Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
É importante dizer que nossa preocupação neste ensaio não é com a forma de
ambos os poemas, mas com a mensagem que cada um passa sobre a pátria. Logo,
características como: rima, métrica, formas estróficas e outras não serão examinadas.
Contudo, trataremos de qualquer aspecto formal se este for de importância para o
contraste entre os poemas, interferindo na interpretação.
Por fim, este ensaio tem seu foco nos poemas e não nos contextos histórico-
sociais ou na vida pessoal dos autores, porém algumas considerações sobre tais
dados serão necessárias para que consigamos fazer a relação entre os poemas e sua
atual relevância, pois para o entendimento de certas partes dos poemas será
necessário um conhecimento histórico da época, que agirá como uma ferramenta
para a análise, mas nunca colocado como razão de existência dos poemas.
1
Canção do Exílio – A análise
Os exageros
O poema já começa com um título forte, pois temos nele a palavra exílio que
traz um peso grave ao discurso do poema. Ao lermos apenas o título é possível que
imaginemos se tratar de alguém que foi forçado a sair de seu país e está preso, longe
de sua pátria, porém sabemos que Gonçalves Dias estava em Coimbra estudando e
podia voltar ao Brasil quando bem quisesse, pois naquela época, assim como
atualmente, estudar na Europa é apenas para quem tem uma boa condição financeira.
Deduzimos então que o título foi feito para acentuar o sentimento nostálgico que
envolve o poema.
A idéia de perfeição da pátria em vista do lugar de exílio pode ser vista no uso
da palavra “primor”, que em um de seus sinônimos é interpretada como perfeição,
logo vemos que a visão do eu lírico sobre a pátria também é exagerada e
ultranacionalista ao afirmar que encontra mais prazer em seu país e assim
desprezando qualquer qualidade do seu lugar de exílio. Então, aqui estabelecemos
que há um discurso perfeccionista sobre o Brasil e por outro lado um discurso de
desvalorização das qualidades do continente europeu.
2
O Recorte histórico e a Visão limitada
Propaganda patriota
Como foi dito na seção anterior, O início do século XVII foi de grandes
acontecimentos mundiais e nacionais. O Brasil era recém independente e com todos
os problemas que tinha, precisava de alguma propaganda favorável ao país e é por
isso que nesta fase muitos escreveram, ainda que não propositalmente, para exaltar a
pátria e os elementos da mesma; vemos no poema que com Gonçalves Dias não foi
diferente. A nostalgia expressa nos versos do poema pode ser vista como um certo
orgulho de ser brasileiro, pois havia a esperança de que melhoras estavam por vir.
3
eu lírico quer desfrutar os prazeres de um lugar recém formado, um país que acabou
de nascer e tudo o que nele há é novo que nos dá o contraste com o velho da Europa
onde estava Gonçalves Dias quando escreveu “Canção do exílio”. Enfim, o poema
serviu como um convite para que o Brasil não fosse visto como um lugar de
confusão e precariamente desenvolvido, mas como um lugar agradável e desejável
de estar.
A escravidão
O poema foi escrito em 1925, fato que enfatiza ainda mais a seriedade do
problema racial, pois já se passavam 37 anos que o negro no país tinha deixado de
ser escravo, mas essa condição de liberdade estava apenas no papel, porque na
realidade a situação do negro no país em muitos aspectos não era ainda de igualdade
com os outros e é neste absurdo que Oswald de Andrade aproveita para fazer no
poema sua primeira sátira da pátria.
4
Palavras que destoam
O nacionalismo preservado
5
podem não ser apenas aves, porém a representação de uma arte totalmente brasileira,
feita por brasileiros, que tem uma identidade cultural e que buscam uma
independência cultural e política.
O futuro e o Progresso
O clima do novo também tomou conta das artes, pois a proposta era cortar os
laços com o passado e produzir uma arte livre de formas e regras. Surgem então as
vanguardas européias, que dentre elas podemos citar o expressionismo, futurismo,
cubismo, dadaísmo e o surrealismo. O modernismo brasileiro foi fortemente
influencia por essas Vanguardas e Oswald de Andrade tem influências do Futurismo
e do Cubismo.
Nos últimos versos do poema vemos que há o uso de uma metonímia quando
O desejo de voltar para o Brasil expresso por Gonçalves Dias é substituído pelo
desejo de voltar a São Paulo, no poema de Oswald de Andrade. São Paulo já é a
capital financeira do País onde tudo acontece, onde estão as fábricas e onde ocorrem
as grandes negociações. Não há aqui neste final do poema a mesma idéia de um país
apenas reconhecido por suas belezas naturais, mas agora este país também está em
desenvolvimento e crescendo economicamente.
6
do café bebido no mundo era brasileiro, portanto o que está retratado no poema é
exatamente o pensamento de quase todo brasileiro na época de pensar que este
progresso seria continuo e enfim o Brasil teria a sua ascensão. O que Oswald de
Andrade, assim como qualquer um, não esperava era que 1929 o mundo entraria em
crise devido à quebra da bolsa de Nova Iorque.
Considerações finais
Por fim, é possível dizer que em “Canto de regresso à pátria” o Brasil que
era diferente da Europa por suas belezas naturais, como descrito no poema de
Gonçalves Dias, estava tornando-se cada vez mais parecido com o lugar de exílio do
eu lírico em “Canção do exílio”, devido ao crescimento da vida urbana e ao
desenvolvimento das cidades, especialmente São Paulo que experimentava o fervor
das mudanças do início do século XX. Apesar de diferentes, os poemas abordam um
tema nacionalista e de exaltação a pátria que se transformou no espaço de tempo que
separa os dois poemas e que vem em constante transformação até hoje.
7
Bibliografia