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“O homem é a sua própria estrela; e a alma, que pode torná-lo honesto e perfeito,
comanda toda a luz, toda a influência, todo o destino. Nada lhe acontece cedo ou tarde
demais. Os nossos atos são os nossos anjos, bons ou maus. São as nossas sombras do
Tua bondade deve ter uma certa pureza — caso contrário, não é
bondade. A doutrina do ódio deve ser pregada como a oposição à
doutrina do amor quando esta só choraminga e lamenta. Quando
ouço o chamado de meu gênio, fujo de meu pai e de minha mãe,
de minha mulher e de meu irmão. Na porta de minha casa, eu
escreveria “Capricho”. Espero que seja algo melhor do que
capricho, mas não podemos passar o dia inteiro em explicações.
Não espere que eu explique o porquê que procuro ou rejeito certas
companhias. Também não me diga, como um bom homem fez
hoje, de minha obrigação de melhorar as condições de todos os
pobres. Por acaso são meus pobres? Digo a você, tolo filantropo,
que de má vontade dou o dólar, o centavo, à estas pessoas que não
me pertencem e a quem eu não pertenço. Existe uma classe de
pessoas que, por ter tanta afinidade espiritual, sinto-me
comprometido com elas e por elas eu iria à prisão se necessário;
mas não à sua miscelânea de caridades populares, sua educação
na faculdade de tolos, a construção de capelas que acabarão tão
inúteis como muitas hoje se encontram; suas esmolas para
bêbados e suas mil Sociedades de Socorro — embora confesso
envergonhado que às vezes eu sucumbo e dou o dólar, mas este é
um dólar perverso que, aos poucos, terei a valentia de reter.
Mas por que deve manter-se vigilante? Por que arrastar este
cadáver de sua memória, por medo de contradizer algo que
disseste em algum lugar público? Suponha que você deva
contradizer a si mesmo, qual seria o problema? Parece que nunca
confiar somente em sua memória é uma regra sábia, muito menos
em assuntos que requeiram pura memória, mas é melhor trazer o
passado para o presente e julgá-lo com seus milhares de olhos e
viver sempre em um novo dia. Em sua metafísica, negaste a
personalidade à Divindade: mas quando chegarem os
movimentos devotos da alma, deixe-se levar por eles, com sua
alma e coração, mas que vistam Deus com forma e cor. Abandone
suas teorias, como José abandonou sua túnica nas mãos da
meretriz e escapou.
Uma consistência tola é o bicho-papão de pequenas mentes,
adorada por estadistas, filósofos e teólogos. Com consistência,
uma grande alma não tem nada para fazer. Se for o caso, é melhor
que se importe com sua sombra na parede. Diga hoje o que você
pensa com palavras firmes e amanhã fale o que pensas amanhã
em palavras firmes novamente, mesmo que contradiga tudo o que
falasse hoje. — “Ah, mas com certeza você será mal
compreendido.” — É tão ruim assim, ser incompreendido?
Pitágoras foi incompreendido, e também Sócrates, e Jesus, e
Lutero, e Copérnico, e Galileu e Newton e qualquer outro espírito
puro e sábio que tenha encarnado. Ser grande é ser mal
compreendido.
O homem é tímido e apologético; ele não anda mais ereto; ele não
ousa dizer “Eu penso”, “Eu sou”, mas não hesita em citar algum
santo ou sábio. Ele se envergonha diante da folha da grama ou da
rosa que floresce. Estas rosas em minha janela não fazem
nenhuma referência às rosas anteriores ou melhores que elas;
elas são o que são; elas existem com Deus, hoje. Não existe tempo
para elas. Existe apenas a rosa; ela é perfeita em todos os
momentos de sua existência. Antes que um botão se abra, toda a
sua vida se atua; na flor já desabrochada, não existe mais nada;
na raiz sem folhas, muito menos. Sua natureza está satisfeita, e
ela satisfaz à natureza, sempre da mesma maneira, em todos os
momentos. Mas o ser humano posterga ou recorda; ele não vive
no momento, mas com os olhos revirados ele lamenta o passado,
ou, ignorando as riquezas que o rodeiam, ele coloca-se nas pontas
dos seus pés para antecipar o futuro. Ele não consegue ser feliz e
forte até que viva com a natureza no presente, acima do tempo.
Assim, tudo se concentra: que não vaguemos por aí, mas que nos
habituemos com a causa. Que surpreendamos a multidão intrusa
das pessoas, dos livros e das instituições, com uma simples
declaração do fato divino. Ordenemos aos invasores que tirem os
sapatos de seus pés, pois Deus está aqui dentro. Deixemos que
nossa simplicidade os julgue, e nossa docilidade à nossa própria
lei demonstre a pobreza da natureza e do destino por trás das
nossas riquezas nativas.