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O conceito de M   em taxonomia, começou por ser aplicado apenas à


classificação em espécies e subespécies de vegetais e de animais. Só muito mais tarde ±
e até cerca de 1930 -, se começou a falar de M     M  
M  M   M  
M    M  , baseando-se essa divisão apenas nas diferenças mais visíveis como, por
exemplo, a cor da pele e os traços fisionómicos das pessoas, ou seja, associando o
conceito de M  apenas a factores biológicos e considerando que as diferenças
existentes eram meramente inatas e não resultantes de diversidades culturais. Estudos
científicos provam que tal não corresponde à realidade, podendo referir-se, a título de
exemplo, a cor da pele, que é mais escura nos povos oriundos de regiões mais próximas
dos trópicos, em que os raios UV são mais fortes, e mais clara à medida que os povos
são oriundos de regiões mais frias e mais próximas dos pólos, resultando a cor da pele
apenas de uma adaptação do ser humano ao ambiente.
No decurso do meu estudo sobre este tema, surpreendeu-me, inicialmente, o
facto do M     não ter surgido durante o período da escravatura, mas sim
no século XIX, quando aquela já se encontrava numa fase de declínio. Posteriormente,
fiquei elucidada sobre a causa de tal facto: com o surgimento do Iluminismo todos os
homens foram proclamados iguais, o que veio provocar, então, a necessidade de se
encontrar uma explicação científica, que se baseou na genética, para que se pudesse dar
continuidade à supremacia da raça branca relativamente às restantes, a qual tinha, por
isso mesmo, o ³dever moral´ de ³civilizar´ as outras ³raças inferiores´, justificando-se
deste modo a continuação do imperialismo na África e na Ásia. Assim sendo, o
conceito de M  passou a ser um factor de diferenciação e de discriminação. Com o
M     tornou-se suficiente ³uma gota de sangue´ para determinar a posição
de um indivíduo na sociedade ocidental: mesmo que um indivíduo fosse branco, se
tivesse tido um antepassado negro (ainda que longínquo), esse indivíduo seria sempre
negro (o mesmo se passando, evidentemente, se um antepassado tivesse sido asiático ou
de outra raça).
No início do século XX, a Antropologia considera não se poder falar de M  
  , considerando que dd d d e que as diferenças que ocorrem
entre as várias famílias humanas devem-se, não a factores genéticos, mas sim à sua
cultura, que é entendida como algo dinâmico e cujo caminho depende de circunstâncias
históricas. Na verdade, desde sempre que houve diásporas, umas mais significativas do
que outras, e presentemente, na era da globalização, a mobilização geográfica dos seres
humanos é intensa, tornando-se cada vez mais difícil (ou até improvável) encontrar uma
pessoa que não tenha características que o façam pertencer a várias categorias
simultaneamente, o que confirma, de forma inequívoca, a impossibilidade de validar os
factores biológicos como conclusivos para uma caracterização inquestionável das M  
  .
No ano passado, li  ?     , de Amin Maalouf, nascido no
Líbano em 1949 e residente em Paris desde 1976. Esse livro baseia-se na sua vivência
pessoal e demonstra a sua incompreensão quanto à pressão que existe, em todo o
mundo, para que uma pessoa assuma apenas ³uma identidade´, matando a(s) outra(s)
identidade(s) que também possa(m) fazer parte de si. Sentia-se incomodado por a
maioria das pessoas lhe colocarem sempre a mesma pergunta: ³Considera-se mais
libanês ou mais francês?´ Um dos objectivos deste livro foi persuadir os seus
contemporâneos de que se podem manter os valores em que se foi criado, sem que isso
impeça a sua combinação com outros valores que se venham a conhecer posteriormente
(caso se entenda dever adoptá-los), passando a coexistir no indivíduo elementos de
diversas culturas, não havendo necessidade de anular completamente qualquer uma
delas. A dada altura ± e passo a transcrever uma citação que anotei num diário ±, este
autor afirma o seguinte: ³         M   
   M M 
M M        M   M M  
M  !
àá que ressalvar que o entendimento do Outro não se faz apenas porque se vive
num ambiente multicultural - ou porque se estuda esse tema -, uma vez que é uma
vivência realmente intercultural ± que não tem de ser presencial - que faz com que
aceitemos e valorizemos positivamente a diferença na igualdade (mas não apenas a
diferença entre os indivíduos, que é óbvia) e deixemos de sentir somente um interesse
pelos aspectos ³exóticos´ e/ou ³folclóricos´ do Outro. Creio que devemos ter
consciência de que devemos ser sujeitos activos, construtores da nossa própria
identidade, não nos deixando manipular pelos que defendem ideologias que não
contribuem para o bem de todos, mas apenas defendem os seus interesses
socioeconómicos e políticos. Temos de reconhecer que o desenvolvimento do Eu se
encontra intimamente ligado à vontade de querer conhecer e compreender melhor o
Outro em toda a sua dimensão, e, consequentemente, à prática de um Olhar de paridade
em que a diversidade cultural é considerada um precioso património da àumanidade.
ËIËLIOGRAFIA

uA. Amorim, ³Ëases Genéticas das Raças àumanas ou um Colosso de Pés de Ëarro´,
: A. Amorim e al., 1997, "  M  #$
  M  M    %  ,
Lisboa, Oikos, pp.13.18.

- A. Maalouf, ³As Identidades Assassinas´, 2009, Lisboa, DifelÔ

- D. Magnoli, ³O Conceito de Raça´; vídeo disponível em:


http://www.archive.org/details/Mcrost01-
OSocilogoDemtrioMagnoliFalaSobreOConceitoDeRaa790

- Denize T. Teis e Mirtes A. Teis, ³ A relação entre ideologia e sistema etnocêntrico´;


texto disponível em:
http://www.bocc.uff.br/pag/teis-denize-relacao-ideologia-sistema-etnocentrico.pdf

- G. Mitchell e D. Jordan’ ³O que é a raça?´; texto disponível em:


http://www.bahai.org.br/racial/Raca.htm

- J. Laguardia, ³Raça, evolução humana e as (in)certezas da genética´; texto


disponível em: http://www.didac.ehu.es/antropo/9/9-2/Laguardia.pdf

- N. Jabolski, ³A cor da pele´; apresentação disponível em:


http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/nina_jablonski_breaks_the_illusion_of_skin_colo
r.html

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