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Geriatria 15 - Ponte de Lima

Deontologia e ética profissional (25h) – UFCD4


1. Princípios fundamentais
1.1. Deontologia e ética profissional
Moral: conjunto de princípios, normas, dos juízos de valor em vigor numa dada sociedade e
aceite pelos indivíduos dessa mesma sociedade. Quando se considera o que é correcto ou
incorrecto estamos perante um juízo de valor. Os valores são sempre sociais e históricos. Baseia-
se no costume, hábitos culturais, regras que já estão enraizadas numa determinada sociedade.
Não faças aos outros o não quereis que façam a ti, é um dos fundamentais princípios da ética.
Mas seria igualmente justificado afirmar: tudo o que fizeres a outros fá-lo-ás também a ti
próprio” (Erich Fromm, Ética e Psicanálise)
Ética: é uma reflexão sobre os princípios que se baseiam na moral, ou seja é o modo de ser e de
actuar do homem, estabelece normas gerais de comportamento deixando a cada indivíduo a
responsabilidade pelos seus actos concretos. Quando se fala de ética, fala-se de reflexão sobre
os nossos actos, nosso carácter, personalidade.
Deontologia: ciência que estuda os deveres especiais de uma determinada situação, de certas
profissões. Define-se como ciência, dos deveres do homem como cidadão e, particularmente do
homem como profissional. É a única ciência das regras morais da profissão. A Deontologia surge
como o tratado dos deveres, mas também de direitos - código deontológico, que apresenta os
direitos e deveres, por exemplo dos Agentes de Geriatria.
A Ética Médica assenta em 4 grandes princípios:
 O princípio do respeito pela autonomia do Doente (opções do Doente), que deve ser
encarado como uma pessoa responsável, mesmo quando se denota o enfraquecimento
das suas capacidades;
 O princípio do benefício ou beneficência (fazer o bem), segundo o qual o prestador de
cuidados deve servir o melhor possível os interesses do Doente;
 O princípio da não maleficência (minimizar o mal), isto é, de não empreender nada que
seja contrário ao bem do Doente. Destes dois princípios decorre a avaliação risco-
benefício;
 O princípio da justiça, que torna obrigatório que se reconheçam as necessidades de
outrem sem distinção de idade, raça, classe ou religião.
Estes quatro princípios éticos devem ser aplicados no âmbito:
1. Do respeito pela vida;
2. Da aceitação da inevitabilidade da morte.
Na prática, estes princípios devem ser aplicados de forma equilibrada. Assim:
 Os benefícios possíveis do tratamento devem ser equilibrados relativamente aos riscos e
malefícios prováveis;
 A luta pela preservação da vida, excepto quando os malefícios resultantes dos
tratamentos ultrapassarem os seus benefícios, devendo esses tratamentos ser suspensos
e proporcionar-se conforto na morte;
 As necessidades individuais devem ser ponderadas relativamente às da sociedade.
1.2. Actos lícitos e ilícitos
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1.3. Actos legítimos e ilegítimos
O critério de distinção destes actos é o de conformidade com a lei, projectando-se igualmente no
regime dos efeitos jurídicos do acto. A razão de ser desta delimitação reside na circunstância de
a ilicitude envolver sempre um elemento de natureza subjectiva que se manifesta em não acatar,
numa rebeldia à Ordem Jurídica instituída. Envolve sempre uma violação da norma jurídica,
sendo nesse sentido, a atitude adoptada pela lei a repressão, desencadeando assim um efeito
tipo da violação – a sanção. Os actos ilícitos, são contrários à Ordem Jurídica e por ela
reprovados, importam uma sanção para o seu autor (infractor de uma norma jurídica).
Os actos lícitos são conformes à Ordem Jurídica e por ela consentidos. Não podemos dizer que o
acto ilícito seja sempre inválido. Um acto ilícito pode ser válido, embora produza os seus efeitos
sempre acompanhado de sanções. Da mesma feita, a invalidade não acarreta também a ilicitude
do acto.
A distinção entre actos jurídicos simples ou não intencionais ou calculados, não põe em causa o
problema da intervenção da vontade, não obstante se atenda à relevância da vontade no regime
dos efeitos jurídicos do acto. Há certos actos jurídicos que bastam com a vontade do agente,
dirigida a uma conduta em si mesma. Esta conduta, tem no entanto de ser querida pelo agente e
necessita sempre de uma acção humana – sendo esta apta e suficiente para que se produzam os
efeitos previstos na forma jurídica.
Os actos jurídicos intencionais, podem distinguir-se entre determinados e indeterminados. Há
nestes actos jurídicos aquilo a que alguns autores chamam: a nota finalista da conduta humana.
Na modalidade dos actos jurídicos intencionais é possível distinguir-se a vontade humana, sendo
que esta é considerada para o direito, como a génese da voluntariedade de determinar Direito –
vontade expressa de uma certa acção. Noutros casos para além dessa voluntariedade, atende-se
também ao facto de o agente querer expressar uma determinada conduta de pensamento.
A vontade funcional encontra-se sempre nos actos intencionais, não tendo no entanto em todos
eles a mesma extensão, processando-se a distinção nos termos seguintes. Em certos actos
jurídicos intencionais, a vontade, embora se refira aos efeitos do acto, não estipula esses efeitos.
O agente tem de acatar os efeitos não patrimoniais do casamento. Não são, neste caso, os
nubentes que definem os efeitos não patrimoniais do acto. Os efeitos do acto indeterminado, não
são fixos tão só pela norma jurídica, como também pelo agente.
Nem a norma nem o agente determinam os efeitos do acto em termos absolutos. A norma
confere uma certa liberdade ao agente na determinação dos efeitos. (ARTIGO 154º DO CÓDIGO
COMERCIAL).
Os actos ilícitos envolvem sempre uma violação da norma jurídica, sendo nesse sentido atitude
adoptada pela lei a repressão, desencadeando assim um efeito tipo da violação – a sanção.
São contrários à Ordem Jurídica e por ela reprovados, importam uma sanção para o seu autor
(infractor de uma norma jurídica).
Os actos lícitos são conformes à Ordem Jurídica e por ela consentidos. Não podemos dizer que o
acto ilícito seja sempre inválido.
Um acto ilícito pode ser válido, embora produza os seus efeitos sempre acompanhado de
sanções. Da mesma feita, a invalidade não acarreta também a ilicitude do acto.
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Acto lícito: acção que não viola qualquer norma.
“Na Igreja, não é lícito matar.”
Acto ilícito: acção de violação de uma norma e do dever jurídico que ela impõe.
“ Dia Internacional contra o abuso e o tráfico ilícito de drogas.”
Acto legítimo: acção fundada no direito e na razão, que tem carácter legal, válido, genuíno,
verdadeiro e justo.
“A cabeça-de-lista do POUS às europeias considerou hoje "perfeitamente legítimo" que as
pessoas não votem, uma vez que as instituições da União Europeia "foram criadas sem qualquer"
sufrágio das populações.”
Acto ilegítimo: acção não fundada na razão, que tem carácter inválido, falso e ilegal.
"É ilegítimo julgar pai que esqueceu bebé no carro. Constituído arguido homem que se esqueceu
do bebé fechado no carro.”
1.4. Responsabilidade
1.5. Segredo profissional
Responsabilidade: obrigação que o indivíduo tem em dar conta dos seus actos e suportar as
consequências dele. Um indivíduo responsável – é aquele que age com conhecimento e liberdade
suficiente para com os seus actos possam ser considerados como dignos, devendo responder por
eles, é ainda um indivíduo que dentro de um grupo pode tomar decisões.

A relação entre o Profissional/ Utente resulta na forma como o Profissional deve cuidar do
Utente, com respeito, como uma pessoa que tem o direito de tomar as suas decisões de ser
autodeterminação e que merece a defesa ou a confidencialidade das suas informações. Daí
existirem os Direitos do Homem, os quais expressam respeito, liberdade, justiça etc. É através
destes princípios que vamos chegar à pertinência do que é o sigilo/ segredo profissional.

As pessoas fogem às responsabilidades, e essa atitude é uma das causas de mal-estar. Pensam
que as responsabilidades desaparecem por si se as ignorarem ou evitarem. A base da evolução e
a realização é a responsabilidade. Responsabilidade é o preço a pagar pelo direito de fazermos as
nossas próprias escolhas. Responsabilidade é apenas outra palavra para designar oportunidade.
E tornamo-nos ricos ou pobres para sempre conforme aproveitarmos ou deixarmos fugir a
oportunidade.

Alfred Montapert, in 'A Suprema Filosofia do Homem'

Sigilo/ Segredo profissional: trata de manter em segredo informação valiosa, cujo domínio de
divulgação deva ser fechado, ou seja, restrito a uma pessoa, a uma organização ou a um grupo,
sobre a qual o profissional responsável possui inteira responsabilidade, uma vez que a ele é
confiada a manipulação da informação.

A violação da confidencialidade é o desrespeito por uma determinada pessoa, é uma


irresponsabilidade do profissional, já que o seu papel é responsabilidade perante a sociedade.
Manter o sigilo profissional é ajudar o Utente a manter a sua própria integridade moral.

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O (A) Agente em Geriatria deve seleccionar as intervenções gerais que convenham a todas as
pessoas idosas, assim como as intervenções específicas para que estas tenham uma boa
qualidade de vida.

DEVERES do Agente em Geriatria:


1. Exercer com competência e zelo a actividade, no campo que tiver confiado;
2. Observar e fazer observar rigorosamente as leis e regulamentos, defendendo todas as
circunstâncias;
3. Honrar os seus superiores na hierarquia administrativa, tratando-os em todas circunstâncias
com consideração e respeito;
4. Guardar segredo profissional sobre todos os assuntos que por lei não estejam expressamente
autorizados a revelar;
5. Desempenhar com pontualidade e assiduidade, o serviço que lhe estivar confiado;
DIREITOS do Agente em Geriatria:
1. Respeito e dignidade
2. Remuneração/ Horas de Trabalho
3. Promoção da Saúde e Prevenção da Doença

2. Direitos da pessoa humana


2.1. Direitos da pessoa humana e da pessoa idosa em particular
Direitos dos Idosos (Princípios das Nações Unidas para o Idoso, Resolução 46/91 - Aprovada
na Assembleia Geral das Nações Unidas, 16/12/1991)
INDEPENDÊNCIA
 Ter acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário, à saúde, a ter apoio familiar
e comunitário.
 Ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de geração de rendimentos.
 Poder determinar em que momento se deve afastar do mercado de trabalho.
 Ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e requalificação
profissional.
 Poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência pessoal, que sejam
passíveis de mudanças.
 Poder viver em sua casa pelo tempo que for viável.
PARTICIPAÇÃO
 Permanecer integrado na sociedade, participar activamente na formulação e
implementação de políticas que afectam directamente o seu bem-estar e transmitir aos
mais jovens conhecimentos e habilidades.
 Aproveitar as oportunidades para prestar serviços à comunidade, trabalhando como
voluntário, de acordo com seus interesses e capacidades.
 Poder formar movimentos ou associações de Idosos.
ASSISTÊNCIA
 Beneficiar da assistência e protecção da família e da comunidade, de acordo com os seus
valores culturais.
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 Ter acesso à assistência médica para manter ou adquirir o bem-estar físico, mental e
emocional, prevenindo a incidência de doenças.
 Ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe proporcionem protecção,
reabilitação, estimulação mental e desenvolvimento social, num ambiente humano e
seguro.
 Ter acesso a serviços sociais e jurídicos que lhe assegurem melhores níveis de autonomia,
protecção e assistência.
 Desfrutar os direitos e liberdades fundamentais, quando residente em instituições que lhe
proporcionem os cuidados necessários, respeitando-o na sua dignidade, crença e
intimidade. Deve desfrutar ainda do direito de tomar decisões quanto à assistência
prestada pela instituição e à qualidade da sua vida.
AUTO-REALIZAÇÃO
 Aproveitar as oportunidades para o total desenvolvimento de suas potencialidades.
 Ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e de lazer da sociedade.
DIGNIDADE
 Poder viver com dignidade e segurança, sem ser objecto de exploração e maus-tratos
físicos e/ou mentais.
 Ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça, etnia, deficiências,
condições económicas ou outros factores.
O IDOSO TEM DIREITO À VIDA…
A família, a sociedade e o Governo, tem o dever de amparar o Idoso garantindo-lhe o direito à
vida;
Os filhos têm o dever de ajudar a amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade;
Poder público deve garantir ao Idoso condições de vida apropriada;
A família, a sociedade e o poder público, devem garantir ao Idoso acesso aos bens culturais,
participação e integração na comunidade;
Idoso tem direito de viver preferencialmente junto a família;
Idoso deve ter liberdade e autonomia.
2.2. A vida e a morte
O nascimento, a velhice e a morte são fenómenos universais, inevitáveis, mas que são também
pessoais e únicos.
VIDA – Período/ tempo que decorre desde o nascimento até à morte.
MORTE – É o término da vida biológica, física, mas não necessariamente o fim. A morte é um
fenómeno físico, psicológico, social e religioso que afecta a pessoa na sua totalidade: corpo,
espírito, emoções, experiência de vida.
2.3. O Agente em Geriatria e a morte
A agente de geriatria deve conhecer as diferentes fases do processo (morte e luto) e tornar-se
sensível às diferentes manifestações próprias de cada uma das fases.
As etapas do processo da morte e do luto:
 Negação: o Idoso não quer acreditar que vai morrer e rejeita a ideia da morte.
 Revolta: o Idoso indigna-se e questiona-se “porquê eu?”.
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 Melancolia: período de tristeza (dita depressiva), o Idoso desliga-se do seu meio e isola-
se.
 Medo: depois da tristeza vem o medo ligado ao sentimento de abandono, o medo
geralmente manifesta-se por sintomas físicos, angustia ou reacções agressivas.
 Negociação: o Idoso aceita a morte mas dá-se conta de que o tempo lhe falta, que a sua
vida está a acabar e tenta ganhar tempo negociando. Ex. “sim, eu vou morrer mas falta
algum tempo”
 Aceitação: não é feliz nem infeliz é um estádio da paz e conformismo “a minha hora vai
chegar em breve e estou pronto”.
 Reajustamento da rede social: o Idoso tenta encontrar outras pessoas fontes positivas de
energia para encher o seu vazio interior.
 Perdão: o Idoso torna-se capaz de se desligar concretamente de alguém ou de alguma
coisa e de se desprender, o que lhe permite integrar o que vive da sua experiência
pessoal.

“Existir não significa viver porque os que simplesmente existem têm mais angústia pensando na
morte do que aqueles que vivem num caminho buscando uma meta, um ideal. Os que existem
buscam constantemente apenas o que melhor possam conseguir para si de uma maneira egoísta.
Já os que vivem têm um projecto entusiasta de vida. Para estes não importa o tamanho da sua
obra, mas sim, deixar qualquer coisa de muito positivo para o seu próximo. Acreditam que se
construírem algo positivo, mesmo que seja simplesmente cuidar da sua família, estão ajudando a
humanidade. Os seus filhos são para eles uma espécie de mensagem viva para um futuro que
não viverão, por isso o amor que oferecem e dedicação é a essência da sua própria vida.
A morte não significa velhice. Contrariamente, é uma certeza para atravessarmos a vida com
coragem e com objectivos. É necessário perdermos o medo ao inevitável e viver com qualidade.
Não devemos sofrer antecipadamente o nosso final anunciado. É essencial reflectir sobre a Vida,
dar-lhe significado, meditar e construir o nosso caminho da melhor maneira possível. Não
devemos mentir a nós mesmos escondendo a sua existência silenciosa.
A morte acompanha-nos desde o nascimento e, sendo cega, não escolhe idades. Nada nos
pertence e os nossos filhos também não. Somos só depositários fiéis desse tesouro. É muito
difícil depois de tanto amor, carinho e preocupações, ficarmos tão magoados e sem esperança.
A partir da sua ausência o que verdadeiramente importa é saber viver com esse vazio, sem dele
fugir como recorrer a crenças alucinantes. É preciso deixar fluir a vida naturalmente.”
Aida Nuno

Necessidades da Pessoa em fim de vida


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Ser aliviado do mal-estar físico
1º Necessidades
Conservar a energia
Fisiológicas
Não sofrer
Poder verbalizar os medos
2º Estabilidade e Confiar nos que o cuidam
Segurança Sentir que se lhe diz a verdade
Sentir-se em segurança
Falar
Ser escutado e compreendido
3º Amor e Pertença
Ser amado e amar
Morrer na presença de alguém que seja importante para ele
Manter a dignidade apesar da fraqueza
Conservar a autonomia
4º Auto-estima
Sentir-se normal e humano até ao fim
Conservar a identidade pessoal
Ser capaz de aceitar e atravessar esta etapa inevitável
5º Actualização
Compreender a significação de morte

Meios para reforçar o sentido da vida nos Idosos


 Reminiscência: através de uma discussão orientada, facilitar o exame da vida passada, de
modo a resolver os conflitos latentes, realçar os êxitos/ talentos e transmitir as lições da
experiência.
 Compromisso: dar aos Idosos ocasiões de consagrar/ dedicar o seu tempo e energias a
uma tarefa ou a outra pessoa.
 Optimismo: Evocar acontecimentos em perspectiva e manter a esperança de um futuro
melhor. “É olhando para o futuro que se tem melhores oportunidades de ultrapassar as
dificuldades presente.”
 Religião: encorajar as crenças religiosas e as práticas enriquecedoras. “Quando tudo está
perdido, incluindo a saúde, a faculdade espiritual de tender para Deus continua a ser um
meio eficaz de combater o absurdo da vida e o desespero.”

Atitudes perante a pessoa em fim de vida


 Responder a todas as necessidades físicas (controlar sintomas).
 Estar disponível e permitir-lhe falar do que vive e sente.
 Estabelecer uma comunicação verdadeira e de ajuda.
 Aliviar a dor física e psicológica.
 Promover a empatia.
 Ajudar a exprimir a emoções negativas.
 Ajudar a enfrentar a crises a atravessar a fases do luto.
 Ajudar a conservar a auto-estima e um certo controlo dos acontecimentos (pontos fortes).
 Dar provas de honestidade.
 Ajudar a conservar as forças e energias.
 Ajudar a realizar uma retrospectiva da sua vida.
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 Permitir “fazer despedidas” e partir com tranquilidade.
 Falar, comunicar e estar presente.
 Ajudar a manter o contacto com a realidade e a manter a consciência tanto quanto
possível.
 Oferecer a ajuda espiritual que precisa.
 Criar um ambiente adequado.
 Ajudar a satisfazer as necessidades sociais e reforçar laços familiares.
 Assegurar a continuidade de cuidados.
 Dar suporte à família.

“O Senhor é importante por ser quem é. Continua a ser importante até ao último momento da
sua vida e faremos tudo quanto pudermos, não só para que morra em paz, mas para que viva
até morrer.”
Cicely Saunders
“Assistir à morte em paz de um ser humano faz-nos recordar uma estrela cadente, uma de
milhões de luzes no vasto céu que brilha durante um curto instante para se extinguir para
sempre na noite sem fim.”
Elisabeth Kubler-Ross

A maioria das pessoas faz o seu Luto com ajuda da Família ou amigos, embora uma minoria
significativa sofra de incapacidades físicas ou mentais prolongadas, decorrentes de “Lutos
Patológicos”, que ocorrem quando, após um ano da perda, a pessoa não conseguiu aceitar ou
ultrapassar a referida situação. Nestes casos, é necessário recorrer a ajuda especializada.

“O homem vive preocupado em viver muito e não em viver bem,


quando afinal não depende dele viver muito, mas sim viver bem”
Séneca

“Eu sei meu amor


Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo”
David Mourão Ferreira

Eutanásia

O envelhecimento tem consigo a perspectiva da morte. Mesmo com o aumento da esperança de


vida da população humana, a vida é sempre um período limitado. Esta limitação passa a ser mais
contundente com a chegada da velhice. A perda de amigos, familiares e de pessoas de referência
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social reforça esta característica. Quando existe uma doença grave ou outra condição de saúde,
incluindo-se aspectos físicos, mentais e sociais, que gera sofrimento, a morte passa a ser não só
uma probabilidade, mas também uma alternativa. Esta possibilidade passa por um dilema
básico: o ser humano é proprietário ou guardião da vida. Caso seja considerado proprietário
pode dispor da sua própria vida, caso seja guardião deve zelar pela mesma.

O termo eutanásia significa literalmente “boa morte”, morte sem sofrimento. Em linguagem
comum, porém, a palavra é utilizada como sinónimo de “assassínio de misericórdia”. As
definições úteis deste termo incluem: “Uma intervenção deliberada, realizada com a intenção
expressa de pôr termo à vida para aliviar o sofrimento intratável”; “Pôr fim, de forma
compassiva, deliberada, rápida e indolor à vida de alguém que sofre de uma doença progressiva
incurável. Se for realizada a pedido ou com o consentimento da pessoa, a eutanásia diz-se
voluntária; caso contrário diz-se não voluntária”.

Em muitas reflexões sobre a morte o tema da eutanásia e do suicídio assistido estão presentes.
A eutanásia em idosos assume uma importância muito grande, principalmente no que se refere
às questões de respeito à autonomia. O importante é caracterizar que esta decisão é plenamente
consciente, que ela não está sendo tomada devido a um estado depressivo.

Assim surge a regra do duplo efeito:

Se as medidas tomadas para aliviar o sofrimento físico ou mental provocarem a morte do


doente, estas tornam-se moral e legalmente aceitáveis desde que a intenção do médico seja
aliviar e não matar o doente.

Assim, numa situação extrema, embora possa ocasionalmente ser necessário (e aceitável) tornar
o doente inconsciente, continua a ser inaceitável (e desnecessário) causar deliberadamente a sua
morte. As afirmações de que a regra do duplo efeito constitui uma hipocrisia e uma cortina de
fumo para encobrir a eutanásia, derivam:

 de não se compreender que a regra do duplo efeito tem carácter universal;

 da falsa crença de que a morfina tem sempre, ou por vezes, o efeito de encurtar a vida de
um doente terminal.

“O objectivo do tratamento deve ser o alívio do sofrimento e não a morte do doente. Ao


tomarem decisões, os profissionais da saúde devem ponderar os benefícios do tratamento,
relativamente aos inconvenientes e riscos previsíveis do mesmo”.

Testamento de Vida

Os “testamentos de vida” (living wills) são declarações de vontade feitas por uma pessoa,
formulando recomendações para serem cumpridas na fase terminal da vida, ou seja, simples
declarações de vontade. O que o declarante pode pedir, com legitimidade plena, é que, em fase
terminal irreversível, seja poupado a uma inútil exacerbação/ obstinação terapêutica, por forma
a que o processo de morte decorra com respeito pela sua dignidade.

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Sendo impossível evitar a morte, é no entanto possível tornar a vida da pessoa que está a
morrer o mais agradável e significativa.

Direitos da Pessoa em fim de vida

A Pessoa em fim de vida tem o direito de viver plenamente até ao fim:

1. Ser tratado até ao fim como um ser humano;

2. Conservar a esperança, sem falsas expectativas/ Ter respostas francas às suas perguntas;

3. Ser cuidado por pessoas competentes e capazes;

4. Exprimir à sua maneira os sentimentos e as emoções quanto à morte;

5. Participar nas decisões quanto aos cuidados/ Não ser enganado;

1. Receber cuidados de saúde quando necessários, mesmo quando os objectivos de cura são
modificados para objectivos de conforto;

6. Não morrer só/ Morrer em paz com dignidade;

7. Não sofrer;

8. Conservar a individualidade e não ser julgado por decisões e escolhas que entrem em conflito
com os valores ou crenças de outros;

9. Saber que após a morte o seu corpo será respeitado;

10. Receber os cuidados de pessoas sensíveis, competentes e capazes de ajudar, que


compreendem as suas necessidades e que o querem ajudar a ultrapassar esta última fase da
vida.

Morrer longe de casa é geralmente a sorte das pessoas de idade. A institucionalização aumenta o
seu sentimento de desapego e obriga-os a darem a outros, o controlo da sua vida e da sua
morte, o que fere a sua auto-estima e desintegra a sua identidade. Tornam-se pessoas
anónimas, Idosos entre outros Idosos. Deixam de ter qualquer poder e são muitas vezes
catalogados como pessoas confusas, dependentes e difíceis. Acontece mesmo o seu nome ser
esquecido e serem designados pelo nome da doença ou pelo número do quarto. Nesses casos os
Idosos, têm tendência a isolar-se completamente, a tornarem-se exigentes e coléricos, etc.
Observa-se muitas vezes nos profissionais, a tendência a empurrar os cuidados à Pessoa em fim
de vida, o que lhes permite não ver a morte e desmentir formalmente a realidade para se
protegerem contra a angústia. O moribundo é muitas vezes tratado como alguém sem direitos
nem opinião. Se as pessoas de idade não tiverem outra escolha senão morrer numa instituição, é
preciso então conseguir os meios necessários para satisfazer as suas necessidades físicas e
psicológicas e ajudar os seus familiares e amigos.

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