Limeira, domingo, 28 de novembro de 2010 LOCAL Gazeta de Limeira 9

Transportadoras entregam até 40% da demanda a clientes de lojas virtuais

Os presentes do Papai
Noel não chegarão com aju-
da das renas do bom velhi-
nho: neste Natal, tanto
quanto nos últimos, serão
carregados por carrinhos
de compras virtuais e entre-
gues por uma infinidade de
transportadoras, que já se
planejam para, pelo menos,
o dobro de trabalho que têm
durante o ano.
Embora longe de ameaçar
o comércio “convencional”, as
compras via internet vêm ga-
nhando espaço na preferência
do consumidor. Em agosto,
pesquisa de mercado enco-
mendada pela operadora de
cartões de crédito e débito
Visa indicou que, na América
Latina, o Brasil teve cresci-
mento de 170% no comércio
on-line entre 2007 e 2009, en-
quanto a Argentina registrou
56%, e o Chile, 49%. O fatu-
ramento no Brasil passou dos
U$$ 13 bilhões em 2009.
Já para este Natal, no pe-
ríodo desde o dia 15 deste mês
até o próximo dia 24, a expec-
tativa é de 40% de aumento
nas vendas em relação a 2009
e faturamento de R$ 2,2 bi-
lhões, conforme estimativa da
E-bit, empresa de pesquisa de
mercado.
A demanda de tempo para
procurar vagas de estaciona-
mento, andança na procura de
ofertas e tempo de espera em
filas para pagamento têm fei-
to consumidores optarem pelo
conforto de pesquisar e com-
prar desde materiais escolares
até carros sem sair de casa.
As empresas de comércio
on-line (e-commerce) esban-
jam atrativos. Sem ônus de alu-
guel de prédio ou pagamento
de funcionários para atendi-
mento, o custo ao consumidor
via web cai, e o mesmo pro-
duto de uma empresa pode ter
preços diferentes na loja físi-
ca e na virtual.
Além de as tentações para
compra chegarem por e-mail,
tem sido cada vez mais difun-
didos os “cupons de descon-
to”, geralmente divulgados por
usuários assíduos desse meio
de compra em diversos sites e
comunidades. As formas de
pagamento, por cartões ou bo-
leto, acabam sendo mais atra-
tivas do que as de lojas físicas
e os velhos carnês. FERNANDO CARVALHO
Miguel Juan Bacic, docen-
te em Economia na área de
Economia de Empresas da
Unicamp, avalia que a introdu-
ção de novas tecnologias leva
a mudanças na sociedade.
“Assim, a opção de compras
pela internet constitui-se em
um novo canal que passou a
ser usado ao longo da década
de 2000. O uso cada vez mai-
or dos cartões de crédito e da
modalidade de compras em
10x sem juros, além da como-
didade para comprar produtos
com relativa padronização, tor-
nará esse canal extremamen-
te importante nos próximos
anos”, analisa.
Empresas veem o cresci-
mento como resultado das
mudanças no comportamen-
to dos consumidores, aumen- Em uma das transportadoras de Limeira, 30% das encomendas entregues diariamente são de
to do número de computado- compras on-line
res, expansão da banda larga
e melhorias na segurança on- 85% nos Estados Unidos. ou de volume de produtos ven- “CONVENCIONAL” X
line. O Brasil tinha 37,9 mi- didos em determinada área, VIRTUAL
lhões de usuários ativos de DEMANDA EM mas algumas das empresas
internet em março de 2010, LIMEIRA que entregam essas encomen- Além do trabalho das
conforme a Nielsen Ibope das em Limeira atestam o transportadoras, o e-commer-
Online. Estima-se que, des- As empresas de e-com- crescimento das compras on- ce alavancou os serviços de
ses, 14% tenham o hábito de merce não fornecem dados line feitas por consumidores da encomendas dos Correios e
comprar pela web, contra sobre a quantidade de clientes cidade. nem mesmo a média de cor-
Em um dos locais consul- respondências “convencio-

Os dois lados da “moeda virtual” tados, a diretora Rita Dias ex-

O sistema de compras on-
line tem se estabelecido no
quesito segurança, mas esse
meio ainda é vulnerável a er-
ros e consequentes reclama-
ções. O caso de repercussão
mais recente é o de um ven-
dedor de São João da Boa Vis-
ta (SP) que comprou um celu-
lar na loja virtual MPTudo e
recebeu um tijolo, mais de 40
dias depois de feita a enco-
menda. Portais de e-commer-
ce também figuram entre con-
denados na Justiça por equí-
vocos, como entrega de pro-
duto errado. Um dos mais
acessados do País, o Merca-
do Livre foi condenado na se-
mana passada a indenizar R$
5 mil uma consumidora que
pagou cerca de R$ 700 por
uma câmera fotográfica e re-
cebeu um par de chinelos. A
decisão foi do Tribunal de Jus-
tiça do Rio de Janeiro.
A publicitária limeirense
Aline Teixeira, 28, aderiu ao
meio eletrônico devido à co-
modidade. “Só o fato de não
precisar sair de casa e enfren-
tar filas para fazer compras já
é um grande atrativo”, diz. As
condições também se mostram
mais favoráveis em relação às
lojas físicas. “Às vezes pelo
site da loja está um preço e
quando entro em contato com
a loja para confirmar, o preço
é outro. Dependendo do pro-
duto, por mais que demore al-
guns dias para receber, com-
pensa comprar pela internet,
mesmo com a taxa de entre-
ga”, exemplifica.
O jornalista Rodrigo Pisci-
telli, 33, também não abre mão
da facilidade proporcionada
pelas compras on-line. “Nun-
ca gostei de ficar andando e
procurando preços, então com-
pro de tudo pela internet, des-
de livros e DVDs a viagens”,
diz. Além das melhores formas
de pagamento e a possibilida-
de de comparar preços com
mais opções, ele lista outras
vantagens. “Posso comprar os
lançamentos antecipadamente,
mas também encontro produ-
tos mesmo quando estão sain-
do de linha”.
Ambos já tiveram proble-
mas de demora na entrega com
portais renomados. Aline, no
entanto, teme a compra em al-
guns sites de fora do País. “Ain-
da não tenho confiança sufici-
ente, mesmo conhecendo gen-
te que já comprou de sites in-
ternacionais e deu tudo certo”.
Já a assistente social Ma-
riane Catai, 26, não teve a
mesma sorte quando comprou
um umidificador para dar de
presente de casamento. Ela
esperou duas semanas para
receber a primeira resposta da
loja para a troca do modelo
de 220v por um de 110v. “De-
pois de vários e-mails e liga-
ções sem ninguém atender,
responderam que alguém fa-
ria a troca. Levaram o pro-
duto, mas não deixaram ou-
tro”.
O presente só chegou ou-
tros 30 dias depois, quando os
presenteados já tinham até
voltado da lua de mel. “Isso
só aconteceu depois que re-
clamei em um site. A loja ale-
gou que o atraso foi devido a
um erro no transporte”, expli-
ca Mariane. Ela nunca havia
comprado na loja, que conhe-
ceu por propaganda na TV.
“Foi o único local em que en-
contrei o produto na época,
quando os umidificadores es-
tavam em falta. Já havia com-
prado em outros sites sem nun-
ca ter tido problemas, inclusi-
ve com troca”. (DL)
plica que cerca de 40% das 1,5
mil entregas feitas semanal-
mente são provenientes de
portais de venda on-line, quan-
tidade que quase dobra nesta
época do ano, com o 13º salá-
rio. “O consumidor prefere
esta facilidade porque o pro-
duto chega rápido”, diz ela, lem-
brando que a empresa entre-
ga todos os tipos de itens até
porte médio, como eletrodo-
mésticos e eletroeletrônicos.
“Em algumas épocas há algu-
mas febres, quando entrega-
mos maior quantidade de pro-
dutos específicos. Uma delas
foi de aparelhos de ginástica,
além de medicamentos para
emagrecer”, lista.
Já Antônio Reis, gerente
de outra empresa de entregas
na cidade, aponta que das 100
entregas diárias, 30 são de lo-
jas on-line, em um momento de
estabilização após crescimen-
to. “As pessoas agora têm
mais confiança nesse tipo de
compra, além da melhora no
nais” foi afetada com o avan-
ço dos meios digitais.
“Entre janeiro e outubro
deste ano, o e-Sedex, serviço
especial para as empresas de
vendas virtuais, registrou
crescimento de 54% em sua
receita em relação ao mesmo
período de 2009. Em Limeira,
as entregas por e-Sedex atin-
gem uma média mensal de
1.964 encomendas”, informou
a assessoria da instituição por
meio da diretoria regional do
interior de São Paulo, lem-
brando que outros serviços
também são usados por em-
presas de e-commerce.
Somando-se esses, são
entregues em Limeira uma
média mensal de 21.986 en-
comendas.
Os Correios se aliaram à
ascensão da internet, já que
desde o surgimento da rede
cresce o número de correspon-
dências entre pessoas jurídicas
ou de pessoa jurídica para pes-
soa física. A possibilidade de
envio de telegrama sem preci-

Como evitar problemas antes e se defender depois da compra poder aquisitivo. No entanto,
há os que ainda possuem cer-
ta resistência, mas a nova ge-
sar ir até uma agência é outro
exemplo. Pode-se enviar pelo
site dos Correios e pagar com
ração dá a expectativa de um cartões, e o remetente é noti-
“Comprar pela internet
RENATO SILVA

mercado de consumo promis- ficado sobre a entrega. “O trá-

não é algo novo, mas as pes-
soas ainda não criaram o há-
bito”, avalia o publicitário
Rafael Beccari, que desen-
volve trabalhos na platafor-
ma web. Entre as regras de
segurança, ele orienta o con-
sumidor a optar por redes de
lojas já conhecidas, com si-
tes consolidados.
O perigo, segundo ele,
está nos sites de leilão, que
exigem mais cuidado. “O
consumidor procura milagre,
o que não existe. Deve-se
desconfiar de preços muito
abaixo da média de merca-
do. É preciso ainda conhe-
cer a qualificação do vende-
dor pelo índice de vendas e
opinião de compradores”.
Compras no mesmo Estado
é outra dica para evitar pos-
síveis problemas, além de
pesquisa prévia em relação
ao site em que se deseja
comprar na própria internet
ou com amigos.
José Reinaldo de Cam-
pos Júnior, coordenador do
Procon em Limeira, endos-
sa o alerta. “A compra de
alguém que não vendeu nada
a ninguém tem mais chances
de dar errado”, diz, atentan-
do que o Procon não inter-
vém em negociações de si-
tes como o Mercado Livre,
que mostra as ofertas, mas
a negociação é feita direto
entre vendedor e comprador.
Junior orienta ainda a
procura, na página da loja vir-
tual, pelo endereço físico da
empresa e do CNPJ, além de
telefones de contato e inscri-
ção na Receita Federal. “Isso
demanda tempo, mas garan-
te uma compra mais segura.
Beccari: não existem milagres, consumidor deve desconfiar de preços muito abaixo da média de mercado
É melhor do que perder mais
tempo ainda tentando ser res-
sarcido mais tarde ou aguar-
dando os prazos legais que as
empresas têm para responder
aos problemas”, enfatiza.
Já para uma navegação
segura, Beccari dá dicas do
que deve ser observado na
página de pagamentos. Os an-
tivírus e antispywares devem
ser atualizados para evitar
ameaças como cópia de se-
nha ou número de cartões,
tanto para lojas on-line como
sites de bancos.
“A página que recebe os
dados do comprador deve ter
o endereço iniciado com ‘ht-
tps’ ou ‘wwws’, igual aos si-
tes de bancos, pois os dados
que o usuário irá fornecer não
deixarão rastros, não ficarão
disponíveis”, orienta. Quando
o pagamento é feito direta-
mente para a loja, o cliente
deve procurar, geralmente no
fim da página, os sistemas de
pagamento e o certificado de
segurança. Dependendo do
programa usado, o ícone de
um cadeado pode estar na
barra de endereços ou na bar-
ra de status no pé da página,
que também sinaliza seguran-
ça de dados.
Se o usuário estiver usan-
do um computador desconhe-
cido, o que não é recomenda-
do, a senha (tanto para entrar
nas lojas virtuais como em
contas de banco) deve ser di-
gitada errada na primeira ten-
tativa, como opção de “en-
ganar” possíveis programas
mal-intencionados que, para
roubar esses dados, apare-
cem quase de forma idênti-
ca ao site original. Um site
falso deve retornar com uma
página qualquer, mas o ver-
dadeiro apontará o erro e
pedirá uma nova tentativa.
“O usuário deve ficar atento
na barra inferior do navega-
dor quando aponta o mouse
sem clicar sobre um endere-
ço, o que às vezes indica des-
tino diferente do descrito”,
diz Beccari. (DL)
sor”, aposta. Antigamente, os fego de objetos postados, con-
CDs lideravam entre a quanti- siderando encomenda, carta e
dade de produtos entregues telegrama, já passou dos 9 bi-
pela empresa, posto ocupado lhões por ano”, reitera a asses-
agora pelos livros. soria. (DL)
Onde reclamar, também
sem sair de casa
Os problemas com lojas virtuais são tratados pelo Procon
da mesma maneira que os das lojas físicas, exceto por uma
diferença. “Nas compras pela internet, telefone ou catálogo,
ou seja, feitas fora do estabelecimento, o consumidor tem o
direito de arrependimento, podendo desistir e fazer a devolu-
ção até sete dias, com ressarcimento”, explica José Reinaldo
de Campos Júnior.
Mas, especificamente para o consumidor conectado, o Pro-
con passou a disponibilizar recentemente atendimento pela in-
ternet. Enquanto em outras modalidades de reclamação o ca-
nal é orientativo, quem se sentir prejudicado com compras on-
line pode iniciar e conduzir todo o processo, com envio de
documentos por e-mail. Por enquanto, o serviço funciona so-
mente no Estado de São Paulo e pode ser acessado em http:/
/www.procon.sp.gov.br/, nos links “Formas de atendimento”.
Há ainda o link “Empresas reclamadas”, em que o usuário
pode checar a reputação do estabelecimento (virtual ou não)
no qual pretende comprar. “É importante verificar as empre-
sas que atenderam às reclamações. As que respondem à mai-
oria dos problemas demonstram maior preocupação com o
cliente”, atenta Júnior.
Outro canal de apoio é o site Reclame Aqui
(www.reclameaqui.com.br), que intermedeia a comunicação
entre consumidores e empresas. “O segmento de lojas virtu-
ais, comércio ou leilão eletrônico ocupa a liderança no ranking
de reclamações, à frente inclusive do setor de telefonia”, in-
formou a assessoria do site. Durante o mês de outubro foram
13 mil reclamações para o segmento, com atraso na entrega,
desrespeito ao consumidor e produto com defeito entre os
motivos mais frequentes.
No ar há 10 anos, estima-se que mais de 11 milhões de
pessoas passaram pelo site para cadastrar reclamações ou
fazer pesquisas sobre a idoneidade das empresas. Conforme
a assessoria do site, o banco de dados possui cerca de 3,5
milhões de consumidores e 23 mil empresas cadastradas. São
cinco mil reclamações diárias de consumidores de diversas
localidades do País, com três milhões de acessos ao mês. (DL)