Você está na página 1de 63

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

FRANCISCO RAMALHO DA SILVA

CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA


COMETIDO POR MILITAR ESTADUAL EM SERVIÇO

BOA VISTA – RR
2016
FRANCISCO RAMALHO DA SILVA

CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA


COMETIDO POR MILITAR ESTADUAL EM SERVIÇO

Monografia apresentada como requisito obrigatório para a


obtenção do título de Bacharel, no do Curso de Direito, do
Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de
Roraima.

Orientadora: Prof.ª MsC Ilaine Aparecida Pagliarini

BOA VISTA – RR
2016
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima
S586c Silva, Francisco Ramalho da.

Conflito de atribuições nos crimes dolosos contra a vida cometido


por militar estadual em serviço / Francisco Ramalho da Silva. – Boa
Vista, 2016.

62 f.

Orientadora: Profª. Me. Ilaine Aparecida Pagliarini.

Monografia (graduação) – Universidade Federal de Roraima, Curso


de Bacharel em Direito.

1 – Polícia Judiciária Militar. 2 – Crime militar impróprio. 3 –


Justiça Militar. I – Título. II – Pagliarini, Ilaine Aparecida (orientadora).

CDU – 344.2 (81)


FRANCISCO RAMALHO DA SILVA

CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA


COMETIDO POR MILITAR ESTADUAL EM SERVIÇO

Monografia apresentada como pré-requisito para a


conclusão do Curso de Bacharelado em Direito, da
Universidade Federal de Roraima – UFRR. Área de
Concentração: Direito Penal Militar; Direito Processual
Penal Militar. Defendida em 20 de fevereiro de 2017 e
avaliada pela seguinte banca examinadora:

___________________________________________
Prof.ª MsC. Ilaine Aparecida Pagliarini
Orientadora/Curso de Direito – UFRR

___________________________________________
Profª. MsC. Lívia Dutra Barreto
Curso de Direito – UFRR

___________________________________________
Prof. MsC. Raimundo Paulino Cavalcante Filho
Curso de Direito – UFRR
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus nessa longa jornada por permitir a concretização desse sonho,
guiando-me com saberia nos momentos difíceis, superando-os com fé inabalável. Sem ESTE
guia não teria conseguido.
Agradeço aos meus pais, Ney Marina Ramalho de Souza e Francisco Batista da
Silva, meus irmãos Sandra, Sidney, Daniel, Osiel, Misael, Elias e Jonathan, mesmo distante,
pelo carinho e apoio nesta nova etapa da minha vida.
Agradeço a minha esposa Luciana do Carmo Souza por ter com amor,
companheirismo e paciência cuidado de mim durante mais de cincos anos no árduo caminho
da minha formação.
Agradeço às minhas amigas da UFRR Christiana Silva Guimarães e Andréia Karen
Gomes Severo, pela amizade, partilha de ideias nos estudos e sadia convivência que
proporcionaram momentos inesquecíveis na busca pelo conhecimento.
A minha amiga de trabalho, Jéssica Caroline por ter contribuído substancialmente
nesta pesquisa com dicas e orientações necessárias, tornando essa trajetória mais leve e suave;
Ao Senhor MAJ PM Moreira, homem íntegro e dedicado, pela força, motivação e coragem
nos estudos.
Ao fim, agradeço à minha orientadora, Prof.ª Msc. Ilaine Aparecida Pagliarini, pela
sua dedicação na elaboração da presente monografia, mestra que ao longo de muitos anos
semeia o conhecimento, com sabedoria, amor e dedicação, cujos frutos têm reflexos na
qualidade de ensino desta Universidade e na formação do corpo discente. Muito obrigado
professora!
Quanto mais duro o conflito, mais glorioso o
triunfo.
Thomas Paine

O único homem que não comete erros é


aquele que nunca faz coisa alguma. Não
tenha medo de errar, pois você aprenderá a
não cometer duas vezes o mesmo erro.
Roosvelt
RESUMO

O presente estudo destina-se analisar a titularidade para investigar os crimes dolosos contra
vida de civil cometido por militar estadual em serviço. Em face disso, eclode o que se
denomina conflito de atribuições na fase policial. O exercício da Polícia Judiciária no âmbito
dos Estados é uma atribuição tanto da Polícia Civil como da Polícia Militar e decorre da
dicção do Art. 144, §4º da Constituição Federal. Assim, ao primeiro órgão compete apurar as
infrações penais e ao segundo, de forma atípica, os crimes militares definidos em lei. Nesse
sentido, as duas corporações podem apurar infrações penais nos limites da Constituição.
Atualmente, é evidente a tendência da Polícia Civil instaurar inquérito policial ou efetivar o
auto de flagrante delito quando tem notícia de crime doloso contra vida de civil perpetrado
por militar estadual em serviço, sob o argumento de que o delito não configura o crime
militar, senão crime comum. Não obstante, para se conhecer melhor esse debate é salutar
fazer o estudo percuciente da Lei nº 9.299/1996 e da Emenda Constitucional nº 45/2004
ambas com reflexos diretos nesse embate. Diante disso, só é possível estabelecer a
prerrogativa quando se tem o domínio da natureza do delito e a competência do juízo da
causa, sem os quais o estudo se torna vazio, pois com o surgimento do homicídio doloso
contra vida nasce também o juízo natural para processar e julgar o infrator. Portanto, ao final,
conclui-se que a prerrogativa para investigar é da Polícia Judiciária Militar com fundamento
na Lei nº 9.299/1996 recepcionada pela Constituição. O crime é de natureza militar. Para
tanto, utiliza-se de uma metodologia qualitativa, exploratória, bibliográfica e jurisprudencial.

Palavras-chave: Polícia Judiciária Militar. Crime militar impróprio. Justiça Militar.


ABSTRACT

The present study intend to analyze the ownership to investigate the intentional crimes against
civilian's life committed by a state military in service, and, in turn, what is called of conflict of
assignments in the police phase. The exercise of the Judicial Police in the scope of the States
is an attribution of Civil Police and Military Police that due from in the diction of Article 144,
§4º Federal Constitution. Thus, the first organism is responsible for investigating criminal
offenses and the second, atypically, for military crimes defined by law. In this sense, the two
corporations can establish criminal offenses within the limits of the Constitution. Currently, it
is evident that the tendency of the Civil Police institute a police investigation or to execute the
act of committing an offence within a notice of intentional crimes against civilian's life
perpetrated by a state military in service, under the argument that the crime does not
constitute military crime, otherwise common crime. Although, in order to get to know this
debate better, it is salutary to make the study of Law 9.299/1996 and of Constitutional
Amendment 45/2004 both with direct reflexes in this conflict. In view of this, it is only
possible to establish the prerogative when there is the domain of the nature of the offense and
the jurisdiction of the trial of the cause, without it the study becomes empty, because with the
appearance of the deceitful murder against life also rises the natural judgment for prosecute
and judge the offender. Therefore, in the end, concludes that the prerogative to investigate is
from the Military Judicial Police based on Law No. 9.299/1996 approved by the Constitution.
The crime is military nature. For that, a qualitative, exploratory, bibliographical and
jurisprudential methodology is used.

Keywords: Military Judicial Police. Inappropriate military crime. Military Justice.


LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade.


AGU – Advogado Geral da União.
Art. – Artigo.
CE – Constituição Estadual.
CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil.
CP – Código Penal, Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
CPP – Código de Processo Penal, Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941.
CPM – Código Penal Militar, Decreto-Lei n. 1.001, de 21 de outubro de 1969.
CPPM – Código de Processo Penal Militar, Decreto-Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969.
EC – Emenda Constitucional.
FFAA – Forças Armadas.
HC – Habeas Corpus.
IP – Inquérito Policial.
IPM – Inquérito Policial Militar.
LOJM – Lei de Organização da Justiça Militar.
MPF – Ministério Público Federal.
PGR – Procuradoria Geral da República.
PMRR – Polícia Militar de Roraima.
PCRR – Polícia Civil de Roraima.
RITJR – Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Roraima.
STF – Supremo Tribunal Federal.
STJ – Superior Tribunal de Justiça.
TJMG – Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
TJMMG – Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais.
TJMSP – Tribunal de Justiça Militar de São Paulo.
TJMRS – Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................10

1 A COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR FEDERAL E ESTADUAL ......... 14


1.1 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ................................................................................................. 14
1.2 COMPETÊNCIA CRIMINAL.........................................................................................................14
1.3 COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÕES JUDICIAIS CONTRA ATOS DISCIPLINARES....17
1.4 COMPETÊNCIA QUANTO AO ACUSADO.................................................................................19
1.5 QUANTO AO ÓRGÃO JURISDICIONAL COMPETENTE.........................................................22
1.5.1Conselho permanente de justiça federal.....................................................................................22
1.5.2 Conselho especial de justiça federal...........................................................................................23
1.5.3 Conselho de justiça especial e permanente estaduais...............................................................24
1.6 ÓRGÃO JURISDICIONAL AD QUEM..........................................................................................25
1.6.1 Órgão jurisdicional federal.........................................................................................................25
1.6.2 Órgão jurisdicional estadual.......................................................................................................26

2 O DIREITO PENAL MILITAR E O CRIME MILITAR............................................................ 27


2.1 DIREITO PENAL MILITAR...........................................................................................................27
2.2 CRIME MILITAR............................................................................................................................28
2.2.1Crime propriamente militar........................................................................................................30
2.2.2 Crime impropriamente militar ..................................................................................................33
2.3 ADEQUAÇÃO TÍPICA NO CRIME MILITAR.............................................................................35

3 CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA COMETIDO


POR MILITAR ESTADUAL EM SERVIÇO....................................................................................37
3.1 POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA ...........................................................................37
3.2 A POLÍCIA JUDICIÁRIA E SUAS ATRIBUIÇÕES ....................................................................38
3.3 O INQUÉRITO POLICIAL MILITAR............................................................................................40
3.4 DA ANÁLISE DO CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES.................................................................... 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS... ............................................................................................................. 52

REFERÊNCIAS......................................................................................................................................58
10

INTRODUÇÃO

A superveniência da Emenda Constitucional n.º 45/2004 trouxe nova configuração


para a Justiça Militar Estadual atribuindo-lhe a competência para processar e julgar os
militares dos Estados e do Distrito Federal nos crimes militares definidos em lei, assim como
introduziu a competência civil relativa às ações judiciais contra atos disciplinares, a serem
decididas, singularmente pelo juiz de direito da Vara Militar.
Por sua vez, a lei e a Constituição fizeram ressalva quanto aos crimes dolosos contra
vida de civil cometido por militares estaduais devendo no caso serem submetidos ao Tribunal
do Júri, nos termos do Art. 125, §4º da CRFB/88.
A nova redação estabelecida no parágrafo 4º do Art. 125 deslocou o processamento
e julgamento do delito especificado para a Justiça Comum, antes conferido a Justiça
Especializada, até o ano de 1996. Conquanto, não tratou a norma constitucional em
desqualificar o delito militar para o crime comum, mas tão somente modificou a competência.
A respeito disso, há na doutrina e na jurisprudência elevada discussão sobre o tema.
O debate nesse sentido é controverso, pois para alguns doutrinadores a natureza do
delito é militar, inclusive a fase pré-processual e a fase policial não podem desagregar, razão
pela qual, devendo operar-se no juízo militar e, por dedução entendem que caberá a Polícia
Judiciária Militar a titularidade da investigação do delito a ser instrumentalizado por meio de
Inquérito Policial Militar.
Em contrapeso, para os que se opõem a essa tese, essas ilações não se sustentam
porque as disposições do ordenamento jurídico militar, penal e processual militar, revelam
interpretação jurídica oposta. Isto é, o órgão investido em apurar o homicídio doloso é a
Polícia Judiciária através do Inquérito Policial, cujo juízo natural pré-processante vincula-se a
Justiça Comum e não a Justiça Militar. Contudo, a doutrina e a jurisprudência convergem para
um ponto em comum, com supedâneo na Constituição Federal, qual seja o delito em análise é
11

da competência do Tribunal do Júri, se o homicídio for doloso, se culposo será da justiça


especializada.
Por esses contornos, o tema é atual e tem relevância jurídica em razão da divergência
em torno da questão desses conflitos de atribuição e competência, pois é dissonante nos
Tribunais, e somente com o tempo poderão ser superadas tornando-a inconteste.
Nesse contexto, o objeto principal do estudo tem por primazia analisar se caberá a
Polícia Judiciária Militar, nesse conflito de atribuições existente com a Polícia Judiciária
investigar o crime doloso contra vida de civil cometido por militar estadual em serviço ou
atuando em razão da função.
O tema proposto está inserido no campo do direito penal militar e no direito
processual penal militar, ramos do direito público pouco difundido nas universidades
brasileiras. A abordagem em seu exame tem sua gênese quando o bombeiro militar ou o
policial militar durante o desenvolvimento de suas atividades, isto é, em serviço venha a
cometer um crime doloso contra a vida de um civil, delito previsto, em lei penal especial,
definido no Art. 205, combinado com Art. 9, II, “c” ambos do Código Penal Militar.
Nesse sentido, e pelo fato de a Constituição Federal determinar que o foro militar,
em regra, é especial, contudo fez exceção quando ocorrer o homicídio doloso contra vida
praticado por ele em serviço, logo deixará de ser processado pelo seu juízo natural e se
submeterá ao Tribunal do Júri, nos termos do Art. 125, § 4º da CRFB/88.
Diante disso, no primeiro momento, parece ser o caso uma situação bastante simples,
conquanto seja essa infração penal processada e julgada pelo Júri, situação que nos leva a crer
seja também apurada pela Polícia Judiciária, por ser o órgão auxiliar direto da Justiça
Comum. No entanto, essa sistemática, neste caso, não parecer ser a mais correta, já que é
imprescindível ter a certeza se o delito constitui uma infração penal comum ou especial, para
depois apontar o seu juízo natural processante, e por conseqüência indicar o órgão auxiliar
com prerrogativas para investigar o delito.
Assim, caso o delito seja de natureza comum, caberá a Polícia Judiciária apurá-lo
conforme determina o Art. 144, § 4º da CRFB/88, não o sendo à atribuição converge para a
Polícia Judiciária Militar nos termos do art. 7º e 8º do CPPM, o qual dever ser investigado via
Inquérito Policial Militar.
Em relação à natureza desse delito há doutrinadores que o classificam como crime
comum, outros afirmam ser o delito militar. Igualmente, essa divergência fez surgir a
12

instauração de inquérito paralelos, pelo mesmo fato, encadeados pela Polícia Judiciária, pois
os delegados de polícia entendem que o crime passou a ser comum.
Para tanto, a abordagem tratou esclarecer, em primeiro plano, a origem e
competência da Jurisdição Militar especificando sua estrutura, seu fundamento na
Constituição, os sujeitos ativos do crime militar que pode ser tanto o civil como o militar.
Debateu-se a importâncias dos órgãos da Justiça Militar, em destaque para os Conselhos de
Justiça Permanente e Especial, colegiados formados para julgar oficiais e praças e suas
particularidades em sua formação.
Como se verá, nota-se que a Justiça Militar é justiça especializada. Assim como é a
Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral, e tem por objetivo, em regra, apreciar determinadas
demandas envolvendo militares, no primeiro momento, em que serão julgados e processados
por juízes especializados. A par disso, se destacou que no Brasil existem duas categorias de
militares que formam o gênero militar, os militares federais que pertence ao efetivo das
Forças Armadas, seja ele do Exército, Marinha ou Aeronáutica. De outro lado, os militares
estaduais, são aqueles que pertencem à força militar estadual como o bombeiro militar e o
policial militar.
O Estudo voltou-se para os órgãos dessa Justiça Especializada de segunda instância
ou de apelação, indicando haver distinção entre os órgãos recursais, na mesma base territorial,
na Justiça Militar Federal e Estadual. Assim, a Justiça Militar Estadual tem como órgão de
segunda instância o Tribunal de Justiça, e excepcionalmente, o Tribunal Militar Estadual que
somente existem nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
O segundo capítulo tratou do direito penal militar como ramo do direito público
distinto do direito penal comum, possui regras propicias para o atendimento das necessidades
da caserna, como por exemplo, a ação penal, em regra é publica, não havendo ação penal
privada. E no crime militar, o legislador utilizou o critério em razão da lei. Deste modo, crime
militar é o que está definido na lei penal militar, mas pode se valer de outros critérios como do
lugar, do tempo, da função. Tratou-se ainda de sua classificação básica em próprios e
impróprios e da adequação típica direta e indireta.
Ao final, no terceiro e último capítulo, abordou-se o cerne do problema suscitado,
sendo pertinente demonstrar o contexto histórico da Lei n.º 9.299/96 e as modificações
introduzidas por ela no Código Penal Militar e no Código de Processo Penal Militar,
conferindo ao Art. 9º, parágrafo único do CPM e ao Art. 82, § 2º do CPPM nova redação.
13

Foi necessário também verificar as implicações da Emenda Constitucional n.º


45/2004 que acresceu ao Art. 125, o parágrafo 4º da CRFB/88 atribuindo ao Tribunal do Júri
a competência para processar e julgar os crimes dolosos contra vida, e seus reflexos na
natureza do delito militar.
Por imediato, se enfatizará os conceitos de polícia administrativa e judiciária, sendo
que nesta última aprofundou-se o fundamento legal das atribuições da Polícia Judiciária
Militar, indicando-se as autoridades militares que podem exercer essa atividade
administrativa, cujo objeto maior é apurar as infrações penais militares. Por consectário,
operamos o estudo do inquérito policial militar como ferramenta de apuração dos crimes
militares, com a finalidade de reunir elementos necessários para demonstrar a autoria e a
materialidade do crime militar para a propositura da ação penal. Verifica-se que esse
instrumento constitui peça de mera informação podendo ser substituído por outros
documentos.
Por fim, analisou-se o conflito de atribuição entre Polícia Judiciária Militar e Polícia
Judiciária sob a perspectiva doutrinária e jurisprudencial, apontando o alcance e o interesse do
estudo nos aspectos mais relevantes para a compressão do tema.
Quanto à metodologia empregada adotou-se a pesquisa bibliográfica, exploratória e
qualitativa no seu conjunto, com sistemática leitura em obras, livros, artigos, leis e
jurisprudência que solidificaram o bom desenvolvimento da matéria sob apreciação.
14

1 A COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR FEDERAL E ESTADUAL

1.1 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA


A origem da palavra jurisdição vem do latim juris (direito) e dictio (dizer), que
significa, portanto dizer o direito.
A idéia de jurisdição está relacionada com o poder-função do Estado de solucionar
litígios e aplicar a lei ao caso concreto mediante o devido processo legal cuja função é
exclusiva do Poder Judiciário CAPEZ (2011).
De acordo com Dinamarco e Lopez (2016) a jurisdição constitui uma atividade
complexa promovida pelo Estado que substitui o sujeito ativo no direito reivindicado fazendo
valer sua decisão na resolução de conflitos nos casos concretos que lhe são propostos. Essa
atividade exercida pelos magistrados encontra limite no ordenamento jurídico, assim deve o
magistrado fundamentar suas decisões, ou seja, é uma formalidade a ser obedecida como
garantia de proteção às pessoas envolvidas na lide.
Na acepção de Giuseppe Chiovenda (apud DE PINHO, 2016) jurisdição é o múnus
estatal que tem por finalidade a atuação da vontade concreta da lei, substituindo a atividade do
particular pela intervenção do Estado.
Segundo Capez (2011) o instituto da competência delimita o poder de atuação do
juiz, fixando a prestação jurisdicional deste. Com isso o órgão jurisdicional deve cuidar das
matérias que lhe são afetas o que corresponde uma dimensão de dizer o direito.
Ao discorrer sobre competência, Filho (2010) ensina que sua delimitação é previa e
encontra seu fundamento na Constituição Federal e na lei e para atender os inúmeros conflitos
judiciais é necessário fatiar a extensão da jurisdição. Isto é, as causas devem ser apreciadas
por órgãos distintos, especializados ou não.

1.2 COMPETÊNCIA CRIMINAL


Historicamente, como se observa nas Constituições Federais brasileiras a Justiça
Militar da União nasceu com a Constituição de 1934, capitulado em seu Art. 63, alínea “c”
concebida como órgão do Poder Judiciário, os Juízes e Tribunais Militares. Nessa época já se
previa o foro militar, a jurisdição dos juízes militares e seus órgãos (BRASIL, 1934).
Contudo, a Justiça Militar Estadual tivera sua origem, somente, na Constituição
Federal de 1946, em seu Art. 124, XII, quando o legislador posicionou-a como órgão da
Justiça Estadual (BRASIL, 1946). Essa orientação foi mantida sucessivamente até os dias
atuais.
15

Existem no país três Tribunais de Justiça Militares Estaduais – Minas Gerais, São
Paulo e Rio Grande do Sul – onde funcionam como órgão de segunda instância, porém são
exceções a regra geral, pois o órgão de recurso da Justiça Militar nos Estados é o Tribunal de
Justiça.
Os Tribunais de Justiça Militares Estaduais só podem ser criados por proposta do
Tribunal de Justiça, nas unidades onde não existem, nos casos em que o efetivo militar
estadual seja superior a vinte mil integrantes, conforme determina o Art. 125, § 3º da
CRFB/88.
No que tange a competência material da Justiça Militar sua previsão decorre da
Constituição, assim compete à Justiça Militar Federal e Estadual, respectivamente, processar e
julgar crimes militares definidos em lei nos termos dos Arts. 124 e 125, § 4º da CRFB/88. A
exceção pontuada pelo texto constitucional é quanto à competência do Tribunal do Júri
quando a vítima for civil.
Todavia, antes do advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, a Lei ordinária nº
9.299/96 que modificou o Art. 9º, parágrafo único do Código Penal Militar já havido feito a
ressalva à competência do Júri quanto aos crimes dolosos contra vida praticada por militares
na esfera da Justiça Militar Estadual (LOBÃO, 2006). A lei tratada no texto constitucional
refere-se ao Código Penal Militar que define os crimes militares em tempo de paz e guerra
previsto nos Arts. 9º e 10 do CPM.
Com advento da Emenda Constitucional nº 45/2004 a Justiça Militar Estadual foi
ampliada incluindo o processo e julgamento das “ações judiciais contra atos disciplinares”,
acrescida no Art. 125, § 5º da CRFB/88.
No entanto, nem todo crime praticado por militar o conduz a Vara Militar. Em
relação a isso acompanhe o elucidativo teor da redação da Súmula nº 172 do STJ: “Compete à
Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
praticado em serviço” (LIMA, 2013, p. 320).
Segundo Renato Brasileiro (2013) o crime de abuso de autoridade é crime comum.
Não há previsão desse tipo penal na legislação castrense. Conclui-se tratar de delito de
competência da Justiça Comum. Assim sendo, se o agente é militar estadual e praticou o
delito em serviço a competência é da Justiça Comum Estadual; se o militar é das Forças
Armadas, em igual condição, caberá a Justiça Federal, conforme orientação da Súmula do
extinto Tribunal Federal de Recursos, “Compete à Justiça Federal processar e julgar os delitos
16

praticados por funcionário público federal, no exercício de suas funções e com estas
relacionadas”.
Havendo conexão e continência, a regra desses institutos impõe a unidade do
processo, exceto nos termo do Art. 102, “a” e “b” do CPPM e Art. 79, inciso I do CPP,
respectivamente, ex vi:
Art. 102. A conexão e a continência determinarão a unidade do processo, salvo:
a) no concurso entre a jurisdição militar e a comum;
b) no concurso entre a jurisdição militar e a do Juízo de Menores.
Parágrafo único. A separação do processo, no concurso entre a jurisdição militar e a
civil, não quebra a conexão para o processo e julgamento, no seu fôro, do militar da
ativa, quando êste, no mesmo processo, praticar em concurso crime militar e crime
comum.
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento,
salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
[...]

Na visão de Nucci (2014) se ocorrer concurso, no mesmo contexto, entre Justiça


Militar e Comum predominará a separação dos processos ou quando existir coautoria entre
militar e civil. Para a separação dos processos deve se observar algumas regras importantes: a)
civis só podem ser julgados pela Justiça Militar Federal se o crime for contra a instituição
militar federal e tenha capitulação no CPM. Se o civil e o militar em coautoria praticam
delito, ambos serão julgados pela Justiça Federal castrense. Na hipótese de o civil cometer
crime comum e o militar, infração militar, embora conexos, haverá separação dos processos.
E ainda, quando o civil pratica o delito contra instituição militar federal e o militar crime
comum, também haverá separação dos processos, mesmo que conexos; b) todos os militares
que cometem crimes dolosos contra a vida devem ser julgados pela Justiça Comum, no
termos Art. 9º, parágrafo único, da Lei nº 9.299/96; c) se o militar comete crime comum com
um civil à competência é da Justiça Comum; d) no caso de o militar estadual, autor de crime
militar, deverá ser julgado pela Justiça Militar Estadual, ainda que fora de unidade da
federação ao qual pertencer.
Nesse sentido citamos a Súmula nº. 78 do STJ, “Compete a Justiça Militar processar
e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra
unidade federativa”. Ou ainda, confira a Súmula nº. 90 do mesmo Tribunal: “Compete à
Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, e à
Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele”.
Igual forma se processa tratando-se de ato infracional da competência do juizado da
Infância e Adolescência. A regra do Código de Processo Penal Militar dirimiu dúvida
17

envolvendo fato criminoso, em concurso de agentes ou conexão, entre militar e o menor, ou


seja, cada um responderá no foro que lhes competem (NUCCI, 2014).
Nesse sentido, Lima (2013) cita um caso concreto apreciado pelo STJ no conflito de
competência positivo nº 77.138/RS, onde armas foram furtadas de instituição militar federal, e
depois, empregada para a prática de crime de homicídio tentado com evidente conexão entre
os tipos penais, o acórdão concluiu pela separação dos processos. O primeiro a cargo da
Justiça Militar Federal e o segundo pelo Tribunal do Júri, por vedação expressa do CPPM e
CPP:
PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME MILITAR.
CRIME DE HOMICÍDIO. CONEXÃO. REUNIÃO DOS PROCESSOS.
IMPOSSIBILIDADE. 1. Mesmo havendo a conexão entre o crime de homicídio e de
furto de armas do patrimônio sob administração militar, não é possível a reunião do
processo, diante de vedação expressa. 2. Conflito conhecido para declarar
competente para o julgamento do crime de furto das armas o juízo da 1ª Auditoria da
3ª CJM do Rio Grande do Sul.

Outra situação interessante esclarecida por Renato Brasileiro 1 (2013) é quando o


crime militar é absorvido pelo crime comum. Nesse caso, o agente faz uso indevido de
uniforme de oficial das forças armadas, crime militar previsto no Art. 172 do CPM, para
praticar crime de estelionato, com isso opera-se o princípio da consunção. O crime meio é
absorvido pelo crime fim, logo a competência será da Justiça Comum.

1.3 COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÕES JUDICIAIS CONTRA ATOS


DISCIPLINARES
No âmbito do regime disciplinar militar determinadas condutas dos militares –
federal ou estadual – podem configurar a chamada transgressão disciplinar. Deste modo,
certas ações ou omissões irregulares, intra ou extra caserna, podem colocar em risco a
credibilidade da administração. Para tanto, esta possui meios legais para coibir faltas
disciplinares, aplicando-se ao transgressor uma justa sanção disciplinar gradativa, conforme o
caso concreto, segundo José Amando da Costa (2008).
A respeito da aplicação da sanção disciplinar pelo administrador quanto ao seu limite
discricionário Carvalho Filho (2014) explica não existir tal discricionariedade como afirma a
tradicional doutrina. Para o autor a convicção do julgador deve ser formada em razão dos
elementos de provas firmados no processo disciplinar, por conseqüência a conduta do
julgador ficará vinculada a estes elementos. Conquanto, ínfimo será o grau de subjetivismo na

1
STJ CC 92.547/RS – 3º Seção. Relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Dje 15.10.2008.
18

aplicação da reprimenda. Não se comportando assim, permitirá a apreciação do ato pela via
judicial a ser julgada pelo juízo militar.
Nesse contexto, comenta Hely Lopez Meireles (2012, p. 127), que a
discricionariedade “é sempre relativa e parcial, porque quanto à competência, à forma, e à
finalidade do ato, a autoridade está subordinada ao que a lei dispõe, como para qualquer ato
vinculado”.
Posto que, se o ato administrativo for ilegal o agente poderá se socorrer ao Art. 5º,
XXXV, havendo lesão ou ameaça a direito ou ainda “ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal”, Art. 5º, LIV ambos da CRFB/88.
Ademais, na Constituição Federal está o fundamento para a aplicação da punição
disciplinar em seu Art. 5º, inciso LXI, em que “ninguém será preso senão em flagrante delito
ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”.
O conceito legal de transgressão disciplinar estabelecido no Decreto nº 4.346/2002
aprovado pelo Regulamento Disciplinar do Exército (R–4) localiza-se no Art. 14, com
conteúdo semelhante aos regulamentos da Marinha e Aeronáutica. No âmbito do Estado de
Roraima foi instituída Lei nº 963/2014, também conhecida como Código de Ética e Disciplina
dos Militares do Estado de Roraima (CEDM/RR), neste diploma o conceito está inserido no
Art. 33, respectivamente:
Art. 14 Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária aos
preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à etica, aos deveres e às
obrigações militares, mesmo na sua manifestação elementar e simples, ou, ainda,
que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe.(BRASIL, 2002).
Art. 33. Transgressão Disciplinar é qualquer violação aos princípios da ética, dos
deveres e das obrigações militares, na sua manifestação elementar, e qualquer
omissão ou ação contrária aos preceitos estatuídos em leis, regulamentos e normas.
(RORAIMA, 2014).

A simples leitura da redação contida no Art. 124 da CRFB/88 assenta: “à Justiça


Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei”. Isto é, o legislador
constituinte não deu margem para a Justiça Militar Federal processar e julgar as ações
judiciais contra atos disciplinares. Redação semelhante tinha a Justiça Militar Estadual, no
Art. 125, § 4º. Portanto, até o advento da EC nº 45/2004 o juízo militar Federal e Estadual só
decidiam sobre crimes militares.
A partir de então, a referida Emenda Constitucional, por sua vez, ampliou apenas a
competência da Justiça Estadual castrense ao determinar, além dos crimes militares, à
19

inclusão das ações judiciais contra atos disciplinares militares na nova redação do Art. 125, §
5º da CRFB/88.
A respeito dessas demandas, Denilson Feitoza citado por Renato Brasileiro (2013, p.
321) cita exemplos de ações interpostas no juízo militar estadual, como a “ação ordinária de
reintegração no cargo, mandado de segurança contra atos disciplinares, ação de reintegração
no cargo cumulada com indenização, ação declaratória de nulidade e inconstitucionalidade de
ato jurídico cumulada com reintegração”. Adiante, explica Denilson Feitoza que nos Estados
sem cobertura da Justiça Militar Estadual, o juiz de direito decidirá às ações contra atos
disciplinares.
Diante do exposto, ampliação do juízo militar se deu apenas no Estado. No entanto, o
ajuizamento, por militares das Forças Armadas (FFAA), de ações judiciais contra atos
disciplinares, ficou restrito ao Juízo Federal Civil, posto que o texto constitucional (EC nº
45/2004) não contemplou tal possibilidade ao Juízo castrense. Assim, caso um militar federal
e outro estadual queiram ingressar com uma ação judicial – Habeas Corpus – contra uma
prisão disciplinar, aplicada por suas Corporações de origem, o primeiro deverá ajuizá-la na
Justiça Federal e o segundo na Justiça Militar Estadual (LIMA, 2013).
Na jurisprudência, em se tratando de Ação Civil Pública em desfavor de policiais
militares por ato de improbidade administrativa caberá à Justiça Comum. Esse foi o
entendimento do STJ no Conflito negativo de Competência nº 100.682/MG, o acórdão
decidiu que o ato ímprobo do militar estadual, nesse caso, não se dirigiu a ofender
Administração Militar2. Assim, concluiu “Pelo contrário, volta-se a demanda contra o próprio
militar e discute ato de ‘indisciplina’ e não ato disciplinar”. Essa decisão, por sua vez
demonstrou que há um limite do juízo militar em causas civis, e estas não ultrapassam a
fronteira das ações judiciais contra atos disciplinares.

1.4 COMPETÊNCIA QUANTO AO ACUSADO


É da Justiça Militar Estadual conforme o disposto na primeira parte do Art. 125, §4º
da CRFB/88 a competência exclusiva para processar e julgar militares estaduais – policial
militar e bombeiro militar – seja a praça ou o oficial3, exceto nas infrações relativas ao Júri.

2
STJ. CC 100.682/MG, Rel. Min. Castro Meira, Dje. 18/06/2009.
3
Oficial: Qualquer militar das forças armadas ou da polícia que exerce certo grau de comando e de nível
hierárquico acima de aspirante (no Exército, na Aeronáutica e na Polícia Militar) ou de guarda-marinha (na
Marinha de Guerra); Praça: Indivíduo que, na hierarquia militar (q. v.), se situa abaixo de segundo-tenente.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: O dicionário da língua portuguesa, 8 ed. Curitiba:
Positivo, 2010, p. 543 e p.603.
20

Portanto, o sujeito ativo do crime militar é o militar estadual. A Constituição Federal


especificou os agentes das instituições militares, seja no âmbito do Estado, Distrito Federal e
Territórios na redação do Art. 42: “Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”. Todavia, os membros das Forças Armadas são
denominados, constitucionalmente, pela expressão “militar” com forte no Art. 142, §3º,
CRFB/88.
A definição dos agentes dos delitos de crimes militares – civil e militar – ficou a
cargo da legislação ordinária (CPM). O militar é reconhecido como o primeiro destinatário
para a aplicação da lei penal. O conceito de militar é originário da lei expresso no Art. 22 do
CPM “É considerada militar, para efeito da aplicação dêste Código, qualquer pessoa que, em
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às fôrças armadas, para nelas servir em pôsto,
graduação, ou sujeição à disciplina militar” (LOBÃO, 2006).
Note-se, o texto do artigo não faz alusão aos integrantes da Força Pública Estadual,
embora seus integrantes sejam destinatários da lei penal militar, assim como os militares da
União.
Foi com o surgimento da EC nº 18/1998 que o conceito de militar foi erigido à
categoria constitucional, logo podemos considerar o servidor público militar como sendo
gênero que apresenta duas espécies, a saber, uma no âmbito federal: os integrantes das Forças
Armadas (Marinha, Exercito e Aeronáutica); e outra no âmbito dos Estados, Distrito Federal e
Territórios cujos sujeitos ativos são policiais e bombeiros militares. Por fim, a doutrina
considera o Art. 22 do CPM letra morta, ou seja, norma revogada por força dos Arts. 42 e
142, § 3º da CRFB/88 (ASSIS, 2014).
Explica Alexandre Saraiva (2014) ser a figura do “assemelhado” contida na lei penal
militar o servidor civil, estável ou não. Eram, por fim, parecidos com os militares em razão
das atividades laborais executadas nas dependências militares federais. E, portanto, pessoas
sujeitas à lei e regulamentos militares. Essa figura do assemelhado surgiu na Constituição de
1934, porém tal designação não mais existe. Tal previsão era capitulada no Art. 84 da
Constituição de 1934:
Os militares e as pessoas que lhes são assemelhadas terão foro especial nos delitos
militares. Este foro poderá ser estendido aos civis, nos casos expressos em lei, para a
repressão de crimes contra a segurança externa do país, ou contra as instituições
militares (BRASIL, 1934).
21

Dessa forma, na atualidade, as forças militares federais que possuírem servidores


civis estatutários não ficam sujeitos às regras militares, mas sim ao seu regime jurídico
próprio, sem qualquer preponderância da legislação militar sobre eles (SARAIVA, 2014).
No âmbito da justiça castrense estadual o civil não pode ser julgado por este juízo,
por falta de previsão. Caso venha a cometer infração penal em desfavor da instituição militar
estadual, caberá a Justiça Comum a reprimenda, desde que o delito, praticado por ele, tenha
capitulação na lei comum. Não havendo, o caso será atípico, ou seja, ficará impune. Em
contrapartida, se o civil comete delito e atinge instituição militar federal, o sujeito se
submeterá a Justiça Federal Militar (LIMA, 2013).
Nesse sentido destacamos a Súmula nº 53 do STJ “Compete à Justiça Comum
Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares
estaduais”.
Como assinalado, anteriormente, é do Art. 124 da CRFB/88 que se extrai a
competência da Justiça da União para se processar crimes militares, não havendo na norma
constitucional restrição a respeito da figura do acusado, podendo ser civil ou militar. Logo,
diferentemente do que ocorre na Justiça Militar Estadual, poderá processar e julgar o civil. A
justificativa apresentada por ROMIERO (1994, p. 82) converge na seguinte afirmativa:
enquanto a Justiça Militar Federal tem por finalidade precípua a tutela dos bens e
interesses jurídicos das Forças Armadas, as Justiças Militares Estaduais são
exclusivamente repressivas, deixando penalmente desprotegidos os bens das
instituições militares estaduais, salvo quando lesadas por servidores públicos
estaduais.

Assim, como exemplo, se um civil e um militar federal praticam crime militar, em


concurso de agentes, ao subtraírem arma de fogo cuja carga pertence ao Exército, com
emprego de violência e grave ameaça, serão em conjunto, processados e julgados pela justiça
militar da União pelo crime militar de roubo4 (LIMA, 2013).
Portanto, entende-se que fixação da competência da Justiça Militar da União é
estabelecida em razão da matéria (ratione materiae), ou seja, o crime praticado é militar. Não
há preocupação de diferenciar se o agente é militar ou não, porquanto, já na Justiça Militar
Estadual a competência ocorre em ratione materiae e ratione personae. Isto é, a fixação da
competência deve preencher os dois requisitos para constituir o delito previsto no CPM
(LIMA, 2013).

4
STF. RHC nº 66.993/RJ. 2ª Turma. Rel. Min. Francisco Rezek. DJ. 03.03.1989.
22

1.5 QUANTO AO ÓRGÃO JURISDICIONAL COMPETENTE


Como se sabe a Justiça Militar é um órgão constitucional, e desse modo os crimes
militares de competência da Justiça Militar da União são julgados por um Conselho de
Justiça. Enquanto nos Estados, Distrito Federal e Territórios a competência é exercida tanto
pelo Conselho de Justiça, quanto singularmente, pelo juiz de direito do juízo militar consoante
previsão no Art. 125, § 5º da CRFB/88.
De forma geral, tanto a Justiça Militar Federal como na Justiça Militar Estadual os
Conselhos de Justiça são formados para processar e julgar militares, logo, que se tenha
conhecimento da denúncia de crime militar definido em lei. Por conseguinte, a sua
configuração irá depender da força militar atingida, de acordo com o posto (oficial) ou
graduação (praças) do militar ou, ainda, de civil (GIULIANI, 2007).
Conforme delimitado por lei e pela Constituição Federal cada Conselho de Justiça
tem natureza distintas, vale dizer nem tudo que a Justiça Militar Federal tem competência para
decidir se aplica à Justiça Militar Estadual.
A organização da Justiça Militar Federal está disciplinada na Lei nº 8.457/92 também
conhecida por Lei de Organização da Justiça Militar (LOJM), ao passo que a organização da
Justiça Militar Estadual, em Roraima, tem previsão no Regimento Interno do Tribunal de
Justiça de Roraima (RITJRR), contida na Resolução nº 30 de 14 de outubro de 2016. A
composição dos Conselhos de Justiça são de duas espécies: o Especial e o Permanente.

1.5.1 Conselho permanente de justiça federal


Célio Lobão (2009) ao discorrer sobre o Art. 16, alínea “a” e Art. 27, II da LOJM
explica que Conselho de Justiça Permanente é constituído por um juiz Auditor e quatro juízes
militares. Sua competência é julgar praças e civis nos crimes militares. Dentre os juízes
militares a presidência do Conselho é atribuída a um oficial superior, enquanto as demais
vagas são preenchidas até o posto de capitão-tenente ou capitão. Essa denominação de
Permanente decorre da atividade jurisdicional anual, e não sofre solução de continuidade.
Todavia, os seus membros militares são substituídos, por outros oficiais, ao final de cada
trimestre. Os processos colocados em pauta pelo juiz são conhecidos por esse órgão,
independente da fase que estejam, ainda que contemple apenas a fase final de julgamento.
Infere-se, assim, que a função de juiz militar é temporária, pois ao término de cada
trimestre, num total de quatro, os membros desse conselho são substituídos. Em regra, não
23

deve haver prorrogação, salvo justificativa prevista em lei, por exemplo, se ocorrer
insuficiência de oficiais por dicção do Art. 24 da LOJM.

1.5.2 Conselho especial de justiça federal


Quanto ao Conselho Especial de Justiça é formado para processar e julgar oficiais
nos termos do Art. 27 da LOJM. A sua composição vem delineada no Art. 16, alínea “b”
desse diploma. Fazem parte dele o juiz auditor e quatro oficiais, cuja presidência recai no
posto de oficial general ou oficial superior de posto mais elevado que os dos demais membros
militares, ou ainda mais antigo se de igualdade for o posto. Importante destacar o Art. 23,
porque nesta regra o posto dos juízes militares “serão de posto superior ao do acusado, ou do
mesmo posto e de maior antigüidade”.
Outra regra contida no parágrafo § 1º do Art. 23 da LOJM afeto ao Conselho
Especial é quanto sua constituição para cada processo e ao fim dos trabalhos opera sua
dissolução, mas poderá se reunir novamente, o mesmo Conselho, em caso de nulidade:
processual, de julgamento, ou por diligência determinada pela instância superior. Dessa regra,
então, se conclui possuir termo inicial e final para encerrar os seus trabalhos.
E ainda nos parágrafos subsequentes, §§ 2º e 3º, havendo pluralidade de oficiais
acusados aquele de maior posto fixará a base do Conselho. Por consequência no caso de
concurso entre oficial, praça e civil todos respondem por Conselho único. Por fim, havendo
impedimentos de juízes, será processado novo sorteio.
No caso de crime militar praticado por oficiais generais, não é possível ao Conselho
Especial decidir sobre o delito militar, pois tal hipótese não é prevista nesse órgão de primeira
instância, tal vedação encontra limites na regra do Art. 6º, “a” da LOJM, competindo ao
Superior Tribunal Militar, originariamente, processar e julgá-lo. Havendo praças e civis na
condição de coautores os processos não serão desmembrados, isto é, todos se submetem a
jurisdição do Superior Tribunal Militar.
A composição para julgar os casos apresentados na Justiça Militar Federal são
decididos pelo juízo natural, isto é, pelo Conselho de Justiça, com formação híbrida (civil e
militar), no crime praticado por civil ou militar. Além disso, Célio Lobão esclarece:
O conselho Especial de Justiça é o juiz natural, o juiz legal dos oficiais, inclusive de
coronéis. O Conselho Permanente de Justiça é o juiz natural, juiz legal de militar que
não for oficial. Em São Paulo, o Comandante-Geral da PM é processado e julgado,
originariamente, pelo Tribunal de Justiça, nos crimes comuns e de responsabilidade
(art. 74, II, da Constituição do Estado). Como conseqüência, responde, nesse foro
privilegiado, pelos crimes militares da competência da Justiça Militar estadual.
(2009, p.142)
24

O juízo natural é garantia fundamental, implícita, decorre da conjugação de dois


dispositivos constitucionais, o primeiro é quanto à vedação de “juízo ou tribunal de exceção”.
O segundo delimita que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente” (BRASIL, 1988).

1.5.3 Conselho de justiça especial e permanente estaduais


As mudanças ocorrida na Justiça Militar Estadual foram positivas e decorreram da
EC nº 45/04. Essa inovação elevou a figura do Juiz de Direito do Juízo Militar, titular Vara
Militar Estadual, a categoria de órgão constitucional de primeira instância, colocando-o ao
lado dos Conselhos de Justiça – Especial e Permanente – bem como exercer a função de
presidência deles (LOBÃO, 2009).
A composição do Conselho de Justiça Estadual, de primeira instância tem idêntica
formatação com o da Justiça Militar Federal, porém a competência é distinta. É constituído
pelo juiz titular da Vara e quatros juízes membros entre oficiais do Corpo de Bombeiro
Militar e da Polícia Militar. Então, ao formar o Conselho Especial este será presidido por um
juiz togado que terá competência para processar e julgar os oficiais da ativa (2º Tenente, 1º
Tenente, Capitão, Major, Tenente-Coronel e o Coronel). Lembrando, ainda, do requisito
objetivo do oficialato de possuir posto superior ou igual, ou com maior antiguidade que o do
acusado (Art. 59, II, “a” do RITJRR).
No caso do militar exercer cargo de Comandante Geral, o Conselho de Justiça não
terá competência para julgá-lo, é uma exceção à regra. Caberá, então, ao Tribunal de Justiça
de Roraima o seu julgamento porque o cargo tem equivalência e prerrogativa de Secretário de
Estado, definida na Constituição Estadual, no seu Art. 180.
Dentro desse contexto, podemos asseverar que o Conselho Especial está para os
oficiais da ativa, assim como o Conselho Permanente está para as praças da ativa (Soldado,
Cabo, Sargento, Subtenente e o Aspirante a oficial). Portanto, é da competência do Juiz de
Direito o processo e julgamento desses militares. Possui formação e competência idêntica
àquele (Art. 59, II, “b” do RITJRR).
Se as Corporações militares estaduais não possuírem oficiais da ativa com posto
superior ou de maior antiguidade ao do oficial acusado, a alternativa é convocar oficiais da
reserva para exercer a função de juiz militar, por esse período. (Art. 59, §1º do RITJRR).
Na Justiça Militar de primeiro grau, em cada processo envolvendo oficial na
condição de acusado, o Conselho Especial de Justiça é dissolvido após o julgamento, porém o
25

Conselho se reunirá, outra vez, se suceder nulidade do processo, do julgamento, ou até mesmo
por diligência determinada pela instância superior (Art. 59, §2º, “b” do RITJRR).
Já o Conselho Permanente de Justiça, possui regra distinta, inclusive quanto àquelas
adotada na Justiça Militar Federal, que se processam de forma trimestral as substituições dos
membros desse conselho. O recente RITJRR5modificou de três para seis meses a permanência
do Juiz Militar na Corte, ou seja, o prazo foi ampliado no Conselho Permanente de Justiça.
(Art. 59, §2º, “a” do RITJRR).

1.6 QUANTO AO ÓRGÃO JURISDICIONAL AD QUEM


É o Juízo ou Tribunal de instância superior, para o qual, são enviados os recursos
julgados em primeira instância para que sejam reapreciados. No mesmo sentido, segue lição
de De Plácido e Silva (2010, p.31) é o “Juiz ou tribunal de instância superior, para onde se
encaminha o processo objeto de recurso”.

1.6.1 Órgão jurisdicional federal


Com supedâneo no Art. 122 da Constituição Federal, os órgãos da Justiça Militar da
União são dois, o Superior Tribunal Militar (STM) e os Tribunais e juízos militares instituídos
por lei. Conquanto, Lima (2013) esclarece não existir Tribunal Regional Militar, apesar de
constar como órgão castrense no artigo supra. Portanto, o órgão que exerce função
jurisdicional de segunda Instância da Justiça Militar Federal é tão somente o STM.
De acordo com a Lei nº 8.457/92 (LOJM) a topografia da Justiça Militar da União é
verificada, de plano, no seu Art. 1º cujos órgãos compreendem: o Superior Tribunal Militar, a
Auditoria de Correição, os Conselhos de Justiça, os Juízes-Auditores e os Juízes-Auditores
Substitutos. O primeiro constitui o órgão ad quem nas demandas que não afetam sua
competência originária, os demais formam o juízo a quo.
A par das atribuições originárias vejamos algumas compreendidas no rol do Art. 6º,
I, “a”, “c”, “e”, “h” da Lei nº 8.457/92 em que o Superior Tribunal Militar poderá processar e
julgar causas específicas, tais como: I) os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes
militares definidos em lei; II) os pedidos de habeas corpus e habeas data, nos casos permitidos
em lei; III) a revisão dos processos findos na Justiça Militar; IV) a representação para
decretação de indignidade de oficial ou sua incompatibilidade para com o oficialato.

5
Diário da justiça eletrônico. Ano XIX. Edição Nº 5841, 14.10.2016. Novo Regimento Interno – TJRR.
26

Outra possibilidade, originária do STM, porém só se processa em tempo de guerra é


a regra estabelecida no Art. 95, parágrafo único desse supra diploma: “O comandante do
teatro de operações responderá a processo perante o Superior Tribunal Militar, condicionada a
instauração da ação penal à requisição do Presidente da República”.
O Superior Tribunal Militar, órgão superior que compõe o Poder Judiciário, cuja
composição, por força do Art. 123 da CRFB/88, é de 15 (quinze) Ministros Militares, sendo
03 (três) da Marinha, 04 (quatro) do Exército, 03 (três) da Aeronáutica, sendo os oficiais
superiores todos da ativa e do posto mais elevado da carreira de cada Organização Militar
(OM), e dentre eles 05 (cinco) civis.
Os requisitos exigidos dos civis para o ingresso como ministro é ter notório saber
jurídico, mais de dez anos de atividade profissional para advogados; se juiz auditor e
membros do Ministério Público da Justiça Militar. Os candidatos devem ter mais de 35 anos.
A condição de Tribunal Superior do STM impede que um acórdão proferido por esta
Corte Superior seja impugnado pelo STJ caso seja ajuizado Recurso Especial, por não constar
dentre aqueles que podem interpor recursos de causas decididas, em única e última instância
no rol dos legitimados contido no Art. 105, inciso II da CRFB/88. Mas não há impedimento
para impugnar a decisão por meio de Recurso Extraordinário via STF, preenchido os
pressupostos do Art. 102, III da CRFB/88 (LIMA, 2013).

1.6.2 Órgão jurisdicional estadual


Sintetizando, a Justiça Militar de primeiro grau é um órgão constitucional constituída
pelo Juiz de direito do juízo militar e pelos Conselhos de Justiça. Ao juiz de direito convém
decidir, de forma unilateral, sobre crimes militares contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares. Contudo, ao Conselho de Justiça caberá julgar os demais crimes militares
(LIMA, 2014).
Em relação aos órgãos de segunda instância da Justiça Militar Estadual essa função
judicante é, na sua maioria, exercida pelos Tribunais de Justiças ou pelos Tribunais de Justiça
Militares Estaduais, naqueles Estados em que o efetivo militar estadual supere 20.000 mil
integrantes e foram criados com base no Art. 125, §3º da CRFB/88.
No Brasil, as Cortes Militares Estaduais com atribuição de juízo ad quem estão
presentes apenas em três unidades da federação, nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e
Rio Grande do Sul.
27

2 O DIREITO PENAL MILITAR E O CRIME MILITAR

2. 1 DIREITO PENAL MILITAR


O Direito Penal Militar é um ramo do Direito Público, assim como é o Direito Penal
Comum. Este tem aplicação geral e àquele é especial ou limitado. Contudo, segundo Loureiro
Neto (2001) o objeto de estudo deles convergem para a proteção de bens ou interesses
jurídicos tutelados pela norma penal.
O direito penal dito comum, segundo Damásio de Jesus (2011, p. 49) “É, ainda,
ciência finalista, porque atua em defesa da sociedade na proteção de bens jurídicos
fundamentais, como a vida humana, a integridade corporal dos cidadãos, a honra, o
patrimônio etc”.
Essa distinção entre direito penal comum e especial é feita de acordo com o órgão
encarregado de aplicar o direito, foi o que concluiu José Frederico Marques citado por
Damásio de Jesus (2011, p. 50):
Direito comum e direito especial, dentro de nosso sistema político, são categorias
que se diversificam em razão do órgão que deve aplicá-los jurisdicionalmente. Este é
o melhor critério para uma distinção precisa, pelo menos no que tange ao direito
penal: se a norma objetiva somente se aplica por meio de órgãos especiais
constitucionalmente previstos, tal norma agendi tem caráter especial; se a sua
aplicação não demanda jurisdições próprias, mas se realiza pela justiça comum, sua
qualificação será a de norma penal comum.

Dito, isto o autor afirma mais adiante que no Brasil, o Direito Penal militar é Direito
Penal especial aplicado por meio da justiça penal militar.
Pois bem, no direito penal militar o objeto jurídico tutelado não é diferente do direito
penal comum, o objeto jurídico protegido pelo Estado são os interesses exclusivos das
instituições militares. Como exemplo, de tal proteção é que no ordenamento jurídico militar
não existe ação penal privada. Desse modo, concluímos que ações penais militares são
promovidas pelo Ministério Público. Assim, enquanto o civil pode propor uma queixa crime
de injúria contra outro civil (Art. 140, CP), não seria possível ao militar promovê-la, pois é
desencadeada através de ação penal pública, pois existe previsão desse tipo no CPM, Loureiro
Neto (2001).
Na visão de Neves e Streifinger (2012, p. 91) chegaram à seguinte definição da idéia
de Direito Penal Militar:
consiste no conjunto de normas jurídicas que têm por objeto a determinação de
infrações penais, com suas consequentes medidas coercitivas em face da violação,e,
ainda, pela garantia dos bens juridicamente tutelados, mormente a regularidade de
ação das forças militares, proteger a ordem jurídica militar, fomentando o salutar
28

desenvolver das missões precípuas atribuídas às Forças Armadas e às Forças


Auxiliares.

A respeito do conceito de direito penal disse Jorge Alberto Romiero (1994, p. 1):
parte do direito penal consistente no conjunto de normas que definem os crimes
contra a ordem jurídica militar, cominando-lhes penas, impondo medidas de
segurança e estabelecendo as causas condicionantes, excludentes e modificativas da
punibilidade, normas essas jurídicas positivas, cujo estudo ordenado e sistemático
constitui a ciência do direito penal militar.

Lobão (2009) comenta o posicionamento de Ruy Barbosa onde no direito penal


militar se opera de antemão a classificação do delito como militar, para só depois passar para
a segunda etapa, consistente na aplicação da norma pelo órgão especial constitucional. Operar
de maneira inversa não seria possível, porque primeiro se estabelece o tipo penal e, deste
ponto em diante, sistematicamente, chega-se ao órgão competente que pode ser: o especial ou
comum.
Para Heleno Fragoso (apud, LOBÃO, 2006, p. 45) “direito penal comum é o que se
aplica a todos os súditos, indistintamente. Especial é o que se aplica apenas a uma classe ou
categoria em que acham. [...] é direito Penal especial o Direito Penal Militar”.
Enfim, o caráter especial da lei penal militar se dirige prima facie ao militar, e
extraordinariamente ao civil, nos casos em que infringir bens e interesses das instituições
militares. Vale dizer, não é qualquer bem ou interesse, é tão somente os que estão protegidos
pela lei e pela Constituição (LOBÃO, 2006). Deve o agente, agir com dolo, ofender o bem
jurídico tutelado, não pode haver dúvida quanto a isso.
Além da tutela especial de bens que visam à regularidade da instituição militar,
existem outros não menos importantes, como por exemplo, os que protegem a vida, a
integridade física, a honra, a hierarquia, a disciplina (NEVES; STREIFINGER, 2012).

2. 2 CRIME MILITAR

Os romanos e germânicos muito contribuíram para a gênese do conceito de crime


militar, movidos por um espírito belicoso utilizavam exércitos na conquista de novos
territórios. Por sua vez, diferenciavam o cidadão comum daquele que servia nos exércitos
denominados militares (SOUZA, 2013).
Enquanto, em Roma, o status de uma pessoa considerada cidadão preponderava
sobre àquelas que serviam no regimento militar, inversamente, na Germânia o militar
sobressaia ao cidadão (LOUREIRO NETO, 2001).
29

No direito penal militar a delimitação de crime militar sempre foi uma questão
controversa, e continua até hoje em alguns casos. Associado a isto, devemos considerar que
esse conceito perpassou pela evolução dos exércitos. Na atualidade, o direito militar
transcendeu os muros da caserna, agora com múltiplas atribuições possuem norma agendi
peculiar, com regulamentos, estatutos, leis e formação diferenciada do civil. De tudo o mais, o
legislador não poderá se furtar desses aspectos que contribuem para o debate do que seria o
crime propriamente ou essencialmente militar (SOUZA, 2013).
O critério para classificar o crime como militar, originariamente, não seguiu forma
única. A fórmula não veio pronta, acabada, o que predominou desde sempre, foi à análise
sobre as espécies do gênero – ratione materiae e ratione personae – a primeira mais associada
ao direito romano primitivo e a segunda espécie ao direito germânico nos seus primórdios, na
visão de Loureiro Neto (2001).
A respeito do critério de classificação do crime militar, ensina Jorge Cesar de Assis
(2014) o legislador preferiu o critério ratione legis para conceituá-lo. Portanto, para o
legislador, crime militar é aquilo que a lei definiu com tal. Isto não implica dizer que os
critérios ratione materiae, ratione personae, ratione in loci, ratione muneris, ratione temporis
não serão analisados no caso concreto. Longe disso, porque ao estudar os crimes militares em
tempo de paz e guerra (Art. 9º e 10 do CPM) esses critérios ontológicos, ainda que implícitos,
são reconhecidos pela doutrina e auxiliam na fase de classificação do tipo penal.
Nesse sentido, o Código Penal Militar adotou o critério racione legis ao enumerar
taxativamente as hipóteses de crime militar (próprios e impróprios) contidas no Art. 9º, I, II e
III, não desprezou a existência de outros critérios:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei
penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição
especial;
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição
na lei penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar
contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299,
de 8.8.1996)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva,
ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
30

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa
militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no
exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e
preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente
requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando
praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no
7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação
dada pela Lei nº 12.432, de 2011)

A regra geral do sistema constitucional brasileiro (Art. 5º, LXI, CRFB/88) é a


liberdade, a exceção é a prisão, que pode ser administrativa, no caso de transgressão militar; a
prisão civil, exclusivamente, por inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação de
alimentar; prisão criminal no caso de flagrante delito, pela ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, e por fim na hipótese de crime propriamente militar
(BRASIL, 1988).
Nesse contexto, nem a atual Constituição, e tampouco o CPM não trouxeram uma
definição de crime militar, mas indiretamente menciona as expressões “lei” e “crime
propriamente militar”. Com isso, passou a doutrina a classificá-lo em duas espécies: crime
propriamente militar e crime impropriamente militar.

2. 2.1 Crime propriamente militar

A distinção feita pela doutrina entre crime militar próprio ou essencial e crime militar
impróprio ou acidental não é relevante para o ordenamento jurídico e muito menos para
modificar a competência para o seu julgamento. E, portanto caberá a Justiça Militar da União
e Estadual processar e julgar quem os tenha praticados. A exceção é quanto aos crimes
dolosos contra vida de civis praticados por militares estaduais, cuja competência será da
Justiça Estadual Comum nos termos da Constituição, leciona Neves e Streifinger (2012).
Para subdividir o crime militar em próprio (essencial) e impróprio (acidental) se
valeu de determinados critérios para sua configuração, como os que por tradição histórica
(romano-germânico) predominavam os em ratione materiae, ratione personae. Com o
desenvolvimento da ciência militar, novos critérios foram agregados, tais como – ratione in
31

loci, ratione muneris – concepção de Esmeraldino Bandeira citado por Neves e Streifinger
(2012).
Portanto, adotado o critério em “ratione materiae, será delito militar aquele cujo
cerne principal da infração seja matéria própria de caserna, intestinamente ligada à vida
militar” (NEVES; STREIFINGER, 2012, p.114). Conquanto, doutrinadores como
Esmeraldino Bandeira não comunga dessa vertente, pois para ele o critério em razão da
matéria requer o militar no pólo passivo e ativo.
Segundo Jorge Alberto Romiero (1994, p.68), com propriedade e consistência
estabelece que crime propriamente militar:
é aquele que só pode ser praticado por militar, pois consiste na violação de deveres
que lhe são próprios, sendo identificado por dois elementos: a qualidade do agente
(militar) e a natureza da conduta (prática funcional). Diz respeito à vida militar,
considerada no conjunto da qualidade funcional do agente, da materialidade especial
da infração e na natureza peculiar do objeto danificado, que deve ser a disciplina, a
administração, ou a economia militar.

A título de exemplo podemos citar como crime essencialmente militar, previstos no


CPM, os delitos de violência contra superior (Art. 157), despojamento de uniforme (Art. 162),
abuso de requisição militar (Art. 173), abandono de posto (Art. 195), Lobão (2006, p. 84-85);
deserção (Art. 187), cobardia (Art. 363), dormir em serviço (Art. 203), Romiero (1994, p. 68).
Para a maior parte da doutrina crime militar próprio tem por base a violação de
norma castrense durante o exercício da função militar. Neste caso, não há dúvida que o sujeito
ativo é o militar. Em sentido diverso, Renato Brasileiro (2013) aponta um caso isolado 6 ,
decidido pelo STF em que um civil em concurso com militar foi julgado pela justiça
castrense, num só processo, pelo crime de “violência contra inferior” (Art. 175, caput, do
CPM). Nesse crime a elementar normativa “militar’ era uma circunstância preponderante para
a caracterização do delito. Não obstante, tal elementar comunicou o segundo coautor que era
um civil. O STF, não hesitou em aplicar a teoria monista7, com base no Art. 53, §1º, parte
final do CPM: “Não se comunicam, outrossim, as condições ou circunstâncias de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime”.
Como já afirmamos a norma castrense foi sendo ampliada na mediada do
desenvolvimento da sociedade. Em vista disso, a tutela de seus bens e serviços não poderia
ficar sem proteção jurídica. Hoje, é rotineiro a ousadia de criminosos (civis ou militares)
6
STF. HC nº 81. 438/RJ – 2ª turma. Rel. Min. Nelson Jobim. DJ. 10.05.2002.
7
É predominante entre os penalistas da Escola Clássica. Tem como fundamento a unidade de crime. Todos os
que contribuem para a integração do delito cometem o mesmo crime. Há unidade de crime e pluralidade de
agentes. É também chamada monista. Jesus, Damásio de. Direito Penal. Vol. 1, parte geral. 32 ed.São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 454.
32

quando decididos em obter armas invadem e atentam contra a vida de militares em serviço,
destroem caixas eletrônicos, furtam material bélico (SOUZA, 2013).
Essas condutas criminosas atentam diretamente contra a instituição Militar, como
bem explicou o Procurador Geral de Justiça Militar Marcelo Weitzel Rabello de Souza (2013,
p. 22) ao defender ponto vista em relação ao crime propriamente militar e sua dupla aplicação
em civis e militares, assim descreveu:
Nesse ponto, foi sábio o Constituinte ao reclamar a definição em lei para os
chamados crimes propriamente militares no que tange à prisão, que pode muito bem,
como medida restritiva da liberdade, sem autorização judicial, ficar adstrita a
militares; também foi sábio em não exigir que à Justiça Militar sejam submetidos
somente os crime propriamente militares, já que tais delitos não têm um arcabouço
jurídico/científico que a apoie, pois o deslocamento do crime propriamente militar,
como aquele ofensivo à Instituição Militar, é bem mais amplo do que aquele
debatido no início do século passado, que envolvia apenas algumas atividades por
parte de militares (diga-se, em sua grande maioria, adstritos ao serviço militar
obrigatório).

Marreiros, Rocha e Freitas (2015, p. 92) fazem uma análise crítica do significado do
conceito de crime propriamente militar, sob a perspectiva da teoria do cubo impossível.
Considerando-o por demais, confuso e impreciso, para expor essa complexidade propõe a
seguinte semelhança entre direito e a geometria:
Se pudéssemos fazer uma comparação entre formas geométricas e o direito penal,
poderíamos dizer que o direito penal comum, em uma complexidade crescente,
estaria para o quadrado, enquanto o direito militar em geral para o cubo. Já o
conceito de crime propriamente militar, no direito brasileiro atual, seria como o cubo
impossível da famosa obra Belvedere, de Escher. Ao olharmos o cubo na gravura
feito com a engenhosidade da perspectiva ilusionista de Escher, achamos que ele é
perfeitamente possível. Mas se tentar executá-lo ou lhe dar uma forma, percebemos
o quanto o impossível engana os olhos para se fazer possível. O mesmo ocorre com
a definição de crime propriamente militar no direito brasileiro. É por isso que damos
a esta análise o nome de teoria do cubo impossível.

Outra classificação mais restrita acolhida pela doutrina é a diferença entre crime
propriamente militar e crime próprio militar. Relembrando a lição de Rogério Greco (2011, p.
427) quanto ao crime próprio, entende e exemplifica o renomado autor, “é aquele que só pode
ser praticado por um grupo determinado de pessoas que gozem de condição especial exigida
pelo tipo penal”. Assim, inicialmente, somente poderá ser responsabilizado por peculato o
funcionário público. Por consectário, e igual razão no infanticídio a mãe.
O crime próprio militar é um tipo específico e, nem todo militar o comete. O agente
para se amoldar ao tipo abstrato deve figurar em posição diferenciada em relação ao objeto
jurídico protegido (bens, serviço, valores). Fato perceptível nos delitos de omissão de
eficiência da força ou na ofensa aviltante a inferior, capitulados nos Arts. 198 e 176 do CPM,
33

respectivamente. Por conclusão, um se difere do outro, porque no crime propriamente militar


o exigido é a qualidade militar do agente, enquanto no crime próprio militar, além desse
requisito, a norma penal reclama uma segunda particularidade do agente que reside na função
de comando ou ser superior hierárquico do ofendido (LIMA, 2013).
Ademais, encontramos na doutrina e jurisprudência expressões empregadas como
sinônimas do crime propriamente militar, entre as quais citamos o crime puramente militar,
crime meramente militar, crime essencialmente militar, crime exclusivamente militar e crime
militar próprio (LIMA, 2013).
Ensina Lobão (2012, p. 38) ser comum nos tribunais a confusão entre a expressão
militar em situação de atividade com militar em serviço, assim “militar em situação de
atividade é militar da ativa, militar no serviço ativo, militar em atividade que não se confunde
com militar em serviço, embora o militar em situação de atividade possa ou não se encontrar
em serviço”.

2. 2.2 Crime impropriamente militar

Segundo LOBÃO (2006, p. 81) a Constituição Federal consagrou a expressão crime


propriamente militar, por via de conseqüência os delitos militares previstos no CPM que não
tiverem tal formatação são ditos crime impropriamente militares. Como dizia Esmeraldino
Bandeira são “infrações de caráter misto-comuns em sua natureza mas cometidas por
soldados; ou militares em sua objetividade e praticados por paisanos”.
Os estudos realizados por Esmeraldino Bandeira (apud, LOBÃO, 2006) apontam que
esses crimes têm suas origens em Roma. Nessa época o soldado cometia duas infrações
distintas, uma contra a ordem militar e a outra comum. São situações paralelas. A primeira
vinculada as circunstância vivida na caserna. Logo, extremada com a vida militar, suas
atividades e o respeito à disciplina. A segunda não atingia diretamente objeto tutelado pela
norma militar, mas tão somente infrações de cunho particular em detrimento a ordem social
comum.
Célio Lobão (2006) com base no autor supra, justifica que esses delitos, ao longo do
tempo convergiram para um ponto em comum resultando no crime acidentalmente militar.
Sua origem advém da necessidade de manter e proteger territórios conquistados, bem com a
transformação das forças armadas em instituições permanentes.
Enfim, ensina Lobão (2006, p. 97-98) que o crime impropriamente militar: “é uma
infração penal [...], não sendo ‘específica e funcional da profissão do soldado’ lesiona bens ou
34

interesses militares relacionados com a destinação constitucional e legal das instituições


castrenses”.
A doutrina distingue três espécies de crime militar impróprio definido no Art. 9º do
CPM, destacado por Lobão (2006) e Lima (2013): 1) os previstos exclusivamente no CPM,
como no ingresso clandestino do Art. 302; 2) os previstos de forma diversa na lei penal
comum, por exemplo, no desacato a militar, Art. 299; 3) os previstos com igual definição na
lei penal comum. Exemplo: furto, Art. 240 do CPM.
Igualmente, podemos dizer que o crime de lesão corporal é previsto tanto no Código
Penal comum (Art. 129), quanto no Código Penal militar (Art. 209). Com isso, se um militar
praticar esse crime contra outro militar, ambos na ativa, ou ainda, se um militar em serviço
contra um civil praticar idêntico crime. Esses crimes serão considerados crimes militares,
porque preenchem as condições do Art. 9º do CPM. Na primeira hipótese, responderá por
crime militar com fundamento Art. 209, combinado com Art. 9º, II, “a” do CPM; No segundo
caso, o fundamento recai no Art. 209, combinado com Art. 9º, II, “c” do CPM.
Dito isso, Lima (2013, p. 331) assevera que pouco importa o conceito do crime, se é
militar próprio ou impróprio porque “não guarda qualquer relação com o fato de o delito
haver sido praticado contra militar ou civil”.
Segundo Assis (2014) não parece lógico o civil cometer crime militar, à primeira
vista, porque não está vinculado aos deveres da caserna, na medida em que está o militar.
Contudo, sob o ponto de vista da Constituição é possível quando ela autoriza a Justiça Militar
da União processar e julgar crime militar definido em lei, independente de o agente ser civil
ou militar, mas não estendeu essa garantia à Justiça Militar Estadual (Art. 124 e 125, § 4º,
CFRB/88).
A doutrina classifica como incidental o crime militar praticado pelo civil, desde logo,
se o civil comete crime militar, o critério a dotado é o consagrado pela lei penal militar, à luz
do Art. 9º, III, do CPM, quer cometido contra as FFAA ou contra o serviço militar pelo delito
do crime de insubmissão quando convocado, “não se apresenta” ou “se apresentando”,
ausenta-se, para o serviço militar obrigatório, Art. 183 do CPM (ASSIS, 2014).
No caso concreto se um civil ingressar clandestinamente numa instituição militar
estadual (Art. 302, CPM), nada se poderá fazer, porque não há correspondente crime na
legislação comum. Trata-se de fato atípico, pois a Constituição Federal deixou de fora a
possibilidade de submissão de civil ao foro militar estadual. O foro ficou restrito a Justiça
Militar Federal em casos dessa natureza envolvendo civis (ASSIS, 2014).
35

Neves e Streifinger (2012) a respeito da inequívoca tutela da regularidade da


instituição no crime impropriamente militar, cita como exemplo o crime de violência contra
sentinela, em que o agente pode ser qualquer pessoa. Por sua vez, se o agente for um civil à
norma, por seu caráter especial, protegerá a regularidade da instituição, e no segundo plano a
integridade física do militar de serviço.

2. 3 ADEQUAÇÃO TÍPICA NO CRIME MILITAR

Não basta que o fato seja antijurídico. Exige-se que ele se amolde a uma norma penal
incriminadora. Daí decorre a exigência da adequação típica, que consiste na conduta
subsumir-se no tipo penal.
A doutrina mostra duas formas de adequação típica no direito militar. Podem ter as
seguintes terminologias tipificação direta ou indireta (LIMA, 2013) ou ainda, subordinação
imediata ou mediata (MARREIROS, ROCHA, FREITAS, 2015), mas ambas com fim de
proceder à operação de subsunção.
Desse modo, ocorrendo um fato humano e a conduta decorrente dele se amolda com
o texto da norma incriminadora em abstrato e não havendo necessidade de concurso com
outra norma, “diz-se que o fato subordina-se imediatamente àquela norma” (MARREIROS,
ROCHA e FREITAS, 2015, p. 472). Nesses casos, o juízo de tipicidade, não carece de
conjugação de outras normas, basta à descrição contida na Parte Especial do CPM, pois o
inciso I do Art. 9º não tem qualquer circunstância do tipo penal (LIMA, 2013).
Ao passo que na tipificação por subordinação mediata “o comportamento humano
precisa sofrer a incidência de duas ou mais disposições legais, pois não existe uma norma que,
de per si, preveja-o como delito” (MARREIROS, ROCHA e FREITAS 2015, p. 473).
Na lei penal militar os crimes de tipificação indireta estão dispostos no Art. 9º, II, III.
Como esses crimes têm um corresponde na lei penal comum, torna-se indispensável à
conjugação dos elementos desse crime contida na Parte Especial com os elementos de uma
das alíneas dos incisos II, III, do Art. 9º da Parte Geral do CPM, dessa maneira estará
aperfeiçoado o juízo de tipicidade (LIMA, 2013).
Renato Brasileiro (2013, p. 333) ensina que não se pode confundir os conceitos de
crimes militares próprios e impróprios com os crimes de tipificação direta e indireta, para
tanto faz um paralelo entre eles:
1) Todo crime propriamente militar é crime militar de tipificação direta – de fato, se
o crime propriamente militar é a infração específica e funcional do militar, só pode
estar previsto no Código Penal Militar; 2) Nem todo crime militar de tipificação
36

direta é crime propriamente militar – como vimos, os crimes militares de tipificação


direta podem ser praticados tanto por militar (ex: deserção), quanto por civis (ex:
ingresso clandestino); 3) O crime impropriamente militar pode ser de tipificação
direta ou indireta.

Como exemplo de tipicidade indireta ou subordinação mediata: Caso um Soldado da


Polícia Militar ofender a integridade de outro Soldado da mesma corporação estará
caracterizado o crime militar de lesão corporal nos termos do Art. 209, caput, combinado com
o Art. 9º, inciso, II, alínea “a” do CPM (LIMA, 2013).
Já nos delitos de deserção, Art. 187 do CPM; delito de ingresso clandestino Art. 302
do CPM; são exemplo de crimes militares de tipificação direta por não estarem previsto na
legislação penal comum. No caso, o juízo de tipicidade se processa com a simples indicação
deles na Parte Especial, sem necessidade de indicar o Art. 9º, I do CPM (LIMA, 2013).
37

3 CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA


COMETIDO POR MILITAR ESTADUAL EM SERVIÇO

3.1 POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA


Ao tratar do poder de polícia os doutrinadores costumam dividir esse seguimento em
polícia administrativa e polícia judiciária, porém, ainda assim, exercem funções
administrativas. Para Carvalho Filho (2014, p. 83) “A Polícia Administrativa é atividade da
Administração que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se completa no âmbito da função
administrativa”. Isto é, de forma geral desenvolve atividade administrativa e de fiscalizar. Já a
polícia judiciária, mesmo que exerça atividade administrativa “prepara a atuação da função
jurisdicional penal, o que a faz regulada pelo Código de Processo Penal (arts. 4º e ss) e
executada por órgãos de segurança (polícia civil ou militar)”.
Hely Lopes Meireles (2012, p. 140) ao tratar das funções da polícia o mestre fazia
distinção entre polícia administrativa, judiciária e de manutenção da ordem pública em que a
primeira “polícia administrativa incide sobre os bens, direitos e atividades” enquanto as duas
últimas “atuam sobre as pessoas individualmente ou indiscriminadamente”. Segue o autor
afirmando que a polícia administrativa “é inerente e se difunde por toda a Administração
Pública” ao passo que as demais “são privativas de determinados órgãos (Polícias Civis) ou
corporações (Polícias Militares)”.
Segundo Di Pietro (2014, p. 125) a polícia judiciária atua repressivamente enquanto
a administrativa cuida do caráter preventivo. Vale dizer, uma atua com objetivo de punir os
infratores, a outra atua de forma dissuasiva impedindo condutas que opõe a ordem social
vigente.
Tal distinção não é absoluta, porque podem atuar, ao mesmo tempo, de forma
preventiva e repressiva, sem invadir atribuições de outras instituições:
a polícia judiciária é privativa de corporações especializadas (polícia civil e militar),
enquanto a polícia administrativa se reparte entre diversos órgãos da Administração,
incluindo, além da própria polícia militar, os vários órgãos de fiscalização aos quais
a lei atribua esse mister, como os que atuam nas áreas da saúde, educação, trabalho,
previdência e assistência social. (DI PIETRO, 2014, p.126).

Com base no exposto, a polícia administrativa é regida pelo direito administrativo e


sua atuação recai sobre bens, direitos ou atividades; já o a polícia judiciária subordina-se ao
direito processual penal volta-se aos sujeitos do delito.
38

3.2 A POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR E SUAS ATRIBUIÇÕES


Inicialmente, podemos dizer que a existência de uma polícia judiciária militar
decorre também da existência de uma Justiça Militar, Roth (2012). Como já dissemos
anteriormente, se fez presente na Constituição de 1934, e no âmbito dos Estados surge com a
Constituição de 1946, perdurando até os dias atuais, com competência para processar e julgar
os crimes militares definidos em lei como assinalam os Arts. 122 ao 124 da CRFB/88
referentes a Justiça Militar Federal e nos §§ 3º, 4º, e 5º do Art. 125 da CRFB/88 prestigiam a
Justiça Militar Estadual (BRASIL, 1988).
Assim como a Justiça Militar retira seu fundamento da Constituição Federal a Polícia
Judiciária Militar também o faz com forte no Art. 144, § 4º, in fine:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
[...]§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares.

Como se deduz, de forma implícita, a Constituição Federal prevê a atividade de


Polícia Judiciária Militar às instituições militares, já que fez exceção expressa nos delitos
militares a quem tem atribuição para apurar crimes comuns. Portanto, além desse fundamento
o CPPM nos Arts. 7º e 8º confere tal atribuição, para apurar crimes militares. Então, pela
dicção do Art. 7º do CPPM “a polícia judiciária militar é exercida nos têrmos do Art. 8º, pelas
seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdições”.
Dessa maneira o exercício da atividade vinculará a autoridade militar que a
desempenhará dentro de sua circunscrição, podendo ser delegada aos integrantes da
corporação militar, conforme a hierarquia, e desenvolvida pelos oficiais da ativa (NUCCI,
2014). Explica o autor que o termo “jurisdição” é empregado de forma equivoca, na parte
final do Art. 7º do CPPM, pois aquela cuida da atividade jurisdicional. Então, a palavra
jurisdição deve soar com o sentido de “circunscrição” porque se refere ao local, isto é, a
divisão territorial onde a autoridade militar presidirá o inquérito.
Assim, as autoridades incumbidas de exercer essa atividade na União são os oficiais
das Forças Armadas. Por simetria, a Polícia Judiciária Militar é exercida pelas Polícias e
Bombeiros Militares Estaduais e pelo Distrito Federal através de seus Comandantes Gerais e,
por delegação aos seus oficiais para fielmente cumprirem o exercício desse mister (ASSIS,
2012).
Essa delegação advém do poder hierárquico da Administração Pública, ao lado do
poder disciplinar, discricionário e vinculado. Deste modo, o oficial investido na função de
polícia judiciária deverá cumprir os prazos, com início e fim das atividades, e ainda, respeitar
39

normas de hierarquia e comando. Vale dizer, o exercício do múnus é limitado.


Diferentemente, ocorre na Polícia Judiciária, pois aqui o delegado se ampara na sua
competência originária quando da investidura no cargo, segundo Jorge Cesar de Assis (2012).
Nessa atividade, o ato de delegação é regra geral, portanto o oficial designado para
presidir o Inquérito Policial Militar somente exerce esse múnus quando for designado através
de Portaria do Comandante. Devendo este na confecção da portaria observar o grau
hierárquico do encarregado que deve ser sempre superior ao do indiciado. Não havendo, será
requisitado na reserva remunerada outro oficial para ocupar a presidência, GIULIANI (2007).
Nessa linha, dispõe o caput do Art. 4º do CPP que a Polícia Judiciária será exercida
pelas autoridades policiais no território de suas respectivas “circunscrições” e terá por fim a
apuração das infrações penais e da sua autoria. O legislador, em 1995, fez as devidas
correções no CPP substituindo o termo jurisdição por circunscrição. No entanto, tal correção
não se operou no CPPM. Nesta medida, a Polícia Judiciária Militar como órgão auxiliar da
Justiça Militar possui as seguintes atribuições:
a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos à
jurisdição militar, e sua autoria;
b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério Público
as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos, bem como
realizar as diligências que por êles lhe forem requisitadas;
c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar;
d) representar a autoridades judiciárias militares acêrca da prisão preventiva e da
insanidade mental do indiciado;
e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e
responsabilidade, bem como as demais prescrições dêste Código, nesse sentido;
f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à
elucidação das infrações penais, que esteja a seu cargo;
g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e exames
necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar;
h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de apresentação de
militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil competente, desde que
legal e fundamentado o pedido.

Na sua maioria, o rol dessas atribuições que auxiliam a atividade judiciária é de fácil
compreensão, dentre elas Jorge Cesar de Assis (2012) destaca a alínea “b”, na parte final, a
possibilidade de o magistrado requisitar diligências no curso do inquérito, entretanto deveria
ficar isento de requisitá-las para não ter repercussão na decisão do mérito. Por isso, o autor
com base nos ensinamentos de Carlos Frederico Coelho Nogueira pontua:
não deve o Poder Judiciário imiscuir-se, por iniciativa própria, na atividade
inquisitiva da polícia judiciária, sob pena de se travestir de órgão investigatório, com
todo o envolvimento psicológico e institucional que isso pode acarretar, verdadeiro
ranço do sistema inquisitivo que dominou a história da humanidade durante séculos,
negros tempos em que o órgão acusador era o próprio órgão julgador (ASSIS, 2012,
p. 40)
40

Além do mais, poderá o oficial encarregado do IPM se socorrer do Ministério


Público, bem como este participar efetivamente já que é o destinatário principal das
investigações.
Por outro lado, a alínea “g” trata da requisição de pesquisas e exames necessários à
Polícia Civil e outras a serem cumpridas por elas. Isso ocorre porque a Polícia Judiciária
Militar, em regra, não goza de aparatos de polícia científica, e não tem condições de realizar
exames e perícias mais complexos, daí a razão de requisitá-los, Távora e Alencar (2016).
Por fim, a alínea “h” tratou da apresentação de militar à autoridade civil. Esta deve
ser requerida à autoridade superior com base no Art. 221, § 2o do CPP, pois pode ocorrer do
militar estar em missão, fora da Comarca, fato em que a autoridade militar irá informar o dia e
hora do retorno ao magistrado. Esse ato é realizado dessa forma para garantir a proteção do
quartel, a disciplina e a hierarquia, Nucci (2013).
No âmbito do Estado o fundamento para exercício da função de Polícia Judiciária
pela Polícia Militar de Roraima (PMRR) encontra guarida na Constituição Estadual no Art.
179, VI, e na Lei Complementar nº 081/2004, no Art. 2º, XI. Assim, a PMRR de forma
elementar compete o policiamento ostensivo e preventivo, e de forma atípica exerce atividade
de Polícia Judiciária Militar Estadual.

3.3 O INQUÉRITO POLICIAL MILITAR


As instituições militares utilizam o IPM como instrumento para apurar infrações
penais militares, com a notícia do crime militar, opera-se sucessivas diligências com o fito de
reunir os elementos necessários para demonstrar materialidade e a autoria do crime militar. É
por meio dele que se apresentarão os elementos necessários para se propor a ação penal pelo
Ministério Público.
O IPM está disciplinado entre os artigos 9º ao 28 do CPPM. Para Coimbra Neves
(2014, p. 247) o Inquérito Policial Militar “é procedimento administrativo de polícia judiciária
militar que materializa, por seus autos, as diligências e provas produzidas na busca da
demonstração de ocorrência ou não de um crime militar, com a indicação, se for o caso, de
sua autoria”.
A distinção entre a atividade de investigar e a instrução dos autos do IPM é sugestiva
e merece ser considerada nos estudos realizados por Frederico Marques citados por Célio
Lobão (2009, p. 49) indicando que a “investigação não se confunde com instrução. Objeto da
primeira é a obtenção de dados informativos para que o órgão da acusação verifique se deve
41

ou não propor a ação penal”, ao passo que o procedimento de instruir se funda na “colheita de
provas para demonstração da legitimidade da pretensão punitiva, ou do direito de defesa”.
Quanto à finalidade do IPM é encontrada no texto da lei processual penal militar
estabelecida no Art. 9º do CPPM com seguinte redação:
Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos têrmos
legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução
provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à
propositura da ação penal.

Como se pode deduzir trata-se de instrução provisória com objetivo de juntar


elementos necessários, que pode revelar o que de fato ocorreu, para então, ficar a cargo do
Ministério Público a propositura da ação penal se assim entender conveniente.
Nesse contexto, temos que a propositura da ação penal, em regra, será pública
incondicionada na dicção do Art. 121 do CPM e Art. 29 do CPPM com idêntica redação
Assim, a ação penal militar somente pode ser proposta por integrantes do Ministério
Público, seja do Estado ou da União. Trata-se de competência exclusiva nos termos do Art.
129, I da CRFB/88. E, nos crimes militares contra a honra (calúnia, injúria e difamação)
também se seguirá a regra geral, segundo Rosa (2014).
Segundo Célio Lobão (2006) existe, porém, crimes militares que exigem requisição
do Comando Militar ou do Ministro da Justiça para sua propositura. Como por exemplo, a
hostilidade contra país estrangeiro (Art. 136, CPM); e a Provocação a país estrangeiro (Art.
141, CPM).
Conquanto delibera Romiero (1994, p. 264-265) a Constituição Federal permite a
existência da ação penal privada subsidiária da pública, pelo mandamento contido no Art. 5º,
LIX, “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal”, pois o CPM e o CPPM não tratam dessa possibilidade. Esse direito pode ser
exercido quando o MP não se manifestar no prazo legal, dessa maneira o ofendido/vítima
poderá oferecer a ação penal.
Em regra, os delitos militares podem ser apurados via IPM, entretanto nos crimes de
deserção e insubmissão a investigação é processada por procedimento próprio. No caso de
prisão em flagrante do militar, se presente materialidade e autoria do fato, logo, os elementos
são suficientes para a propositura da ação penal. Nestes casos, o IPM será prescindível
conforme dispõe o Art. 27 do CPPM (NEVES, 2014).
Outra questão pertinente ao IPM é quanto a sua dispensabilidade prevista no Art. 28.
do CPPM, porque o Ministério Público pode perfeitamente oferecer a denúncia mesmo não
42

havendo IPM, se o fato e autoria estão esclarecidos por documentos e provas. Por ser peça
meramente informativa a denúncia pode ser ofertada por intermédio de uma sindicância ou do
auto de prisão em flagrante, Assis (2012).
Para Fernando Capez (2011) o inquérito não é fase obrigatória, haja vista sua
característica ser meramente informativa, com isso o titular da ação penal poderá dispensá-lo.
Esse entendimento é pacifico na doutrina e jurisprudência.
A discussão a respeito das atribuições para investigar o homicídio doloso contra vida
perpetrado por militar no exercício da função perpassa antes pela natureza do delito, uma vez
que o Art. 9º do CPM e seus incisos não terem sidos revogados como sustentam autores
favoráveis a essa tese.
Diante disso, há na doutrina autores com posições diversas. Assim, para Damásio de
Jesus (2007) a interpretação dos dispositivos da Lei nº. 9.299/96 requer uma interpretação
teleológica, por consectário o texto da norma revela a modificação da natureza do crime
militar para crime comum, e não a determinação de que o crime seja julgado pela Justiça
Comum, esclarece o autor.
Segundo Távora e Alencar (2016) o crime praticado pelo militar é comum, na
hipótese em comento deve ser julgado pelo Tribunal do Júri, porém admitem a coexistência
de inquéritos paralelos por não haver impedimento.
Na lição de Lima (2013) por previsão expressa do Art. 82, §2º do CPPM é possível
por meio do IPM investigar crime doloso contra vida de civil cometido por militar em serviço,
não obstante julgado pela Justiça Comum. Trata-se de crime comum.
Ronaldo João Roth (2012, p. 18) cita a posição do Ministro Luiz Vicente
Cernicchiaro do STJ, no Conflito de Competência nº 17665 – SP:
Como, constitucionalmente, o crime militar é da competência da Justiça Militar,
quando a lei determinar que o delito deixará de ser julgado pela Justiça Militar,
lógico, desqualifica-o da natureza anterior. Vale dizer, deixou de ser o crime militar
para ingressar na regra geral-crime comum. Retirou-se-lhe o quid distintivo.

Para Roth (2012) esse pensamento é equivocado por confundir a natureza do crime
com a competência. Assim, na divergência entre promotor e magistrado no delito militar de
tentativa de homicídio ou de lesão corporal. Se admitirem o primeiro, será competente a Vara
do Júri; porém, se decidir pelo segundo o crime é da competência da Vara Militar. Essa é a
ordem que deve ser seguida. Defini-se antes a natureza do delito, conforme bem ilustrou o
autor no Recurso Inominado nº 053/1999 proferido pelo Tribunal de Justiça Militar de Minas
Gerais.
43

3.4 DA ANÁLISE DO CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES


Antes de fazer o estudo sobre o conflito de atribuição nos crimes dolosos contra vida
cometido por militar estadual em serviço, matéria controvertida entre a Polícia Judiciária
Militar e Polícia Judiciária carece relembrar da gênese da Lei nº. 9.299/96 e da Emenda
Constitucional nº 45/2004 e seus respectivos reflexos nas atribuições da Polícia Judiciária
Militar.
A Lei nº. 9.299 de 8 de agosto de 1996 tem seu pano de fundo relacionado com
chacinas de civis praticadas por policiais militares na década de noventa. Tais episódios
tiveram repercussão nacional, principalmente, com as denominadas chacinas do Carandiru,
Candelária, Vigário Geral, Favela Naval, Eldorado dos Carajás, em razão desses episódios, o
legislativo federal foi pressionado a apresentar projeto de lei para conter essa violência, surge
então à edição dessa lei em 1996 (ASSIS, 2012).
O advento da Lei nº. 9.299/96 fez mudanças substanciais no Art. 9º do CPM,
acrescentando-lhe o parágrafo único, concomitantemente, modificou o Art. 82 e seu § 2º do
CPPM, tais dispositivos passaram a viger com a seguinte redação, respectivamente:
Art. 9º. Consideram crimes militares em tempo de paz:
[...] Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra vida e
cometidos contra civil serão da competência da justiça comum. (Redação dada pela
Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra vida
praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz.
[...] § 2º nos crimes dolosos contra vida, praticados contra civil, a Justiça Militar
encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum. ; (Redação dada
pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

Como se verifica três mudanças significativas ocorreram nesses dois artigos, uma na
lei material atribuindo à Justiça Comum competência para julgar crimes dolosos contra vida
de civis; duas na lei processual no que tange a exceção do foro militar quando o crime for
doloso contra vida de civil; e a conseqüente remessa do IPM concluso ou não para a Justiça
Militar, esta por sua vez os remeterá a Justiça Comum. Como se percebe as modificações da
Lei nº. 9299/96 não trataram, especificamente, da natureza do crime militar, apenas conferiu
novo juízo de competência (ASSIS, 2012).
Segundo Jorge Cesar de Assis (2012), a redação do Art. 9º, parágrafo único não
tirou, de modo algum, a natureza jurídica do crime militar previsto no Art. 205 do CPM, cuja
redação é idêntica a do Art. 121 do CP. Igualmente, é o entendimento de que o crime doloso
praticado por militar estadual em serviço continuou sendo crime militar impróprio. Logo, é do
próprio comando do art. 9º, inciso II, os pressupostos para o classificar como crime militar.
44

Assim, se um militar estadual vier a matar uma pessoa, em serviço 8, não bastará
apenas identificar o crime na Parte Especial, é imperioso conjugar o Art. 205 do CPM com o
Art. 9º, II, alínea “c” da Parte Geral, para verificar se esse fato se amolda ao tipo penal militar
em abstrato praticado pelo agente, ou seja, se não encontrar correspondência não será crime
militar:
Art. 205 Matar alguém:
[...] Pena – reclusão, de 6 a 20 anos.
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
[...] II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual
definição na lei penal comum, quando praticados:
[...] c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de
natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração
militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº
9.299, de 8.8.1996)

Nesse sentido, o Habeas Corpus nº 207.9279 – RR concedido pelo STJ, julgado em


2012, em que um policial militar, durante sua folga, cometeu homicídio tentado contra outro
militar em serviço. O caso não configurou crime militar por não preencher taxativamente as
hipóteses do Art. 9º, II, III, do CPM, portanto, ocorreu crime comum.
A Lei nº. 9.299/96, até a publicação da EC nº 45/2004, foi considerada pela doutrina
majoritária inconstitucional, por ter suprimido a competência da Justiça Militar Federal e
Estadual dos artigos 124 e 125, § 4 da CRFB/88. Dessa forma, lei ordinária em ofensa ao
texto da Carta Maior atribuiu competência a Justiça Comum crimes outrora decididos pela
Justiça Especializada, Neves e Streifinger (2012). Vale dizer, admitiu-se deslocar a
competência definida na Constituição a outro Juízo, por via ordinária, em desalinhamento
com o mandamento Constitucional.
Na visão de Assis (2012, p. 153) esse deslocamento da competência não afetou a
natureza do crime militar, portanto concluiu que “não se pode dizer que a lei revogou o crime
militar doloso contra vida, fosse essa a intenção do legislador, melhor teria sido simplesmente
retirar o Art. 205 do CPM”.
Logo, depreende-se ter ocorrido somente à mudança do juízo processante sem
desnaturar a natureza do crime militar, senão fosse assim, não haveria razão do legislador
indicar na lei processual que a Justiça Militar encaminhará os autos do IPM a Justiça Comum.

8
é o que se encontra exercendo função do cargo militar, permanente ou temporário, decorrente de lei, decreto,
regulamento, ato, portaria, instrução, ordem verbal ou escrita de autoridade militar competente. LOBÃO, Célio.
Direito penal militar. Brasília: Brasília jurídica, 2006, p.134
9
STJ.Conflito de Competência – HC: 207.927 RR. Acórdão. Relator: Ministro Gilson Dipp. DJe, 20.06.2012.
45

No mesmo sentido, Célio Lobão (2006, p.138) se posicionou dizendo que a citada lei
“não retirou os crimes dolosos contra vida da categoria de crime militar, como conseqüência
não podem ser julgados pela Justiça comum, sem violação da Lei Fundamental”. Prossegue
afirmando que não haveria ofensa constitucional se o texto da lei tivesse a seguinte redação:
“Não se consideram militares os crimes dolosos contra vida, cometidos nas circunstâncias das
alíneas b, c e d, do inciso II”, do Art. 9º do CPM.
Ainda assim, considerada inconstitucional pela doutrina, o STF e o STJ decidiram
entendê-la constitucional por ser regra de aplicação imediata devido ao seu conteúdo
processual. Os Tribunais dos Estados acompanharam a decisão das Cortes superiores, exceto
o STM, segundo Assis (2002). O STM a declarou de forma incidental a inconstitucionalidade
da Lei nº 9.299/96 no Recurso Inominado nº 1996.01.6348-5 PE.
Segundo Paulo Tadeu Rodrigues Rosa (2014) a controvérsia perdurou no período de
1996 até 2004, porém com a edição da EC nº 45/2004 esse debate, no âmbito estadual, foi
pacificado já que a nova redação do § 4º do Art. 125 da CRFB/88, conferiu ao Tribunal do
Júri o direito outrora da Justiça Militar, como já indicava a Lei nº. 9.299/96.
A alteração ocorrida no § 4º do Art. 125 introduzida pela EC 45/2004 assinalou a
Vara competente no crime doloso contra civil, porém nada disse ter o delito deixado de ser
classificado como crime militar. Isto é, o legislador tratou apenas da transferência de
competência e, portanto ficou incólume a natureza do delito.
Em 2011, a redação do parágrafo único do Art. 9º acrescido pela Lei nº. 9.299/96
tivera outra mudança impulsionada pela Lei nº 12.432/2011, conforme segue:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
[...]Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida
e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando
praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 30310 da Lei no
7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica.

Diante disso, não ocorreu mudança na redação relativa à competência para a hipótese
do crime militar ora analisado. Portanto, o legislador tivera, em 2011, oportunidade para
modificar a sua redação e optou por não fazê-la permanecendo como militar o crime doloso
contra a vida de civil, afastando-o da conotação de crime comum.

10
O art.303 do Código Brasileiro de Aeronáutica, por sua vez, traz regras para a detenção, interdição e apreensão
de aeronave, inclusive prevendo a possibilidade de destruição de aeronave hostil (abate de aeronave), conforme
dispõe o § 2º do mesmo artigo, com regulamentação trazida pelo Decreto Federal n. 5.144, de 16 de julho de
2004. NEVES, Cícero Robson; STREIFIGER, Marcelo. Manual de direito penal militar.2ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p.422.
46

Fortalecendo o disposto, colhemos o ensinamento do Promotor de Justiça Dr. Nísio


F. Torres Ribeiro citado por Marreiros, Rocha e Freitas (2015, p. 69) ao discorrer sobre o
princípio da especialidade da norma penal militar aduz:
O Código Penal Militar é uma lei especial, e a lei especial prevalece sobre a lei
comum (Lex specialis derogat generali; semper specialia generalibus insunt; generi
per speciem derogantum)
Sendo uma lei em pleno vigor, o Código Penal Militar deve ser aplicado e respeitado
como qualquer outra lei deste País. A prática da conduta delituosa prevista em
qualquer de seus artigos enseja a aplicação de uma sanção penal.
Por fim, observa-se que o art. 125, §4º, da Carta Magna é uma mera regra de
competência e não uma abolitio criminis, não tendo derrogado o art. 9.º do CPM.

Com isso, podemos dizer que no crime militar primeiro deve-se verificar o juízo de
tipicidade do delito, se de natureza militar, a lei especial (CPM) afastá-lo-á da regra geral,
logo ficará o agente submetido às regras da lei especial, ainda que de forma anômala seja
julgado e processado pelo Tribunal do Júri, como determina a Constituição Federal.
Ademais, sobre a aplicação da lei à luz do direito Marreiros, Rocha e Freitas (2015,
p. 59-60) cita um fragmento de texto produzido por Lênio Streck em conjunto com Vicente de
Paulo e Rafael Tomaz, perfeitamente aplicado nessa conjectura:
É por isso que, em um Estado Democrático de Direito, mesmo que sejamos todos a
favor de uma causa, é necessário esperar pelo legislador! Aliás, como bem diz
Dworkin, não deve importar ao direito o que os juízes pensam sobre o direito, sobre
a política, futebol, etc. Aplicar o direito quer dizer ‘fazer interpretação com base em
argumento de princípios’ e não ‘por argumentos pessoais’, etc. Portanto, quando se
pergunta ao judiciário sobre alguma coisa, então esse não pode responder com
argumentos pessoais, políticos, morais, etc. em uma democracia não se quer saber o
que o juiz pensa sobre determinado fenômeno; o que se quer saber é como se pode
alcançar uma resposta a partir do direito. E, definitivamente, o direito não é, e não
pode ser, aquilo que o judiciário ‘diz que é’!

Assim, as decisões do judiciário devem se pautar a luz dos princípios e dispositivos


legais afastando-se de suas convicções pessoais e morais para então criar uma resposta
jurídica para o caso que lhe for apresentado conforme o direito.
É na leitura do Art. 144, §4º da CRFB/88 que está a essência das atribuições da
Polícia Judiciária, uma exercida pela Polícia Civil, “dirigidas por delegados de polícia de
carreira, e outra pela Polícia Militar nas infrações “militares”, sob a direção dos oficiais.
Com isso, sustenta Jorge Cesar de Assis (2012, p. 158) ter a Constituição
reconhecido, implicitamente, a atribuição da Polícia Judiciária Militar, assim como aquelas
prevista no CPPM para apurar os crimes militares. Some-se a isto, o fato de a Lei nº. 9.299/96
e a EC 45/2004 silenciarem sobre “a qualidade militar do crime de homicídio, que permanece
47

íntegro no Art. 205 do CPM, ainda que praticado contra civil”, assim concluiu afirmando “que
sendo crime militar somente a polícia judiciária militar é que poderá apurá-lo”.
Como se pode constatar, não se tem dúvida quanto à competência para processar e
julgar o militar estadual que venha a praticar um crime doloso contra vida de um civil, no
desempenho de suas funções, cabendo tão somente ao Tribunal do Júri.
Superada a fase da competência, a controvérsia se instalou sobre quem tem
atribuição para investigar o referido delito, a Polícia Judiciária Militar ou a Polícia Judiciária
Esse conflito, por sua vez, tem origem na atecnia produzida pelo legislador ao editar
a Lei nº. 9.299/96 que trouxe na sua redação conteúdo material e processual. Fato que
ocasionou até o presente momento elevada discussão na doutrina e nos Tribunais, sobre quem
deve investigar esse crime Trata-se de crime comum ou militar
Com isso, a Polícia Civil, no sentido de ampliar suas funções de Polícia Judiciária,
começou a instaurar inquéritos paralelos aos inquéritos instrumentalizados na Polícia Militar.
Essa medida era adotada incontinente, porque os delegados entendiam que o homicídio
praticado pelo militar estadual, em serviço, teria uma nova roupagem. Isto é, ganhara status
de crime comum e, por dedução não havia óbice para instaurá-los ou de forma mais
contundente efetivar o flagrante delito do militar em serviço.
Inconformados com a abertura de IPM, a Associação dos Delegados de Polícia do
Brasil (ADEPOL), em 1997, ajuizou no STF a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1494
– DF vejamos a ementa:
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CRIMES
DOLOSOS CONTRA A VIDA, PRATICADOS CONTRA CIVIL, POR
MILITARES E POLICIAIS MILITARES - CPPM, ART. 82, § 2º, COM A
REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 9299/96 - INVESTIGAÇÃO PENAL EM SEDE
DE I.P.M. - APARENTE VALIDADE CONSTITUCIONAL DA NORMA LEGAL
- VOTOS VENCIDOS - MEDIDA LIMINAR INDEFERIDA.
O Pleno do Supremo Tribunal Federal - vencidos os Ministros CELSO DE MELLO
(Relator), MAURÍCIO CORRÊA, ILMAR GALVÃO e SEPÚLVEDA PERTENCE
- entendeu que a norma inscrita no art. 82, § 2º, do CPPM, na redação dada pela Lei
nº 9299/96, reveste-se de aparente validade constitucional.

No caso a ADEPOL sustentou que o disposto no Art. 82, § 2º do CPPM ofendera


norma constitucional inserida no Art. 144, §1º, IV e §4º da CRFB/88, porém o resultado da
ADI foi em sentido oposto, O STF indeferiu a liminar por maioria dos votos.
No mesmo sentido, é esclarecedor e digno de registro o voto do Ministro Carlos
Velloso na ADI:
[...] a Lei 9.299, de 1996, estabeleceu que à Justiça Militar competirá exercer o
exame primeiro da questão. Noutras palavras, a Justiça Militar dirá, por
primeiro, se o crime é doloso ou não; se doloso, encaminhará os autos do
48

inquérito policial militar à Justiça comum. Registre-se: encaminhará os autos do


inquérito policial militar. É a lei, então, que deseja que as investigações sejam
conduzidas, por primeiro, pela Polícia Judiciária Militar [...] Grifo nosso.

O Supremo não encampou a tese impugnada, e decidiu que a Justiça Militar fará o
exame se o delito é ou não doloso. Ademais, foi favorável à investigação do crime via IPM,
logo tal atribuição é da Polícia Judiciária Militar, entretanto não impediu inquérito paralelo
como pontuou Ministro Sydney Sanches, e se ocorrer conflito de competência, isto “se
resolverá pelos meios previstos na constituição e nas leis processuais”.
Em outubro de 2008, com idêntico intuito, a ADEPOL ajuizou perante o STF a ADI
nº 4164 – DF convictos de que os dispositivos da Lei 9.299/96 são inconstitucionais, com
fundamento nos Art. 5º, LIII, LIV; Art. 144, §1º, IV e §4º ambos da CRFB/88. E com isso,
sustentou impedir a Polícia Judiciária Militar de promover inquéritos militares quando seus
integrantes, em serviço, venham a ceifar a vida de civil.
Conquanto, até o presente momento, essa ação não foi julgada, muito embora, em
maio de 2010 a Advocacia Geral da União – AGU se manifestou, no mérito, pela
improcedência da ADI, por pretensão insubsistente.
A AGU, de início, confirmou a fixação da competência do Júri, mas afirmou que isto
“não é suficiente para que se conclua pela inviabilidade da apuração dos mesmos pela
autoridade militar”. Com isso, corrobora ser da atribuição da Polícia Judiciária Militar a
prerrogativa de apurar crime militar.
Disse que fato praticado contra civil não tem a faculdade de desnaturar a qualidade
de militar do agente, e as condutas praticadas por ele “devem ser submetidos à investigação
da autoridade policial militar”.
Ademais, afirmou que os dispositivos legais ora atacados ainda que atinjam civis não
deixam de ser praticados “por militar em serviço ou atuando em razão da função [...]”,
hipótese do Art. 9º, II, “c” do CPM, portanto concluiu ser o crime de natureza militar.
Em julho de 2013, houve manifestação do Ministério Público Federal (MPF)
pugnando pela improcedência dos pedidos na ADI, uma vez que os dispositivos impugnados
pela parte autora estão de acordo com o mandamento constitucional.
Igualmente, observou o MPF que os militares têm tratamento diferenciado em
relação aos civis. Tal distinção leva em conta às duras regras, valores e princípios da caserna,
sobretudo, a disciplina e a hierarquia. E se a conduta militar é decorrente do exercício de
função, e venha atingir um civil, como no crime doloso contra vida, o seu julgamento não
alcança o jurisdicionado militar, mas a apuração do crime residirá no âmbito militar:
49

[...] Quando o militar é apontado como sujeito ativo de qualquer conduta


considerada como ‘crime militar’ pela legislação (art. 9º, II, ‘c’, do CPM), aquela
deverá ser imediatamente apurada pelas autoridades policiais militares através
do respectivo procedimento administrativo, qual seja, o inquérito policial
militar. A partir do momento em que se constate a hipótese prevista na Constituição
Federal de ‘competência do júri quando a vítima for civil’, imediatamente deverão
as autoridade militares remeter os autos do procedimento investigatório à Justiça
Comum[...] Grifo nosso.

O MPF opinou pela improcedência do pedido utilizando-se de decisões anteriores do


STF. De certo, tanto o MPF quanto a AGU foram firmes em afastar, com prudência, o objeto
impugnado pela ADI nº 4164 ora em andamento, e nas duas ações entendem que o delito
militar deve ser instrumentalizado através do IPM, por dedução é atribuição da Polícia
Judiciária Militar investigar o delito.
O STJ, em fevereiro 2008, por decisão unânime, inclusive indicando a ADI 1493-
DF, proferiu decisão favorável a Polícia Judiciária Militar no Recurso em Habeas Corpus nº
21.56011– PR, segue ementa:
CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. COMPETÊNCIA. ART.125,
§ 4º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ART.82, § 2º DO CPPM. INQUÉRITO.
CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA DE CIVIL PRATICADO POR POLICIAL
MILITAR. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.
I - A teor do disposto no art. 125, § 4º da Constituição Federal e art. 82 do Código
Penal Militar, compete à Justiça Comum julgar policiais militares que, em tese,
cometerem crime doloso contra a vida de civil.
II - A norma inserta no § 2º do art. 82 do CPP (‘Nos crimes dolosos contra a vida,
praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial
militar à Justiça Comum’) que teve sua constitucionalidade reconhecida pelo
Pretório Excelso (ADI 1.493/DF), não autoriza que a Justiça Castrense proceda ao
arquivamento do inquérito, verificada a ocorrência de crime doloso contra a vida de
civil.
III - O que referido dispositivo autoriza, portanto, é que se instaure o inquérito
militar apenas para verificar se é ou não a hipótese de crime doloso contra a
vida de civil. Uma vez isso constatado, a remessa dos autos a Justiça Comum é
medida de rigor.
Recurso desprovido. Grifo nosso.

Portanto, a decisão foi favorável à Polícia Judiciária Militar investigar o homicídio


envolvendo a morte de civil e ao juízo natural verificar o dolo ou culpa destacou o STJ.
Conclusos os autos a Justiça Militar deverá encaminhá-los à Justiça Comum, na dicção do §
2º do Art. 82 do CPPM, não podendo aquela proceder arquivamento de inquérito.
Mas, em junho de 2016, o STJ, em sentido oposto, no Conflito de Competência nº
12
144.919 – SP entendeu o relator que a investigação compete a Polícia Judiciária:

11
STJ. RHC 21.560/PR, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 07/02/2008, DJe 12/05/2008.
12
STJ. CC 144.919/SP, Rel. Ministro Felix Fischer, Terceira Seção, julgado em 22/06/2016, DJe 01/07/2016.
50

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA.


INQUÉRITO POLICIAL. ADMISSIBILIDADE DE CONFLITO EM FASE PRÉ-
PROCESSUAL. COMPETÊNCIA JUÍZO DA CAUSA. TEORIA DOS PODERES
IMPLÍCITOS.
I - É assente na jurisprudência a admissibilidade de conflito de competência em fase
inquisitorial.
II - Embora previsto no artigo 125, §4º, da CF, ser da competência da justiça comum
processar e julgar crimes dolosos contra a vida praticados por militar em face de
civil, nota-se que inquéritos policiais persistem no juízo castrense indevidamente.
III - A interpretação conforme a Constituição Federal do artigo 82, §2º, do Código
de Processo Penal Militar compele a remessa imediata dos autos de inquérito
policial quando em trâmite sob o crivo da justiça militar, assim que constatada a
possibilidade de prática de crime doloso contra a vida praticado por militar em face
de civil.
IV - Aplicada a teoria dos poderes implícitos, emerge da competência de processar e
julgar, o poder/dever de conduzir administrativamente inquéritos policiais.
Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juiz de Direito da
Vara do Júri e das Execuções Criminais da Comarca de Osasco/SP.

Neste conflito positivo o STJ entendeu que o juízo natural por onde deve tramitar o
inquérito é o da Justiça Comum. O conflito foi suscitado porque a Vara do Júri alegou
ingerência indevida na investigação do juízo militar em crimes praticados por militares do
Estado. Esclareceu o STJ que a Vara Militar deveria remetê-los de imediato, não se admitindo
qualquer valoração sobre o fato que não lhe compete analisar, muito menos arquivar
inquéritos, tudo em obediência ao estabelecido no Art. 82, § 2º do CPPM.
Por conseguinte, quanto ao conflito de atribuição na condução do inquérito entendeu,
nesse caso, ser da Polícia Judiciária. Desse modo, veja o fragmento do voto do relator:
[...] não há dúvida que será também o juízo administrativo competente para conduzir
o inquérito policial, ainda que com funções limitadas de verificar regularidades
procedimentais, com raras exceções legais de decisões (prisão temporária, busca e
apreensão, arquivamento, etc.).
[...] Desse modo, não há como dissociar a fase investigativa da fase processual,
de modo a se criar um juízo de inquérito e outro de processo, como se o sistema
processual (incluído pré-processual) brasileiro fosse misto ou francês. No
sistema processual misto (francês), tem-se a figura do juiz instrutor e do juiz
julgador, exposto por Renato Brasileiro de Lima, na obra Manual de Processo Penal,
3ª Edição, 2015, Editora JusPODIVM, folha 41:
‘A primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem
acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e
autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador
apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a
publicidade e a oralidade’.
Não há como permitir que inquéritos policiais que versam sobre crimes dolosos
contra a vida praticado por militar em face de civil continuem sendo
conduzidos pela Justiça Castrense, porque não é dela a competência
constitucional de processar e julgar a ação penal.
Imperioso anotar que, nesta fase, vigora o princípio do in dubio pro societate e não
comporta valorações por juízes especializados, como se percebe com alguns
arquivamentos de inquéritos policiais militares, uma vez que se trata de usurpação
de possível competência do juízo da causa.
Assim sendo, a regra é que a Justiça Comum conduza o Inquérito Policial
administrativamente e, caso perceba claramente não se tratar de delito doloso
51

contra a vida, remeterá o IP ao Juízo Militar o processo, e não o inverso. Grifo


nosso.

Dessa maneira, para o STJ a Justiça Comum é o juízo da ação, por consectário fará o
controle da regularidade do inquérito dirigido pela autoridade policial, ainda que delito seja
praticado por militar em serviço ou atuando em razão da função. O acórdão, unânime, criticou
que não seria possível no ordenamento jurídico nacional fragmentar a fase da investigação da
fase processual, como ocorre no sistema francês.
A fixação, como regra, do órgão persecutório da Polícia Judiciária é sua vinculação
ao juízo da causa, pois caberá ao jurisdicionado resolver os incidentes da fase pré-processuais
que por ventura seja solicitado pelo encarregado do inquérito, como por exemplo, decidir
sobre pedido de prisão temporária, busca e apreensão e o que for pertinente ao caso concreto.
A conclusão do voto do relator tivera por base a teoria dos poderes implícitos do
Direito Norte Americano acentuada pela Corte. Essa teoria sustenta que se a Constituição
Federal conferiu determinada função a um órgão ou instituição, por dedução lhe confere
tacitamente outros poderes, como meio de viabilizar a consecução de suas atividades.
Assim, o STJ sustentou essa teoria para subsidiar o acórdão e atribuir, ao legítimo
juízo natural, poderes para dirimir todas as questões que lhes sejam apresentadas, e por
congruência estabelecer na Polícia Judiciária o órgão incumbido do inquérito policial para
investigar esse delito.
Ao final, acrescentou ser possível, o sistema de parceria entre os órgãos policiais
para realizar diligências se houver colaboração, porém com “única autoridade condutora e um
só juízo administrativo competente”, não sendo esta possibilidade causa de nulidade.
Conquanto, não tratou diretamente da classificação do delito, já que essa conduta se
amolda ao tipo do Art. 205 do CPM combinado com o Art. 9º, II, alínea “c”, nem disse se o
crime era comum ou se o delito foi revogado.
52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em âmbito geral, tratou-se de conhecer a origem da Justiça Militar Federal e


Estadual sendo erigidas a categoria de órgão do Poder Judiciário pela Constituição Federal,
onde a primeira surgiu em 1934 e a segunda em 1946. Por conseguinte, com status de Justiça
Especializada passaram a processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Como se constatou nem todo crime cometido por militar o conduz ao seu juízo
processante, é essencial que a conduta delituosa encontre um correspondente na lei penal
militar, como exemplo no crime de abandono de posto previsto no Art. 195 do Código Penal
Militar. De modo diverso, se o militar cometer, em serviço, o abuso de autoridade o crime é
de natureza comum. Logo, será julgado na Justiça Comum, ainda que tenha praticado este
delito no exercício de suas funções, ou seja, em serviço.
A estrutura militar tem por base a hierarquia e a disciplina, assim certas condutas
cometida pelo militar, seja federal ou estadual, poderá infringir princípios, normas e valores
que lhes são próprios da caserna. No intuito, de preservá-los a autoridade militar poderá
aplicar uma sanção disciplinar ao militar infrator. Este, por sua vez, considerando o ato injusto
poderá ingressar com uma ação judicial na Vara Militar contra esse ato disciplinar a ser
julgada e processada, monocraticamente, pelo Juiz de Direito da Vara Militar Estadual.
Todavia, se o militar é integrante das Forças Armadas essa ação judicial deve ser
ajuizada na Justiça Federal Comum por não haver previsão em lei para o seu julgamento na
Justiça Militar Federal, exemplificativamente, pode ocorrer quando o militar cometer uma
falta disciplinar ou é excluído da força militar através de procedimento administrativo
disciplinar, diante dessas circunstâncias poderá ingressar como uma ação judicial contra esse
ato disciplinar.
Como se verificou a Justiça Militar Federal tem competência para processar e julgar
tanto o civil quanto o militar, ao passo que na Justiça Militar Estadual essa condição não
ocorre. Isso porque a Constituição Federal assinalou processar e julgar, exclusivamente, o
militar estadual. Isto se justifica pelo motivo de que nem todos os bens da Corporação militar
estadual ficaram tutelados, exceto, se violado por seus integrantes, portanto como justificativa
a doutrina se diz que a Justiça Militar Estadual é eminentemente repressiva.
Assim, também não é correto afirmar, caso um civil venha a violar o patrimônio de
uma instituição estadual, como por exemplo, venha furtar uma viatura da Polícia Militar,
ficará isento da aplicação da lei penal. A vista disso, se a conduta praticada por ele tiver um
53

correspondente na legislação penal comum aplica-se esta. Neste caso, o infrator será
processado e julgado pela Justiça Comum, se não houver correspondência o fato é atípico.
Com exceção dos crimes dolosos contra a vida de civil, a Justiça Militar através dos
Conselhos de Justiça é quem julga os militares. Esses Conselhos existem tanto na Justiça
Militar Federal quanto na Justiça Militar Estadual sua formação é composta por colegiados
que podem ser de duas espécies, o Especial e o Permanente. O primeiro é um colegiado
formado para processar e julgar oficiais e o segundo as praças.
Na Justiça Militar Federal a presidência desses Conselhos é do oficial de posto mais
elevado, porém na Justiça Militar Estadual é do Juiz de Direito da Vara Militar. Com isso,
observou-se a importância dos colegiados também serem formados por militares a fim de que
participem ativamente das decisões sobre temas específicos de sua atividade militar e, assim
apliquem de forma justa a reprimenda que o caso requer.
Os órgãos de segunda instância da Justiça Militar são o Superior Tribunal Militar,
Tribunais de Justiças e Tribunais Militares Estaduais. Este último existe apenas em três
Estados, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, sendo o STM juízo ad quem da
Justiça Militar Federal os demais da Justiça Militar Estadual, conforme a unidade da
federação possua ou não Tribunal Militar Estadual, não havendo o órgão recursal serão os
Tribunais de Justiças Estaduais.
No segundo capítulo, viu-se que o direito penal militar é especial, suas normas
tutelam a regularidade das Instituições Militares. Desse modo, os destinatários dela são os
militares e, secundariamente, os civis uma vez que cometem o crime militar de forma
incidental. Atualmente, como se examinou preferiu o legislador classificar o crime militar em
ratione legis, enumerando taxativamente, as suas possibilidades no Art. 9º, I , II e III, mas isto
não impede a utilização de outros critérios na fase de classificação do tipo, como o ratione
materiae, ratione personae, ratione in loci, ratione muneris, ratione tempori, muito embora
no julgamento do crime isto seja irrelevante.
Dessa forma, o crime militar próprio é uma infração penal específica e funcional em
que o militar viola um dever próprio da caserna o qual foi penalmente tutelado e tem
correlação direta com a disciplina e a hierarquia militares. É o caso abandono de posto, do
motim, da revolta, esses tipos penais somente existem na norma penal militar, a sua
caracterização como crime militar não se exige a conjugação da parte especial com a geral do
Código Penal Militar.
54

Em contrapartida, o crime militar impróprio é uma infração penal não específica do


militar, tem caráter misto. Isto é, o tipo coexiste na lei penal comum e militar, portanto não é
uma infração funcional do militar, porém não deixa de violar valores militares.
Em vista disso, ocorrendo um delito envolvendo o militar é importante realizar o
exercício da adequação típica, que pode ser de tipificação direta ou indireta. A primeira
classificação difere da segunda por não exigir a conjugação de outras normas penais para se
aperfeiçoar, é o caso do crime de deserção. Na tipificação indireta é imperiosa uma
complementação da Parte Especial com a Parte Geral, na forma prevista do Art. 9º, II e III do
CPM, por exemplo, como ocorre nos delitos de lesão corporal, furto, roubo, no homicídio seja
doloso ou culposo, para se caracterizá-los como crime militar.
Diferentemente, um exemplo em sentido oposto, isto é, que não caracterizou o crime
militar foi o estabelecido no entendimento do Superior Tribunal de Justiça, no Habeas Corpus
207927 RR, em 2012. Neste caso, militar estadual, na sua folga, cometeu tentativa de
homicídio contra outro militar que estava de serviço. Então, para o Superior Tribunal de
Justiça o crime praticado pelo militar de folga não caracterizou crime militar porque o fato
não subsumiu as hipóteses previstas na norma do Art. 9º, I, II, III do CPM. Em verdade o
militar estadual cometeu crime comum, com isso não restou alternativa a Corte, senão anular
o processo e o caso foi remetido para a Justiça Comum.
O capítulo final mostrou que a existência da Polícia Judiciária Militar decorre da lei e
da Constituição Federal conferindo-lhe, portanto, a titularidade para apurar os crimes militares
definidos em lei através do Inquérito Policial Militar, cuja presidência é delegada aos oficiais
da Força Militar Federal ou Estadual.
Dado o exposto, concluímos que o IPM é um instrumento administrativo utilizado
para condensar elementos para a propositura da ação penal, não obstante, é dispensável por
ser peça informativa porque a denúncia pode ser oferecida por meio de outros documentos,
como por meio de uma sindicância ou do auto de prisão em flagrante.
Quanto à análise das correntes doutrinárias e jurisprudenciais a respeito dos conflitos
de atribuições entre Polícia Judiciária Militar e Polícia Judiciária, há posicionamento prós e
contras, bem como em relação à natureza do crime ser militar ou comum. Levou-se em conta
também os aspectos legais e a Constituição Federal, e com isso foi possível aferir ser da
natureza militar o homicídio doloso contra a vida de civil praticado por militar estadual, em
serviço. Por consectário, é um delito com previsão no Art. 205, combinado com Art. 9º, inciso
55

II, alínea “c”, ambos do CPM, portanto um delito previsto em norma penal especial não
revogada, e por via de conseqüência afasta a aplicação da lei penal comum.
Verificou-se que o conflito de atribuições entre a Polícia Judiciária Militar e Polícia
Judiciária surgiu com o advento da Lei ordinária nº 9.299/96 ao acrescentar,
substancialmente, o parágrafo único no Art. 9.º do CPM e alterar o caput do Art. 82, e
acrescentar-lhe o § 2º do CPPM e até hoje essa discussão persiste no campo doutrinário e nos
tribunais.
O pano de fundo dessa lei ordinária tem sua origem na década de noventa com as
chacinas da Candelária, Vigário Geral, Carandiru, Eldorado dos Carajás praticada por
policiais militares. Com isso o Congresso Nacional foi pressionado pela mídia e pela
população dos estados onde ocorreram esses massacres, por sua vez editou a Lei nº 9.299/96.
Importante destacar que antes do surgimento dessa lei ordinária o crime doloso contra vida
praticado por militares estaduais ou federais era da competência da Justiça Especializada,
estivesse ou não o militar de serviço.
O estudo realizado condensou informações onde o Supremo Tribunal Federal
entendeu, em 1997, na ADI 1494 DF que a Lei ordinária nº 9.299/96, ora impugnada, era
constitucional por ter conteúdo de natureza processual penal, portanto de aplicação imediata.
Diante disso, e conforme destacou a Suprema Corte, a própria lei processual penal militar
quer que o homicídio doloso contra vida de civil cometido por militar estadual em serviço seja
apurado pela Polícia Judiciária Militar Estadual e não pela Polícia Judiciária, na dicção do
Art.82, §2º do CPPM.
Ademais, não é coerente afastar-se dessa convicção, pois a redação da lei processual
penal militar é inequívoca ao estabelecer a seguinte regra, “a Justiça Militar encaminhará os
autos do inquérito policial militar à justiça comum”.
As mudanças solidificadas pela Lei nº 9.299/96 e, posteriormente,
constitucionalizada pela Emenda Constitucional 45/2004, tivera por finalidade efetivar o
deslocamento de competência da Vara Militar para a Vara Comum, estabeleceu o foro
especial aos militares, e por fim indicou que a Justiça Militar deve encaminhar o inquérito
policial militar a Justiça Comum, caso o crime seja doloso contra vida de civil. Logo, com
isso, a lei e a jurisprudência mantiveram a investigação do homicídio doloso em estudo, por
primazia, com a Polícia Judiciária Militar, em consonância com a regra estabelecida no
Art.144, §4º da Constituição, in fine, ao excluir da Polícia Judiciária à apuração dos crimes
militares definidos em lei.
56

Verificou-se, ainda, o posicionamento da doutrina minoritária, conquanto para alguns


autores a modificação de competência efetivada pela EC nº 45/2004 ocasionou também a
desnaturação do crime militar para comum, infere-se com isso ser a atividade investigativa
atribuição da Polícia Judiciária para apurar o delito. Entretanto, entende a doutrina
majoritária, como Assis, Lobão, Neves, Streifinger, Roth que o deslocamento da competência
da Justiça Especializada para Justiça Comum, conferido pela Constituição Federal de modo
algum desnaturou o crime militar de homicídio doloso contra a vida de civil, e com estes,
sustenta-se ser militar a natureza do delito estudado, ainda que classificado como crime
militar impróprio.
Como se afirmou desde o início, é da Justiça Comum, o juízo competente para
processar e julgar o crime doloso contra vida, como estabeleceu o art. 125, §4º da CFRB/88.
Todavia, o juízo pré-processante e o juízo da fase policial será o da Justiça Militar, inclusive,
esta é quem decidirá se o crime é doloso ou culposo, e somente após essa sistemática
avaliação, remeterá os autos. Logo, confirmado o dolo, envia-se os autos à Justiça Comum, se
a hipótese é de crime culposo a Justiça Militar processará o seu julgamento. Esses argumentos
corrobora o posicionamento da Advocacia Geral da União e do Ministério Público Federal
quando se manifestaram na ADI 4164 DF pela sua improcedência e, foram favoráveis a
Polícia Judiciária Militar a investigação do delito.
De outro lado, é recomendável destacar a posição do Superior Tribunal de Justiça no
atual conflito de atribuição existente entre as Polícias Judiciárias dos estados, porquanto essa
corte, em junho de 2016, adotou posicionamento diverso do Supremo Tribunal Federal.
Estabeleceu não ser da competência da Justiça Militar, no Conflito de Competência nº
144.919 SP, fazer juízo de valor se o crime é doloso ou culposo, nem poderá arquivar
inquéritos nessa Vara Especializada.
Segundo o STJ a lógica processual determina o encaminhamento de todos os
inquéritos policiais para a vara Comum de imediato. Dessa maneira, fixou o juízo natural a
Justiça Comum para decidir todas as questões relativas a fase pré-processual e policial, e por
consectário atribui a Polícia Judiciária a prerrogativa para investigar o delito. O STJ justificou
essa posição afirmando que no ordenamento jurídico nacional não é possível dissociar a fase
pré-processual da policial, como ocorre no sistema francês, utilizou como fundamento a teoria
dos poderes implícitos.
Conquanto, exista divergência latente no que tange aos conflitos de atribuições e por
todos esses aspectos corroborados pela doutrina e jurisprudência ao tratar da natureza do
57

delito, do juízo competente da fase pré-processual e da fase policial, bem como do órgão
incumbido de investigar o crime doloso contra vida de civil, não se têm a pretensão de exaurir
o objeto do estudo.
Todavia, somos levados a inferir ser da competência do Supremo Tribunal Federal se
manifestar na ADI n.º 4.164 – DF, em tramitação acerca de mais de oito anos, sob a
constitucionalidade ou não dos dispositivos impugnados da Lei n.º 9.299/96 e decidir os
conflitos tanto de atribuição entre as polícias judiciárias, como da existência dos conflitos de
competência existente quanto ao juízo natural entre a Justiça Militar e a Justiça Comum no
que se refere, somente, a fase pré-processual e fase policial, visto ser pacífico na doutrina e
jurisprudência que nos crimes dolosos contra vida o juízo competente é o Tribunal do Júri, e
ainda, acrescentar que esses conflitos ora analisados em nada contribuem para a razoável
duração do processo como assegura a Constituição Federal.
58

REFERÊNCIAS

ASSIS, Jorge Cesar de. Código de processo penal militar anotado. Vol. 1, 3 ed. Curitiba:
Juruá, 2012.

______. Comentários ao código penal militar: comentários, doutrina, jurisprudência dos


tribunais militares e tribunais superiores e jurisprudência em tempo de guerra: 8 ed. Curitiba:
Juruá, 2014.

______. Direito militar: aspectos penais, processuais penais e administrativos. 2 ed. rev. e
atual. Curitiba: Juruá, 2012.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. 12ª ed. rev., atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016.

______. (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil: promulgada em


16 de julho de 1934. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm>. Acesso em: 23. jan.
de 2017.

______. (1946). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil: promulgada em


18 de setembro de 1946. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm>. Acesso em: 23 jan.
de 2017.

______. Código Penal Brasileiro (Decreto lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940). 12ª ed.
rev., atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

______. Código de Processo Penal Brasileiro (Decreto lei nº 3.689, de 3 de outubro de


1941). 12ª ed. rev., atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

______. Código Penal Militar (Decreto lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969). 12ª ed. rev.,
atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

______. Código de Processo Penal Militar (Decreto lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969).
12ª ed. rev., atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

______. Decreto n. 4.346, de 26 de agosto de 2002. Aprova o Regulamento Disciplinar do


Exército (R-4) e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 27. ago. 2002. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm>. Acesso em: 23. Jan. 2017.

______. Lei n. 8.457, de 04 de setembro de 1992. Organiza a Justiça Militar da União e regula
o funcionamento de seus Serviços Auxiliares. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 08. set. 1992. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm>. Acesso em: 23. Jan. 2017.
59

______. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Conflito de Competência – CC: 92.547


RS. Acórdão. Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. DJe, 15.10.2008. Disponível
em:<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequenci
al=826575&num_registro=200702981973&data=20081015&formato=PDF> Acesso em: 23
jan. 2017.

______. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Conflito de Competência – CC: 100.682


MG. Acórdão. Relator: Ministro Castro Meira. DJe, 18.06.2009. Disponível em:<
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=8
88324&num_registro=200802376086&data=20090618&formato=PDF> Acesso em: 23 jan.
2017.

______. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Conflito de Competência – HC: 207.927


RR. Acórdão. Relator: Ministro Gilson Dipp. DJe, 20.06.2012. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201101212202&dt_publica
cao=20/06/2012> Acesso em: 24 jan. 2017.

______. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso em Habeas Corpus – RHC:


21.560 PR. Acórdão. Relator: Ministro Félix Fischer. DJe, 12.05.2008. Disponível em: <
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=7
51066&num_registro=200701481106&data=20080512&formato=PDF > Acesso em: 24 jan.
2017.

______. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Conflito de Competência – CC: 144.919


SP. Acórdão. Relator: Ministro Félix Fischer. DJe, 01.07.2016. Disponível em: <
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1
522650&num_registro=201503275850&data=20160701&formato=PDF > Acesso em: 24 jan.
2017.

______. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso em Habeas Corpus – RHC: 66.993


RJ. Acórdão. Relator: Ministro Francisco Rezek. DJ. 03.03.89. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=102281> Acesso em:
cesso em: 23 jan. 2017.

______. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Habeas Corpus – HC: 81.438 RJ. Decisão.
Relator: Ministro Nelson Jobim. DJ. 10.05.02. Disponível em: <http
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=78755 > Acesso em:
cesso em: 23 jan. 2017.

______. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação Direta de Inconstitucionalidade –


ADI: 1494 DF. Acórdão. Relator: Ministro Celso de Mello. DJ. 18.06.2001. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=347091> Acesso em:
cesso em: 24 jan. 2017.

______. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação Direta de Inconstitucionalidade –


ADI: 4164 DF. Acórdão. Relator: Ministro Gilmar Mendes. Não foi julgada. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp> Acesso em: cesso em: 24
jan. 2017.
60

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 27. ed.
rev.,ampl., e atual. São Paulo: Atlas, 2014.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

DA COSTA, José Armando. Transgressão e sanção disciplinares. 2008, 34p. Disponível


em:<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:3Hopg8kMjM0J:portais.tjce.jus
.br/esmec/wp-content/uploads/2013/02/transgressao-e-sancao-isciplinares.pdf+&cd=1&hl=pt-
BR&ct=clnk&gl=br> Acesso em: 06 fev. 2017.

DE PINHO, Humberto Dalla Bernadina. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Seses,
2016.

DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPEZ, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria geral do


novo processo civil. São Paulo: Malheiros, 2016.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa.


8 ed. Curitiba: Positivo, 2011.

GIULIANI, Ricardo Henrique Alves. Direito processual penal militar. Porto Alegre: Verbo
Jurídico, 2007.

GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 13 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

JESUS, Damásio de. Direito penal. Vol. 1: parte geral. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

______. Competência para julgamento de crime militar doloso contra vida. São Paulo:
Complexo Jurídico Damásio de Jesus. nov. 2007. Disponível em: <www.damasio.com.br>
Acesso em: 25 jan. 2017.

LIMA, Renato Brasileiro. Curso de processo penal. Rio de Janeiro: Impetus, 2013

LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3 ed. atual. Brasília: Brasília jurídica, 2006.

______. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009.

______. Militar estadual em situação de atividade. Revista direito militar. Santa Catarina,
Ano XV, n.93, p.34-38, jan/ fev/2012.

LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito penal militar. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MARREIROS, Adriano Alves; ROCHA, Guilherme; FREITAS, Ricardo. Direito penal


militar. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015.

MEIRELLES, Hely Lopez. Direito administrativo brasileiro. 39 ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2012.
61

NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de direito processual penal militar. São Paulo:
Saraiva, 2014.

NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcelo. Manual de direito penal


militar. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 12 ed. rev. atual. ampl.
São Paulo: RT, 2013.

______. Código de processo penal militar comentado. 2 ed. rev. atual. ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2014.

ROMIERO, Jorge Alberto. Curso de direito penal militar. São Paulo: Saraiva, 1994.

RORAIMA. Constituição (1991). Constituição do Estado de Roraima de 1991. Disponível


em: <http://www.tjrr.jus.br/legislacao/phocadownload/Leis_em_PDF/const.estadual.pdf>.
Acesso em: 30 de out. de 2016.

______. Lei Complementar n. 081 de 10 de nov. de 2004. Modifica a Lei Complementar nº


027/98, de 09 de setembro de 1998, que institui a Polícia Militar do Estado de Roraima e
dispõe sobre sua organização básica, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de
Roraima, Boa Vista, RR, 08, mar. 2005. Disponível em:
<http://www.tjrr.jus.br/legislacao/index.php/leis-ordinarias/121-leis-ordinarias-2014/1209-lei-
n-963-de-06-de-fevereiro-de-2014> Acesso em: 23. jan. 2017.

______. Lei Ordinária n. 963 de 06 de fev. de 2014. Institui o Código de Ética e Disciplina
dos Militares do Estado de Roraima - CEDM/RR e dá outras providências. Diário Oficial do
Estado de Roraima, Boa Vista, RR, 07, fev. 2014. Disponível em:
<http://www.tjrr.jus.br/legislacao/index.php/leis-ordinarias/121-leis-ordinarias-2014/1209-lei-
n-963-de-06-de-fevereiro-de-2014> Acesso em: 23. jan. 2017.

______TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE RORAIMA. Resolução n.º 30, de 22


de junho de 2016. Aprovar o seu Regimento Interno, na forma das disposições que seguem.
Disponível em: < http://www.tjrr.jus.br/legislacao/index.php/regimento-interno-tjrr> Acesso
em: 23 jan. 2017.

ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Código penal militar comentado. Parte geral e especial. 3
ed. Belo Horizonte: Lider, 2014.

ROTH, Ronaldo João. A competência constitucional da justiça militar estadual e o


arquivamento do IPM no homicídio doloso praticado por militar contra civil. Revista justitia,
MPESP, edição n. 201, nov./dez. 2010, pp. 13/39. Disponível em: <http://www.amajme-
sc.com.br/artigos.php> Acesso em 29 jan. 2017.

SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Código penal comentado: parte geral. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.

SILVA, De Plácido E. Vocabulário jurídico conciso. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
62

SOUZA, Marcelo Weitzel Rabello de. Esse tal crime propriamente militar: busca de um
conceito. Revista do Ministério Público Militar, Brasília, v. 38, n. 23, p. 9-26, nov. 2013.

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual. 11 ed.


Salvador: Juspodivm, 2016.

Você também pode gostar