A DESORDEM Imbricado no desaparecimento das diversas formas de
autoridade, e dele decorrente, veio diminuindo, pari passu, o respeito à lei
e crescendo a desordem, que se sobrepôs, pouco a pouco, às leis vigentes. Leis, há muitas. Simplesmente elas não são cumpridas. Com o desrespeito à lei, instalou-se a desordem, tomando-se impossível, à ausência de ordem, o desenvolvimento de qualquer atividade produtiva. A inépcia administrativa, a desídia no cumprimento das obrigações, a incúria na realização de qualquer tarefa prendem-se, necessariamente, ao desaparecimento do binômio autoridade -- ordem. A desordem é um fenômeno natural que se manifesta pela ação das próprias forças de um sistema deixado à sua sorte. Isso vale em qualquer nível de organização. É um fato científico. . Uma gigantesca onda de desordem assola o país, desordem esta que faz com que nada funcione direito, com que não se saiba a quem reclamar sobre coisa alguma, desordem que pressupõe a ausência absoluta de responsabilidade em todos os níveis, desordem que lança os cidadãos -- principalmente os pobres -- num desespero profundo, numa falta de segurança ante o futuro, e que os faz, em última instância, não acreditar em nada. A desordem tomou-se a regra no país -- desordem política, desordem administrativa, desordem econômico-financeira , desordem moral. O estado de absoluta desordem em que o país se encontra, bem como o mau exemplo que chega à sociedade vindo do poder constituído, estimulam o que de pior existe em qualquer ser humano -- a ganância, a corrupção, a necessidade de ganho fácil, a desonestidade -- criando uma sociedade onde imperam oódio a violência a desconfiança, a não-cooperação, enfim, criândq. " .. . não apenas uma sociedade onde existe a natural luta de classes, mas isto sim, um bando desordenado onde cada um; , , . . desesperadamente, decide lutar pelos seus propnos mteresses numa corrida desenfreada de salve-se quem puder, um lutando contra o outro, sem nenhuma perspectiva, sem nada a ser divisado no horizonte, uma vez que tudo aponta numa direção só -- de uma desordem maior. A crise não é apenas de um estrato da sociedade. Não é crise dos operários, dos bancários, dos comerciários, dos industriários, dos securitários, dos professores, dos médicos, dos engenheiros, dos empresários. É uma crise de toda a sociedade. A sociedade brasileira está doente. Padece de um quadro de atetose, expressão que traduz, em li~guagem médica, uma certa forma de incoordenação motora. Os diversos segmentos da sociedade, desarticulados, debatem-se, em paroxismos espasmódicos, cada um tentando sobreviver ao verdadeiro estado de choque em que se encontra a nação. . Do jeito em que estamos, como um navio sem rumo, soprado pelos ventos do neoliberalismo econômico, cada um entregue à sua própria sorte, não chegaremos a lugar nenhum a não ser que a sociedade, como um todo, se una em torno de uma idéia central, para que possamos emergir do fundo do oceano de inópia cultural, em que todos nós estamos mergulhados...' par~ uma situação de ordem, com justiça social, ordem que nao sera eterna, porém que, ao concluir o seu ciclo, nos deixará em um patamar mais elevado da condição humana.
Lisiane Costa Claro - Entre A Pesca e A Escola - A Educao Dos Povos Tradicionais A Partir Da Comunidade Pesqueira Na Ilha Da Torotama Rio Grande-Rs PDF