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1/3/2020 Da Política “Going Out” à Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” – Hoje Macau

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Sexta-feira, 3 de Janeiro de 2020

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HM  Opinião

Da Política “Going Out” à Iniciativa “Uma


Faixa, Uma Rota”
TIAGO BONUCCI PEREIRA — 4 Mai 2018 em Opinião  1  0  0

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A
iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” (OBOR ou BRI) pode em certa
medida ser encarada como a evolução natural da política “Going
Out” promovida por Jiang Zemin em 1999, política essa centrada
na internacionalização da economia chinesa, traduzida pela
transição da República Popular da China (RPC) de país receptor para
país promotor de investimento directo estrangeiro (IDE).

A estratégia foi progressivamente consolidada em 2001 com a admissão


da China na Organização Mundial do Comércio e o anúncio, em 2004,
pela Comissão Nacional para Reformas e Desenvolvimento da RPC
(NDRC) e pelo China Eximbank de medidas de apoio ao investimento em
4 sectores específicos:  (i) recursos naturais e bens primários
relativamente aos quais a China é deficitária; (ii) investimento em
sectores exportadores ou que envolvam novas tecnologias e
equipamentos; (iii) colaborações com entidades estrangeiras em
projectos de investigação e desenvolvimento (I&D) e novas tecnologias,
gestão e formação de quadros; (iv) fusões e aquisições com vista ao
aumento progressivo da competitividade internacional de firmas 
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nacionais  CHINAdos
e à expansão  DESPORTO de produção
mercados EVENTOS  eOPINIÃO
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O plano conjuga, portanto, a transformação progressiva do tecido


económico e industrial Chinês para sectores de valor acrescentado com
a internacionalização de empresas e sectores cujo mercado interno
caminha para a saturação. Com efeito, a China apresenta actualmente
excesso de capacidade em sectores críticos, como a construção e
indústrias associadas, bem como no sector energético. Como tal, a
sustentabilidade dessas empresas exige uma política expansionista em
busca de mercados em território estrangeiro. Os dois sectores acima
referidos são porventura os que têm maior visibilidade. A produção de
energia a carvão constitui um exemplo de conjugação de várias
políticas: Pequim, a partir de 2014, reintroduziu taxas sobre a
importação de diversas qualidades de carvão e proibiu a compra de
carvão de baixa qualidade. Medidas estas que surgem na sequência da
implementação de políticas de combate à poluição, bem como de
protecção dos produtores chineses. Por outro lado, e já antes do anúncio
da iniciativa BRI, têm-se multiplicado a construção de centrais térmicas
a carvão por empresas chinesas no estrangeiro.

No que respeita ao IDE, foi feita uma descrição, num artigo anterior, do
crescente investimento chinês em África, num padrão onde se constata a
progressiva transferência de indústria transformadora para regiões com
menores custos laborais, funcionando em simultâneo como uma forma
de criação de emprego e de desenvolvimento económico e social. Padrão
similar observa-se nos países do Sul da Ásia.

NO MESMO CADERNO

 Bom ano novo

 Quem gastou mais?

 Isto começa bem…

Mas o cenário muda radicalmente quando olhamos para o continente


europeu. A Europa é a principal destinatária do IDE chinês (29 por cento
do total), estando a aposta centrada nos sectores de energia, finança,
tecnologia e infraestruturas. O sector imobiliário perdeu importância
nos últimos anos em virtude de um maior controlo administrativo
chinês sobre certos tipos de transacções, como forma de travar a fuga de
capital. No entanto, o incentivo à diversificação para firmas chinesas é
inegável. As restrições sobre o investimento em imobiliário, de resto,
resultaram num redireccionamento do investimento chinês para outros
sectores, também em face da desaceleração do mercado doméstico.

Conhecemos bem os exemplos portugueses, como o investimento da


China Three Gorges na EDP e a aquisição pela Fosun da Caixa Seguros.
Todavia, Portugal, com um total de investimentos entre 2000 e 2017 de 6
mil milhões de euros, é o sétimo destinatário europeu do IDE chinês. O
pódio pertence ao Reino Unido (42 mil milhões de euros), Alemanha
(20.6 mil milhões de euros) e Itália (13.7 mil milhões de euros). Exemplos
recentes de investimentos são a aquisição pela Midea da empresa alemã

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de robótica KUKA e a compra por um consórcio chinês de 49 por cento


da operadora de centro de dados do Reino Unido Global Switch.

A aposta chinesa em sectores de valor acrescentado poderá ser


associada ao plano “Made in China 2025”, um masterplan anunciado em
2015 e que tem em vista a transformação da China nas próximas
décadas numa superpotência industrial com base em tecnologias
inovadoras. Contudo, esta aposta era já visível a partir de 2004. Os
números assim o demonstram: investimento chinês no estrangeiro
disparou a partir sensivelmente de 2005, tendo o IDE na década seguinte
tido uma média anual de crescimento de 30 por cento. O investimento
chinês em Investigação & Desenvolvimento aumentou
exponencialmente a partir da mesma data, correspondendo actualmente
a 20 por cento do investimento mundial nesta área. Circunstâncias mais
recentes (desaceleração económica; desenvolvimento económico e
social; saturação de certos sectores) poderão ter ditado uma aceleração
mais acentuada. Mas é nítido que esta aposta estava já na mente dos
governantes chineses.

Constata-se agora um crescente nervosismo na classe política europeia


com as aquisições chinesas em sectores chave da sua economia,
argumentando falta de reciprocidade na medida em que muitos
investimentos são em sectores nos quais as empresas estrangeiras
continuam a encontrar barreiras no acesso ao mercado chinês. Acresce
que problemas políticos no seio da União Europeia, como os diferendos
com os países do leste, são encarados como sendo agravados por acções
como a iniciativa “16+1” entre a China e países da Europa Central de
Leste, iniciativa esta que tem em vista a realização de projectos no
âmbito do BRI.

Que a liderança europeia esteja preocupada com o crescimento chinês e


o impacto económico e político na Europa é normal. Estranha-se, no
entanto, é que esta preocupação surja de forma tardia. Por outro lado, as
preocupações têm mais a haver com problemas europeus do que
propriamente com a China. A reciprocidade é possível através de
negociações. E as deficiências institucionais europeias são um problema
exclusivamente europeu.

Percebe-se que existe uma sequência lógica na evolução do investimento


externo chinês, num processo contínuo de aprendizagem e delineado
com rigor e pragmatismo. Perante isto, como podemos interpretar a
iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”? Será tentador encará-la de forma
cínica como nada mais do que um processo de etiquetagem e exercício
de retórica sobre um projecto já em marcha, mas essa interpretação não
corresponderia à verdade. Este tópico, porém, merece um artigo em
separado.

Temas: china europa investimento chinês uma faixa uma rota


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