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PEÇA: O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA UPA/UPAE, UMA HISTÓRIA...

PERSONAGENS:
ENFERMEIRA: Ellen
FARMACÊUTICA ALINE: Ana Rafaella
FARMACÊUTICO SILIBRINO: João/ Eduardo
ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: Renata
SR. ABIGOBALDO DA FORTUNA: Gustavo
JEREDY, O FILHO: Eduardo

Introdução: O senhor Abigobaldo era um grande empresário, que perdeu tudo, na


última crise. Ele é diabético, hipertenso e ultimamente tem sentido muitas dores no
peito.

Cena 1: O senhor Abigobaldo, está com um pico hipertensivo e, não querendo ir


para a UPA, por não acreditar no serviço público, seu filho tenta convencê-lo que o
serviço é bom.

SR. ABIGOBALDO: ​Ahhh, pq na Unimed é melhor que isso público. Já viu o SUS
fazer algo que preste?!

JEREDY (FILHO): ​Entenda, não temos mais dinheiro para Unimed. Somos pobres,
ou vai ou vela e caixão, pai.

SR. ABIGOBALDO: É duro, viu?! A gente bota filho no mundo para se tornar
malcriado desse jeito com o pai… Nam. Então vamos, né. Fazer o quê?. Mas saiba
logo que não vai adiantar de nada, eu vou sair de lá sem ser atendido, todo mundo
sabe que esse sistema público não funciona em nada.

Cena 2: Pai e filho entram na UPA e são direcionados para a triagem.

ENFERMEIRA: Bom dia, senhor….. ham…. Abigobaldo :) tudo bom? O que o


senhor tem sentido?

SR. ABIGOBALDO: Oxi, pergunta besta da mulesta, se eu tivesse bem não tava
nessa espelunca. Inclusive, isso nem deve ter aquele selo “acreditação” (né, que
chama?). Nos hospitais que eu ia, todos tinham, nível 3!

ENFERMEIRA: ​Calma Seu Abigobaldo


A gente ainda não tem. Não está nos debates de interesse da nossa unidade. Não
ter o selo de acreditação não significa que nossa unidade não é de qualidade,
inclusive somos a maior Unidade de Pronto Atendimento de Pernambuco, além de
sermos uma UPA associada a uma UPAE!

Sr. Abigobaldo fica quieto, com cara de desacreditado, e, então, a enfermeira


prossegue.

ENFERMEIRA: ​Bem, vou aferir a pressão do senhor para vermos como ela está.

SR. ABIGOBALDO:​ Você é o quê mesmo?

ENFERMEIRA: Sou enfermeira, responsável pela triagem. Aqui nós avaliamos o


quadro do paciente e classificamos o seu risco.

SR. ABIGOBALDO:​ E formou onde?

ENFERMEIRA:​ Na Univasf.

SR. ABIGOBALDO: ​Deus que me defenda, lá só tem balbúrdia e baderneiros.

ENFERMEIRA: ​Não Sr., aí são os comentário errados que soltam por aí. Mas lá a
gente estuda bonitinho, certinho. Enfim… Vamos dar prosseguimento a nossa
triagem….

A enfermeira afere a pressão do paciente.

ENFERMEIRA: ​Bom, sua pressão está alta. 18 por 10

SR. ABIGOBALDO: ​Descobriu o Brasil. Óbvio que tá alta, sou hipertenso.

A enfermeira suspira, mas mantém a calma.

ENFERMEIRA: O Sr., encarecidamente, pode esperar ali sentado até que


atendente lhe chame para fazer o cadastro e quando aparecer seu nome na
televisão, dirija-se ao consultório médico.

Enfermeira coloca a pulseira vermelha (urgência), o Sr. Abigobaldo realiza o


cadastro e é chamado para sala do médico, que faz a prescrição.

ENFERMEIRA: Pronto Sr. Abigobaldo, o Sr. pode vir aqui para sala de medicação
que quando chegar sua vez, será chamado, aguarde só um instante.
SR. ABIGOBALDO: ​Deixa eu adivinhar, esses remédios que vocês vão me dar são
aqueles que as empresas não querem mais, né? Daquelas empresas bem
vagabundas. Como é o nome daqueles remédios? (​Pensa um pouco​) Ah, lembrei! O
tal de Genérico. (​Risada​) Isso não vai prestar. Quero alguém aqui me explicando de
onde vem esses remedim…

ENFERMEIRA: ​Não, sr. Abigobaldo. Nossos remédios são de qualidades e fazem


efeito. Pode ficar tranquilo.

SR. ABIGOBALDO: ​Tu sabe quem sou eu? Minha “fia”, eu sou Abigobaldo da
Fortuna, infelizmente Fortuna agora só no sobrenome (chora). Mas eu exijo saber
de onde vem esses remedim agora. Chame lá alguém pra me explicar, vá! Pare de
ser essa mosca morta!

ENFERMEIRA: ​Vou buscar seu medicamento e já volto.

Enfermeira sai para pegar os medicamentos do Sr. Abigobaldo.

Cena 3: Enquanto isso, na Farmácia da DI…

FARMACÊUTICO SILIBRINO: Pessoal, esse é o mais novo estagiário aqui do


nosso setor de Farmácia Hospitalar, Ambrósio.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Obrigada pela receptividade, pessoal. Mas sr. Silibrino


me explica só um coisa que estou em dúvida desde que cheguei, por favor. O
normal é ser chamado de UPA, porque aqui chama-se UPAE?

FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Ótima pergunta, Ambrósio.Essa é uma dúvida muito


comum. Então, a UPA é uma unidade de pronto atendimento que funciona 24h,
atendendo diversos casos de urgência e emergência. Por exemplo, se um paciente
tem pico hipertensivo, infarto, ele é atendido aqui. E a UPAE é Unidade
Pernambucana de Atenção Especializada, ou seja, ele tem especialidades como
neurologia, cardiologia, dermatologia,várias outras; tem bloco cirúrgico; tem central
de exames que faz colonoscopia,endoscopia, etc. Nós somos a única UPAE que é
acoplada com a UPA no estado do Pernambuco. Nos destacamos, também, por ser
a maior UPA do PE fazendo o maior atendimento.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Nossa! Que legal! Não sabia disso. Muito interessante.
Mas ei, aqui vocês manipulam as coisas?
FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Não, não. Aqui não trabalhamos com farmacotécnica
hospitalar, porque, o sistema de distribuição individual não exige que tenha. Além
disso, não há demanda de terapia com uso de nutrição parenteral.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA​: Ahh sim, entendo. Mas ei, você disse que estamos no
DI, né? O que seria esse DI?

FARMACÊUTICO SILIBRINO​: A DI é a distribuição interna. A gente faz a


solicitação pra CAF, porque é ela que nos abastece. E daqui, saem os
medicamentos de forma individualizadas para os pacientes.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA​: Huum, legal.

FARMACÊUTICO SILIBRINO: Ambrósio, para apresentar a beleza desse setor top


costumamos cantar uma música, vamos lá?

Paródia

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Rapaz, essa metodologia de vocês para que a gente


conheça aqui é massa.

FARMACÊUTICO SILIBRINO: Olha só Ambrósia, de uma forma bem prática,


acabou de chegar uma prescrição aqui para farmácia. Paciente Abigobaldo,
Captopril 25mg e furosemida injetável, sala de medicação.

Enfermeira entra.

ENFERMEIRA: ​A medicaç...mento pra o Abigobaldo da Fortuna, por favor.

FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Está aqui, já separado! Aproveito pra introduzir a


mais nova estagiária aqui do nosso setor de Farmácia Hospitalar, Ambrósia!

ENFERMEIRA: ​Seja bem vindo, Ambrósia!

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA:​ Obrigado!

A enfermeira pega os medicamentos e sai.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA​: Como que a gente vê a prescrição, e o prontuário do


paciente?
FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Então, aqui a gente usa o sistema MV2000, utilizado
a nível nacional, inclusive vários hospitais da Unimed e outros de referência utilizam
ele (porque ele garante a legibilidade absoluta das informações do prontuário, além
de otimizar a comunicação entre profissionais de saúde no atendimento ao
paciente). Nesse sistema, temos acesso ao prontuário online do paciente e
conseguimos ver a ficha do mesmo e todos os seus dados.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Então chegou a prescrição e é só dispensar, né?

FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Nesse momento, o ideal seria que nós,


farmacêuticos, avaliássemos a prescrição para, então, autorizar ou bloquear a
dispensa dos medicamentos, caso haja alguma incompatibilidade. Porém, devido ao
número limitado de farmacêuticos aqui na UPA, não temos como fazer isso para
todas as prescrições.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA​: Qual a maior demanda daqui?

FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​É de injetáveis.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Então, como funciona? Porque é a enfermagem da


unidade que faz a diluição, certo? Eles lá seguem algum protocolo/guia para diluição
da UPA/UPAE?

FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Então, é a enfermagem mesmo que é responsável


pela diluição, entretanto não temos um protocolo, ainda. Ele está em processo de
elaboração, por mim e outros profissionais aqui da unidade. Mas sempre que o
pessoal da enfermagem tem alguma dúvida nesse aspecto, eles me perguntam.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: E como você sabe se eles não estão reutilizando uma
ampola?

FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Primeiro que o sistema daqui é individualizado,


então já vai a ampola certa para determinado paciente. Segundo, que existem as
reuniões multidisciplinares, na qual eu sempre oriento sobre esses aspectos do
processo de medicação (p.ex.: ampolas podem ser usadas somente uma vez, logo
após abertura, e, então descartadas), além de educar sobre estabilidade dos
medicamentos que utilizamos na unidade.

FARMACÊUTICO SILIBRINO: ​Agora se você me dá licença Ambrósio, tenho que ir


na reunião da comissão de segurança do paciente.
ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Tudo bem, mas só uma curiosidade, como funcionam
essas reuniões e elas são de fato efetivas para o cuidado do paciente ?

FARMACÊUTICO SILIBRINO: A gente faz reuniões, aí tem prontuário, pra ver a


questão de risco do paciente, antibioticoterapia. Mas, ao meu ver não é uma coisa
que funcione bem, você vai perceber agora que chegou na realidade hospitalar,
algumas coisas funcionam maravilhosamente bem e outras não.

Farmacêutico sai. Enquanto isso, curioso, Ambrósio começa a fazer perguntas a


outra farmacêutica que estava no local

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Opa, Aline, tudo bem? Tu pode me tirar só mais uma
dúvida? Kkkk. É que eu fiquei muito intrigado com isso. Por que tem esses
medicamentos aqui separados dos outros? Por que eles não tão lá arrumadinhos,
bonitinhos, nas prateleiras como os outros?

FARMACÊUTICA ALINE: ​Oi, Ambrósio. Tudo bem e com você? Kkk, não tenha
vergonha de perguntar. Esses medicamentos estão aí, porque eles estão vencidos

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Mas, vocês não tentam trocar quando está perto do
vencimento?

FARMACÊUTICA ALINE: ​Sim, a gente tenta. Mas, não são todos os medicamentos
que conseguimos. Como podem ver, temos muitas lentes aqui vencidas que nem
sempre conseguimos trocar, pois temos uma restrição, só podemos trocar com
hospitais da rede IMIP (e, no caso daqui de Petrolina, apenas o Hospital Dom Malan
faz parte dessa rede) e agora, uma conquista nossa, estamos conseguindo trocar
com o HU. E, ainda assim, quando a gente não consegue trocar essas lentes, por
exemplo, tentamos devolver ao fornecedor, mas, nem sempre conseguimos
também...

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Ah, entendo. Complicado, né? Mas e então, esses


medicamentos aqui já vencidos, vão para onde?

FARMACÊUTICA ALINE​: A gente dá baixa, depois descarta numa lixeirinha, que


depois será direcionada para uma bombona que está lá fora, para depois a empresa
vir recolher.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​E no caso dos medicamentos que estão perto de vencer


e chegam novos medicamentos com prazo de validade maior. Vocês dão os que
estão mais perto de vencer para os pacientes, logo?
FARMACÊUTICA ALINE: ​Sim, a gente tenta minimizar ao máximo as perdas aqui,
mas sempre, prezando pelo bem estar do paciente, sem querer colocá-lo em risco​.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA​: Ah, sim.. e vocês tem muito gasto com medicamento
vencido aqui?

FARMACÊUTICA ALINE: Então, conseguimos diminuir a quantidade de


medicamentos vencidos ultimamente, com um controle mais rigoroso que estamos
fazendo.

ESTAGIÁRIA AMBRÓSIA: ​Que bom, né, rs

Cena 4: Enfermeira chega com os medicamentos para aplicar em Abigobaldo.

​ENFERMEIRA: ​E aí, Sr. Abigobaldo, está melhor? Aplicaram a medicação já?

ABIGOBALDO: ​Olhe, moça, tenho que te pedir desculpas. Paguei minha língua. O
SUS não é como falam. O atendimento aqui é muito bom, só tenho elogios a fazer.

ENFERMEIRA: Fico feliz Sr. Abigobaldo, que você está satisfeito com o nosso
atendimento, sempre buscamos oferecer serviços de excelente qualidade para os
pacientes e o serviço de saúde pública apesar de sofrer com cortes do governo
quase sempre, ainda se mantém firme no atendimento ao público.

ABIGOBALDO: Bom, fico feliz que o SUS seja tão efetivo assim. Porém agora eu
tenho que ir, e espero não precisar voltar mais aqui kkkkkkk Falando nisso, eu tô
mesmo liberado né ?

ENFERMEIRA: Tá liberado sim Sr. Abigobaldo. Desejamos uma boa recuperação


para o senhor. Tchau.

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