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Universidade Federal de Minas Gerais.

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

Disciplina: Psicanálise, Feminino e Maternidade.

Professoras: Andréa Guerra, Marina Otoni e Luana Pizarro.

Nome: Nídia Mayra Duarte Dias

Roteiro para estudo dirigido referente ao texto "A maternidade na história e a


história dos cuidados maternos."

A maternidade não é um dom natural, inerente à natureza feminina, mas um


processo psíquico que é atravessado por alguns fatores que podem facilitar ou
dificultar o nascimento psíquico de uma mãe. Dentre esses fatores, vale destacar os
discursos historicamente construídos em torno da mulher mãe, que mudam de
acordo com a época e o contexto social, econômico e cultural no qual a mulher se
encontra.

Em "A maternidade na história e a história dos cuidados maternos", as autoras


fazem uma exposição sobre a história da maternidade ao longo dos séculos.

Após a leitura do texto, realize um breve resumo expondo as principais ideias


trazidas pelas autoras referente aos períodos históricos abordados no texto,
buscando identificar quais as mudanças que ocorrem em relação as expectativas
sociais em torno da mulher mãe ao longo da história e como essas mudanças
influenciam a forma como as mulheres vivenciam a maternidade.

A valorização e naturalização do papel da mulher como mãe, surgem a partir da


formação das sociedades burguesas, associada ao discurso médico que dita um
papel materno e uma relação de mãe e filho diferentes da estabelecida na Idade
Média. Isso, por si só, evidencia a construção social em torno do discurso do amor
materno e do cuidado maternal, que se diferenciam das funções biológicas da mãe.
Na Idade Média, o homem possuía a autoridade sobre a família, dada como
natural. As crianças permaneciam vinculadas as suas famílias de origem por pouco
tempo até serem entregues a outras famílias para receberem os aprendizados mais
valorizados na época, no caso, os serviços domésticos. Nesse momento, havia uma
alta mortalidade e, consequentemente, um desapego das mulheres com os filhos.
Havia uma desvalorização quanto à maternidade.

A partir do século XVII, na Europa, obteve-se a necessidade de valorização das


crianças a fim de se obter retorno financeiro com a mão de obra que ela viria a ser.
Dessa forma, era preciso diminuir a mortalidade infantil. Algumas transformações
como a mudança dos hábitos educacionais e modificação da condição de
transmissão de bens foram importantes para esse processo. Nessa época, tinha-se
foco ideológico no amor materno, visto como importante para a sobrevivência das
crianças. Esse foco era reforçado por dois discursos: o econômico que dava ênfase
nos prejuízos econômicos provindos da perda populacional, e o filosófico –
liberalismo – que pregava a liberdade, igualdade e felicidade individual.

É nesse contexto também que nasce a noção de vida privada, e os casamentos por
negócios dão espaço aos casamentos por amor. A família passa a ser distanciada
dos espaços públicos, reservados ao trabalho. Com isso, cresce o discurso que a
mãe cuidando do filho era algo natural, pois apenas a mulher é capaz de gerar,
parir, e, portanto, era a mais adequada para educar e cuidar da prole.

Os especialistas da medicina junto ao Estado, a fim de diminuir os problemas das


famílias na valorização da criança, e com discurso higienista, intervinham nas
famílias e construíram novas normas para regular a vida familiar e individual.
Enquanto nas classes mais ricas eram evidenciados os laços afetivos, nas famílias
mais pobres esses laços eram desfeitos para dar lugar a politicas sociais de
intervenção.

Essas novas responsabilidades quanto a maternidade conferidas a mulher e esse


novo status que ela ocupava na família e na sociedade, traz a quem se afastava
desse ideal, ou seja, a quem não queria cuidar dos filhos ou até mesmo ser mãe, um
sentimento de culpa e de “anormalidade”, já que isso era visto como algo que
contrariava a natureza. Assim, as mulheres que se encontravam nessas posições
eram vistas como desviantes ou doentes.
No Brasil, a mudança do papel social da mulher foi acompanhada pela transição de
colônia para nação. No Brasil colônia não se distinguia espaços privados e
públicos. Também não havia uma forma única de família devido a extensão
temporal desse período e a diversidade territorial. É no século XIX, com uma
importação dos valores da Europa, que os higienistas auxiliam a família brasileira a
assimilar novos valores, a nuclearizar-se enquanto família e a urbanizar-se. Dessa
forma, cria-se a família colonizada, predominante nas classes mais favorecidas
economicamente, caracterizada pela valorização do poder paterno. As mulheres e
os filhos estavam a serviço do patriarca.

Quanto as mulheres, esse processo teve sobre ela o efeito de redução à “mãe
higiênica”. Era responsabilidade da mãe certificar que os filhos não morressem ou
fossem criados com influência de valores “sujos” (a dos escravos). Esse discurso
reforçado pela aliança da família com os profissionais da medicina. Assim como na
europa, aquelas que se recusavam ao aleitamento materno eram vistas como
infratoras da natura e anormais. A regulação da vida das mulheres se dava pela
amamentação que se estendia até dois anos. Por todo século XIX a família
brasileira foi adaptando o modelo de família burguesa da Europa, com auxílio dos
medicos higienistas. Foi-se instalando, então, a ideologia da mãe moral em que as
mulheres burguesas eram exemplos morais e educadoras dos filhos assim como
guias morais e alimentadoras para os maridos.

Na década de 80, as representações de maternidade e paternidade começam a ser


vistas não mais como naturais mas sim como algo passível de discussão pelo casal.
Com o projeto de casais grávidos, começa-se a dar ênfase na participação do
homem na criação dos filhos desde a gravidez. O casal passa a ocupar o lugar que
era ocupado pela família extensa. Nesse momento, instaurou-se também a
psicologização do feto, processo que antecipava a condição de bebe pelo feto, no
qual era atribuído a este uma individualidade afetiva. Assim, desenvolveu-se
também as especialidades da medicina e de exames para abarcar esse momento.

De encontro a essa ênfase na gestação, nascia nas mulheres a importância de


ocupar outros papéis senão a maternidade, principalmente dentre as mulheres de
classe media. A maternidade era vista como uma escolha e a redução do papel das
mulheres reduzidos a maternidade era problematizado. Essa crítica era
acompanhada pelos profissionais psis que ajudaram a estabelecer novos valores,
supostamente incentivando a uma emergência de um desejo individual em relação
a maternidade.

A mulher também conquista, nesse momento, a liberdade de exercer sua


sexualidade desvinculada do casamento, de decidir se quer ser mãe e da possível
interrupção da gravidez. Além disso, pode exercer a maternidade sozinha sem
condenação social. Essas conquistas acompanhadas com o desenvolvimento de
tecnologias reprodutivas, permitiu a gestação em condições anteriormente
impensáveis, como por exemplo, uma gestação tardia. Contudo, é difícil pensar
nesse processo desvinculado da influência da concepção dos especialistas em torno
dos significados da maternidade. O sentimento de “competência” relacionado a
maternidade não só ainda existe como pode ser reforçado por esses profissionais,
dentre eles, o psicólogo. Cabe a eles, romper com esse discurso a fim de fazer
aparecer as diferentes formas de ser sujeitos sociais.

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