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Livro Eletrônico

Aula 01

Discursiva p/ PGM-Manaus (Procurador) 1 Peça + 3 Questões + 2 Simulados.

Professor: Igor Maciel

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CURSO DE DISCURSIVAS P/ PGM/MANAUS
Teoria e Questões
Aula 01 – Prof. Igor Maciel

AULA 01
CURSO DE DISCURSIVAS P/
PGM/MANAUS.

Sumário
Sumário .................................................................................................. 2

1- 0
Apresentação do Professor e do Curso ................................................. 5

2 - Proposta de Peça Processual ................................................................. 8

3 - Revisão do Direito Processual ................................................................ 9

Conceito e Abrangência do Termo Fazenda Pública ..................................... 9


4 – Capacidade Postulatória / Representação Judicial da Fazenda Pública ...... 13

4.1 – Considerações Gerais ................................................................... 13


4.2 – Advocacia Pública Estadual ........................................................... 15
4.3 – Advocacia Pública Municipal .......................................................... 17
4.4 – Representação Judicial das Autarquias e Fundações ......................... 19
4.5 – Procuradores Legislativos.............................................................. 20
5 – Prerrogativas e Prazos Processuais da Fazenda Pública .......................... 27

5.1 – Constitucionalidade das prerrogativas processuais ........................... 27


5.2 – Prerrogativas em espécie .............................................................. 28
5.3 – Interpretação e Alcance das Prerrogativas ...................................... 31
5.4 – Questões polêmicas e com ampla incidência em provas .................... 33
6–A atuação da Fazenda Pública no polo passivo das demandas ................... 38

6.1 – Citação da Fazenda Pública ........................................................... 38


6.2 – Apresentação de Defesa ............................................................... 41
7–Despesas realizadas no curso do processo .............................................. 46

7.1 – Custas, emolumentos e despesas em sentido estrito ........................ 46


7.2 – Interpretação acerca do instituto e reflexão sobre seu cabimento ...... 49
7.3 – Demais hipóteses de cobrança em prova ........................................ 51

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8-Honorários Advocatícios ........................................................................ 55

9 - Revisão do Direito Material ................................................................. 58

10 - Proposta de Solução da Peça Processual ............................................. 72

11 - Questões Discursivas ........................................................................ 77

a) Direito Administrativo ....................................................................... 77


b) Direito Tributário ............................................................................. 77
c) Direito Civil ..................................................................................... 77
12 – Proposta de Solução - Questões Discursivas....................................... 79

a) Direito Administrativo ....................................................................... 79


Comentários – Item a ........................................................................... 80
b) Direito Tributário ............................................................................. 85
Comentários – Item b ........................................................................... 86
c) Direito Civil ..................................................................................... 91
Comentários – Item c ........................................................................... 92
13 – Considerações Finais ........................................................................ 95

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AULA 01

Olá meus amigos, tudo bem?

Tudo certo com o curso?

Quaisquer dúvidas ou sugestões, estou à disposição dos senhores.

Grande abraço,
Igor Maciel

profigormaciel@gmail.com

Convido-os a seguir minhas redes sociais. Basta clicar no ícone


desejado:

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1- Apresentação do Professor e do Curso

Olá pessoal, tudo bem? Meu nome é Igor Maciel, sou advogado e professor.
Graduado na Universidade Federal de Pernambuco, com extensão na
Universidade de Coimbra/Portugal. Especialista LLM em Direito Corporativo pelo
IBMEC/RJ. Mestre em Direito e Políticas Públicas pelo UNICEUB/DF.
Minha atuação profissional é centrada no Direito Tributário e no Direito
Administrativo, especialmente na defesa de servidores públicos. Assim, natural
que em minha atuação profissional, eu litigue diariamente contra a Fazenda
Pública.
Hoje iniciaremos nosso curso com foco na prova discursiva do cargo de
Procurador do Município de Manaus.

Você já sabe como será este concurso?

Se você está começando a estudar para a Carreira da Advocacia Pública, te


convido a ler o artigo que fizemos sobre o tema:

https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/concurso-procurador/

O vídeo da análise do concurso foi feito por mim no seguinte link do


YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=dPbA2GIpAzI&t=2927s

Análise do Edital

Eu também analisei a íntegra deste edital e você pode conferir aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=GxjG1eP_h3k

Foco nas Discursivas?

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Amigos, as bancas de concurso costumam exigir em provas dissertativas


temas relacionados à atuação prática do cargo a que o candidato está
concorrendo.
No nosso caso em específico, compete ao Procurador do Município de
Manaus, nos termos da Lei Municipal 1.015/2006, a representação judicial e a
consultoria jurídica do Município de Manaus:

Art. 1º A Procuradoria Geral do Município - PGM é o órgão permanente de


consultoria e assessoramento jurídico da Administração do Município de Manaus,
essencial ao seu funcionamento, dotado de unidade orçamentária própria, ao qual
são cometidas, dentre outras atribuições, a prestação de consultoria, o
assessoramento jurídico e a representação da Administração Municipal Direta e
Indireta, em juízo ou fora dele.

Muitos alunos nos procuram com grande dificuldade na adaptação da


redação de peças processuais mais afetas à atuação da advocacia pública, a
exemplo da Suspensão de Liminar e da Reclamação Constitucional (instrumentos
não exclusivos mas de grande utilização pela advocacia pública).
Contudo, o período entre o resultado da prova objetiva e a prestação das
provas discursivas será bastante exíguo. Assim, por entendermos que a
preparação de alto nível envolve também a necessidade de chegarmos
preparados para as provas discursivas, lançamos este curso que envolve a
redação de peças processuais e comentários dos principais temas da Advocacia
Pública Municipal.
Procuraremos, assim, fazer um curso onde abordaremos as principais peças
processuais passíveis de cobrança na prova discursiva, bem como a análise dos
principais temas de direito material que poderão ser cobrados na segunda e
terceira fases do concurso.
Especificamente quanto à etapa discursiva do certame, o edital prevê que
serão cobradas 1 peça processual e 3 questões discursivas, sobre as disciplinas
exigidas no edital.

Nosso curso irá, então, desenvolver os principais temas que envolvem estas
disciplinas cobradas na segunda fase.

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Como o curso vai funcionar?

Amigos, nós teremos dois tipos de curso: um com correção individualizada


de 2 peças processuais e 6 questões discursivas e outro sem esta correção.
Ambos serão rigorosamente iguais, com exceção da correção
individualizada feita pelo professor (exclusiva para os cursos com correção):

Semanalmente serão divulgados 01 proposta de peça processual e 03


propostas de questões discursivas.

Cerca de 3 (três) dias depois o professor divulgará a proposta de


solução de cada peça e de cada questão, aprofundando os principais
itens do tema proposto.

Em 2 oportunidades, serão divulgados simulados com 01 peça


processual e 03 questões.

Os alunos do curso com correção poderão enviar através do sistema do


Estratégia Concursos a proposta de solução para que o professor faça
uma correção individualizada de cada quesito.

Entendido? Deixarei abaixo meus contatos para quaisquer dúvidas ou


sugestões. Estou à disposição dos senhores. Espero que aproveitem nosso curso.
Grande abraço,
Igor Maciel

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2 - Proposta de Peça Processual

João Rico, grande empresário da cidade de Itacoatiara/AM, resolve, em 20


de janeiro de 2011, visitar sua querida filha Amélia que mora no Bairro de Ponta
Negra, na cidade de Manaus. Ela, bela estudante de medicina da UFAM, convida
o pai na data de sua chegada para passear pelo centro histórico da capital
manauara e aproveitar o saboroso guaraná vendido por ambulantes no local.
Enquanto os dois degustavam tal guloseima, um automóvel da Secretaria
de Educação do Município de Manaus conduzido pelo Sr. Marcos Silva, dedicado
servidor do órgão, derrapa na via e acaba atropelando o Sr. João Rico, causando-
lhe uma pequena lesão na perna esquerda.
No momento do acidente, o Sr. Marcos Silva estava conduzindo de forma
completamente regular, sem desrespeitar absolutamente nenhuma regra de
trânsito e o carro do órgão público estava em perfeitas condições de uso. A perícia
do DETRAN/AM constatou que o acidente fora ocasionado por culpa exclusiva do
Sr. João Rico que se distraiu e estava tirando fotos da paisagem no meio da via
de automóveis.
Indignado com o ocorrido, João Rico busca seu advogado que em 19 de
abril de 2017 propõe Ação Ordinária em face do Município de Manaus requerendo
indenização material pelas despesas médicas que precisou ter, bem como
reparação por danos morais no valor de R$. 1.000.000,00 (um milhão de reais),
ante os diversos transtornos que o acidente ocasionara em sua vida.
Referida ação fora distribuída para a 1ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública
de Manaus/AM que determinou a citação por Correios do Município. Esta fora
recebida pelo Porteiro da Secretaria de Educação no dia 25/01/2018 e
imediatamente encaminhada para o Procurador Geral do Município que designou
você para cuidar do caso.
Considerando que o Magistrado dispensou expressamente a Audiência de
Conciliação deste processo e tal fato constara expressamente na Carta de
Citação, maneje a peça processual cabível para a defesa dos interesses do
Município de Manaus.
Dispense os fatos e atenha-se ao limite máximo de 150 linhas.

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3 - Revisão do Direito Processual

Conceito e Abrangência do Termo Fazenda Pública

Inicialmente, cumpre-nos estabelecer os limites do conceito de Fazenda


Pública. Em que pese a princípio pensarmos na ideia de finanças públicas,
processualmente falando, sempre que houver a presença de uma pessoa
jurídica de direito público no processo, esta pode ser designada,
genericamente, de Fazenda Pública (CUNHA, 2017, pg.2):

A expressão fazenda pública é utilizada para designar as pessoas jurídicas de direito


público que figurem em ações judiciais, mesmo que a demanda não verse sobre
matéria estritamente fiscal ou financeira.

A organização da Administração Pública no Brasil segue o molde delineado


no Decreto 200/67, de onde se extrai a divisão em Administração Direta (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios) e Administração Indireta (Autarquias,
Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista).
Ante a burocracia e o interesse público que circundam a Administração
Pública, esta goza de benefícios e prerrogativas processuais em relação aos
particulares. Exemplo disto, tem-se o prazo em dobro para suas manifestações
processuais e o benefício da intimação pessoal, previstos no artigo 183 do Novo
Código de Processo Civil.

O antigo CPC disciplinava em seu artigo 188 que


a Fazenda Pública teria prazo em quádruplo para
contestar e em dobro para recorrer. Tal
Atenção
dispositivo fora substituído pelo artigo 183 do
Novo CPC que estabelece prazo em dobro para
todas as manifestações da Fazenda Pública.

Eis o texto legal para comparação:

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Art. 188. Computar-se-á em quádruplo o prazo


para contestar e em dobro para recorrer quando
CPC 1973
a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério
Público.

Prazos Fazenda
Pública
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal,
os Municípios e suas respectivas autarquias e
fundações de direito público gozarão de prazo
Novo CPC
em dobro para todas as suas manifestações
processuais, cuja contagem terá início a partir
da intimação pessoal.

Contudo, a abrangência do conceito de Fazenda Pública limita-se às


pessoas jurídicas de direito público: União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
além de suas respectivas Autarquias e Fundações de direito público. Demais
disso, as agências, executivas ou reguladoras, por ostentarem o caráter de
autarquias especiais, também integram o conceito de Fazenda Pública.
Já as empresas públicas e as sociedades de economia mista, bem como as
fundações públicas de direito privado não gozam dos privilégios processuais
aplicáveis à Fazenda Pública. É que tais entes atuam no mercado – seja na
exploração de atividade econômica, seja na prestação de serviços públicos –
como entes privados, possuindo natureza de pessoa jurídica de direito privado.
Exatamente por esta razão, não podem gozar as pessoas jurídicas de direito
privado de privilégios não extensíveis a seus pares e a estas não se aplicam os
benefícios e prerrogativas processuais da Fazenda Pública.
Neste sentido encontra-se seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:

E M E N T A: RECURSO - APLICABILIDADE ESTRITA DA PRERROGATIVA


PROCESSUAL DO PRAZO RECURSAL EM DOBRO (CPC, ART. 188) -
PARANAPREVIDÊNCIA - ENTIDADE PARAESTATAL (ENTE DE COOPERAÇÃO) -
INAPLICABILIDADE DO BENEFÍCIO EXTRAORDINÁRIO DA AMPLIAÇÃO DO PRAZO
RECURSAL - INTEMPESTIVIDADE - RECURSO NÃO CONHECIDO. - As empresas
governamentais (sociedades de economia mista e empresas públicas) e os
entes de cooperação (serviços sociais autônomos e organizações sociais)
qualificam-se como pessoas jurídicas de direito privado e, nessa condição,
não dispõem dos benefícios processuais inerentes à Fazenda Pública
(União, Estados-membros, Distrito Federal, Municípios e respectivas autarquias),

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notadamente da prerrogativa excepcional da ampliação dos prazos recursais (CPC,


art. 188). Precedentes.

(AI 349477 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
11/02/2003, DJ 28-02-2003 PP-00013 EMENT VOL-02100-04 PP-00697)

Assim, diferentemente dos entes integrantes do conceito de Fazenda


Pública, tais pessoas jurídicas só terão a sua representação processual regular se
for apresentada a necessária procuração.
Tal exigência estava prevista no artigo 36, do CPC de 1973 e permanece
vigente no atual CPC que prevê privilégios processuais apenas aos advogados
públicos que labutam para as pessoas jurídicas de direito público integrantes da
administração direta e indireta (MARINELA, 2016, pg. 210). Tem-se, assim, o
seguinte quadro esquemático:

Fazenda
Pública

Incluem-se no Conceito Não se incluem no Conceito

Sociedades de
União Economia Mista

Estados
Empresas
Públicas

Municípios

Distrito Federal

Autarquia

Fundação Pública

Há, contudo, na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal uma tendência


a se aplicar algumas prerrogativas de direito público às empresas estatais que

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prestam serviços públicos em regime não concorrencial. Apenas para se ter uma
ideia, tanto o Superior Tribunal de Justiça quanto o Supremo Tribunal Federal
entenderam que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), em que
pese ser constituída sob a forma de empresa pública, está abrangida dentro
do conceito de Fazenda Pública.
É que, por prestar de forma exclusiva serviço público de competência da
União (art. 21, X, CF)1, não desempenha a ECT atividade econômica, segundo
entenderam os julgadores. Assim, os Correios estariam incluídos no conceito de
Fazenda Pública, gozando de todos os benefícios e prerrogativas processuais
inerentes, conforme sedimentou o STF:

2. O Pleno do Supremo Tribunal Federal declarou, quando do julgamento do


RE 220.906, Relator o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, DJ 14.11.2002, à vista do
disposto no artigo 6o do decreto-lei nº 509/69, que a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos é "pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, que
explora serviço de competência da União".(CF, artigo 21, X) (STF - ACO: 765
RJ, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 01/06/2005,Tribunal
Pleno, Data de Publicação: DJe-211 DIVULG 06-11-2008 PUBLIC 07-11-2008 )

Ainda é cedo para se afirmar que toda e qualquer empresa estatal que
preste serviço público em regime não concorrencial deve ser considerada como
ente integrante da Fazenda Pública. Contudo, é cada vez mais comum o
deferimento de benefícios aplicáveis apenas às pessoas jurídicas de direito
público também a empresas estatais.
A título de exemplo, analisando o caso concreto referente à Companhia de
Águas do Estado de Alagoas, o Supremo Tribunal Federal entendeu ser possível
a sujeição das execuções desta ao regime de precatórios. Em decisão divulgada
no Informativo 812, o STF entendeu que às sociedades de economia mista
prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial
devem ser aplicadas o regime de precatórios.
Neste sentido:

1
Art. 21. Compete à União: (...) X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

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EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Constitucional. Sociedade de


economia mista. Regime de precatório. Possibilidade. Prestação de serviço público
próprio do Estado. Natureza não concorrencial. Precedentes. 1. A jurisprudência da
Suprema Corte é no sentido da aplicabilidade do regime de precatório às sociedades
de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza
não concorrencial. 2. A CASAL, sociedade de economia mista prestadora de serviços
de abastecimento de água e saneamento no Estado do Alagoas, presta serviço
público primário e em regime de exclusividade, o qual corresponde à própria
atuação do estado, haja vista não visar à obtenção de lucro e deter capital social
majoritariamente estatal. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido.

(RE 852302 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
15/12/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-037 DIVULG 26-02-2016 PUBLIC 29-02-
2016)

4 – Capacidade Postulatória / Representação Judicial


da Fazenda Pública

4.1 – Considerações Gerais

Em juízo, a Fazenda Pública será representada por seus procuradores


judiciais, titulares de cargos públicos e regularmente inscritos na Ordem dos
Advogados do Brasil. Tais procuradores não necessitam de procuração para
atuarem, eis que mantém um vínculo legal com a Administração Pública.
Segundo PEREIRA (2003, pg. 82):

A procuração é materialização de negócio jurídico, circunstância incompatível com


a natureza da relação que se estabelece entre o órgão público e seus procuradores.
Seu poder de representação está in reipsa. Não por acaso, descabe
substabelecimento dos poderes advindos de lei decorrentes da nomeação.

Assim, a aprovação do procurador em concurso público e sua nomeação


em Diário Oficial lhe legitimam a atuar em nome da Fazenda Pública em juízo.
Tal legitimidade independe de qualquer outra providência específica, sendo
desnecessário inclusive que o advogado público acoste aos autos seu termo de
posse no respectivo cargo público.

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Ressalte-se que é comum, no seio da atuação do ente público, que diversos


procuradores diferentes atuem no mesmo processo, sendo desnecessário que
cada um acoste o respectivo substabelecimento lhe outorgando poderes para
atuar.
Segundo Leonardo Cunha, para Pontes de Miranda, o procurador presenta
a Fazenda Pública em Juízo, eis que esta se faz presente em juízo através
daquele: (2017, pg. 07)

Então, o advogado público quando atua perante os órgãos do Poder Judiciário é a


Fazenda Pública presente em juízo. Em outras palavras, a Fazenda Pública se faz
presente em juízo por seus procuradores. (...) Uma vez investido no cargo ou
função, o procurador público adquire a representação (leia-se presentação) da
Fazenda Pública, estando incluídos nessa presentação os poderes gerais para o foro.

A Constituição Federal dispõe sobre a Advocacia Pública em seus artigos


131 (Advocacia Geral da União) e 132 (Procuradorias Estaduais e do Distrito
Federal):

Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através


de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-
lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e
funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder
Executivo.

§ 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre


nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco
anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

§ 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este
artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos.

§ 3º Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União


cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei.

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em


carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com
a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão
a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.
Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade
após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os
órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.

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Assim, a Lei Complementar 73/1993 (leitura obrigatória aos candidatos à


Advocacia Pública Federal) regula o funcionamento da Advocacia Geral da União,
que é responsável pela representação judicial e extrajudicial da União. Da mesma
forma, a Constituição dos Estados e as Leis Orgânicas de cada Procuradoria
regulam a matéria em âmbito estadual.
Já a advocacia pública municipal depende da legislação local de cada
Município, consoante será visto adiante.

4.2 – Advocacia Pública Estadual

Os procuradores estaduais fazem parte da Procuradora Geral do Estado,


órgão integrante da Administração Direta estadual. Estes integram carreira
vinculada ao Poder Executivo e, segundo o Supremo Tribunal Federal, a
Constituição não lhes assegurou independência funcional, tal qual o fez para os
membros do Ministério Público:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 96 E 100, I E III, DA


CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO AMAZONAS. INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL DOS
PROCURADORES ESTADUAIS. Perda do objeto do feito em relação ao art. 96 e ao
inciso III do art. 100 da Carta amazonense, tendo em vista posteriores modificações
nos textos normativos impugnados. O inciso I do mencionado art. 100, por sua
vez, ao atribuir independência funcional aos Procuradores do Estado do
Amazonas, desvirtua a configuração jurídica fixada pelo texto
constitucional federal para as Procuradorias estaduais, desrespeitando o
art. 132 da Carta da República. Ação julgada procedente, tão-somente, para
declarar a inconstitucionalidade do inciso I do art. 100 da Constituição do
Amazonas.

(ADI 470, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em 01/07/2002,
DJ 11-10-2002 PP-00021 EMENT VOL-02086-01 PP-00001)

Além disso, os Procuradores Estaduais não gozam da garantia de


inamovibilidade sendo estes subordinados hierárquicos do Chefe do Poder
Executivo que poderá interferir na sua atuação. Exatamente por isto, é
inconstitucional a norma de Constituição Estadual que atribua autonomia
funcional e administrativa à Procuradoria Estadual.

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Neste sentido já se pronunciou o Supremo Tribunal Federal:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. NORMAS DA


CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO MATO GROSSO. RESTRIÇÃO DO PODER DO CHEFE
DO EXECUTIVO. PRERROGATIVAS AOS PROCURADORES DO ESTADO.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NORMAS DE REPRODUÇÃO OBRIGATÓRIA. AÇÃO
DIRETA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. A Constituição do Estado do Mato
Grosso, ao condicionar a destituição do Procurador-Geral do Estado à autorização
da Assembleia Legislativa, ofende o disposto no art. 84, XXV e art. 131, § 1º da
CF/88. Compete ao Chefe do Executivo dispor sobre as matérias exclusivas de sua
iniciativa, não podendo tal prerrogativa ser estendida ao Procurador-Geral do
Estado. A Constituição Estadual não pode impedir que o Chefe do Poder
Executivo interfira na atuação dos Procurados do Estado, seus
subordinados hierárquicos. É inconstitucional norma que atribui à
Procuradoria-Geral do Estado autonomia funcional e administrativa, dado
o princípio da hierarquia que informa a atuação dos servidores da
Administração Pública. O cargo de Procurador Geral do Estado é de livre
nomeação e exoneração pelo Governador do Estado, que pode escolher o
Procurador Geral entre membros da carreira ou não. Precedentes. A garantia
da inamovibilidade é conferida pela Constituição Federal apenas aos
Magistrados, aos membros do Ministério Público e aos membros da
Defensoria Pública, não podendo ser estendida aos Procuradores do
Estado. Em síntese, a autonomia conferida aos Estados pelo art. 25, caput
da Constituição Federal não tem o condão de afastar as normas
constitucionais de observância obrigatória. Precedentes. Ação direta julgada
parcialmente procedente.
(ADI 291, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em
07/04/2010, DJe-168 DIVULG 09-09-2010 PUBLIC 10-09-2010 EMENT VOL-02414-
01 PP-00001)

Ressalte-se, contudo, que esta vinculação ao Chefe do Poder Executivo não


se confunde com ausência de independência intelectual. Em verdade, goza o
Procurador de independência intelectual quanto a um parecer que irá exarar, por
exemplo, ou quanto à linha defesa que irá seguir em determinado caso.
Contudo, acaso haja uma determinação do Executivo para que não se faça
acordo em determinado processo, não goza o procurador de independência para,
sob sua exclusiva análise, responder em nome do Ente público celebrando a
transação.
Ainda quanto ao tema procuradoria, poderá o Chefe do Poder Executivo
contratar advogados privados em questões específicas, mesmo existente
quadro organizado de procuradores:

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EMENTA: I – (...) II - ADVOCACIA DE ESTADO (CF, ARTS. 131 E 132):


REPRESENTAÇÃO JUDICIAL NÃO EXCLUDENTE DA CONSTITUIÇÃO DE
MANDATARIO AD JUDICIA PARA CAUSA ESPECIFICA. AO CONFERIR AOS
PROCURADORES DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL A SUA REPRESENTAÇÃO
JUDICIAL, O ARTIGO 132 DA CONSTITUIÇÃO VEICULA NORMA DE ORGANIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA, SEM TOLHER A CAPACIDADE DE TAIS ENTIDADES
FEDERATIVAS PARA CONFERIR MANDATO AD JUDICIA A OUTROS ADVOGADOS
PARA CAUSAS ESPECIAIS.
(Pet 409 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
18/04/1990, DJ 29-06-1990 PP-06219 EMENT VOL-01587-01 PP-00127)

Em síntese muito bem elaborada, assim disse o Ministro Gilmar Mendes


(2015, pg. 1.037):

Constituição não assegura independência funcional ao advogado público, e o STF já


estimou contrária à Constituição norma estadual que o estabelecia. Não é válida a
deliberação do constituinte estadual de conferir autonomia funcional e
administrativa à Procuradoria-Geral do Estado, como tampouco lhe é dado conferir
aos membros da carreira a garantia da inamovibilidade.
Mesmo institucionalizada a Advocacia Pública, isso não exclui a possibilidade de o
Estado constituir mandatário ad judicia para causas específicas. O poder de
representação do advogado público, entretanto, decorre de lei e prescinde de
mandato.

Quanto ao aspecto processual, as citações e intimações dos processos


judiciais são recebidas exclusivamente pelo Procurador Geral, não cabendo ao
Governador, pois, a representação judicial do Estado.
Diferentemente do que ocorre na União, a divisão interna de trabalho
dentro das Procuradorias não repercute na representação judicial dos Estados.
Exatamente por isto, mesmo quando a Procuradoria do ente público se subdivide
em áreas, nada impede que um procurador da área fiscal atue em uma demanda
trabalhista, por exemplo (CUNHA, 2017, pg. 12).

O simples fato de ser procurador do Estado, independentemente da função interna


que exerça, permite-lhe representar judicialmente a Fazenda Estadual, sem que
isso traga alguma implicação para o processo.

4.3 – Advocacia Pública Municipal

Quanto à advocacia pública municipal, a situação é um pouco diferente.


Isto porque a imensa maioria dos Municípios brasileiros não possui Procuradoria

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organizada com membros aprovados em concurso e estrutura capacitada para


atuação em juízo. O artigo 75, III, do CPC autoriza, então, que o Prefeito possa
representar o Estado em juízo.

Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:


III - o Município, por seu prefeito ou procurador;

Analisando a situação de cada Município, a interpretação mais aceita pela


doutrina é que a defesa do ente deve ser feita da seguinte forma:

Atribuída ao Prefeito que deve constituir


Sem Procuradoria advogado mediante Procuração para
Organizada defender o Município em Juízo. O Prefeito
recebe as citações;
Representação
Judicial dos
Municípios
Atribuída ao Procurador. Este quem
Com Procuradoria
recebe as citações e intimações e atua
Organizada criada
em juízo independente de Procuração
por Lei.
Representação in re ipsa.

E se o Prefeito for também advogado, poderá ele atuar em defesa do


Município?

A resposta é negativa.
De acordo com o artigo 28, inciso I, do Estatuto da Advocacia (Lei
8.906/94), o exercício do Mandato de Chefe do Poder Executivo é incompatível
com a advocacia. Por esta razão, não poderá o Prefeito atuar em defesa do
Município em juízo, ainda que seja advogado regularmente inscrito na Ordem dos
Advogados do Brasil.
Eis o dispositivo legal para análise:

Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes


atividades:

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I - chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus


substitutos legais;

Deverá, assim, o Prefeito contratar advogado que, mediante procuração a


ele outorgada, irá atuar em juízo na defesa dos interesses do Município.

4.4 – Representação Judicial das Autarquias e


Fundações

Quanto à representação judicial das Autarquias e Fundações Públicas, a


própria lei que cria o ente público deverá estabelecer a responsabilidade por sua
representação judicial. No âmbito Federal, a lei 10.408/2002 já resolveu a
questão atribuindo tal função à Procuradoria Geral Federal.
Contudo no âmbito Estadual, Distrital ou Municipal, podem ocorrer as
seguintes situações:

Cria o cargo de A estes competem a presentação judicial


Procurador da Autarquia ou Fundação. Recebem as
Autárquico ou citações e atuam independente de
Fundacional; procuração.

Presentação feita pelo dirigente do


Não cria o cargo de
Lei Criadora órgão. Este deve constituir advogado
Procurador Autárquico
da Autarquia mediante procuração para defender a
ou Fundacional;
ou Fundação. Autarquia ou Fundação em juízo.

Não cria o cargo de Procurador


Autárquico ou Fundacional, Aos procuradores do Estado
mas estabelece que a competem a presentação judicial
representação jurídica do da Autarquia ou Fundação.
ente será feita pela Recebem as citações e atuam
Procuradoria Geral do independente de procuração.
Estado ou do Município.

Neste sentido, tem-se a Súmula 644 do STF, aplicável quanto aos


Procuradores Autárquicos com cargos criados por lei:

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Súmula 644 - STF - Ao titular do cargo de procurador de autarquia não se exige


a apresentação de instrumento de mandato para representá-la em Juízo.

É dizer: no caso de a lei criadora da Autarquia estabelecer a criação de


cargos de Procurador Autárquico, estes poderão atuar em defesa do ente público
sem necessidade de acostarem procuração ou termo de nomeação e posse. Os
poderes são dados ao procurador pela própria lei.
Diz-se que o mandado é ex lege.

4.5 – Procuradores Legislativos


0

Em que pese as Câmaras e as Assembleias Legislativas serem entes


despersonalizados constituindo órgãos dos Municípios e dos Estados,
respectivamente, em diversas oportunidades estes necessitam fazer-se
representar em juízo na defesa de seus interesses institucionais, para garantir
sua autonomia e independência.
Assim, em que pese a advocacia pública dos Estados e Município estarem
ligadas ao Poder Executivo, o Supremo Tribunal Federal entendeu ser
constitucional a criação de órgãos de consultoria e assessoria jurídica do
Legislativo para atuarem e presentarem tal poder em juízo.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA Nº 9, DE 12.12.96. LEI


ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL. CRIAÇÃO DE PROCURADORIA GERAL PARA
CONSULTORIA, ASSESSORAMENTO JURÍDICO E REPRESENTAÇÃO JUDICIAL DA
CÂMARA LEGISLATIVA. PROCURADORIA GERAL DO DISTRITO FEDERAL.
ALEGAÇÃO DE VÍCIO DE INICIATIVA E DE OFENSA AO ART. 132 DA CF. (...)é a
responsável pelo desempenho da atividade jurídica consultiva e contenciosa
exercida na defesa dos interesses da pessoa jurídica de direito público Distrito
Federal. 4. Não obstante, a jurisprudência desta Corte reconhece a
ocorrência de situações em que o Poder Legislativo necessite praticar em
juízo, em nome próprio, uma série de atos processuais na defesa de sua
autonomia e independência frente aos demais Poderes, nada impedindo
que assim o faça por meio de um setor pertencente a sua estrutura
administrativa, também responsável pela consultoria e assessoramento
jurídico de seus demais órgãos. Precedentes: ADI 175, DJ 08.10.93 e ADI 825,
DJ 01.02.93. Ação direita de inconstitucionalidade julgada parcialmente
procedente.

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(ADI 1557, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em


31/03/2004, DJ 18-06-2004 PP-00043 EMENT VOL-02156-01 PP-00033 RTJ VOL
00192-02 PP-00473)

É que os órgãos do Poder Legislativo não possuem personalidade jurídica


e segundo a doutrina tradicional não poderiam demandar em juízo por não
estarem incluídos entre os entes previstos no artigo 75, do CPC:

Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:


I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão
vinculado;
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;
IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado
designar;
V - a massa falida, pelo administrador judicial;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
VII - o espólio, pelo inventariante;
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou,
não havendo essa designação, por seus diretores;
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem
personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens;
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de
sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil;
XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico.

Leonardo Cunha não concorda com este entendimento e defende que a


ausência de personalidade jurídica não induz necessariamente à ausência de
capacidade. Para ele o que faltaria ao Poder Legislativo seria legitimidade para
discutir determinada demanda em juízo (CUNHA, 2017, pg. 18).
Contudo, mesmo adotando-se o entendimento da doutrina tradicional,
fato é que tanto o espólio como o condomínio, apesar de entes
despersonalizados, possuem capacidade jurídica, eis que podem ser sujeitos de
direitos e são entes inseridos no rol do artigo 75 (incisos VII e Xi
respectivamente).
Utilizando este raciocínio, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o
entendimento segundo o qual as Câmaras Municipais e as Assembleias
Legislativas, apesar de não possuírem personalidade jurídica, possuem
personalidade judiciária, a qual lhes autoriza atuar em juízo para defender os

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seus interesses estritamente institucionais: aqueles relacionados ao


funcionamento, autonomia e independência do órgão.
Neste sentido:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUPOSTA OFENSA AO ART. 535 DO CPC.


INEXISTÊNCIA DE VÍCIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. MANDADO DE SEGURANÇA
IMPETRADO POR CÂMARA MUNICIPAL PARA DISCUTIR RETENÇÃO DE VALORES DO
FPM. ILEGITIMIDADE ATIVA.
1. Não havendo no acórdão recorrido omissão, obscuridade ou contradição, não fica
caracterizada ofensa ao art. 535 do CPC.
2. A Câmara Municipal não possui personalidade jurídica, mas apenas personalidade
judiciária, a qual lhe autoriza apenas atuar em juízo para defender os seus
interesses estritamente institucionais, ou seja, aqueles relacionados ao
funcionamento, autonomia e independência do órgão, não se enquadrando, nesse
rol, o interesse patrimonial do ente municipal.
Nesse sentido: REsp 1.164.017/PI, 1ª Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJe de
6.4.2010.
3. Recurso especial não provido.
(REsp 1429322/AL, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 20/02/2014, DJe 28/02/2014)

Tal entendimento, inclusive, fora pacificado pelo Superior Tribunal de


Justiça através da Súmula 525:

Súmula 525 – STJ - A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica,


apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para
defender os seus direitos institucionais.

Ao mesmo tempo, certos atos voltados às contratações públicas e aos


procedimentos administrativos que necessitam de um parecer judicial, exigem a
atuação de um advogado público.
Assim, decidiu o Supremo Tribunal Federal ser constitucional a criação de
Procuradorias Legislativas tanto para a defesa dos interesses peculiares que
assegurem a autonomia ou independência do Poder Legislativo frente aos demais
poderes, como para análise de procedimentos jurídicos internos do órgão.
Possível, portanto, a contratação de advogado público pelo Poder
Legislativo para a defesa de seus interesses institucionais, consoante palavras do
Ministro Gilmar Mendes (2015, pg. 1.037):

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Assentou a Suprema Corte que a defesa dos interesses da pessoa política – do


Estado ou do Distrito Federal – está a cargo da Procuradoria-Geral da unidade
federada. Reconheceu, todavia, que é válida a criação de Procuradoria Legislativa,
para os atos orientados à “defesa de interesses peculiares que assegurem sua
autonomia ou independência frente aos demais poderes”.

Mas professor, o que seriam estes interesses institucionais?

Podemos afirmar que se tratam de interesses relacionados ao


funcionamento, autonomia e independência do órgão.
Apontaremos, para facilitar a compreenão, decisões do STJ sobre o tema.

Não possui legitimidade a Câmara Municipal para discutir demanda


patrimonial em juízo relativa à Contribuição Previdenciária de seus
servidores.

PROCESSUAL CIVIL. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA INCIDENTE SOBRE A


REMUNERAÇÃO PAGA A VEREADORES. AÇÃO ORDINÁRIA INIBITÓRIA DE
COBRANÇA PROPOSTA CONTRA A UNIÃO E O INSS. ILEGITIMIDADE ATIVA DA
CÂMARA DE VEREADORES.
1. A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, mas apenas
personalidade judiciária, de modo que somente pode demandar em juízo para
defender os seus direitos institucionais, entendidos esses como sendo os
relacionados ao funcionamento, autonomia e independência do órgão.
2. Para se aferir a legitimação ativa dos órgãos legislativos, é necessário qualificar
a pretensão em análise para se concluir se está, ou não, relacionada a interesses e
prerrogativas institucionais.
3. No caso, a Câmara de Vereadores do Município de Lagoa do Piauí/PI ajuizou ação
ordinária inibitória com pedido de tutela antecipada contra a Fazenda Nacional e o
INSS, objetivando afastar a incidência da contribuição previdenciária sobre os
vencimentos pagos aos próprios vereadores.
4. Não se trata, portanto, de defesa de prerrogativa institucional, mas de pretensão
de cunho patrimonial.
5. Recurso especial provido.
(REsp 1164017/PI, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
24/03/2010, DJe 06/04/2010)

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Não possui legitimidade a Câmara Municipal para requerer a repetição


de valores eventualmente pagos a título de Contribuição Previdenciária
de vereadores.

PROCESSUAL CIVIL. COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DE


PREFEITO, VICE-PREFEITO E VEREADORES. IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE
SEGURANÇA POR CÂMARA MUNICIPAL. PERSONALIDADE JURÍDICA E JUDICIAL.
INSTITUTOS DISTINTOS. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. CARÊNCIA DE AÇÃO.
PRECEDENTES DESTA CORTE SUPERIOR.
1. Recurso especial interposto contra v. Acórdão que extinguiu o processo, sem
exame do mérito, devido à ilegitimidade ativa dos Impetrantes, em face de
Mandado de Segurança impetrado pelo Presidente da Câmara Municipal e pelo
Prefeito de Três Corações - MG - contra o INSS pleiteando a devolução das
importâncias pagas a título de contribuições previdenciárias sobre a folha de
salários, no que toca às remunerações dos ocupantes de cargos eletivos, como o
Prefeito, o Vice-Prefeito e os Vereadores, assim como não fossem feitas novas
cobranças para o recolhimento no pagamento dos agentes políticos referenciados.
2. A jurisprudência desta colenda Corte de Justiça possui entendimento pacífico e
uníssono no sentido de que: - em nossa organização jurídica, as Câmaras
Municipais não têm personalidade jurídica. Tem elas, apenas, personalidade
judiciária, cuja capacidade processual é limitada para demandar em juízo, com o
intuito único de defender direitos institucionais próprios e vinculados à sua
independência e funcionamento;
- é do Município a legitimidade, e não da Câmara de Vereadores, para figurar no
pólo ativo da ação ajuizada, in casu, com o fito de que sejam devolvidas as
importâncias pagas a título de contribuições previdenciárias sobre a folha de
salários, no que toca às remunerações dos ocupantes de cargos eletivos, como o
Prefeito, o Vice-Prefeito e os Vereadores, assim como que não sejam feitas novas
cobranças para o recolhimento no pagamento dos agentes políticos referenciados;
- a relação processual se estabelece entre os ocupantes dos cargos eletivos e o
Município;
- a ação movida pela Câmara Municipal é carente de condição processual para
prosseguir, ante a sua absoluta ilegitimidade ativa.
3. Precedentes desta Casa Julgadora.
4. Extinção do processo, sem julgamento do mérito, confirmada.
5. Recurso Especial não provido.
(REsp 438.651/MG, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
27/08/2002, DJ 04/11/2002, p. 165)

PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO – DEFESA JUDICIAL DE ÓRGÃO SEM


PERSONALIDADE JURÍDICA – PERSONALIDADE JUDICIÁRIA DA CÂMARA DE
VEREADORES.
1. A regra geral é a de que só os entes personalizados, com capacidade jurídica,
têm capacidade de estar em juízo, na defesa dos seus direitos.
2. Criação doutrinária acolhida pela jurisprudência no sentido de admitir que órgãos
sem personalidade jurídica possam em juízo defender interesses e direitos próprios,

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excepcionalmente, para manutenção, preservação, autonomia e independência das


atividades do órgão em face de outro Poder.
3. Hipótese em que a Câmara de Vereadores pretende não recolher contribuição
previdenciária dos salários pagos aos Vereadores, por entender inconstitucional a
cobrança.
4. Impertinência da situação excepcional, porque não configurada a hipótese de
defesa de interesses e prerrogativas funcionais.
5. Recurso especial improvido.
(REsp 649.824/RN, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
28/03/2006, DJ 30/05/2006, p. 136)

Quanto ao mesmo tema, não poderá a Câmara Municipal propor,


inclusive, Ação Rescisória.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.


VEREADORES. CÂMARA MUNICIPAL. PERSONALIDADE JURÍDICA E JUDICIAL.
INSTITUTOS DISTINTOS. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. CARÊNCIA DE AÇÃO.
PRECEDENTES.
1. Cuida-se de ação rescisória movida pela Câmara Municipal de Senador Sá/CE
objetivando a desconstituição de acórdão em que foi reconhecida a legalidade e
constitucionalidade da incidência de contribuição previdenciária sobre o subsídio
percebido por agentes políticos. O TRF da 5ª Região (fls. 119/131), por
unanimidade, julgou procedente a ação, por entender que: a) é cabível a ação
rescisória, ainda que ausente a indicação do dispositivo legal violado, por restar
claro na exordial que a pretensão autoral é a desconstituição de julgado com base
em pronunciamento do STF que declarou a inconstitucionalidade da exação
discutida; b) há inúmeros precedentes deste Tribunal Regional que reconhecem a
legitimidade das Câmaras Municipais em ações deste jaez; c) no mérito,
desconstituir o acórdão a teor da manifestação da Corte Suprema no Recurso
Extraordinário n. 351.717-1. Na via especial, o INSS sustenta, em síntese, que em
hipóteses semelhantes, há pronunciamento deste STJ favorável a sua tese, no
sentido da declaração de ilegitimidade da Câmara Municipal para defender a
inconstitucionalidade da contribuição previdenciária sobre a remuneração de
agentes políticos.
2. A jurisprudência desta colenda Corte de Justiça possui entendimento pacífico e
uníssono no sentido de que: - em nossa organização jurídica, as Câmaras
Municipais não têm personalidade jurídica. Tem elas, apenas, personalidade
judiciária, cuja capacidade processual é limitada para demandar em juízo, com o
intuito único de defender direitos institucionais próprios e vinculados à sua
independência e funcionamento;
- é do Município a legitimidade, e não da Câmara de Vereadores, para figurar no
pólo ativo da ação ajuizada, in casu, com o fito de que sejam devolvidas as
importâncias pagas a título de contribuições previdenciárias sobre a folha de
salários, no que toca às remunerações dos ocupantes de cargos eletivos
(vereadores), assim como que não sejam feitas novas cobranças para o
recolhimento no pagamento dos agentes políticos referenciados;
- a relação processual se estabelece entre os ocupantes dos cargos eletivos e o
Município;

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- a ação movida pela Câmara Municipal é carente de condição processual para


prosseguir, ante a sua absoluta ilegitimidade ativa.
3. Precedentes mais recentes: REsp 649.824/RN, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de
30/05/2006 e REsp 696.561/RN, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 24/10/2005.
4. Recurso especial provido.
(REsp 946.676/CE, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/10/2007, DJ 19/11/2007, p. 205)

Assim, apenas acaso seja questionada em juízo uma prerrogativa


institucional, é que terá a Câmara Municipal legitimidade para a causa. Nestes
casos, deverá o órgão ser representado em juízo por seu Procurador Legislativo.

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5 – Prerrogativas e Prazos Processuais da Fazenda


Pública

5.1 – Constitucionalidade das prerrogativas


processuais

A paridade de armas entre os litigantes é um dos princípios do processo civil


brasileiro, previsto nos artigos 7º e 139, I, do CPC:

Art. 7º. É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de


direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo
contraditório.

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

As prerrogativas processuais aplicadas à Fazenda Pública não seriam


inconstitucionais por ferirem a isonomia processual prevista no artigo
5º, da CF?

O que está em jogo no processo judicial que tramita em face da


Administração Pública é o próprio interesse público em juízo - o interesse de toda
a coletividade - e cabe à Fazenda zelar por sua proteção (DI PIETRO, 1991, pg.
160):

“a Administração Pública não é titular do interesse público, mas apenas sua guardiã;
ela tem que zelar pela sua proteção. Daí a indisponibilidade do interesse público.”

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Representando a Fazenda Pública o interesse da coletividade, identificando-


se com a ideia de bem comum, tem-se como um dos alicerces do direito público
a supremacia do interesse público. Segundo Leonardo Cunha, a Fazenda Pública
não é “titular do interesse público, mas se apresenta como o ente destinado a
preservá-lo”. (2017, pg. 28).
Em razão disso, necessária a estruturação de toda uma burocracia para
fiscalizar e controlar a atuação dos agentes públicos enquanto representantes do
interesse maior.
Assim, ao analisar determinado processo, a Administração Pública precisa
percorrer um caminho muito maior que o particular no intuito de conseguir provas
para instruir os autos. Seja através de ofícios, procedimentos administrativos ou
consultas formais, a discrepância entre a atuação do particular e do poder público
em juízo é flagrante.
As prerrogativas processuais aplicáveis à Fazenda Pública justificam-se em
razão da discrepância processual existente entre esta e o particular, inexistindo
inconstitucionalidade a respeito do tema. Esta a forma de se dar efetividade ao
princípio da igualdade, tratando-se de forma desigual os desiguais.

5.2 – Prerrogativas em espécie

Definida a constitucionalidade das prerrogativas processuais aplicáveis à


Fazenda Pública, passemos à análise destas prerrogativas em espécie.

a) Prazos diferenciados

O Código de Processo Civil de 1973 previa em seu artigo 188 o prazo em


quádruplo para a Fazenda Pública contestar e em dobro para recorrer2. Tal
dispositivo trouxe algumas dúvidas quanto à sua aplicação, boa parte sanadas

2
CPC/73, Art. 188. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer
quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.

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com o Novo Código de Processo Civil, que em seu artigo 183 estabeleceu o prazo
em dobro para todas as manifestações processuais da Fazenda Pública:

Novo CPC, Artigo 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro
para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a
partir da intimação pessoal.

É interessante que se tenha domínio sobre as


regras existentes no Código de Processo Civil
de 1973 e no atual CPC, comparando-as:

CONTESTAR - PRAZO
EM QUÁDRUPLO.
CPC/73, Artigo
188.
Presentação RECORRER - PRAZO
Judicial da EM DOBRO.
Fazenda
Pública

Novo CPC, Artigo Prazo tanto para contestar como para


183. recorrer será sempre em DOBRO.

b) Intimação pessoal

A intimação pessoal da Fazenda Pública sempre esteve prevista na Lei


6.830/80, especificamente em seu artigo 25 quanto aos procedimentos de
Execução Fiscal.

Art. 25 - Na execução fiscal, qualquer intimação ao representante judicial da


Fazenda Pública será feita pessoalmente.

Parágrafo Único - A intimação de que trata este artigo poderá ser feita mediante
vista dos autos, com imediata remessa ao representante judicial da Fazenda
Pública, pelo cartório ou secretaria.

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Com o Novo CPC, o artigo 183 estendeu tal prerrogativa para todos os
Entes Públicos e em todos os processos. Transcreve-se novamente o referido
dispositivo:

Novo CPC. Artigo 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro
para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir
da intimação pessoal.

Referida intimação poderá ser realizada por carga, remessa ou por meio
eletrônico, conforme disposto no parágrafo 1º, do Artigo 183:

§ 1o A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico.

Segundo Leonardo Cunha (2017, pg. 56), a contagem dos prazos deve ser
feita a depender da forma de intimação:

i. Por carga – o início da contagem dos prazos deve se dar no dia da


carga (Novo CPC, Artigo 231. Salvo disposição em sentido diverso,
considera-se dia do começo do prazo: (...)VIII - o dia da carga, quando
a intimação se der por meio da retirada dos autos, em carga, do cartório
ou da secretaria.

ii. Por remessa dos autos – o dia da remessa dos autos com vistas e não
da manifestação do ciente pela Administração Pública;

iii. Por meio eletrônico – o dia útil seguinte à consulta ao teor da


intimação ou término do prazo para que a consulta se dê (Novo CPC,
Artigo 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do
começo do prazo: V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou
da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê, quando
a citação ou a intimação for eletrônica;)

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5.3 – Interpretação e Alcance das Prerrogativas

Cumpre esclarecer que a Fazenda Pública gozará das prerrogativas dos


prazos diferenciados sempre que atua em juízo, seja como parte, assistente ou
interveniente.
Sendo certo que o benefício de prazo previsto no artigo 183, do Novo CPC
aplica-se apenas aos prazos legais, eis que os prazos judiciais (aqueles fixados
pelo juiz) já levam em conta a situação da Fazenda Pública, tratemos dos
exemplos a seguir.
Antes, contudo, é válida a transcrição do parágrafo segundo, do artigo 183,
do Novo CPC, que estabelece:

§ 2o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei


estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

Quanto aos exemplos, tem-se:

a) Ação Rescisória – Não se aplica qualquer benefício de prazo à Fazenda


Pública no manejo de Ação Rescisória prevista no artigo 975 do Novo CPC.

Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito


em julgado da última decisão proferida no processo.

b) Prazo para Responder a Ação Rescisória – De acordo com o artigo 970,


do CPC, o relator irá conceder prazo para contestação da Ação Rescisória
nunca inferior a 15 e nem superior a 30 dias.

Ainda não há julgados do STF ou do STJ acerca da aplicabilidade da dobra


do prazo para contestação em ação rescisória sob a égide do Novo CPC. À
luz do CPC/73, encontramos julgados do STJ onde se aplica a dobra
prevista em benefício da Fazenda Pública:

PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO PARA CONTESTAÇÃO. ARTIGO 188


DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

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1. A regra do artigo 188 do Código de Processo Civil, referente à dilação de


prazos processuais, é aplicável ao prazo de resposta para a ação rescisória.
2. Precedentes do STF e do STJ.
3. Recurso especial conhecido.
(REsp 363.780/RS, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em
27/08/2002, DJ 02/12/2002, p. 379)

Para Leonardo Cunha, contudo, esta aplicação estaria equivocada por


exceder o prazo previsto no próprio artigo 970 do CPC/2015 (2017, pg.
49):

Art. 970. O relator ordenará a citação do réu, designando-lhe prazo nunca inferior
a 15 (quinze) dias nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo, apresentar
resposta, ao fim do qual, com ou sem contestação, observar-se-á, no que couber,
o procedimento comum.

c) Embargos à Execução – Não se aplica à Fazenda Pública o benefício de


prazo dobrado para apresentar Embargos à Execução, eis que há previsão
expressa de prazo próprio para o ente público no artigo 535 do Novo CPC
(art. 183, §2º, CPC):

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial,
por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias
e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:

d) Prazo para Contestar a Ação Popular – A Lei 4.717/65, em seu artigo


7, IV, estabelece o prazo de vinte dias para contestação, prorrogáveis por
mais vinte. Esta demanda é destinada à preservação do patrimônio público
e é proposta, em regra, em face de um ente público.

Assim, entende-se que o prazo previsto na lei é próprio do ente público,


aplicando-se a previsão do artigo 183, parágrafo 2º, do CPC: inexiste
benefício de prazo para a Fazenda Pública.

Art. 7º A ação obedecerá ao procedimento ordinário, previsto no Código de Processo


Civil, observadas as seguintes normas modificativas:

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IV - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis por mais 20 (vinte),


a requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova
documental, e será comum a todos os interessados, correndo da entrega em
cartório do mandado cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado
em edital.

5.4 – Questões polêmicas e com ampla incidência em


provas

Dentro do tema proposto na presente aula, identificamos diversos pontos


polêmicos que possuem ampla incidência em provas objetivas. Em geral, tais
controvérsias foram solucionadas pelo Novo Código de Processo Civil, razão pela
qual é importante ao candidato o domínio das mudanças para lograr uma maior
quantidade de acertos. Vamos a eles.

a) Prazo na apresentação de contrarrazões e recurso adesivo

De acordo com o antigo CPC, não havia qualquer prerrogativa em prazos


para a Fazenda Pública apresentar contrarrazões. A disciplina legal apenas
estabelecia o benefício do prazo para recurso (prazo em dobro) e para contestar
(prazo quádruplo):

CPC/73, Art. 188. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro


para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.

Ora, se o prazo para contrarrazões da Fazenda Pública é simples e o prazo


para recurso adesivo é idêntico ao prazo de defesa recursal (artigo 500, I,
CPC/73), a dúvida que pairava era sobre a aplicação do prazo dobrado para
interposição de recurso adesivo.
O STJ pacificou o entendimento à época afirmando que adesiva é apenas
uma modalidade de interposição do recurso. Este permanece sendo um recurso
como qualquer outro, razão pela qual deveria ser aplicável o prazo em dobro para
o seu manejo.

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PROCESSO CIVIL RECURSO ADESIVO DE PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO


QUE GOZA DE PRAZO EM DOBRO PARA INTERPOSIÇÃO DE QUALQUER RECURSO.
ART. 188, CPC E ART. 500, I, CPC, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI N.º 8.950/94.
RECEPÇÃO PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. PRECEDENTES DO EXCELSO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. O art. 188 do Código de Processo Civil é expresso
na admissão do prazo recursal em dobro para as pessoas jurídicas de direito
público, embora não o faça para apresentação de contra-razões. Na verdade
"adesivo" é a modalidade de interposição do recurso, e não uma outra
espécie recursal. Por isso, que o recurso do autor Município é "recurso de
apelação", na modalidade "adesiva", e para sua interposição, como de
qualquer outro recurso, goza do privilégio de interposição no prazo
dobrado.

(STJ - REsp: 171543 RS 1998/0027642-4, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI,


Data de Julgamento: 18/04/2000, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ
22.05.2000 p. 97</br> REPDJ 29.05.2000 p. 139</br> RSTJ vol. 133 p. 198)

Assim, o STJ entendeu que, à luz do CPC/73, o prazo para contrarrazões


da Fazenda Pública será sempre simples e o prazo para recurso adesivo será em
dobro, eis que adesivo não é uma nova espécie recursal, mas uma modalidade
de interposição do recurso.
Disciplinando a matéria, o Novo Código de Processo Civil estabeleceu em
seu artigo 183 que TODAS AS MANIFESTAÇÕES PROCESSUAIS da Fazenda
Pública serão em dobro.
À luz do Novo CPC, portanto, o prazo aplicável à Fazenda Pública
será contado em dobro tanto para a apresentação de contrarrazões,
como para a apresentação de recurso adesivo.

b) Fax e momento da apresentação dos originais

De acordo com a Lei 9.800/99, possível a apresentação de peças


processuais através de sistema de transmissão de dados e imagens (fac símile),
devendo – nos termos do artigo segundo – os originais serem entregues em juízo
até cinco dias após o prazo processual.

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Lei 9.800/99, Artigo 2º. A utilização de sistema de transmissão de dados e imagens


não prejudica o cumprimento dos prazos, devendo os originais ser entregues em
juízo, necessariamente, até cinco dias da data de seu término.

Surgira, então, a seguinte dúvida: qual o início do prazo de cinco dias para
juntada dos originais? A data do protocolo da petição ou a data do término do
prazo processual?
Pacificando a matéria, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que o prazo
para juntada dos originais deveria ser contado do término do prazo do recurso
que se estava protocolando, ainda que a petição tenha sido protocolada antes do
prazo final para sua propositura:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL INTERPOSTO POR FAX. ORIGINAIS


INTEMPESTIVOS. ARTIGO 2º DA LEI N.º 9.800/99. PRAZO CONTÍNUO. O prazo de
cinco dias previsto na parte final do artigo 2º da Lei nº 9.800/99 para a
apresentação da petição original é contínuo, caracterizando simples
prorrogação do anterior, não se suspendendo aos sábados, domingos e feriados,
iniciando-se a sua contagem no primeiro dia subseqüente ao termo final
para a interposição do recurso enviado via fax. Entendimento consagrado pela
Corte Especial deste Tribunal no AgRg nos EREsp n. 640.803/RS. Agravo regimental
improvido.

(STJ - AgRg no Ag: 1033850 SP 2008/0072085-7, Relator: Ministro SIDNEI BENETI,


Data de Julgamento: 16/09/2008, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: <!-
- DTPB: 20081008<br> --> DJe 08/10/2008)

c) Fax e prazo em dobro aplicável à Fazenda Pública para juntada dos


originais

Questionava-se, ainda, se o prazo para juntada dos originais, após o


protocolo via fax, poderia ser aplicado em dobro à Fazenda Pública. O STJ
pacificou a matéria afirmando a impossibilidade de contagem diferenciada em
favor da Fazenda Pública nestes casos:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL.


FAZENDA PÚBLICA. PRAZO EM DOBRO. RECURSO INTERPOSTO VIA "FAX".
JUNTADA DA VIA ORIGINAL. ART. 188 DO CPC. INAPLICABILIDADE. 1. A

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prerrogativa legal concedida à Fazenda Pública na forma do art. 188 do


CPC não se aplica à hipótese prevista no art. 2º da Lei n. 9.800/99. 2.
Embargos de declaração não-conhecidos.

(STJ - EDcl no REsp: 253654 PR 2000/0030940-0, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO


DE NORONHA, Data de Julgamento: 15/08/2006, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: DJ 13/09/2006 p. 263)

d) Inviabilidade da cumulação do prazo em dobro aplicável a


litisconsortes com procuradores diferentes

A questão envolve a harmonização entre os institutos das prerrogativas


processuais aplicáveis à Fazenda Pública e o prazo diferenciado aplicável a
litisconsortes com diferentes procuradores. Quanto à disciplina legal, tanto no
CPC/73 quanto no CPC atual, há previsão expressa quanto ao prazo em dobro
aplicável aos litisconsortes com procuradores diferentes.

CPC/73. Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-


lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo
geral, para falar nos autos.

Novo CPC. Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de


escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas
as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de
requerimento.

À Fazenda Pública não se aplica os dois benefícios de forma cumulada


(prazo em dobro em razão da posição processual e prazo em dobro em razão de
existirem litisconsortes com diferentes procuradores), eis que geraria uma
injustificável aplicação de prazo em quádruplo, prejudicial à celeridade do
processo.
Assim, se a demanda for proposta em face da União, de um Estado e de
um Município em litisconsórcio, tais entes gozarão de prazo em dobro para
contestar, em razão de sua posição processual, não se lhe aproveitando as
prerrogativas do artigo 229 do CPC.

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d) Prazos em Ações de Controle de Concentrado de


Constitucionalidade

As Ações de Controle Concentrado de Constitucionalidade são disciplinadas


pela Lei 9.868/99. Esta prevê os recursos de agravo regimental e de embargos
de declaração das decisões proferidas em tais procedimentos:

Art. 15. A petição inicial inepta, não fundamentada e a manifestamente


improcedente serão liminarmente indeferidas pelo relator.
Parágrafo único. Cabe agravo da decisão que indeferir a petição inicial.

Art. 26. A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da


lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível,
ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser
objeto de ação rescisória.

Ocorre que o Supremo Tribunal Federal possui consolidado entendimento


sobre o tema, segundo o qual: Não há prazo recursal em dobro no processo
de controle concentrado de constitucionalidade (RE 670890 AgR, Relator
Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 14/08/2012).
Contudo, em 2014, encontra-se uma divergência da 1ª Turma do STF, em
que o Ministro Relator Dias Toffoli consagra o prazo em dobro como uma
prerrogativa exercida em favor do povo e não haveria razão para aplicação do
artigo 188 do antigo CPC em recursos protocolados em controle difuso e a sua
não aplicação em controle concentrado (1a Turma. ARE 661288/SP, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 6/5/2014.).
Atualmente, mesmo com o Novo CPC, a questão permanece indefinida.

e) Mandados de Segurança

De acordo com a Lei 12.016/2009, a Autoridade Impetrada será notificada


para prestar informações no prazo de dez dias.

Lei 12.016/2009

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Art. 7º. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:

I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda


via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez)
dias, preste as informações;

Inexiste qualquer benefício de prazo à Fazenda Pública nesta manifestação,


eis que o parágrafo segundo, do artigo 183, do Novo CPC expressamente prevê
a sua inaplicação:

Novo CPC, Art. 183. (...)

§ 2o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei


estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

Já em caso de recursos interpostos pela pessoa jurídica de direito público


interessada, as regras do artigo 183, caput, do Novo CPC são perfeitamente
aplicáveis. Assim, dispõe de prazo em dobro a Fazenda Pública para apresentar
eventual recurso no procedimento de Mandado de Segurança (seja apelação,
agravo de instrumento, agravo interno ou recurso especial/extraordinário).

6–A atuação da Fazenda Pública no polo passivo das


demandas

6.1 – Citação da Fazenda Pública

De acordo com o artigo 238 do Código de Processo Civil, a citação é o ato


de comunicação formal por meio do qual se chama a juízo o réu, o executado ou
interessado.

Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o
interessado para integrar a relação processual.

Antes da citação, o processo já existe. Contudo, apenas com este ato formal
tem-se a angulação com a integração do réu à relação jurídica processual.
Exatamente por isto (DIDIER, 2016, pg. 615):

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A citação não é pressuposto de existência do processo.

A citação é uma condição de eficácia do processo em relação ao réu (art. 312, CPC)
e, além disso, requisito de validade dos atos processuais que lhe seguirem (art.
239, CPC). A sentença, por exemplo, proferida em processo em que não houve
citação, é ato defeituoso, cuja nulidade pode ser decretada a qualquer tempo,
mesmo após o prazo para ação rescisória (art. 525, §1º, I, e art. 535, I, CPC) –
trata-se também de vício transrescisório (...).

Sendo, então, condição de eficácia do processo, necessário que a citação


da Fazenda Pública dê-se consoante suas prerrogativas processuais, sob pena de
nulidade. Há que ser observado, durante a citação, tanto o Código de Processo
Civil quanto a Lei Orgânica da respectiva Procuradoria.
De acordo com o artigo 242, parágrafo 3º, do CPC a citação da Fazenda
Pública deverá ser feita de forma pessoal perante o órgão da Administração
Pública responsável por sua representação judicial.

Art. 242. A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do
representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do interessado. (...)

§ 3o A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas


respectivas autarquias e fundações de direito público será realizada perante o órgão
de Advocacia Pública responsável por sua representação judicial.

Chega-se a tal interpretação também quando se analisa o disposto no inciso


III, do artigo 247 do CPC que não permite a citação via correios quando for réu
a pessoa jurídica de direito público, senão vejamos:

Art. 247. A citação será feita pelo correio para qualquer comarca do país, exceto:

III - quando o citando for pessoa de direito público;

Para a doutrina (CUNHA, 2017, pg. 84):

“A necessidade de citação da Fazenda Pública por oficial de Justiça tem razão de


ser. Sua justificativa resulta da burocracia interna da Administração Pública. Sendo
inerente à atividade pública a formalidade dos atos administrativos, cumpre revestir
o ato de comunicação processual de maiores cuidados a fim de evitar descontroles,
desvios, perdas ou extravios de documentos, aí incluída a citação como ato de
comunicação processual.”

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Uma vez que incumbe ao Oficial de Justiça proceder à citação pessoal do


Réu (artigo 251, CPC), não se aceita em relação à Fazenda Pública a aplicação
da Teoria da Aparência que aparece na maioria dos casos em citações postais
(CORREIA, 2001, pg. 348):

“(...) segundo esta teoria, é válido o ato citatório feito em pessoa que, estando no
estabelecimento comercial (ou na sede da pessoa jurídica demandada), aparenta
ter poderes para receber citação, mormente quando tal ato induz certeza de que o
destinatário tomou efetivo conhecimento da demanda.”

Assim, a citação deverá ser feita de forma pessoal, por intermédio de Oficial
de Justiça, através do respectivo órgão da Procuradoria do ente público.
Ressalte-se que o comparecimento espontâneo do réu supre a falta ou a
nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de
contestação (artigo 239, §1º, CPC).
Por fim, o Novo Código de Processo Civil trouxe uma novidade: quando o
processo tramitar de forma virtual, a citação da Fazenda Pública deverá ocorrer,
preferencialmente, por meio eletrônico (artigo 246, §1º e 2º).

Como o assunto pode ser abordado na sua prova?

O Examinador poderá –dentro do caso concreto apresentado – colocar que


a citação do ente público ocorrera por carta de citação recebida pela recepcionista
da Câmara.
Necessário, pois, que o candidato levante uma preliminar de nulidade de
citação antes de discutir o mérito da demanda (artigo 337, I, do CPC3) com base
nos artigos 242, parágrafo 3º e 247, III, ambos do CPC.

3
CPC, Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: I - inexistência ou nulidade
da citação.

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6.2 – Apresentação de Defesa

Uma vez citado, poderá o Réu (CUNHA, 2017, 88):

a) Reconhecer a procedência do pedido;

b) Quedar-se inerte, tornando-se revel.

c) Apresentar defesa;

a) Reconhecimento do pedido

Havia grande discussão quanto à possibilidade de a Fazenda Pública poder,


em juízo, reconhecer a procedência do pedido do Autor, dada a indisponibilidade
do direito tutelado.
Contudo, pacificou a doutrina que uma vez constatando a inexistência de
razão em determinado conflito, o ente público possui dever legal de reconhecer
a procedência do pedido. Trata-se de medida tendente a diminuir os custos da
máquina do Judiciário e a efetivar os princípios constitucionais da moralidade,
legalidade e impessoalidade.
Assim, poderá o ente público reconhecer a procedência do pedido do Autor
desde que haja (CUNHA, 2017, pg. 89):

i. Prévio processo administrativo, por meio do qual se conclua pela inexistência de


razão do ente público no processo;

ii. Prévia autorização da autoridade competente;

iii. Fiscalização do ato pelo respectivo Tribunal de Contas;

iv. O reconhecimento do direito em demandas idênticas;

Em geral, o procedimento para reconhecimento do pedido do Autor está


disposto na Lei Orgânica da Procuradoria do respectivo órgão.

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b) Revelia;

A revelia – ausência de apresentação de defesa pelo réu – induz dois


efeitos: um material e outro processual.
Materialmente, a revelia traduz-se na presunção de veracidade dos fatos
alegados pelo Autor (artigo 344, CPC). Já no campo processual, tem-se a
desnecessidade de intimação do Réu dos demais atos praticados no processo
(artigo 346, CPC).
Sendo ré a Fazenda Pública, e não apresentando contestação, é ela
revel. Nesse caso impõe-se verificar se os efeitos da revelia são
produzidos normalmente. (CUNHA, 2017, pg. 91)
O efeito processual da revelia aplica-se normalmente à Fazenda Pública,
sendo certo que poderá intervir nos autos a qualquer momento e em qualquer
fase, recebendo o processo no estado em que se encontrar (artigo 346 e
parágrafo único, CPC).
Contudo, o efeito material da revelia não pode ser aplicado à Fazenda
Pública. É que sendo indisponível o direito tutelado, não se pode admitir que a
ausência de defesa gere presunção de que os fatos alegados pelo Autor são
verdadeiros, isentando-o de produzir provas a este respeito.
Isto porque os atos administrativos gozam de presunção de legitimidade,
cabendo ao Autor desconstituí-los em uma demanda judicial. Assim, pacificou o
Superior Tribunal de Justiça a inaplicabilidade dos efeitos materiais da revelia à
Fazenda Pública:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO. EFEITO MATERIAL DA REVELIA.
CONFISSÃO. NÃO APLICABILIDADE.
1. Não se aplica à Fazenda Pública o efeito material da revelia, nem é admissível,
quanto aos fatos que lhe dizem respeito, a confissão, pois os bens e direitos são
considerados indisponíveis.
2. Agravo regimental a que se nega seguimento.

(AgRg no REsp 1170170/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado


em 01/10/2013, DJe 09/10/2013)

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Neste sentido, tem-se, ainda, o artigo 345, II, do CPC:

Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:

II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis;

Conforme leciona Leonardo Carneiro da Cunha (2017, pg. 93) a presunção


de veracidade gerada pela revelia é relativa e não absoluta, admitindo-se prova
em contrário. Exatamente por isto:

a revelia, por si só, não tem o condão de afastar a presunção de legitimidade dos
atos administrativos. Daí a necessidade de haver prova a ser produzida pelo autor,
mesmo que a Fazenda Pública ostente a condição de revel.

Os direitos da Fazenda Pública tutelados em juízo são sempre


indisponíveis?

Em precedente específico (RESP 1.084.745/MG - 06/11/2012) que


apreciou uma ação de cobrança de aluguel em face de determinado Município,
entendeu a 04a Turma do STJ que em relações tipicamente privadas, não
haveria interesse indisponível que justificasse a não aplicação dos
efeitos materiais da revelia.
Penso que não podemos afirmar que se trata da posição do STJ. Até porque
em diversos julgados posteriores este Tribunal manteve o entendimento da
doutrina majoritária, sem fazer qualquer ressalva, a exemplo:

A jurisprudência dessa Corte é uníssona no sentido de que à Fazenda Pública não


se aplica o efeito material da revelia, pois os bens e direitos são considerados
indisponíveis. Precedentes. (...) Recurso especial a que se nega seguimento. (REsp
939.086/RS, Rel. Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA
DO TJ/SE), SEXTA TURMA, julgado em 12/08/2014, DJe 25/08/2014)

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Assim, a discussão passa pela análise do seguinte questionamento: os


direitos defendidos pela Fazenda Pública são sempre indisponíveis?

Para Marinoni, não. (2009, pg. 326)

Direito indisponível é aquele que não se pode renunciar ou alienar. Os direitos da


personalidade (art. 11, CPC) e aqueles ligados ao estado da pessoa são
indisponíveis. O direito da Fazenda Pública, quando arrimado em interesse público
primário também o é. O direito da Fazenda Pública com esteio no interesse público
secundário não é indisponível.

Para Leonardo Cunha, sim. (2017, pg. 92)

O direito da Fazenda Pública é indisponível, devendo o magistrado, mesmo na


hipótese de revelia, determinar a instrução do feito para que a parte autora possa
se desincumbir do seu “onus probandi”.

Penso, portanto, que para concursos devemos ter em mente:

• Em provas objetivas – apenas se a questão especificar o precedente é


que devemos marcar a alternativa como correta.

• Em provas subjetivas – interessante pontuarmos ambas as posições,


inclusive citando o precedente isolado e a posição majoritária.

Em uma avaliação subjetiva sobre o tema, o examinador irá querer que o


candidato demonstre conhecimento sobre o precedente específico, a letra da lei
e a opinião majoritária.

c) Contestação;

A defesa apresentada pela Fazenda Pública, tal qual pelo particular, sujeita-
se aos princípios da concentração e eventualidade previstos nos artigos 336 e
342 do CPC. Assim, cabe ao ente público concentrar em sua contestação toda a

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matéria de defesa, não sendo possível invocar matérias novas em momento


posterior, salvo nas exceções previstas no artigo 342:

Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa,


expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e
especificando as provas que pretende produzir.

Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações quando:

I - relativas a direito ou a fato superveniente;

II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;

III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e
grau de jurisdição

Contudo, a Fazenda Pública não se sujeita ao ônus da impugnação


especificada dos fatos previsto no artigo 341 do CPC:

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações


de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não
impugnadas, salvo se:

I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;

II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar


da substância do ato;

III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao


defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.

Tendo em vista o interesse público envolvido nas matérias discutidas pela


Fazenda Pública a esta não se aplica a pena de confissão quanto aos fatos não
impugnados. Tal entendimento decorre da presunção de legitimidade dos atos
administrativos acima discutida.
Caberá ao autor, portanto, o ônus de provar os fatos por ele alegados,
ainda que não impugnados especificamente pela defesa apresentada pelo ente
público.

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7–Despesas realizadas no curso do processo

7.1 – Custas, emolumentos e despesas em sentido


estrito

Litigar nos tribunais brasileiros é atividade bastante dispendiosa eis que


envolve o pagamento de despesas processuais geralmente em valores muito
altos. Quando em juízo, necessário o pagamento pelo particular das despesas
processuais segundo os ditames do artigo 82 do CPC:

Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuidade da justiça, incumbe às


partes prover as despesas dos atos que realizarem ou requererem no processo,
antecipando-lhes o pagamento, desde o início até a sentença final ou, na execução,
até a plena satisfação do direito reconhecido no título.

§ 1o Incumbe ao autor adiantar as despesas relativas a ato cuja realização o juiz


determinar de ofício ou a requerimento do Ministério Público, quando sua
intervenção ocorrer como fiscal da ordem jurídica.

§ 2o A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que


antecipou.

Assim, em regra, a parte é obrigada a adiantar o pagamento do ato


processual que requerer e também aquelas requeridas pelo juiz ou Ministério
Público. No fim do processo, o vencedor da lide será ressarcido das despesas que
eventualmente antecipara.
Segundo Leonardo Cunha (2017, pg 107), as despesas processuais
dividem-se em:

i. Custas Processuais, sendo a remuneração pela atividade jurisdicional;

ii. Emolumentos, sendo estes a remuneração pelos serviços de cartórios e


serventias não oficializados;

iii. Despesas em sentido estrito, sendo estas a relativa a remuneração de


terceiros acionados para auxiliar a atividade judiciária;

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Em relação à Fazenda Pública, a disciplina das despesas realizadas no curso


do processo segue o disposto no artigo 91, do CPC:

Art. 91. As despesas dos atos processuais praticados a requerimento da Fazenda


Pública, do Ministério Público ou da Defensoria Pública serão pagas ao final pelo
vencido.

§ 1o As perícias requeridas pela Fazenda Pública, pelo Ministério Público ou pela


Defensoria Pública poderão ser realizadas por entidade pública ou, havendo
previsão orçamentária, ter os valores adiantados por aquele que requerer a prova.

§ 2o Não havendo previsão orçamentária no exercício financeiro para adiantamento


dos honorários periciais, eles serão pagos no exercício seguinte ou ao final, pelo
vencido, caso o processo se encerre antes do adiantamento a ser feito pelo ente
público.

É dizer: as custas processuais e emolumentos devidos por qualquer ente


da Fazenda Pública apenas serão pagos ao final do processo pela parte vencida.
Tal entendimento é antigo, dado, inclusive, o disposto pela Lei de Execuções
Fiscais ainda nos idos da década de 80:

Lei 6.830/80
Art. 39 - A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e
emolumentos. A prática dos atos judiciais de seu interesse independerá de preparo
ou de prévio depósito.

Parágrafo Único - Se vencida, a Fazenda Pública ressarcirá o valor das despesas


feitas pela parte contrária.

Ressalte-se que o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de


que custas e emolumentos possuem natureza jurídica de taxa:

EMENTA: I. (...) II. Custas e emolumentos: serventias judiciais e extrajudiciais:


natureza jurídica. É da jurisprudência do Tribunal que as custas e os emolumentos
judiciais ou extrajudiciais tem caráter tributário de taxa. III. Lei tributária: prazo
nonagesimal. Uma vez que o caso trata de taxas, devem observar-se as limitações
constitucionais ao poder de tributar, dentre essas, a prevista no art. 150, III, c,
com a redação dada pela EC 42/03 - prazo nonagesimal para que a lei tributária se
torne eficaz.

(ADI 3694, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em


20/09/2006, DJ 06-11-2006 PP-00030 EMENT VOL-02254-01 PP-00182 RTJ VOL-
00201-03 PP-00942 RDDT n. 136, 2007, p. 221)

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Por outro lado, quanto às despesas relacionadas a pessoas estranhas ao


Poder Judiciário (despesas em sentido estrito) não é razoável exigir-se que tais
profissionais atuem e aguardem o desenrolar da lide para poder receber sua
remuneração. Exatamente por isto os parágrafos 1º e 2º, do artigo 91, do CPC,
dispõem sobre a forma de pagamento de despesas com perícias:

a) Preferencialmente, as perícias devem ser realizadas por ente público ou,


podem ter suas despesas adiantadas por quem requereu, acaso haja
previsão orçamentária;

b) Não havendo previsão orçamentária, o pagamento ocorrerá no exercício


seguinte, ou ao final, pelo vencido – o que ocorrer primeiro;

O Superior Tribunal de Justiça já, inclusive, havia pacificado o entendimento


através da Súmula 232:

Súmula 232 - STJ - A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à
exigência do depósito prévio dos honorários do perito.

No mesmo sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que as despesas


relacionadas com o transporte dos oficiais de justiça também devem ser
adiantadas pela Fazenda Pública:

EXECUÇÃO. FAZENDA PÚBLICA. TÍTULO JUDICIAL PROVENIENTE DE AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE DANOS. ART. 27 DO CPC. DESPESAS COM TRANSPORTE DE
OFICIAIS DE JUSTIÇA. - A execução de título judicial gerado em ação de reparação
de danos não segue o rito da Lei 6.830/80. - A Fazenda Pública, não importa a
natureza da execução, tem o ônus de antecipar as despesas decorrentes
de diligências realizadas pelo oficial de justiça.

(STJ - REsp: 978634 PR 2007/0190024-0, Relator: Ministro HUMBERTO GOMES DE


BARROS, Data de Julgamento: 24/03/2008, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 13/05/2008)

Segundo Guilherme Barros (2015, pg. 81), a exigência apenas estaria


afastada acaso o Estado fornecesse o automóvel oficial e o combustível para o
oficial de justiça:

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O entendimento jurisprudencial é sólido. As despesas são devidas em razão de


recaírem sobre pessoas estranhas ao corpo de servidores do Poder Jurisdicional. A
partir desse entendimento, é possível concluir que nada é devido se o Estado- Juiz
provê o serviço, como por exemplo, se disponibiliza carro oficial para o
cumprimento das diligências do oficial de justiça.

Além disso, destaque-se que a lei da Ação Civil Pública possui


regulamentação específica dispensando o adiantamento de quaisquer despesas
processuais pelo Autor desta ação em específico:

Lei 7.347/85.
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação
da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas
e despesas processuais.

7.2 – Interpretação acerca do instituto e reflexão


sobre seu cabimento

Ressalte-se que mesmo em relação às custas processuais e aos


emolumentos, não se fala em isenção de pagamento, mas apenas e tão somente
em diferimento.
É dizer: a Fazenda Pública não realiza qualquer pagamento de custas
processuais e emolumentos de forma adiantada, mas acaso seja derrotada na
demanda, deverá ressarcir o vencedor da ação.
Tal regra existe, em razão de ser o próprio Estado quem organiza e mantem
a atividade jurisdicional, inexistindo sentido para que além de pagar o salário de
juízes, desembargadores, serventuários e todos os custos de instalação e
manutenção dos Fóruns, ainda fosse obrigado a pagar as despesas processuais
quando da movimentação da máquina do Judiciário.

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E se um Estado Federado estiver litigando na Justiça Federal, deverá


este arcar com as custas processuais e emolumentos?

De um lado, tem-se o argumento de que o artigo 150, inciso VI, alínea “a”,
da Constituição Federal estabelece a imunidade recíproca apenas em relação a
impostos, nada dispondo quanto às taxas. Ao mesmo tempo, o artigo 151, inciso
III, da Constituição Federal veda a concessão de isenções heterônomas.
Assim, tem-se que o disposto no artigo 24-A, da Lei Federal 9.028/95
possui constitucionalidade duvidosa por ferir ambos os dispositivos acima
elencados:

Lei 9.028/95. Art. 24-A. A União, suas autarquias e fundações, são isentas de
custas e emolumentos e demais taxas judiciárias, bem como de depósito prévio e
multa em ação rescisória, em quaisquer foros e instâncias.

Por outro lado, a Lei 9.289/96 está consoante a Constituição Federal eis
que a própria União concedera isenção de custas no âmbito da Justiça Federal,
quando Entes Púbicos estiverem litigando:

Lei 9289/96.
Art. 4° São isentos de pagamento de custas:

I - a União, os Estados, os Municípios, os Territórios Federais, o Distrito Federal e


as respectivas autarquias e fundações;

Assim, quando Estados e Municípios estiverem litigando na Justiça Federal,


estes estarão isentos do pagamento de custas processuais, a teor do artigo 4º,
inciso I, da Lei 9.289/86.
Contudo, não se pode aceitar a constitucionalidade da Lei 9.028/95, razão
pela qual defende-se que quando a União litigar nos Tribunais Estaduais esta não
terá isenção de pagamento de custas, salvo se existente convênio ou lei
estadual específica quanto à matéria.

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Extrai-se referido entendimento das Súmulas 178 e 483 do STJ:

Súmula 178 - STJ - O INSS não goza de isenção do pagamento de custas e


emolumentos, nas ações acidentárias e de benefícios propostas na Justiça Estadual.

Súmula 483 – STJ - O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do
preparo por gozar das prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública.

7.3 – Demais hipóteses de cobrança em prova

Analisemos, neste momento, as hipóteses de pagamento de despesas


processuais que possivelmente serão cobradas em provas de concurso público.

a) Pagamento de preparo nos recursos

A Fazenda Pública está dispensada do pagamento de preparo nos Recursos,


por força do parágrafo 1º, do artigo 1.007, do Código de Processo Civil:

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando


exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa
e de retorno, sob pena de deserção.

§ 1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno,


os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito
Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos
que gozam de isenção legal.

No mesmo sentido, tem-se a lei 9.494/97 em seu artigo 1º-A:

Art. 1o-A. Estão dispensadas de depósito prévio, para interposição de recurso, as


pessoas jurídicas de direito público federais, estaduais, distritais e municipais.

Em conclusão, válidas as palavras de Leonardo Cunha (2017, pg. 133):

Estão dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e retorno, os recursos


interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados,
pelos Municípios e respectivas autarquias (CPC, art. 1.007, § 1º). O enunciado 483
da Súmula do STJ confirma essa regra, ao estabelecer que ´O INSS não está
obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das prerrogativas e
privilégios da Fazenda Pública.

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b) Depósito exigido na propositura de Ação Rescisória

De acordo com o artigo 968, II, do CPC, é requisito da petição inicial da


Ação Rescisória o depósito da importância de cinco por cento sobre o valor da
causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por unanimidade de votos,
declarada inadmissível ou improcedente.
Contudo o parágrafo 1º do dispositivo citado expressamente afirma que tal
exigência não se aplica à Fazenda Pública:

§ 1o Não se aplica o disposto no inciso II à União, aos Estados, ao Distrito Federal,


aos Municípios, às suas respectivas autarquias e fundações de direito público, ao
Ministério Público, à Defensoria Pública e aos que tenham obtido o benefício de
gratuidade da justiça.

Assim, a Fazenda Pública, em qualquer de suas esferas, está dispensada


do depósito prévio para propositura de Ação Rescisória. Neste sentido, tem-se a
Súmula 175 do STJ:

Súmula 175 - STJ - Descabe o depósito prévio nas ações rescisórias propostas
pelo INSS.

c) Multas processuais

De acordo com o parágrafo 2º, do artigo 1.026, do CPC, a oposição de


Embargos de Declaração protelatórios poderá gerar a aplicação de multa de até
2% (dois por cento) sobre o valor da causa.
Tal multa poderá chegar a até 10% (dez por cento) e gerar a necessidade
de pagamento como condição para interposição de qualquer recurso (parágrafo
3º, artigo 1.026, CPC).
Com o antigo CPC, havia uma divergência sobre a aplicação ou não de tal
dispositivo à Fazenda Pública, fazendo-se necessária a manifestação do STF e do
STJ quanto ao tema.

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Pacificou-se a questão no sentido de ser necessário o prévio depósito de


multas processuais como condição de admissibilidade de recursos interpostos
inclusive pela Fazenda Pública ante a vigência do antigo CPC.
Contudo, o próprio parágrafo 3º, do artigo 1.026, do Novo Código
de Processo Civil faz a ressalva de que não se aplica à Fazenda Pública a
necessidade de prévio depósito de multa processual quando da interposição de
qualquer recurso. Esta poderá interpor o recurso normalmente, recolhendo a
multa ao final do processo.

Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e


interrompem o prazo para a interposição de recurso.

§ 1o A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo


respectivo juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso
ou, sendo relevante a fundamentação, se houver risco de dano grave ou de difícil
reparação.

§ 2o Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o


tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao
embargado multa não excedente a dois por cento sobre o valor atualizado da causa.

§ 3o Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a


multa será elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa, e a
interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da
multa, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da
justiça, que a recolherão ao final.

§ 4o Não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores


houverem sido considerados protelatórios.

Naturalmente, o STF e o STJ deverão rever seu posicionamento para


alinhar-se às novas disposições do Código de Processo Civil.

d) Justiça Gratuita e adiantamento de custas pela Fazenda Pública

E se o Autor da demanda for beneficiário da gratuidade da justiça litigando


contra o Ente Público? Como deverá ser feito o pagamento das custas
processuais?

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Naturalmente, a divergência surge quanto ao custeio e despesas em


sentido estrito: remuneração de terceiros estranhos ao processo, a exemplo do
pagamento de honorários periciais e do pagamento do transporte de oficiais de
justiça.
Segundo pacificou o STJ, o benefício da justiça gratuita não impõe ao
Estado o ônus de custear todas as provas requeridas pelo beneficiário no curso
do processo.
Assim, sendo o Autor beneficiário da justiça gratuita e não tendo condições
de suportar o ônus dos honorários periciais, caberá ao Juiz nomear perito que
aceite receber sua remuneração ao fim do processo ou perito vinculado a
repartição administrativa.
Neste sentido:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA


SOBREPROVENTOS PERCEBIDOS POR PORTADORES DE MOLÉSTIA GRAVE.
NECESSIDADEDE COMPROVAÇÃO DA DOENÇA MEDIANTE LAUDO PERICIAL
EMITIDO POR SERVIÇOMÉDICO OFICIAL. (...). 2. (...) Insta acentuar que o juiz da
primeira instância concedeu ao autor a gratuidade da justiça, e consoante já decidiu
esta Turma, ao julgar o REsp 935.470/MG (Rel.Min. Mauro Campbell Marques, DJe
de 30.9.2010), quando a Fazenda Pública for ré no processo, não estará sujeita ao
adiantamento dos honorários do perito se a prova pericial for requerida pelo autor
da ação, beneficiário da assistência judiciária. Tampouco ficará sujeita a tal
adiantamento a parte autora, porquanto gozará dos benefícios da Lei 1.060/50. Não
concordando o perito nomeado em realizar gratuitamente a perícia e/ou aguardar
o recebimento dos honorários ao final do processo, deve o juiz da causa nomear
outro perito, a ser designado entre técnicos de estabelecimento oficial especializado
ou repartição administrativa do ente público responsável pelo custeio da prova
pericial, devendo a perícia realizar-se com a colaboração do Poder Judiciário. 3.
Recurso especial provido, em parte, tão-somente para determinar a produção da
prova pericial.

(STJ - REsp: 1286094 CE 2011/0241566-0, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL


MARQUES, Data de Julgamento: 22/11/2011, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: DJe 01/12/2011)

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8-Honorários Advocatícios

O Novo CPC tentou resolver de uma só vez dois problemas antigos do


processo civil brasileiro: a não destinação de honorários advocatícios aos
advogados públicos e a redução drástica de honorários ao advogado particular
quando vencedor de mega lesões em face do poder público.
Era comum a fixação pelos tribunais de honorários advocatícios de
sucumbência no valor de R$. 500,00 (quinhentos reais) ou R$. 1.000,00 (um mil
reais), mesmo em casos de demandas de grande complexidade. Resolver tais
disparidades foi a ideia do novo código.
De acordo com o artigo 85, do CPC, a sentença condenará o vencido a
pagar honorários ao advogado do vencedor, devendo em cada caso, o fixar os
valores (entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento) sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou sobre o valor da causa atualizado.
Deverá o magistrado analisar:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu


serviço.

Quando a Fazenda Pública for parte, além de tais critérios, deverão ser
obedecidos os seguintes percentuais, considerando-se o valor do salário mínimo
vigente à época da liquidação da sentença (parágrafo 3º):

I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do


proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;

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II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do


proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000
(dois mil) salários-mínimos;

III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou
do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até
20.000 (vinte mil) salários-mínimos;

IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou


do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até
100.000 (cem mil) salários-mínimos;

V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do


proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

Grande vitória da advocacia pública no Novo CPC deu-se com a conquista


dos direitos previstas no parágrafo 19, do artigo 85, do CPC:

§ 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos


da lei.

Segundo Leonardo Cunha (2017, pg. 115):

Para que os advogados públicos percebam os honorários de sucumbência, é preciso


que haja uma lei regulamentando a divisão, os valores, os detalhes do recebimento
por cada um deles no âmbito da respectiva procuradoria. A simples previsão do
parágrafo 19 do art. 85 do CPC não é suficiente para que os advogados públicos
percebam os honorários. É necessária a edição de lei própria regulamentando sua
percepção pelos advogados públicos. A lei a ser editada não pode, todavia, suprimir
esse direito nem subtrair sua titularidade.

Nesse sentido, o enunciado 384 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A


lei regulamentadora não poderá suprimir a titularidade e o direito à percepção dos
honorários de sucumbência dos advogados públicos.”

Quando no julgamento da causa o valor do benefício econômico obtido pelo


autor for superior a 200 salários mínimos, os honorários incidirão até esta quantia
conforme a faixa prevista no inciso I, do parágrafo 3º, até tal quantia.
Naquilo que exceder a 200 e estiver abaixo de 2000 salários mínimos, deve-
se observar o percentual do inciso II, e assim sucessivamente, conforme previsão
do parágrafo 5º:

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§ 5o Quando, conforme o caso, a condenação contra a Fazenda Pública ou o


benefício econômico obtido pelo vencedor ou o valor da causa for superior ao valor
previsto no inciso I do § 3o, a fixação do percentual de honorários deve observar a
faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente.

Conforme lição de Leonardo Cunha (2017, pg. 119):

Tome-se como exemplo um caso em que o valor da condenação, do benefício


econômico obtido ou o valor da causa seja equivalente a 200.000 (duzentos mil)
salários mínimos. Nesse caso, os honorários terão seu valor fixado da seguinte
forma: entre 10% (dez por cento) e 20% (vinte por cento) sobre 200 (duzentos)
salários mínimos ao que se acresce a fixação entre 8% (oito por cento) e 10% (dez
por cento) sobre 1.800 (mil e oitocentos) salários mínimos adicionada da fixação
entre 5% (cinco por cento) e 8% (oito por cento) sobre 18.000 (dezoito mil) salários
mínimos. Daí se adiciona mais uma fixação entre 3% (três por cento) e 5% (cinco
por cento) sobre 80.000 (oitenta mil) salários mínimos, somando-se mais outra
fixação entre 1% (um por cento) e 3% (três por cento) sobre 100.000 (cem mil)
salários mínimos.

Ademais, os limites previstos no parágrafo 3º, aplicam-se em qualquer


caso, independente do conteúdo da decisão, inclusive nos casos de improcedência
ou de sentença sem resolução do mérito. Por fim, conforme será visto quando
falarmos sobre precatórios:

§ 7o Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda


Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.

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9 - Revisão do Direito Material

Responsabilidade Civil do Estado

9.1 – Considerações Iniciais

A responsabilidade civil do Estado evoluiu no mundo ocidental consoante a


seguinte ideia:

i. Total irresponsabilidade do Estado por atos de seus agentes (até a


metade do séc. XIX);

Os Estados absolutistas giravam em torno da figura do rei que não cometia


qualquer erro indenizável (“the king can do no wrong”). Esta ideia por ser
bastante injusta para o particular lesado logo fora superada pela teoria moderna
que admite a responsabilização civil dos Estados por danos que seus agentes
causem a terceiros.

ii. Responsabilidade Estatal com culpa civil

Após a superação da total irresponsabilidade do Estado, passou-se a dotar


a teoria da responsabilidade estatal com culpa civil, onde o particular precisava
diferenciar os atos de gestão dos atos de império praticados pelo Estado. Para
José dos Santos Carvalho Filho (2015, pg. 573):

Se o Estado produzisse um ato de gestão, poderia ser civilmente responsabilizado,


mas se fosse a hipótese de ato de império não haveria responsabilização, pois que
o fato seria regido pelas normas tradicionais de direito público, sempre protetivas
da figura estatal.

iii. Responsabilidade Estatal com culpa Administrativa

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Superando-se a ideia da culpa civil, ganhou força no Direito Administrativo


a discussão acerca da responsabilidade civil do Estado baseada na culpa
administrativa, onde não mais era necessária a distinção entre ato de império ou
ato de gestão para se apurar a responsabilidade estatal.
Trata-se de responsabilidade civil baseada na demonstração da falta do
serviço por parte do Estado (mal funcionamento do serviço público que
ocasionara um dano ao particular).
Mais uma vez, José dos Santos Carvalho Filho afirma que (2015, pg. 574):

A falta do serviço podia consumar-se de três maneiras: a inexistência do serviço, o


mau funcionamento do serviço ou o retardamento do serviço. Em qualquer dessas
formas, a falta do serviço implicava o reconhecimento da existência de culpa, ainda
que atribuída ao serviço da Administração. Por esse motivo, para que o lesado
pudesse exercer seu direito à reparação dos prejuízos, era necessário que
comprovasse que o fato danoso se originava do mau funcionamento do serviço e
que, em consequência, teria o Estado atuado culposamente. Cabia-lhe, ainda, o
ônus de prova o elemento culpa.

iv. Teoria da Responsabilidade Civil Objetiva

Atualmente, vige no Brasil a responsabilidade civil objetiva, baseada na


teoria do Risco Administrativo consagrada no artigo 37, § 6º, da Constituição
Federal de 1988:

Constituição Federal
Art. 37.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

De acordo com tal dispositivo, tanto as pessoas jurídicas de direito público


quanto as de direito privado prestadoras de serviço público responderão de forma
objetiva pelos danos causados a terceiros por atos de seus agentes.
Percebam que esta também é a disposição do artigo 43 do Código Civil:

Código Civil

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Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte
destes, culpa ou dolo.

Para ensejar a responsabilização do Estado, o particular precisa demonstrar


em juízo apenas a conduta, o dano e o nexo causal existente entre ambas, sendo
desnecessária a prova do dolo ou culpa do agente estatal.

Por outro lado, em sua defesa, é possível que a Administração Pública


demonstre a existência de hipóteses de excludentes ou de redução de sua
responsabilização, como o caso fortuito, a força maior ou a culpa exclusiva de
terceiros.
A teoria do risco administrativo difere, portanto, da teoria do risco integral,
onde o Estado figura como um segurador universal e, independente de caso
fortuito ou força maior, o Ente Público responde integralmente pelo dano causado
ao particular.
A ideia é que o particular que tenha sido prejudicado pela Administração
Pública não arque sozinho com um ônus que, em teoria, beneficiou toda a
coletividade. Afinal, em uma análise mais ampla, todos os atos do Ente Público
são feitos em benefício da sociedade como um todo. Assim, a responsabilidade
civil do Estado fundamenta-se no princípio da igualdade dos ônus e encargos
sociais.
Exatamente por isto, a Administração Pública pode ser responsabilizada por
indenizar o particular mesmo que tenha praticado um ato lícito, ou seja, não
necessariamente será exigida uma conduta ilícita por parte do agente público
para ensejar a responsabilidade civil do Estado.
Contudo, não é qualquer dano causado pelo exercício regular de atividade
estatal que deve ser indenizado, mas apenas aqueles anormais e específicos, que
excedam o limite do razoável / tolerável.
Neste sentido:

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CONSTITUCIONAL. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. C.F., 1967, art.


107. C.F./88, art. 37, par-6.. I. A responsabilidade civil do Estado, responsabilidade
objetiva, com base no risco administrativo, que admite pesquisa em torno da culpa
do particular, para o fim de abrandar ou mesmo excluir a responsabilidade estatal,
ocorre, em sintese, diante dos seguintes requisitos: a) do dano; b) da ação
administrativa; c) e desde que haja nexo causal entre o dano e a ação
administrativa. A consideração no sentido da licitude da ação administrativa e
irrelevante, pois o que interessa, e isto: sofrendo o particular um prejuizo, em razão
da atuação estatal, regular ou irregular, no interesse da coletividade, e devida a
indenização, que se assenta no princípio da igualdade dos onus e encargos sociais.
II. Ação de indenização movida por particular contra o Município, em virtude dos
prejuizos decorrentes da construção de viaduto. Procedencia da ação. III. R.E.
conhecido e provido.
(RE 113587, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em
18/02/1992, DJ 03-04-1992 PP-04292 EMENT VOL-01656-02 PP-00382 RTJ VOL-
00140-02 PP-00636)

Ainda que a Administração Pública faça uso das vias legalmente previstas,
a conduta adotada pode sim sofrer responsabilização, visto que a teoria da
responsabilidade civil objetiva não afasta a responsabilidade do Estado mesmo a
ação tendo ocorrida de forma lícita.
Configurada a existência de ação (lícita ou não), o dano e entre eles o nexo
de causalidade, portanto é plenamente possível a responsabilização.
Assim, ainda que ação do estado seja dotada de licitude, se essa ação gerar
danos extraordinários, nasce o dever de indenização para o Estado perante os
danos sofridos pelos administrados.
Este caso fora o exemplo do julgamento do Supremo Tribunal Federal que
envolveu a Companhia Aérea VARIG e que foi assim ementado:

EMENTA: RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS. RESPONSABILIDADE DA UNIÃO POR


DANOS CAUSADOS À CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO DE TRANSPORTE AÉREO
(VARIG S/A). RUPTURA DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO DO CONTRATO
DECORRENTE DOS EFEITOS DOS PLANOS “FUNARO” E “CRUZADO”. DEVER DE
INDENIZAR. RESPONSABILIDADE POR ATOS LÍCITOS QUANDO DELES
DECORREREM PREJUÍZOS PARA OS PARTICULARES EM CONDIÇÕES DE
DESIGUALDADE COM OS DEMAIS. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE,
DO DIREITO ADQUIRIDO E DO ATO JURÍDICO PERFEITO. 1. Recurso extraordinário
da União contra acórdão em embargos infringentes. Intervenção do Ministério
Público na ação. Legitimidade do Ministério Público para interpor recurso

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extraordinário, como custos legis (§ 2º do art. 499 do Código de Processo Civil),


harmoniza-se com as funções institucionais previstas nos arts. 127 e 129 da
Constituição da República. 2. Recurso do Ministério Público não conhecido na parte
relativa aos arts. 21, inc. XII, alínea e, 170, parágrafo único, 173 e 174 da
Constituição da República. Ausência de prequestionamento. 3. Recurso da União
não conhecido quanto à alegada carência de elementos para a comprovação da
quebra do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Impossibilidade de reexame
do conjunto fático-probatório em recurso extraordinário (Súmula n. 279 do
Supremo Tribunal Federal). 4. Responsabilidade da União em indenizar
prejuízos sofridos pela concessionária de serviço público, decorrentes de
política econômica implementada pelo Governo, comprovados nos termos
do acórdão recorrido. Precedentes: RE 183.180, Relator o Ministro Octavio
Gallotti, Primeira Turma, DJ 1.8.1997. 5. A estabilidade econômico-
financeira do contrato administrativo é expressão jurídica do princípio da
segurança jurídica, pelo qual se busca conferir estabilidade àquele ajuste,
inerente ao contrato de concessão, no qual se garante à concessionária
viabilidade para a execução dos serviços, nos moldes licitados. 6. A
manutenção da qualidade na prestação dos serviços concedidos
(exploração de transporte aéreo) impõe a adoção de medidas garantidoras
do reequilíbrio da equação econômico-financeira do contrato
administrativo, seja pela repactuação, reajuste, revisão ou indenização dos
prejuízos. 7. Instituição de nova moeda (Cruzado) e implementação, pelo Poder
Público, dos planos de combate à inflação denominados ‘Plano Funaro’ ou ‘Plano
Cruzado’, que congelaram os preços e as tarifas aéreas nos valores prevalecentes
em 27.2.1986 (art. 5º do Decreto n. 91.149, de 15.3.1985). 8. Comprovação nos
autos de que os reajustes efetivados, no período do controle de preços, foram
insuficientes para cobrir a variação dos custos suportados pela concessionária. 9.
Indenização que se impõe: teoria da responsabilidade objetiva do Estado com base
no risco administrativo. Dano e nexo de causalidade comprovados, nos termos do
acórdão recorrido. 10. O Estado responde juridicamente também pela prática de
atos lícitos, quando deles decorrerem prejuízos para os particulares em condições
de desigualdade com os demais. Impossibilidade de a concessionária cumprir as
exigências contratuais com o público, sem prejuízos extensivos aos seus
funcionários, aposentados e pensionistas, cujos direitos não puderam ser honrados.
11. Apesar de toda a sociedade ter sido submetida aos planos econômicos,
impuseram-se à concessionária prejuízos especiais, pela sua condição de
concessionária de serviço, vinculada às inovações contratuais ditadas pelo poder
concedente, sem poder atuar para evitar o colapso econômico-financeiro. Não é
juridicamente aceitável sujeitar-se determinado grupo de pessoas –
funcionários, aposentados, pensionistas e a própria concessionária – às
específicas condições com ônus insuportáveis e desigualados dos demais,
decorrentes das políticas adotadas, sem contrapartida indenizatória
objetiva, para minimizar os prejuízos sofridos, segundo determina a
Constituição. Precedente: RE 422.941, Relator o Ministro Carlos Velloso, Segunda
Turma, DJ 24.3.2006. 12. Não conhecimento do recurso extraordinário da União
interposto contra o acórdão proferido no julgamento dos embargos infringentes.
13. Conhecimento parcial do recurso extraordinário da União, e na parte conhecida,
provimento negado. 14. Conhecimento parcial do recurso extraordinário do
Ministério Público Federal e, na parte conhecida, desprovido, mantendo-se a
decisão do Superior Tribunal de Justiça, conclusivo quanto à responsabilidade da
União pelos prejuízos suportados pela Recorrida, decorrentes dos planos
econômicos. (RE 571969, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado

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em 12/03/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-181 DIVULG 17-09-2014 PUBLIC 18-


09-2014)

Possível ainda apontarmos a aplicação da Teoria do Risco Integral no Brasil.


Trata-se de uma exceção no nosso ordenamento jurídico prevista na Lei
10.744/2003.
Segundo tal norma, os danos decorrentes de acidentes nucleares, danos
ambientais, atentados terroristas, acidente de trânsito-decorrente do seguro
DPVAT e crimes ocorridos em aeronaves que estejam sobrevoando o espaço
aéreo brasileiro, serão indenizados consoante a teoria do risco integral.
Assim, o Estado estará obrigado a indenizar as pessoas envolvidas no
evento estabelecendo-se na posição de Garantidor Universal e não poderá invocar
nenhuma excludente da responsabilidade civil.
Vejamos o que dispõe a Lei 10.744/2003:

Art.1o Fica a União autorizada, na forma e critérios estabelecidos pelo Poder


Executivo, a assumir despesas de responsabilidades civis perante terceiros na
hipótese da ocorrência de danos a bens e pessoas, passageiros ou não, provocados
por atentados terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos, ocorridos no Brasil
ou no exterior, contra aeronaves de matrícula brasileira operadas por empresas
brasileiras de transporte aéreo público, excluídas as empresas de táxi aéreo.

9.2 – Atos Comissivos X Atos Omissivos

Com base na doutrina de Celso Antônio Bandeira de Mello e José dos Santos
Carvalho Filho é possível afirmarmos que a regra é a responsabilidade objetiva
do Estado aplicável aos atos comissivos, não devendo ser tal modalidade
invocada em relação a atos omissivos.
No que se refere a estes, a responsabilidade será subjetiva, por aplicação
da teoria da falta do serviço (culpa administrativa). Assim, a responsabilidade
civil do Estado, no caso de atos omissivos, somente se configurará quando

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estiverem presentes elementos que caracterizem o descumprimento de dever


legal atribuído ao poder público (culpa administrativa).
Podemos afirmar, portanto, que a responsabilidade civil do Estado por atos
omissivos opera-se na modalidade subjetiva, cabendo ao autor de eventual
demanda judicial demonstrar em juízo o ato omissivo, o dano, o nexo de
causalidade e o dolo ou culpa do agente estatal.

Professor, mas há exceções? Existem hipóteses em que a


responsabilidade civil do Estado por atos omissivos opera-se na
modalidade objetiva?

Sim.
Ante a dificuldade de se provar em juízo a culpa estatal – o dolo ou a culpa
do agente administrativo – a jurisprudência brasileira tem sido trilhada no sentido
de se distinguir a omissão genérica da omissão específica.
É que, em relação à omissão específica, o Estado tem o dever legal de evitar
um dano ao cidadão e assume o risco de cuidar da saúde e integridade do
particular que – em geral - está sob sua guarda ou custódia.
É o caso, por exemplo, da responsabilidade nas relações que envolvem a
morte ou suicídio de presidiários.
Em razão dos riscos inerentes ao meio em que os indivíduos foram inseridos
pelo próprio Estado, no caso de custódia, e, sobretudo, em razão de seu dever
de zelar pela integridade física e moral desses indivíduos (art. 5.º, XLIX, da CF),
o Estado deve responder objetivamente pelos danos causados a sua integridade
física e moral.
Assim, em razão desta especial relação de supremacia entre o Estado e o
indivíduo, é dever do Estado garantir a incolumidade física dos indivíduos
custodiados, seja contra atos de terceiro, seja contra ato do próprio indivíduo, a
exemplo do suicídio referido na questão.
Portanto, deve o Estado responder objetivamente pela morte de detento,
ocorrida no interior do estabelecimento prisional ou de hospital psiquiátrico.
Neste sentido, pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

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EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º,
XLIX, E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A responsabilidade civil estatal,
segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, § 6º, subsume-se à
teoria do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto
paras as omissivas, posto rejeitada a teoria do risco integral. 2. A omissão do Estado
reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em
que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para
impedir o resultado danoso. 3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que
a execução da pena se dê de forma humanizada, garantindo-se os direitos
fundamentais do detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e moral
(artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal). 4. O dever constitucional de
proteção ao detento somente se considera violado quando possível a
atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais,
pressuposto inafastável para a configuração da responsabilidade civil
objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. 5. Ad
impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em que não é possível ao Estado
agir para evitar a morte do detento (que ocorreria mesmo que o preso estivesse
em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade, afastando-se a responsabilidade
do Poder Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio doctorum a teoria
do risco integral, ao arrepio do texto constitucional. 6. A morte do detento pode
ocorrer por várias causas, como, v. g., homicídio, suicídio, acidente ou morte
natural, sendo que nem sempre será possível ao Estado evitá-la, por mais que
adote as precauções exigíveis. 7. A responsabilidade civil estatal resta
conjurada nas hipóteses em que o Poder Público comprova causa
impeditiva da sua atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de
causalidade da sua omissão com o resultado danoso. 8. Repercussão geral
constitucional que assenta a tese de que: em caso de inobservância do seu
dever específico de proteção previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da
Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte do detento. 9. In
casu, o tribunal a quo assentou que inocorreu a comprovação do suicídio do
detento, nem outra causa capaz de romper o nexo de causalidade da sua omissão
com o óbito ocorrido, restando escorreita a decisão impositiva de responsabilidade
civil estatal. 10. Recurso extraordinário DESPROVIDO.
(RE 841526, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 30/03/2016,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159 DIVULG 29-07-
2016 PUBLIC 01-08-2016)

A ideia é a mesma quanto a crianças que estão


sob o dever de guarda do Estado em escolas públicas.

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Deve o Estado indenizar o presidiário sujeito a condições


degradantes?

Tradicionalmente, a posição do Superior Tribunal de Justiça era no sentido


de impossibilitar a indenização por danos morais do presidiário sujeito a
condições degradantes.
Isto porque indenizar o presidiário corresponderia a desvirtuar os parcos
recursos financeiros estatais: ao invés de indenizar a vítima da violência ou
reformar os presídios, gastar-se-ia verba pública com o pagamento de danos
morais ao presidiário que está sujeito a presídios degradantes (superlotação, falta
de higiene, etc.).
Eis um exemplo de julgado quanto à antiga posição do STJ:

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRECARIEDADE DAS


CONDIÇÕES DO SISTEMA CARCERÁRIO ESTADUAL. SUPERLOTAÇÃO.
INDENIZAÇÃO EM FAVOR DE DETENTO, POR DANO MORAL INDIVIDUAL. RESERVA
DO POSSÍVEL. MÍNIMO EXISTENCIAL. PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS EM
FAVOR DA DEFENSORIA PÚBLICA. IDENTIDADE ENTRE CREDOR E DEVEDOR.
CONFUSÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 421/STJ.
1. Em nada contribui para a melhoria do sistema prisional do Brasil a
concessão, individualmente, de indenização por dano moral a detento
submetido à superlotação e a outras agruras que permeiam (e
envergonham) nossos estabelecimentos carcerários. A medida, quando
muito, servirá tão-só para drenar e canalizar escassos recursos públicos,
aplicando-os na simples mitigação do problema de um ou só de alguns, em
vez de resolvê-lo, de uma vez por todas, em favor da coletividade dos
prisioneiros.
2. A condenação do Estado à indenização por danos morais individuais,
como remédio isolado, arrisca a instituir uma espécie de "pedágio-
masmorra", ou seja, deixa a impressão de que ao Poder Público, em vez de
garantir direitos inalienáveis e imprescritíveis de que são titulares, por
igual, todos os presos, bastará pagar, aos prisioneiros que disponham de
advogado para postular em seu favor, uma "bolsa-indignidade" pela ofensa
diária, continuada e indesculpável aos mais fundamentais dos direitos,
assegurados constitucionalmente.
(...)
(REsp 962.934/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 13/04/2010, DJe 04/05/2011)

Contudo, quando a matéria chegou ao Supremo Tribunal Federal, este


entendeu que o dever de guarda a que se submete o Estado quanto à saúde e

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integridade física do presidiário resta violado quando este permanece sujeito a


condições degradantes como a superlotação dos presídios.
Assim, conforme pacificado pelo Supremo Tribunal Federal, deverá o Estado
indenizar os danos comprovadamente sofridos pelo presidiário sujeito a tais
condições:

Responsabilidade civil do Estado: superpopulação carcerária e dever de indenizar –


4

Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em


seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento
jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a
obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de
encarceramento.
RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 16.2.2017. (RE-580252)

9.3 – Responsabilidade civil dos Prestadores de Serviços Públicos

A responsabilidade civil dos prestadores de serviço público opera-se da


mesma forma que a responsabilidade da Administração: segundo a teoria do risco
administrativo, aplica-se a responsabilidade civil objetiva por atos comissivos,
com fulcro no artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição Federal:

Constituição Federal
Art. 37.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

Assim, uma concessionária de energia elétrica, por exemplo, responderá


objetivamente por um choque elétrico causado a um particular em razão da
queda de um fio de alta tensão de um de seus postes.

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E se o particular atingido pelo choque elétrico não for consumidor da


concessionária respectiva, caberá a responsabilidade objetiva mesmo
assim?

Esta discussão, amigos, chegou ao Supremo Tribunal Federal.


O fato de o particular ser ou não consumidor da concessionária altera o
regime da responsabilidade civil? Haverá diferença na forma como a
concessionária será responsabilidade: se objetiva ou subjetivamente?

A resposta é negativa.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se orienta no sentido de


que as pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviço
público, respondem objetivamente pelos prejuízos que causarem a
terceiros usuários e não usuários do serviço.

Neste sentido:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS


COMO AGRAVO REGIMENTAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DE
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. NEXO CAUSAL RECONHECIDO PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. NECESSIDADE DE NOVA
ANÁLISE DOS FATOS E DO MATERIAL PROBATÓRIO. SÚMULA 279/STF. 1. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se orienta no sentido de que as pessoas
jurídicas de direito privado, prestadoras de serviço público, respondem
objetivamente pelos prejuízos que causarem a terceiros usuários e não usuários do
serviço. (RE 591.874-RG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tema 130). 2. Divergir
do entendimento do Tribunal de origem acerca da existência dos elementos
configuradores da responsabilidade objetiva pressupõe, necessariamente, uma
nova apreciação dos fatos e do material probatório constante dos autos. Incidência
da Súmula 279/STF. 3. Embargos de declaração conhecidos como agravo
regimental a que se nega provimento.

(AI 782929 ED, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em
27/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-223 DIVULG 09-11-2015 PUBLIC 10-11-
2015)

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Como funciona a responsabilidade civil dos tabeliães (delegatários de


serviços públicos)?

Meus amigos, a princípio, a ideia seria a mesma até aqui discutida:


responsabilidade civil objetiva, independente se usuário ou não do serviço.
Contudo, uma recente alteração no artigo 22, da Lei 8.935/94 causara um abalo
nesta tese.
Segundo a antiga redação do artigo 22, da Lei 8.935/94:

Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus
prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, assegurado
aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos.
(DISPOSITIVO ALTERADO)

Mas atenção!
A lei 13.286/2016 alterou a redação deste dispositivo para afirmar que os
notários e registradores devem responder na modalidade subjetiva e não
objetiva:

Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os
prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos
substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito
de regresso.
Para Márcio André Cavalcante4, o dispositivo deve ser interpretado da
seguinte forma:

Antes da Lei 13.286/2016 Depois da Lei 13.286/2016

A responsabilidade civil dos notários e A responsabilidade civil dos notários e


registradores era OBJETIVA (vítima não registradores passou a ser SUBJETIVA
precisava provar dolo ou culpa) (vítima terá que provar dolo ou culpa)

4
Disponível em: http://www.dizerodireito.com.br/2016/05/lei-132862016-responsabilidade-
civil.html.

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9.4 – Possibilidade de a Vítima entrar com ação diretamente contra o


Agente Estatal

A Constituição Federal, em seu artigo 37, parágrafo 6o, previu a


responsabilidade objetiva do Estado, bastando que o lesado venha a comprovar
a conduta lesiva, o dano sofrido e o nexo de causalidade entre o fato e o dano.

Constituição Federal
Artigo 37.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

Segundo pacificou o Supremo Tribunal Federal não é possível o ajuizamento


de ação pela vítima diretamente contra o agente causador do dano.
É que a responsabilidade civil do servidor público frente ao Estado é
subjetiva: apenas terá lugar em caso de agir com dolo ou culpa, conforme a parte
final do dispositivo.
E, segundo o entendimento do STF, o ofendido somente poderá propor a
demanda em face do Estado. Se este for condenado, aí sim poderá acionar, via
ação regressiva, o servidor que causou o dano, acaso logre demonstrar que este
agiu com dolo ou culpa. Adotou-se a teoria da dupla garantia:

a) Uma em favor do particular lesado, considerando que a


Constituição assegurou que ele poderá ajuizar ação de indenização
contra o Estado sem ter que provara eventual conduta culposa ou
dolosa do agente público;

b) Já a segunda garantia é em favor do agente que causou o dano,


visto que o artigo 37, parágrafo 6o, implicitamente teria afirmado
que a vítima não poderá ajuizar a ação diretamente contra o
servidor público que praticou o ato. Este só seria responsabilizado

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em caso de eventual ação regressiva após o Estado ter ressarcido


o dano ao ofendido;

O princípio da impessoalidade também é usado como fundamento para


subsidiar esta teoria, pois o agente público atua em nome do Estado e não em
nome próprio.

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10 - Proposta de Solução da Peça Processual

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DOS


FEITOS DA FAZENDA PÚBLICA DE MANAUS/AM.

PROCESSO N.

O MUNICÍPIO DE MANAUS, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita


no CNPJ/MF sob o número, com sede no endereço, por seu procurador que
adiante assina, mandato ex lege, no uso de suas atribuições legais, vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar
CONTESTAÇÃO
à Ação Ordinária manejada por JOÃO RICO, já devidamente qualificado nos autos
do processo em epígrafe, consoante os fatos fundamentos a seguir aduzidos.

DOS FATOS
Item dispensado conforme enunciado da questão.

Antes de proceder à impugnação aos argumentos de mérito da presente


demanda, cumpre-nos suscitar questões preliminares aptas a ensejarem a
imediata extinção do processo em relação a este contestante.

DA PRELIMINAR DE NULIDADE DE CITAÇÃO

A citação do Município de Manaus deu-se através da via postal. Contudo,


nos termos do artigo 242, parágrafo 3º, do Código de Processo Civil, as pessoas
jurídicas de direito público devem ser citadas de forma pessoal, através de seu
Procurador Geral.
Neste sentido:

Art. 242. A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do
representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do interessado.

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(...)
§ 3o A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas
respectivas autarquias e fundações de direito público será realizada perante o órgão
de Advocacia Pública responsável por sua representação judicial.

No mesmo sentido, tem-se a Lei 1.015/2006 do Município de Manaus que


estabelece ser atribuição do Procurador Geral do Município o recebimento de
citações iniciais:

Art. 8º São atribuições do Procurador-Geral do Município, dentre outras:

I - representar o Município de Manaus em juízo ou fora dele, cabendo-lhe, com


exclusividade, receber citações iniciais, notificações, comunicações e
intimações de audiências e de sentenças, comunicações e intimações de audiências
e de sentenças ou acórdãos proferidos nas ações ou processos em que o Município
de Manaus seja parte ou, de qualquer forma, interessado e naqueles em que a
Procuradoria Geral do Município deva intervir;

Assim, requer-se, desde já, seja reconhecida a nulidade de citação com a


renovação do prazo de contestação para o ente público, nos termos do artigo
337, inciso I, do CPC:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

I - inexistência ou nulidade da citação;

DO MÉRITO
DA PREJUDICIAL DE MÉRITO – PRESCRIÇÃO QUINQUENAL

Há que se levantar, ainda, uma prejudicial de mérito nos presentes autos:


a flagrante ocorrência da prescrição. É que o autor demanda nestes autos fato
ocorrido em 20 de janeiro de 2011, mas a propositura da ação apenas ocorrera
em 19 de abril de 2017, mais de 5 anos após a ocorrência do suscitado fato
danoso.
Assim, conforme pacífica orientação do Superior Tribunal de Justiça, restara
prescrita a presente ação haja vista a aplicação do prazo prescricional de cinco
anos ao presente caso, nos termos do artigo 1º, do Decreto 20.910/32:

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Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo
e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja
qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato
do qual se originarem.

Ante o exposto, requer-se, desde já, a extinção do processo com resolução


do mérito, dada a ocorrência da prescrição, nos termos do artigo 487, II do CPC:

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:

II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou


prescrição;

DA INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Quanto ao mérito, cabe-nos discutir nos presentes autos que a


responsabilidade civil do Estado opera-se segundo a teoria do risco
administrativo. De acordo com o artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição Federal,
responderá o Estado de forma objetiva pelos atos de seus agentes que causarem
danos a terceiros.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
(...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

Contudo, no caso concreto, flagrante a culpa exclusiva da vítima, o que


deverá excluir por completo a responsabilização da Administração Pública.
Em que pese o motorista da Secretaria de Educação do Município de Manaus
estar trafegando de forma completamente regular, a própria vítima distraiu-se e
ficou posicionada em meio ao tráfego de veículos, conforme demonstrado por
perícia realizada pelo DETRAN/AM.

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Assim, ante a culpa exclusiva da vítima, requer-se, desde já, seja a


presente demanda julgada totalmente improcedente tanto quanto aos danos
materiais como quanto aos danos morais.

DO EXORBITANTE PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Por fim, mas não menos importante, necessário que o Poder Judiciário
combata as aventuras jurídicas perpetradas pelos jurisdicionados que buscam
enriquecer-se ilicitamente às custas do Erário.
Foge aos padrões da razoabilidade e proporcionalidade o deferimento de
danos morais no importe de R$. 1.000.000,00 (um milhão de reais) quando o
autor sofrera apenas e tão somente uma pequena lesão na perna esquerda.
Assim, requer-se, de forma alternativa, em caso de condenação da
Administração Pública, que a indenização por danos morais seja razoável e
deferida em patamar muito inferior ao pedido pelo Autor da demanda.

DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer-se:

a) Preliminarmente, seja reconhecida a nulidade de citação com a renovação


do prazo de contestação para o ente público, nos termos do artigo 337, inciso I,
do CPC;

b) De forma prejudicial ao mérito, seja extinto o processo com resolução do


mérito, dada a ocorrência da prescrição, nos termos do artigo 487, II do CPC:

c) No mérito, seja julgada totalmente improcedente a demanda autoral, por se


configurar no caso concreto a culpa exclusiva da vítima, excludente da
responsabilidade Estatal;

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d) Ainda no mérito e de fora alternativa, requer-se sejam aplicados os princípios


da razoabilidade e da proporcionalidade em caso de condenação da Administração
Pública, reduzindo-se a condenação em danos morais a valores razoáveis;

e) Por fim, requer-se a condenação do Autor ao pagamento de custas processuais


e honorários advocatícios;

Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidos, em especial, a juntada da perícia elaborada pelo DETRAN/AM quanto
ao acidente.

Termos em que, pede deferimento.

Local/DATA.

PROCURADOR DO MUNICÍPIO DE MANAUS

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11 - Questões Discursivas

Para cada questão discursiva, o candidato deverá apresentar uma resposta


em no máximo 30 linhas.

a) Direito Administrativo

Discorra sobre o Poder de Polícia e a possibilidade de delegação a


particulares. [Valor 10,0 pontos]

b) Direito Tributário

A revogação de benefício tributário deve respeitar o princípio da


anterioridade?

Redija um texto dissertativo abordando necessariamente os seguintes


aspectos:

1- Princípio da anterioridade [3,00 pontos]

2- Hipóteses da retroatividade da lei tributária [3,00 pontos]

3- Posição do Supremo Tribunal Federal sobre o tema [4,00 pontos]

c) Direito Civil
Marcelo Feijão, astuto empreendedor de Manaus, ocupa mansa e
pacificamente há mais de 30 anos, uma extensão de terra pública municipal
onde construiu um grande restaurante com toda a infraestrutura necessária
para bem receber sua clientela.

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Estima-se que o investimento do empresário ao longo dos anos tenha sido


da ordem de R$. 3.000.000,00 (três milhões de reais).

Por conta de um novo programa a ser implementado pela Administração


Pública e o desejo de implementar neste espaço um Hospital Público
Municipal, o Prefeito de Manaus encaminhou para a Procuradoria Geral do
Município uma consulta sobre a possibilidade de desocupação do imóvel.

Esta consulta fora distribuída para você que deverá, na qualidade de


Procurador do Município, apresentar sinteticamente respostas para as
seguintes perguntas:

1- Poderá o Município de Manaus desocupar o bem ocupado por Marcelo


Feijão?

2- O ocupante faz jus a alguma indenização pelas benfeitorias feitas no


imóvel?

3- A ocupação do bem por Marcelo Feijão pode ser considerada uma posse?

4 - É possível a aquisição do bem por usucapião?

[Valor 10,0 pontos]

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12 – Proposta de Solução - Questões Discursivas

a) Direito Administrativo

Discorra sobre o Poder de Polícia e a possibilidade de delegação a


particulares. [Valor 10,0 pontos]

Sugestão

Procure responder a proposta de questão sem verificar as respostas. Você


terá um ganho muito grande na qualidade do seu treino.

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Comentários – Item a

O poder de polícia representa uma expressão da supremacia do interesse


público sobre o privado e permite à Administração Pública restringir ou limitar
direitos ou interesse individuais no que tange à liberdade e a propriedade.
Constitucionalmente, o poder de polícia encontra fundamento no artigo 145,
inciso II:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir


os seguintes tributos:
(...)
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou
potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou
postos a sua disposição;

Legalmente, o conceito de Poder de Polícia encontra-se no artigo78 do


Código Tributário Nacional:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,


limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício
de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder
Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.

José dos Santos Carvalho Filho5, trazendo doutrina já tratada por Celso
Antônio Bandeira de Mello, afirma que o poder de polícia comporta dois sentidos:
um amplo e um estrito.

Em sentido amplo, poder de polícia significa toda e qualquer ação restritiva do


Estado em relação aos direitos individuais. Sobreleva nesse enfoque a função do
Poder Legislativo, incumbido da criação do ius novum, e isso porque apenas as leis,
organicamente consideradas, podem delinear o perfil dos direitos, elastecendo ou
reduzindo o seu conteúdo. É princípio constitucional o de que “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5º,
II, CF).

5
Manual de Direito Administrativo, 30ª edição, São Paulo: Editora Atlas, 2017, p.83.

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Em sentido estrito, o poder de polícia se configura como atividade administrativa,


que consubstancia, como vimos, verdadeira prerrogativa conferida aos agentes da
Administração, consistente no poder de restringir e condicionar a liberdade e a
propriedade.

Em um conceito simplificado, poder de polícia é a prerrogativa de direito


público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e
o gozo da liberdade e da propriedade em favor do interesse da coletividade 6.
Trata-se de prerrogativa de direito público da Administração, fundada em lei
e que condiciona e restringe a liberdade e a propriedade dos indivíduos, em
benefício do bem-estar da coletividade.
São atributos do Poder de Polícia:

a) a discricionariedade, segundo a qual o administrador público poderá


escolher, dentro de um juízo de conveniência e oportunidade, a alternativa
mais adequada dentre as várias sanções previstas na norma;

b) a autoexecutoriedade das medidas, não sendo necessária a intervenção


do Poder Judiciário para a execução dos atos materiais de polícia, a exemplo
da interdição de estabelecimento. Ressalte-se que na cobrança de multas,
não há a característica de autoexecutoriedade do poder de polícia.

No que se refere à competência para o exercício do Poder de Polícia, esta é,


em regra, da Pessoa Federativa a qual a Constituição conferiu o poder de
regulamentar a matéria. Por se tratar de competência concorrente, em certos
casos haverá o exercício do Poder de Polícia concomitantemente em diferentes
níveis federativos.
No que se refere à possiblidade de delegação do Poder de Polícia a
particulares, o aluno deve primeiro explicar que o Poder de Polícia pode ser
originário ou delegado.

6
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. Cit. p. 84.

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O Poder de Polícia originário é o exercido pela Administração Direta e o Poder


de Polícia Delegado é o exercido pelos entes da Administração Indireta.
Inicialmente, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se pela
indelegabilidade do exercício do Poder de Polícia a particulares, haja vista tratar-
se de uma prerrogativa da Administração Pública decorrente do seu poder de
império.

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 58 E SEUS PARÁGRAFOS DA LEI FEDERAL Nº
9.649, DE 27.05.1998, QUE TRATAM DOS SERVIÇOS DE FISCALIZAÇÃO DE
PROFISSÕES REGULAMENTADAS. 1. Estando prejudicada a Ação, quanto ao § 3º
do art. 58 da Lei nº 9.649, de 27.05.1998, como já decidiu o Plenário, quando
apreciou o pedido de medida cautelar, a Ação Direta é julgada procedente, quanto
ao mais, declarando-se a inconstitucionalidade do "caput" e dos § 1º, 2º, 4º, 5º,
6º, 7º e 8º do mesmo art. 58. 2. Isso porque a interpretação conjugada dos artigos
5°, XIII, 22, XVI, 21, XXIV, 70, parágrafo único, 149 e 175 da Constituição Federal,
leva à conclusão, no sentido da indelegabilidade, a uma entidade privada, de
atividade típica de Estado, que abrange até poder de polícia, de tributar e
de punir, no que concerne ao exercício de atividades profissionais
regulamentadas, como ocorre com os dispositivos impugnados. 3. Decisão
unânime.

(ADI 1717, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em


07/11/2002, DJ 28-03-2003 PP-00061 EMENT VOL-02104-01 PP-00149)

No entanto, a posição majoritária da doutrina e que fora aceita pela


jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de se distinguir os
momentos, fases ou ciclos do Poder de Polícia. Estes, concretamente, são 4:

a) Legislação ou ordem – A administração pública edita atos normativos que


restringem ou condicionam direitos. A edição destes atos depende diretamente
da atuação do ente público, não podendo ser delegada, haja vista que o poder
de polícia apenas poderá fundamentar-se em lei.

b) Consentimento – No consentimento de polícia, o Estado restringe o exercício


de algumas atividades privadas ao prévio consentimento estatal, a exemplo da
licença. Neste caso, o Estado apenas analisará se o particular preenche os

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requisitos elencados na norma jurídica. Este ciclo do poder de polícia poderá ser
delegado;

c)Fiscalização – A fiscalização consiste em verificar se o particular está


respeitando as normas postas. Se nessa fiscalização for verificado o
descumprimento de norma por parte do particular, o Estado aplica a respectiva
sanção. Os atos materiais de fiscalização podem ser delegados, a exemplo de
radares eletrônicos existentes nas rodovias para fiscalizar o cumprimento das
normas de trânsito;

d) Sanção – A sanção é uma punição que o Estado aplica ao particular que


descumpre as normas de polícia. Segundo o STJ, este ciclo não pode ser
delegado, eis que prejudicaria o bom funcionamento da administração pública (o
particular que busca o lucro não pode assumir uma atividade de sanção, muito
menos a atribuição para analisar eventuais recursos contra as sanções
aplicadas);

Em resumo, os atos relativos ao consentimento e fiscalização poderão ser


delegado, sendo indelegáveis os atos relativos à normatização e sanção. Neste
sentido:

ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO. SANÇÃO PECUNIÁRIA


APLICADA POR SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. IMPOSSIBILIDADE.
1. Antes de adentrar o mérito da controvérsia, convém afastar a preliminar de
conhecimento levantada pela parte recorrida. Embora o fundamento da origem
tenha sido a lei local, não há dúvidas que a tese sustentada pelo recorrente em
sede de especial (delegação de poder de polícia) é retirada, quando o assunto é
trânsito, dos dispositivos do Código de Trânsito Brasileiro arrolados pelo recorrente
(arts. 21 e 24), na medida em que estes artigos tratam da competência dos órgãos
de trânsito. O enfrentamento da tese pela instância ordinária também tem por
conseqüência o cumprimento do requisito do prequestionamento.
2. No que tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo, poder de
polícia pode ser conceituado como o dever estatal de limitar-se o exercício da
propriedade e da liberdade em favor do interesse público. A controvérsia em debate
é a possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no caso, aplicação
de multas de trânsito por sociedade de economia mista).

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3. As atividades que envolvem a consecução do poder de polícia podem ser


sumariamente divididas em quatro grupo, a saber: (i) legislação, (ii)
consentimento, (iii) fiscalização e (iv) sanção.
4. No âmbito da limitação do exercício da propriedade e da liberdade no
trânsito, esses grupos ficam bem definidos: o CTB estabelece normas
genéricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação
(legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o Poder Público
(consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para
verificar se há respeito à velocidade estabelecida em lei (fiscalização); e
também a Administração sanciona aquele que não guarda observância ao
CTB (sanção).
5. Somente o atos relativos ao consentimento e à fiscalização são
delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do
poder de coerção do Poder Público.
6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por
particulares estaria, inclusive, comprometido pela busca do lucro -
aplicação de multas para aumentar a arrecadação.
7. Recurso especial provido.
(REsp 817.534/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 10/11/2009, DJe 10/12/2009)

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b) Direito Tributário

A revogação de benefício tributário deve respeitar o princípio da


anterioridade?

Redija um texto dissertativo abordando necessariamente os seguintes


aspectos:

1- Princípio da anterioridade [3,00 pontos]

2- Hipóteses da retroatividade da lei tributária [3,00 pontos]

3- Posição do Supremo Tribunal Federal sobre o tema [4,00 pontos]

Sugestão

Procure responder a proposta de questão sem verificar as respostas. Você


terá um ganho muito grande na qualidade do seu treino.

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Comentários – Item b

O princípio da anterioridade do exercício financeiro está consagrado no artigo


150, III, b, da Constituição Federal:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado


à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

III - cobrar tributos:

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu
ou aumentou

Logo, os princípios da irretroatividade e da anterioridade se colocam como


corolários da segurança jurídica, dando segurança ao contribuinte tanto em
relação a fatos passados como minimamente em relação a fatos futuros, evitando
que estes se vejam diante de inesperada cobrança de tributos.
Segundo Ricardo Alexandre7

Os objetivos do legislador são bastante claros, quais sejam a) Impedir a tributação


de fatos que, no momento da sua ocorrência, não estavam sujeitos à incidência
tributária; b) Garantir que a tributação já verificada é definitiva, não podendo ser
objeto de majoração por legislação posterior.

O Supremo Tribunal Federal possui julgado que considera o princípio da


anterioridade como garantia individual do contribuinte, cláusula pétrea impossível
de ser suprimida por reforma constitucional:

EMENTA: - Direito Constitucional e Tributário. Ação Direta de Inconstitucionalidade


de Emenda Constitucional e de Lei Complementar. I.P.M.F. Imposto Provisorio
sobre a Movimentação ou a Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de
Natureza Financeira - I.P.M.F. Artigos 5., par. 2., 60, par. 4., incisos I e IV, 150,
incisos III, "b", e VI, "a", "b", "c" e "d", da Constituição Federal. 1. Uma Emenda
Constitucional, emanada, portanto, de Constituinte derivada, incidindo em violação
a Constituição originaria, pode ser declarada inconstitucional, pelo Supremo
Tribunal Federal, cuja função precipua e de guarda da Constituição (art. 102, I, "a",
da C.F.). 2. A Emenda Constitucional n. 3, de 17.03.1993, que, no art. 2., autorizou
a União a instituir o I.P.M.F., incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao dispor,

7
ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário esquematizado. Rio de Janeiro: Método, 2016, p.116.

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no paragrafo 2. desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, não se aplica "o art.
150, III, "b" e VI", da Constituição, porque, desse modo, violou os seguintes
princípios e normas imutaveis (somente eles, não outros): 1. - o princípio da
anterioridade, que é garantia individual do contribuinte (art. 5., par. 2., art.
60, par. 4., inciso IV e art. 150, III, "b" da Constituição); 2. - o princípio da
imunidade tributaria reciproca (que veda a União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios a instituição de impostos sobre o patrimônio, rendas ou serviços
uns dos outros) e que e garantia da Federação (art. 60, par. 4., inciso I,e art. 150,
VI, "a", da C.F.); 3. - a norma que, estabelecendo outras imunidades impede a
criação de impostos (art. 150, III) sobre: "b"): templos de qualquer culto; "c"):
patrimônio, renda ou serviços dos partidos politicos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistencia
social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; e "d"): livros, jornais,
periodicos e o papel destinado a sua impressão; 3. Em consequencia, e
inconstitucional, também, a Lei Complementar n. 77, de 13.07.1993, sem redução
de textos, nos pontos em que determinou a incidencia do tributo no mesmo ano
(art. 28) e deixou de reconhecer as imunidades previstas no art. 150, VI, "a", "b",
"c" e "d" da C.F. (arts. 3., 4. e 8. do mesmo diploma, L.C. n. 77/93). 4. Ação Direta
de Inconstitucionalidade julgada procedente, em parte, para tais fins, por maioria,
nos termos do voto do Relator, mantida, com relação a todos os contribuintes, em
caráter definitivo, a medida cautelar, que suspendera a cobrança do tributo no ano
de 1993. (ADI 939, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em
15/12/1993, DJ 18-03-1994 PP-05165 EMENT VOL-01737-02 PP-00160 RTJ VOL-
00151-03 PP-00755)artigos:”
Ressalte-se que são exceções ao princípio da anterioridade do exercício
financeiro: II, IE, IPI e IOF, Impostos Extraordinários de Guerra, Empréstimos
Compulsórios no caso de Guerra ou de Calamidade Pública, Contribuições para
Financiamento da Seguridade Social, e no caso do ICMS-Combustível e do ICMS-
Combustível, exceção parcial referente apenas a redução e reestabelecimento de
alíquotas.
Encontramos ainda as seguintes exceções em julgados dos tribunais
superiores: não é necessário seguir o princípio da anterioridade do exercício
tributário para a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo e
para a fixação do prazo para recolhimento da obrigação tributária. Este último
julgado fora, inclusive, sumulado:

Súmula Vinculante 50 – STF - Norma legal que altera o prazo de recolhimento da


obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.

Quanto à irretroatividade, trata-se de princípio previsto no artigo 150, III,


“a”, da Constituição Federal:

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Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado


à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os
houver instituído ou aumentado;

As exceções à irretroatividade são as normas expressamente interpretativas


e as que versem sobre infrações e sejam melhores para os infratores, conforme
leciona Ricardo Alexandre8:

O princípio da irretroatividade da lei tributária, conforme enunciado no art. 150, III,


a, da CF, não possui qualquer exceção. O princípio, contudo, não é incompatível
com a possibilidade de leis com efeito retroativo, como as expressamente
==0==

interpretativas e as que versem sobre infrações e sejam melhores para os infratores


(...).

Além disso, a Súmula 584 do STF estabelece que:

Súmula 584 – STF - Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano


base aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a
declaração.

A súmula parece deixar de lado tanto os princípios da anterioridade como da


irretroatividade, eis que uma declaração de Imposto de Renda feita no início do
ano de 2018 refere-se às rendas auferidas no ano de 2017. Assim, uma alteração
legislativa ocorrida em 31 de dezembro de 2017 teria efeito sobre todos os
rendimentos auferidos ao longo do próprio ano de 2017.
Percebe-se que a crítica da doutrina é muito grande quanto à Súmula 584,
mas esta segue sendo utilizada pelo Supremo Tribunal Federal.
No que se refere ao último tópico, durante bastante tempo prevaleceu no
Supremo Tribunal Federal a tese de que a revogação de isenção não onerosa ou
sem prazo certo, o chamado benefício fiscal, não estaria sujeita ao princípio da
anterioridade tributária, podendo ser o tributo cobrado imediatamente.
A Corte entendia que mesmo com o benefício fiscal, os fatos geradores
continuariam a correr e as obrigações tributárias surgiriam normalmente,

8
Op Cit. p. 115.

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0

havendo apenas a exclusão do crédito tributário, sendo a isenção mera dispensa


legal do pagamento do tributo.
Assim, segundo o artigo 178 do CTN:

Art. 178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de


determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer
tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.

Neste sentido, a posição em julgado de 2012 da segunda turma do STF:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO.


IMPOSTO DE RENDA. COMPENSAÇÃO. PREJUÍZOS FISCAIS. LIMITAÇÃO.
CONSTITUCIONALIDADE. EXISTÊNCIA DE PRECEDENTES DO PLENÁRIO SOBRE O
TEMA CONSTITUCIONAL DEBATIDO. JULGAMENTO DA MATÉRIA NOS TERMOS DO
ART. 557, CAPUT, DO CPC. POSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I - A
possibilidade de compensação de prejuízos fiscais apurados em exercícios
anteriores caracteriza benefício fiscal cuja restrição ou ausência não importa ofensa
ao texto constitucional. II - A revisão ou revogação de benefício fiscal, por se
tratar de questão vinculada à política econômica que pode ser revista pelo
Estado a qualquer momento, não está adstrita à observância das regras de
anterioridade tributária previstas na Constituição. III – A existência de
orientação do Plenário da Corte sobre a questão constitucional debatida legitima o
julgamento monocrático do recurso nos termos do art. 557 do CPC. IV - Agravo
regimentalimprovido.

(RE 617389 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,


julgado em 08/05/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-099 DIVULG 21-05-2012
PUBLIC 22-05-2012)

No entanto, em posição mais atual e divergente, a 1ª turma do Supremo


Tribunal Federal entendeu que o ato normativo que revoga o benefício fiscal
anteriormente concedido configura aumento indireto do tributo e, por conta disso,
está sujeito ao princípio da anterioridade tributária.
Para o Ministro Marco Aurélio, toda alteração do critério quantitativo do
tributo deve ser entendido como majoração.

IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS – DECRETOS Nº


39.596 E Nº 39.697, DE 1999, DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – REVOGAÇÃO
DE BENEFÍCIO FISCAL – PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE – DEVER DE
OBSERVÂNCIA – PRECEDENTES. Promovido aumento indireto do Imposto
Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS por meio da revogação
de benefício fiscal, surge o dever de observância ao princípio da

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anterioridade, geral e nonagesimal, constante das alíneas “b” e “c” do inciso III
do artigo 150, da Carta. Precedente – Medida Cautelar na Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 2.325/DF, de minha relatoria, julgada em 23 de setembro
de 2004. MULTA – AGRAVO – ARTIGO 557, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
Surgindo do exame do agravo o caráter manifestamente infundado, impõe-se a
aplicação da multa prevista no § 2º do artigo 557 do Código de Processo Civil.

(RE 564225 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em
02/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-226 DIVULG 17-11-2014 PUBLIC 18-11-
2014)”

Ressalte-se que no seio do STJ, encontramos posição dominante no sentido


de que a revogação do benefício tributário não precisa obedecer à anterioridade.
A matéria segue indefinida no plenário do STF, sendo certo que em
concursos públicos (questões objetivas) ambas as posições já foram consideradas
corretas. Para efeitos de discursivas, o importante é pontuarmos as posições e
respectivas explicações no seio do STF.

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c) Direito Civil
Marcelo Feijão, astuto empreendedor de Manaus, ocupa mansa e
pacificamente há mais de 30 anos, uma extensão de terra pública municipal
onde construiu um grande restaurante com toda a infraestrutura necessária
para bem receber sua clientela.

Estima-se que o investimento do empresário ao longo dos anos tenha sido


da ordem de R$. 3.000.000,00 (três milhões de reais).

Por conta de um novo programa a ser implementado pela Administração


Pública e o desejo de implementar neste espaço um Hospital Público
Municipal, o Prefeito de Manaus encaminhou para a Procuradoria Geral do
Município uma consulta sobre a possibilidade de desocupação do imóvel.

Esta consulta fora distribuída para você que deverá, na qualidade de


Procurador do Município, apresentar sinteticamente respostas para as
seguintes perguntas:

1- Poderá o Município de Manaus desocupar o bem ocupado por Marcelo


Feijão?

2- O ocupante faz jus a alguma indenização pelas benfeitorias feitas no


imóvel?

3- A ocupação do bem por Marcelo Feijão pode ser considerada uma posse?

4 - É possível a aquisição do bem por usucapião?


Sugestão

Procure responder a proposta de questão sem verificar as respostas. Você


terá um ganho muito grande na qualidade do seu treino.

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Comentários – Item c

De acordo com o artigo 1.219 do Código Civil, o possuidor de boa-fé tem


direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, restando consolidado o
entendimento pelo STJ que tal direito de retenção abrange também as acessões
(construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias


necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a
levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

O enunciado da questão procura confundir o candidato quanto à


necessidade de o sr. Marcelo Feijão ser indenizado pelos grandes investimentos
que tenha feito no imóvel público. A princípio, pela dicção do artigo 1.219 do
Código Civil, o aluno poderia imaginar que sim.
Contudo, segundo julgado do Superior Tribunal de Justiça nos casos em
que o bem público foi ocupado irregularmente, a pessoa não tem direito de ser
indenizada pelas acessões feitas, assim como não tem direito à retenção pelas
benfeitorias realizadas, mesmo que fique provado que estava de boa-fé.
É que a ocupação irregular de bem público não pode ser classificada como
posse, mas mera detenção, possuindo, portanto, natureza precária.
Possuidor é aquele que exerce de fato algum dos poderes inerentes à
propriedade (artigo 1.196, Código Civil), sendo a posse adquirida desde o
momento em que se torna possível o exercício em nome próprio destes poderes
(artigo 1.204, Código Civil).
Assim, apenas pode ser reconhecida a posse a quem se comporta como
proprietário do bem, não havendo como reconhecer esta a quem, por proibição
legal, não possa ser proprietário.
Ocorre que segundo dicção dos artigos 183, parágrafo 3º, 191, parágrafo
único, ambos da Constituição Federal e 102 do Código Civil, os imóveis públicos
não estão sujeitos a usucapião.

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Artigo 183.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Artigo 191.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.’

Código Civil
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.

É dizer: o ocupante de imóvel público jamais será capaz de adquirir-lhe a


propriedade por prescrição aquisitiva. É, pois, característica dos bens públicos a
imprescritibilidade.
Assim, a ocupação de área pública, quando irregular, não pode ser
reconhecida como posse, mas como mera detenção, eis que seu titular não
exerce quaisquer dos poderes inerentes à propriedade.
A detenção é instituto previsto no artigo 1.198 do Código Civil:

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento
de ordens ou instruções suas.

Segundo consolidou o STJ, poderá o ente público proceder à desocupação


do bem ocupado pelo particular irregularmente instalado independentemente o
pagamento de qualquer benfeitoria feita no imóvel.
Além disso, não se pode afirmar que tal ato configurará enriquecimento
sem causa da Administração, eis que esta provavelmente terá um custo para
demolir a construção feita ou, no máximo regularizá-la para adequá-la à
legislação vigente, dada a provável inutilidade do imóvel, sendo incoerente tal
afirmação.
Percebam que no caso concreto o Município de Manaus precisará instalar
um Hospital Público, oportunidade em que provavelmente em nada aproveitará
as benfeitorias realizadas por Marcelo Feijão.
Por fim, eventual inércia ou omissão da Administração não tem o efeito de
afastar ou distorcer a aplicação da lei. O imóvel público é indisponível, de modo

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que eventual omissão dos governos implica responsabilidade de seus agentes,


nunca vantagem de indivíduos às custas da coletividade.
Trata-se de julgado emblemático do STJ:

PROCESSUAL E ADMINISTRATIVO. OMISSÃO. VÍCIO NÃO CONFIGURADO. BEM


PÚBLICO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. OCUPAÇÃO IRREGULAR. INDENIZAÇÃO POR
MELHORIAS. DESCABIMENTO.
1. Não há violação do art. 535 do CPC/1973 quando o acórdão recorrido fundamenta
claramente seu posicionamento de modo a prestar a jurisdição que lhe foi
postulada.
2. A ocupação irregular de imóvel público, que caracteriza simples
detenção, e não posse, não gera direito à indenização de supostas
melhorias executadas no bem. Precedentes.
3. Recurso especial provido em parte.
(REsp 1403126/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
26/09/2017, DJe 29/09/2017)

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13 – Considerações Finais

E aí meus amigos, gostaram da aula?

Lembrem-se: apenas a prática pode nos levar à perfeição.

Quaisquer dúvidas, críticas ou sugestões, estou à disposição dos senhores


nos canais do curso e nas redes sociais ou por e-mail.

Grande abraço e até a próxima aula!

Igor Maciel

profigormaciel@gmail.com

Convido-os a seguir minhas redes sociais. Basta clicar no ícone


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