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MODELOS E TÉCNICAS
RESUMO. A fobia social é um dos transtornos mentais mais prevalentes na população geral. As principais formas de
tratamento são a psicoterapia e a farmacoterapia. Este artigo tem como objetivo realizar uma breve revisão bibliográfica dos
mais importantes modelos e técnicas cognitivas e comportamentais da fobia social. Os modelos antigos - modelo de déficit de
habilidades sociais, modelo de crenças irracionais, modelo da vulnerabilidade cognitiva e os modelos integrativos - serão
revisados brevemente. Serão apresentadas as técnicas de tratamento - como a exposição, reestruturação cognitiva, técnicas de
relaxamento e treino de habilidades sociais. Estudos de metaanálise sobre a eficácia da terapia cognitivo-comportamental no
tratamento da fobia social também serão descritos.
Palavras-chave: fobia social, terapia cognitivo-comportamental, tratamento.
ABSTRACT. Social phobia is a widespread mental disorder in the general population. The main forms of treatment
are psychotherapy and pharmacotherapy. This article has as objective to carry out a brief bibliographical review of the
most important cognitive and behavior models and techniques of social phobia. The old models - social skills deficit
model, irrational ideas model, cognitive vulnerability model and the integrative models, will be briefly reviewed.
Treatment techniques such as, exposure, cognitive restructuring, relaxation techniques, and social skills training will
be presented. Meta-analysis studies about the efficacy of the cognitive-behavioral therapy in the treatment of social
phobia will be described.
Key words: Social phobia, cognitive-behavioral therapy, treatment.
RESUMEN. La fobia social es uno de los trastornos mentales más prevalentes en la población general. Las principales formas
de tratamiento son la psicoterapia y la farmacoterapia. Este artículo posee como objetivo realizar una breve revisión
bibliográfica de los más importantes modelos y técnicas cognitivas y comportamentales de la fobia social. Los modelos
antiguos - modelo de déficit de habilidades sociales, modelo de creencias irracionales, modelo de la vulnerabilidad cognitiva y
los modelos integrativos - serán revisados brevemente. Serán presentadas las técnicas de tratamiento - como la exposición,
reestructuración cognitiva, técnicas de relajamiento y entrenamiento de habilidades sociales. Estudios de metaanálisis sobre la
eficacia de la terapia cognitivo-comportamental en el tratamiento de la fobia social también serán descritos.
Palabras-clave: fobia social, terapia cognitivo-comportamental, tratamiento.
* Psicólogo. Especialista. Coordenador e pesquisador do Programa de Fobia Social do Centro de Pesquisas e Tratamento de
Transtornos de Ansiedade – São Paulo-SP.
#
Pedagoga. Especialista. Pesquisadora do Programa de Fobia Social do Centro de Pesquisas e Tratamento de Transtornos de
Ansiedade – São Paulo-SP.
A fobia social é considerada um dos transtornos postularam que uma experiência traumática, como um
mentais mais prevalentes na população geral (Kessler, embaraço momentâneo em uma situação social, poderia
McGonagle, Zhao, Nelson, Hughes, Eshleman, Wittchen ser responsável pelo início da fobia (Öst & Hugdahl,
& Kendler, 1994; Magee, Eaton, Wittchen, McGonagle & 1981) - por exemplo, um aluno ficar muito nervoso ao
Kessler, 1996). O termo fobia social ou transtorno de ter que ler um texto diante dos demais alunos em sala
ansiedade social é usado para a ansiedade intensa em de aula. Este fato poderia fazer com que o referido
situações sociais e de desempenho, que leva ao sofrimento aluno não mais quisesse ler/falar em público. Hofmann,
e perdas de oportunidades (D’El Rey, 2001). Ehlers e Roth (1995) relataram que estas experiências
Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002), a fobia social traumáticas têm sido reportadas por pessoas com
é caracterizada por um medo acentuado e persistente de ansiedade severa ao falar em público, porém em quase
uma ou mais situações sociais ou de desempenho. A todos os casos ela ocorreu depois que os sintomas
pessoa teme agir de um modo ou mostrar sintomas de fóbicos sociais já eram proeminentes na pessoa. Devido
ansiedade que lhe sejam humilhantes e embaraçosos, e a a isto, pode-se dizer que tais experiências negativas
exposição à situação social temida provoca uma resposta eram já uma conseqüência da fobia, e não o início do
de ansiedade intensa, que pode chegar a um ataque de transtorno.
pânico. A pessoa geralmente evita estas situações ou as Déficit de habilidades sociais
suporta com intenso sofrimento. A fobia social apresenta
significativa interferência nas rotinas de trabalho, Esta teoria postula que indivíduos com fobia social
acadêmicas e sociais e/ou sofrimento acentuado por ter a sofrem de um grande déficit nas habilidades sociais,
fobia. como, por exemplo, iniciar uma conversa com uma
O medo social na grande maioria das vezes está pessoa estranha, comportar-se em uma entrevista de
associado às situações de desempenho, como falar em emprego, comportamentos de paquera, etc.
público, as interações sociais do dia-a-dia, como ir a uma Deficiências nas habilidades sociais podem levar uma
festa, uma entrevista de emprego, etc. (Furmark, Tillfors, pessoa a se comportar de uma forma inadequada em um
Stattin, Ekselius & Fredrikson, 2000; Stein, Torgrud & primeiro encontro romântico e isto deixá-la em uma
Walker, 2000). As pessoas diagnosticadas como fóbicas situação embaraçosa, por exemplo. A falta de
sociais apresentam uma hipersensibilidade a criticas, habilidade social pode levar o indivíduo a evitar
mantêm uma avaliação negativa a respeito de si mesma, situações sociais onde ela (habilidade) possa ser
sentimentos de inferioridade, e apresentam grande essencial para um comportamento adequado e efetivo,
dificuldade em serem assertivas (Lamberg, 1998; Stopa & como uma entrevista de emprego. Os estudos relatam
Clark, 1993). que existe uma alta incidência de déficits de
habilidades sociais em pacientes com diagnóstico de
fobia social, e que este fato seria pelo menos
MÉTODO responsável pela manutenção do quadro fóbico
(Mersch, 1995; Öst, Jerremalm & Johansson, 1981).
Realizamos uma busca bibliográfica pela internet
através do Medline, Psycinfo e do Lilacs (todos os anos Crenças irracionais
disponíveis), com as palavras-chave: social phobia, Para Ellis (1962), as crenças irracionais são o
social anxiety disorder, cognitive-behavioral therapy, centro dos transtornos neuróticos. Esse autor teorizou
psychotherapy, treatment, models, exposure, cognitive que a ansiedade social poderia ser explicada pelas
restructuring, relaxation techniques, social skills crenças irracionais que a pessoa tem - por exemplo, a
training, meta-analysis. Procuramos incluir os artigos crença de que temos sempre que causar uma boa
mais recentes em cada subtópico do presente trabalho, impressão para sermos aceitos pelas pessoas. Outro
embora alguns artigos mais antigos (década de 70 e 80) tipo de crença irracional é a de que temos sempre que
tenham sido incluídos devido a sua relevância no ter um desempenho perfeito em determinada situação
subtópico. para mostrarmos o nosso valor como pessoa. Como
conseqüência, as pessoas que mantêm estes tipos de
PRINCIPAIS MODELOS COGNITIVOS E crença tendem a se cobrar demais, querendo sempre ter
COMPORTAMENTAIS DA FOBIA SOCIAL um desempenho perfeito, sem erros, chegando a uma
tentativa extrema de perfeição. Este alto grau de
Modelos antigos exigência leva a um alto nível de ansiedade na
Modelos mais antigos de explicação da fobia execução do comportamento e de frustração quando
social se focalizaram no condicionamento clássico e algo não sai como planejado pelo indivíduo.
utilizada é o Relaxamento Progressivo de Jacobson. paciente poder enfrentar todos os itens da hierarquia
Öst, Jerremalm e Johansson (1981) sugerem que as com significativa redução da ansiedade e do
técnicas de relaxamento são apropriadas a pacientes desconforto. Diversos estudos demonstraram a clara
com fobia social que apresentam intensos sintomas eficácia da exposição no tratamento da fobia social
fisiológicos de ansiedade durante uma situação social (Fava, Grand, Rafanelli, Conti & Belluard, 2001;
ou de desempenho. Os estudos mostram que as técnicas Heimberg, Dodge & Hope, 1990; Lincoln & cols.,
de relaxamento facilitam a exposição do paciente à 2003; Mattick, Peters & Clarke, 1989; Mattick &
situação temida, porém não são eficazes isoladamente Peters, 1988; Mersch, 1995; Newman, Hofmann,
no tratamento da fobia social (Jerremalm, Jansson & Trabert, Roth & Taylor, 1994; Shaw, 1979).
Öst, 1986; Öst, Jerremalm & Johansson, 1981; Otto,
1999). Reestruturação cognitiva
A reestruturação cognitiva consiste em uma série
Treinamento de habilidades sociais
de intervenções que se originaram das teorias e terapias
Segundo Argyle, Bryant e Trower (1974), as mais cognitivas de Beck, Emery e Greenberg (1985) e Ellis
comuns técnicas usadas no treinamento de habilidades (1962). Os pacientes com fobia social são ensinados a
sociais são a modelagem pelo terapeuta, ensaio identificar estes pensamentos, fazer o teste da realidade
comportamental, reforçamento social e o treinamento e corrigir os conteúdos distorcidos e as crenças
realizado fora da sessão (tarefas de casa). Os estudos disfuncionais subjacentes. Esta reavaliação e correção
que investigaram os efeitos desta técnica relataram uma das cognições distorcidas permitem ao paciente
superioridade dela em relação ao placebo e à ausência perceber que na grande maioria das vezes estava
de tratamento (Argyle, Bryant & Trower, 1974; hipervalorizando negativamente uma situação e
Falloon, Lindley & McDonald, 1977). Comparações desvalorizando sua capacidade de enfrentamento da
com outras técnicas de tratamento, não-farmacológicas, mesma situação (Clark & Wells, 1995; Lucock &
da fobia social não forneceram resultados consistentes Salkovskis, 1988; Taylor & cols., 1997).
(Shaw, 1979; Van Dam-Baggen & Kraaimaat, 2000). Segundo Beck, Emery e Greenberg (1985); Clark e
O uso de técnicas de treinamento de habilidades sociais Wells (1995); Lincoln e cols. (2003); Lucock e
tem sido recomendado para todos os pacientes com Salkovskis (1988) e Taylor e cols. (1997), basicamente
fobia social, quer manifestem déficits de habilidades as estratégias de reestruturação cognitiva objetivam
sociais quer não, pois este recurso tem se mostrado ensinar ao paciente as seguintes modificações:
bastante eficaz em reduzir a ansiedade no confronto observação e controle dos pensamentos irracionais e
interpessoal (Curran, 1982; Heimberg, Juster, Hope & negativos; exame das evidências favoráveis e
Mattia, 1995; Lincoln & cols., 2003). contrárias aos pensamentos distorcidos; e correção das
interpretações tendenciosas por interpretações calcadas
Exposição na realidade, o que geralmente resulta em redução
Exposição requer que o paciente imagine sintomática da fobia social.
(exposição na imaginação) ou confronte realmente A técnica de reestruturação cognitiva procura
(exposição ao vivo) os estímulos temidos. O primeiro desafiar diretamente as crenças irracionais ou
passo é construir junto com o paciente uma lista das disfuncionais, modificando-as ou substituindo-as por
situações temidas, do item que causa menos ansiedade outras mais adaptativas. A técnica é aplicada tanto nos
ao que causa mais ansiedade e desconforto (Wolpe, pensamentos que ocorrem antes da situação social
1973). As principais situações no tratamento da fobia como naqueles que ocorrem durante e após a situação
social são falar diante de um grande público, comer e temida (Clark & Wells, 1995; Taylor & cols., 1997).
beber em público, conversar com outras pessoas, etc. Nesta abordagem de tratamento, as técnicas de
(Lincoln & cols., 2003; Mersch, 1995). Nos estágios exposição servem muito mais para eliciar as cognições
inicias do tratamento com exposição, as situações são negativas do que para habituar à ansiedade gerada pela
enfrentadas na companhia do terapeuta, até que possa situação social (Heimberg, 2001). Diversos estudos
ocorrer a habituação da ansiedade no item da demonstraram que a reestruturação cognitiva é uma
hierarquia que está sendo confrontado. Após a técnica eficaz no tratamento da fobia social,
exposição repetida e prolongada e quando a situação principalmente se for aplicada conjuntamente com
não eliciar mais altos níveis de ansiedade e técnicas de exposição (Lincoln & cols., 2003; Lucock
desconforto, passa-se ao próximo item da lista de & Salkovskis, 1988; Mattick, Peters & Clarke, 1989;
situações problemáticas. O processo continua até o Mattick & Peters, 1988; McManus, Clark &
Hackmann, 2000; Taylor & cols., 1997; Turner, Beidel principalmente os antidepressivos, facilitam a aplicação
& Cooley, 1994). das técnicas comportamentais.
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