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Resumo
O artigo revisita o processo histórico à formação escolar e profissional, assi-
de construção do modelo de educação nalando as peculiaridades da área da
profissional de nível médio vigente no Bra- saúde que a afastam do modelo de edu-
sil, procurando identificar aspectos que cação profissional de nível médio com ca-
auxiliem na compreen- ráter de terminalidade.
são de questões pertinen- Palavras-chave:
Mônica Wermelinger
tes a essa modalidade de Educação profissional.
Doutoranda da Escola Nacional
ensino. Aborda a duali- de Saúde Pública Ensino técnico. Ensino
dade do ensino médio, a Pesquisadora da Fundação médio. Terminalidade.
associação entre discri- Oswaldo Cruz Formação em saúde.
minação social e ocupa- monicaw@fiocruz.br
ções técnicas, a conten-
ção de demanda ao ní-
Maria Helena Machado Abstract
Doutora em Sociologia
vel superior de ensino, a Pesquisadora da Fundação Professional
formação integral do ci-
dadão e a formação
Oswaldo Cruz educational
machado@ensp.fiocruz.br
para o mundo do traba- Antenor Amâncio Filho
policies:
lho, situando a educação Doutor em Educação references
profissional na área da Pesquisador da Fundação
saúde nesse contexto. Oswaldo Cruz
perspectives
Foram utilizados, como amancio@ensp.fiocruz.br This paper argues the
fontes, a legislação bra- historical process of
sileira para a educação, professional education
além de referenciais, diretrizes e docu- models construction in the Brazilian high
mentos técnicos do Ministério da Educa- schools to help the understanding of this
ção. O artigo ressalta a importância que education modality questions. It
o conceito de terminalidade adquiriu nas approaches the high schools ambiguity, the
propostas para a educação profissional, association between social discrimination
apontando a politecnia como alternativa and technical occupations, containment of
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Por sua vez, pode-se compreender que Aceita essa perspectiva, apreende-se
a utilização do conceito de polivalência nos que as primeiras iniciativas, no sentido de
documentos empresariais elaborados e di- firmar uma relação entre educação e tra-
vulgados por empresas como tentativa de balho, foram realizadas em virtude do de-
fazer do processo educativo um espaço de senvolvimento da economia de subsistên-
formação de indivíduos que se identifiquem cia e, particularmente, do incremento à ati-
diretamente com os interesses (como se es- vidade extrativa de minérios em Minas Ge-
ses também fossem seus) dos setores empre- rais. Os primeiros núcleos de formação pro-
sariais. A ênfase em flexibilidade e compe- fissional de artesãos e demais ofícios, as
tências nas diretrizes da educação profissio- “escolas-oficina”, foram sediadas nos co-
nal estariam, assim, atendendo de forma légios e residências dos padres jesuítas. A
subjacente aos interesses dos setores produ- Companhia de Jesus trouxe da Europa re-
tivos. Por esse enfoque, a utilização do con- ligiosos para aqui praticarem suas especi-
ceito de polivalência se apresentaria como alidades profissionais e, simultaneamente,
mais uma expressão da modificação do ensinarem seus misteres a escravos e ho-
discurso das elites visando conseguir, mens livres que demonstrassem habilida-
também no plano da produção, a sua des para a aprendizagem. Visavam, desse
hegemonia política. A utilização do con- modo, suprir a carência de mão-de-obra
ceito de polivalência procura criar a fal- especializada observada na Colônia.
sa impressão de que as tarefas realiza- (MANFREDI, 2002, p. 69).
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Presidente da República (1909-1910), assumiu o cargo em decorrência da morte do Presidente Afonso Pena.
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pela existência e que, para isso, se tor- Assim, a política educacional brasileira no
nava necessário, não só habilitar os fi- primeiro quarto do Século XX
lhos dos desfavorecidos da fortuna com acaba por admitir que, afinal, o Brasil é
o indispensável preparo técnico e inte- ainda um imenso território a ser explo-
lectual, como fazê-los adquirir hábitos rado, que muitas mercadorias estão lá,
de trabalho profícuo que os afastassem praticamente prontas, dadas, nos pas-
da ociosidade, da escola do vício e do tos, nas florestas, nas águas, nas abun-
crime. (BRASIL, 1909). dantes e férteis terras. Ora, essas mer-
cadorias precisam apenas de braços
Os aspectos de cunho social e caritati- fortes e musculosos, de puras energias
vo marcaram indelevelmente os primórdios humanas e de elementares instrumen-
da educação técnica no Brasil. Sempre es- tos técnicos que simplesmente as ex-
teve associada à população de baixa ren- traiam, ‘limpando-as do cascalho’, cor-
da, sem identidade, destituída de intenções tando, colhendo, pescando. (NOSELLA,
pedagógicas de desenvolvimento intelectual 2002, p. 168).
pleno: “O governo e os industriais viam as
escolas como instituições piedosas e não Com o lançamento, na década de 30,
integradas à estrutura de produção, além de um projeto industrial para o país, a edu-
dos aspectos limitados impostos à qualifi- cação profissional sofreu significativas mo-
cação qualitativa mais ampla da mão-de- dificações, aumentando a demanda para
obra industrial”. (FONTES, 1985, p. 24). a formação de operários especializados e
de quadros técnicos intermediários. Como
Até a década de 30, o Brasil era um desdobramento, a Constituição de 1937
país agroexportador, tendo como base eco- estabeleceu a obrigatoriedade da organi-
nômica a indústria açucareira e, posterior- zação de escolas de aprendizes, por parte
mente, a do café. As forças políticas sus- de empresas e de sindicatos. Mérito inques-
tentavam as oligarquias rurais, um dos prin- tionável dessa Constituição foi eliminar a
cipais pontos de apoio da classe dominan- referência que se fazia, sempre, ao ensino
te. A estrutura social, de sólida formação profissionalizante como destinado aos des-
econômica, reduzia a importância do pa- favorecidos da fortuna ou desvalidos da
pel do Estado, que freqüentemente não sorte. No período do Estado Novo (1937-
detinha a força política necessária para 1945), o governo adotou o ensino profissi-
promover intervenções nas unidades fede- onal como prioridade, visando a formar tra-
radas. Nesse cenário, predominava uma balhadores capazes de se adequarem à
concepção de ensino elitista, voltada para organização científica do trabalho, princí-
a área de letras e humanidades. As espar- pio que se ajustava à inspiração taylorista-
sas tentativas para dar ao ensino profissio- fordista de organização do trabalho na pro-
nal um tratamento sistematizado e caráter dução industrial (KIRSCHNER, 1993, p. 14).
de obrigatoriedade, não obtiveram suces-
so, dentre outras razões pelo fato de que, Na década de 40, no plano das reformas
em uma economia essencialmente agro- educacionais, busca-se a adesão dos indus-
exportadora, à população trabalhadora era triais para a manutenção de cursos profissio-
suficiente um nível de escolaridade baixo. nais para os operários. Promulga-se um de-
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creto determinando que os cursos poderiam nização. Teve início o Plano de Metas do
ser instalados, como unidades autônomas, governo Kubitschek (1956-1961), que con-
nas indústrias ou em suas proximidades, po- tinha trinta propostas (com ênfase nos seto-
dendo ser mantidos em comum por vários res de energia, transporte, siderurgia, cimen-
estabelecimentos industriais. Duas outras ini- to, automobilística, naval), que contribuiri-
ciativas importantes ocorrem em 1942, con- am para mudar a feição do país, fazendo
tribuindo para a adequação da formação com que deixasse de ser uma nação agrária
profissional às tendências de parcialização do para se tornar um país industrial, com a for-
processo de trabalho: foi criado o Serviço mação técnico-profissional passando a ser
Nacional da Aprendizagem –SENAI, que li- sinônimo de modernização. A transforma-
berou as indústrias e sindicatos da responsa- ção político-institucional, em 1964, acen-
bilidade exclusiva da educação profissional tuou, ainda mais, a tendência de racionali-
de seus operários e promulgada a Lei Orgâ- dade via concepção tecnicista da educação2.
nica do Ensino Industrial que, além de esta-
belecer as bases da organização desse ensi- Para completar o ciclo de iniciativas do
no, equiparou-o ao ensino secundário e in- período denominado de “tendência tecnicis-
troduziu a orientação educacional nas esco- ta”, o Congresso Nacional aprova e o Go-
las de formação profissional. verno promulga, em 1971, a Lei n° 5.692 (BRA-
SIL, 1971), que institui o ensino de segundo
A década de 50 teve o mérito de pro- grau de profissionalização compulsória. A prin-
mover, por meio de inúmeros atos legais, o cipal justificativa dos que defendiam a gene-
ajuste e a reformulação da estrutura edu- ralização da formação profissional nesse nível
cacional erigida durante o período autori- de ensino era uma suposta demanda do mer-
tário do Estado Novo. Quando a Lei de cado de trabalho por técnicos de nível médio,
Diretrizes e Bases da Educação, Lei no. surgida em decorrência do crescimento eco-
4.024 (BRASIL, 1961), foi finalmente pro- nômico acelerado do período denominado de
mulgada, muitas das inovações nela cons- “milagre econômico”, entre os anos de 1968
tantes já tinham sido incorporadas ao coti- e 1974 (LIMA, 1996, p. 33). Entretanto, seja
diano educacional, como, por exemplo, a pela falta de estrutura para implantação de
equivalência entre os diversos ramos de cursos técnicos ou pela falta de pessoal do-
ensino médio e a legislação sobre cursos cente habilitado para lecionar nesses cursos,
em cooperação com empresas. essa medida nunca chegou a ser amplamente
adotada, sendo alvo de inúmeras críticas e de
No início da década de 60, acentua-se fortes controvérsias a tal ponto que, alguns
a internacionalização da economia, com forte anos depois, o governo editou outro instru-
participação do Estado, que passou a ocu- mento legal, eliminando o caráter compulsó-
par posição central no processo de moder- rio da profissionalização.
2
Surgiram, nessa época, várias iniciativas no campo da educação profissionalizante: Ginásios industriais (1961); Ginásios
orientados para o trabalho (1963); Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra Industrial (1963); Centro de Educação
Técnica, no Rio de Janeiro e em São Paulo (1964);Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (1965); Centro de
Educação Técnica do Nordeste (1967); Centro de Educação Técnica da Amazônia (1968); Centro de Educação Técnica de Brasília
(1968); Centro de Educação Técnica da Bahia (1968); Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio (1968); Centro
Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (1969); Fundação Centro Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal para a
Formação Profissional (1969). (KIRSCHNER, 1993, p. 12).
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da formação profissional de nível médio tem de se aproximar mais dessa terceira for-
sido tratada de três formas básicas. Primei- ma, ao instituir um arcabouço legal vi-
ro, como um sistema que se caracteriza por sando a romper “com um modelo que pre-
abrigar dois processos de formação inde- conizava a solução conciliatória entre os
pendentes, não equivalentes: um que pre- objetivos de preparar para o prossegui-
para o indivíduo para prosseguir os estu- mento de estudos e a formação para o
dos em nível mais elevado e, outro, que trabalho” (BERGER FILHO, 1999, p. 91),
prepara para ingressar no mundo do tra- configurando uma educação profissional
balho ao término do curso realizado, ou complementar ao ensino médio, ao mes-
seja, possui caráter de terminalidade; se- mo tempo terminal e propedêutico.
gundo, como um sistema que oferece uma
grande variedade de cursos, sendo que to- Obedecendo ao disposto no Decreto no
dos eles permitem avançar a um nível mais 5.154 (BRASIL, 2004), as escolas voltaram
elevado de ensino; terceiro, como um sis- a oferecer a educação profissional e o en-
tema que propõe uma educação geral com sino médio, de forma integrada, utilizando
ênfase na ciência e na tecnologia e uma a mesma infra-estrutura, no mesmo turno/
educação profissional complementar. escola com os mesmos professores. O De-
creto visou a normatizar uma situação já
Tendo esses eixos como referência, alguns observada na prática pedagógica cotidia-
consensos no tocante à política educacional na, ainda que sem o objetivo de terminali-
estão-se ampliando. Primeiro, juntamente com dade, com os estudantes tendo como ex-
a ciência e a tecnologia, a educação está pectativa o acesso a novos níveis de apren-
incluída na pauta das políticas de Estado, dizagem, não contemplando, porém, as-
considerada como importante fator para aten- pectos importantes para superar a duali-
der aos novos padrões de desenvolvimento; dade que marca o ensino médio.
segundo, vem sendo compreendida como
indispensável no processo para tornar as so- O Conselho Nacional de Educação
ciedades mais integradas e solidárias; tercei- (1999), por meio das Diretrizes Curriculares
ro, a aquisição e o domínio de conhecimen- Nacionais para a Educação Profissional de
tos científicos e habilidades cognitivas são Nível Técnico, determinou a organização
condições necessárias para que todo sujeito desta em vinte áreas profissionais: Agrope-
seja capaz de selecionar e de assimilar as cuária, Artes, Comércio, Comunicação,
informações que considere relevantes para seu Construção Civil, Design, Geomática, Ges-
cotidiano de vida; quarto, a informação, o tão, Imagem Pessoal, Indústria, Informática,
conhecimento e a internalização de valores Lazer e Desenvolvimento Social, Meio Am-
éticos e morais são condições essenciais para biente, Mineração, Química, Recursos Pes-
o exercício da cidadania em sociedades plu- queiros, Saúde, Telecomunicações, Transpor-
rais, cambiantes e cada vez mais complexas. tes e Turismo e Hospitalidade.
(AMÂNCIO FILHO, 1997, p. 17).
Para a construção dos currículos, o
Com relação aos rumos da educação Ministério da Educação e o Conselho Na-
profissional, no Brasil o movimento edu- cional de Educação definiram que as ma-
cacional mais recente tem sido no sentido trizes de referência seriam formuladas e di-
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zão, principalmente, do descompasso que se uma nova e importante função no que diz
observa entre a esfera que forma (educação) respeito à manutenção da hierarquia so-
e a que emprega (mercado), ocasionado por cial e à governabilidade: conter a deman-
um mútuo desconhecimento de interesses, de da ao ensino de nível superior. Na saúde,
necessidades e de distanciamento para de- por exemplo, até a década de 90, um gran-
senvolverem, em parceria, ações conjuntas. de contingente de trabalhadores de nível
elementar e médio obtinha habilitação
No Brasil, a política de educação pro- para o exercício profissional após o ingres-
fissional está baseada na suposição de que so nos serviços de saúde. Hoje, porém,
o crescimento dos setores industrial e de após regulamentadas as profissões de ní-
serviços, verificado a partir da segunda vel técnico em saúde, exige-se a compro-
metade do século XX, promoveu e ainda vação escolar da habilitação, o que fez
promove um aumento da demanda de téc- aumentar a demanda institucional e a ne-
nicos de nível médio – argumento refutável cessidade social pela formação de qua-
se analisarmos o quantitativo de vagas para dros técnicos a serem absorvidos pelo sis-
técnicos oferecidas por empresas e a quan- tema de saúde, o que diferencia o setor de
tidade de currículos que se acumulam nos outras áreas, nas quais o número de no-
Conselhos Profissionais que oferecem “ban- vos postos de trabalho para os habilita-
cos de empregos”. Ademais, o excesso de dos é menor do que foi no passado.
oferta de trabalhadores qualificados favorece
o surgimento de exigências mais rigorosas A questão do dilema formativo nos cur-
para o preenchimento de vagas e negocia- sos de nível técnico encontra, então, na
ções que resultam em diminuição de salários área da saúde, locus privilegiado. Além
(GOUVEIA; HAVIGHURST, 1969, p.194). de todas as contradições presentes na edu-
cação profissional, a área acumula, uma
Analisando o processo de formulação da tradição de carreira, de identidades pro-
Lei no 5.692 (BRASIL, 1971), por exemplo, fissionais transitórias, de variados itinerá-
verifica-se que sua discussão teve início com rios formativos, de hierarquia no trabalho
as mudanças ocorridas com o golpe militar em equipe e na formação em serviço que
de 1964. A política econômica adotada a a torna a antítese da política de terminali-
partir de então, torna cada vez mais difícil a dade no ensino médio.
possibilidade de ascensão social por via não-
educacional, na medida em que dificulta Finalmente, o desafio de construir, de fato
novos empreendimentos no comércio e na e de direito, um sistema de saúde democrá-
indústria. Esse fator provocou uma verdadei- tico e participativo, obriga a refletir e a com-
ra corrida pelo ensino superior e, apesar do partilhar intervenções no processo de for-
aumento do número de vagas implementado mação profissional, não só para preparar
nesse nível de ensino, a demanda permane- indivíduos aptos a ingressarem no mundo
ce significativamente maior do que a oferta. do trabalho em saúde, conscientes de sua
responsabilidade técnica e social, mas, fun-
A ênfase na terminalidade do ensino damentalmente, formar homens e mulheres
médio e as conseqüentes políticas de pro- cientes de seus direitos e deveres na cons-
fissionalização têm, desde a sua gênese, trução de uma sociedade menos desigual.
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