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BOA VISTA – RR
2016
FRANCISCO RAMALHO DA SILVA
BOA VISTA – RR
2016
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima
S586c Silva, Francisco Ramalho da.
62 f.
___________________________________________
Prof.ª MsC. Ilaine Aparecida Pagliarini
Orientadora/Curso de Direito – UFRR
___________________________________________
Profª. MsC. Lívia Dutra Barreto
Curso de Direito – UFRR
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Prof. MsC. Raimundo Paulino Cavalcante Filho
Curso de Direito – UFRR
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus nessa longa jornada por permitir a concretização desse sonho,
guiando-me com saberia nos momentos difíceis, superando-os com fé inabalável. Sem ESTE
guia não teria conseguido.
Agradeço aos meus pais, Ney Marina Ramalho de Souza e Francisco Batista da
Silva, meus irmãos Sandra, Sidney, Daniel, Osiel, Misael, Elias e Jonathan, mesmo distante,
pelo carinho e apoio nesta nova etapa da minha vida.
Agradeço a minha esposa Luciana do Carmo Souza por ter com amor,
companheirismo e paciência cuidado de mim durante mais de cincos anos no árduo caminho
da minha formação.
Agradeço às minhas amigas da UFRR Christiana Silva Guimarães e Andréia Karen
Gomes Severo, pela amizade, partilha de ideias nos estudos e sadia convivência que
proporcionaram momentos inesquecíveis na busca pelo conhecimento.
A minha amiga de trabalho, Jéssica Caroline por ter contribuído substancialmente
nesta pesquisa com dicas e orientações necessárias, tornando essa trajetória mais leve e suave;
Ao Senhor MAJ PM Moreira, homem íntegro e dedicado, pela força, motivação e coragem
nos estudos.
Ao fim, agradeço à minha orientadora, Prof.ª Msc. Ilaine Aparecida Pagliarini, pela
sua dedicação na elaboração da presente monografia, mestra que ao longo de muitos anos
semeia o conhecimento, com sabedoria, amor e dedicação, cujos frutos têm reflexos na
qualidade de ensino desta Universidade e na formação do corpo discente. Muito obrigado
professora!
Quanto mais duro o conflito, mais glorioso o
triunfo.
Thomas Paine
O presente estudo destina-se analisar a titularidade para investigar os crimes dolosos contra
vida de civil cometido por militar estadual em serviço. Em face disso, eclode o que se
denomina conflito de atribuições na fase policial. O exercício da Polícia Judiciária no âmbito
dos Estados é uma atribuição tanto da Polícia Civil como da Polícia Militar e decorre da
dicção do Art. 144, §4º da Constituição Federal. Assim, ao primeiro órgão compete apurar as
infrações penais e ao segundo, de forma atípica, os crimes militares definidos em lei. Nesse
sentido, as duas corporações podem apurar infrações penais nos limites da Constituição.
Atualmente, é evidente a tendência da Polícia Civil instaurar inquérito policial ou efetivar o
auto de flagrante delito quando tem notícia de crime doloso contra vida de civil perpetrado
por militar estadual em serviço, sob o argumento de que o delito não configura o crime
militar, senão crime comum. Não obstante, para se conhecer melhor esse debate é salutar
fazer o estudo percuciente da Lei nº 9.299/1996 e da Emenda Constitucional nº 45/2004
ambas com reflexos diretos nesse embate. Diante disso, só é possível estabelecer a
prerrogativa quando se tem o domínio da natureza do delito e a competência do juízo da
causa, sem os quais o estudo se torna vazio, pois com o surgimento do homicídio doloso
contra vida nasce também o juízo natural para processar e julgar o infrator. Portanto, ao final,
conclui-se que a prerrogativa para investigar é da Polícia Judiciária Militar com fundamento
na Lei nº 9.299/1996 recepcionada pela Constituição. O crime é de natureza militar. Para
tanto, utiliza-se de uma metodologia qualitativa, exploratória, bibliográfica e jurisprudencial.
The present study intend to analyze the ownership to investigate the intentional crimes against
civilian's life committed by a state military in service, and, in turn, what is called of conflict of
assignments in the police phase. The exercise of the Judicial Police in the scope of the States
is an attribution of Civil Police and Military Police that due from in the diction of Article 144,
§4º Federal Constitution. Thus, the first organism is responsible for investigating criminal
offenses and the second, atypically, for military crimes defined by law. In this sense, the two
corporations can establish criminal offenses within the limits of the Constitution. Currently, it
is evident that the tendency of the Civil Police institute a police investigation or to execute the
act of committing an offence within a notice of intentional crimes against civilian's life
perpetrated by a state military in service, under the argument that the crime does not
constitute military crime, otherwise common crime. Although, in order to get to know this
debate better, it is salutary to make the study of Law 9.299/1996 and of Constitutional
Amendment 45/2004 both with direct reflexes in this conflict. In view of this, it is only
possible to establish the prerogative when there is the domain of the nature of the offense and
the jurisdiction of the trial of the cause, without it the study becomes empty, because with the
appearance of the deceitful murder against life also rises the natural judgment for prosecute
and judge the offender. Therefore, in the end, concludes that the prerogative to investigate is
from the Military Judicial Police based on Law No. 9.299/1996 approved by the Constitution.
The crime is military nature. For that, a qualitative, exploratory, bibliographical and
jurisprudential methodology is used.
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................10
REFERÊNCIAS......................................................................................................................................58
10
INTRODUÇÃO
instauração de inquérito paralelos, pelo mesmo fato, encadeados pela Polícia Judiciária, pois
os delegados de polícia entendem que o crime passou a ser comum.
Para tanto, a abordagem tratou esclarecer, em primeiro plano, a origem e
competência da Jurisdição Militar especificando sua estrutura, seu fundamento na
Constituição, os sujeitos ativos do crime militar que pode ser tanto o civil como o militar.
Debateu-se a importâncias dos órgãos da Justiça Militar, em destaque para os Conselhos de
Justiça Permanente e Especial, colegiados formados para julgar oficiais e praças e suas
particularidades em sua formação.
Como se verá, nota-se que a Justiça Militar é justiça especializada. Assim como é a
Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral, e tem por objetivo, em regra, apreciar determinadas
demandas envolvendo militares, no primeiro momento, em que serão julgados e processados
por juízes especializados. A par disso, se destacou que no Brasil existem duas categorias de
militares que formam o gênero militar, os militares federais que pertence ao efetivo das
Forças Armadas, seja ele do Exército, Marinha ou Aeronáutica. De outro lado, os militares
estaduais, são aqueles que pertencem à força militar estadual como o bombeiro militar e o
policial militar.
O Estudo voltou-se para os órgãos dessa Justiça Especializada de segunda instância
ou de apelação, indicando haver distinção entre os órgãos recursais, na mesma base territorial,
na Justiça Militar Federal e Estadual. Assim, a Justiça Militar Estadual tem como órgão de
segunda instância o Tribunal de Justiça, e excepcionalmente, o Tribunal Militar Estadual que
somente existem nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
O segundo capítulo tratou do direito penal militar como ramo do direito público
distinto do direito penal comum, possui regras propicias para o atendimento das necessidades
da caserna, como por exemplo, a ação penal, em regra é publica, não havendo ação penal
privada. E no crime militar, o legislador utilizou o critério em razão da lei. Deste modo, crime
militar é o que está definido na lei penal militar, mas pode se valer de outros critérios como do
lugar, do tempo, da função. Tratou-se ainda de sua classificação básica em próprios e
impróprios e da adequação típica direta e indireta.
Ao final, no terceiro e último capítulo, abordou-se o cerne do problema suscitado,
sendo pertinente demonstrar o contexto histórico da Lei n.º 9.299/96 e as modificações
introduzidas por ela no Código Penal Militar e no Código de Processo Penal Militar,
conferindo ao Art. 9º, parágrafo único do CPM e ao Art. 82, § 2º do CPPM nova redação.
13
Existem no país três Tribunais de Justiça Militares Estaduais – Minas Gerais, São
Paulo e Rio Grande do Sul – onde funcionam como órgão de segunda instância, porém são
exceções a regra geral, pois o órgão de recurso da Justiça Militar nos Estados é o Tribunal de
Justiça.
Os Tribunais de Justiça Militares Estaduais só podem ser criados por proposta do
Tribunal de Justiça, nas unidades onde não existem, nos casos em que o efetivo militar
estadual seja superior a vinte mil integrantes, conforme determina o Art. 125, § 3º da
CRFB/88.
No que tange a competência material da Justiça Militar sua previsão decorre da
Constituição, assim compete à Justiça Militar Federal e Estadual, respectivamente, processar e
julgar crimes militares definidos em lei nos termos dos Arts. 124 e 125, § 4º da CRFB/88. A
exceção pontuada pelo texto constitucional é quanto à competência do Tribunal do Júri
quando a vítima for civil.
Todavia, antes do advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, a Lei ordinária nº
9.299/96 que modificou o Art. 9º, parágrafo único do Código Penal Militar já havido feito a
ressalva à competência do Júri quanto aos crimes dolosos contra vida praticada por militares
na esfera da Justiça Militar Estadual (LOBÃO, 2006). A lei tratada no texto constitucional
refere-se ao Código Penal Militar que define os crimes militares em tempo de paz e guerra
previsto nos Arts. 9º e 10 do CPM.
Com advento da Emenda Constitucional nº 45/2004 a Justiça Militar Estadual foi
ampliada incluindo o processo e julgamento das “ações judiciais contra atos disciplinares”,
acrescida no Art. 125, § 5º da CRFB/88.
No entanto, nem todo crime praticado por militar o conduz a Vara Militar. Em
relação a isso acompanhe o elucidativo teor da redação da Súmula nº 172 do STJ: “Compete à
Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
praticado em serviço” (LIMA, 2013, p. 320).
Segundo Renato Brasileiro (2013) o crime de abuso de autoridade é crime comum.
Não há previsão desse tipo penal na legislação castrense. Conclui-se tratar de delito de
competência da Justiça Comum. Assim sendo, se o agente é militar estadual e praticou o
delito em serviço a competência é da Justiça Comum Estadual; se o militar é das Forças
Armadas, em igual condição, caberá a Justiça Federal, conforme orientação da Súmula do
extinto Tribunal Federal de Recursos, “Compete à Justiça Federal processar e julgar os delitos
16
praticados por funcionário público federal, no exercício de suas funções e com estas
relacionadas”.
Havendo conexão e continência, a regra desses institutos impõe a unidade do
processo, exceto nos termo do Art. 102, “a” e “b” do CPPM e Art. 79, inciso I do CPP,
respectivamente, ex vi:
Art. 102. A conexão e a continência determinarão a unidade do processo, salvo:
a) no concurso entre a jurisdição militar e a comum;
b) no concurso entre a jurisdição militar e a do Juízo de Menores.
Parágrafo único. A separação do processo, no concurso entre a jurisdição militar e a
civil, não quebra a conexão para o processo e julgamento, no seu fôro, do militar da
ativa, quando êste, no mesmo processo, praticar em concurso crime militar e crime
comum.
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento,
salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
[...]
1
STJ CC 92.547/RS – 3º Seção. Relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Dje 15.10.2008.
18
aplicação da reprimenda. Não se comportando assim, permitirá a apreciação do ato pela via
judicial a ser julgada pelo juízo militar.
Nesse contexto, comenta Hely Lopez Meireles (2012, p. 127), que a
discricionariedade “é sempre relativa e parcial, porque quanto à competência, à forma, e à
finalidade do ato, a autoridade está subordinada ao que a lei dispõe, como para qualquer ato
vinculado”.
Posto que, se o ato administrativo for ilegal o agente poderá se socorrer ao Art. 5º,
XXXV, havendo lesão ou ameaça a direito ou ainda “ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal”, Art. 5º, LIV ambos da CRFB/88.
Ademais, na Constituição Federal está o fundamento para a aplicação da punição
disciplinar em seu Art. 5º, inciso LXI, em que “ninguém será preso senão em flagrante delito
ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”.
O conceito legal de transgressão disciplinar estabelecido no Decreto nº 4.346/2002
aprovado pelo Regulamento Disciplinar do Exército (R–4) localiza-se no Art. 14, com
conteúdo semelhante aos regulamentos da Marinha e Aeronáutica. No âmbito do Estado de
Roraima foi instituída Lei nº 963/2014, também conhecida como Código de Ética e Disciplina
dos Militares do Estado de Roraima (CEDM/RR), neste diploma o conceito está inserido no
Art. 33, respectivamente:
Art. 14 Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária aos
preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à etica, aos deveres e às
obrigações militares, mesmo na sua manifestação elementar e simples, ou, ainda,
que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe.(BRASIL, 2002).
Art. 33. Transgressão Disciplinar é qualquer violação aos princípios da ética, dos
deveres e das obrigações militares, na sua manifestação elementar, e qualquer
omissão ou ação contrária aos preceitos estatuídos em leis, regulamentos e normas.
(RORAIMA, 2014).
inclusão das ações judiciais contra atos disciplinares militares na nova redação do Art. 125, §
5º da CRFB/88.
A respeito dessas demandas, Denilson Feitoza citado por Renato Brasileiro (2013, p.
321) cita exemplos de ações interpostas no juízo militar estadual, como a “ação ordinária de
reintegração no cargo, mandado de segurança contra atos disciplinares, ação de reintegração
no cargo cumulada com indenização, ação declaratória de nulidade e inconstitucionalidade de
ato jurídico cumulada com reintegração”. Adiante, explica Denilson Feitoza que nos Estados
sem cobertura da Justiça Militar Estadual, o juiz de direito decidirá às ações contra atos
disciplinares.
Diante do exposto, ampliação do juízo militar se deu apenas no Estado. No entanto, o
ajuizamento, por militares das Forças Armadas (FFAA), de ações judiciais contra atos
disciplinares, ficou restrito ao Juízo Federal Civil, posto que o texto constitucional (EC nº
45/2004) não contemplou tal possibilidade ao Juízo castrense. Assim, caso um militar federal
e outro estadual queiram ingressar com uma ação judicial – Habeas Corpus – contra uma
prisão disciplinar, aplicada por suas Corporações de origem, o primeiro deverá ajuizá-la na
Justiça Federal e o segundo na Justiça Militar Estadual (LIMA, 2013).
Na jurisprudência, em se tratando de Ação Civil Pública em desfavor de policiais
militares por ato de improbidade administrativa caberá à Justiça Comum. Esse foi o
entendimento do STJ no Conflito negativo de Competência nº 100.682/MG, o acórdão
decidiu que o ato ímprobo do militar estadual, nesse caso, não se dirigiu a ofender
Administração Militar2. Assim, concluiu “Pelo contrário, volta-se a demanda contra o próprio
militar e discute ato de ‘indisciplina’ e não ato disciplinar”. Essa decisão, por sua vez
demonstrou que há um limite do juízo militar em causas civis, e estas não ultrapassam a
fronteira das ações judiciais contra atos disciplinares.
2
STJ. CC 100.682/MG, Rel. Min. Castro Meira, Dje. 18/06/2009.
3
Oficial: Qualquer militar das forças armadas ou da polícia que exerce certo grau de comando e de nível
hierárquico acima de aspirante (no Exército, na Aeronáutica e na Polícia Militar) ou de guarda-marinha (na
Marinha de Guerra); Praça: Indivíduo que, na hierarquia militar (q. v.), se situa abaixo de segundo-tenente.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: O dicionário da língua portuguesa, 8 ed. Curitiba:
Positivo, 2010, p. 543 e p.603.
20
4
STF. RHC nº 66.993/RJ. 2ª Turma. Rel. Min. Francisco Rezek. DJ. 03.03.1989.
22
deve haver prorrogação, salvo justificativa prevista em lei, por exemplo, se ocorrer
insuficiência de oficiais por dicção do Art. 24 da LOJM.
Conselho se reunirá, outra vez, se suceder nulidade do processo, do julgamento, ou até mesmo
por diligência determinada pela instância superior (Art. 59, §2º, “b” do RITJRR).
Já o Conselho Permanente de Justiça, possui regra distinta, inclusive quanto àquelas
adotada na Justiça Militar Federal, que se processam de forma trimestral as substituições dos
membros desse conselho. O recente RITJRR5modificou de três para seis meses a permanência
do Juiz Militar na Corte, ou seja, o prazo foi ampliado no Conselho Permanente de Justiça.
(Art. 59, §2º, “a” do RITJRR).
5
Diário da justiça eletrônico. Ano XIX. Edição Nº 5841, 14.10.2016. Novo Regimento Interno – TJRR.
26
Dito, isto o autor afirma mais adiante que no Brasil, o Direito Penal militar é Direito
Penal especial aplicado por meio da justiça penal militar.
Pois bem, no direito penal militar o objeto jurídico tutelado não é diferente do direito
penal comum, o objeto jurídico protegido pelo Estado são os interesses exclusivos das
instituições militares. Como exemplo, de tal proteção é que no ordenamento jurídico militar
não existe ação penal privada. Desse modo, concluímos que ações penais militares são
promovidas pelo Ministério Público. Assim, enquanto o civil pode propor uma queixa crime
de injúria contra outro civil (Art. 140, CP), não seria possível ao militar promovê-la, pois é
desencadeada através de ação penal pública, pois existe previsão desse tipo no CPM, Loureiro
Neto (2001).
Na visão de Neves e Streifinger (2012, p. 91) chegaram à seguinte definição da idéia
de Direito Penal Militar:
consiste no conjunto de normas jurídicas que têm por objeto a determinação de
infrações penais, com suas consequentes medidas coercitivas em face da violação,e,
ainda, pela garantia dos bens juridicamente tutelados, mormente a regularidade de
ação das forças militares, proteger a ordem jurídica militar, fomentando o salutar
28
A respeito do conceito de direito penal disse Jorge Alberto Romiero (1994, p. 1):
parte do direito penal consistente no conjunto de normas que definem os crimes
contra a ordem jurídica militar, cominando-lhes penas, impondo medidas de
segurança e estabelecendo as causas condicionantes, excludentes e modificativas da
punibilidade, normas essas jurídicas positivas, cujo estudo ordenado e sistemático
constitui a ciência do direito penal militar.
2. 2 CRIME MILITAR
No direito penal militar a delimitação de crime militar sempre foi uma questão
controversa, e continua até hoje em alguns casos. Associado a isto, devemos considerar que
esse conceito perpassou pela evolução dos exércitos. Na atualidade, o direito militar
transcendeu os muros da caserna, agora com múltiplas atribuições possuem norma agendi
peculiar, com regulamentos, estatutos, leis e formação diferenciada do civil. De tudo o mais, o
legislador não poderá se furtar desses aspectos que contribuem para o debate do que seria o
crime propriamente ou essencialmente militar (SOUZA, 2013).
O critério para classificar o crime como militar, originariamente, não seguiu forma
única. A fórmula não veio pronta, acabada, o que predominou desde sempre, foi à análise
sobre as espécies do gênero – ratione materiae e ratione personae – a primeira mais associada
ao direito romano primitivo e a segunda espécie ao direito germânico nos seus primórdios, na
visão de Loureiro Neto (2001).
A respeito do critério de classificação do crime militar, ensina Jorge Cesar de Assis
(2014) o legislador preferiu o critério ratione legis para conceituá-lo. Portanto, para o
legislador, crime militar é aquilo que a lei definiu com tal. Isto não implica dizer que os
critérios ratione materiae, ratione personae, ratione in loci, ratione muneris, ratione temporis
não serão analisados no caso concreto. Longe disso, porque ao estudar os crimes militares em
tempo de paz e guerra (Art. 9º e 10 do CPM) esses critérios ontológicos, ainda que implícitos,
são reconhecidos pela doutrina e auxiliam na fase de classificação do tipo penal.
Nesse sentido, o Código Penal Militar adotou o critério racione legis ao enumerar
taxativamente as hipóteses de crime militar (próprios e impróprios) contidas no Art. 9º, I, II e
III, não desprezou a existência de outros critérios:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei
penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição
especial;
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição
na lei penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar
contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299,
de 8.8.1996)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva,
ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
30
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa
militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no
exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e
preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente
requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando
praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no
7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação
dada pela Lei nº 12.432, de 2011)
A distinção feita pela doutrina entre crime militar próprio ou essencial e crime militar
impróprio ou acidental não é relevante para o ordenamento jurídico e muito menos para
modificar a competência para o seu julgamento. E, portanto caberá a Justiça Militar da União
e Estadual processar e julgar quem os tenha praticados. A exceção é quanto aos crimes
dolosos contra vida de civis praticados por militares estaduais, cuja competência será da
Justiça Estadual Comum nos termos da Constituição, leciona Neves e Streifinger (2012).
Para subdividir o crime militar em próprio (essencial) e impróprio (acidental) se
valeu de determinados critérios para sua configuração, como os que por tradição histórica
(romano-germânico) predominavam os em ratione materiae, ratione personae. Com o
desenvolvimento da ciência militar, novos critérios foram agregados, tais como – ratione in
31
loci, ratione muneris – concepção de Esmeraldino Bandeira citado por Neves e Streifinger
(2012).
Portanto, adotado o critério em “ratione materiae, será delito militar aquele cujo
cerne principal da infração seja matéria própria de caserna, intestinamente ligada à vida
militar” (NEVES; STREIFINGER, 2012, p.114). Conquanto, doutrinadores como
Esmeraldino Bandeira não comunga dessa vertente, pois para ele o critério em razão da
matéria requer o militar no pólo passivo e ativo.
Segundo Jorge Alberto Romiero (1994, p.68), com propriedade e consistência
estabelece que crime propriamente militar:
é aquele que só pode ser praticado por militar, pois consiste na violação de deveres
que lhe são próprios, sendo identificado por dois elementos: a qualidade do agente
(militar) e a natureza da conduta (prática funcional). Diz respeito à vida militar,
considerada no conjunto da qualidade funcional do agente, da materialidade especial
da infração e na natureza peculiar do objeto danificado, que deve ser a disciplina, a
administração, ou a economia militar.
quando decididos em obter armas invadem e atentam contra a vida de militares em serviço,
destroem caixas eletrônicos, furtam material bélico (SOUZA, 2013).
Essas condutas criminosas atentam diretamente contra a instituição Militar, como
bem explicou o Procurador Geral de Justiça Militar Marcelo Weitzel Rabello de Souza (2013,
p. 22) ao defender ponto vista em relação ao crime propriamente militar e sua dupla aplicação
em civis e militares, assim descreveu:
Nesse ponto, foi sábio o Constituinte ao reclamar a definição em lei para os
chamados crimes propriamente militares no que tange à prisão, que pode muito bem,
como medida restritiva da liberdade, sem autorização judicial, ficar adstrita a
militares; também foi sábio em não exigir que à Justiça Militar sejam submetidos
somente os crime propriamente militares, já que tais delitos não têm um arcabouço
jurídico/científico que a apoie, pois o deslocamento do crime propriamente militar,
como aquele ofensivo à Instituição Militar, é bem mais amplo do que aquele
debatido no início do século passado, que envolvia apenas algumas atividades por
parte de militares (diga-se, em sua grande maioria, adstritos ao serviço militar
obrigatório).
Marreiros, Rocha e Freitas (2015, p. 92) fazem uma análise crítica do significado do
conceito de crime propriamente militar, sob a perspectiva da teoria do cubo impossível.
Considerando-o por demais, confuso e impreciso, para expor essa complexidade propõe a
seguinte semelhança entre direito e a geometria:
Se pudéssemos fazer uma comparação entre formas geométricas e o direito penal,
poderíamos dizer que o direito penal comum, em uma complexidade crescente,
estaria para o quadrado, enquanto o direito militar em geral para o cubo. Já o
conceito de crime propriamente militar, no direito brasileiro atual, seria como o cubo
impossível da famosa obra Belvedere, de Escher. Ao olharmos o cubo na gravura
feito com a engenhosidade da perspectiva ilusionista de Escher, achamos que ele é
perfeitamente possível. Mas se tentar executá-lo ou lhe dar uma forma, percebemos
o quanto o impossível engana os olhos para se fazer possível. O mesmo ocorre com
a definição de crime propriamente militar no direito brasileiro. É por isso que damos
a esta análise o nome de teoria do cubo impossível.
Outra classificação mais restrita acolhida pela doutrina é a diferença entre crime
propriamente militar e crime próprio militar. Relembrando a lição de Rogério Greco (2011, p.
427) quanto ao crime próprio, entende e exemplifica o renomado autor, “é aquele que só pode
ser praticado por um grupo determinado de pessoas que gozem de condição especial exigida
pelo tipo penal”. Assim, inicialmente, somente poderá ser responsabilizado por peculato o
funcionário público. Por consectário, e igual razão no infanticídio a mãe.
O crime próprio militar é um tipo específico e, nem todo militar o comete. O agente
para se amoldar ao tipo abstrato deve figurar em posição diferenciada em relação ao objeto
jurídico protegido (bens, serviço, valores). Fato perceptível nos delitos de omissão de
eficiência da força ou na ofensa aviltante a inferior, capitulados nos Arts. 198 e 176 do CPM,
33
Não basta que o fato seja antijurídico. Exige-se que ele se amolde a uma norma penal
incriminadora. Daí decorre a exigência da adequação típica, que consiste na conduta
subsumir-se no tipo penal.
A doutrina mostra duas formas de adequação típica no direito militar. Podem ter as
seguintes terminologias tipificação direta ou indireta (LIMA, 2013) ou ainda, subordinação
imediata ou mediata (MARREIROS, ROCHA, FREITAS, 2015), mas ambas com fim de
proceder à operação de subsunção.
Desse modo, ocorrendo um fato humano e a conduta decorrente dele se amolda com
o texto da norma incriminadora em abstrato e não havendo necessidade de concurso com
outra norma, “diz-se que o fato subordina-se imediatamente àquela norma” (MARREIROS,
ROCHA e FREITAS, 2015, p. 472). Nesses casos, o juízo de tipicidade, não carece de
conjugação de outras normas, basta à descrição contida na Parte Especial do CPM, pois o
inciso I do Art. 9º não tem qualquer circunstância do tipo penal (LIMA, 2013).
Ao passo que na tipificação por subordinação mediata “o comportamento humano
precisa sofrer a incidência de duas ou mais disposições legais, pois não existe uma norma que,
de per si, preveja-o como delito” (MARREIROS, ROCHA e FREITAS 2015, p. 473).
Na lei penal militar os crimes de tipificação indireta estão dispostos no Art. 9º, II, III.
Como esses crimes têm um corresponde na lei penal comum, torna-se indispensável à
conjugação dos elementos desse crime contida na Parte Especial com os elementos de uma
das alíneas dos incisos II, III, do Art. 9º da Parte Geral do CPM, dessa maneira estará
aperfeiçoado o juízo de tipicidade (LIMA, 2013).
Renato Brasileiro (2013, p. 333) ensina que não se pode confundir os conceitos de
crimes militares próprios e impróprios com os crimes de tipificação direta e indireta, para
tanto faz um paralelo entre eles:
1) Todo crime propriamente militar é crime militar de tipificação direta – de fato, se
o crime propriamente militar é a infração específica e funcional do militar, só pode
estar previsto no Código Penal Militar; 2) Nem todo crime militar de tipificação
36
Na sua maioria, o rol dessas atribuições que auxiliam a atividade judiciária é de fácil
compreensão, dentre elas Jorge Cesar de Assis (2012) destaca a alínea “b”, na parte final, a
possibilidade de o magistrado requisitar diligências no curso do inquérito, entretanto deveria
ficar isento de requisitá-las para não ter repercussão na decisão do mérito. Por isso, o autor
com base nos ensinamentos de Carlos Frederico Coelho Nogueira pontua:
não deve o Poder Judiciário imiscuir-se, por iniciativa própria, na atividade
inquisitiva da polícia judiciária, sob pena de se travestir de órgão investigatório, com
todo o envolvimento psicológico e institucional que isso pode acarretar, verdadeiro
ranço do sistema inquisitivo que dominou a história da humanidade durante séculos,
negros tempos em que o órgão acusador era o próprio órgão julgador (ASSIS, 2012,
p. 40)
40
ou não propor a ação penal”, ao passo que o procedimento de instruir se funda na “colheita de
provas para demonstração da legitimidade da pretensão punitiva, ou do direito de defesa”.
Quanto à finalidade do IPM é encontrada no texto da lei processual penal militar
estabelecida no Art. 9º do CPPM com seguinte redação:
Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos têrmos
legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução
provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à
propositura da ação penal.
havendo IPM, se o fato e autoria estão esclarecidos por documentos e provas. Por ser peça
meramente informativa a denúncia pode ser ofertada por intermédio de uma sindicância ou do
auto de prisão em flagrante, Assis (2012).
Para Fernando Capez (2011) o inquérito não é fase obrigatória, haja vista sua
característica ser meramente informativa, com isso o titular da ação penal poderá dispensá-lo.
Esse entendimento é pacifico na doutrina e jurisprudência.
A discussão a respeito das atribuições para investigar o homicídio doloso contra vida
perpetrado por militar no exercício da função perpassa antes pela natureza do delito, uma vez
que o Art. 9º do CPM e seus incisos não terem sidos revogados como sustentam autores
favoráveis a essa tese.
Diante disso, há na doutrina autores com posições diversas. Assim, para Damásio de
Jesus (2007) a interpretação dos dispositivos da Lei nº. 9.299/96 requer uma interpretação
teleológica, por consectário o texto da norma revela a modificação da natureza do crime
militar para crime comum, e não a determinação de que o crime seja julgado pela Justiça
Comum, esclarece o autor.
Segundo Távora e Alencar (2016) o crime praticado pelo militar é comum, na
hipótese em comento deve ser julgado pelo Tribunal do Júri, porém admitem a coexistência
de inquéritos paralelos por não haver impedimento.
Na lição de Lima (2013) por previsão expressa do Art. 82, §2º do CPPM é possível
por meio do IPM investigar crime doloso contra vida de civil cometido por militar em serviço,
não obstante julgado pela Justiça Comum. Trata-se de crime comum.
Ronaldo João Roth (2012, p. 18) cita a posição do Ministro Luiz Vicente
Cernicchiaro do STJ, no Conflito de Competência nº 17665 – SP:
Como, constitucionalmente, o crime militar é da competência da Justiça Militar,
quando a lei determinar que o delito deixará de ser julgado pela Justiça Militar,
lógico, desqualifica-o da natureza anterior. Vale dizer, deixou de ser o crime militar
para ingressar na regra geral-crime comum. Retirou-se-lhe o quid distintivo.
Para Roth (2012) esse pensamento é equivocado por confundir a natureza do crime
com a competência. Assim, na divergência entre promotor e magistrado no delito militar de
tentativa de homicídio ou de lesão corporal. Se admitirem o primeiro, será competente a Vara
do Júri; porém, se decidir pelo segundo o crime é da competência da Vara Militar. Essa é a
ordem que deve ser seguida. Defini-se antes a natureza do delito, conforme bem ilustrou o
autor no Recurso Inominado nº 053/1999 proferido pelo Tribunal de Justiça Militar de Minas
Gerais.
43
Como se verifica três mudanças significativas ocorreram nesses dois artigos, uma na
lei material atribuindo à Justiça Comum competência para julgar crimes dolosos contra vida
de civis; duas na lei processual no que tange a exceção do foro militar quando o crime for
doloso contra vida de civil; e a conseqüente remessa do IPM concluso ou não para a Justiça
Militar, esta por sua vez os remeterá a Justiça Comum. Como se percebe as modificações da
Lei nº. 9299/96 não trataram, especificamente, da natureza do crime militar, apenas conferiu
novo juízo de competência (ASSIS, 2012).
Segundo Jorge Cesar de Assis (2012), a redação do Art. 9º, parágrafo único não
tirou, de modo algum, a natureza jurídica do crime militar previsto no Art. 205 do CPM, cuja
redação é idêntica a do Art. 121 do CP. Igualmente, é o entendimento de que o crime doloso
praticado por militar estadual em serviço continuou sendo crime militar impróprio. Logo, é do
próprio comando do art. 9º, inciso II, os pressupostos para o classificar como crime militar.
44
Assim, se um militar estadual vier a matar uma pessoa, em serviço 8, não bastará
apenas identificar o crime na Parte Especial, é imperioso conjugar o Art. 205 do CPM com o
Art. 9º, II, alínea “c” da Parte Geral, para verificar se esse fato se amolda ao tipo penal militar
em abstrato praticado pelo agente, ou seja, se não encontrar correspondência não será crime
militar:
Art. 205 Matar alguém:
[...] Pena – reclusão, de 6 a 20 anos.
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
[...] II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual
definição na lei penal comum, quando praticados:
[...] c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de
natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração
militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº
9.299, de 8.8.1996)
8
é o que se encontra exercendo função do cargo militar, permanente ou temporário, decorrente de lei, decreto,
regulamento, ato, portaria, instrução, ordem verbal ou escrita de autoridade militar competente. LOBÃO, Célio.
Direito penal militar. Brasília: Brasília jurídica, 2006, p.134
9
STJ.Conflito de Competência – HC: 207.927 RR. Acórdão. Relator: Ministro Gilson Dipp. DJe, 20.06.2012.
45
No mesmo sentido, Célio Lobão (2006, p.138) se posicionou dizendo que a citada lei
“não retirou os crimes dolosos contra vida da categoria de crime militar, como conseqüência
não podem ser julgados pela Justiça comum, sem violação da Lei Fundamental”. Prossegue
afirmando que não haveria ofensa constitucional se o texto da lei tivesse a seguinte redação:
“Não se consideram militares os crimes dolosos contra vida, cometidos nas circunstâncias das
alíneas b, c e d, do inciso II”, do Art. 9º do CPM.
Ainda assim, considerada inconstitucional pela doutrina, o STF e o STJ decidiram
entendê-la constitucional por ser regra de aplicação imediata devido ao seu conteúdo
processual. Os Tribunais dos Estados acompanharam a decisão das Cortes superiores, exceto
o STM, segundo Assis (2002). O STM a declarou de forma incidental a inconstitucionalidade
da Lei nº 9.299/96 no Recurso Inominado nº 1996.01.6348-5 PE.
Segundo Paulo Tadeu Rodrigues Rosa (2014) a controvérsia perdurou no período de
1996 até 2004, porém com a edição da EC nº 45/2004 esse debate, no âmbito estadual, foi
pacificado já que a nova redação do § 4º do Art. 125 da CRFB/88, conferiu ao Tribunal do
Júri o direito outrora da Justiça Militar, como já indicava a Lei nº. 9.299/96.
A alteração ocorrida no § 4º do Art. 125 introduzida pela EC 45/2004 assinalou a
Vara competente no crime doloso contra civil, porém nada disse ter o delito deixado de ser
classificado como crime militar. Isto é, o legislador tratou apenas da transferência de
competência e, portanto ficou incólume a natureza do delito.
Em 2011, a redação do parágrafo único do Art. 9º acrescido pela Lei nº. 9.299/96
tivera outra mudança impulsionada pela Lei nº 12.432/2011, conforme segue:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
[...]Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida
e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando
praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 30310 da Lei no
7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica.
Diante disso, não ocorreu mudança na redação relativa à competência para a hipótese
do crime militar ora analisado. Portanto, o legislador tivera, em 2011, oportunidade para
modificar a sua redação e optou por não fazê-la permanecendo como militar o crime doloso
contra a vida de civil, afastando-o da conotação de crime comum.
10
O art.303 do Código Brasileiro de Aeronáutica, por sua vez, traz regras para a detenção, interdição e apreensão
de aeronave, inclusive prevendo a possibilidade de destruição de aeronave hostil (abate de aeronave), conforme
dispõe o § 2º do mesmo artigo, com regulamentação trazida pelo Decreto Federal n. 5.144, de 16 de julho de
2004. NEVES, Cícero Robson; STREIFIGER, Marcelo. Manual de direito penal militar.2ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p.422.
46
Com isso, podemos dizer que no crime militar primeiro deve-se verificar o juízo de
tipicidade do delito, se de natureza militar, a lei especial (CPM) afastá-lo-á da regra geral,
logo ficará o agente submetido às regras da lei especial, ainda que de forma anômala seja
julgado e processado pelo Tribunal do Júri, como determina a Constituição Federal.
Ademais, sobre a aplicação da lei à luz do direito Marreiros, Rocha e Freitas (2015,
p. 59-60) cita um fragmento de texto produzido por Lênio Streck em conjunto com Vicente de
Paulo e Rafael Tomaz, perfeitamente aplicado nessa conjectura:
É por isso que, em um Estado Democrático de Direito, mesmo que sejamos todos a
favor de uma causa, é necessário esperar pelo legislador! Aliás, como bem diz
Dworkin, não deve importar ao direito o que os juízes pensam sobre o direito, sobre
a política, futebol, etc. Aplicar o direito quer dizer ‘fazer interpretação com base em
argumento de princípios’ e não ‘por argumentos pessoais’, etc. Portanto, quando se
pergunta ao judiciário sobre alguma coisa, então esse não pode responder com
argumentos pessoais, políticos, morais, etc. em uma democracia não se quer saber o
que o juiz pensa sobre determinado fenômeno; o que se quer saber é como se pode
alcançar uma resposta a partir do direito. E, definitivamente, o direito não é, e não
pode ser, aquilo que o judiciário ‘diz que é’!
íntegro no Art. 205 do CPM, ainda que praticado contra civil”, assim concluiu afirmando “que
sendo crime militar somente a polícia judiciária militar é que poderá apurá-lo”.
Como se pode constatar, não se tem dúvida quanto à competência para processar e
julgar o militar estadual que venha a praticar um crime doloso contra vida de um civil, no
desempenho de suas funções, cabendo tão somente ao Tribunal do Júri.
Superada a fase da competência, a controvérsia se instalou sobre quem tem
atribuição para investigar o referido delito, a Polícia Judiciária Militar ou a Polícia Judiciária
Esse conflito, por sua vez, tem origem na atecnia produzida pelo legislador ao editar
a Lei nº. 9.299/96 que trouxe na sua redação conteúdo material e processual. Fato que
ocasionou até o presente momento elevada discussão na doutrina e nos Tribunais, sobre quem
deve investigar esse crime Trata-se de crime comum ou militar
Com isso, a Polícia Civil, no sentido de ampliar suas funções de Polícia Judiciária,
começou a instaurar inquéritos paralelos aos inquéritos instrumentalizados na Polícia Militar.
Essa medida era adotada incontinente, porque os delegados entendiam que o homicídio
praticado pelo militar estadual, em serviço, teria uma nova roupagem. Isto é, ganhara status
de crime comum e, por dedução não havia óbice para instaurá-los ou de forma mais
contundente efetivar o flagrante delito do militar em serviço.
Inconformados com a abertura de IPM, a Associação dos Delegados de Polícia do
Brasil (ADEPOL), em 1997, ajuizou no STF a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1494
– DF vejamos a ementa:
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CRIMES
DOLOSOS CONTRA A VIDA, PRATICADOS CONTRA CIVIL, POR
MILITARES E POLICIAIS MILITARES - CPPM, ART. 82, § 2º, COM A
REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 9299/96 - INVESTIGAÇÃO PENAL EM SEDE
DE I.P.M. - APARENTE VALIDADE CONSTITUCIONAL DA NORMA LEGAL
- VOTOS VENCIDOS - MEDIDA LIMINAR INDEFERIDA.
O Pleno do Supremo Tribunal Federal - vencidos os Ministros CELSO DE MELLO
(Relator), MAURÍCIO CORRÊA, ILMAR GALVÃO e SEPÚLVEDA PERTENCE
- entendeu que a norma inscrita no art. 82, § 2º, do CPPM, na redação dada pela Lei
nº 9299/96, reveste-se de aparente validade constitucional.
O Supremo não encampou a tese impugnada, e decidiu que a Justiça Militar fará o
exame se o delito é ou não doloso. Ademais, foi favorável à investigação do crime via IPM,
logo tal atribuição é da Polícia Judiciária Militar, entretanto não impediu inquérito paralelo
como pontuou Ministro Sydney Sanches, e se ocorrer conflito de competência, isto “se
resolverá pelos meios previstos na constituição e nas leis processuais”.
Em outubro de 2008, com idêntico intuito, a ADEPOL ajuizou perante o STF a ADI
nº 4164 – DF convictos de que os dispositivos da Lei 9.299/96 são inconstitucionais, com
fundamento nos Art. 5º, LIII, LIV; Art. 144, §1º, IV e §4º ambos da CRFB/88. E com isso,
sustentou impedir a Polícia Judiciária Militar de promover inquéritos militares quando seus
integrantes, em serviço, venham a ceifar a vida de civil.
Conquanto, até o presente momento, essa ação não foi julgada, muito embora, em
maio de 2010 a Advocacia Geral da União – AGU se manifestou, no mérito, pela
improcedência da ADI, por pretensão insubsistente.
A AGU, de início, confirmou a fixação da competência do Júri, mas afirmou que isto
“não é suficiente para que se conclua pela inviabilidade da apuração dos mesmos pela
autoridade militar”. Com isso, corrobora ser da atribuição da Polícia Judiciária Militar a
prerrogativa de apurar crime militar.
Disse que fato praticado contra civil não tem a faculdade de desnaturar a qualidade
de militar do agente, e as condutas praticadas por ele “devem ser submetidos à investigação
da autoridade policial militar”.
Ademais, afirmou que os dispositivos legais ora atacados ainda que atinjam civis não
deixam de ser praticados “por militar em serviço ou atuando em razão da função [...]”,
hipótese do Art. 9º, II, “c” do CPM, portanto concluiu ser o crime de natureza militar.
Em julho de 2013, houve manifestação do Ministério Público Federal (MPF)
pugnando pela improcedência dos pedidos na ADI, uma vez que os dispositivos impugnados
pela parte autora estão de acordo com o mandamento constitucional.
Igualmente, observou o MPF que os militares têm tratamento diferenciado em
relação aos civis. Tal distinção leva em conta às duras regras, valores e princípios da caserna,
sobretudo, a disciplina e a hierarquia. E se a conduta militar é decorrente do exercício de
função, e venha atingir um civil, como no crime doloso contra vida, o seu julgamento não
alcança o jurisdicionado militar, mas a apuração do crime residirá no âmbito militar:
49
11
STJ. RHC 21.560/PR, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 07/02/2008, DJe 12/05/2008.
12
STJ. CC 144.919/SP, Rel. Ministro Felix Fischer, Terceira Seção, julgado em 22/06/2016, DJe 01/07/2016.
50
Neste conflito positivo o STJ entendeu que o juízo natural por onde deve tramitar o
inquérito é o da Justiça Comum. O conflito foi suscitado porque a Vara do Júri alegou
ingerência indevida na investigação do juízo militar em crimes praticados por militares do
Estado. Esclareceu o STJ que a Vara Militar deveria remetê-los de imediato, não se admitindo
qualquer valoração sobre o fato que não lhe compete analisar, muito menos arquivar
inquéritos, tudo em obediência ao estabelecido no Art. 82, § 2º do CPPM.
Por conseguinte, quanto ao conflito de atribuição na condução do inquérito entendeu,
nesse caso, ser da Polícia Judiciária. Desse modo, veja o fragmento do voto do relator:
[...] não há dúvida que será também o juízo administrativo competente para conduzir
o inquérito policial, ainda que com funções limitadas de verificar regularidades
procedimentais, com raras exceções legais de decisões (prisão temporária, busca e
apreensão, arquivamento, etc.).
[...] Desse modo, não há como dissociar a fase investigativa da fase processual,
de modo a se criar um juízo de inquérito e outro de processo, como se o sistema
processual (incluído pré-processual) brasileiro fosse misto ou francês. No
sistema processual misto (francês), tem-se a figura do juiz instrutor e do juiz
julgador, exposto por Renato Brasileiro de Lima, na obra Manual de Processo Penal,
3ª Edição, 2015, Editora JusPODIVM, folha 41:
‘A primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem
acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e
autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador
apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a
publicidade e a oralidade’.
Não há como permitir que inquéritos policiais que versam sobre crimes dolosos
contra a vida praticado por militar em face de civil continuem sendo
conduzidos pela Justiça Castrense, porque não é dela a competência
constitucional de processar e julgar a ação penal.
Imperioso anotar que, nesta fase, vigora o princípio do in dubio pro societate e não
comporta valorações por juízes especializados, como se percebe com alguns
arquivamentos de inquéritos policiais militares, uma vez que se trata de usurpação
de possível competência do juízo da causa.
Assim sendo, a regra é que a Justiça Comum conduza o Inquérito Policial
administrativamente e, caso perceba claramente não se tratar de delito doloso
51
Dessa maneira, para o STJ a Justiça Comum é o juízo da ação, por consectário fará o
controle da regularidade do inquérito dirigido pela autoridade policial, ainda que delito seja
praticado por militar em serviço ou atuando em razão da função. O acórdão, unânime, criticou
que não seria possível no ordenamento jurídico nacional fragmentar a fase da investigação da
fase processual, como ocorre no sistema francês.
A fixação, como regra, do órgão persecutório da Polícia Judiciária é sua vinculação
ao juízo da causa, pois caberá ao jurisdicionado resolver os incidentes da fase pré-processuais
que por ventura seja solicitado pelo encarregado do inquérito, como por exemplo, decidir
sobre pedido de prisão temporária, busca e apreensão e o que for pertinente ao caso concreto.
A conclusão do voto do relator tivera por base a teoria dos poderes implícitos do
Direito Norte Americano acentuada pela Corte. Essa teoria sustenta que se a Constituição
Federal conferiu determinada função a um órgão ou instituição, por dedução lhe confere
tacitamente outros poderes, como meio de viabilizar a consecução de suas atividades.
Assim, o STJ sustentou essa teoria para subsidiar o acórdão e atribuir, ao legítimo
juízo natural, poderes para dirimir todas as questões que lhes sejam apresentadas, e por
congruência estabelecer na Polícia Judiciária o órgão incumbido do inquérito policial para
investigar esse delito.
Ao final, acrescentou ser possível, o sistema de parceria entre os órgãos policiais
para realizar diligências se houver colaboração, porém com “única autoridade condutora e um
só juízo administrativo competente”, não sendo esta possibilidade causa de nulidade.
Conquanto, não tratou diretamente da classificação do delito, já que essa conduta se
amolda ao tipo do Art. 205 do CPM combinado com o Art. 9º, II, alínea “c”, nem disse se o
crime era comum ou se o delito foi revogado.
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
correspondente na legislação penal comum aplica-se esta. Neste caso, o infrator será
processado e julgado pela Justiça Comum, se não houver correspondência o fato é atípico.
Com exceção dos crimes dolosos contra a vida de civil, a Justiça Militar através dos
Conselhos de Justiça é quem julga os militares. Esses Conselhos existem tanto na Justiça
Militar Federal quanto na Justiça Militar Estadual sua formação é composta por colegiados
que podem ser de duas espécies, o Especial e o Permanente. O primeiro é um colegiado
formado para processar e julgar oficiais e o segundo as praças.
Na Justiça Militar Federal a presidência desses Conselhos é do oficial de posto mais
elevado, porém na Justiça Militar Estadual é do Juiz de Direito da Vara Militar. Com isso,
observou-se a importância dos colegiados também serem formados por militares a fim de que
participem ativamente das decisões sobre temas específicos de sua atividade militar e, assim
apliquem de forma justa a reprimenda que o caso requer.
Os órgãos de segunda instância da Justiça Militar são o Superior Tribunal Militar,
Tribunais de Justiças e Tribunais Militares Estaduais. Este último existe apenas em três
Estados, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, sendo o STM juízo ad quem da
Justiça Militar Federal os demais da Justiça Militar Estadual, conforme a unidade da
federação possua ou não Tribunal Militar Estadual, não havendo o órgão recursal serão os
Tribunais de Justiças Estaduais.
No segundo capítulo, viu-se que o direito penal militar é especial, suas normas
tutelam a regularidade das Instituições Militares. Desse modo, os destinatários dela são os
militares e, secundariamente, os civis uma vez que cometem o crime militar de forma
incidental. Atualmente, como se examinou preferiu o legislador classificar o crime militar em
ratione legis, enumerando taxativamente, as suas possibilidades no Art. 9º, I , II e III, mas isto
não impede a utilização de outros critérios na fase de classificação do tipo, como o ratione
materiae, ratione personae, ratione in loci, ratione muneris, ratione tempori, muito embora
no julgamento do crime isto seja irrelevante.
Dessa forma, o crime militar próprio é uma infração penal específica e funcional em
que o militar viola um dever próprio da caserna o qual foi penalmente tutelado e tem
correlação direta com a disciplina e a hierarquia militares. É o caso abandono de posto, do
motim, da revolta, esses tipos penais somente existem na norma penal militar, a sua
caracterização como crime militar não se exige a conjugação da parte especial com a geral do
Código Penal Militar.
54
II, alínea “c”, ambos do CPM, portanto um delito previsto em norma penal especial não
revogada, e por via de conseqüência afasta a aplicação da lei penal comum.
Verificou-se que o conflito de atribuições entre a Polícia Judiciária Militar e Polícia
Judiciária surgiu com o advento da Lei ordinária nº 9.299/96 ao acrescentar,
substancialmente, o parágrafo único no Art. 9.º do CPM e alterar o caput do Art. 82, e
acrescentar-lhe o § 2º do CPPM e até hoje essa discussão persiste no campo doutrinário e nos
tribunais.
O pano de fundo dessa lei ordinária tem sua origem na década de noventa com as
chacinas da Candelária, Vigário Geral, Carandiru, Eldorado dos Carajás praticada por
policiais militares. Com isso o Congresso Nacional foi pressionado pela mídia e pela
população dos estados onde ocorreram esses massacres, por sua vez editou a Lei nº 9.299/96.
Importante destacar que antes do surgimento dessa lei ordinária o crime doloso contra vida
praticado por militares estaduais ou federais era da competência da Justiça Especializada,
estivesse ou não o militar de serviço.
O estudo realizado condensou informações onde o Supremo Tribunal Federal
entendeu, em 1997, na ADI 1494 DF que a Lei ordinária nº 9.299/96, ora impugnada, era
constitucional por ter conteúdo de natureza processual penal, portanto de aplicação imediata.
Diante disso, e conforme destacou a Suprema Corte, a própria lei processual penal militar
quer que o homicídio doloso contra vida de civil cometido por militar estadual em serviço seja
apurado pela Polícia Judiciária Militar Estadual e não pela Polícia Judiciária, na dicção do
Art.82, §2º do CPPM.
Ademais, não é coerente afastar-se dessa convicção, pois a redação da lei processual
penal militar é inequívoca ao estabelecer a seguinte regra, “a Justiça Militar encaminhará os
autos do inquérito policial militar à justiça comum”.
As mudanças solidificadas pela Lei nº 9.299/96 e, posteriormente,
constitucionalizada pela Emenda Constitucional 45/2004, tivera por finalidade efetivar o
deslocamento de competência da Vara Militar para a Vara Comum, estabeleceu o foro
especial aos militares, e por fim indicou que a Justiça Militar deve encaminhar o inquérito
policial militar a Justiça Comum, caso o crime seja doloso contra vida de civil. Logo, com
isso, a lei e a jurisprudência mantiveram a investigação do homicídio doloso em estudo, por
primazia, com a Polícia Judiciária Militar, em consonância com a regra estabelecida no
Art.144, §4º da Constituição, in fine, ao excluir da Polícia Judiciária à apuração dos crimes
militares definidos em lei.
56
delito, do juízo competente da fase pré-processual e da fase policial, bem como do órgão
incumbido de investigar o crime doloso contra vida de civil, não se têm a pretensão de exaurir
o objeto do estudo.
Todavia, somos levados a inferir ser da competência do Supremo Tribunal Federal se
manifestar na ADI n.º 4.164 – DF, em tramitação acerca de mais de oito anos, sob a
constitucionalidade ou não dos dispositivos impugnados da Lei n.º 9.299/96 e decidir os
conflitos tanto de atribuição entre as polícias judiciárias, como da existência dos conflitos de
competência existente quanto ao juízo natural entre a Justiça Militar e a Justiça Comum no
que se refere, somente, a fase pré-processual e fase policial, visto ser pacífico na doutrina e
jurisprudência que nos crimes dolosos contra vida o juízo competente é o Tribunal do Júri, e
ainda, acrescentar que esses conflitos ora analisados em nada contribuem para a razoável
duração do processo como assegura a Constituição Federal.
58
REFERÊNCIAS
ASSIS, Jorge Cesar de. Código de processo penal militar anotado. Vol. 1, 3 ed. Curitiba:
Juruá, 2012.
______. Direito militar: aspectos penais, processuais penais e administrativos. 2 ed. rev. e
atual. Curitiba: Juruá, 2012.
______. Código Penal Brasileiro (Decreto lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940). 12ª ed.
rev., atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
______. Código Penal Militar (Decreto lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969). 12ª ed. rev.,
atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
______. Código de Processo Penal Militar (Decreto lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969).
12ª ed. rev., atual. ampl. Vade Mecum RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
______. Lei n. 8.457, de 04 de setembro de 1992. Organiza a Justiça Militar da União e regula
o funcionamento de seus Serviços Auxiliares. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 08. set. 1992. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm>. Acesso em: 23. Jan. 2017.
59
______. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Habeas Corpus – HC: 81.438 RJ. Decisão.
Relator: Ministro Nelson Jobim. DJ. 10.05.02. Disponível em: <http
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=78755 > Acesso em:
cesso em: 23 jan. 2017.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 27. ed.
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