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Consulta do Conselho Ultramarino

sobre a morte de Zumbi, encaminhada a El-Rei

“Senhor,

O Governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro em carta de 25 de março


deste ano dá conta a Vossa Majestade de como se houve a certeza de haver
conseguido a morte de Zumbi para nenhuma dúvida se fizesse como tantas vezes
sucedeu nos governos anteriores, assim para quietação dos povos como para
exemplo dos negros que o julgavam imortal, e para demonstração do que diz envia
cópia da ata que fizeram os oficiais da câmara de Porto Calvo, e por ela se vê que o
troço das tropas de paulistas em que ia por cabo o Capitão André Furtado de
Mendonça que conseguiu a morte do negro no sumidouro que este artificiosamente
fizera na Serra dos Dois Irmãos conduziu o corpo à presença dos oficiais da mesma
câmara; que se apresentou aos ditos oficiais um corpo pequeno e magro, em cujo
exame se viram quinze ferimentos de bala e muitos de lanças vendo-se ainda que o
membro da virilidade do dito negro se havia cortado e enfiado na boca também lhe
faltando um olho e se lhe cortara a mão direita; que perante os oficiais da câmara
juraram as testemunhas pertencer o cadáver ao negro Zumbi, a saber, um cabo
maior que se apanhara vivo na companhia do dito, os escravos Francisco e João, o
senhor de engenho Antônio Ponto e o lavrador de partido Antônio Soza, que todos
haviam conhecido em pessoa o açoite daqueles povos; que se lavrou na ata o
reconhecimento do cadáver do negro Zumbi, e que para que se pudesse isso mostrar
ao Governador de Pernambuco Caetano de Melo Castro deliberou-se levar ao Recife
somente a cabeça pela impossibilidade de levar o corpo todo; que no pátio da
câmara, presentes todos os oficiais, um negro decepou a cabeça a qual se salgou com
sal fino, o que tudo se fez constar na mesma ata; que assim pôde ele Governador
Caetano de Melo de Castro à vista da cabeça e da ata da câmara ter a certeza da
morte do negro que tantos danos fizera à Real Fazenda e aos moradores das
Capitanias de Pernambuco.

Ao Conselho parecer fazer presente a Vossa Majestade o que escreve o Governador


de Pernambuco Caetano de Melo de Castro de se haver morto ao negro Zumbi, o que
Vossa Majestade deve mandar agradecer ao dito Governador o bem que neste
particular e nos mais do serviço de Vossa Majestade se há havido. Lisboa, 2 de
setembro de 1696.

(a) Conde de Avelar


(a) João de Sepúlveda e Matos
(a) José de Freitas Serrão

Como parece, 13 de setembro de 696. (Rubrica) / na folha 1 R/’

Capítulo 43, A cabeça de Zumbi

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