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Divinópolis
Maio 2010
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Divinópolis
Maio 2010
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Sumário
1. Introdução
Após vasta avaliação sobre cultura e educação no Brasil, é fácil entender a importância
da leitura e da escrita ou, mais precisamente, do letramento em nossa sociedade. Este é
capaz de dividir a população em grupos e criar desigualdades, mas é capaz também de
transformar vidas, levando pessoas que antes pertenciam a um grupo social menos
favorecido economicamente a, depois de letradas, tornarem-se cidadãos ativos na
sociedade e descobrirem um mundo que, até então, apresentava-se como um mistério ou
como opressão para si.
Todavia, a leitura e a escrita, esses meios tão preciosos de evolução, parecem ter sido
esquecidos por muitos em nossa sociedade atual, em que há o predomínio dos meios de
comunicação velozes, como rádio, televisão, e internet. O livro e o gosto pela leitura
parecem ficar cada vez mais distantes de uma população que tem sempre milhares de
atrativos espalhados ao seu redor. A escrita deixa de ser uma forma de se imortalizar a
realidade atual e torna-se somente a “cópia” de matérias pelos alunos das escolas. Será
que a modernidade tem criado um ser humano menos letrado?
Para isso, realizou-se pesquisa bibliográfica a partir de artigos de Soares (1995, 2000,
2002) e Serra (2002), além de entrevistas com membros das diversas classes sociais e de
várias faixas etárias simultaneamente, levando-se em consideração que entendem-se por
grupos sociais, no caso, os grupos A, B e C; sendo que o grupo C comporta indivíduos
com renda per capita de menos de meio salário mínimo; o grupo B contém indivíduos
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com renda per capita de meio a um e meio salário mínimo; e o grupo A engloba
indivíduos com renda per capita acima de um e meio salário mínimo. Além disso, são
consideradas as três faixas etárias seguintes: entre 10 e 20 anos, entre 21 e 59 anos e
acima de 60 anos.
Certamente o uso da leitura e da escrita não é algo fixo, ou seja, ele se apresenta de
diversas maneiras, numa dinâmica que é mais ampla do que se possa supor. Percebendo
isso, qualquer discussão sobre o assunto deve ser aprofundada, com materiais de autores
renomados como Serra, que é pedagoga, secretária geral da Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil/IBBY-Brasil e diretora do Departamento Geral de Bibliotecas
do Estado do Rio de Janeiro; e Soares, Professora Titular Emérita da UFMG, Bacharel
em Letras Neolatinas pela UFMG, Doutora em Didática pela UFMG e Membro da
Comissão de Publicações da Associação de Pesquisa e Pós-Graduação em
Educação/ANPEd.
Em seu texto Políticas de promoção da leitura, Serra (2004) nos mostra a importância
das políticas de alfabetização e leitura criadas pelos governos. Segundo ela, a noção de
importância da leitura está presente até mesmo nos analfabetos que, por sua condição de
exclusão, vm o poder comunicativo da palavra escrita como um sonho que muitas vezes
não é realizado por falta de meios apropriados ou de tempo. Ela nos leva ainda a
perceber que o interesse pela leitura só é despertado nas crianças e adolescentes em
idade escolar quando há algo que complemente o que foi lido. Deve-se investir em
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projetos de ensino que levem o educando a entender sua cultura por meio daquilo que se
lê. Projetos esses que devem incluir dança, teatro, música, cinema, visitas a museus,
exposições, feiras e tantos outros métodos que estão ao alcance das escolas, mas que
raramente são utilizados.
Com um ponto de vista parecido, Soares (2000) expõe em seu texto As condições
sociais da leitura: uma reflexão em contraponto que a leitura não é apenas o fato de
alguém abrir um livro e ler o que está ali, mas sim a interação entre esse alguém e
outros indivíduos da sociedade. Deve-se considerar todo o universo cultural em que se
situa o leitor e saber que cada um tem um universo próprio. Ainda segundo ela, grande
parte do material escrito, além de ser de difícil acesso para os grupos sociais menos
favorecidos, ainda carregam em si um grande etnocentrismo ao direcionarem seu
conteúdo exclusivamente, ou em maior parte, para as classes dominantes.
las é um processo complicado, visto que cada sociedade tem seus costumes próprios.
Por isso, torna-se importante não uma investigação quantitativa, que busque saber
quantos indivíduos em nossa sociedade leem e escrevem ou não, mas sim uma pesquisa
qualitativa, que busque analisar os hábitos de vários indivíduos a fundo e saber quais
deles realmente se interessam e veem importância na leitura e na escrita.
Dessa forma, buscou-se fazer uma entrevista com poucos, mas variados indivíduos de
modo que se reunissem depoimentos de pessoas dos grupos sociais A, B e C e de três
níveis etários diferentes. De cada grupo social foram entrevistados três indivíduos,
sendo que cada um deles pertence a uma das três faixas etárias, isto é, do grupo A, por
exemplo, responderam à entrevista um indivíduo com idade entre 10 e 20 anos, um com
idade entre 21 e 59 anos e um com mais de 60 anos.
Para preservar a identidade dos indivíduos, eles serão chamados aqui de “Entrevistados”
e identificados por um número, como disposto a seguir:
Entrevistado 1: indivíduo do grupo A com idade entre 10 e 20 anos.
Entrevistado 2: indivíduo do grupo B com idade entre 10 e 20 anos.
Entrevistado 3: indivíduo do grupo C com idade entre 10 e 20 anos.
Entrevistado 4: indivíduo do grupo A com idade entre 21 e 59 anos.
Entrevistado 5: indivíduo do grupo B com idade entre 21 e 59 anos.
Entrevistado 6: indivíduo do grupo C com idade entre 21 e 59 anos.
Entrevistado 7: indivíduo do grupo A com idade acima de 60 anos.
Entrevistado 8: indivíduo do grupo B com idade acima de 60 anos.
Entrevistado 9: indivíduo do grupo C com idade acima de 60 anos.
Está claro que todos sabem da importância da leitura e da escrita, mas há uma grande
dificuldade em saber por que algumas pessoas têm gosto por ambas e outras não, já que
as diferenças em tal gosto se apresentam aparentemente sem nenhum critério de
escolaridade, idade ou renda familiar. Pensa-se, com frequência, que o gosto pela
leitura, por exemplo, é característica apenas de pessoas mais idosas, que não se atém às
novas tecnologias. Acredita-se ainda que ela é comum só entre pessoas com maior
poder aquisitivo, que dá uma liberdade maior para a compra de diversas publicações.
Pensa-se também que a escolaridade interfere no nível de leitura de alguém e que quem
cursa o ensino superior, por exemplo, teria mais facilidade de compreender qualquer
texto e, com isso, maior gosto pela leitura.
Todavia, na nossa sociedade globalizada, com um fluxo cada vez maior de informações
entre as diversas culturas e povos, a quantidade de material para ser lido e decodificado
é gigantesca e em cada esquina, em qualquer lugar, há o que se ler, há informações que
precisam sem entendidas. E é a capacidade ou não de decodificar as informações
necessárias à sua vida que torna um indivíduo mais ou menos letrado.
O letramento apresenta três níveis. O primeiro deles e mais baixo comporta indivíduos
que leem frases curtas, cartazes, placas, marcas de produtos e outras informações
indispensáveis à convivência. O segundo nível engloba pessoas que conseguem ler
textos, acompanhar notícias, ler livros e relacionar as informações principais de cada
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um. Já ao terceiro e mais alto nível de letramento pertencem os indivíduos que leem
diversos tipos de textos e conseguem captar toda a informação lida, interpretá-la e
associá-la a outros conceitos obtidos anteriormente.
De acordo com Serra (2004), a presença de crianças nas escolas aumentou nos últimos
20 anos, isso porque a educação passou a ser tratada como direito e houve cobrança
internacional. Todavia a educação ainda é muito básica e a leitura desses alunos ainda
não é capaz de desenvolver a intelectualidade.
do grupo A, não soube falar nada sobre o livro; o Entrevistado 5, do grupo B, diz não se
lembrar do nome da publicação; e o Entrevistado 6, do grupo C, respondeu apenas que
leu o livro.
Entre os indivíduos com mais de 60 anos de idade, mais uma vez aparece grande
diferença entre o nível de escolaridade. Apenas o Entrevistado 7, do grupo A, afirma ter
cursado o ensino superior. Esse é, aliás, o único de todos os entrevistados que possui 3°
grau completo. Os indivíduos 8 e 9, respectivamente dos grupos B e C, cursaram apenas
a antiga 4ª série do ensino fundamental. Além disso, apenas o Entrevistado 7 afirma ter
lido uma obra de Machado de Assis, mas todos dizem gostar de obras literárias
adaptadas para a TV.
Como vimos, as obras literárias na TV atingem mais a população do que em livros. Isso,
talvez porque a linguagem de determinadas obras seja complexa para alguns indivíduos,
que só conseguem compreender as histórias por meio da interpretação que a televisão
oferece, ou seja, transferindo para outro o seu papel de decodificador do que é lido. Tal
resultado não é benéfico, visto que são poucos os canais de televisão que apresentam
programação inteligente, que estimula o pensamento. Além disso, é alarmante ver que
enquanto a TV decodifica as informações, a população para de se preocupar com a
busca da compreensão de conteúdos lidos e a prática da leitura tende a cair em desuso.
3.2. A leitura
cálculos. Uma criança de 7 anos se interessa mais por um livro com desenhos e cores do
que por um texto científico. Um arqueólogo talvez se interesse mais por um livro que
trata da formação geológica da Terra do que por um guia automotivo. Tudo isso parece
óbvio, mas só vem comprovar a afirmação de Soares (1995) de que não há só um tipo
de leitura e que cada indivíduo pode se interessar por um material diferente de acordo
com seu gosto.
Quando perguntados sobre o que costumam ler, foram ouvidas as seguintes respostas
dos entrevistados com idade entre 10 e 20 anos:
“Livros e revistas.” (Entrevistado 1, grupo A).
“Livros, revistas e jornais.” (Entrevistado 2, grupo B).
“Livros de drama.” (Entrevistado 3, grupo C).
Quando perguntados sobre o motivo de gostarem de tais materiais, o Entrevistado 1
disse que gosta de livros e revistas porque revistas trazem o cotidiano em informações
numa linguagem mais acessível e que lê livros apenas esporadicamente e por prazer. Já
o Entrevistado 3 disse gostar de livros de drama porque gosta de se emocionar. E o
Entrevistado 2 não respondeu.
Quanto ao uso social da leitura, todos responderam que leem placas e faixas nas ruas; o
Entrevistado 2 sempre lê marcas de produtos nos supermercados, enquanto 1 e 3 o
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fazem às vezes; 1 acredita que entende bem o que lê, 2 afirma que entende e 3 disse que
às vezes entende. Foi pedido ainda que os entrevistados contassem a história de algum
livro ou notícia que leram e todos contaram com grande facilidade.
Por afirmar que não gosta de ler, mas que acredita que deveria ler mais; o Entrevistado
5 respondeu à pergunta “Mesmo sem gostar, você lê?” e respondeu que todos os dias lê
a Bíblia e um jornal popular, de preço acessível. Essa busca pelo que é acessível
comprova o que Serra (2004) afirma sobre os recursos de que o indivíduo dispõe para
comprar livros. Segundo ela, antigamente ler e escrever fluentemente era uma
característica de quem nascia em um lar letrado, mas graças à mobilidade social que
vem acontecendo no país, essa situação está mudando.
Quando perguntados sobre o uso social que fazem da leitura, todos afirmaram ler
marcas de produtos em supermercados, todos entendem bem o que leem e todos
disseram que leem placas e faixas nas ruas, todavia o Entrevistado 4 observou que às
vezes as pessoas são obrigadas a ler as placas e as faixas, pois elas ajudam na
localização. Essa afirmação revela que o entrevistado entende o quanto a leitura é
importante para a vida em sociedade.
Além disso, todos afirmaram que conseguem ler um livro e contar a história em poucas
palavras e, quando se pediu que cada um contasse a história de um livro ou reportagem
que leu, todos tiveram facilidade em relatar.
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As mesmas perguntas foram realizadas aos indivíduos com idade acima de 60 anos. E as
respostas para o que gostam de ler e os motivos de tais gostos foram as seguintes:
“A Bíblia. Porque eu vou aprendendo coisas da vida, do amor de Deus.” (Entrevistado
8, grupo B).
“A Bíblia e o Jornal Super1. Porque o jornal informa tudo: TV, política, utilidade
pública, pessoas desaparecidas e o mundo dos famosos. E eu gosto de ser uma pessoa
bem informada.” (Entrevistado 9, grupo C).
O Entrevistado 7, do grupo A, não respondeu o que gosta de ler, mas disse que gosta da
leitura e explicou:
“Por vários motivos: me distrai, eu aprendo, me oriento, etc”.
Mais uma vez vemos nas respostas a presença da Bíblia, o que, segundo Serra (2004),
ao interpretar o resultado do INAF 2001 que diz que 86% dos entrevistados possuem
Bíblia ou outro livro sagrado, se dá pela força da religiosidade em nosso povo. Aos 9
entrevistados dessa pesquisa não foi perguntado sobre a posse da Bíblia ou de outros
livros sagrados, mas o fato de que 3 deles afirmaram ler a Bíblia reflete a religiosidade e
o fato de que este, que é um livro popular e de grande acesso, é uma opção de leitura
para pessoas com qualquer faixa de renda.
Quanto ao uso social da leitura, houve grande disparidade nas respostas. Para a pergunta
“Na rua, você lê placas, faixas, etc?” todos responderam afirmativamente. Já quando
perguntados sobre o uso da leitura em produtos nos supermercados, o Entrevistado 7
disse que faz compras observando os rótulos dos produtos e comparando-os; o
1
Trata-se de um jornal acessível, de baixo custo.
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Entrevistado 9 disse que lê apenas as marcas dos produtos que lhe interessam; e o
Entrevistado 8 disse apenas que lê as marcas.
3.3. A Escrita
A língua escrita está muito distante da língua oral e, além de servir à comunicação, tem
o poder de se transformar em história, isto é, uma geração se comunica entre si, mas
pode também se comunicar com as gerações seguintes por meio da palavra escrita.
Livros, pergaminhos, papiros e inscrições em cavernas são responsáveis pela visão de
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mundo que temos hoje e pela evolução, que depende dos conhecimentos antigos em
união com descobertas recentes. As culturas que não registram seus costumes e suas
tradições tendem a acabar e tornam-se, depois de algum tempo, apenas uma vaga
lembrança que aos poucos vai se apagando.
Feita a pergunta “você gosta de escrever?” aos entrevistados com idade entre 10 e 20
anos e todos responderam que sim, porém o Entrevistado 3, do grupo C, disse que gosta,
mas que não escreve bem e que comete, segundo ele, “muitos erros de português”. Isso
mostra que muitas vezes são as regras da língua que impedem um indivíduo de escrever.
A complexidade das normas de pontuação, acentuação, uso do plural e tantas outras
podem gerar confusão e, como poucos professores da educação básica trabalham com
seus alunos as diferenças entre língua padrão e linguagem oral, muitos acabam usando
da oralidade em seus textos e são repreendidos nas avaliações sem saber por que aquilo
que eles estão acostumados a falar foi considerado errado pelo professor.
Os três entrevistados responderam ainda à pergunta “que tipo de coisa você costuma
escrever?” e responderam o seguinte:
“Narrativas fictícias.” (Entrevistado 1, grupo A).
“Pensamentos.” (Entrevistado 2, grupo B).
“Não costumo escrever, mas copio as matérias das aulas.” (Entrevistado 3, grupo C).
Sobre os motivos de seus hábitos de escrita, as respostas dos três foram,
respectivamente:
“Porque é bom fantasiar coisas que a gente não pode vivenciar.”
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A respeito do uso social da escrita, foi perguntado a cada entrevistado se ele consegue
escrever bilhetes e todos responderam que sim. Além disso, foi perguntado se cada um
conseguiria escrever a história que havia contado na entrevista sobre a leitura e o
Entrevistado 2 foi o único do grupo com idade entre 10 e 20 anos a responder que não,
mostrando, com isso, certa dificuldade em associar a linguagem oral à escrita.
As mesmas perguntas foram feitas aos entrevistados com idade entre 21 e 59 anos e,
sobre o tipo de coisa que escrevem, responderam:
“Escrevo de tudo um pouco.” (Entrevistado 4, grupo A).
“Costumo escrever bilhetes para os meus filhos, anotações de produtos que eu vendo...”
(Entrevistado 5, grupo B).
“Poemas e poesias.” (Entrevistado 6, grupo C).
Sobre as justificativas de tais hábitos, o Entrevistado 4 disse que escreve de tudo porque
anota as aulas do curso que faz; o Entrevistado 5 não se justificou; e o Entrevistado 6
afirmou que escreve poemas e poesias porque gosta de expressar o que sente.
Vemos, assim, que cada um faz uso da escrita como melhor lhe convém. O Entrevistado
4, por exemplo, tem uma visão mais profissional e usa a escrita para manter registrado
aquilo que poderá lhe ajudar em um futuro emprego. Já o entrevistado 6 faz uso da
função emotiva da escrita e tenta eternizar os momentos que esta vivendo.
Quando questionados sobre o gosto pela escrita, o Entrevistado 4 disse ter um gosto
relativo e o Entrevistado 6 disse gostar de escrever. Já o Entrevistado 5 disse que não
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gosta e que não tem o hábito. É interessante notar que esse mesmo entrevistado havia
respondido que também não gosta de ler, o que comprova a ligação entre os hábitos de
leitura e escrita. Quem lê mais, tem maior facilidade em usar os grafemas e quanto mais
se escreve, maior o interesse pela leitura.
Apesar de não gostar de escrever, o Entrevistado 5, assim como todos os outros, escreve
bilhetes, se necessário, e disse que teria facilidade em escrever a história contada na
entrevista sobre leitura. Além disso, todos disseram que utilizam conversas na internet,
com exceção do Entrevistado 6, que diz preferir o celular, mostrando, com isso, que
apesar de gostar de escrever sobre si, prefere se comunicar de forma oral.
Por fim, as entrevistas realizadas com pessoas de mais de 60 anos nos revelam outros
fatos interessantes. Foi feita a eles a pergunta “que tipo de coisa você costuma
escrever?” e, em seguida, perguntou-se o motivo de tal costume. As respostas foram:
“Escrevo cartas, bilhetes, receitas, organizo a minha agenda e o que mais estiver
estudando. Agora estou estudando francês. Escrevo por gostar de me organizar.”
(Entrevistado 7, grupo A).
“Escrevo coisas do trabalho, anotações. Porque preciso passar minha produção diária.”
(Entrevistado 8, grupo B).
“Escrevo lista de compras. Porque na minha casa sou eu que resolvo tudo.”
(Entrevistado 9, grupo C).
Mais uma vez vemos a escrita relacionada a trabalho, estudo e outras necessidades
básicas à convivência em sociedade. Certamente os entrevistados utilizam a escrita para
outras funções, mas ao serem questionados, acabam lembrando primeiramente daquilo
que mais está presente em seu cotidiano. Um pouco sobre tal imediatismo é encontrado
nas palavras de Serra (2004), que relata que a educação faz parte da realidade concreta e
imediata da vida da população e, por isso, sua política é uma das que mais evoluem.
possível ainda escreve. Além disso, o Entrevistado 9 respondeu que não teria facilidade
em escrever a história que contou na entrevista sobre leitura, mas que tem facilidade de
memorizar, e que não escreve bilhetes. Os Entrevistados 7 e 8, por outro lado,
afirmaram ter facilidade em escrever tanto a história quanto bilhetes. Assim, conclui-se
que é realmente importante fazer a análise do letramento em todas as faixas etárias,
visto que cada uma delas tem suas peculiaridades.
O conteúdo de tal pesquisa vem mostrar que a população geralmente tem conhecimento
sobre os benefícios e as necessidades da escrita. Todavia, talvez pelo fato de a escrita
ser mais pessoal que a leitura, seu uso não segue muitos padrões e cada indivíduo se
mostra como escritor apenas daquilo que será extremamente útil à sua vida. Ainda que
muitos não estejam conscientes disso, escrever aparece como um processo de
imortalização do que será necessário para o indivíduo futuramente.
Há diversos casos de pessoas que nunca foram alfabetizadas, mas que obtém
informações pela televisão, rádio, contato social e tornam-se grandes comunicadoras,
capazes às vezes de reter maior quantidade de informações que alguém que estudou
durante muitos anos. Seria adequado dizer que tais pessoas são inferiores àquelas que
aprenderam a ler e escrever? Elas podem ser consideradas, de certa forma, letradas?
Serra (2004) afirma que a televisão e o rádio têm papel importante na difusão da cultura
e na comunicação. São meios que conscientizam a população sobre a realidade em que
vive. A TV e o rádio são responsáveis por levar informação sobre saúde, educação,
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política, violência e todos os outros assuntos que afetam a vida da população em geral
de forma simples, para proporcionar um fácil entendimento.
Por esse motivo, é impossível realizar uma pesquisa sobre leitura e escrita sem
considerar que muitas pessoas são bem informadas sobre todos os acontecimentos da
sociedade e conseguem transmitir tais informações para outras pessoas de seu meio de
forma clara, coesa e precisa. Por outro lado, muitos daqueles que leem e escrevem com
frequência se atém apenas às informações que mais lhe agradam e acabam ficando
alheias à situação de seu país e do mundo. Por isso, os entrevistados dessa pesquisa
responderam a perguntas que refletem o que eles sabem dos acontecimentos no país
atualmente e ainda o que acontece no meio em que vivem.
Aos entrevistados com idade entre 10 e 20 anos foi feita a pergunta “você se considera
bem-informado?” e todos responderam que sim. Todavia, ao serem questionados sobre
a situação econômica do país atualmente, os Entrevistados responderam:
“O dólar continua estável?” (Entrevistado 1, grupo A).
Respondendo com outra pergunta, o Entrevistado 1 mostra que não sabe muito sobre o
assunto.
“Os preços estão subindo.” (Entrevistado 2, grupo B).
“Está bem.” (Entrevistado 3, grupo C).
Como vimos, os indivíduos mais jovens não sabem falar muito sobre economia, talvez
porque esse seja um assunto pelo qual eles não se interessam por acreditar que não os
afeta diretamente. Todavia, a mesma pesquisa mostra que quando se trata da violência,
assunto de grande destaque, as opiniões têm um peso um pouco maior, como mostram
as respostas dos Entrevistados 1, 2 e 3, respectivamente:
“Estão acontecendo muitos assaltos, casos de pedofilia e crimes vindos de divórcios mal
resolvidos.”
“A violência tomou conta do mundo.”
“Ela está em alta.”
Assim, apesar de apenas o Entrevistado 1 ter uma opinião justificativa sobre o assunto,
todos têm em mente que a violência é um mal que está cada vez mais presente na vida
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da população. Além disso, outro assunto de grande destaque é política e sobre esse tema
apenas o Entrevistado 3 disse se interessar pelo assunto.
Ainda sobre assuntos do cotidiano, foi perguntado aos entrevistados o que tem
acontecido no bairro de cada um e todos souberam contar fatos marcantes. Foi pedido
também que cada um contasse uma notícia que viu ou ouviu recentemente e achou
marcante ou interessante e, mais uma vez, todos relataram os casos de forma clara e
mostraram ter facilidade em entender o que a televisão e o rádio apresentam. Isso
mostra que apesar de os jovens não terem grande interesse sobre a situação política e
econômica do país, todos se mostram bem informados para o convívio em seu círculo
social.
As mesmas perguntas foram feitas aos indivíduos com idade entre 21 e 59 anos e, pela
única vez em toda a pesquisa, apresentou-se uma resposta diferente de “sim” para a
pergunta “você se considera bem informado?”. O Entrevistado 4, do grupo A, disse se
considerar moderadamente informado, enquanto os outros responderam
afirmativamente.
Perguntados sobre a economia do país, mais uma vez foram obtidas “respostas prontas”,
como vemos a seguir:
“Até o momento a economia está muito boa.” (Entrevistado 4, grupo A).
“Está ruim, principalmente o comércio. O povo está muito sem dinheiro.” (Entrevistado
5, grupo B).
“Moderada. Não está superior à dos outros países.” (Entrevistado 6, grupo C).
afeta indiretamente, nenhum tem uma opinião elaborada, com informações amplas.
Sobre política, o Entrevistado 4 disse que entende quando falam sobre o assunto, mas
que não se interessa muito; o Entrevistado 5 disse não gostar de política devido à
corrupção; e o Entrevistado 6 diz entender e se interessar. Já para a pergunta “o que tem
acontecido no seu bairro?”, apenas o Entrevistado 4 afirma não saber porque não fica
em casa, deixando que infira-se disso que suas informações se limitam ao meio onde
passa maior parte do seu tempo.
Quando pedidos para que contassem notícias que viram na TV ou ouviram no rádio,
todos cumpriram bem a tarefa, mostrando capacidade de transmitir o conhecimento que
adquirem.
A respeito da política, o Entrevistado 7 disse que entende o necessário, mas que não se
aprofunda no assunto e que às vezes se lembra de acompanhar seu candidato pela
internet; o Entrevistado 8 disse que entende razoavelmente o assunto e que não gosta
muito; e o Entrevistado 9 disse não entender e não gostar por causa da corrupção.
Novamente associa-se política à corrupção. Isso deixa claro o fato de que muitos
acompanham o assunto apenas superficialmente, sabendo somente dos crimes
envolvendo a política e deixando de lado os benefícios do poder eleitoral e das
mudanças que o voto pode causar na sociedade como um todo.
Tal análise nos leva a concluir que, embora a TV e o rádio sejam meios de comunicação
abrangentes, que informam sobre os mais diversos assuntos, a população seleciona
aqueles que mais lhe interessam ou que mais influenciam diretamente suas vidas. Isso
nos leva a crer que mesmo que tais mídias invistam em programas educativos, de nada
isso valerá se a população não tiver consciência de que tais conhecimentos são úteis em
seu cotidiano. Com programas e informações de qualidade e fácil entendimento,
qualquer cidadão pode atingir algo nível cultural, mas preparar sua mente para a
chegada de tais informações depende de um profissional com a didática certa.
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4. Conclusões
Assim, a leitura e a escrita podem se tornar mais fáceis e, com isso, mais atrativas. É
preciso que elas despertem curiosidade e vontade de se buscar mais e de se aprofundar
nos assuntos. Só assim surgirá uma sociedade que realmente acredite no poder
transformador da leitura e na capacidade que a escrita tem de criar a nossa própria
história.
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4.1. Aline
A análise dos diferentes grupos sociais referente ao letramento no Brasil, nos mostrou
com muita clareza que a leitura e a escrita não têm a mesma função pra todos os
individuos entrevistados. Todavia, nos relatou também que quem tem uma leitura
fluente fica bem mais informado e consegue se expressar melhor.
Este trabalho tem a finalidade de mostrar para nós, alunos do curso de letras, qualquer
dificuldade encontrada pelos individuos entrevistados além da falta de incentivo à
leitura pelo poder público.
4.2 Hamilton
Em nosso trabalho, com base no resultado de entrevistas com membros das diversas
classes sociais e de várias faixas etárias, além de pesquisa bibliográfica a partir de
artigos de Soares (1995, 2000, 2002) e Serra (2002), chegamos à conclusão que
comparadas as diferentes classes sociais e idades, constata-se uma grande influência
destas no letramento.
Tratando-se de faixa etária, é marcante o fato de que os entrevistados com idade entre
10 e 20 anos gostam de ler livros e jornais, enquanto os entrevistados com idade
superior a 60 anos gostam de ler a Bíblia, isto é, cada um sabe que a leitura é
25
Outro ponto marcante foi que todos os entrevistados com idade entre 10 e 20 anos estão
cursando ou já concluíram o ensino médio, enquanto entre os entrevistados de 21 a 59
anos somente o indivíduo do grupo A concluiu o segundo grau. Vemos assim que o
investimento em políticas públicas para a educação tem surtido efeito.
Diante desses dados definimos que o letramento causa um grande impacto na vida das
pessoas, tendo um poder transformador, pois a leitura e a escrita estão presentes no
cotidiano de todos fazendo a diferença para uma sociedade melhor.
4.3. Jacqueline
4.4. Kamille
Através dos estudos realizados na presente pesquisa e após diversas previsões, foi
confirmado que tanto a faixa etária quanto a classe social interferem realmente no
letramento de cada indivíduo.
Conhecedores das dificuldades enfrentadas por estes jovens que são atraídos em maior
pelos mais diversos meios de comunicação atuais, e também da situação das pessoas
com dificuldades financeiras, poderemos trabalhar com mais consciência para educar
cidadãos que se interessam mais pela leitura e a escrita. Assim, o letramento poderá
atingir níveis abrangentes de igualdade social e etária, desenvolvendo, portanto, a
inclusão social.
4.5. Loisiane
Através da analise desta pesquisa conclui-se que não basta apenas saber ler e escrever
para ser uma pessoa alfabetizada, ela precisa também cultivar e exercer as práticas de
leitura e escrita, incorporando seus usos ao seu viver. Ler e escrever são habilidades
consideravelmente diferentes, mas complementares, que possibilitarão ao individuo
tornar-se um cidadão cada vez mais ativo na sociedade. Em nossa sociedade
globalizada, a necessidade do letramento é cada vez maior, dando ao indivíduo maior
capacidade de se inserir nas práticas sociais simples e complexas das esferas que
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frequenta.
4.6. Patrícia
Na presente pesquisa vemos que, sem distinção de classe social ou grau de escolaridade,
a maioria dos indivíduos tem dificuldade de entender bem o que é lido. Os entrevistados
foram pessoas de diferentes classes sociais e, divididos por idade, tivemos um resultado
interessante. Vimos que em toda classe há suas dificuldades a cerca da leitura e da
escrita e que, por isso, não se pode definir uma idade ou uma classe social certa onde
ocorre a falta do letramento. Isso, pelo contário, depende de cada pessoa. Vemos
também que não é preciso uma pessoa ter alto nível de escolaridade ou curso superior
para ser letrada e que alguém com poucos anos de estudo pode conseguir ler e entender
com perfeição.
Nesse trabalho, portanto, entende-se que o letramento deveria ser mais reforçado
principalmente nas escolas. Não devemos ensinar a criança só a ler e escrever, mas
29
4.7. Samuel
Obviamente os resultados das entrevistas dispostas neste relatório não podem ser
generalizados, já que apenas nove pessoas foram entrevistadas, o que num país tão
populoso como o Brasil representa uma parcela extremamente reduzida. Todavia cabe
destacar que, conforme visto, quanto maior o nível de escolaridade do indivíduo, maior
sua consciência da importância da leitura e da escrita para uma vida em sociedade. São
os mais escolarizados que buscam maior qualidade de informação, mais meios de
aprendizado e, por isso, têm grande facilidade para falar de diversos assuntos. Destaca-
se também que a faixa etária interfere no nível de letramento de uma pessoa, pois o tipo
de informação que atrai um jovem não é o mesmo que atrai um idoso e, como vimos,
cada um busca ler aquilo que mais lhe desperta curiosidade. Pode ser relatada ainda a
disparidade entre as diversas classes sociais quando se trata de leitura e escrita, já que
geralmente indivíduos de classes sociais mais favorecidas buscam ler e escrever por se
preocupar com o conhecimento ou apenas por diversão, enquanto as outras classes se
preocupam muito com a questão do letramento como garantia de emprego.
Entretanto, mesmo com todas essas diferenças, está claro que todos os entrevistados têm
facilidade de viver em sociedade e sabem transmitir os conhecimentos que adquirem, o
que mostra que mesmo os que estudaram menos ou são menos favorecidos
economicamente podem ser considerados letrados, apesar de que nem todos atingem o
maior nível de letramento.
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Tais resultados são, por fim, uma preciosa fonte de conhecimento para alunos do curso
de Letras, que se preparam para receber educandos de diversos tipos e devem saber
como lidar com cada um e fazer com que cada um deles reconheça sua realidade ao ler e
escrever e, assim, adquira nível de alfabetismo cada vez maior. Afinal é sobre o
professor que recai a imensa responsabilidade de formar e informar uma população para
que ela transporte os conhecimentos adquiridos para as futuras gerações e, portanto, não
deixe mais que se perca o interesse pela leitura e pela escrita.
Referências bibliográficas