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Departamento de Física

Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

Método de "inquiry"

1. O que é o "inquiry" ?

Dewey (1958) define o "inquiry" como uma relação dialéctica entre aquele que
questiona e aquele que é questionado.

O ensino das ciências através de "inquiry" tem tido várias leituras, de acordo
com diferentes perspectivas de ensino. Alguns autores enfatizaram a
participação activa do aluno, associando o "inquiry" com a aprendizagem
activa ("hands-on"); outros procuraram relacioná-lo com a abordagem de
descoberta ou com o desenvolvimento de competências relacionadas com o
chamado método científico. Contudo, o método de "inquiry" não deve
confundir-se com nenhuma destas abordagens.

De um ponto de vista científico, o método de "inquiry" procura sensibilizar os


estudantes acerca da natureza investigativa da ciência. Novak (1964) sugeriu
que o "inquiry" é o conjunto de comportamentos dos seres humanos
envolvidos na busca de explicações aceitáveis para os fenómenos acerca
dos quais sentem curiosidade". Assim, o "inquiry" envolve, de facto, actividade
e competências, mas a tónica está na procura activa de conhecimento e
compreensão para satisfazer uma curiosidade.

As formas de actuação dos professores para conseguir o envolvimento dos


estudantes na procura activa de conhecimento são extremamente variadas:
alguns advogam métodos estruturados de "inquiry" guiado (Igelsrud, Leonard,
1988) enquanto outros defendem o fornecimento de poucas instruções aos
alunos (Tinnesand, Chan, 1987). Outros propõem o uso de instrumentos
heurísticos de ajuda ao desenvolvimento de competências (Germann, 1991).

No entanto, em qualquer dos casos se verifica a aquisição e interpretação de


informação como resposta à curiosidade e à exploração.

Numa perspectiva pedagógica, o ensino através de "inquiry", reflectindo o


modelo construtivista da aprendizagem, é frequentemente posto em contraste
com o método expositivo tradicional; por vezes surge com a designação de
aprendizagem activa. De acordo com os modelos construtivistas, a
aprendizagem é o resultado de modificações nas estruturas mentais, à
medida que procuramos encontrar significado nas nossas experiências
(Osborne, Freyberg, 1985). Quando os alunos são encorajados a encontrar
significado, são geralmente envolvidos no desenvolvimento e reestruturação
dos seus esquemas de conhecimento, através de experiências com
fenómenos, de discussões exploratórias e intervenções do professor (Driver,
1989).

Os resultados da investigação mostram ser provável que os estudantes


comecem a compreender o mundo natural se trabalharem directamente com
os fenómenos naturais, usando os seus sentidos para observar e usando
instrumentos para ampliar o poder dos seus sentidos.
Na sua essência, o ensino através de "inquiry" envolve os estudantes em
investigações para satisfazer curiosidades, sendo estas satisfeitas quando os
indivíduos construíram estruturas mentais que explicam adequadamente as
suas experiências. Uma implicação é que o "inquiry" é sempre estimulado pela
curiosidade: não há investigação autêntica nem aprendizagem significativa se
não existir um espírito interrogativo em busca de uma resposta, solução,
explicação ou decisão.

2. Porquê ensinar através de "inquiry"

Embora alguns autores coloquem sérias reservas ao suposto sucesso do


ensino das ciências baseado na actividade e no trabalho laboratorial (Hodson,
1990), estudos acerca do ensino baseado em "inquiry" (Anderson et al., 1982;
Mechling, Oliver, 1983; Shymansky et al., 1990; McDermott et al., 2000) têm
sido favoráveis a este tipo de abordagem. Programas baseados em "inquiry",
de uma forma geral conduzem a uma melhoria no desempenho dos alunos,
particularmente no que se refere a competências laboratoriais, incluindo
utilização de gráficos e interpretação de dados (Mattheis, Nakayama, 1988).
Existem também evidências de que o ensino baseado em "inquiry" promove a
literacia científica e a compreensão dos processos da ciência (Lindberg,
1990), a aquisição de vocabulário e compreensão de conceitos (Lloyd,
Contreras,1985, 1987), o pensamento crítico (Narode et al., 1987), atitudes
positivas em relação à ciência (Kyle et al., 1985; Rakow, 1986), melhor
desempenho em testes de conhecimento processual (Glasson, 1989) e
construção de conhecimento lógico-matemático (Staver, 1986).

Um aspecto importante é que o "inquiry" parece ser especialmente valioso


para populações desfavorecidas. Num estudo efectuado, alunos de uma etnia
minoritária adquiriram formas científicas de pensamento e expressão oral e
escrita, através do ensino baseado em "inquiry" (Rosebery et al., 1990).
Explorações activas em ciência têm sido também advogadas para ensinar
alunos surdos (Chira, 1990).

Note-se que os efeitos do "inquiry" no desempenho dos alunos podem variar


de acordo com o seu desenvolvimento cognitivo (Germann, 1989) e que a
ênfase neste método de ensino não exclui necessariamente o uso de livros de
texto ou outros materiais didácticos; contudo, tais recursos só serão
adequados se forem capazes de despertar a curiosidade e o espírito
investigativo.

Resumo dos resultados da investigação:

• Quando o ensino através de "inquiry" é implementado, ele resulta, isto é,


verifica-se uma melhoria da aprendizagem.
• É possível implementar este método de ensino, mas não é uma tarefa fácil.
• As barreira e dilemas verificados na sua implementação estão intimamente
relacionados com as concepções básicas dos professores acerca do
ensino e da aprendizagem.
• Os professores necessitam de ser bastante apoiados para implementarem
este método de ensino.

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3. Características do "inquiry"

Podemos identificar cinco características do processo de "inquiry":

• Observação

A ciência começa com a observação da matéria ou dos fenómenos. É aqui


também que se deve iniciar o "inquiry", já que apenas questões bem
formuladas poderão guiar o aluno nas suas observações; este é um aspecto
crucial do processo de observação.

• Medição

A descrição quantitativa de objectos e fenómenos é uma prática desejável em


ciência devido ao inestimável valor das descrições precisas e exactas.

• Experimentação

As experiências são concebidas para testar questões e ideias, e, como tal,


são fundamentais em ciência. As experiências envolvem questões,
observações e medições. Distinguem-se de simples observações, já que o
experimentador dispõe da possibilidade de efectuar o controle de variáveis.

• Comunicação

Comunicar resultados à comunidade científica e ao público é uma obrigação


do cientista e é uma parte essencial do processo de "inquiry". Pensamento
independente e honestidade são essenciais para relatar resultados de
observações e medições.

• Processos mentais

Alguns processos mentais essenciais ao "inquiry": raciocínio indutivo,


formulação de hipóteses e teorias, raciocínio dedutivo, analogia, extrapolação,
síntese e avaliação. Outros processos como a imaginação e intuição podem
também ser incluídos.

4. Quando é indicada a utilização deste método ?

Tamanho do grupo - de 1 a 12 alunos, embora grupos maiores possam


ser subdivididos.
Temas - pouco familiares ao aluno e que potencialmente conduzam a
problemas estimulantes, mas solúveis.
Recursos - cuja manipulação esteja ao alcance dos alunos envolvidos.
Tempo disponível - sem limites rígidos.

Texto de Adriano Sampaio e Sousa

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