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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. SENTENÇA

1.1 ESTRUTURAÇÃO DA SENTENÇA

De uma maneira geral, nas sentenças, pode ser visualizada a seguinte estrutura:
1. VERBETE: Designado pelo nome do tipo penal;
(a) EMENTA:
2. SUMÁRIO: Discussão dos principais pontos
controvertidos;
3. EMENTA OFICIAL: Trecho da doutrina ou jurisprudência.
(b) RELATÓRIO: Resumo do processo, narrando-se o seu curso; sem juízo de valor.
CAUSAS DE (c) FUNDAMENTAÇÃO, MOTIVAÇÃO OU FUNDAMENTOS: Deve ser mínima (não se
NULIDADE
ABOLUTA
confundindo "fundamentação sucinta com falta de motivação”). Nesta há cotejo
das provas, que demonstrarão indícios de autoria e materialidade, sem uma
organização de hierarquia entre as mesmas.
(d) DISPOSITIVO OU CONCLUSÃO: É feita a DOSIMETRIA da pena, que deverá obedecer
o sistema trifásico: 1º Pena Base (art. 59, CP); 2º Agravantes e Atenuantes; 3º
Causas de Aumento e Diminuição de Pena.

Art. 59 O juiz, atendendo à culpabilidade, aos Concurso de circunstâncias agravantes


antecedentes, à conduta social, à e atenuantes
personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e conseqüências do crime, bem
Art. 67 No concurso de agravantes e
como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e atenuantes, a pena deve aproximar-se do
suficiente para reprovação e prevenção do limite indicado pelas circunstâncias
crime: preponderantes, entendendo-se como tais
as que resultam dos motivos
I - as penas aplicáveis dentre as determinantes do crime, da
cominadas; personalidade do agente e da
reincidência.
II - a quantidade de pena aplicável, dentro
dos limites previstos; Cálculo da pena

III - o regime inicial de cumprimento da Art. 68 A pena-base será fixada


pena privativa de liberdade; atendendo-se ao critério do art. 59 deste
Código; em seguida serão consideradas as
IV - a substituição da pena privativa da circunstâncias atenuantes e agravantes;
liberdade aplicada, por outra espécie de pena, por último, as causas de diminuição e de
se cabível. aumento.

(e) AUTENTICAÇÃO
OBS: CAUSAS DE AUM. E DIM.
DA SENTENÇA (CPP)
1º Aumento; 2º Diminuição
Art. 381. A sentença conterá:
I - os nomes das partes ou, quando não possível, as Se incidirem:
indicações necessárias para identificá-las;
II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; 2 da PART. ESP.: Só aplica UMA
III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que
se fundar a decisão; 2 da PART. GERAL
Aplica as
IV - a indicação dos artigos de lei aplicados;
1 GERAL e 1 ESP. DUAS
V - o dispositivo;
VI - a data e a assinatura do juiz.
No momento de sentenciar, o juiz poderá ainda se deparar com situações que
implique em “emendatio líbelli “ e ” mutatio libelli”. A forma de enfrentamento dessas
questões está positivada nos artigos 383 e 384, CPP e guarda íntima relação com os
princípios da CORRELAÇÃO e da CONSUBSTANCIAÇÃO.

 CORRELAÇÃO: Uma congruência lógica entre o que lhe foi apresentado e a sentença;
não podendo o juiz agravar, e devendo analisar com base na acusação (libelli). O juiz
deve sentenciar de acordo com o que foi pedido.

 CONSUBSTANCIAÇÃO: O acusado se defende dos fatos e não da capitulação legal


dada a eles pelo Ministério Público.

1.2 PRINCÍPIOS DA SENTENÇA

1. LEGALIDADE
2. INDIVIDUALIDADE
3. PROPORCIONALIDADE
4. PERSONALIDADE
5. HUMANIDADE
6. DIGNIDADE
7. NECESSIDADE DA PENA
8. SUFICIÊNCIA

1.3 EMENDATIO LIBELLI (art. 383 e parágrafos, CPP)

É uma CORREÇÃO na CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA DO DELITO, feita na sentença.

Consoante prevê o art. 383, do CPP, o juiz, sem modificar a descrição do fato
contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave (emendatio libelli). Neste caso, a denúncia
ou a queixa já contém toda a descrição fática do crime que o juiz está a reconhecer na
sentença, havendo simples equívoco na indicação do tipo penal pelo Parquet ou pelo
querelante.

OBS1: NÃO há a possibilidade de se agregar ELEMENTARES e Circunstâncias, pois nesse caso


se caracteriza a mutatio libelli.

OBS2: Nos casos em que surgir inovação fática (instrução dá conta de fatos diversos), o MP
deve aditar.

OBS3: A emendatio libelli aplica-se às AÇÕES PENAIS PÚBLICAS e às AÇÕES PENAIS


PRIVADAS.

OBS4: A emendatio libelli pode ser aplicada até mesmo na fase recursal, desde que não
implique reformatio in pejus.

OBS5: NÃO há a necessidade de oitiva prévia das partes (conquanto seja recomendável,
diante do princípio do contraditório)
1.2.1 JUIZ CORRIGE DE OFÍCIO

Há três situações possíveis:

(1) DEFEITO NA CAPITULAÇÃO: Houve um erro de dispositivo. Situação na qual o juiz


profere sentença condenatória ou decisão de pronúncia em conformidade exata com
o fato descrito na denúncia ou na queixa, apenas corrigindo a capitulação trazida na
inicial. Pode, inclusive, aplicar pena maior em virtude do novo dispositivo.

(2) INTERPRETAÇÃO DIFERENTE: Ilustrada na hipótese em que o Ministério Público


oferece denúncia por homicídio qualificado por meio cruel (art. 121, § 2°, UI, CP)
enquanto que o magistrado, com amparo na mesma situação fática, vislumbra, em
oposição, a qualificadora de recurso que impossibilitou a defesa do ofendido (art.
121, § 2°, rv, CP), conferindo, assim, nova capitulação ao fato. Aqui não se agrega
elementares e circunstâncias, mas apenas agravantes.

(3) SUPRESSÃO DE CIRCUNSTÂNCIA: Como por exemplo no caso em que se tipificou


roubo, e o juiz interpretou como furto.

1.2.2 CONSEQUÊNCIA JURÍDICA

(1) Se da alteração da tipificação decorrer a possibilidade de proposta de SUSPENSÃO


CONDICIONAL DO PROCESSO (SURSIS), o juiz dará vista dos autos ao Ministério Público para
que este a ofereça e, caso haja negativa deste, o magistrado procederá nos termos do art.
28, CPP (remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça).

(2) Se o novo enquadramento importar em modificação de competência, os autos serão


encaminhados ao juízo respectivo.
EMENDATIO LIBELLI

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa,
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha
de aplicar pena mais grave.

§ 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de


proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o
disposto na lei.

§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão


encaminhados os autos.

1.4 MUTATIO LIBELLI (art. 384, e parágrafos, CPP)

Aqui se tem a hipótese de se verificar que durante a instrução existe elementar


ou fatos diversos dos narrados na peça acusatória. A sentença deve abranger os fatos
narrados na denúncia ou queixa. Se outros estiverem presentes no processo, há o indicativo
de NECESSIDADE DE ADITAMENTO (pois exige -se que a defesa tenha oportunidade de
debater sobre o fato imputado que, por seu turno, deve estar bem delimitado na petição
inicial para viabilizar contraditório e ampla defesa.)

O vigente art. 384, do CPP, indica a preferência para que a mutatio libelli fique
a cargo do Ministério Público: Quando encerrada a instrução probatória, se entender
cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de
elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, O MINISTÉRIO
PÚBLICO DEVERÁ ADITAR A DENÚNCIA OU QUEIXA.

PRAZO PARA O ADITAMENTO: 5 DIAS, exigindo-se que se cuide de processo instaurado por
crime de ação penal de iniciativa pública, reduzindo a termo o aditamento, quando feito
oralmente.

OBS1: A mutatio libelli só tem cabimento nas AÇÕES PÚBLICAS ou PRIVADA SUBSIDIÁRIA.

OBS2: NÃO pode ser invocada na fase recursal, pois haveria supressão de instância (súmula
no 453, STF). Porém, embora vedada a aplicação da mutatio libelli em grau recursal, nada
impede que o juízo ad quem declare a nulidade da sentença que deixou de aplicar esse
instituto; sendo assim anulada a decisão e não absolvido o réu. Entretanto, em razão da
proibição da reformatio in pejus indireta, a “pena fixada na sentença anulada será a pena
máxima que o juízo a quo poderá fixar na nova sentença”. (É o que defende Nestor Távora)

OBS3: Para enfatizar: na mutatio libelli, ocorre mudança nas ELEMENTARES e no TIPO
PENAL.

OBS4: O aditamento pode ser ORAL e REDUZIDO a TERMO.

OBS5: O juiz, na sentença, fica ADSTRITO ao ADITAMENTO.

OBS6: Se o JUIZ negar o ADITAMENTO, cabe REESE.


MUTATIO LIBELLI

Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em
conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida
na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se
em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o
aditamento, quando feito oralmente.

§ 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código

§ 2o Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a


requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com
inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento

§ 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco)
dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento

§ 5o Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.

1.3.1 PROCEDIMENTO DA MUTATIO LIBELLI

JUIZ ABRE
VISTAS AO MP

MP OFERECE MP NÃO OFERECE


ADITAMENTO ADITAMENTO

APLICA-SE O ART. 28
Havendo aditamento, cada
PARTE poderá arrolar até
TRÊS TESTEMUNHAS, no
prazo de 5 DIAS.

ART. 28 Se o órgão do Ministério Público, ao invés de


OUVIR DEFESA apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do
(5 DIAS, tendo em vista os inquérito policial ou de quaisquer peças de
princípios do contraditório e informação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do
da ampla defesa)
inquérito ou peças de informação ao procurador-geral,
e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
ORDENA PRODUÇÃO DE Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no
pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz
PROVAS e MARCA DATA P/
obrigado a atender.
NOVA AUDIÊNCIA
(se houver)

Se a definição nova do Se a nova definição jurídica do fato implicar


fato importar em possibilidade de proposta de SUSPENSÃO
MODIFICAÇÃO DE CONDICIONAL DO PROCESSO, o juiz dará
COMPETÊNCIA, os autos vista dos autos ao Ministério Público para
serão encaminhados ao que este a ofereça e, caso haja negativa, o
juízo respectivo; magistrado procederá nos termos do art.
28, CPP
1.5 EMENDATIO LIBELLI x MUTATIO LIBELLI

A menção à emendatio libelli deve constar expressamente da motivação da


sentença, compondo sua estrutura, isto é, o juiz explicitará que o enquadramento dado aos
fatos pelo Ministério Público ou querelante ocorreu equivocadamente, e fará de ofício a
correção, passando, a partir daí, a enfrentar as alegações da defesa.

A seu turno, como a mutatio libelli implica conversão do julgamento em


diligência, a sentença superveniente aludirá a este fato, por relevante, no relatório e, sendo
necessário, também na fundamentação.

OBS: Tanto uma quanto a outra devem fazer parte da sentença.

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