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esumo: Neste artigo, por meio de breve revisão de literatura, nos pro-
pomos a apresentar a construção da narrativa audiovisual publicitária
e a sua produção de sentido, independente do formato, do meio ou
dos suportes utilizados, que é construída a partir de uma linguagem
cinematográfica principal, do entretenimento e da arte popular, que evidenciam
sua natureza híbrida entre a comunicação promocional e o entretenimento, uma
característica própria da natureza da publicidade. Quer seja no formato tradicio-
nal do spot televisivo de 15, 30 ou 60 segundos, ou em uma inserção em outros
formatos de produtos audiovisuais de entretenimento, a publicidade faz uso da
linguagem cinematográfica para construir sua narrativa o que permite que estas
produções ou narrativas dialoguem com o público por meio do seu capital cultural.
Palavras-chave: Publicidade Audiovisual. Consumo. Cotidiano. Linguagem. Ci-
nema. Produção de Sentido.
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(...) uma vez que texto, imagem e som já não são o que costumavam ser. Deslizam
uns para os outros, sobrepõem-se, complementam-se, confraternizam-se,
unem-se, separam-se e entrecruzam-se. (...). Perderam a estabilidade que os
suportes fixos lhes emprestavam (Santaella, 2007, p. 24).
Assim é que, desde a sua criação até hoje, o cinema, como também o filme
publicitário, tem buscado despertar os sentidos e a sensibilidade perceptiva de forma
particular em cada período da história, recriando sua própria linguagem e signos.
A linguagem e o cinema
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Segundo Aumont (1995), a imagem é feita para ser olhada e são seus ele-
mentos plásticos – sua superf ície, gama de valores e cores – que a caracterizam
como conjunto das formas visuais que permitem sua construção. O espectador
torna-se leitor dos usos que o cineasta faz de “todas” as figuras de presentificação
do texto nas e pelas imagens (Dubois, 2004, p. 260).
(...) o texto não está no filme, nem mesmo na imagem, é o próprio filme. É um
cinema liberto de toda sua (falsa) profundidade de representação do mundo,
um cinema que olhamos do mesmo modo como percorremos um livro, viramos
uma página, ouvimos um discurso. Antes de ver é preciso primeiro ler o texto-
filme (Dubois, 2004, p. 260).
Para Leo Spitzer, em seu artigo escrito em 1934 e publicado anos mais tarde,
Learning Turkish ([1948]2011), qualquer idioma é humano antes de ser nacional:
primeiramente os idiomas alemão, francês e turco pertencem à humanidade e,
em seguida, aos povos alemão, francês e turco.
Nós podemos levar essa inferência para o cinema, afirmando que a lingua-
gem cinematográfica é humana, antes de ser do cinema. O cinema mudo com-
prova essa universalidade humana, visto que a linguagem visual e artística era
entendida da mesma forma por todas as nações, independentemente de suas lín-
guas. Nada mais claro ainda para exemplificar nossa assertiva do que, também,
os filmes expressionistas, com sua encenação excessiva, tanto nas expressões dos
personagens como nos cenários monumentais.
De acordo com Silvestra Mariniello (1992) e Paolo Cherchi-Usai (1989),
Leon Kuleshov, professor e teórico da primeira escola de cinema no final da
década de 1910, na União Soviética, foi provavelmente o primeiro teórico a es-
tudar a construção da linguagem cinematográfica na formulação de sua estru-
tura, a fim de identificar os efeitos que as obras poderiam causar sobre o públi-
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(...) sendo uma forma de expressão não verbal, como a fotografia, é uma forma
de expressão sem sintaxe. No entanto, como a impressão e a fotografia, o cinema
pressupõe um alto índice de cultura escrita em seus apreciadores, ao mesmo
tempo em que intriga os analfabetos ou não letrados (Mcluhan, [1964]1995, p.
320).
O cinema trabalha sua linguagem de tal modo que leva a sua audiência a
consumir um produto carregado de significações e valores simbólicos, que foram
transformados em bens de consumo pelo capitalismo e pela indústria cultural.
Na visão de McLuhan, “não é por acaso que o cinema se caracterizou como
o meio que oferece, aos pobres, papéis de riqueza e poder que superam os sonhos
da avareza” (Mcluhan, [1964]1995, p. 327). Assim, padrões de comportamento,
valores morais, hábitos culturais e de consumo, juntamente com produtos, são
oferecidos ao espectador através da obra cinematográfica.
Segundo Walter Benjamin ([1955]1994), em seu artigo “A obra de arte na
era de sua reprodutibilidade técnica”:
(...) o filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações
exigidas por um aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida
cotidiana. Fazer do gigantesco aparelho técnico do nosso tempo o objeto das
inervações humanas, é essa a tarefa histórica cuja realização dá ao cinema o seu
verdadeiro sentido (Benjamin, [1955]1994, p. 174).
(...) uma das funções sociais mais importantes do cinema é criar um equilíbrio
entre o homem e o aparelho. O cinema não realiza essa tarefa apenas pelo modo
com que o homem se representa diante do aparelho, mas pelo modo com que
ele representa o mundo, graças a esse aparelho (Benjamin, [1955]1994, p.187).
Através dos seus grandes planos, de sua ênfase sobre pormenores ocultos dos
objetos que nos são familiares, e de sua investigação dos ambientes mais vulgares
sob a direção genial da objetiva, o cinema faz-nos vislumbrar, por um lado, os mil
condicionamentos que determinam nossa existência, e por outro assegura-nos
um grande e insuspeitado espaço de liberdade (Benjamin, [1955]1994, p. 187).
Materializando a linguagem
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3. http://
historiaunilever.com.
br/unilever/files/
paginas/1.pdf
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[...] o consumo não pode ser reduzido a “sujeitos que usam objetos”, porque os
dois não são independentes; estão integralmente ligados, quer o saibam, quer não.
O mundo das coisas é realmente a cultura em sua forma objetiva, é a forma que
os seres humanos deram ao mundo através de suas práticas mentais e materiais;
ao mesmo tempo, as próprias necessidades humanas evoluem e tomam forma
através de coisas de que dispõem (Slater, 2002, p. 104).
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produzidos para a “Miss Dior”, “Flowers by Kenzo”, “Nina Ricci” e várias outros,
em que, em muitos deles, o frasco sequer aparece. Nestas narrativas, o especta-
dor deve completar o que não está explicito, dando à história um sentido mais
amplo. Cook e Bernink (1999) explicam que:
Referências
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