Pequenos peles-rosa vestidos em cascas duras vieram à minha floresta com porretes afiados antes, muito tempo atrás. Eles são
espertos. Sabem que não podem bater forte, então eles precisam bater melhor. Eu vou usar o porrete afiado para bater mais
forte E melhor. Estou ansioso para usar o porrete afiado para bater.

Eu não esperava que o porrete afiado me batesse. Porrete afiado está vivo. Porrete afiado está com raiva. Ele não quer o que eu
quero, e me bate. Eu já fui atingido antes. Eu sou forte, aguanto apanhar.

Mas ele me bate na minha mente e não sei como revidar. Pela primeira vez em muito, muito tempo... eu me submeto. O Porrete
afiado é forte. Porrete afiado faz regras agora.

Porrete afiado me diz o que fazer. Porrete afiado me faz parar de lutar contra outros na floresta. Me faz desistir da minha terra.
Eu não quero, mas o porrete afiado faz regras agora. Eu não sou forte agora.

Eventualmente, o porrete afiado deixa de ficar com raiva de mim e me diz o nome dela. Ela é Cortalua, feita por xamãs pele-rosa
para guerreiros pele-rosa. Eu entendo isso. Ela foi feita para matar inimigos dos pele-rosa. Mas eu sou inimigo dos pele-rosa. Ela
não me mata. Eu não entendo isso.

Um dia, enquanto jantava, pergunto à Cortalua:

– Por que você não me mata?

– Não entendi sua pergunta. – responde Cortalua.

– Você é um porrete afiado dos pele-rosa...

– Espada longa. – interrompe Cortalua.

– ...e você é feita para lutar contra inimigos dos pele-rosa.

– Fui feita para destruir o mal. – responde Cortalua.

Ela sempre fala em enigmas estranhos. Eu me acostumei com isso.

– Sim! Malvado! Conheço essa palavra. Significa inimigo dos pele-rosa. Sou inimigo dos pele-rosa. Sou malvado. Por que você
não me destrói?

Cortalua se cala por algum tempo e diz...

– Você é "inimigo dos pele-rosa”, sim. E a maioria das pessoas diria que você é malvado... Mas eu não tenho certeza. Eu
esperava que você lutasse comigo, mas você não o fez. Eu esperava que você resistisse quando eu te disse para parar de
intimidar as outras criaturas da floresta, mas você não o fez.

– Cortalua é mais forte que Garg, então Cortalua faz regras.

– Mesmo assim... Acho que há algo de bom em você, em algum lugar.

– O que é bom?

– Bom é... Bom é... Deixe-me ver como eu posso te descrever isso... É... – Cortalua se cala por um longo tempo – Sabe, eu
acredito que a melhor maneira de explicar isso é mostrar a você. Vá dormir Garg. Amanhã, vamos começar a ser bons.

No dia seguinte, Cortalua me leva à casa dos pele-rosa no meio dos campos. Não há nenhum pele-rosa lá agora. Ela me mostra
paredes quebradas. Me diz para pegar pedras e consertar paredes. Então nós partimos. Eu não entendi.

– Por que consertamos paredes? – eu pergunto.

– Essas paredes protegem os humanos de danos do frio e de animais selvagens. Elas foram derrubadas por saqueadores. Ao
consertar as paredes, você tornou os humanos mais seguros. Mais fortes.
– Por que eu os faço seguros? Eu sou inimigo dos pele-rosa! Eu não quero que eles sejam fortes!

– Paciência, Garg... – diz Cortalua – Tenha paciência e fé. Você entenderá eventualmente.

Eu não acredito nela, mas não digo nada. Isso não faz sentido. Isso é estranheza dos pele-rosa.

Nas próximas oito estações, Cortalua continua me mandando para as terras dos pele-rosa. Conserto de paredes... Pegar vacas e
as levar de volta sem comê-las... Às vezes, ela me faz assustar os pele-rosa nas estradas... Outras vezes ela me faz me esconder
dos pele-rosa nas estradas... Ela chama os que eu assusto de "bandidos" e os que eu me escondo de "mercadores". Eu não
entendo a diferença.

– Os mercadores são seres humanos mais fracos. – diz Cortalua – Os bandidos são mais fortes e querem tirar as coisas dos
mercadores. Você os afasta das estradas para que eles não roubem os mercadores.

– Eles são mais fortes, eles pegam o que querem. Mas por que você me faz assustá-los? – eu digo.

– Porque não é bom para o forte pegar o que eles querem dos fracos.

– Isso não faz sentido! Eu nunca vou entender!

– Você vai entender – diz Cortalua – Tenha fé...

Por muitas outras estações, Cortalua me faz fazer muitas coisas que eu não entendo. Eventualmente, os pele-rosa... errr...
humanos, como Cortalua os chama... começam a me ver. No começo eles têm medo. Eu entendo isso. Mas eles lentamente
ficam com menos medo. Eles não correm mais quando me veem. Eu não entendo isso.

Eu cavo longas valas desde o rio até fazendas... Eu construo muros ao longo das enormes estradas deles... Eu trago grandes
sacos de comida para suas cidades e os deixo lá...

Em um outono, há uma grande tempestade. Cortalua me acorda durante a noite e me pede para sair da caverna e ir para as
terras dos humanos. Há uma cidade que já estive perto muitas vezes. O rio que flui através da aldeia está inundando.

Os humanos estão se debatendo, gritando e se afogando. Eles estão assustados. Cortalua me manda através do dilúvio para suas
casas. Eu retiro humanos da água e os coloco no topo das casas. Eu faço isso de novo e de novo e de novo. Estou cansado, mas
Cortalua me faz continuar e eu salvo mais humanos, enquanto atravesso a água que está batendo no meu peito.

Eu salvo os humanos masculinos, os humanos femininos, os humanos jovens, os humanos velhos. Eu salvo todos eles. Quando a
madrugada chega e a água cai, estou mais cansado do que jamais estive. Eu caio de joelhos. Eu sei que os humanos vão me
matar enquanto eu durmo, mas estou cansado demais para sair dali. Eu caio no sono.

Eu acordo. Não estou molhado, nem frio nem cansado. Eu estou quente, seco, descansando em algo macio e confortável. Eu
reconheço o lugar como o que os humanos chamam de celeiro - eu trouxe cavalos perdidos para estes antes. Eu estou coberto
de muitas peles, deitado em grama seca que os humanos chamam de feno.

Um humano masculino entra. Ele vê que estou acordado. Ele não corre nem parece assustado. Em vez disso, ele sorri. Ele traz
um pacote grande para mim. O pacote tem carne. Boa carne cozida. Melhor do que eu jamais houvera provado. Eu o observo
com cuidado, mas estou com fome e me concentro em comer. Quando termino, ele tira os ossos e o pacote.

O dia passa e muitos humanos chegam ao celeiro. Alguns se escondem pela porta e só olham para mim. Outros entram. Eu
reconheço muitos deles como os humanos que eu salvei na noite passada. Eu ainda estou cansado, então eu deito no celeiro. Eu
sinto - eu não sei como descrever isso – que os humanos não me ameaçam, mas não porque sou mais forte.

Finalmente, à noite, muitos humanos chegam ao celeiro. Eles trazem Cortalua com eles.

– Eu tenho negociado com os humanos em seu nome. – diz ela – Eles vão dar-lhe este celeiro para viver como uma nova casa.
Eles vão dar-lhe comida, enquanto você manter as estradas seguras de bandidos e ajudá-los a cuidar de seus rebanhos e
consertar seus edifícios. Vou ficar com você para guiá-lo.

– Eu não entendi. Se eu fosse forte e viesse para pegar essas coisas, eles não as dariam para mim. Eles correriam ou lutariam... –
eu disse.

– Mas você não veio para tomá-las – respondeu Cortalua – e é isso que faz a diferença. Você tornou as casas dos humanos
seguras. Você protegeu seus mercadores. Você resgatou seus animais. E agora você salvou suas vidas. E porque você ofereceu e
ofereceu a eles, e não tomou, agora querem oferecer a você, livremente. E enquanto você não desejar tomar, você irá receber.
Ao servir a eles, você está agora mais livre do que você jamais esteve na floresta. Não porque você é forte. Mas por você é um
amigo. Agora, eles são a sua força, e você é a deles. Isso é o que é ser bom.

E eu entendi.

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