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. Ge. 831 i Richard Bucher 319}, u yo 3 {983 : A PSICOTERAPIA PELA FALA Fundamentos, principios, questionamentos | 0948-37260 ULF... - BIBLIOTECA UNIVERSITARIA Hoe 7, Moowwnmesnenaimn | €2U, @ITORA PEDAGOGICA | € UNIVERSITARIA LTDA. i Delineamentos tedricos do campo psicoterapico 3.1. O problema da teorin da pritica psicoterdpica No capitulo precedente, confronta- mo-nes com a especificidade da relagio psieaterdpica, Esta se opse, como vimos, ’ rolagiio médico-paciente, na medida em que to ecoire @ meios intetmedtérios. Se a ago médiea opera mediante recursos ‘objetivos, instrumentals, apelando para Forgas de outea espécie — fisicas, quimi- cas, biolégicas — a psicoterapia apela tunieamente para aquelas forgas que estio presentes diretamente em qualquer ago (ow mellior: interago) humana: as forgas do dislogo, da “fala”, ca yerbalizagio © tudo agtila que implicam aletiva e cogni= tivamente Nao obstante, cabe, com vistas a uma dlimitagio teérien do campo psicoterdipt- «0, distinguir a rolagio psicoldgica da re- lagdo psicoterdpica proptismente dita. A primeiea sempre esté presente, em qual- ‘quer relagiio humana, inclusive na relagio médica, Ela é impltcita, concomitante, automética por assim dizer e, embora ‘consciente, se efetua de maneita nfo re fletida, mais como um pane de fundo di- uso do que respondendo a uma intengéo explicita. ‘Sem referdncia a feorias ou técnieas, a dimensia psicaldgica participa de tudo que & humano, regulamentada por exttas convengées (as féumulas de polidez, por exemplo) ¢ collficadla (e decodificada) segundo as nocessidades de cada situa conereta. No caso da relaggo médica, ela intervém pela maneira do. paciente apre~ sentar a sun queixa, do médlico interrogar, exuminut, discutir, prescrever e, quem sabe, prometer slivio ou mesmo cura com pets do achaque — interagdes uparente- mente simples, mas de [ato complexas se pensarmos nas implicagGes migicas o« in- ‘conscientes que cont2m; complexes tam- bém no que tonge A sugestfo, & perstasio ‘que 0 médico pode ser tentado a usar {prometendo alivio, por exemplo). Neste caso, situamo-nos na regio trofe da relagio psicolégica cotidiana, isto é, nfo psicateripice, em conseatién- ivo consciente, mas talvez in as confessedo, do querer divetamente ine fluenciar 0 outro, para que ‘sredite” nas palavras —¢ no poder — daquele que fale, que “sabe” © que ordena em con cordneia coin este seu saber. AA persuasfo aproxima-se, portanto, da relaglo_psicoterdpica(!), porquanto visa produzit uma eertn mudanga no outro, A relagdo psicolégica, no entanto, mio pre- tende aleangar esta mudanca de maneita explicite ott proposital: ela pode prods irs incidentalmente, como efeito de re- forgo ou pelo amparo que uma atengiio caritativa, por exemple, proporeione 20 doente. O médico, no caso, no se empe- nha em propiciar esta mudanga ow cura pela via psicoldica, o que resta 0 apant. gio, precisamente, da relagio psicote- replica Bem em oposigo a relagio psicl6gien, ‘spontinen © superveniente em qualquet situagio humana, esta & explicit, siste- rética e relativamente. padronizad, Bla se ststenta por um areabougo teérico que Ihe confere uma certa cocréncta, um certo rigor © uma verficabilidade que, embora Jonge de ser experimental, obedece a (érios de reflexiio cientifica ¢ contén feréncias a parimetvos metodoldgicos ave- riguados. ‘A conjungfo dos dois aspectos, da teo- rizacHo continua e do mélodo sisteméti- 0 de investigasao e pratica, oferece uma sarantia minima pela nfo-atbitrariedsde e seriedade do emproendimento terapéu- tico, Rsta nfo deixa de ter a sua impor tincia, visto as pretensées de cientificida- de, isto 6, de uma cesta objetividade « comprovagso intersubj clinica, lagdes psicoldgicas e psicotersipicas. Por cenquanto, tralamos em primeiro Tugar da 4 novessidade de definirteoricamente 0 que 4 psivoterapia, onde, em que campo ela se situa e coma ela provede. Esta necessid de decorre precisamente de pretensio cientificn mantida por aquela psicologia elfnicn que se insereve na tradigio filo- stficocientifica do ocidente, Pelas suas exigéncias de reflexiio metodolégica, de rigor, consisténcia e autocrtien, ela reage contra as abordagens psicolgicas de ceunho mais especulativo, mistico, trans cendental ou parapsicoldgico. | Nestas otientagies, os critérios tradicionais de cientificidade sio deslefxados; outras re- ferGncias sio invocadas para justificar as Tinhas de atuagio, tais como a intuica0, a criatividade espontnes, 0 contato. ime- diato com o cliente, a meditegio transcen- dental, a mentalizagdo, a sugesto, o éxta- se, relagdes com forcas ou seres extraler- restres e assim adiant, Nio se trata aqui de eriticar estes Tie ‘ge n05 critérios de verificagio © de elabo tia oriental; basta citélas para assinalar @ diferenga radical de enfoque no que tan- se 20s erilérios de verifieagao e de elabo- ragio teérica, bem como para situar a psicologia eliniea & qual nés nos referi- mos: ela nfo pretence fugit das exigea- cins de coeténcia Idgica e racional que cearactetizam a evoluggo da ciéncia no ccidente; embora “no positive”, no sen tido de nao referiese a um objeto diteta- mente observével ou quantificével, ela niio abre mio da sua prépria cientificide do. Para alcanétts, labore critérios pré prios de investigugéo, adaptados ao seu objeto geral — 0 set humano que lula com dificuldades ¢ conflites —, tanto ‘quanto a0 seu objeto especttico — as in- teragSes que, a nivel de terapia, possam iniciar processos de mudanga que benefi ciem este ou aquele portador de conflitos, De fato, como vimor nos dois capita los anteriores, psicoterapia consste ruta interagdo muito particular entie sduas (ou mais) pessoas, Bla 6, portento, ‘uma prética, mas uma prétiea que no tira sta consisténcia de nenhuma teotia, de nenhuma “ciéncie bésica’” preestabele- cida, Bm sua estrutura, distingue-seessen- cialmente da terapia comportamentl, Esta considera a si mesma como uma apli- ‘aio de princtpios encontradas por ov- tros métados, ou seja, no laboratério, pela psicologia. experimental (Sobretudo’ ani- ‘mab. Isto fmplica um proc liico radicalmente diferente, o que reper citteinevitavelmente nos métodos de ava- liaga0 © de comprovagao. Por conseguinte, a relago com a teo- ria 6 muito diferente: no caso da terapia comportamental, @ teoria precede a cagio, sendo elaborede ntim contexto di {etente — contexto que correspond, qua- se que totalmente, aos crtétios da cien- ", aquoles de quantiti- cago, objetivacio e abstragéo, Com muita l6gica, a tetapia comportamental conside- ra sun aluagio como “cientifica", uma ve que aplica os resultados da ciénci ‘experimental do comportamento, obtidos principalmente por via indutiva, Bla se re- Fete, pois, explicitemente, so eatiter “po- sitivo” da sua fundamentaglo teéviea, en- taizada bem mais nas ciéneias exatas, em particular na biologi, do que nas ciéneins do homem, A psicotetapia aqui conceituala, e ‘quanto parte da abordegem clin comportamentel. (nem psicornte senvolve-se obedecendo a principios rentes. Sendo ela prética clinica (© niio aplicagio (éonica), nfo se refere a uma teotia constitufda alhures, mas elabora 8 sua teoria prépria, num movimento cit cular permanente: a sua elaboragto tedri- ca, embora festilizada pelas reflexées filo- séficas e antropol6gicas milenares da hu. manidade, procede com uma referéncia imprescindivel & experitucia clinica. Esta, sendo nfo experimental, néo controlads © nio repetitiva, nfo pode submeterse ‘08 cAnones da ciéncia “positiva” — me: Thor, néo pods nem deve submeter-se a cles, uma vez que obedece a outros pr cipics, decorrentes da sua situagio especl- fica com um objeto, no apenas alva de investigagdo e de pesquisa, mas um sujei- 10, patesiro num processo de interagio que almeja a mudanga, No se pode pensar, pois, como na si tuagio experimental ott de aplicagio, no controle das varigvels ou na estabilidade do seu setting, se no enfogue psicoteripi 0, controle © estabitidade. no fazem parte das propriedades desefiveis — se, pelo contrério, devem ser exclufdos ot combatides como “sintomas” de rigicdez, de defesa © de resistencia de um ou de ambos os protagonistas desta singela rela- fo humana ‘Assim entendida, 2 psicologia clinica (& com ela n psicoterapia aqui em Foca) nio € “positive” segundo 0 eonecito traticio- nal (© postivista) de cigneia, Levando as coisas a0 pé de Tetra — uma vez que as palayras “querem dizer algo” e que @ no: 0 de “positivo” faz parte de wi contex- {0 historieo que quis extxpar, expliita- mente, o “obscurantismo” do nio-post yo, isto & do negative, pelas efiebres “ideias clatas ¢ distintas” (leinse: quan- titativas) de Descartes — a nossa psico- Jogia clinica logicamente perieneeri 1 tame “psicologia negativa"(2). © que caracteriza entéo uma tal psi- cologia negativa, contestada, por nio ser cienfifica, em seu diteito de cidadania ne 45 comunidacle ideoldgica dos cientistas. ..? Sendo baseada na pritica, send ela neces: sariamente situativa e conereta; veferin- dose & fala, 90 didlogo como meio de co: municagdo ¢ instrumento de trabalho, serd ela necessariamente dialéticas focal ‘zando as experincias passadas da pessoa, do “sujeito” pedindo auxilio, sera ela ne- ‘essariamente his(6rica; enfatizando 0 ca- riter humano da problemética em ques- tio, seré ela necessariamente ligada as ciéneias da foment; investigando as es truturas do tornar-se homem © dos trope 8 que neste processo 0 acometem, seri la universal en suas exteapolagies tes rieas, A condigio que estas sejam proces- sadas com rigor e peitinéncia, Quanto a conterido desta “psicologin negativa’”, w ser eeriada sempre, embora rintiga como a sabedoria humana, fario parte dela todas aquelas experi@ncias ne _gotivas que 0 homem esté sofrendo consi {go mesmo e com os outros, ligadas & sua situagio existenctal, ao drama de ser “jo- jgado no wniverso”, numa detreligio sem fim, Perlencem a estas experiéncias a an- atistia, oxistencial ou situativa, a agressi- vidade ¢ destrutividade humanas, a psico- ‘totogia de cada um, micro ou macrosed- pea; * mortalidade; Finalmente, ou seja, (9 espacio da morte, jnelutivel na sua cetteza objetiva © absoluta, perseguindo 0 fhomem coino tiniea certera nfo-cientifica, rverea da qual niio the resta divide de quanto quer fugir dela, De mancira mais ampla, fazem parte estas experidncias negativas foros os fe- nOmenos frracionats, nos quais se incluem ‘© amor, a sexualidade, a afetividade, 0 sonho, 0 desejo e a culpa — experiéncins banidas dos laboratérios da ciéncia posi tiva, Blas se infiltram em nossa conscién- cia, fazem irupeo em nosso comporta- 46 mento, oriundos de um “outro Tugar” (como disse Fechner a respeito do sonho), do ama “cena alhela”, ao mesmo tempo inguietante ¢ familiae (isto é, subjetiva), exetvendo um efeito subversivo sobre as nossa certezas aparentemente bem orde- vara. ‘Todos estes aspectos “itvacionais”, pre- sentes na mais cotidiana conduta hume- na, no sfio tratados pela “psicologia eral e experimental”. Poréi, eles no de- vem ser negadas ow evilados pela fuga para o laboratério © suas certezas acon- chegantes, nem pela prioridade intransi- gente atribuida ao estudo do “homem ge- ral, adullo ¢ civilizado”, nem pela prima ia. reclamaca para 0 estudo de tragos pateinis ou ultradetalhados do sew com- portamento, Ao lado deste psicologia ge ral, eabe pois ume psicologia conerela e, fem particular, eliniga, cujaelaboragio urge, visto a amplido © a permanéncia los conflitos humanos — presentes inal- totadamente apesar de todo 0 “progresso da cincia”, ta psicologla concreta, Jonge de pre tender aleangar a abstragiio, acoita a im plicago do psicélogo ou do psicotera- peuta nas interagdes mltiplas com 0 sett objeto que, precisamente, no é um objeto, mas um sujelto, a scr apteendido, estudado e tratado na sua singularidade subjetiva, Esta subjetividade, tio bem en- fatizada por Binswanger, nfo apresenta tum déficit, wma fraqueza da abordagem psicoldgiea aqui preconizada, mas ume riqueza na investigaedo de fendmenos hu- manos de alta relevancia. Como ja frisa- ros, esta psicologia scré conetela e uni: versal a0 mesmo tempo, s¢ conseguir apreender ¢ articular entre si elementos significantes de wma tal qualidade © en- vergadura que revelem 0s alicerces da es fruturago.psiquiea do homem, a um nivel transindividual e propriamente an tropol6gico. Uma tal abordagem, sem divide, nio permitiné verifieagées empfricas diretas ‘ut "positivas”, mas nem por isso serd ne- cessaviamente incontrolivel, selvagem, es- peculativa ou néo-cientifica, Para executar teste projeto, serd preciso basear-se em cri= \érios prOprios de cientificidade, diferen- tes daqueles das cigncias exatas — 0 que nndo quer dizer que sejam por isso menos rigotosos, sendo que o ertério de exatidio (isto &, de quantificagio ¢ metificagio) ilo 6 0 sinico ertério cientifico. Qualquer sistema com pretensdes de cientificidade se valida néo pelo aspecto da exatidio, ‘mas pela coeréneia Iégica des suns propo: sigdes © hipSteses te6ricas, 0 que é um problema no quantitative, mas episte molégico, sbogaclas estas consideragSes gerais sobre a necessidade de discutir a questio «da cientificidede também a nivel da psi- cologia eliniea, bem como de proceder & suit elaboragiio tedriea, fazse mister on contrat critérios capazes de norteat este emprecndimento, De fato, a tentagao pode set grande — e no sfio poucas as orientagées ou “escolas” que sucumbem a eln — de desistir da reflexiio teética rigorosa, uma ver que nfo adianta, diante ‘da especificidade do objeto, a relacio psicoterépica, recorrer aos etitérios tn cionais da cigneia, Em particular, nao tadianta vecorrer no sacrossanto crit cla quantificagio, se se quet apreender © que de subjetive, de inconsciente, de afe- tivo ou de freacional participa na intera- ‘edo entre terapeutn © paciente, ov até ‘mesmo # constitui estrututaliente, se nés fa considerarmos além da sua aparéncia observavel Nao obstante, empenham-se muitos au. (ores hoje em die para chegat a una aver lingo quantitative daquilo que "se pass” numa sessio de psicoterapia, ott ainda, ddos eleitos supostos que a interagio cons: tatada produz, Nao nos referimos aqui a estes esforgos em detathe, empreendidos sobretudo iia escola rogeriana(3) na es cola que se basefa na teoria da comunica- gio(4); em pesquisas sobre a interago psicoterdipicn, é sem diivida possivel obter resultados estatisticos interessantes, mas estes se sitvardo inevitavelmente a nivel dda conseiéneia ¢ da racionalidade ~ onde os elementos © processos qualilativos ji testo bastante complexes — 0 que nos pet rece Insuficiente para leva em conta a slobatidade © a complexidade do psiquis: ‘mo humano. Por outro lado, a insuficiéncia da abor- ddagem cientifien tradicional nao deve ser: vir de pretexto para abrir mio, simples: nignte, do esforgo rellexivo: significaria abdicar da vesponsabilidade ética pela gio psicaterdpica, tanto ao nivel indi dual quanto a0 nivel comunititio, © Iregarse a uma perigosa fanasmatizagiia ideotégica. Conquanto nenhuna reflexso te 6 capa de eliminar a influéneia ideo!s- ‘lea — presente, no seu sentido mais am- plo, em fodos of empreendimentos han ios — compete, tanto ao cientista quanto ‘0 prético, Ficerem vigilantes a este res- pio, para diminuir 20 méxind aquela presenga imponderada, Ela facilmente se torna distorcedora dos verdadciras abje tivos, minando sub-repticiamente as post Ges éticas declatadas e abrindo as por- tas a. situages clinicas Fulaciosas © irre: Fletidas, uma vee que a formagdo mninime do. profissional é, em psicotogia, mito Tecundeia e de diffel controle, apesar das 47 cstipulagdes legais que deveriam gerantir os conhecimentos pelo menos element res do formando. Abrir mo, pois, da exigéncia de tifeidade, de autocritica permanente © de uma avaliagto eviteriosa da prépria atua- ificaria ceder « prée 3s obscurantistes, A charlatanice, & im- provisasio eclética sem principios © sem Gtica, ou ainda a uma mistifiengio vega, esotétca, transcendental ow pseudo-el siosa, Esta seré tanto mais engenadora © fraudulenta, quanto mais recorre a pro- rmessas descabides, proferidas, as. vezes publicamente, pata atrait clientele indis- criminadamente. Diante deste quadto, infelizmente mui- to comum, cabe reagit, no interesie da profissdo do psieélogo elinieo e da psico terapeuta, da sua seriedade © reputacio, com medidas resolutes, & altura da digni- dade do seu objeto de intervencéo, o ser hhummano. Concebemos como parte impor- tante © alé basiea destas medidas, a fre damentagao tebriea da prética psicoleré- pica, Os dois capitulos que precedem, sem dtivida contribulram para este obje- tivo, no sentido de. promover uma refle- ‘ampla sobre as implicagdes anteopo- loicas ¢ psicoldgicas da situagfo psicote- répiea, bem como de situéla no seu ccontexto histérico ¢ filos6fico; no ent (0, 0 esforco com vists a uma ampla fu damentacio teérica & empreen: capitulo, explicitamente — muito embora no seja possivel proveder A discussio da teoria das diversas psicoterapias. Limi- tamo-nos aqui a esboear linhas tedriens getais, a setem pensadas ¢ analisadas para que a aiuacio do prético elfnieo respon da & ctitétios minimos de_pertinéne bem como & preccupagio com a questio 48 dai lade, isto &, da avaliaglo da sua price ‘Bm outras palavras, propomos aqui re- flexdes tedricas sobre a peftica psicoteré- pica, para que auxiliem o (futuro) psico- ferapeuta na sua atuagéo, onde fem que saber, nes mais diversas circunstincias © siluagbes, 0 que fazer, por que o fazer © como o fazer. Aveliando-se. com espitto critica, o exercicio de sun profisio nto set improvisado, a0 acaso dos aconteci- iments e a0 bom grado ds suas veleida- des ou da sua disposigfo afetiva, mas sera refletido, a parti dos seus conhecimentos teéricos ¢ ténicos, responsével, pela rele- séncia a ética que norteia 0 seu trato do ser lnimano, © séri, langando mio sist imaticamente da avaliegio cientifica. ‘Outre ressalva se impie ainda: quando falumos acima da exigucia segundo a qual o psicoterapeuta tem que estar semt- pre consciente dn sua atuagio e capaz de justificar como exerce a sua profissi, como jaz tal intervengio (@ nfo ape or que 0 fee), tocamos numa dimensio que ultrapassa © quadro do presente tra- batho; tcat-se da dimensio propriamente ‘éenica, que dependeré intimamente de ‘pedo do profissional por uma determi- nada escols, otientagio ow inka, Basta insistir, nesta introdueZo, sobre a necess dade de que 0 pritico, de qualquer linha que se, soibe por que, em determinada situagdo, aplica mais tal técnica, tal pro- cedimento ou tal tipo de intervengio do que tal outro; que ele seja consciente, pois, daquilo que fez, mesmo quando, ppolo crescimento da sua experiéncia pro- fissional, chegue a aplicagdes intuitivas ou esponténeas. ‘Traia-se portanto do chamar atengéo, {de modo geral, para a necessidade de um procedimento consciente¢ refletido, © de sensbizar, de modo geral também (em bora “geral” no sentido precisamente de “goneralidades.bisicas”, de fundamen: taeio), para a exigfncia de uma conduta profissional condizente com os valores hhsinanos. Como, concretamente, se alean- 4a a finalidade da relogfo psicoterépiee, quis o§ motos especicas empregados, por que, quanclo ¢ como — tudo isto nao € milo relevante para o objetivo deste capitulo, Determinados aspectos encon- trarsedo em outros coptulos; quanto a apresentagbes mais exaustivas, cabe rele- tirse ts obras dedicadas is diversas abor ‘dagens psicoterépica(5). 3.2, A historia da teoria psicoterdpica e a questio dos modelos te6ricos Antes de abordar a questo dos erité tios ou balizas para o delineamento te6- rico proposto, cabe uma breve referé cia histética, De Talo, 9. psicoterapia como disciplina cientifiea — ou com pre- tensbes de cientificidado — 6 relativa- ‘mente nova. Na hisiéria do Ocidente, ela surgi numa época recente, ¢ sem forgar mito € possivel datiia com exatidéo, a saber, em 1895, Nesta data, Brewer © Freud publicam os “Estudos sobre Histe- ria"(6). Podemos considera o capitulo final (da autoria de Pread), “Sobre a Psi colerapia da Histeria", como © ponto de pattida de reflexio cientifien sobre “o que 6 psicoterapia”, sobre os prine(pios, provessos c mecenismos que nela ope: fam, bem como sobre a sua decor das concepgGes acerca da etiologia das neuroses (ou, no caso, da histeia). Percebe-se que, nesse trabalho, Freud est6 & procuta de tm novo tipo de tere- pia, procura que poucos anos mais tarde desemboca na psicunélise. Segundo Jo nes(7), esse capitulo poderia mesmo set consideredo como 0 “inicio da prica atl”, mas néo hi divide de que es ‘consideraedes all desenvovides einda so tributécias do modelo catéti e, poctan- 10, pré-anelitcas. Contudo, © que mais nos interes aqui 6 0 fato de se tratar, segundo salbamos, da primeira publica #0, no contexto cientifico ocidental, que contém uma reflexéo térica sobre psico- terapia © propésito de Freud af & explicio: apresentar 0 novo “método psicoterapeu tio” e “tentar compreendes de que modo cle exerce efeito”. Nisto, pecebese com nitider. a preocupago com uma avalisgo ¢ expliengio “cientifica” deste novo me todo. Ademais, este & apresentado como fruto colaietl da investigagéo de etiolo- ia dos sintomas histéricas, o que subli nha a interdependéncia esrito entre mo- dela etioldgico e método terapéutico, ‘entre teoria ¢ ténica — e, podemos screscenta, entre a estruturn do objeto pesquisado 'e 2 sua transformagio me: dionte certas intervengSes: estes terfo ‘que ser estruturalmente conaturais com 0 objeto, se pretendem modifies to em pro fundidade, Com isto, aludimos & importdneia da Iinguagem, esponsivel, segundo a tese da psicanilise, a estruturagio do ser huma- no, forgando 0 confronto do imaginétio com o simbélieo. J6 aqui a Tinguagem aponta como jnstrumento primordial da abordagem dos coaflites psfquicos ¢ dos seus sintomes — estes também royelan- do, na andlise, uma estratura semehante Aquela da linguagern. Poréim, no queremos antecipar desen- volvimentos de capiluos posteriores; pre- 49

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