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Nunca misture trabalho com prazer.

Nunca fale de política dentro do


quarto. De certa forma, no momento em que me tornei amante de Jackson
Rutledge, fiz exatamente essas duas coisas. E não posso dizer que foi por
falta de aviso.
Dois anos depois, ele voltou. Mas eu não era mais a garotinha que ele havia
conhecido, enquanto ele não mudara nada. Ao contrário da última vez em
que nos esbarramos, eu sabia exatamente com quem estava lidando… e
quão viciante seu toque poderia ser. Só que desta vez eu conhecia as regras
do jogo. No ambiente competitivo e impiedoso do mundo dos negócios, há
uma regra que vale para todo mundo: mantenha seus inimigos por perto, e
seus ex-amantes mais perto ainda…
1

Havia uma leve brisa de outono na manhã em que entrei no arranha-céu


de vidro espelhado no centro de Manhattan, deixando para trás o barulho
das buzinas e dos pedestres para penetrar um silêncio refrescante. Meus
saltos batiam no mármore escuro do vasto saguão, no ritmo acelerado de
meu coração. Com as mãos úmidas de suor, deslizei minha identidade pelo
balcão da recepção. Recebi o crachá de visitante e fui em direção ao
elevador, cada vez mais nervosa.
Você já desejou tanto alguma coisa que simplesmente não era capaz de
imaginar como seria se não a conseguisse?
Eu tive dois motivos na vida para me sentir assim: o cara por quem
tinha me apaixonado e o cargo de assistente administrativa para o qual ia
ser entrevistada.
O cara tinha se revelado um erro; o emprego poderia mudar minha vida
de maneira inacreditável. Eu não podia ser menos que perfeita naquela
entrevista. Tinha a sensação de que trabalhar como assistente de Lei Yeung
era justamente o que precisava para abrir minhas asas e voar alto.
Apesar do meu encorajamento mental, perdi momentaneamente o
fôlego ao sair do elevador no décimo andar e deparar com a entrada de
vidro escuro da Savor. O nome da empresa estava gravado em uma fonte
metálica feminina sobre as portas duplas, desafiando-me a sonhar alto e a
aproveitar cada momento ali.
Enquanto esperava para entrar, examinei a fileira de jovens bem-
vestidas aguardando na recepção. Diferente de mim, não usavam roupas da
coleção passada. E eu duvidava que alguma delas tivesse se desdobrado em
três empregos simultâneos para pagar a faculdade. Eu estava em
desvantagem em praticamente todos os aspectos, mas já sabia que seria
assim, e isso não me intimidava… muito.
A porta automática abriu e, ao entrar, reparei nas paredes cor de café
com leite, repletas de fotografias de grandes chefs e restaurantes da moda.
Havia um leve aroma de açúcar no ar, um cheiro reconfortante da minha
infância. Mas nem assim eu conseguia relaxar.
Respirei fundo e me apresentei à recepcionista, uma jovem negra e
bonita, dona de um sorriso gentil. Afastei-me discretamente, à procura de
um trecho desocupado de parede no qual encostar. Eu tinha achado o
horário da entrevista — para a qual chegara trinta minutos adiantada —
estranha, mas logo me dei conta de que cada candidato tinha uma conversa
rápida de cinco minutos e era dispensado com pontualidade britânica.
Minha pele enrubesceu de leve e senti que estava suando frio quando
chamaram meu nome. Afastei-me da parede com tanta pressa que titubeei
sobre os saltos, a falta de jeito refletindo minha insegurança. Acompanhei
um rapaz atraente ao longo de um corredor até um escritório de canto com
uma recepção vazia, seguida de outra porta que levava à sala de Lei Yeung.
O rapaz abriu a porta para mim com um sorriso. “Boa sorte.”
“Obrigada.”
Ao entrar, a primeira coisa que notei foi a decoração moderna e
despojada, e depois reparei na mulher sentada atrás de uma mesa de
madeira tão grande que a fazia parecer minúscula. Se não fosse pelo tom
vivo de vermelho em seus óculos, que combinava perfeitamente com o
batom nos lábios cheios, ela talvez tivesse sido eclipsada pela vastidão do
ambiente, que tinha uma vista estonteante da paisagem urbana de
Manhattan.
Parei um instante para registrar a mulher, admirando a maestria com
que uma mecha de cabelo grisalho havia sido disposta no penteado. Ela era
esguia, com um pescoço gracioso e braços compridos. Quando ergueu os
olhos do currículo para me avaliar, senti-me exposta e vulnerável.
Lei Yeung tirou os óculos e recostou-se na cadeira. “Sente, Gianna.”
Atravessei o carpete creme e escolhi uma das duas cadeiras de couro e
metal cromado diante da mesa.
“Bom dia”, cumprimentei, ouvindo, tarde demais, o sotaque do Brooklyn
que estava disposta a disfarçar a todo custo. Ela não aparentou notar.
“Fale sobre você.”
Limpei a garganta. “Bem, me formei na Universidade de Nevada, em Las
Vegas…”
“Acabei de ler isso no seu currículo.” Ela amenizou o tom das palavras
com um ligeiro sorriso. “Fale alguma coisa sobre você que ainda não sei.
Por que a indústria de restaurantes? Sessenta por cento dos novos
estabelecimentos fracassam em cinco anos. Tenho certeza de que sabe
disso.”
“Não o nosso. Minha família tem um restaurante em Little Italy há três
gerações”, respondi, cheia de orgulho.
“E por que você não trabalha lá?”
“Porque você não trabalha lá.” Engoli em seco. Uma resposta pessoal
demais. Lei Yeung não pareceu se incomodar, mas meu excesso de
sinceridade me abalou. “Quer dizer, lá nós não temos ninguém com seu
dom”, acrescentei depressa.
“Nós…?”
“Sim.” Fiz uma pausa para me recompor. “Tenho três irmãos. Seria difícil
dividir a gerência do Rossi’s quando meu pai se aposentar, e nem é o que
eles querem. O mais velho vai ficar com o restaurante e os outros dois…
bem, cada um quer ter seu próprio Rossi’s.”
“E sua contribuição é um diploma em gerenciamento de restaurantes e
um coração grande.”
“Quero aprender mais sobre o negócio para ajudar meus irmãos a
realizar o sonho deles. E outras pessoas também.”
Lei Yeung assentiu e pegou os óculos novamente. “Muito obrigada por
ter vindo, Gianna.”
E assim, sem mais nem menos, fui dispensada. Sabia que não tinha
conseguido o emprego. Não tinha dito o que ela esperava escutar do
escolhido.
Fiquei de pé, as ideias de como dar a volta por cima na entrevista
fervilhando na minha cabeça. “Sra. Yeung, eu realmente quero este
emprego. Trabalho duro. Nunca falto. Sou proativa e penso no futuro. Em
pouco tempo, vou aprender a antecipar as coisas de que precisa antes que
precise delas. Não vai se decepcionar se me contratar.”
Lei me fitou. “Tenho certeza disso. Você teve vários empregos e suas
boas notas na faculdade não caíram. É inteligente, determinada e não tem
medo de trabalhar duro. Estou certa de que seria excelente. Mas acho que
não sou a chefe certa para você.”
“Não estou entendendo.” Meu estômago revirou com a notícia de que
meu emprego dos sonhos tinha me escapado por entre os dedos, e a
decepção doeu.
“Não se preocupe”, ela disse, simpática. “Acredite em mim. Há uma
centena de restaurantes em Nova York que podem oferecer a você o que
procura.”
Ergui a cabeça. Eu costumava me orgulhar da minha aparência, da
minha família e das minhas raízes. Detestava o fato de que agora colocava
esse orgulho em dúvida com frequência.
Num impulso, resolvi dizer por que queria tanto trabalhar com ela.
“Temos muito em comum, sra. Yeung. Ian Pembry subestimou você, não é
verdade?”
Um fogo repentino se acendeu em seus olhos diante da menção
inesperada do homem por quem fora traída, mas ela permaneceu em
silêncio.
A essa altura, eu não tinha nada a perder. “Um homem me subestimou
também. Só quero fazer o mesmo que você: provar que todo mundo estava
errado.”
Ela inclinou a cabeça de lado. “Espero que consiga.”
Percebendo que não havia mais nada que pudesse fazer, agradeci e saí
da sala com o máximo de dignidade possível.
Sem sombra de dúvida, tinha sido uma das piores segundas-feiras da
minha vida.


“Escute o que estou dizendo, ela é uma idiota”, tornou a dizer Angelo.
“Você teve foi sorte de não conseguir aquele emprego.”
Eu era a caçula da família. Angelo era o mais novo dos meus três irmãos.
A ira com que me defendia me fez sorrir, apesar do meu estado.
“Ele tem razão”, disse Nico. O mais velho — e o mais brincalhão — deu
um chega pra lá em Angelo e colocou um prato diante de mim com um
floreio.
Eu estava no bar, já que o Rossi’s estava lotado como sempre. Os
fregueses da noite eram barulhentos, e muitos deles eram conhecidos da
casa. Vez por outra aparecia uma celebridade à paisana para comer em paz.
Essa mistura era um sinal evidente da fama do serviço acolhedor e da
comida excelente do Rossi’s.
Angelo devolveu o empurrão e fez uma careta. “Sempre tenho razão.”
“Até parece!”, desdenhou Vincent pela janela da cozinha, deslizando dois
pratos fumegantes sobre o balcão e arrancando as comandas
correspondentes. “Só quando você repete o que eu digo.”
Tive que rir daquilo. Então senti a mão de alguém tocar minha cintura
um segundo antes de perceber o perfume Elizabeth Arden predileto da
minha mãe.
Ela me deu um beijo. “Que bom ver você sorrindo. Tudo na vida
acontece…”
“… por um motivo”, completei. “Eu sei. Mas é um saco.”
Eu era a única da família que havia feito faculdade. Tinha sido um
esforço coletivo, com participação dos meus irmãos. E era impossível não
sentir como se tivesse decepcionado todo mundo. Claro que havia centenas
de restaurateurs em Nova York, mas Lei Yeung não era apenas capaz de
transformar chefs desconhecidos em marcas, ela era fora de série.
Lei Yeung sempre falava sobre a presença das mulheres no mundo dos
negócios e havia sido convidada para diversos programas de TV. Era filha de
imigrantes e tinha batalhado e estudado, tornando-se um sucesso mesmo
tendo sido traída por seu mentor. Trabalhar para ela era tudo o que eu
queria.
Ou era disso que eu tinha me convencido.
“Coma seu fettuccine antes que esfrie”, disse minha mãe, e se afastou
para receber novos fregueses.
Enrolei o macarrão no garfo. O molho Alfredo cremoso ficou pingando
enquanto a observava. Muitos clientes também olhavam para ela. Mona
Rossi estava perto da casa dos sessenta, mas jamais se adivinharia isso pela
sua aparência. Era linda e sensual de uma maneira exuberante. Os cabelos
ruivos eram volumosos e emolduravam um rosto dotado de uma simetria
clássica, com lábios cheios e olhos como duas jabuticabas. Era escultural,
tinha curvas generosas e um gosto por joias de ouro.
Homens e mulheres a adoravam. Minha mãe era segura de si e
descontraída. Poucos desconfiavam do trabalho que meus irmãos tinham
dado quando jovens. Mas agora eles estavam bem treinados.
Respirando fundo, procurei absorver a atmosfera reconfortante à minha
volta: os sons queridos de gente se divertindo, o cheiro de dar água na boca
da comida cuidadosamente preparada, o tinir de talheres nas louças e
copos se chocando em brindes. Eu queria mais da vida, o que às vezes me
fazia esquecer quanta coisa já possuía.
Nico voltou e olhou para mim. “Tinto ou branco?”, perguntou, colocando
a mão sobre a minha afetuosamente.
Ele era um dos favoritos da clientela, especialmente entre as mulheres, e
ficava no bar. Era moreno e bonito, tinha cabelos bagunçados e um sorriso
malicioso. Um paquerador convicto, tinha fã-clube próprio. As mulheres
iam ao bar em busca de seus ótimos drinques e de seu papo sedutor.
“Que tal uma champanhe?” Lei Yeung sentou-se elegantemente no banco
ao meu lado, que tinha acabado de ser liberado.
Pisquei, incrédula.
Ela sorriu para mim. Usava uma calça jeans e uma blusa rosa de seda, e
parecia bem mais jovem do que na entrevista. Seus cabelos estavam soltos,
e o rosto, sem maquiagem. “Vi muitas avaliações entusiasmadas deste lugar
na internet.”
“É a melhor comida italiana daqui”, respondi, sentindo o coração
acelerar.
“Muitos dizem que este lugar ficou ainda melhor nos últimos anos. Foi
quando você começou a colocar em prática o que estava aprendendo?”
Nico colocou duas taças altas à nossa frente e serviu champanhe até a
metade. “É isso mesmo”, ele disse, entrando na conversa.
Lei segurou sua taça e acariciou-a com os dedos. Seu olhar cruzou com o
meu. Nico, que sabia muito bem a hora de desaparecer, foi para a outra
ponta do bar.
“Voltando ao assunto…”, ela disse. Comecei a me curvar, com medo do
que viria, mas logo me endireitei no banco. Lei Yeung não teria se
deslocado até o Rossi’s só para me dar uma lição de moral. “Ian me
subestimou, sim, mas ele não se aproveitou de mim. Se eu dissesse isso
exageraria sua participação no caso. Eu deixei a porta aberta, e ele passou
por ela.”
Fiz que sim com a cabeça. As circunstâncias do rompimento dos dois
eram desconhecidas, mas eu havia deduzido algumas coisas a partir das
reportagens nas revistas especializadas do ramo, e preenchido as lacunas
com informações das colunas de fofoca e blogs. Juntos, eles haviam erguido
um império culinário, transformado chefs em celebridades, montado várias
cadeias de restaurantes e uma linha de livros de receitas e utensílios de
cozinha a preços acessíveis que vendiam aos milhões. Foi então que
Pembry anunciou o lançamento de uma nova cadeia de restaurantes
financiada por atores e atrizes famosos — da qual Lei não fazia parte.
“Ele me ensinou muito”, prosseguiu ela. “E cheguei à conclusão de que
aprendeu tanto quanto eu.” Lei fez uma pausa, pensativa. “Estou ficando
acostumada demais comigo mesma e com a maneira como faço as coisas.
Preciso de outro ponto de vista. Quero me alimentar da vontade de vencer
de outra pessoa.”
“Você quer uma discípula.”
“Exatamente.” Sua boca se curvou num sorriso. “Não havia percebido
isso até falar com você. Eu sabia que estava em busca de algo, mas não
sabia o que era.”
Eu estava eufórica, mas mantive o tom profissional. Girei o banco para
encará-la. “Estou dentro, se você quiser.”
“Esqueça o horário comercial”, avisou ela. “Não é algo que se faça das
nove às seis. Vou precisar de você nos fins de semana e talvez telefone no
meio da madrugada. Trabalho o tempo todo.”
“Não vou achar ruim.”
“Eu vou.” Angelo se aproximou por trás de nós. Meus irmãos tinham
deduzido quem ela era, e eles gostavam de se intrometer. “Preciso ver
minha irmã de vez em quando.”
Dei uma cotovelada nele. Eu, meus três irmãos e a esposa de Angelo,
Denise, dividíamos um apartamento grande mas precário, no Brooklyn. A
maior parte do tempo reclamávamos que nos víamos demais.
Lei estendeu a mão e se apresentou a Nico e Angelo, depois à minha
mãe, que havia chegado para ver o que estava acontecendo. Meu pai e
Vincent gritaram da janela da cozinha. Alguém pôs diante de Lei um
cardápio e uma cesta de pão fresquinho e azeite importado de um pequeno
produtor na Toscana.
“A panna cotta é boa?”, perguntou Lei.
“A melhor”, respondi. “Você já jantou?”
“Ainda não. Lição número um: a vida é curta. Não adie as coisas boas.”
Mordi o lábio inferior para conter um sorriso largo. “Isso significa que o
emprego é meu?”
Ela ergueu a taça com um movimento afirmativo da cabeça. “Saúde.”
2

Um ano depois…

“Estou muito pilhada”, exclamou Lei, os pés batendo no chão sob a mesa
de jantar. “Não me canso disso.”
Abri um sorriso largo, pois, ao longo dos meses em que trabalhamos
juntas, aprendi a me sentir da mesma maneira. Experimentáramos diversos
momentos de êxtase, mas aquele dia — uma tarde de fim de setembro de
céu limpo — era especial. Depois de meses de bajulação e convencimento,
estávamos perto de fechar negócio com duas das maiores estrelas de Ian
Pembry. Seria uma bela revanche pelo que ele tinha feito a Lei algum tempo
antes, além de ser excelente para nós.
Lei tinha se produzido para a ocasião, e eu não ficava atrás. Usava um
vestido transpassado Diane von Fürstenberg vintage vermelho, cor que era
sua marca registrada. Com botas pretas, ela transmitia um ar destemido e
sensual. Eu estreei um conjunto de blusa dourada e calça cigarette da
coleção de outono da Donna Karan. O conjunto ficava chique e refletia meu
novo eu, uma Gianna que havia evoluído muito desde o ano anterior.
Impaciente para fechar o negócio, voltei-me para a entrada do bar do
hotel e senti uma onda de adrenalina quando os gêmeos Williams
apareceram, como se estivessem esperando meu olhar. Irmão e irmã
causavam uma impressão forte, com seus cabelos castanho-avermelhados e
olhos verdes. Formavam uma grande equipe na cozinha, tendo se
estabelecido no mercado com comida caseira do sul dos Estados Unidos,
mas modernizada e gourmet. Eles vendiam livros e lindas latinhas de
temperos. Eles pareciam ter tudo, mas a realidade era outra: por trás das
câmeras, os dois se detestavam.
Esse foi o erro fatal de Pembry ao lidar com a dupla dinâmica. Ele
ordenou que engolissem suas diferenças e fizessem o negócio funcionar,
porque estavam faturando milhões com a história de sucesso em família.
Lei oferecera então o que eles realmente desejavam: a chance de se separar
e brilhar por conta própria, capitalizando em cima da rivalidade, como se
fosse uma brincadeira. O plano dela era criar uma rede de restaurantes que
competissem entre si, dentro dos cassinos e resorts Mondego,
mundialmente famosos.
“Chad. Stacy”, Lei cumprimentou, ficando de pé ao mesmo tempo que eu.
“Vocês estão ótimos.”
Chad se aproximou e me deu um beijo antes mesmo de responder a Lei.
Ele vinha flertando comigo havia algum tempo, e isso se tornara parte das
negociações.
Em determinados momentos eu ficava tentada a fazer mais do que
flertar, mas a possibilidade de irritar a irmã me continha. Chad não era
nenhum santo e sua ambição não tinha limites. Stacy, no entanto, era a que
dava mais trabalho, e parecia ter mais ódio de mim do que do irmão.
Apesar de todas as minhas tentativas iniciais, decidiu que não gostava de
mim, o que dificultava o processo.
Eu suspeitava que ela estivesse dormindo com Ian Pembry — ou que
tivesse pelo menos uma vez — e de alguma forma andava defendendo os
interesses dele. Imaginei que era por isso que não gostava muito de Lei,
mas talvez ela fosse só uma daquelas mulheres que detestam todas as
outras.
“Espero que os quartos sejam confortáveis”, eu disse, sabendo que não
havia dúvida de que eram. O Four Seasons não era um hotel cinco estrelas
por acaso.
Stacy deu de ombros, o cabelo lustroso deslizando sobre a clavícula.
Possuía um rosto lindo e angelical, pálido e polvilhado de sardas. Era
desconcertante como alguém de aparência tão doce e inocente, com um
sotaque sulista tão açucarado, fosse uma megera tão descontrolada. “São
o.k.”
Chad revirou os olhos e puxou a cadeira para mim. “São ótimos, dormi
como uma pedra.”
“Eu não”, chiou a irmã, ocupando graciosamente seu assento. “Ian ficou
me ligando o tempo todo. Está suspeitando de alguma coisa.”
Ela olhou de lado para Lei, como se para medir o impacto de suas
palavras.
“Claro que ele suspeita”, concordou Lei com suavidade. “Ian é um
homem esperto. O que me deixa ainda mais surpresa que não tenha
trabalhado mais para manter vocês dois contentes. Ele sabe o que faz.”
Stacy fez um beicinho. Chad me lançou uma piscadela. Em geral, eu não
gostava que piscassem para mim, mas com ele funcionava. Era parte de seu
encanto de menino do interior, embora ele fosse muito sexy. Havia algo a
seu respeito que sugeria que talvez soubesse usar uma espátula para
disciplinar garotas malvadas tão bem quanto na cozinha.
“Ian fez tanto por nós”, protestou Stacy. “Eu me sinto como se estivesse
sendo desleal.”
“Mas não deveria. Você ainda não assinou nada”, respondi. Tinha
aprendido que psicologia reversa era a melhor arma contra a natureza
opositiva de Stacy. “Se você sente que ser parte dos gêmeos Williams é
melhor do que Stacy Williams, deve seguir seu instinto. Foi o que trouxe
vocês até aqui.”
De canto de olho, vi Lei contendo um sorriso. Saber que ela ficara
satisfeita me fazia vibrar por dentro. Fora ela quem me ensinara tudo o que
eu sabia sobre usar o ego alheio em meu proveito.
“Não seja burra, Stacy”, resmungou Chad. “Você sabe que é uma
oportunidade de ouro para a gente.”
“Isso é verdade, mas talvez não seja a única oportunidade”, rebateu ela.
“Ian diz que temos que dar uma chance a ele.”
“Você contou para ele?”, perguntou o irmão, impaciente e com uma cara
feia. “Puta merda, a decisão não é só sua, sabia? A minha carreira também
está em jogo!”
Lancei um olhar preocupado para Lei, mas ela simplesmente balançou a
cabeça negativamente, de modo quase imperceptível. Não dava para
acreditar que podia se manter tão calma e controlada, considerando que
era a oportunidade perfeita de se vingar de seu rival.
Os restaurantes de Hollywood que Ian havia roubado dela foram à
falência quando deixaram de ser novidade para as celebridades
investidoras, que saíram à procura de outras saídas para seus impostos,
que não necessitassem tanto de sua presença física. Além disso, dois dos
chefs mais importantes tinham voltado para o país de origem, deixando um
peso enorme sobre os jovens ombros dos irmãos Williams.
“O acordo com a Mondego, como vocês sabem, é exclusividade da
Savor”, afirmou Lei. “O que Ian propôs?”
O que tinha dado errado? Olhei de um irmão para o outro, depois para
minha chefe. Os contratos estavam na minha bolsa, debaixo da mesa.
Estávamos na reta final e, de uma hora para outra, nosso cavalo reduzia o
passo.
Senti um arrepio de reconhecimento, mas imaginei que fosse apenas um
pressentimento ruim, como um aviso de que o negócio tinha afundado
muito antes daquela reunião.
Então, eu o vi.
Tudo dentro de mim parou, como se eu pudesse me tornar invisível a
um predador caso não me movesse. Ele entrou no bar com um passo
provocante que me fez fechar as mãos em punhos debaixo da mesa. Aquele
caminhar, relaxado, suave e confiante. Ainda assim, de alguma maneira ele
transmitia ao cérebro feminino que havia um poder intenso entre aquelas
pernas longas e fortes, e que ele sabia usá-lo.
Meu Deus, e como sabia.
Usando um suéter cinza e calça social de um tom mais escuro,
aparentava ser um executivo bem-sucedido tirando um dia de folga, mas eu
sabia que não era isso. Jackson Rutledge jamais se dava um dia de folga. Ele
trabalhava duro, jogava duro e fodia duro.
Estendi a mão trêmula para pegar um copo de água, rezando para que
ele não me reconhecesse como a menina que se apaixonara perdidamente
por ele. Eu não parecia mais a mesma. Não era mais a mesma.
Jax também estava diferente. Mais magro. Mais sério. Marcadas pela
nitidez das linhas do queixo e das maçãs do rosto, suas feições pareciam
mais impressionantes. A visão dele me fez tomar um fôlego profundo e
trêmulo, reagindo à sua presença como se tivesse sofrido um golpe físico.
Nem percebi que Ian Pembry caminhava ao seu lado, até que eles
pararam junto à nossa mesa.


“Será que Jackson Rutledge é parente do senador Rutledge?”, perguntou
Lei placidamente, ao nos acomodarmos no banco traseiro do seu sedan.
“Ou de qualquer um dos Rutledge, aliás?”
O motorista saiu com o carro, e eu mexi no tablet só para ter uma
desculpa para evitar contato visual. Temia revelar demais, temia que os
olhos perspicazes de Lei notassem o quanto eu estava abalada.
“Ele é”, respondi, com os olhos fixos na tela do tablet e no rosto
maravilhoso que achava que nunca tornaria a ver — ou melhor, que torcera
para nunca mais ver. “Jackson e o senador são irmãos.”
“O que Ian está fazendo com um Rutledge?”
Eu tinha me perguntando a mesma coisa quando vi o negócio pelo qual
havia trabalhado tanto desmoronar na minha frente — tínhamos chegado
com contratos e canetas em punho e saímos com as mãos abanando.
Infelizmente, perdi o fio da meada da conversa no momento em que Jax deu
um beijo no rosto de Stacy. O sangue latejando em meus ouvidos abafou
todo o resto.
As unhas vermelhas de Lei tamborilavam em silêncio no apoio de mão
acolchoado do carro. Manhattan se expandia à nossa volta, as ruas
formigando de carros, e as calçadas, de gente. O vapor se erguia
sinuosamente do metrô abaixo de nós, e as sombras nos cobriam, a luz do
sol escondida pelos arranha-céus.
“Não sei”, respondi, um tanto intimidada pela energia irradiada por
aquela mulher, uma tigresa à procura da presa. Será que Jackson tinha
noção do que estava fazendo ao se meter no caminho de Lei? “Jackson é o
único homem da família Rutledge que não ocupa um cargo político em
algum canto do país”, prossegui. “Ele gerencia a Rutledge Capital, uma
firma de capital de risco.”
“É casado? Tem filhos?”
Odiava que eu soubesse a resposta sem ter que consultar a internet.
“Não. Está sempre com uma mulher diferente. Em público, prefere loiras de
famílias importantes, mas jamais deixa passar a oportunidade de dar uns
amassos em alguém mais… chamativo.”
Não me esquecia de como a mulher do primo de Jax, Allison Kelsey, uma
vez me descrevera. Você chama a atenção, Gianna. Os caras gostam de
comer mulheres assim. Eles ficam imaginando que estão com uma atriz
pornô. Mas é isso que os espanta depois. Aproveite enquanto pode.
A voz melodiosa e as palavras cruéis de Allison ecoaram em minha
mente, relembrando-me da razão pela qual alisei o cabelo escuro e
naturalmente ondulado e parei de usar unhas postiças que faziam eu me
sentir mais sensual. Não era culpa minha a genética ter me presenteado
com uma bunda exageradamente generosa e seios fartos, mas passei a
buscar um perfil mais discreto e ser menos chamativa.
Lei virou para mim seu olhar aguçado. “Você concluiu tudo isso com
cinco minutos de internet?”
“Não.” Suspirei. “Concluí tudo isso depois de cinco semanas na cama
dele.”
“Ah.” Um brilho de interesse tomou conta de seus olhos escuros. “Então
é ele. Agora está ficando interessante.”


Estava preparada para ouvir Lei me dizer que o conflito de interesses
seria um problema. Fazia um enorme esforço mental para achar um jeito de
diminuir a importância do fato.
“Não foi nada sério”, afirmei, enquanto subíamos no elevador. Pelo
menos, não para ele… “Foi mais um lance de uma noite só que se esticou.
Acho que ele nem me reconheceu.”
E isso doera. Jax nem olhara para mim.
“Você não é uma mulher que um homem esquece, Gianna.” Ela parou,
pensativa. “Acho que podemos dar um jeito na situação, mas se for pessoal
demais para você, precisamos conversar sobre isso agora. Não quero te
deixar desconfortável. Também não quero colocar meu negócio em risco.”
Meu primeiro instinto foi mentir. Queria que Jax significasse tão pouco
para mim quanto eu para ele. Entretanto, respeitava Lei e gostava do meu
emprego demais para ser falsa naquele momento. “Não posso dizer que sou
indiferente a ele.”
Lei fez que sim com a cabeça. “Deu para notar. Ainda bem que está
sendo honesta a respeito. Vamos manter você no negócio por enquanto.
Pode desestabilizar Rutledge, e precisamos disso. E você é minha porta de
entrada com Chad Williams. Ele gosta de negociar com você.”
Soltei um suspiro de alívio. Ela estava errada sobre Jax, mas eu não ia
estragar tudo ressaltando isso. “Obrigada.”
Saímos do elevador e esperamos pelo zumbido das portas de vidro. A
recepcionista, LaConnie, ergueu as sobrancelhas ao me ver, notando nossa
agitação. Deveríamos retornar triunfantes, e não frustradas.
“Alguma ideia de por que Rutledge de repente teria interesse na
indústria de restaurantes?”, Lei perguntou, enquanto seguíamos para sua
sala.
“Se eu tivesse que dar um chute, diria que alguém da família devia um
favor a Pembry.” Era assim que os Rutledge operavam. Trabalhavam juntos
como uma equipe bem entrosada e, apesar de Jax não ser político, sabia
desempenhar seu papel.
Lei foi direto para a mesa e se sentou. “Precisamos descobrir em que
moeda ele está recebendo.”
Notei o tom sutil de irritação em sua voz e o compreendi. Havia anos que
Ian Pembry a vinha sabotando de incontáveis maneiras, mas Lei esperara
sua hora — um exercício de paciência que a tinha tornado uma executiva
melhor. Minha chefe estava determinada a provar que havia aprendido
bem sua última lição sobre traição, e eu estava determinada a ajudá-la
nisso.
“Certo.” Eu entendia um pouco o que Lei estava passando. Ainda tinha
raiva de mim mesma por ter ido para a cama com Jax. Sabia quem era,
conhecia sua reputação, mas ainda assim pensei que era sofisticada o
suficiente para ele.
Pior, iludi-me a ponto de achar que Jax se importava. Ele morava em
Washington; eu, em Las Vegas. Durante cinco semanas, Jax pegava um avião
para me ver todo fim de semana e um ou outro dia da semana. Eu me dizia
que um cara tão bonito e sensual como ele não teria todo esse trabalho e
despesa só para comer alguém.
O que não tinha levado em conta era como Jax era rico. O suficiente para
achar divertido atravessar o país de avião só para pegar alguém e cauteloso
o bastante para manter sua amante proibida bem longe dos olhos do
público e da família.
O telefone da minha mesa começou a tocar e corri da sala de Lei para
atendê-lo. Eu trabalhava perto da porta do escritório dela, o que fazia de
mim a última barreira que qualquer visitante enfrentaria antes de uma
reunião com Lei.
“Gianna.” A voz de LaConnie chegou cortada e breve. “Jackson Rutledge
está na portaria, querendo falar com Lei.”
Odiava o jeito como meu coração pulava ao escutar aquele nome. “Ele
está aqui?”
“Foi o que eu acabei de dizer”, caçoou ela.
“Mande subir. Eu o acompanho até a sala de reuniões.” Coloquei o fone
no gancho e voltei à sala de Lei. “Rutledge está subindo.”
Suas sobrancelhas se ergueram. “Está com Ian?”
“LaConnie não falou.”
“Interessante.” Ela olhou para o relógio de pulso incrustado de
diamantes. “São quase cinco da tarde. Você pode ficar para a reunião com
Rutledge ou pode ir pra casa, você é quem sabe.”
Sabia que devia ficar. Já tinha a sensação de que tinha dado mancada no
Four Seasons. A aparição inesperada de Jax me chocara demais para lidar
com a situação com os gêmeos Williams. Infelizmente, eu não estava em
melhores condições agora.
“Em vez de ficar por aqui, talvez eu devesse aproveitar para falar com
Chad”, sugeri. “Tentar sacar o que ele acha disso tudo. Sei que queríamos
levar os dois de uma vez, mas mesmo que consigamos só um gêmeo, já vai
ser um golpe e tanto em Pembry.”
“Boa ideia.” Ela sorriu. “Vai fazer bem ao Rutledge me conhecer um
pouco melhor, não acha? É melhor deixar bem claro que não sou uma
cretina, caso Ian o tenha convencido do contrário.”
Quase sorri ao imaginar Jax e Lei batendo de frente. Ele estava
acostumado com mulheres caindo aos seus pés, tanto por sua aparência
devastadora quanto pelo sobrenome, que era a coisa mais próxima de
realeza que os Estados Unidos tinham para oferecer.
“Vou fazer uma pesquisa depois de conversar com Chad e ver se
descubro a conexão entre Pembry e a família Rutledge” eu disse, retirando-
me da sala de costas.
“Ótimo.” Ela juntou as mãos com os dedos esticados e descansou o
queixo sobre eles, avaliando-me. “Desculpe a intromissão, Gianna, mas você
se apaixonou por Jackson?”
“Achei que estávamos apaixonados.”
Lei suspirou. “Queria que essa fosse uma lição que as mulheres não
tivessem que aprender da pior maneira.”
3

Antes de rumar para a recepção, peguei a bolsa na minha mesa e a


segurei como se fosse um talismã que me permitiria me afastar de Jax antes
que ele percebesse quem eu era. O caminho até a saída pareceu demorar
uma eternidade.
Era duro engolir o fato de que ele ainda me afetava tanto. Jax só estivera
em minha vida por um curto período. Eu saíra com outros dois caras e
achava que já o tinha superado.
Quando fiz a curva para passar pela recepção, vi que ele estava
estudando um mostruário dos nossos livros de culinária mais vendidos e
perdi o fôlego por um instante. Sua forma alta e vigorosa era realçada à
perfeição por um terno muito bem cortado, uma marca de respeito por Lei
que eu tinha que reconhecer. Nunca o vira arrumado com tanta
formalidade. Por incrível que pareça, tínhamos nos conhecido num bar. Eu
havia saído com uns colegas, e ele estava numa despedida de solteiro.
Eu deveria saber que não podia acabar bem.
Mas ele era incrível. O cabelo escuro, cortado rente embaixo e
ligeiramente mais comprido em cima. Os olhos castanhos quase pretos,
implacáveis em sua intensidade, e cílios espessos. Como eu podia ter
pensado que eram meigos e carinhosos? Aquela boca lasciva e sensual me
cegara, assim como a covinha. Não havia nada de leve a respeito de Jackson
Rutledge. Ele era um homem duro e cínico, fruto de uma estirpe impiedosa.
Jax virou-se para mim, olhando-me de cima a baixo, devagar e
intensamente, e meus dedos se fecharam de nervoso.
Todos sabiam que Jax era um connaisseur de mulheres. Eu disse a mim
mesma que qualquer uma receberia aquela olhada, mas, no fundo, sabia
que não era verdade. Meu corpo se lembrava dele. Lembrava-se do seu
toque, do seu cheiro, da sensação de sua pele…
A julgar pelo modo como me fitava, as mesmas memórias faziam o
sangue dele esquentar.
“Olá, sr. Rutledge”, cumprimentei formalmente, pois até então Jax não
dera sinal algum de que soubesse quem eu era. Enunciei cada palavra com
cuidado, numa voz contida que não era bem a minha. Em geral, já não tinha
mais que me esforçar para esconder o sotaque do Brooklyn, mas ele fazia
com que eu me esquecesse de mim mesma.
Jax fazia com que eu quisesse me esquecer de tudo.
“A sra. Yeung já está vindo”, prossegui, parando a poucos passos dele de
propósito. “Vou acompanhar você até a sala de reuniões. Aceita água? Café?
Chá?”
Seu peito expandiu-se com uma inspiração profunda. “Não, obrigado.”
“Por aqui.” Passei por ele, conseguindo ainda lançar um sorriso forçado
para LaConnie ao passar por ela. Eu sentia o cheiro dele, aquele traço sutil
de bergamota e especiarias. Sentia seus olhos em minhas costas, na minha
bunda, nas minhas pernas. Fiquei extremamente consciente de meu
caminhar, o que por sua vez me fez sentir desengonçada.
Jax não proferiu uma palavra sequer. Eu tinha medo de falar, a garganta
seca demais para que eu soasse natural. Sentia um impulso terrível —
quase desesperador — de tocá-lo como um dia fizera. Era difícil acreditar
que já tivera aquele homem em minha cama. Que já o tivera dentro de mim.
Como era possível que tivesse reunido coragem para encará-lo?
Senti um alívio ao tocar a maçaneta abençoadamente fria da porta da
sala de reuniões e abri-la.
O hálito de Jax soprou de leve em minha orelha. “Até quando vai fingir
que não me conhece, Gia?”
Ao ouvi-lo sussurrar o apelido que apenas ele usava, fechei os olhos.
Empurrei a porta e dei um passo para dentro, ainda segurando a
maçaneta para não deixar dúvidas de que não ficaria ali.
Jax chegou bem perto de mim, e ficamos cara a cara. Era um pouco mais
que um palmo mais alto que eu — mesmo eu estando de salto. Suas mãos
estavam nos bolsos, sua cabeça estava inclinada na minha direção.
Invadindo meu espaço pessoal. Era íntimo demais. Familiar demais.
“Por favor, volte para o seu lugar”, falei baixinho.
Ele se moveu, mas não se afastou. Sua mão direita deixou o bolso e
desceu ao longo do meu braço, do cotovelo até o pulso. Senti seu toque
através da seda da blusa, agradecendo às mangas compridas por
esconderem meus pelos arrepiados.
“Você mudou tanto”, murmurou ele.
“Tanto que nem me reconheceu hoje mais cedo.”
“Meu Deus. Você acha que eu não sabia que era você?” Jax virou as
costas, mas isso não diminuiu seu impacto. A vista de trás era tão
esplêndida quanto a da frente. “Você não é capaz de se esconder de mim,
Gia. Reconheceria você até vendado.”
Fiquei paralisada com o choque e a confusão por um instante. Havíamos
passado de distantes e impessoais a perigosamente íntimos num piscar de
olhos. “O que está fazendo aqui, Jax?”
Ele caminhou até as janelas e fitou a cidade lá fora. Não longe dali, o
Central Park era uma mancha verde já pincelada com os vermelhos e
laranjas do outono, uma explosão vibrante de cores numa selva de pedra.
“Vou oferecer a Lei Yeung o que for necessário para ela ir brincar no
quintal de outra pessoa.”
“Não vai funcionar. É pessoal.”
“Negócios nunca deveriam ser pessoais.”
Dei um passo para trás, em direção à porta, ansiosa para escapar. A sala
de reuniões era espaçosa e arejada, com janelas do piso até o teto de um
lado e uma divisória de vidro do outro. As paredes eram de um azul leve, e
havia um bar bem equipado à direita e um grande monitor à esquerda.
Ainda assim, Jax dominava o ambiente, dando-me a sensação de ser um
bicho enjaulado.
“Nada é pessoal, certo?”, retruquei, lembrando-me de como um dia ele
simplesmente sumiu. E nunca mais apareceu.
“Já foram entre nós”, ele disse, com sua voz grave e um pouco rouca.
“Um dia.”
“Não, não foram.” Não para você…
Ele se virou de repente, e eu dei mais um passo cauteloso para trás,
mesmo tendo quase a sala inteira entre nós. “Então, nada de
ressentimentos. Ótimo. Não há motivos para não recomeçarmos de onde
paramos. Minha reunião com Yeung não vai demorar nada. Quando
terminar, podemos ir para meu hotel e botar o papo em dia.”
“Vá se foder”, devolvi.
Sua boca se curvou num sorriso, revelando aquela covinha deliciosa.
Aquilo o transformava, maquiava o perigo que representava com um toque
de charme juvenil. Eu detestava e amava aquilo.
“Agora, sim”, comentou Jax, com uma nota inconfundível de triunfo na
voz. “Estava quase achando que a Gia que eu tinha conhecido não existia
mais.”
“Não brinque comigo, Jax. Você está acima disso.”
“Quero estar em cima de você.”
Sabia que ele ia dizer aquilo, caso eu desse a deixa, mas precisava ouvir.
Tinha que escutá-lo pronunciar aquelas palavras. Jax era muito direto
quando se tratava de sexo, sensual e natural como um animal. Eu adorava
aquilo, porque tratava o sexo da mesma maneira.
Eu era insaciável. Nada mais na vida me fazia sentir daquele jeito.
“Estou saindo com alguém”, menti.
Jax pareceu não titubear, mas, de algum jeito, fiquei com a impressão de
que havia tocado em uma ferida. “Aquele tal do Williams?”, ele perguntou,
tranquilo demais.
“Olá, sr. Rutledge”, anunciou-se Lei, irrompendo na sala com seus
sapatos Jimmy Choo matadores. “Presumo que tem boas notícias.”
“Talvez tenha.” Ele voltou sua atenção para ela tão completamente que
me senti dispensada.
“Vou deixar vocês trabalharem”, disse, retirando-me. O olhar de Lei
cruzou com o meu, e captei a mensagem silenciosa. Teríamos que
conversar em breve.
Não tornei a olhar para Jax, mas ainda assim recebi o mesmo recado
dele.


Liguei para Chad Williams assim que passei pela catraca da portaria.
“Oi”, eu disse assim que escutei seu sotaque sulista arrastado. “Sou eu.”
“Estava torcendo para que você ligasse.”
“Tem planos para o jantar?”
“Hã… Posso não ter.”
Sorri, um pouquinho culpada de ter tomado o lugar de quem quer que ia
levar um bolo, mas era gostoso massagear um pouco o ego. Reencontrar Jax
acabara com minha autoconfiança.
Não podia esquecer como ele era. Atrevido, provocante, afetuoso. Se
fechasse os olhos, ainda era capaz de senti-lo chegando por trás, tirando
meu cabelo do caminho e beijando meu pescoço com aquela boca gostosa.
Ainda podia ouvi-lo gemendo meu nome quando estava dentro de mim,
como se o prazer fosse demais para suportar.
“Alô? Gianna?”
“Oi, desculpa.” Comecei a arrancar os grampos que prendiam meu
cabelo alisado num coque. “Conheço um restaurante italiano que é uma
delícia. Aconchegante e informal. A comida é excelente.”
“Fechado.”
“Vou chamar um táxi. Te pego em uns quinze minutos. Combinado?”
“Espero você.”


Como prometido, Chad estava na calçada quando o carro encostou.
Usava calça jeans preta, botas e uma camisa Henley verde-escura do tom
dos seus olhos. Em se tratando de companhia para o jantar, era da melhor
qualidade.
Chad deu um passo em direção ao táxi, mas quase foi atropelado por um
motoboy e pulou para trás, xingando.
“Meu Deus”, resmungou, ao se ajeitar ao meu lado no assento. Em
seguida, olhou para mim, enquanto o carro saía e se misturava ao trânsito
da hora do rush. “Gostei do seu cabelo solto. Fica bem.”
“Obrigada.” Tinha levado tempo para me acostumar com o cabelo preso.
Era tão grosso e cheio que o peso chegava a me dar dor de cabeça… como a
que eu estava tendo bem naquele momento. “Tenho que confessar uma
coisa…”, comecei.
“Espero que seja um belo pecado.”
“Humm, não. É que vamos nos meus pais.”
Ele pareceu surpreso. “Você vai me apresentar aos seus pais?”
“É isso aí. Eles têm um restaurante. Assim não precisamos ficar
esperando por uma mesa — coisa que é bem difícil numa quinta à noite —,
e poderemos ficar o tempo que quisermos.”
“Você tem planos de ficar comigo muito tempo, é?”, brincou ele.
“Bem que eu gostaria. Acho que a gente ia funcionar muito bem juntos.”
Chad fez que sim, retomando a seriedade. “Stacy sabe que o que vocês
estão oferecendo é exatamente o que queremos, mas… ela está tendo um
caso com Ian, e isso complica tudo.”
“Imaginei.” Ian Pembry era um cinquentão elegante e distinto, de
cabelos grisalhos e olhos azuis penetrantes. Não era propriamente bonito,
mas tinha um carisma e uma conta bancária que atraíam muitas mulheres.
Stacy tinha um desafio nas mãos: desde Lei, ele não mantinha um
relacionamento longo. “Qual é a proposta dele para vocês ficarem?”
E onde entra Jax nessa história? Será que ao me ver ele tinha ficado ao
menos um pouco abalado?
“Ian diz que pode montar um negócio parecido com o de vocês ou até
melhor, porque Lei não tem o cacife necessário. E é por isso que ela está
tentando roubar os chefs dele.”
“Você sabe que isso é balela.”
“É, eu sei.” Ele sorriu. “Você não trabalharia para Lei se ela não fosse a
melhor.”
“E a rede de hotéis Mondego é cinco estrelas em todos os quesitos”,
aproveitei para relembrar. “Eles não topariam trabalhar com alguém que
não fosse top. É uma oportunidade única, Chad. Não deixe Stacy tirar isso
de você.”
“Droga.” Ele apoiou a cabeça contra o encosto do carro. “Acho que não
funcionamos separados. É por isso que essa ideia de vocês não vai dar
certo.”
“Vai dar certo. Mas você é capaz disso sozinho também.”
Chad tornou a me olhar, buscando alguma dica. “Abra o jogo, Gianna.
Você vai dizer qualquer coisa para fechar esse negócio, não vai?”
Lembrei-me do que Jax dissera sobre nunca deixar os negócios se
tornarem pessoais. Para mim, era sempre pessoal. Eu me importava.
“Tenho minhas razões”, admiti, e agora Jax era uma delas. Tinha me
sacrificado demais para ele chegar como quem não queria nada, valendo-se
de sua fortuna, e arruinar tudo. “Mas, não, não tenho porque enganar você.
Lei e eu não ganharíamos nada se você não tivesse sucesso. Não vou sumir
assim que sua assinatura secar, prometo.”
“E agora sempre vou poder achar você, através dos seus pais”, ele
brincou, relaxando um pouco.
“Há mais de trinta anos no mesmo estabelecimento.”
“Imagino que seja uma garantia tão boa quanto qualquer outra.”
Tendo deduzido quem Chad era pelas descrições que eu havia feito dele,
minha família não poupou esforços para recebê-lo quando chegamos ao
Rossi’s. Ocupamos uma mesa de canto e todos vieram se apresentar, dando
a Chad uma dose cavalar da hospitalidade Rossi.
Coloquei-o na cadeira de frente para o salão e sentei do outro lado da
mesa. Queria que ele sentisse a energia, que visse a cara dos clientes
saboreando uma ótima refeição. Queria que recordasse por que desejava o
que a Savor estava oferecendo.
Após um brinde, ele declarou: “Você tinha razão. Este lugar é ótimo”.
“Jamais mentiria para você.”
Chad soltou uma risada. Era um pouco desmedida, porém bastante livre,
e gostei dela. Um tanto como ele próprio. Chad me atraía num nível
confortável. Nada como a explosão de corpo e mente que sentira no
segundo em que botara os olhos em Jax. Ninguém havia gerado aquela
reação senão ele.
“Boa jogada me trazer aqui”, disse Chad, correndo a ponta do dedo ao
redor da borda da taça de vinho. Suspeitava que fosse pedir uma cerveja,
mas não. “Para demonstrar que tem o negócio no sangue. Não é só um
emprego.”
“Minha família acaba de abrir a primeira filial do Rossi’s em Upper
Saddle River.”
“Onde fica isso?”
“Nova Jersey. Um lugar fino. Meu irmão Nico está encabeçando o
negócio. Acabamos de completar três meses de funcionamento.”
“Então por que você não coloca sua família na jogada da Mondego?”
“Eles não querem. Gostam disto aqui…”, gesticulei para o restaurante
com um movimento largo de mão. “Comunidade. Abrir franquias nunca foi
o sonho deles.”
Ele me estudou. “Você faz soar como se seus sonhos fossem diferentes
dos deles.”
Recostei-me na cadeira. “E acho que são mesmo. Quero ajudar minha
família a alcançar o que deseja, mas quero algo diferente.”
“Tipo o quê?”
“Não descobri ainda.” Apesar de um dia ter achado que tinha descoberto.
Um dia… “Acho que só vou saber quando estiver bem na minha cara.”
“Talvez eu possa ajudar você a matar o tempo enquanto espera”, sugeriu
ele, ousado.
Sorri. “É uma ideia.”
Talvez Chad fosse o que eu precisava. Já fazia muito tempo que eu não
namorava. Vinha trabalhando demais e socializando de menos. Não me
enganaria a ponto de achar que um pouco de sexo me daria uma imunidade
mágica contra Jax, mas certamente não faria mal. Sem dúvida amenizaria o
problema, e Jax não ficaria em Nova York por muito tempo. Sua vida e seu
trabalho se dividiam entre Washington e o norte da Virgínia, e logo, logo
outro Rutledge o chamaria para algum serviço. Ele era o faz-tudo da família.
Aproximei-me de Chad, deixando a possibilidade aberta.
A boca dele se curvou num sorriso muito masculino, aquele levemente
triunfante de quem sabe que está prestes a se dar bem. Chad esticou a mão
até a minha, seu olhar passando por cima do meu ombro de um jeito
relaxado. Então ele ficou tenso e franziu a testa. “Merda.”
Sabia para quem estava olhando antes mesmo de me virar.
4

Senti na pele uma eletricidade que conhecia bem demais. Resolvi não
me virar nem dar a Jax a satisfação de ver meu rosto, que provavelmente
retratava minha surpresa, frustração e irritação.
Ele tinha mesmo muita cara de pau para ir até o Rossi’s depois de ter
partido meu coração. Minha família se lembrava dele — lembrava a última
noite que passamos juntos. Tínhamos ido a Nova York para passar o fim de
semana, só para que eu pudesse apresentá-lo à família sobre a qual tanto
falava. Ficáramos até tarde no restaurante, muito tempo depois de fechar,
comendo, bebendo e dando risada com meus irmãos e meus pais. Assim
como eu, eles se apaixonaram por Jax. Naquela noite, acreditei que
realmente daríamos certo juntos.
Foi a última vez que o vi até entrar no bar do Four Seasons.
Chad me olhou. “Você convidou Stacy também?”
“Não.” Confusa, finalmente olhei por cima do ombro. Ver Jackson
ajudando Stacy a tirar a jaqueta jeans fez meus dentes rangerem. Chad não
tinha noção de onde eu ia levá-lo para jantar, mas Jax tinha.
E, sem mais, ele traçou uma reta até nós, trazendo Stacy junto. Minha
mãe se pôs no caminho, o sorriso largo como sempre, mas com as penas
ouriçadas, em modo mãe coruja.
Olhei para Chad. “A gente pode fugir pelos fundos.”
Ele riu, mas seus olhos estavam sérios.
Angelo veio até nós. “Vocês o estavam esperando?”, perguntou,
apontando Jax com a cabeça.
“Não…” Fitei Chad. “Eles não vão sentar com a gente.”
“Ótimo.” Chad recostou-se contra o banco, o olhar fumegante. “Stacy
escolhe a dedo… Ela pode ficar com o negócio do Ian se quiser. Eu fico com
você e a Mondego.”
“Tá certo.” Angelo olhou para mim. “Vou garantir que eles fiquem em
outra parte do salão.”
Tomei um gole rápido de vinho enquanto meu irmão se afastava.
Chad me estudou por alguns instantes. “Ele toma conta de você.”
“É o jeito Rossi de fazer as coisas.”
“Stacy e eu éramos assim. Antes do Ian aparecer.”
“Sério?” Tentei ignorar a sensação do olhar de Jax em cima de mim.
Podia senti-lo me observando. “O que aconteceu?”
Chad encolheu os ombros. “Vai saber. Acho que o poder subiu à cabeça
dela. Nem sei se ainda pensa na comida. Está ocupada pensando em ficar
rica e famosa.”
Minha mãe apareceu com mais vinho, pousando a mão sobre meu
ombro enquanto enchia mais uma vez nossas taças. Senti o toque suave de
suas unhas feitas e escutei a indagação silenciosa: Tudo bem com você?
Pus minha mão sobre a dela e apertei, em resposta. Não, não estava
bem, mas o que eu podia dizer? Não daria a Jax a satisfação de recusar o
atendimento, nem minha família. Ele comeria uma excelente refeição, com
nosso melhor garçom e um vinho de sua escolha por conta da casa.
Minha família pecaria pelo excesso. Ia afogá-lo com gentileza.
Demonstraria que não éramos mesquinhos nem baixos. Mas aquilo custaria
caro. A todos nós. Meu cantinho fora invadido, a energia dele permeando o
espaço e meus sentidos. Cada nervo do meu corpo titilava com sua
presença.
Lori, umas das garçonetes, veio anotar os pedidos. Chad e eu decidimos
dividir uma massa. O tempo todo, durante a entrada e a salada, fiquei
esperando que Jax viesse até nós. Estava terrivelmente ligada em sua
presença, incapaz de dar a Chad a atenção que vinha oferecendo até então.
Ele também desanimou, mantendo o olhar fixo no prato ou em meu rosto.
Nós dois evitávamos olhar para os outros fregueses.
Na minha cabeça, Jax estava se divertindo só para me afrontar. Por que
teria levado Stacy para jantar, se ela estava com Ian? Será que Stacy saía
com os dois? Afinal de contas, não havia demonstrado hesitação ao
cumprimentá-lo com um beijo no rosto quanto Jax tinha aparecido, mais
cedo.
Antes de servirem o prato principal, Chad foi ao banheiro, e eu dei uma
olhada em meu celular. Tinha uma chamada perdida de Lei. Quando Chad
voltou com uma cerveja na mão, sorri e disse: “Já volto”.
Segui na direção dos banheiros, mas desviei e entrei no escritório dos
fundos, fechando a porta para isolar o barulho. Liguei para Lei e levei o
aparelho ao ouvido.
“Gianna”, atendeu ela. “Tenho que parabenizar você por seu bom gosto.”
“Escolho bem, não acha?” Andei até a parede oposta, onde havia um
retrato de família pendurado. Eu devia ter uns doze anos, usava aparelho
nos dentes e estava com o cabelo desgrenhado. Nico, Vincent e Angelo
aparentavam diversos níveis de esquisitice adolescente. Meu pai estava
imortalizado em seu auge, assim como minha mãe, que pouco havia
envelhecido desde então. “Como foi, então?”
“Como esperado. Você adivinhou direitinho. Jackson disse que se
envolveu no assunto como um favor a alguém.”
“Desculpa, ainda não tive tempo de ir atrás dos detalhes… Estou com
Chad desde que saí… Mas aposto que é algum Rutledge. Quando Jackson
não está apostando alguns milhões, está arrumando a bagunça dos outros
membros da família.” E pegando mulheres bonitas… “Quanto ao Chad, ele
está na nossa, mas acho que devemos redigir um contrato novo o mais cedo
possível, antes que algo aconteça e ele mude de ideia. Jax não vai dar o
braço a torcer tão fácil. Chegou do nada aqui no Rossi’s, e ainda trouxe a
Stacy.”
Lei riu. “Desculpe, mas gostei dele.”
Retorci os lábios com pesar. “Acontece.”
“Ian ligou.”
“Ah é? Conte mais.”
“Pediu para me encontrar hoje à noite.”
“Ah, talvez seja por isso que Jax está com Stacy. Está de babá.” Para
minha irritação, isso me encheu de alívio.
“Pode ser. De qualquer forma, recusei. Tenho a impressão de que nossos
homens estão tentando fechar o cerco contra nós, o que significa que
estamos no caminho certo. Sinceramente, não me divirto tanto há anos.”
Nossos homens. Bufei e me virei a tempo de ver a porta se abrindo… e Jax
aparecendo. “Tenho que ir, Lei, mas estou aqui se precisar de mim.”
“Amanhã de manhã a gente conversa melhor, de cabeça fresca. Boa
noite, Gianna.”
“Pra você também.” Pus meu telefone de lado.
Medimos um ao outro durante um longo minuto. Ele estava vestido com
o suéter cinza e a calça que usara mais cedo naquele dia, um estilo casual ao
qual estava mais acostumada, e que preferia. Uma mecha do cabelo escuro
caiu sobre a testa, atenuando a severidade de sua beleza. Jax estava
recostado contra a porta, as mãos nos bolsos, as pernas cruzadas na altura
dos tornozelos, porém apenas um idiota deixaria de notar o ar predatório
que o cercava. Seus olhos semicerrados estavam vigilantes e atentos.
“Sinto falta dos seus cachos”, ele disse, afinal.
Escorei-me contra a escrivaninha do meu pai e cruzei os braços. “Isso é
passado.” Está uns dois anos atrasado…
“Você estava quase dando o bote quando cheguei. Está pensando em dar
para o Chad Williams porque está a fim dele ou porque quer que assine o
contrato?”
Outra mulher talvez tivesse ficado de boca fechada, porque a pergunta
não merecia resposta. Permaneci calada porque fiquei magoada. Nunca vira
Jax ser malvado ou cruel de propósito — e ele simplesmente sumira da
minha vida.
“Gia…”
“Não me chame assim.”
“Como você prefere?”
Meu pé batucava inquieto. “Prefiro não ver mais você, nem saber nada a
seu respeito.”
“Por quê?”
“Imagino que seja óbvio.”
Sua boca maravilhosa se contraiu. “Não para mim. A gente se conhece e
se dá bem. Muito bem mesmo.”
“Não vou dormir com você de novo!”, exclamei rispidamente, sentindo
as paredes se fecharem ao nosso redor. Ele tinha sempre o mesmo efeito
sobre mim. Com ele, eu não conseguia prestar atenção em mais nada.
“Por que não?”
“Pare de me perguntar isso!”
Jax se endireitou e o escritório ficou ainda menor. Minha respiração
acelerou e meu olhar disparou para a porta atrás dele.
“É uma pergunta válida.” Jax ajeitou a mecha sem tirar os olhos de mim.
“Diga por que está tão zangada.”
Fui tomada por um surto de pânico. “Você sumiu!”
“Sumi?” Ele deu um passo na minha direção. “Está dizendo que não sabia
onde me encontrar?”
Franzi a testa, confusa. “Como assim?”
“Tinha que acabar, e acabou.” Jax se aproximou. “Discretamente. Sem
cena. Sem memórias desagradáveis. Nós…”
“Sem escândalo.” Respirei fundo, mais ofendida do que nunca. Em
seguida, retruquei, em autodefesa. “Então para que cometer o mesmo
erro?”
“Não podemos ser amigos?”
“Não.”
Jax invadiu meu espaço pessoal. “Não podemos fazer negócios juntos?”
“Não.” Descruzei os braços. “Você tornou isso pessoal logo de cara.”
Ele sorriu, exibindo a maldita covinha. “Você fica muito gostosa quando
está brava comigo. Devia ter irritado você mais vezes.”
“Cai fora, Jax.”
“Eu caí. Parece que não deu certo.”
“Na verdade, deu, sim. Volta lá pro seu mundo e me esquece.”
“Meu mundo.” O sorriso sumiu com o brilho em seus olhos. “Certo.”
Jax tinha interrompido o avanço, então passei por ele depressa, ciente
de que tinha desaparecido havia muito tempo e que Chad estava à minha
espera.
Jax me segurou pelo braço e falou em meu ouvido: “Não vá pra cama
com ele”.
Senti um arrepio. Estávamos ombro a ombro, virados para direções
opostas, o que era uma boa representação do nosso relacionamento. Eu
podia sentir seu cheiro, seu calor, e me lembrei de outras ocasiões em que
ele havia falado junto ao meu ouvido.
Jax era um sedutor. Mesmo quando eu já estava no papo, ele me
esquentava bem antes de me levar para a cama. Lançava-me longos olhares
sensuais, tocava-me com frequência, murmurando safadezas que me
faziam corar.
“E você, Jax, está se guardando?”, rebati.
“Eu me guardo, se você se guardar.”
Deixei escapar uma risada agressiva. “Ah, tá.”
Ele sustentou meu olhar. “Posso provar.”
“Não estou interessada em joguinhos.”
Alguém chacoalhou a maçaneta, fazendo-me pular de susto. “Gianna?
Você está aí?”
Vincent. “Estou”, respondi alto. “Já saio.”
“Não vá pra cama com ele”, repetiu Jax, os olhos sombrios e sérios.
“Estou falando sério, Gia.”
Soltei o braço e me atrapalhei para abrir a tranca, mas logo escancarei a
porta.
Meu irmão estava com a chave do escritório numa das mãos. Ele olhou
por cima do meu ombro para Jax. “Perdeu a vontade de viver, Rutledge?”
Revirando os olhos, empurrei Vincent para trás. “Deixa.”
“Vá caçar em outro lugar, cara”, insistiu Vincent, bloqueando a passagem
assim que passei por ele.
Por um instante, pensei em intervir, mas logo desisti da ideia. Eles eram
grandinhos. Podiam se resolver sozinhos.
Quando cheguei ao salão do restaurante, deparei com uma sacola com a
comida embrulhada para levar na mesa diante de Chad, que se levantou ao
me ver.
“O que você acha de a gente levar isso aqui de volta para o hotel e comer
em paz?”, perguntou ele.
Olhei ao redor, notando facilmente o cabelo vivo de Stacy brilhando sob
a meia-luz dos lustres de ferro fundido. Ela nos fitava com ódio mal
disfarçado.
“Tenho uma ideia melhor”, respondi, pegando minhas coisas. “Conheço
um lugar aonde podemos ir e em que ninguém vai nos encontrar.”


Levei Chad para o salão de beleza da minha cunhada, que ficava no
Brooklyn. Ela fechou o salão, achou uns pratos de papelão e nós nos
deliciamos com o espaguete à bolonhesa — morno, mas ainda delicioso —
na sala de descanso dos profissionais, nos fundos da loja, longe dos odores
de tinta de cabelo e laquê.
“Você tem um sotaque de Nova York”, reparou Chad, após passarmos
um tempo comparando histórias de fregueses ensandecidos. “Nunca tinha
notado.”
Dei de ombros. “Pois é. Como o dos seriados policiais na TV.”
Chad riu.
“É porque ela está em casa”, explicou Denise.
Não acrescentei mais nada. Não tinha nada de mais ele ter percebido. O
sotaque sempre aparecia quando eu estava com minha família ou meus
amigos, quando baixava minhas defesas e me sentia mais como a pessoa
que era antes.
“É bonitinho”, comentou ele. “Eu também tenho sotaque”, ele disse,
exagerando.
“Ela ficou boa nesse negócio de disfarçar o dela”, comentou Denise, cujo
cabelo platinado com pontas rosa estava arrumado em tranças elaboradas.
Tinha piercings no nariz e na sobrancelha, e uma tatuagem no braço
esquerdo. Estava grávida de cinco meses, o que me deixava emocionada.
Estava louca para ser tia.
Meu celular começou a tocar dentro da bolsa, e estiquei o braço por
cima da bancada para procurá-lo. Talvez Lei precisasse de mim. Ela não
estava brincando quando falara dos horários no dia em que me contratou.
Eu recebia ligações às duas da manhã e nos fins de semana, mas adorava,
porque só acontecia quando ela estava realmente empolgada com alguma
coisa.
Não reconheci o número que apareceu na tela e estava prestes a deixar a
chamada cair na caixa postal quando resolvi demonstrar um pouquinho
mais do meu sotaque para Chad.
“Escritório de Gianna Rossi”, atendi com naturalidade. “Como posso
ajudar?”
Silêncio na linha, e então… “Gia.”
Prendi a respiração, balançada pelo jeito como Jax dizia meu nome. O
mesmo de quando éramos amantes e ele me ligava só para escutar minha
voz.
“Fale alguma coisa”, disse ele, abruptamente.
Fortalecida pela visão da minha cara de espanto no espelho impiedoso,
respondi com frieza. “Como conseguiu este número?”
“Não venha com essa”, retrucou ele. “Fale como você costumava falar. A
verdadeira Gia.”
“Foi você quem me ligou.”
Ele resmungou algo. “Almoce comigo amanhã.”
“Não.” Levantei da cadeira e caminhei até a frente do salão.
“Sim. Nós precisamos conversar.”
“Não tenho nada para dizer.”
“Então vai me escutar.”
Arrastei a ponta do sapato sobre uma rachadura num dos azulejos do
piso. Denise estava apenas começando a recuperar o investimento inicial
no salão, e havia ainda várias melhorias a ser feitas no lugar. A região
estava recuperando sua fama descolada, e ela tinha sido esperta ao
pendurar cartazes vintage nas paredes e fazer uma decoração retrô que
distraía o olhar dos pequenos defeitos.
Meu Deus, em que estado eu estava por causa de Jax. Meu cérebro
estava disperso, alternando-se entre pensamentos aleatórios.
Procurei me concentrar no homem que estava causando tudo aquilo. “Se
eu almoçar com você, jura que vai me deixar em paz depois?”
“Não posso prometer isso.”
“Então não vou”, retruquei. “Você não tem direito de invadir minha vida
desse jeito. Não é da sua conta. Você não tinha nada que se intrometer…”
“Mas que droga! Eu não sabia que você estava apaixonada por mim,
Gia!”
Fechei os olhos diante da dor de ouvir aquelas palavras saindo de seus
lábios. “Então você não me conhecia mesmo.”
Desliguei.
5

“Descobri a relação entre Pembry e a família Rutledge”, contei a Lei


assim que ela chegou ao trabalho, seguindo-a até sua sala. “Em um artigo na
revista FSR.”
Ela me olhou de lado. “A que horas você chegou aqui?”
“Faz meia hora, mais ou menos.” Na verdade, eu tinha ficado acordada
até tarde fazendo minhas pesquisas, sem conseguir dormir. Precisava saber
por que Jax estava se metendo na minha vida e como fazer com que ele
caísse fora mais uma vez.
Não queria um pedido de desculpas ou uma explicação. Não queria que
fôssemos amigos. Não queria um motivo para ter esperança, porque era
dolorosamente evidente para mim que eu ainda o amava. E ele devia estar
tomando conhecimento desse fato.
Tinha aprendido da primeira vez, e ele confirmara: nosso
relacionamento tinha que terminar. Sem recaídas.
Empurrei o artigo da Full-Service Restaurant sobre a mesa dela. “Uma
minúscula menção à contribuição de Pembry em apoio às campanhas
Rutledge, no meio de um artigo maior sobre restaurateurs na política.”
“Humm.” Seu olhar astuto se ergueu de encontro ao meu. “Vivi com Ian
por cinco anos. Ele nunca votou na vida. Além do mais, é sovina demais
para gastar a grana necessária para receber atenção personalizada dos
Rutledge.” Lei recostou-se em sua cadeira e girou-a de um lado a outro.
“Dito isto, não consigo imaginar por que um investidor de risco preferiria o
negócio do Ian ao meu, a menos que tenha alguma motivação pessoal. Não
faz sentido, do ponto de vista financeiro.”
Erguendo as mãos, admiti: “Também não consigo entender”.
“Será que Jackson contaria o que despertou seu interesse em Ian, se
você perguntasse?”
“Pode ser que sim.” Sentei-me diante de sua mesa. “Mas ele não é o fator
decisivo aqui. Stacy prefere Ian, Chad prefere a gente. Temos isso a nosso
favor.”
“Você não está curiosa?”
“Não o suficiente para correr atrás dele. Jax está começando a perceber
que levei nosso caso mais a sério do que deveria, e isso deixa as coisas…
meio esquisitas.”
O olhar de Lei irradiava simpatia. “Acho que a melhor solução é fechar
logo o negócio. Vou conversar com a equipe da Mondego hoje sobre seguir
em frente só com Chad. Eles não estão muito animados com a ideia, o que
não é nenhuma surpresa, mas acho que encontrei uma alternativa
atraente.”
Debrucei-me sobre a mesa para ouvir, e Lei sorriu diante de meu
evidente interesse.
“Aqui.” Ela girou o monitor para me mostrar duas mulheres
extremamente diferentes. Uma morena exótica e uma loira de rosto jovem.
“Faz meses que estou acompanhando as duas. Isabelle, a morena, é
especialista em culinária regional italiana; Inez, a loira, é especialista em
culinária regional francesa.”
Um leve sorriso surgiu em seu rosto. “Duelo de cozinhas internacionais.”
“Dá mais trabalho para fazer o cardápio, mas…”
“Ótimo.”
Lei esfregou as mãos. “Se tivermos sorte, ainda vamos estourar aquela
garrafa de champanhe.”
Ouvi pela porta aberta o telefone tocar na minha mesa e levantei.
Lei empurrou seu telefone na minha direção. “Atenda daqui.”
Puxei a chamada e atendi.
“Srta. Rossi, aqui é Ian Pembry. Bom dia.”
Ergui as sobrancelhas, espantada, e articulei Ian com os lábios para Lei.
Sua boca se curvou, em desagrado.
“Bom dia, sr. Pembry. Estava justamente falando do senhor.”
“Estava esperando sua ligação, mas perdi a paciência.” A afetuosidade
bem-humorada em seu tom me atingiu da maneira que suspeitava que
atingia a maioria das mulheres. Não havia dúvida alguma: sua voz tinha um
tom íntimo e agradável.
“Aceita almoçar um dia desses?”, perguntei, assegurando-me com uma
olhada, de que Lei não se incomodava. Ela assentiu.
“Fico lisonjeado que me prefira a Jackson”, disse ele, provocando-me.
“Mas na verdade estava pensando num jantar. Tenho um compromisso hoje
à noite e preciso de companhia.”
Acionei o viva-voz. “E Stacy?”
“Ela é maravilhosa, claro, mas prefiro levar você. Você também vai
querer ir, Lei”, disse Ian, dirigindo-se diretamente à minha chefe, “para
tomar conta da sua menina, e, por mim, tudo bem. Quanto mais, melhor. É
um evento formal. Estejam no heliporto Midtown às seis.”
Lei sorriu largamente, apreciando o teor da conversa, porém não
respondeu.
“Você está partindo do princípio de que não tenho planos numa sexta-
feira à noite”, argumentei.
“Não se ofenda, srta. Rossi.” Ele parecia estar se divertindo. “É um elogio
à sua dedicação profissional. Lei não a teria contratado se não pusesse o
trabalho em primeiro lugar. Vejo vocês mais tarde.”
Ian desligou e pus o fone de volta no gancho. “Bem… o que você acha?”
“Acho que temos que ir às compras.”
Quando voltei à minha mesa, encontrei um pacote à minha espera.
Rasguei o embrulho de papel pardo e deparei com uma caixa de
chocolates. A onda de desejo que me varou ao rever aquela marca
específica — Neuhaus — e as memórias que evocava aceleraram minha
respiração. Minha pele se aqueceu.
Experimentara as trufas belgas apenas uma vez na vida, quando as havia
chupado da ponta dos dedos de Jax. Ele as tinha derretido com o calor de
seu toque… e então escrito em meu corpo, limpando depois com lambidas
perversas.
Gia. Sexy. Doce. E minha preferida: Minha.
Senti as coxas se contraírem e cruzei os tornozelos, meu âmago se
apertando com um desejo sedento. Meu corpo não ligava que ele tivesse me
largado sem dizer uma palavra. Queria Jax. Desesperadamente.
O bilhete colado ao pacote era simples e não continha assinatura.

Reconheceria você até vendado.


Não saberia dizer aonde foi que Lei nos levou para comprar vestidos
longos. Era uma loja pequena, sem letreiro na fachada e com uma placa de
fechado na porta. Atendiam apenas com hora marcada. Assim que o sedan
de Lei parou na frente, fomos acompanhadas até um elegante showroom,
onde nos serviram champanhe com morangos. Não havia etiqueta de preço
em lugar nenhum.
A hora seguinte transcorreu num revoar de sedas e tafetás. Fiquei
encantada.
Havia momentos em meu trabalho com Lei em que eu era exposta a um
mundo muito além de qualquer coisa que já imaginara. Sempre batalhava
para ocultar minha expressão de deslumbre, os olhos arregalados, e
tentava imitar Lei, que parecia à vontade e natural. Precisava ficar me
recordando de que suas origens não eram tão distintas das minhas. Ela
tinha adquirido o refinamento necessário ao longo dos anos, e eu podia
fazer o mesmo.
Estava namorando um longo preto com mangas de renda quando Lei
pousou a mão em meu ombro.
“Muito de velha para você”, disse.
Olhei-a de relance. “Achei discreto e elegante.”
“E é, para uma mulher da minha idade. Você tem vinte e cinco anos.
Aproveite.”
“Preciso ser cuidadosa”, expliquei. Minha chefe era magérrima, graciosa
e esbelta. Já eu, era curvilínea. “Meus peitos são grandes demais. Que nem
minha bunda.”
“Você tem um corpão”, afirmou ela, sem rodeios. “Disfarça no trabalho, o
que eu entendo e respeito, mas não desperdice isso. É um mito que uma
mulher de sucesso não pode ser sexy sem arruinar sua credibilidade. Não
engula isso.”
Mordi o lábio inferior. Olhando ao redor, senti-me intimidada pelo ar de
opulência que o lugar projetava. Aquilo estava muito acima do meu nível.
As paredes, por exemplo, eram cobertas por uma seda marfim esvoaçante,
em vez de papel de parede. Os canapés vinham numa travessa de prata
maciça. “Você me ajuda? Tenho medo de escolher errado.”
“É para isso que estou aqui, Gianna.” Lei gesticulou para uma das três
atendentes que nos ajudavam. “Vamos ver o que vocês têm para uma jovem
linda e voluptuosa.”


Os assovios com que me receberam quando saí do quarto algumas horas
depois me deixaram ao mesmo tempo empolgada e nervosa. Denise tinha
voltado mais cedo do trabalho para fazer meu cabelo e trouxera Pam, uma
de suas maquiadoras. Angelo estava largado no sofá, matando o tempo até
seu turno no Rossi’s vendo TV.
“Uau”, disse meu irmão, endireitando-se no sofá. “Quem é você e o que
fez com minha irmã?”
“Cala a boca”, Denise e eu respondemos em uníssono.
“Ela está parecendo uma estrela de cinema”, disse Pam, voltando da
cozinha, onde tinha ido limpar seus pincéis. “Uma diva. Como Raquel Welch
ou Sophia Loren.”
“Quem?” Denise franziu a testa.
Mas eu sabia de quem ela falava. Sempre tinha pensado em minha mãe
da mesma maneira.
No final das contas, o vestido que escolhemos também era preto, mas
muito mais sexy. Um broche de brilhantes prendia uma das alças. Com
cetim franzido no busto, o vestido era cingido na cintura por um fino cinto
de diamantes e fendido na perna direita até o meio da coxa. Vincent já
estava no Rossi, mas teria tido um ataque se tivesse visto o quanto da
minha perna estava à mostra. Nico, que agora morava em Jersey, teria
adorado.
Com duas cervejas nas mãos, Denise se deixou cair no sofá, passou uma
para o marido e pôs a outra na mesinha de centro para Pam. Desde que
soubera do neném, não estava bebendo.
Argolas douradas brilhavam de dentro da massa de cabelos frisados.
“Chad também vai?”, ela perguntou.
“Não faço ideia.”
“E Jax?”, acrescentou Angelo, apreensivo.
Dei de ombros, mas meu coração disparou. Procurara não pensar em Jax
enquanto me preparava, mas não podia deixar de torcer para que ele me
visse toda arrumada. Eu estava maravilhosa.
“Você sabe que não deve, não sabe?”, disse meu irmão.
“Sim”, concordei. “Eu sei.”
Meu celular tocou. O motorista de Lei tinha chegado. “Tenho que ir!”
Apressei-me para pegar sapatos, bolsa e echarpe junto à entrada e
acenei para Pam enquanto saía pela porta. Decidi não esperar o antigo e
temperamental elevador de carga e desci os três lances de escada até a rua.
O motorista já estava acostumado com a demora.
Nico, Vincent e Angelo haviam comprado aquele apartamento na
expectativa de reformar e revender para ganhar algum dinheiro. Eu me
mudara depois da faculdade e acabara comprando a parte de Nico quando
ele fora para Nova Jersey. Depois disso, eu e Vincent tínhamos comprado a
parte de Angelo quando ele foi morar com Denise, deixando-nos com
cinquenta por cento cada. Estávamos cogitando vender o lugar quando
Denise descobriu que estava grávida, e ela e Angelo voltaram, para
economizar.
Eu gostava de entrar em uma casa cheia no fim do dia e sentia falta de
Nico. Não sabia bem o que seria de mim se morasse sozinha. Ter alguém
presente a qualquer momento me ajudara a me concentrar no trabalho e a
sair menos. Nunca me importara com aquilo, mas talvez estivesse só me
recuperando de um coração partido. Talvez devesse ter encarado isso
antes. Agora, sem dúvida, era hora de enfrentar a situação.
Ofegante devido à correria, entrei no banco traseiro do sedan, e nos
dirigimos à casa de Lei. A região em que minha chefe morava era bem
diferente da minha. Ela vivia a uma ponte de mim, em Manhattan, mas
podia ser outro mundo. Atravessamos o East River, com o sol ainda
brilhando no céu e refletindo na água perturbada apenas por um rebocador
esforçado.
Espantava-me que alguma vez tivesse acreditado que Jax poderia se
encaixar naquela vida. Eu passara a associá-lo tão completamente a
Washington que não podia mais imaginá-lo em qualquer outro lugar.
Exceto em minha cama. Era bem fácil imaginá-lo ali…

*

Estava pensando na melhor maneira de extrair informações de Ian
Pembry quando o carro encostou diante do prédio de Lei.
Eu havia visto seu vestido na loja, mas agora que a via com a maquiagem
e o cabelo arrumado o impacto era outro. O tecido verde-esmeralda do
vestido em estilo grego flutuava sobre seu corpo esguio à medida que ela
atravessava a portaria do prédio, sorrindo para o porteiro. A cor viva
realçava sua pele perfeita e enfatizava o vermelho de seus lábios, enquanto
um lindo prendedor de pedras preciosas acentuava os fios prateados junto
da têmpora direita.
Lei sentou-se no banco ao meu lado, e notei sua tensão de cara.
“Você está bem?”
“Claro.”
Percorremos o curto trajeto até o heliporto em silêncio, ambas
distraídas com nossos pensamentos. Ao virar uma esquina, minha visão
parou num parque canino e nos animais barulhentos correndo livres e sem
freios lá dentro. A exuberância brincalhona e a alegria incontida deles me
fizeram sorrir, apesar do tom sombrio de minhas reflexões ao longo do dia.
Detestava admitir, mas estava chateada com o fato de que Ian sabia do
convite de Jax para almoçar. Quando Jax havia ligado, achara que era
pessoal e que ele queria mesmo recuperar o contato, nem que fosse só para
se desculpar. Sempre tinha esperado demais dele. No que se referia a Jax,
meus instintos eram péssimos.
Em pouco tempo, estávamos num helicóptero, com os cintos afivelados e
levantando voo. Minha atenção se voltou para Lei. Ela fitava a paisagem
pela janela enquanto o chão se distanciava cada vez mais, exibindo a cidade
para nosso deleite, um mar espetacular de concreto e vidro reluzente
tingido pela luz do sol. Fiz o mesmo, absorvendo o panorama. O dia inteiro
havia sido um reflexo de minha experiência de trabalho com Lei. Minha
família tinha uma visão microscópica do mundo, e preferia as coisas assim.
Já eu sempre desejara algo maior, queria ver o mundo através de uma
grande-angular.
“Você sabe para onde estamos indo?”, perguntei.
Lei fez que não com a cabeça. “Ian está querendo marcar uma posição
com esse passeio. Imagino que vamos nos surpreender.”


Perto das oito horas, eu me vi saindo de uma limusine diante de uma
mansão gigantesca em Washington. A cada quilômetro percorrido, eu ficara
mais ansiosa, e isso só piorou quando embarcamos num jato particular no
aeroporto e a comissária de bordo anunciou nosso destino.
“Ele se superou”, resmungou Lei quando Pembry desceu os degraus da
larga escadaria na frente da enorme mansão para nos receber.
O restaurateur estava muito elegante num smoking clássico, os cabelos
grisalhos penteados para trás com gel. Ele me cumprimentou primeiro,
com um beijo no dorso da mão, então virou os olhos azuis para Lei.
“Você está brincando com alguém da minha equipe”, disse ela friamente,
observando-o impassível erguer sua mão até os lábios. “Você jamais foi
cruel.”
“Eu tinha um coração”, respondeu ele, com a fala carregada, “mas então
alguém o partiu.”
Olhei de um para o outro rapidamente, tentando fazer uma leitura da
tensão entre os dois. Tive a sensação de que era um peão em um jogo cujas
regras todos sabiam, menos eu.
Tudo bem. Se eu ficasse de boca fechada e ouvidos abertos, poderia
acompanhar o passo.
Ian ofereceu-me o braço. “Vamos?”
Ele me conduziu escada acima, e Lei nos seguiu sozinha. Uma olhadela
para trás confirmou que o fazia majestosamente, com a cabeça erguida
sobre aquele pescoço comprido que eu invejava. Uma luz se derramava
pelas portas duplas abertas, e, atrás de nós, limusines deixavam
passageiros em levas regulares. Era uma festa incrível, e eu nem tinha
passado pela porta.
“Espero que os voos tenham sido do seu agrado”, disse Ian.
Fitei-o de relance e vi que estava me observando com cuidado excessivo.
“Sim, obrigada.”
“Já esteve em Washington antes?”
“Primeira vez.”
“Ah.” Ele sorriu, e pude notar um traço de seu charme. “Talvez considere
passar o fim de semana. Tenho uma casa em Georgetown. Pode ficar lá, se
quiser.”
“Que gentil.”
Rindo, Ian desenlaçou nossos braços, pôs a mão de leve nas minhas
costas e fez com que eu passasse pelas portas. “Espero que diga mais do
que duas ou três palavras no decorrer da noite, srta. Rossi. Gostaria de
conhecer você melhor, especialmente considerando que tanto Lei quanto
Jackson parecem muito interessados em você.”
Ao deparar com o que parecia ser uma fila de cumprimentos, diminui o
passo. “O que é esta festa?”
“É um evento para arrecadar fundos”, murmurou ele, junto ao meu
ouvido.
De repente, entendi o que Lei queria dizer com crueldade. “Para um
Rutledge?”
“Para quem mais?”, perguntou ele, a voz traindo seu divertimento.
A fila andou depressa, os homens oferecendo um aperto de mão brusco
e as mulheres ligeiramente mais delicadas. Estavam todos arrumadíssimos,
nem um fio de cabelo fora do lugar, e exibiam dentes ofuscantes de tão
brancos em imensos sorrisos bem treinados.
Foi um alívio quando os cumprimentos terminaram e pude aceitar uma
taça de champanhe de um garçom sorridente. Fiquei ainda mais satisfeita
de ver Chad, que parecia tão pouco à vontade quanto eu. Seu rosto se
iluminou ao notar nossa presença, rostos familiares em meio a uma
multidão de desconhecidos, e ele veio na nossa direção.
“Tomei a liberdade de colocar Chad como seu par, Lei”, disse Ian,
deixando o olhar deslizar pelo corpo dela.
Olhei ao redor em busca de Jax. Não consegui encontrá-lo, mas havia
gente demais perambulando pelo salão de baile. Um salão de baile, meu
Deus… Na casa de alguém.
Quem poderia ter uma casa daquelas?
Dei um longo gole no espumante gelado. Jax poderia ter uma casa
daquelas. O elegante executivo que eu vira na Savor poderia se encaixar
muito bem no ambiente, mas não o amante que eu conhecera.
Você só achava que o conhecia…
Chad se aproximou de mim, deslizando o indicador ao longo do
colarinho da camisa. “Dá para acreditar neste lugar? Acabei de conhecer o
governador da Louisiana. E ele sabia quem eu era!”
Ian abriu um sorriso presunçoso, mas eu ainda não estava entendendo…
“Qual é a relação entre política e indústria alimentícia?”, perguntei a ele.
“Tenho que admitir que é uma parceria incomum.” Ian pegou minha taça
vazia e a entregou a um garçom que passava por nós, trocando-a por uma
cheia. “Mas todo mundo tem que comer.”
“Nem tudo mundo vota”, observou Lei, pegando ela mesma uma nova
taça.
“Você sempre foi muito mais responsável nesse aspecto do que eu”,
concordou Ian. “E você, Gianna? Exerce seu direito de votar?”
“Achei que não era elegante discutir política.” Dei uma olhada numa
bandeja de canapés que passou por perto e percebi que estava ansiosa
demais para pensar em comer.
“Por que não dançamos então?”, sugeriu ele.
Considerando que provavelmente seria uma chance única de falar com
Ian a sós, concordei. Chad pegou minha taça de champanhe e virou.
“Já vou avisando que não danço muito bem”, eu disse enquanto Ian me
levava para a pista. Eu tinha feito algumas aulas, para ganhar um pouco de
confiança, mas nunca tivera a oportunidade de dançar formalmente fora da
academia e me faltava tempo para praticar. Definitivamente, jamais
dançara ao som de uma orquestra antes.
“Pode deixar que eu conduzo”, murmurou ele, puxando-me para junto
de si.
Nós nos misturamos aos poucos casais na pista.
Eu estava tão concentrada em não pisar no pé dele que não disse uma
palavra por mais de um minuto.
“Como você conheceu Jackson?”, perguntou Ian.
“Não o conheço.” E era verdade, em todos os sentidos que importavam.
Ian ergueu as sobrancelhas, os olhos azuis me estudando. “Ontem não
foi a primeira vez que vocês se viram.”
“E como tenho certeza de que você sabia disso antes de envolver Jax,
estou mais interessada em saber como vocês dois se conheceram.”
“Sou amigo do pai dele, Parker Rutledge. Ele nos apresentou.” Ian
ergueu o olhar para além de mim. “E por falar no diabo…”
Minha coluna ficou rígida. Virei a cabeça, e meus pés vacilaram à medida
que eu observava um homem assustadoramente parecido com Jax dançar
com uma mulher muito bonita e mais jovem.
O desejo de deixar a festa foi quase incontrolável. Aquilo não era lugar
para mim, um evento político, um mundo que não tinha nada a ver comigo.
Não conseguia entender como uma dupla de chefs gêmeos tinha me levado
àquilo e realmente não estava interessada em dar sentido às coisas naquele
momento. A sensação de que a noite ia ser péssima foi se intensificando.
“Por que você nos trouxe aqui, Ian?”
Ele respondeu com outra pergunta: “Quão ambiciosa você é, Gianna?”
“Sou fiel a Lei.”
Ele sorriu. “Também já fui. Infelizmente, vai perceber que ela já não é
tão fiel. Você sabe tão bem quanto eu que se separar não é do interesse de
Chad nem de Stacy. Eles precisam um do outro.”
“Eles podem se dar muito bem sozinhos. Os dois são talentosos.” Minha
irritação aumentou. “Não podíamos discutir isso em Nova York?”
“Estou só defendendo o que é meu. Você tem que entender que não vou
poupar esforços.”
“Sua briga é com Lei, não comigo.”
“Você se sente deslocada aqui”, disse ele com uma voz suave e
reconfortante. “Eu conheço essas pessoas. Adoraria ajudar você a fazer
conexões e encontrar seu caminho.”
Encarei-o. “Por que está me oferecendo isso? Por causa de Jackson? Se
acha que quero entrar na vida dele, não poderia estar mais enganado ao
meu respeito.”
A música terminou, e eu me afastei, pronta para encontrar Lei e ver se
ela também queria ir embora.
Pembry entendeu o recado e me conduziu para fora da pista de dança.
Eu estava quase a salvo quando uma figura alta entrou em meu caminho.
Olhei para cima e perdi o fôlego, achando por um instante que Jax tinha
aparecido afinal.
Então percebi que era seu pai.
“Ian”, disse Parker, estendendo a mão. Sua voz transmitia poder, assim
como sua postura. O patriarca Rutledge comandava uma família de grande
poder no mundo da política. Seu alcance e sua influência eram
surpreendentes quando se pensava no assunto, o que eu não podia deixar
de fazer à medida que ele voltava os olhos escuros para mim. “Acho que
não fui apresentado ao seu belíssimo par esta noite.”
Fiquei surpresa ao ouvir o leve sotaque, incapaz de identificar de onde
era.
Ian fez as honras. “Parker, esta é Gianna Rossi. Gianna, Parker Rutledge.”
“Olá”, cumprimentei.
“É um prazer, srta. Rossi. Esta é minha esposa, Regina.”
Olhei para a loira ao lado dele, a mesma com quem estava dançando
antes e que não poderia ser muito mais velha que eu. Sem dúvida não tinha
idade para ser mãe de Jax. Cirurgião plástico nenhum poderia preservar
alguém tão bem. “Olá, sra. Rutledge.”
Seu sorriso não se refletiu em seus olhos. “Regina, por favor.”
“Dance comigo, Regina”, disse Ian, estendendo a mão num floreio.
Ela voltou-se para Parker, que assentiu com a cabeça. Então se virou
para Ian. “Fale mais sobre esse chef novo que você trouxe hoje à noite. É
especialista em que?”
“Culinária do sul, mas com uma abordagem moderna.”
“Sério?” Eles seguiram para a pista de dança. “Vou organizar um jantar
daqui a algumas semanas. Será que…?”
“Olhando assim, você jamais desconfiaria”, comentou Parker, pousando
a mão em minha cintura antes que eu pudesse recusar a dança. “Mas
Regina adora comer.”
“Acho difícil entender quem não gosta.”
Parker me conduziu para a dança com um floreio, e eu me segurei firme,
respirando fundo.
“Ela também adora uma festa”, continuou ele. “Mas até aí, ela é jovem e
bonita. Como você.”
“Obrigada.”
“Você é do ramo da culinária também, não? Acho que foi isso que Ian
disse. Também deve gostar de uma boa festa. O que está achando desta?”
“É…” Procurei uma resposta. “Preciso de um tempo para assimilar tudo
isso.”
Parker riu, e o som não pareceu nem um pouco com o das risadas
cálidas de Jax. Seu pai tinha uma gargalhada estrondosa, do tipo que chama
atenção. Era estranhamente contagiante. Relutando, senti meus lábios se
curvando num sorriso.
“Gianna”, ele disse, mais uma vez traindo um sotaque regional. “Um
nome incomum, não é? Jackson conheceu uma Gianna em Las Vegas, alguns
anos atrás.”
Exatamente como previra, a noite estava evoluindo de desconfortável a
desastrosa numa velocidade assustadora. Eu achava que ninguém sabia.
Mas Jax parecia ter contado sobre mim. E isso não me deixava mais à
vontade.
“Nem tanto”, respondi, controlando-me e me sentindo extremamente
desconfortável.
“Deve ter sido uma surpresa e tanto encontrar Jax de novo.”
Examinei seu rosto. Será que ele ficaria parecido com o pai quando
chegasse à sua idade? Esperava que não. Torcia para que tivesse mais
linhas de riso ao redor dos olhos e menos tensão em torno da bela boca.
“Estou mais surpresa com o fato de Ian ter sentido necessidade de
envolver seu filho no trabalho.”
“Eu envolvi Jackson”, murmurou ele, estreitando os olhos enquanto
fitava alguém atrás de mim. “Ian me fez um grande favor ao me apresentar
a Regina, então eu o ajudo sempre que posso.” Ele voltou a olhar para mim.
“Mas não sabia de você. Imagino que Ian soubesse.”
Senti uma onda de inquietação tomar conta de mim. Parecia um peixe
nadando em meio aos tubarões.
“Com licença.”
Meu Deus. O som da voz de Jax reverberara em mim.
“Minha vez.”
Parker parou de dançar, e eu virei a cabeça, o coração pulando dentro
do peito ao ficar cara a cara com Jax.
“Achei que você não vinha mais”, Parker disse ao filho.
Jax me fitou de relance, então se voltou para o pai. “Você não me deu
opção.”
Por um segundo, pensei em escapar enquanto os dois se ocupavam em
olhar feio um para o outro. Então Jax passou o braço por minha cintura e
me afastou dali.
Parker me olhou de lado. “Vejo você no jantar, Gianna. Aproveite a
festa.”
Jax me contornou, impedindo-me de ver as costas de seu pai se
afastando da pista de dança. “Você está linda”, ele disse baixinho, puxando-
me para junto de si.
Meus ombros doíam de nervosismo. “Que bom que tenho sua
aprovação.”
Ele deu o primeiro passo, e eu o segui.
“Respire, Gia”, Jax advertiu. “Deixe comigo.”
“Quero ir embora.”
“Então somos dois.” Ele acariciou minhas costas, num gesto
reconfortante. “Odeio estes eventos.”
“Mas você se encaixa neles perfeitamente.”
Seus olhos se encobriram com a sombra de uma emoção que não fui
capaz de identificar. “Nasci neste meio. Mas não vivo nele.”
O calor de seu corpo passava para o meu. A cada fôlego, seu cheiro me
invadia; cada movimento que fazia me inundava com ecos de antigas
memórias.
“Agora sim”, prosseguiu ele. “Relaxe, linda.”
“Não começa.”
“Você está no meu mundo, Gia. Eu faço as regras.”
Balancei a cabeça. “Só estou aqui porque caí numa armadilha.”
Jax me puxou para junto de si, levando os lábios junto à minha têmpora.
“Desculpe.”
“Você tinha que ter contado para todo mundo, não é? Não entendo você.
Está na cara que não era o segredinho sujo que achei que fosse.”
“Sujo, não.” Ele baixou a voz. “Tirando quando você queria que fosse. Ou
pesado. Você me tirava do sério.”
Pisei no pé dele de propósito.
Sua risada me atingiu.
“Você bebeu”, acusei, sentindo o cheiro de álcool em seu hálito.
“Não teve jeito.” Ele se afastou, com a mandíbula rígida. “Não sabia que
ia ser tão difícil ver você de novo.”
“Vou facilitar as coisas para você então. Me ajude a sair daqui com Lei.”
“Ainda não.” Jax deslizou os lábios macios por minha testa. “Passei uma
noite com sua família. Você me deve uma com a minha.”
“E depois posso desaparecer para sempre?”
Era o que eu queria. Passar de Cinderela a Gata Borralheira.
Jax me apertou, e senti seu peito em meus seios. “É esse o plano.”


Jax dançou mais duas músicas comigo, impedindo-me grosseiramente
de dançar com Ian e outros dois homens que tentaram me convidar.
Entendi o recado tão bem quanto qualquer um ali: eu chegara à festa com
Ian, mas agora era de Jax.
Em determinado momento, decidi desempenhar à risca meu papel de
Cinderela. Espantei a voz em minha cabeça que havia dois dias me deprimia
e ajeitei os dedos dentro de meus sapatinhos de cristal.
“Quero mais champanhe”, anunciei abruptamente.
Jax me fitou, desconfiado. “Ah é?”
“É.”
Seus olhos adquiriram um brilho perverso que eu reconhecia muito
bem. “Venha.”
Segurando minha mão, ele me conduziu para fora da pista de dança e
pela multidão. Ela crescia ao redor dele, como se estivesse tentando nos
prender ali, mas Jax era bom em cumprimentos e réplicas bruscos. Avistei
um rosto familiar, a bela Allison Kelsey — esposa do sujeito cuja despedida
de solteiro tinha trazido Jax para minha vida —, e então entramos num
corredor. Em seguida, passamos por uma porta vaivém e entramos numa
imensa cozinha industrial, fervilhando.
Olhei ao redor, observando as várias estações de cozinha e os uniformes
parecidos com os dos filmes. Jax roubou uma garrafa de champanhe das
mãos de um garçom, envolveu a haste de uma taça com os dedos num gesto
experiente e me levou por uma porta lateral para outro corredor.
“Para onde estamos indo?”, perguntei, ainda tensa diante da ideia de
ficar sozinha com ele. Ainda o desejava. Nunca deixara de desejá-lo.
“Você vai ver.”
O som da festa ficou mais alto, e ignorei a pontada de decepção que senti
diante da possibilidade de voltar para o salão. No que eu estava pensando?
Jax me conduziu por uma porta dupla de vidro para uma varanda com
vista para um jardim encantado. Pelo menos era assim que parecia para
mim, com seus caminhos de cascalho iluminados por tochas e árvores
antigas com lampadinhas brancas brilhando.
“De quem é esta casa?”, perguntei.
“É patrimônio Rutledge.”
O jeito como ele respondeu transmitia mais propriedade do que as
palavras em si. “Certo.”
“Finja que estamos aqui de penetra”, disse, fazendo-me descer por uma
escada de paralelepípedos até um banco de mármore em forma de meia-
lua.
Sentei e fiquei observando enquanto ele servia o champanhe e me
passava a taça. “Parece que o fingimento nunca acaba, não é?”
Jax bebeu direto da garrafa e limpou a boca com as costas da mão,
indolente e rebelde. “Talvez. Mas conheço você melhor do que pensa.”
“Tenho a impressão de que não sei nada de você.”
“Então fique sabendo”, desafiou ele. “Do que tem medo?”
Tomei um gole do champanhe. “Dos becos sem saída e de ficar rodando
em círculos.”
“Por que você simplesmente não aproveita?”
Eu adoraria fazer isso. Uma onda de desejo me dominou.
Ele colocou a garrafa no banco ao meu lado. “Vou beijar você.”
Perdi o fôlego. “Não, não vai.”
“Tente me impedir.”
Fiquei de pé. “Jackson…”
“Cale a boca, Gia.” Ele segurou meu rosto com as mãos e me beijou.
Por um momento fiquei estática, imóvel pela sensação de seus lábios
nos meus, macios e firmes ao mesmo tempo. Uma sensação dolorosamente
familiar. Enternecedora. Sua língua percorreu o contorno da minha boca.
Eu a abri com um gemido grave, e ele deslizou para dentro.
Deixei a taça cair. Ouvi, ao longe, o barulho do cristal se espatifando, mas
nem liguei. Meus braços envolveram seus ombros largos, meus dedos
entrelaçaram seu cabelo sedoso. Eu o estava saboreando, sentindo o gosto
de champanhe misturado com Jax, na ponta dos pés para intensificar o
contato.
Como sempre, ele me ofereceu o que eu tinha exigido.
Segurando-me com firmeza, refestelou-se na minha boca, dando golpes
com sua língua aveludada, mordiscando com os lábios e os dentes,
deslizando a boca ao longo da minha. Saboreando-me. Transformando um
simples beijo numa mistura erótica que me fazia tremer de prazer.
Eu estava morrendo de saudades. Sentira muita falta da forma como ele
me fazia sentir.
Jax gemeu, o som rouco vibrando em mim. Desceu as mãos, alisando
minhas costas, segurando-me firme à medida que girava os quadris e
esfregava o membro grosso e duro contra minha virilha. Fui invadida pelo
desejo, a pele ficando corada. Seu cheiro era delicioso, uma fragrância sutil
de sabonete misturada com um odor masculino que só ele possuía. Queria
me deleitar do jeito que eu fazia antes, apertando meu corpo nu contra o
seu até nenhum fio de ar ser capaz de passar entre nós.
“Gia”, ele murmurou com a voz rouca, os lábios passeando por meu
rosto. “Quero você agora.”
Fechei os olhos, e minhas mãos fecharam-se em meio aos fios grossos de
seu cabelo. Estava pegando fogo, minha pele parecia sensível e esticada
demais. “Você me teve um dia.”
“Ir embora foi a decisão certa.” Senti seu hálito contra minha têmpora.
“Isso não significa que não me arrependa.”
Uma pequena voz de alerta berrava dentro da minha cabeça. “Você vai
me machucar.”
“Vou venerar você.” Com uma das mãos, ele segurou minha nuca. Com a
outra, firmou meu quadril, deslizando o membro contra mim. “Você lembra
como a gente era. Horas com minhas mãos e minha boca em você, meu pau
lá dentro…”
“Por quanto tempo?” Eu estava me contorcendo por dentro, louca por
um orgasmo.
“Semanas.” Ele gemeu. “Meses. Estou tão duro que dói.”
Tentei me desvencilhar dele. “Preciso de mais do que sexo.”
Jax me soltou, mas seu olhar continuava feroz e sensual. “Vou dar tudo o
que eu tiver.”
“Por algumas semanas?” O esforço para me manter afastada, quando
tudo o que eu queria era ele, me deixou trêmula. “Meses?”
“Gia.” Jax levou as mãos ao rosto. “Que merda. Aceite o que estou
oferecendo.”
“Não é o bastante!”
“Tem que ser. Caramba… Não me peça para transformar você num
deles!”
Dei um passo para trás, assustada com sua veemência. “Do que você está
falando?”
Jax virou de costas para a casa, pegou a garrafa de champanhe e deu um
longo gole.
Examinei-o, confusa, e tudo o que vi foi teimosia. Concentrei o olhar
além dele, no salão de festas e nos casais glamorosos lá dentro. Foi quando
Lei apareceu, entrando na varanda de braço dado com Chad.
Naquele momento, entendi que precisava desvendar o mistério de Jax, o
suficiente para não me importar com o custo que isso teria para mim.
“Se importam se nos juntarmos a vocês?”, perguntou Lei, aproximando-
se.
Nossos olhares se cruzaram. Desabei no banco, o corpo ainda latejando
de sede insaciada.
Notei, de relance, os olhos de Jax em mim. Havia um desafio naquelas
profundezas sombrias. Estendi a mão para a garrafa de champanhe e a
segurei pelo gargalo assim que ele a entregou para mim.
Ergui-a num brinde e bebi àquele desafio.
6

Não desapareça. Quero ver você de novo…


As últimas palavras de Jax, suspiradas ao pé do meu ouvido quando nos
despedimos, atormentaram-me no voo de volta para Nova York.
Se me envolvesse com ele, eu me machucaria, porque teria esperanças.
Eu queria mais. Mas que opção tinha? Precisava descobrir o que tinha
acontecido antes e o que o continha agora. Sempre imaginara que a questão
era me manter afastada — por quem eu era e de onde vinha —, e não o que
ele era e queria no longo prazo.
Olhei de relance para Lei, sentada na minha frente no avião, enquanto
abria sua bolsa de festa e retirava uma folha dobrada de papel. Ela a
deslizou ao longo da mesa entre nós, e eu a abri. Li o primeiro parágrafo e
baixei o olho para a assinatura no final, então ergui a cabeça.
“Você conseguiu fazer Chad assinar?”
“É um acordo provisório”, observou ela. “Depende de conseguirmos
trazer Isabelle e Inez para a jogada, e de você coordenar o primeiro
restaurante. Mas conseguimos o cara.”
“Uau.” Dobrei o documento com cuidado, assimilando o fato de que
acabara de receber uma responsabilidade tremenda. “Não acredito que
você trouxe isso na bolsa. Sabia que Chad estaria na festa?”
“Conhecendo Ian, suspeitei.”
Devolvi o contrato.
“Rutledge monopolizou você esta noite”, ela comentou. “Ian tentou jogar
você no covil dos lobos, mas Jackson a manteve por perto.”
E me queria mais perto ainda.
Respondi dando de ombros, nem um pouco interessada em falar de algo
tão pessoal. “Aliás, Parker Rutledge explicou a conexão. Ian apresentou
Parker à atual sra. Rutledge.”
“Ah é?” Lei ergueu as sobrancelhas elegantes. “Então deve ser porque
conhece Regina Rutledge intimamente.”
“Não brinca?”
“Estou falando sério.”
“Então tá.”
Ela recostou-se contra o assento da poltrona. “Vamos aproveitar o fim
de semana. Desligue o telefone, esqueça um pouco o trabalho. Recarregue
as baterias. Vamos com tudo na segunda.”
A ideia era maravilhosa. “Eu topo, mas vou deixar o telefone ligado caso
você precise de mim.”
Lei sorriu. “Prometo que não vou precisar de você. Tenho um encontro
esse fim de semana.”
“O fim de semana inteiro?”
“Preciso tirar o atraso.”
Eu ri. Em um ano de trabalho com Lei, jamais soubera de um encontro.
Ela merecia se divertir. E eu também. “Vai com tudo.”
Lei me lançou um olhar. “A ideia é essa.”


Já passava de duas da manhã quando entrei em casa, e estavam todos
dormindo. Descalça, caminhei na ponta dos pés até meu quarto, ansiosa
para tirar a roupa.
Ao abrir o zíper invisível na lateral do vestido, notei meu reflexo nas
portas espelhadas do armário. Parei por um instante e me analisei
profundamente.
Será que Jax se sentira atraído pela refinada executiva em que eu havia
me transformado de um jeito que não se sentira pela garota que eu era
antes? E eu ligava para isso?
“Minha nossa.” Sentei na beira da cama, desejando que houvesse alguém
acordado com quem conversar. Se Nico ainda morasse conosco, estaria de
pé. Era um sujeito noturno.
Num impulso, peguei o telefone e liguei para ele. O telefone tocou três
vezes antes de meu irmão atender.
“Oi”, disse. “Espero que seja importante.”
Estremeci com seu tom irritado e ligeiramente ofegante. Devia estar
com alguém em casa. “Nico, oi. Desculpa. Ligo amanhã.”
“Gianna.” Ele exalou, e ouvi um farfalhar de lençóis. “O que foi?”
“Nada. Amanhã a gente conversa. Tchau.”
“Não desliga na minha cara!”, retrucou ele. “Você queria falar comigo,
estou aqui. Desembucha.”
Desliguei, imaginando que ele queria voltar logo para o que estava
fazendo.
Meio segundo depois, o telefone tocou. Atendi depressa, torcendo para
não ter acordado o restante da casa. “Nico, deixa pra lá. Não é nada demais.
Desculpe incomodar a essa hora.”
“Gianna, se você não começar a falar, vou aí agora dar um jeito em você.
Tem a ver com Jackson?”
Suspirei. Deveria ter imaginado que alguém ia contar para ele. “Estou de
folga esse fim de semana. Pensei em fazer uma visita. Só para encher você
um pouco. Ou muito.”
“Agora?”
A ideia original era essa, mas… “Não, amanhã.”
“Ninguém liga às duas da manhã para dizer que quer fazer uma visita no
dia seguinte.”
“Você está ocupado.”
“Na hora que você chegar, já não vou estar mais.” Sua voz se suavizou.
“Você tem como vir?”
“Nico…”
“Vou chamar um táxi.”
Fechei os olhos, agradecida por meu irmão e mais segura do que nunca
de que passar um tempo com ele ia me fazer um bem enorme. Fazia
algumas semanas que não nos víamos. Tempo demais. “Preciso tomar um
banho e trocar de roupa.”
“Trinta minutos. Vejo você daqui a pouco.” Ele desligou.
Desliguei o telefone e corri para me trocar.


Quando cheguei ao condomínio de Nico, passava um pouco das quatro.
Ele tinha ligado havia poucos minutos, para saber onde eu estava, e me
esperava de pé na calçada quando o carro encostou. Usando um moletom e
com uma leve sombra de barba por fazer, ostentava um ar ligeiramente
perigoso, daquele jeito rebelde que atrai tantas mulheres.
Eu não podia falar muito, já que a masculinidade de Jax me inflamava
por dentro.
“Oi”, disse, pegando minha mala das mãos do taxista e pagando a
corrida. Nico me envolveu pelos ombros e me conduziu até o apartamento.
“É bom ver você.”
“Bom, coisa nenhuma.” Joguei o quadril contra o dele, e nós dois nos
desequilibramos. “Desculpe destruir sua noite.”
“Eu gozei.” Nico abriu um sorriso. “Ela também. Então não tem
problema.”
“Eca. Informação demais.” Meu irmão era um mulherengo. Sempre fora.
“Alguém especial?”
“Não de um jeito sério. Não tenho tempo para um relacionamento agora.
O novo restaurante dá trabalho.”
Nico me soltou para destrancar a entrada, em seguida me conduziu pelo
pátio interno. Eu já tinha entrado no condomínio dele antes, no dia em que
o ajudara com a mudança, mas à noite o lugar parecia diferente. Quieto e
estranho demais. Gostaria de saber se ele se sentia sozinho sem o restante
de nós. Pensar naquilo me deixou triste.
“Queria que você tivesse alguém para cuidar de você”, comentei.
“Olha quem fala”, respondeu ele, virando a mesa com habilidade. Nico
era bom nisso.
Subimos a escada externa até o apartamento. Lá dentro, vi que meu
irmão não havia feito muita coisa desde que se mudara. O lugar era o típico
lar de um homem solteiro, a decoração esparsa mais preocupada com
conforto do que com estética.
A TV de tela plana sobressaía-se na sala, onde havia um sofá preto de
couro e uma poltrona, além de uma mesa de centro e uma de canto com
uma lata de refrigerante aberta em cima. As únicas luzes a invadir o
ambiente vinham da cozinha americana e do quarto, cuja porta estava
entreaberta, tentando corajosamente compensar a falta de abajures.
“Então quer dizer que o Jax voltou”, disse ele, observando enquanto eu
me deixava cair no sofá. “Vincent me deve cem dólares.”
“Não brinca?” Eu teria jogado uma almofada em Nico, se ele tivesse uma.
“Você está apostando em Jax?”
“Estou apostando em você.” Meu irmão se sentou na poltrona e pousou
minha bolsa a seus pés. “O cara era louco por você, o que significava que ou
ia querer casar ou ia fugir apavorado. Sempre achei que ele ia fugir e depois
voltar atrás, quando o medo tivesse passado. Ele é homem, mas não é
burro. A pergunta é: demorou demais? Imagino que não, ou você não
estaria aqui.”
“Talvez eu só quisesse ver você”, argumentei. “Sei lá por quê.”
“Pode ser”, respondeu ele num tom que me dizia que não acreditava em
mim. “Ainda está apaixonada por ele?”
Joguei a cabeça para trás, no encosto do sofá, e fechei os olhos cansados.
“Sim. Perdidamente.”
“E ele?”
“Está confuso.”
“Precisa que eu dê uma surra no sujeito? Para acabar com essa
confusão?”
Ri baixinho. “Estava com saudades.”


Acordamos depois do meio-dia e saímos para comer, então ficamos
jogando videogame no sofá até meus polegares doerem. Eu havia deixado o
celular na bolsa, desligado, e estava reprimindo o impulso de ligá-lo. Tinha
escrito um bilhete para Angelo e Vincent avisando onde estaria. Com Lei
fora de alcance no fim de semana, ninguém mais ia me procurar até
segunda-feira.
Quando chegou a hora de Nico sair para o restaurante, levantei do sofá
com ele.
“Precisa de ajuda no Rossi’s?”, perguntei.
Ele abriu um sorriso. “Claro. Tenho uma camiseta sobrando em algum
lugar por aqui.”
Às sete da noite, eu estava trabalhando na filial e recordando o quanto
adorava botar a mão na massa. Não seria capaz de fazer isso sempre, como
meus irmãos, mas me lembrei de que ajudar uma vez ou outra fazia bem ao
espírito. De calça jeans, com uma camiseta preta do Rossi’s e o cabelo preso
num rabo de cavalo, era praticamente como se eu estivesse de volta aos
tempos de colégio. Não conhecia nenhum dos fregueses, mas eles logo
notaram minha relação com Nico, em grande parte por causa da
implicância divertida que havia entre nós.
De braços cruzados junto ao bar, eu me debrucei, provocando-o: “Cadê
os Bellini que eu pedi? Vamos lá, Rossi. Que lerdeza. Estou esperando”.
“Você ouviu isso?”, Nico perguntou a uma ruiva bonita sentada diante
dele. “Ela está querendo apressar uma obra de arte.”
Notei os pelos da nuca se arrepiarem um instante antes de sentir a mão
de alguém tocar meu quadril. Virei a cabeça…
E vi Jax.
Pisquei, confusa, então o encarei, embevecendo-me com a visão dele de
calça jeans e uma camiseta Rossi’s de tempos atrás, antes de atualizarmos a
marca. Mexeu comigo que ele tivesse guardado o presente. E usado, a julgar
por como a camiseta estava gasta.
“Jax. O que está fazendo aqui?”
“O que você acha?” Ele sorriu.
Merda. Aquela covinha me levava à loucura.
Virei para ele, escorando-me contra o balcão do bar e enganchando o
sapato na barra de ferro para apoiar os pés. Era uma pose deliberadamente
provocante, e tive exatamente a reação que estava esperando.
Jax correu os olhos escuros por mim da cabeça aos pés e de volta à
cabeça, demorando-se em minha boca. “Jante comigo.”
“Tudo bem.”
Ele ergueu as sobrancelhas, espantado com a resposta rápida.
“Aqui, seu pedido”, disse Nico, atrás de mim.
Virei-me para ele bem a tempo de vê-lo cumprimentar Jax com um
movimento do queixo e um aperto de mão.
“Jackson”, disse Nico. “Estava falando com Gianna sobre te dar uma
surra.”
Jax abriu um sorriso. “É bom ver você também, cara.”
Nico ergueu o indicador num gesto de alerta e afastou-se para o outro
lado do bar.
Enquanto transferia as três taças de Bellini para minha bandeja, senti as
mãos de Jax pousando de leve em minha cintura, numa manobra
indiscutivelmente possessiva. Seus lábios se aproximaram da minha nuca,
tocando-a superficialmente. “Senti saudades”, ele murmurou.
Minha mão tremeu ligeiramente ao pousar a última taça. “Não brinque
comigo, Jax. Não tem graça.”
“Você também sentiu.”
“É, senti. Chega pra lá.” Ergui a bandeja e segui em direção à mesa que
estava esperando o pedido. “Vem”, chamei por cima do ombro.
Coloquei as bebidas na mesa, dando um sorriso para as três amigas que
tinham tirado a noite para se divertir. Elas observaram Jax, que tinha se
escorado de braços cruzados em outra mesa, o olhar fixo em mim à medida
que me inclinava para entregar as taças.
“Está em treinamento?”, perguntou a morena, escancarando um sorriso
para Jax.
“Tentei ensinar umas coisinhas a ele”, brinquei. “Mas não deu certo.”
“Implorei para ela tentar de novo”, Jax disse, piscando para elas. Aquilo
eriçou todas as mulheres… inclusive eu.
“Dê outra chance a ele”, encorajou-me a loura. “Ele está tentando!”
Eu me afastei, e elas continuaram rindo e conversando com Jax, que
permaneceu junto à mesa enquanto eu deixava a bandeja vazia no bar.
“Tudo bem?”, perguntou Nico.
“Tudo.” Endireitei os ombros e escolhi uma linha de ação. Jax e eu
poderíamos passar dias naquela dança se eu deixasse. Mas me faltava
paciência para isso. “Vou dar um pulo lá fora.”
Meu irmão assentiu e apertou minha mão. “Faça esse cara comer o pão
que o diabo amassou.”
“Obrigada.” Girei o corpo e quase atropelei Jax, que chegara pelas
minhas costas. “Está hospedado em algum lugar?”
O leve ar de divertimento em sua expressão dissolveu-se em algo mais
sombrio. Mais quente. “Estou.”
“Vou pegar minha bolsa.”
Jax me segurou pelo cotovelo antes que eu me afastasse. “Gia.”
Eu o fitei, deixando-o me examinar.
Ele acariciou minha pele com o polegar. “Não tem pressa.”
“Faz três dias que você está me seguindo por três estados diferentes. E
agora vai dar para trás? Sério?”
Um sorriso lento se abriu em seus lábios. “Tem razão. Vou pegar o
carro.”
*

Ao sair do Rossi’s, reparei na BMW elegante esperando do lado de fora. O
carro era alugado, mas combinava com Jax. Ele estava de pé, esperando-me
para abrir a porta, e seus lábios roçaram em minha bochecha antes de eu
sentar no banco do carona.
O jeito como me tocava era viciante, como se não fosse capaz de se
conter.
Jax sentou atrás do volante. O motor roncou, e nós partimos.
Recostando-me contra o assento, olhei para ele enquanto dirigia,
excitada pela confiança com que manipulava o carro potente. Suas mãos
pousavam com leveza sobre o volante, os braços estendidos exibindo a
beleza de seus músculos delineados. A sensualidade lhe era inerente, e eu
estava perdidamente apaixonada por ele. Era capaz de adorar qualquer
coisa que Jax fizesse.
Isso não era justo, percebi. Nunca reconhecera seus defeitos, embora
sem dúvida existissem. Nunca reconhecera que poderia haver dilemas em
sua vida, circunstâncias e pessoas que talvez o arrastassem em direções
distintas, para longe de mim. Nunca fora além da superfície.
Estendi o braço e pousei a mão em sua coxa, sentindo minha palma
formigar assim que percebi o músculo forte contrair-se em reação ao meu
toque. Jax trocou a mão com que dirigia para segurar a minha, sua pele
quente e seca.
Ele olhou para mim. “Nervosa?”
“Não.” Apreensiva, eu diria, mas não nervosa. “Quero você.”
Ele assentiu e acelerou.
Permanecemos em silêncio durante todo o caminho até o
estacionamento do hotel e assim continuamos depois de chegar. Jax parou
o carro, e passamos por um portão lateral que se abriu com um cartão,
entrando num pátio central. Pegamos um elevador, mantendo-nos de pé
em lados opostos do espaço confinado, os olhos fixos um no outro à medida
que os segundos se passavam.
A tensão era tanta que ficava difícil respirar. Inspirei fundo, e meus
lábios se separaram. Podia sentir o desejo que irradiava dele, a sede
deixando seus músculos contraídos e afiando seus sentidos para cada
reação que meu corpo tinha ao dele. Já estava duro, o pênis apertado contra
o fecho da calça jeans.
Eu estava molhada e pronta, sentindo a dor entre as pernas, os seios
cheios e pesados. Meus mamilos estavam tão rígidos que pulsavam e se
empinavam descaradamente na direção dele.
Seu olhar estava em meu peito, acariciando-me, a língua deslizando ao
longo do lábio inferior numa promessa evidente do que ele ia fazer comigo
assim que estivéssemos sozinhos.
O elevador apitou anunciando nossa chegada ao andar em que ele
estava hospedado, e Jax veio na minha direção, segurando minha mão e me
arrastando atrás de si. Depois de atravessar um longo corredor, abriu
apressado a porta do quarto e, num instante, estava em cima de mim,
agarrando-me com tanta força que meus pés deixaram o chão. Larguei
minha bolsa e me segurei nele.
Jax tomou minha boca na sua assim que a porta se fechou, um braço em
volta da minha cintura e a outra mão enfiada em meu cabelo, soltando o
elástico que prendia o rabo de cavalo. A elegância que havia demonstrado
na noite anterior desaparecera, restando apenas a fome animal em seu
lugar. Seus lábios apertavam os meus, a língua invadindo-os ritmicamente,
convidando-me a escalar seu corpo grande.
Minhas pernas enlaçaram a cintura esguia, meus braços envolveram
seus ombros, enquanto meus quadris se moviam para me esfregar no
contorno rígido de sua ereção. A pressão me enlouquecia, fazendo-me
soltar um gemido, as camadas de jeans entre nós grossas demais para me
proporcionar qualquer alívio.
“Jax.” Engoli em seco junto à sua boca.
“Aguente aí”, rosnou ele, espremendo-me contra a porta.
Voltei as pernas ao chão e levei as mãos até o fecho da minha calça. Abri
o botão e baixei o zíper, forçando-me contra o corpo de Jax, que estava
puxando minha camiseta.
Suas mãos encontraram meus seios e os apertaram através do tecido
fino do sutiã. Engoli em seco, assustada com a intimidade.
“Meu Deus, você é linda”, suspirou ele, os polegares circulando os
mamilos endurecidos.
Minha cabeça pendeu para trás, contra a porta, enquanto meus pulmões
lutavam por ar.
Jax baixou o rosto e me lambeu através do sutiã, seus lábios me
envolvendo. Chupou com força, e me contorci, arranhando a porta atrás de
mim.
“Anda logo, Jax. Caramba!”
Vi sua covinha reaparecer, e então ele estava me beijando de novo, o
corpo rígido contra o meu, as mãos no meio de nós enquanto ele abria o
botão da calça. Mal tive o bom senso de tirar sua carteira do bolso antes de
Jax baixar a calça. Atrapalhada, encontrei um preservativo e atirei a carteira
no chão.
Estava rasgando a embalagem com os dentes quando ele começou a
baixar minha calça bruscamente. Tropecei, rindo, e cai em cima dele,
deixando-o me erguer de novo e me colocar no chão.
Chutei os sapatos e me agarrei a ele, nossos braços e pernas se
entrelaçando à medida que tentávamos nos livrar das roupas ao mesmo
tempo que lidávamos com a urgência desesperada. Jax arrancou a camisa,
tirou uma das pernas da minha calça e murmurou ofegante: “É o bastante”.
Rasgou minha calcinha e assobiou por entre os dentes enquanto eu
vestia a camisinha nele. Em seguida, abriu minhas coxas e enterrou-se em
mim.
Sua primeira investida me fez arquear as costas.
“Gia.”
Com o pescoço rígido, os ombros tensos e o suor brilhando no peito, Jax
não podia estar mais bonito. Ele latejava dentro de mim, grosso e forte,
fundo. Meus calcanhares enterraram-se no carpete à medida que meus
quadris se moviam, tentando acomodá-lo.
“Espere”, arfou ele, segurando-me pela cintura para me manter parada.
“Estou muito perto…”
“Jax… por favor!”
Ele me fitou com ferocidade, os olhos brilhando na meia-luz do quarto,
iluminado apenas pela luz da rua.
“É isso que você quer?” Ele afastou-se, saindo de dentro de mim. E
entrou de novo.
“Ah”, gemi, trêmula. “Não pare.”
Uma mão de cada vez, Jax entrelaçou os dedos nos meus e passou meus
braços ao redor de sua cabeça. Girando os quadris, moveu-se fundo dentro
de mim, esfregando-me com perfeição do lado de fora. Com toda a
impaciência que tivera para me conquistar, Jax estava se demorando
bastante agora que o conseguira.
Seus lábios roçaram minha orelha, e ele sussurrou: “Mostra pra mim. Me
deixa sentir você”.
Movendo-me na direção dele, envolvi as pernas em sua cintura e o
apertei contra mim, gozando com um gemido rouco e dolorido, tremendo
de prazer à medida que meu sexo se tensionava em espasmos
desesperados ao redor dele.
“Assim”, ele me incentivou com a voz rouca, voltando a se mexer. “Ah,
que delícia.”
Segurei firme, suas investidas controladas mantendo-me excitada e
sedenta. Senti meu corpo se contorcer, preparando-se para outro orgasmo.
“Você está tão duro”, sussurrei, adorando a sensação dele escorregando
dentro de mim.
“É por sua causa.” Jax me beijou, as mãos apertando as minhas à medida
que seus quadris se projetavam de novo e de novo, reivindicando-me com
investidas profundas e demoradas. “Gia… você vai me fazer gozar.”
Ele acelerou o ritmo, então ficou tenso, a cabeça jogada para trás ao ser
dominado pelo orgasmo. Fiquei assistindo, admirada, aos tremores que
tomaram seu tronco musculoso. Com os olhos bem fechados, Jax gemeu
meu nome, tensionando o pescoço e gozando com tanta intensidade que
atingi o clímax novamente.
Virando a cabeça, enfiei os dentes em seu antebraço, abafando assim os
gritos, à medida que a ânsia se intensificava dolorosamente, para então
abrandar e se transformar num anseio quente e doce.
“Gia.” Ele me abraçou com força, aninhando o rosto suado no meu.
Envolvida em seus braços, ainda sentindo-o dentro de mim, soltei a
mordida e apertei os lábios contra a marca que acabara de deixar,
desejando que fosse possível ser tão fácil marcá-lo como meu.
7

Jax rolou para o lado, ficou de costas no chão e gemeu. “Não consigo
sentir as pernas.”
Eu ri, sabendo bem como ele se sentia. Estava com o corpo inteiro
formigando, como se tivesse acordado de uma longa hibernação.
O que infelizmente era verdade.
Ele virou a cabeça para mim. Eu o fitei.
“Oi”, disse, pegando minha mão e levando-a aos lábios.
“Oi.” Fiquei examinando-o, observando aquele calor gentil em seus olhos
do qual sentira tanta falta.
“Desculpe não ter conseguido chegar à cama.”
“Tudo bem.” Sorri. “Não tenho do que reclamar.”
“Levo você assim que conseguir andar de novo.”
“Está ficando velho, Rutledge?”, provoquei, sabendo que, aos vinte e
nove, ele estava no auge.
Jax fitou o teto elaborado. “Estou fora de forma.”
“Ah, tá.” Cobri o rosto com o braço para esconder minha reação. Não
podia pensar nele com outra mulher. Ficava louca diante da ideia. “Eu leio o
jornal, sabia?”
“Sair com uma mulher e transar com ela são duas coisas completamente
diferentes.” Ele se aproximou de mim. Segurando meu pulso, Jax puxou
meu braço e expôs meu rosto. “Mas é bom saber que você ficou de olho.”
“Não fiquei.”
Sua covinha apareceu novamente. “Ah, tá.”
Ele ficou de joelhos e sentou nos calcanhares, tirando a camisinha. Seus
movimentos eram tranquilos e indiferentes, mas a visão de seu pau
semiduro e brilhando de sêmen fez minha boca salivar.
Ergui o tronco, apoiando-me nos cotovelos, e lambi os lábios. “Vem
aqui.”
Jax respondeu na mesma hora, o membro endurecendo e aumentando
de tamanho. “Gia.”
Movi-me em direção a ele.
“Pro chuveiro”, disse Jax asperamente, colocando-me de pé e
estendendo a mão para mim. “Se não tomar um banho vou ficar com gosto
de borracha.”
“Não me importo.”
“Mas eu, sim.” Jax me colocou de pé. “Depois que entrar na sua boca, vou
querer ficar um tempo lá.”
Olhei para ele, analisando-o, achando-o incrivelmente atraente ali de pé
na minha frente — alto e de peito nu, a calça jeans aberta e arregaçada até
o chão, o pênis exposto curvando-se em direção ao umbigo. Nunca tinha
visto nada tão descaradamente masculino e erótico.
Esse era o Jax que eu conhecia. E amava.
“Olhe para você”, murmurou ele, deslizando o polegar ao longo do meu
lábio inferior intumescido. “Tão sensual. Tão gostosa e bonita.”
“Tá bom.” Minha boca se curvou em desagrado enquanto eu avaliava
minha situação. Tinha uma das pernas presa na calça, a calcinha rasgada e a
camiseta enrolada acima dos seios. Sem dúvida, meu cabelo estava uma
bagunça. “Falou como um homem que acabou de ter um orgasmo e quer
outro.”
“Não faça isso.” Ele ergueu meu rosto pelo queixo. “Não pode me pedir
para dar tudo o que tenho e depois não me levar a sério. Não é justo.”
“Não”, concordei. “Não é justo, é?”
Pela forma como ele apertou a mandíbula, sabia que tinha entendido o
recado — ele não me levara a sério… e depois me abandonara.
Jax agachou-se para puxar minha calça, liberando minha perna. Em
seguida, pegou minha mão e contornou comigo a mesinha de centro de
vidro e ferro forjado.
Entramos num quarto com uma cama king-size em que havia uma
cabeceira de madeira escura que combinava com a escrivaninha e o
armário. Havia uma área de estar perto de uma janela que se estendia até o
teto alto, e a entrada para o banheiro era um arco maravilhosamente
simples.
Quando Jax acendeu a luz, tentei disfarçar meu assombro, mas fiquei
feliz por ele não estar olhando para mim, pois tinha certeza de que havia
falhado. O cômodo era enorme, com um chuveiro que poderia acomodar
três pessoas e uma banheira de hidromassagem. Havia uma televisão
embutida na parede, e a pia dupla estava numa peça da mesma madeira
maciça que os móveis do quarto.
Tive que perguntar. “Você reservou este quarto achando que ia me
trazer aqui?”
“Torcendo por isso.” Jax me soltou para ligar o chuveiro. Deixei escapar
um assobio, impressionada com o imenso chuveiro embutido no teto, que
produzia um jato para baixo como o de uma cachoeira. Ele me fitou com um
sorriso que me encantou. “Posso terminar de desembrulhar você?”
Uma dor aguda tomou conta de mim. Gia, você é meu presente depois de
um dia longo e cheio. Uma das muitas coisas que ele me disse em Las Vegas
e que fizeram eu me apaixonar por ele.
Perguntei-me, de repente, se esse era só seu jeito, e se ele falava aquilo
para qualquer uma com quem estivesse. Talvez Jax não tivesse ideia de
como bobagens açucaradas como aquelas eram capazes de virar a cabeça
de uma mulher. Ou talvez tivesse. O que me deixava triste.
“Ei.” Ele ergueu meu queixo. “Não fique com essa cara. Estou aqui. Por
inteiro.”
“Por quanto tempo? Esse fim de semana?” Afastei-me, com uma
sensação incômoda de autopreservação me avisando para sair enquanto
estava por cima. “Não posso fazer isso, Jax.”
Ele apertou a mandíbula. “Gia…”
Virei-me e corri para o quarto para pegar minhas roupas.
“Que merda é essa?”, exclamou ele, segurando-me pelo braço assim que
atravessei o batente da sala de estar. “Você quis isso.”
“Foi um erro.” Um erro terrível. Estava mergulhada demais em meus
sentimentos para achar que seria só uma despedida.
“Erro coisa nenhuma.” Jax me puxou, obrigando-me a ficar de frente
para ele, e me segurou pelos braços, impedindo que escapasse. “Por que fez
isso? Você queria vir aqui. Queria dormir comigo.”
“Eu queria você que me comesse”, rosnei, odiando ver o jeito como ele
recuou diante das minhas palavras. “Queria acabar logo com essa tensão
para você começar a falar a verdade. Não quero mais essa sua conversinha
fiada. É tudo mentira. Você é uma mentira.”
“Do que está falando? Isto aqui é a mais absoluta verdade, e você sabe
disso.”
Soltei-me de seus braços e entrei na sala de estar, sentindo-me uma
idiota, só de meias e camiseta do Rossi’s. “Não tenho tempo para isso.”
“Tempo para quê? Para mim?” Com passadas largas, Jax logo me
alcançou. Chegou primeiro à minha calça e pisou na barra da perna,
prendendo-a ao chão. Com os braços cruzados, exibia todo o poder bruto
de seu corpo perfeito. Não ligava a mínima para a calça ainda desabotoada,
embora em algum momento tivesse subido a cueca.
“Não tenho tempo nem paciência para fingir que estamos construindo
uma coisa que nunca vamos ter.” Prendi o cabelo, tentando me concentrar
em manter o controle — pelo menos por fora.
Sua carranca se intensificou. “Quem está fingindo?”
Joguei as mãos para cima. “Por que você fala comigo desse jeito? Toda
essa baboseira sobre me desembrulhar e sentir minha falta e… tudo isso!
Por que não pode simplesmente ser honesto sobre o que a gente tem, sobre
o que a gente sempre teve? Nada além de sexo!”
“Isso não é só sexo”, rosnou ele, aproximando-se. “Ninguém se apaixona
só pelo sexo.”
“Ah, então eu tenho que me apaixonar por você? Isso faz você se sentir
melhor?” Para meu horror, senti os olhos ardendo com lágrimas. “Você já
conseguiu o que queria. Não entendo por que tem que agir como se isso
fosse um namoro. Não complique uma coisa que deveria ser simples!”
“Nunca foi simples com a gente.” Ele exalou bruscamente e esfregou a
nuca com a palma da mão. “O que quer de mim, Gia?”
“Acho que a gente devia se concentrar no que você quer de mim, já que o
que eu quero é irrelevante.”
Ele fechou a cara. “Não é verdade.”
Levei as mãos à cintura. “Quero um compromisso, uma chance, um
esforço para tentar descobrir até onde as coisas podem ir entre a gente.
Você já arruinou isso. Então só restou o que você quer.”
“Quero você.”
“Você quer me comer”, corrigi. “Por que não pode ser honesto quanto a
isso?”
“Gia.” Jax balançou a cabeça e soltou um suspiro. “Sou um idiota com
todo mundo na minha vida. Você é a única pessoa a quem dou valor. Não
tire isso de mim.”
“Está vendo? É disso que estou falando! Por que você tem que falar esse
tipo de coisa? Por que não pode simplesmente dizer que gosta de mim ou
sei lá o quê…?”
“Porque é mais do que gostar de você. Você me deixa louco. Só de pensar
em você eu fico excitado. Vejo você e esqueço quem sou. Não tem ideia do
que faz comigo.” Sua voz tornou-se perigosamente grave. “Você me faz
querer fazer sexo o tempo todo, Gia. Minha vontade é colocar você embaixo
de mim e enfiar meu pau fundo até secar. Você me deixa sedento…”
“Cala a boca!” Eu estava tremendo, e minha fome se intensificava numa
reação às ondas causticantes de desejo que emanavam dele.
“Você sabe do que estou falando. Também sente o que sinto. Me deixa te
dar isso.”
“Não!” A recusa doeu fundo, como se eu estivesse imobilizando parte de
mim com arame farpado.
“Me dê a noite de hoje.” Ele pegou minha mão e apertou com muita
força. “Uma noite.”
Ri baixinho, mesmo com a visão ficando turva. “Uma noite para depois
você me esquecer? Que clichê, Jax. Isso nunca funciona. Sexo bom não deixa
de ser bom só porque você fez demais.”
“Então vamos ter uma noite de sexo bom. Nós dois queremos isso.
Precisamos disso.”
“Não preciso disso.” Tentei puxar a mão de volta, mas ele não deixou.
“Duvido.”
Só a verdade ia funcionar com Jax. Ele lia meus pensamentos com muita
facilidade, era um especialista em focar na fraqueza do adversário e
explorá-la ao máximo.
“Não posso fazer isso”, repeti, sustentando seu olhar. “Não sou como as
mulheres com quem você está acostumado a transar. Não posso fazer isso
por diversão ou para matar a vontade. Não com você. Na última vez, eu me
apaixonei. Não posso fazer isso de novo.”
“Você ainda está apaixonada”, respondeu ele, sem rodeios. “Me dê uma
chance de fazer você parar de se arrepender disso.”
Dei as costas para ele, e corri o olhar pela sala de estar, que era maior do
que o meu quarto. “Quero que você me leve de volta para o Rossi’s.”
“Então temos um problema.” Jax me abraçou por trás. Com os lábios
junto ao meu pescoço, sussurrou: “Quero levar você para a cama. E se você
quiser, fico caladinho”.
Fechei os olhos, absorvendo a sensação dele atrás de mim. O calor de
seu corpo, o cheiro de sua pele agora almiscarada pelo suor e pelo sexo, a
carícia suave de sua respiração.
“Você deixou o chuveiro ligado”, falei, agarrando-me a algo vazio e muito
menos pessoal.
“Eu desligaria se não estivesse com medo de você fugir enquanto não
estiver olhando.”
“Você não pode me manter presa aqui.”
“E não quero. Quero que você fique por vontade própria. Quero a Gia
que exigiu que eu a trouxesse aqui e desse a ela o que queria.”
Olhei para ele por cima do ombro e vi seus olhos brilhando para mim
por entre as sombras que acariciavam seu lindo rosto. Senti a pulsão
dentro de mim, aquela atração inexorável entre nós. Não sabia como
eliminá-la ou ignorá-la. Alguma piada cósmica doentia tinha me
programado para desejar Jax com todas as fibras do meu ser.
Será que eu tinha o que era preciso para convencê-lo a ficar? Eu tinha o
que era preciso para fazê-lo querer mais… já era um começo.
“Uma noite não é suficiente”, disse, em voz baixa.
“Graças a Deus. Só falei isso para ganhar tempo e convencer você a
ficar.”
“Você não pode simplesmente ir embora sem se despedir, como da
última vez.” Virei-me em seus braços. “Quando cansar de mim, quero que
me olhe nos olhos e diga que acabou.”
Jax estreitou os lábios, mas fez que sim com a cabeça.
“Quero exclusividade.”
“Sem dúvida! Não vou dividir você com ninguém.”
“Estou falando de você”, retruquei, secamente.
“Isso é óbvio.” Ele segurou meu rosto. “O que mais?”
“Meus horários são irregulares. Meu trabalho é prioridade.”
“Eu me encaixei na sua vida antes… posso fazer isso de novo.”
Segurei-o pelos pulsos. Podia seguir em frente com minha lista de
exigências, mas o que precisava naquele momento era de espaço para
colocar as coisas em perspectiva. Precisava de tempo para me recompor,
recuperar o fôlego e minha autoconfiança; só então talvez fosse capaz de
concluir qual seria o melhor passo a dar. “Quero que você desligue aquela
merda de chuveiro e me leve para jantar. Estou com fome.”
Jax riu, mas sua gargalhada soou forçada. “Você sempre fica faminta
depois do sexo. A gente não pode tomar um banho antes?”
“Não.” Aproximei-me dele. “Quero que você fique com meu cheiro na
pele durante as próximas horas.”
Ele soltou um gemido. “Você quer me punir.”
“É”, concordei. “Isso também.”


Quando Jax e eu voltamos ao Rossi’s, Nico me lançou um olhar de quem
entendeu tudo. Mostrei a língua para ele.
Escolhemos uma mesa e pedimos um vinho shiraz. Pedi lasanha para
mim, Jax foi de pollo alla cacciatora. Enquanto esperávamos pela comida,
eu o examinei, admirando o jeito como as pequenas velas na mesa o
cobriam com um tom de dourado. Parecia mais calmo, mais relaxado, e seu
rosto não poderia estar mais bonito.
Tinha aquela expressão de quem acabou de se esbaldar na cama, um ar
de que, embora estivesse saciado, antecipava os prazeres que estavam por
vir. Eu adorava ser a responsável por aquilo, o que também me deixava
morrendo de raiva. Porque não eram apenas as coisas que ele dizia que
representavam um perigo: tudo a respeito de Jax me tornava vulnerável. O
efeito que ele tinha em mim era em grande parte devido ao efeito que eu
tinha nele.
Eu o fazia feliz. Eu o deixava satisfeito. E era difícil não achar que isso
me tornava especial, mesmo não sendo boba.
“Regina é sua madrasta?”, perguntei, tentando pensar em outra coisa.
“É.” Ele fitou a própria taça.
“Como foi isso?” Será que ele ia falar de Ian…?
“Minha mãe morreu dez anos atrás.”
“Ah.” Ver o modo como ele se fechou me deixou em alerta — aquele era
um assunto espinhoso. “Sinto muito.”
“Não tanto quanto eu na época”, murmurou Jax, antes de virar a taça
quase cheia em três goles. Ele a encheu novamente e ergueu os olhos para
mim. “Sua mãe parece ótima.”
Assenti. “Ela está feliz. Os filhos estão bem de vida, o negócio vai bem, e
em breve vai virar avó.”
“Como Angelo está lidando com a ideia de virar pai?”
“Bem. Atrapalhou os planos dele de abrir outra filial do Rossi’s, mas
acho que é melhor assim. Denise já tem um negócio, então acho que seria
puxado demais os dois tomarem conta de dois empreendimentos e um
casamento novo.”
“Você gosta dela?”, perguntou Jax, alisando a haste da taça.
“Muito. Ela é ótima.” Olhei para a mesa ao lado, uma família de quatro
pessoas discutindo animada como a comida estava boa. “Acho que vi
Allison no evento ontem à noite. Como ela e Ted estão indo?”
Para falar a verdade, não ligava a mínima para como estavam seu primo
e sua mulher rabugenta, mas a menção à mãe de Jax me fez perceber que
ele sabia mais sobre mim do que eu sobre ele. Tirando seus parentes
políticos que apareciam nos jornais, Allison era a única que eu conhecia.
“Bem.” Ele deu outro gole. “Ela é tudo de que ele precisa para concorrer
a governador na próxima eleição.”
“Que bom que ela o apoia.”
Jax soltou uma risada de desdém. “Os dois mal se falam. Mas Allison
sabe lidar com a imprensa e é muito ativa no planejamento da campanha.
Ted escolheu bem. Ela combina com ele exatamente como Regina com meu
pai.”
“Achei que o estereótipo do casamento como uma parceria de negócios
era coisa de Hollywood.”
“Não.” Jax esticou o braço e alisou de leve as costas da minha mão. “É
preciso lidar com relacionamentos de forma pragmática. Casar por amor
nunca dá certo. Meus pais se amavam e eram infelizes. Agora, Regina e o
meu pai… Eles vão dar certo. Ela sabe as regras do jogo.”
“Ele parece gostar dela de verdade.”
“Depois do que passou com minha mãe, ela deve ser mesmo fácil.” Jax
deu outro gole e se recostou na cadeira enquanto nossos pratos eram
servidos.
A mudança de humor foi outro alerta. Ele não parecia à vontade quando
falava da mãe. Eu teria que ser cuidadosa ao abordar o assunto. “Foi Ian
que apresentou os dois, não foi?”
“O que fez dele um homem de sorte, não é?”, devolveu Jax, com um tom
de sarcasmo na voz.
“Porque ele resolveu cobrar a dívida e você apareceu? Você não pode
salvar o cara, Jax.”
“Não é para isso que estou aqui.” Ele deu de ombros, com uma expressão
fria nos olhos. “Meu papel é manter Lei Yeung sob controle. E isso eu posso
fazer.”
Nico se aproximou com um prato de macarrão fumegante nas mãos.
“Posso me juntar a vocês?”
Jax empurrou a cadeira diante dele com o pé. “Quanto mais Rossi,
melhor.”
Infelizmente, quando mais Rutledge, mais assustador. E fora isso que
tornara Jax o homem que era.
Perdi-me em meus pensamentos enquanto Jax e Nico conversavam
descontraídos, o que me fazia lembrar como ele não tinha qualquer
dificuldade para se encaixar na minha vida… e quão pouco à vontade eu me
sentia na dele.
8

Depois do jantar, Jax e eu seguimos para seu carro alugado. Antes de


entrar, parei por um instante. “Se eu voltar para o hotel agora, você vai ter
que me levar para o apartamento de Nico quando ele sair do restaurante.”
Jax descansou o braço na porta aberta do carro. “Você não vai passar a
noite comigo? Queria que passasse.”
Eu também queria. Uma vez, havia muito tempo, largara tudo por Jax e
acabara ficando magoada com ele por causa disso. Podia não ter aprendido
a ficar longe dele, mas agora sabia uma coisa ou outra sobre manter uma
relação mais saudável. “Vim para cá para passar um tempo com meu
irmão.”
Ele estufou o peito e expirou profundamente. “Justo. Pode reservar uma
hora para ficar comigo?”
Estávamos muito próximos um do outro, espremidos no espaço entre o
carro e a porta, mas era como se houvesse um abismo entre nós. Fora eu
quem criara aquilo, mas ainda desejava que ele não existisse. “O que você
tem em mente?”
“Qualquer noite durante a semana e, com certeza, o fim de semana que
vem.”
Assenti, então entrei no carro. Jax bateu a porta e contornou o carro pela
traseira, dando-me um tempo para conjecturar como o restante da noite ia
transcorrer. Mais sexo. Mais Jax. Ansiava pelos dois, mas seria bom não ter
tantas dúvidas e reservas. Sentia falta de como éramos descontraídos. Mas
acho que era uma ilusão minha. Jax sabia que ia acabar desde o início.
Ele entrou no carro e fechou a porta, mas não deu a partida de imediato.
“Escute”, começou, “você deve saber que isso também é difícil para
mim.”
“Mas você sabe o que está acontecendo”, argumentei, calmamente. “Eu
não tenho ideia.”
Jax virou-se em seu assento e estendeu o braço, segurando-me pela nuca
e me puxando na sua direção. Fechei os olhos, antecipando o momento em
que seus lábios entreabertos tocariam os meus. Sua língua delineou o
contorno da minha boca, uma carícia demorada que fez eu me aproximar
dele em busca de mais.
“Tão doce”, murmurou Jax. “Vou colocar você na cama e lamber seu
corpo dos pés à cabeça.”
“Você é bom nisso”, respondi, ofegante, sentindo um tremor de
ansiedade varar meu corpo.
Jax se afastou, como que para ligar o carro, então voltou na minha
direção, tomando meus lábios num beijo ardente, molhado e voraz. Ele me
comeu com a boca, a língua movendo-se fundo e veloz dentro da minha.
Estava tão sedenta quanto ele, a mão deslizando entre seu cabelo,
segurando os fios pela raiz à medida que o saboreava num frenesi. Ele
envolveu um de meus seios com a mão, apertando-o, envolvendo o mamilo
dolorido com o polegar e o indicador e puxando-o ritmicamente. Soltei um
gemido, excitada e faminta.
“Nossa”, murmurou ele, soltando-me e voltando bruscamente para o
assento. “Quero você aqui. Agora.”
Fiquei mais do que tentada pela ideia. Se estivéssemos em qualquer
outro lugar que não o Rossi’s, talvez tivesse subido em cima dele e
concretizado sua vontade.
“Pisa fundo nesse acelerador”, falei para ele.
Jax soltou uma risada rouca e deitou a cabeça no encosto do banco para
olhar para mim. “Tudo bem. Mas, quando estivermos na cama, vou bem
devagar.”


“Jax!” Com as mãos agarradas aos lençóis, eu tinha o corpo arqueado,
tentando escapar da tortura de sua boca, embora quisesse mais. Havia
esquecido o que ele podia fazer comigo, como me despia para chegar ao
fundo, como seu controle completo de meu corpo me deixava disposta a
fazer ou dizer qualquer coisa em troca do prazer que ele podia
proporcionar.
Jax me segurava pelas coxas, a boca colada em meu sexo pulsante, a
língua brincando comigo. As carícias aveludadas em meu clitóris eram de
tirar o fôlego, e a necessidade de alcançar o clímax era tão violenta que eu
estava empapada em suor, as pernas tremendo pelo esforço.
“Por favor”, implorei, rouca, apertando os seios. Os mamilos estavam
inchados e sensíveis pelos longos minutos que Jax passara se dedicando a
eles com puxões lentos e calculados da boca.
Podia sentir seu cabelo sedoso roçando minha pele. Ele ergueu a cabeça.
“Por favor o quê?”
“Eu quero gozar.”
“Só mais um pouquinho.”
“Por favor!” Enfiei a mão entre as pernas, desesperada para chegar ao
alívio.
Jax mordiscou meus dedos, e eu gritei, ofegante.
Com a cabeça baixa, sua língua traçava caminhos por minha pele
inchada. Ele circulou meu clitóris, então brincou junto à entrada mais
abaixo.
Agarrei sua cabeça, segurando-o perto de mim e me esforçando para
erguer os quadris contra sua boca. Mas Jax era muito forte e me imobilizou
com facilidade, o hálito quente junto à minha pele sensível. Ele sugava com
carinho, movendo-se com vagar ao longo de minha abertura e fazendo a
pressão exata para me enlouquecer.
“Me deixa virar”, arfei. “Me deixa chupar você.”
Sua risada soou tão divertida que me deixou arrepiada.
Então ele enfiou a língua dentro de mim.
“Jax!”
Ele segurou minha bunda e me levantou, inclinando-me em sua boca
incansável. Sua língua me fodia depressa, os mergulhos rasos em meu sexo
trêmulo me conduzindo direto ao orgasmo. Seu rosnado vibrou junto ao
meu clitóris, seu prazer alimentando o meu.
Agarrei seu cabelo, gemendo, cravando meus calcanhares no colchão
para me mover contra seus lábios.
“Não pare”, arfei, tão perto agora, todo o meu corpo formigando.
Jax ficou de joelhos, erguendo-me. Minhas pernas estavam
arreganhadas, dando-lhe acesso ilimitado. Jax me devorou, faminto e
ganancioso. O prazer não me deixava respirar. As lambidas frenéticas
contra os tecidos sensíveis inundaram meus sentidos. Eu fiquei
observando, exatamente como ele queria que eu fizesse. A visão de sua
cabeça e de seus cabelos escuros entre as minhas coxas, as investidas
rápidas de sua língua, a beleza de seus bíceps contraídos por sustentar meu
peso… era tudo insuportavelmente erótico.
Jax era lindo. Tudo o que sempre quis. E a necessidade feroz estampada
em seu rosto me avisava que ele ia me conduzir ao meu limite antes de
chegar ao fim.
Outro gemido irrompeu de minha garganta seca. “Ah, Jax… Vou gozar.”
“Espera”, ordenou ele. “Quero que goze com meu pau dentro de você.”
Soltei um grito frustrado por entre os dentes enquanto ele me colocava
de volta na cama e se afastava para pegar um preservativo. Um segundo
depois, já estava de camisinha, montando em mim, mas demorou demais.
Eu estava sem paciência. Agarrei-o entre os braços e as pernas e o puxei na
minha direção, erguendo-me para ele.
Jax me deixou trazê-lo para junto de mim, mantendo as mãos
espalmadas na cama ao lado de meus ombros, os bíceps grossos rijos.
Então colocou uma das mãos entre nós, para segurar o pênis e acariciar
minha pele escorregadia. Engoli em seco. Seus olhos escureceram, as
bochechas corando à medida que abria minha entrada sedenta.
“Jax”, rosnei.
Ele desceu com força, entrando fundo num único movimento, fazendo-
me gritar ao ser dominada pelo orgasmo. Com o pescoço arqueado e os
olhos apertados, permaneci rígida, sentindo o prazer correr por meu corpo,
meu âmago se tensionando com aquele pau grosso e poderoso dentro de
mim.
“Assim”, gemeu ele, cerrando os punhos junto aos lençóis e
impulsionando o membro rijo e comprido em meu corpo trêmulo. O clímax
se intensificou, exacerbado pelas investidas rítmicas de suas pélvis contra
meu clitóris… a sensação de sua ereção pulsando implacável.
Eu me contorci, perdida, completamente entregue a ele, lutando para me
segurar, apesar de querer me render.
“Isso.” Os lábios de Jax estavam junto da minha orelha, sua respiração
quente e acelerada. “Enterra os dedos em mim.”
Minhas unhas agarravam suas costas molhadas de suor, sentindo os
músculos se flexionarem à medida que seu corpo trabalhava para satisfazer
o meu. Seu quadril se enrijecia e relaxava, suas pernas tensionavam e
intensificavam o movimento.
Ele enfiou os dentes no lóbulo da minha orelha e gemeu, seu abdome
trabalhado contra meu estômago, o suor dele e o meu grudando-nos.
“Os barulhos que você faz”, arfou Jax. “Me deixam ainda mais duro.”
E ele estava duro. Feito pedra.
“É tão bom.” Tentei engolir, com a garganta completamente seca. “Jax… é
bom demais.”
“Você foi feita para mim”, disse ele, intensamente. “Ninguém mais, Gia.
Você é minha.”
E a cada investida ele provava seu ponto, devorando-me tão
completamente que eu não podia pensar em mais nada além da
necessidade de gozar mais uma vez.
Meu corpo já não me pertencia.
Jax era o único capaz de fazer aquilo comigo… tirar-me do sério… virar
um bicho. Na cama com ele, não era eu mesma, era dele. Pronta e disposta a
fazer tudo o que ele quisesse, a aceitar qualquer coisa que me oferecesse,
sabendo que me faria gozar de novo e de novo…
Gemi baixinho, sentindo-o aumentar seu aperto, os músculos
enrijecendo à medida que o prazer aumentava.
Jax baixou o rosto úmido contra o meu. “Tão quente e apertadinha…
Gia.”
Percebi que estava se agarrando a mim tão desesperadamente quanto
eu a ele, aquela urgência contagiando cada fôlego e cada toque. Jax estava
me comendo como se fosse morrer se tivesse que parar, como se fosse
possível me foder forte o suficiente para mergulhar ainda mais fundo em
mim.
Quando o orgasmo me atingiu, meus olhos encheram-se de lágrimas,
deixando-me sem fôlego e embaçando minha visão. Um ruído grave que eu
era incapaz de reconhecer como meu escapou.
“Ah, linda.” Ele me beijou, absorvendo o som, desacelerando seus
movimentos até estar apenas movendo os quadris, mexendo a ereção
pulsante dentro de mim. “Adoro o som que você faz quando goza. Assim sei
o quanto você gosta, o quanto ama meu pau… minha boca… minhas mãos.”
Eu o amava muito.
Estava esparramada sob seu corpo, arreganhada e possuída, e Jax
parecia um sonho. Algo que eu havia conjurado.
“Sinta meu corpo”, sussurrou ele, erguendo o tronco para olhar para
mim. Seus olhos estavam escuros, o rosto corado, a pele tensionada pela
luxúria, os ângulos esculpidos de seu rosto. “Dentro de você…” Ele moveu o
quadril. Em seguida, pegou minha mão e a levou até seu peito molhado: “E
você dentro de mim”.
“Jax…”
Ele tomou minha boca, beijando-me intensamente, a língua se
esfregando na minha. Seus quadris moviam-se devagar, o que me permitia
sentir cada centímetro pulsante de seu corpo. A carícia tranquila e
deliberada sobre os nervos sensíveis me mantinha excitada e ansiosa. Ele
se lembrava muito bem do meu corpo, sabia exatamente como me manter
em ponto de bala.
“Senti saudade, Gia”, sussurrou ele, em meio ao beijo. “Você também
sentiu minha falta?”
Quando não respondi, Jax ajeitou os fios molhados do meu cabelo e me
examinou em busca de uma resposta.
Meu sexo latejava ao longo de seu membro. Com os olhos fechados e os
lábios entreabertos, Jax tensionou o corpo. “Ainda não. Não vou gozar
agora.”
“Por favor…” Eu estava implorando e não ligava a mínima. Só queria que
ele gozasse. Queria isso mais do que qualquer coisa.
“Não vou apressar.” Ele levou a mão às costas para pegar meu pulso e
estendeu meu braço direito. Com a outra mão, apertou minha bunda,
erguendo-me num impulso suave e fácil. “Humm… perfeito. Sempre foi
perfeito.”
Eu queria provocá-lo, jogar o jogo com tanta frieza quanto ele, mas não
era capaz.
“Pare de pensar e sinta”, murmurou Jax, mordiscando o canto da minha
boca. “Me deixa fazer você se sentir bem. É tudo o que quero. Fazer você se
sentir bem.”
Virando a cabeça, mordi seus lábios e deixei que ele fizesse o que queria.
*

Nico me observou enquanto eu me acomodava num dos bancos do bar
do Rossi’s depois do expediente, e eu tinha certeza de que notara que
estava sem maquiagem, o que traía a chuveirada que havia tomado meia
hora antes. Meu irmão estava limpando o bar, mas parou e pegou uma
garrafa de cerveja, abrindo-a antes de deslizá-la para mim.
“Tinha esquecido como gosto de Jax”, ele disse, puxando conversa.
Concordei com a cabeça. Também gostava de Jax. O problema era que
não sabia qual Jax era o verdadeiro.
“Vocês voltaram?”
“Não, é temporário. Mas, desta vez, sei as regras do jogo.”
“Talvez não goste tanto dele assim.” Nico abriu outra garrafa e deu um
longo gole. “Ele está apaixonado por você, sabia?”
“Ele sente tesão por mim”, corrigi, secamente, descascando o rótulo da
garrafa. “E, por mim, tudo bem, posso viver com isso. Minha dificuldade é
lidar com as outras coisas: o jeito como ele fala comigo às vezes, como se
fosse mais do que isso, e a piração na minha cabeça sobre por que foi
embora e agora voltou.”
“Minha oferta de dar uma surra no sujeito para ver se ele cria juízo
ainda está de pé.”
Sorri. “Talvez fosse mais fácil e eficaz fazer com que eu criasse um pouco
de juízo.”
“Também posso fazer isso.” Nico bateu sua garrafa contra a minha, num
brinde. “Mas você já é muito ajuizada. Sabe o que está fazendo. Só queria
não estar fazendo. Ele obviamente não tem ideia, pois se tivesse não
correria o risco de deixar você escapar. Nunca vai encontrar alguém melhor
que você.”
“Ah, por favor, não venha com esse papo para cima de mim. Não vou
aguentar.” Não era brincadeira. Estava me sentindo chorosa e sentimental.
Sexo com Jax me deixava assim.
Nico sorriu. “Tudo bem. Levanta essa bunda da cadeira e me ajuda a
limpar este lugar pra gente poder sair logo daqui.”
Desci do banco com um suspiro. “Droga. Devia ter aceitado o papinho.”


No domingo de manhã, acordei com uma batida insistente na porta.
Rolei para fora do sofá com um palavrão e tropecei, decidida a praguejar
contra quem fosse.
Ao usar o olho mágico, no entanto, o que vi foram rostos queridos.
Soltei a corrente de segurança e girei a maçaneta para abrir a porta para
meus irmãos e Denise. “O que aconteceu?”, resmunguei.
“Pois é. O que aconteceu?” Nico surgiu do quarto vestindo uma calça de
moletom que mal se segurava na cintura dele. Irmão ou não, eu sabia que
ele era muito bonito. “Vocês sabem que horas são?”
Vincent foi o primeiro a entrar. “Hora de acordar.”
Angelo veio logo atrás de Denise, segurando sua mão. “Você deixou
Gianna dormir no sofá? Sério?”
“Eu ofereci a cama.” Nico cruzou os braços. “Ela não quis.”
“Mais que compreensível”, disse Vincent. “Se aquela cama falasse, teria o
próprio reality show.”
“Deixe de ser ciumento”, retrucou Nico. “Tenho certeza de que sua cama
um dia vai ver algum tipo de ação. Apesar de tudo, você ainda é um Rossi.”
“O que estão fazendo aqui?”, interrompi. Estava feliz de vê-los. Ter
minha família ao redor trazia de volta um pouco da normalidade que
perdera na última noite na cama de Jax. Estava me sentindo como Gianna
Rossi de novo — sem acreditar que era a mulher se contorcendo, gemendo
e unhando que gozara meia dúzia de vezes em uma questão de horas. Era
como se eu fosse duas pessoas diferentes.
E você está com raiva de Jax por ter duas caras…
“Estamos esperando vocês se vestirem pra gente ir tomar café”,
respondeu Denise. Seu cabelo estava preso em duas trancinhas que
emolduravam seu rosto branco. O batom combinava com o tom de rosa do
cabelo, fazendo-a parecer algum tipo de heroína de mangá. “Estou
morrendo de fome.”
“Vocês têm problemas”, murmurou Nico. “É cedo demais para comer ou
fazer qualquer coisa.”
“São nove horas”, observou Vincent.
Nico me lançou um olhar e falou com a voz arrastada: “Então”.


Ao meio-dia, já tínhamos comido e estávamos na quadra de basquete do
condomínio. Modéstia à parte, eu era muito boa — tanto que tinha
conseguido uma bolsa parcial na Universidade de Nevada-Las Vegas. Claro
que tudo o que sabia havia aprendido com meus irmãos.
Tinha acabado de fazer uma cesta de três pontos e estava dispensando
as provocações e as zombarias com um aceno de mão quando avistei Jax
caminhando na nossa direção. Parei onde estava, admirando suas pernas
compridas expostas pela bermuda e a camiseta folgada. Estava de óculos
escuros e girava as chaves do carro no dedo. Quando Nico jogou a bola para
ele, Jax pegou-a e me presenteou com seu sorriso e suas covinhas.
“Oi”, disse, aproximando-se de mim e pressionando os lábios contra
minha testa corada.
“Você nos achou.” Uma onda quente de prazer passou por mim. Ele
havia me pegado e me deixado no Rossi’s, portanto, encontrar o
condomínio de Nico havia exigido iniciativa e empenho.
“Senti falta de acordar do seu lado”, ele sussurrou contra minha pele.
Os óculos de sol tornavam impossível ler seu olhar. Peguei a bola e andei
com ele, para recuperar o fôlego.
“Rutledge”, Angelo cumprimentou, irritado.
“Segura a onda, nervosinho”, advertiu Denise, levantando da cadeira que
seu marido tinha arrastado da área da piscina. “Oi, sou Denise. Mulher do
Angelo.”
Jax apertou a mão dela. “Prazer.”
“Ouvi muito a seu respeito”, comentou minha cunhada. “Só coisa ruim.
Espero que mostre que eles estavam errados.”
Jax me fitou de sobrancelhas arqueadas.
“Ah, ela não fala uma vírgula sobre você”, continuou Denise, fazendo-me
sorrir. Ela sabia dar suas alfinetadas.
Vincent e Angelo apertaram relutantes a mão de Jax. E então Vincent
perguntou: “A gente vai jogar ou o quê?”.
“Eu entro quando der”, disse Jax, surpreendendo-me.
Nico passou a mão pelo cabelo. “Entre no meu lugar, no time da Gianna.
Estou exausto, graças a umas visitas que resolveram aparecer cedo
demais.”
“Viadinho”, murmurou Angelo.
“A gente estava destruindo vocês.”
“Porque a gente estava pegando leve”, respondeu Vincent, segurando a
bola que arremessei na direção dele. “Já que ninguém aguenta ouvir sua
ladainha.”
“Vocês não precisavam ouvir nada, era só ter ficado em casa.”
“Já chega”, exclamei. “Vamos jogar.”
“Assim que eu gosto”, disse Jax com um sorriso.
Recomeçamos o jogo. E Jax era bom. Muito bom.
Jogava basquete de vez em quando. Não como você. Nunca me dediquei
muito.
Lembrei-me das palavras que dissera um dia, sussurradas junto ao meu
ouvido depois do sexo, enquanto ficávamos abraçados. Ele obviamente
havia treinado desde que nos separáramos.
Será que fora por minha causa? Ou será que era viagem minha?
Jax passou a bola, e eu fiz a cesta.
Se ao menos compreendê-lo fosse assim tão fácil.
9

A segunda-feira foi um dia como qualquer outro, mas ainda assim


pareceu diferente. Foi preciso muito trabalho para tirar meus pensamentos
de Jax. Pelo menos até chegar ao escritório.
Cheguei meia hora adiantada, mas Lei já estava lá, sentada à sua mesa
com um vestido preto e um blazer com detalhes vermelhos. O cabelo estava
preso, e os óculos empoleirados na ponta do nariz. Ela ergueu o olhar
quando passei pelas portas abertas de sua sala, a boca maquiada formando
uma linha tesa.
“Ian falou com Isabelle no fim de semana, e ela assinou com ele”, disse,
retirando os óculos.
“O quê? Como ele sabia?”
Lei recostou-se em sua cadeira. “Boa pergunta.”
Senti um frio na barriga. “Não contei para ninguém. Juro.”
Ela assentiu, entristecida. “Eu sei.”
“Você acha que Isabelle usou sua oferta para ganhar mais do Ian?”
“Talvez.” Lei gesticulou para que eu me sentasse em uma das cadeiras
diante de sua mesa. “Ele é mais conhecido do que eu.”
Graças à cadeia de lanchonetes temáticas de Hollywood que ela
concebera e que Ian roubara dela. Uma ironia dolorosa.
“Mas acho que não”, prosseguiu. “Uma das coisas que interessou Isabelle
foi o fato de a Savor ser dirigida por uma mulher. Ian deve ter feito uma
oferta boa demais para ser recusada.”
“Que tipo de oferta?”
“É o que pretendo descobrir. Vou almoçar com Isabelle para ver se
consigo tirar alguma informação dela.”
Sentei na cadeira. “Eu devia conversar com Chad. Talvez almoçar com
ele.”
“É, eu ia sugerir isso.” Lei me avaliou. “Você encontrou Jackson Rutledge
no fim de semana?”
Hesitei por uma fração de segundo antes de responder, sentindo-me
cercada. “Encontrei”, confessei, “mas a gente não falou de negócios. Nem
mesmo de forma indireta.”
“Você confia nele?”
“Eu…” Franzi o cenho. Confiava nele com meu corpo. Confiava que
soubesse o quanto minha família significava para mim. Algo mais
importava? “Em que sentido?”
Minha chefe sorriu de um jeito que indicava que sabia o motivo de
minha hesitação. “O que vai fazer com ele?”
Recostando-me na cadeira, assimilei a pergunta. Passara o fim de
semana me fazendo diversas versões da mesma questão, mas não tinha de
fato pensado no assunto. O que eu ia fazer? Dei-me conta de que nunca
tinha feito nada quando o assunto era Jax. Ele decidia quando nosso
relacionamento começava e terminava, onde nos encontrávamos e quando
— e como — fazíamos sexo. Até agora, eu simplesmente seguia a corrente.
Já estava na hora de começar a estabelecer minhas próprias regras. Algo
mais do que pedir que se despedisse quando ele decidisse que estava tudo
acabado.
“Não sei ainda”, respondi honestamente. Mas ia pensar a respeito.


Ao voltar para minha mesa, liguei para o Four Seasons e deixei um
recado na recepção para Chad me ligar. Era cedo ainda, e não queria correr
o risco de acordá-lo. Queria que estivesse descansado e ligado para
repassar nosso plano de negócios.
Não tínhamos mais Isabelle. Precisávamos de alguém para substituí-la. E
logo.
Revisei todas as anotações, procurando por chefs que tivessem
despertado minha atenção. Não havia muitos especializados em comida
italiana, principalmente porque minha origem me tornava uma pessoa
difícil de impressionar. Dito isso, escolher outro cozinheiro da área seria
um problema — ficava difícil apresentar a deserção de Isabelle de um jeito
que não fizesse o novo participante se sentir como a segunda opção.
Bati de leve a caneta contra o queixo, pensando. “Um americano, um
europeu…”
Lei saiu de sua sala.
“Um asiático!”, exclamei.
Ela parou num sobressalto, as sobrancelhas arqueadas. “O que foi?”
Fiquei de pé. “Chad representa a culinária dos Estados Unidos. Inez, a
europeia. Acho que a gente precisa de alguém que represente…”
“A Ásia.” Ela cruzou os braços. “Você tem ideia de quão difícil seria
conceber um cardápio com essa combinação?”
“Mais fácil do que convencer um chef de que não foi nossa segunda
opção.”
Ela franziu os lábios. “É um bom argumento. Tem alguém em mente?”
“David Lee.”
Lei sorriu ligeiramente, os olhos ostentando uma expressão de
aprovação. “Ele é bom, só não sei se está pronto para isso.”
Assenti, concordando inteiramente com minha chefe. “É por isso que
estou pensando em levar Chad ao restaurante em que Lee trabalha.
Apresentar os dois. Ver como se dão. Se é que se dão. Chad pode orientar
David.”
“Um mentor.” Lei assentiu, pensativa. “Cuide disso, e a gente se fala
depois do almoço. Vamos precisar agir logo, mas temos o restante do dia
para decidir.”
Fiquei grata por sua confiança e estava determinada a não decepcioná-
la. “Obrigada.”
Lei sorriu. “Gostei de sua rapidez de raciocínio, Gianna. Estou
impressionada.”
Sorrindo de volta, voltei ao trabalho.


Pouco depois das dez, chegou um lindo buquê de lírios orientais num
gracioso vasinho cor-de-rosa. Ao ver LaConnie carregando-o pelo corredor,
prendi a respiração. Tinha certeza que eram de Jax. Eram minhas flores
preferidas, e ele sabia disso.
“Quem mandou?”, perguntou LaConnie, colocando o vaso em minha
mesa. “Pode ser alguém interessado em algo mais.”
Quem dera… Segurei o cartão, mas não tive coragem de abrir na frente
de ninguém. Parecia pessoal demais. “Pelo menos tem bom gosto.”
LaConnie estreitou os olhos na minha direção antes de se afastar.
“Lindo vestido”, eu disse, admirando o tubinho preto, que tinha um viés
azul-claro combinando com os sapatos.
“Mudar de assunto não vai me distrair. Continuo querendo saber quem
mandou as flores”, avisou ela.
“Depois eu conto”, prometi.
LaConnie apontou na minha direção. “Vou cobrar, hein?”
Afastei-me, puxei o cartão e abri.

Janta comigo hoje à noite?

A pergunta direta era tão típica de Jax que não pude deixar de abrir um
sorriso. Ainda assim, as coisas tinham que ser diferentes agora. Ele havia se
insinuado na minha vida com tanta habilidade que eu não fora capaz de
escapar das memórias até ir embora de Las Vegas, apesar de mal ter
entrado em sua vida. Quando ele terminasse de novo, ia acontecer o mesmo
com Nova York — eu teria memórias de Jax espalhadas por todo canto. Mas
ele estaria a salvo do meu fantasma.
Isso tinha que mudar. Daquela vez, eu ia persegui-lo do mesmo jeito que
ele me perseguia.
Vasculhei meu celular dentro da bolsa e encontrei o número com o qual
me telefonara na noite em que eu levara Chad para o salão de beleza de
Denise. Mandei um mensagem: Só se você cozinhar. Pode ser no seu
apartamento?
Cinco minutos depois, o telefone vibrou. A resposta: Te pego que
horas?
A onda de triunfo que senti iluminou meu dia. 5h30. Aliás… valeu
pelas flores. Lindas.
Você também, mandou ele.
Digitei uma resposta rápida: Diz o homem mais lindo que eu conheço.
Houve uma pausa tão longa que achei que ele não mandaria mais nada.
Então recebi: Só por fora.
Aquilo ficou na minha cabeça por um bom tempo.


Quando Chad me ligou de volta, pedi que fosse ao escritório da Savor.
Achei que seria uma boa relembrar a ele o quanto Lei era bem-sucedida.
Chad chegou pouco antes do meio-dia, muito bonito com uma calça cáqui e
uma camisa social, com o colarinho aberto e as mangas dobradas.
Fui encontrá-lo na recepção e o levei até minha mesa com o pretexto de
buscar minha bolsa. Queria aproveitar a oportunidade de exibir o lugar
mais uma vez.
“Que bom que ligou”, disse Chad, caminhando ao meu lado. “Estou
começando a ter minhas dúvidas, com tudo o que tem acontecido.”
“Imagino. Tanta coisa acontecendo junto não pode parecer um bom
sinal.”
“Pois é.” Ele me lançou um sorriso agradecido. “Você me entende.”
“Claro. É por isso que você tem que confiar em mim quando digo que
vou avisar você se chegar o momento em que for melhor jogar a toalha.”
Paramos diante da minha mesa, e me virei de frente para ele. “Não vou
passar a perna em você, Chad. Prometo.”
Ele enfiou as mãos nos bolsos. “Estou encurralado no meio de um cabo
de guerra entre Ian e Lei, e não posso deixar de pensar que isso significa
que não tem ninguém além de você prestando atenção em mim. Eu podia
ser qualquer um.”
“Mas você não é qualquer um. Você é um dos chefs mais talentosos do
mundo, e ainda vou ver você brilhar.”
Inclinando-se para a frente, ele pegou minha mão. “Obrigado.”
“Eu que o diga. Você está me dando a chance de fazer isso acontecer.”
Chad olhou para os lírios na minha mesa. “Bonitas flores. Você tem um
admirador? Tenho concorrência?”
“Não é nada demais.”
“É difícil ter alguma coisa séria quando se trabalha tanto quanto a
gente.”
“É verdade.” Peguei minha bolsa. “Sou casada com minha carreira
maravilhosa.”
Chad assentiu. “Sei como é. Fico feliz de saber que vamos enfiar a cara
no trabalho juntos pelos próximos meses. Se der tudo certo, claro. Talvez a
gente consiga encontrar algum tempo para se divertir. Sem compromisso.”
Minha boca se curvou num sorriso. “Pode ser. Pronto para uma
aventura?”
“Desde que conheci você.”
Rindo, segurei seu braço e saímos do escritório.


“Rutledge Capital.”
Ergui os olhos e vi Lei se aproximando da minha mesa. Estava
esperando por ela para dar as boas notícias: a ideia de trabalhar com David
Lee podia funcionar. Ele e Chad tinham se dado bem de cara. E quando falei
por alto com David sobre nossos planos para Chad, ele disse abertamente
que também estava esperando por uma oportunidade daquelas.
“O que é que tem?”, perguntei, ficando de pé.
“Segundo Isabelle, a Rutledge Capital se comprometeu a fazer um
investimento significativo na Pembry. Ela disse que falou com o próprio
Jackson Rutledge no domingo, e ele confirmou.”
Senti como se tivesse uma pedra de gelo na barriga. “Ontem?” Um fim de
semana que Jax passara comigo. Em cima de mim…
Afundei lentamente na cadeira.
Lei assentiu, pesarosa. “Ian ofereceu a Isabelle um pacote extremamente
lucrativo. Ela seria uma idiota de recusar.” Minha chefe fechou os olhos e
apertou a ponte do nariz. “Que imbecil! E mesquinho. Ian não está tomando
atitudes inteligentes. Nem Rutledge.”
Eu mal saíra da cama dele, e Jax me apunhalara pelas costas.
“A gente tem David Lee”, argumentei, com a voz rouca. Tinha que me
concentrar em nosso objetivo imediato. Ia dar certo se eu me dedicasse ao
máximo. “Ele gostou da ideia de um trio. Menos pressão enquanto encontra
seu caminho.”
“Ah”, respondeu ela, seca. “Quer dizer que ele é humilde assim?”
“É uma decisão estratégica. Não vai demorar para querer se
desvencilhar do projeto, mas acho que conseguimos ficar uns dois anos
com ele.”
Lei soltou um suspiro elaborado. “Fui em frente e assinei com Inez antes
de Ian conseguir falar com ela. Depende exclusivamente de fecharmos
negócio com a Mondego, mas nos dá uma segurança.”
“Então estamos de volta no páreo.” Olhei de relance para as flores em
minha mesa. Se Jax estava planejando se despedir naquela noite, ia ter uma
surpresa. Eu não ia permitir que ele simplesmente entrasse na minha vida e
estragasse tudo… de novo.
Quem ri por último, ri melhor. E eu estava determinada a rir por último.
“Tudo bem com você?”, perguntou Lei, examinando meu rosto.
“Tudo”, respondi calmamente, sentindo o frio na barriga se espalhar por
meu corpo, deixando-me anestesiada. “É melhor a gente assinar com David
o quanto antes.”
“Também acho. Vou cuidar disso.”
“E talvez a gente devesse levar Chad para visitar a Mondego, em Atlanta.
Dar a ele uma ideia de que as coisas estão andando bem rápido.”
“Você quer fazer isso.” Não foi uma pergunta.
“Acho que ia ser bom me afastar por uns dias.”
Lei debruçou-se por sobre minha mesa. “Se afastar de Jackson?”
“Na verdade, vamos jantar hoje à noite.”
Algo em meu tom de voz deve ter revelado meus pensamentos, porque
seus lábios se curvaram num sorriso irônico. “Isso vai ser interessante.”
“Pode apostar.” Expirei a mágoa que não podia mais conter e deixei a
raiva tomar conta de mim. A preocupação logo ocupou seu lugar. “Você se
importa que eu esteja saindo com ele?”
“Não esqueci por que contratei você, Gianna.” Lei seguiu em direção à
sua sala. “Não se preocupe, não me importo, e você vai ficar bem.”
Eu ia. Mas ainda não estava.


O relógio bateu cinco horas e minha ansiedade aumentou. E não só
porque Chad havia concordado em ir para Atlanta no dia seguinte e eu
estava pronta para sair da cidade. A verdade é que estava pronta para ver
Jax e lidar com ele. Quando o vi esperando por mim no meio-fio na saída do
trabalho, tive que me forçar a desacelerar o passo e agir como se não
houvesse nada de errado em minha vida e eu tivesse todo o tempo do
mundo.
Ele estava recostado em um McLaren preto, um carro que aprendi a
reconhecer porque um dos chefs de Lei havia comprado um para
comemorar o quinto aniversário de seu primeiro restaurante. Jax tinha os
braços e as pernas cruzados, em uma pose sensual e relaxada. Óculos
escuros protegiam seus olhos dos reflexos ofuscantes que os arranha-céus
à sua volta produziam. Estava de calça social preta, camisa branca e gravata
cinza. O cabelo escuro estava despenteado, como se tivesse simplesmente
passado os dedos por entre os fios e os deixado como ficaram.
As mulheres na rua o encaravam ao passar por ele, virando a cabeça
para admirá-lo mesmo enquanto andavam. Os homens o fitavam de relance
e mudavam de caminho, reconhecendo instintivamente um macho-alfa em
repouso. Jax sempre tivera esse efeito nas pessoas.
Endireitando os ombros, passei pelas portas giratórias e caminhei direto
para ele. Estava usando um tubinho preto da Nina Ricci. Era uma peça
elegante e clássica que eu havia combinado com os sapatos de salto
Louboutin nude que meus irmãos tinham me dado em meu último
aniversário.
Eu parecia o tipo de mulher que seria vista ao lado de Jackson Rutledge.
Mais que isso: eu me sentia assim.
Mantendo o ritmo, marchei até ele, agarrei sua gravata com uma das
mãos e me estiquei para um beijo. Forte.
Fui recompensada pelo som grave que ele emitiu, seguido pelo
desdobrar rápido de seu corpo. Jax me agarrou antes que eu pudesse me
afastar, segurando-me pela nuca e pelo quadril, mantendo-me grudada a
ele enquanto aprofundava o beijo numa fusão completa de nossas bocas
abertas.
De pé na rua, com os carros e as pessoas passando à nossa volta, nós nos
beijamos como se estivéssemos sozinhos.
“Oi, linda”, ele disse com a voz rouca, quando me afastei para encher os
pulmões extenuados. Jax passou a bochecha na minha.
Com um movimento rápido do corpo, soltei-me de seu abraço e lhe dei
um tapa no rosto.
Ele virou a cabeça de lado com o golpe, a respiração sibilante por entre
os dentes. Esfregando o queixo, virou-se para mim com os olhos ardentes.
“Imagino que isso não seja só porque você queira apimentar um pouco as
coisas.”
“Você me sacaneou, Jax. Logo depois de me comer. Deu tempo de tomar
um banho antes? Ou ainda estava com meu cheiro no corpo quando deu o
bote?”
“Entre no carro, Gia.”
“Você é um babaca.” Despejei toda a minha raiva borbulhante nele. Em
mim. Em toda a situação. Mas principalmente nele.
“Sempre fui”, Jax concordou com um tom sombrio na voz. Ele se
endireitou e abriu a porta do carona, puxando-a para fora e então
empurrando-a para cima. “Você demorou para descobrir.”
Fiquei ali por um instante, encarando-o. Ele me encarava de volta, os
olhos escondidos pelos malditos óculos escuros, a boca contraída numa
linha inflexível.
“Não perca a autoconfiança agora”, zombou baixinho.
Minha mente girava. Por que ele queria que eu entrasse no carro? Por
que as flores e o convite para jantar? “Acha que vai rolar uma transa de
despedida, é?”
“Não estou terminando. Quero você. Isso não é novidade.”
Sua atitude e sua falta de remorso me fez ranger os dentes. Era como se
ele estivesse me desafiando a terminar.
Sentei no banco e coloquei o cinto de segurança.
Jax enfiou a cabeça no carro e me fitou por cima dos óculos escuros. “No
futuro, lembre que o tapa não era necessário. Você me nocauteou só com o
beijo.”
Ele se endireitou e fechou a porta.
Sorri, melancólica. Jackson Rutledge ia aprender uma coisa ou outra
sobre brincar comigo, fosse nos negócios ou fosse na cama.


Jax entrou com o carro no estacionamento subterrâneo de um prédio, e
dois manobristas usando gravatas-borboleta nos cumprimentaram.
Enquanto um deles me ajudava a sair do carro, notei mais uma vez o
abismo financeiro que havia entre nós. Não ficava intimidada por sua
riqueza, mas talvez a disparidade fosse um problema maior para ele.
Pensar nisso não melhorou meu humor.
Entrelaçando nossos dedos, Jax me conduziu até o elevador. Eu estava
meio que esperando que fôssemos pegar um avião para Virgínia ou
Washington, e percebi de repente que nunca me permitira imaginar a
possibilidade de Jax viver pelo menos parte do tempo em Nova York
também. Mas fazia todo sentido que ele tivesse um apartamento na cidade,
o centro financeiro do país.
As portas do elevador se fecharam atrás de nós, e ele me puxou para
junto de si na mesma hora. Eu deixei. Jax recostou-se contra o corrimão de
metal, abriu as pernas e me colocou entre elas, correndo as mãos ao longo
de minhas costas.
Fazia muito tempo que não era abraçada com tanta intimidade e tanto
carinho.
Ele estava o tempo todo em Nova York…
Fechei os olhos e absorvi o calor de seu corpo, o cheiro de sua pele, a
leve carícia de sua respiração junto à minha têmpora. Havia muito tempo
que me negara o conforto do toque de um homem.
“Como foi seu dia?”, murmurou ele.
“Cheio. E o seu?”
“Não consegui parar de pensar em você.”
Fechei os olhos de novo, agarrando-me firmemente à minha ira. Era uma
tarefa mais difícil do que deveria ser.
Jax recostou o rosto contra minha testa. “Desculpe, Gia.”
“Pelo quê? Por ajudar Pembry a foder com a negociação que eu estava
fazendo?”
Ele suspirou. “Você sabe como essas coisas funcionam. A gente falou
disso.”
“Isso não é desculpa. Não me venha com essa.”
“É compreensível, mas você vai encontrar um jeito de lidar com isso. É
só um pequeno contratempo que você não vai ter problema nenhum em
contornar.”
Fitei seus olhos. “Pode ter certeza.”
O elevador apitou, anunciando nossa chegada ao andar dele. Quando me
virei e vi um pequeno hall e portas duplas, percebi que Jax morava na
cobertura. O que explicava por que o elevador privativo não havia parado
entre a garagem e o que eu agora sabia ser o último andar.
Segurando minha mão novamente, Jax caminhou comigo pelo piso de
mármore com veios dourados e destrancou a porta ao pousar a palma da
mão diante de um painel de segurança instalado na parede.
“Aposto que as mulheres adoram essa parafernália de James Bond”,
comentei, à medida que a grossa porta de nogueira se abria
automaticamente. Conseguira soltar as palavras com casualidade, mas o
ciúme me comia por dentro ao imaginá-lo com outras mulheres.
“O que você achou?”, perguntou, olhando-me por cima do ombro.
“No fundo, sou uma garota simples.” Corri os olhos pela sala de estar
rebaixada com seu carpete impecavelmente branco, as poltronas de aço
cromado e couro, e o tapete safira. Um típico apartamento de solteiro,
obviamente masculino e estéril.
Fiz uma cara feia. “Este lugar não tem nada a ver com você.”
A porta se fechou atrás de nós. “Não?”
Esperava cores quentes, tecidos variados, arte moderna colorida — uma
decoração que refletisse o homem vibrante, ligeiramente selvagem e às
vezes excêntrico que eu amava.
Adentrando um pouco mais o cômodo, lutei contra um profundo
sentimento de decepção. Será que estivera tão errada assim a respeito dele?
“Quer beber alguma coisa?”, perguntou Jax baixinho, aproximando-se
por trás. E parou tão perto de mim que eu podia sentir o calor irradiando
de seu corpo.
“Pode apostar.”
Sua covinha piscou para mim. “Você não vai jogar na minha cara, vai?”
“Tenho que admitir que estou tentada”, respondi, secamente.
Ele pousou as mãos em meus ombros. “Lembra aquela noite no Palms?”
Cerrei as mãos em punhos. “Golpe baixo, Jackson.”
Jamais esqueceria, nós dois de pé no terraço do quinquagésimo quinto
andar do resort, Jax me abraçando por trás e eu segurando uma taça de
vinho branco que nós dois estávamos dividindo. A cidade de Las Vegas e o
deserto se descortinavam para nós por quilômetros e quilômetros, o brilho
das luzes desaparecendo na escuridão.
Que vista, foi o que eu dissera, recostando-me contra ele, sentindo-me
mais feliz que nunca. Estava saindo com o cara perfeito, um homem que
iluminava meus dias e fazia meus dedos do pé se contorcerem à noite. Ele
vai mudar minha vida, eu pensara. Vai mudar quem eu sou, e para melhor.
Hoje aquilo parecia ridículo. Mudar era responsabilidade minha. Ter um
cara maravilhoso era só um bônus.
Tentei me afastar, mas ele me segurou no lugar.
“Desculpa”, ele disse de novo.
Tentei me mover de novo e ele me soltou, deixando que me virasse para
fitá-lo. “Então por que fez isso?”
“Por que faço as coisas que faço?”, respondeu ele bruscamente, os olhos
sombrios e firmes. “Porque sou um Rutledge. E a gente fode com todo
mundo, Gia. É isso que a gente faz.”
“É uma desculpa furada”, revidei.
“É a verdade.”
Afastei-me, olhando ao redor.
“Se quiser ir embora, pode ir”, disse ele baixinho. “Não vou impedir você.
Mas queria que ficasse.”
Parei. Virei-me de novo para confrontá-lo, odiando que suas expressões
não revelassem nada. “É isso que você quer, não é? Que eu termine. Você
me irritou só para eu ir embora. Seria um término discreto, rápido e
definitivo. Do jeito que você gosta.”
“Eu ia odiar, Gia, mas não sirvo para você.” Ele passou por mim e foi até
a cozinha.
Joguei minha bolsa numa das poltronas. “Acho que gosto de ser
castigada.”
Jax tirou uma garrafa de vinho branco da geladeira e colocou na
bancada. A cozinha era tão desprovida de personalidade quanto a sala, com
armários e bancadas pretos e só uma cafeteira indicando que alguém
morava ali. Vindo de um lar em que a cozinha era o centro da casa, aquele
lugar para mim era deprimente.
Jax me viu tirar os sapatos.
Quando ergui os braços para soltar os cabelos, avisei a ele: “Vou cobrir
sua jogada traiçoeira e acrescentar uma rodada de sexo furioso à aposta”.
Tirei a calcinha por baixo do vestido, e Jax entreabriu os lábios. “Gia.”
“Posso jogar este jogo.” Atirei a calcinha na direção dele e sorri de leve
quando a pegou. “E posso ganhar.”
10

Jax guardou a calcinha no bolso e caminhou na minha direção,


abandonando a garrafa fechada de vinho.
Ele segurou meu queixo, abaixou minha cabeça e a beijou, os lábios
tocando os meus com delicadeza. Suas mãos se moveram em meus ombros,
então em minhas costas, os dedos baixando o zíper do vestido com
destreza.
Levei as mãos ao nó da gravata dele, deixando a raiva ferver em fogo
brando e se misturar à minha luxúria até culminar num desejo furioso.
Concentrei-me nele. Em nós. Na sensação de tê-lo sob minhas mãos, no
cheiro que tanto adorava e que era só dele, no jeito como sua respiração
acelerava e seu coração disparava à medida que a sede crescia.
Nunca reparara em nada parecido em qualquer outra pessoa, o que
tornava tão difícil de aceitar que talvez Jax e eu não fôssemos feitos um
para o outro.
“Você já tinha esse lugar quando veio comigo conhecer o Rossi’s?”,
perguntei.
Tínhamos ficado num hotel. Se ele tivesse um apartamento na cidade
naquela época, isso lançaria uma nova luz sobre o que sentia por mim.
Afinal, o que um cara que prefere traçar uma mulher num hotel do que na
própria cama sente por ela?
“Não. Comprei no ano passado. Gia…” Ele estava ali, de pé, com a camisa
desabotoada e aberta, o torso bronzeado à mostra, o corpo tão lindamente
forte e musculoso, os olhos escuros tão cálidos e atormentados…
Peguei sua mão e o conduzi para fora da cozinha. A ansiedade pulsava
em minhas veias, junto com algo mais sombrio. E mais perverso.


Jax agarrou os lençóis, os músculos da barriga tensos, enquanto eu
enfiava a pontinha macia de seu pau na boca. Estava duro e grosso, tão
excitado que senti o líquido seminal em minha língua. Segurei-o pela base e
continuei a brincar com a pontinha ao mesmo tempo que movia as mãos ao
longo do membro, deliciando-me com os palavrões e os gemidos que ele
soltava.
“Nossa”, arfou ele, enquanto eu lambia uma veia grossa e pulsante.
Movendo os lábios entreabertos para cima e para baixo, provoquei-o,
mantendo-o no limite, levando-o até o ponto em que não havia mais volta.
“Não brinque comigo, Gia”, rosnou ele. “Ou você me chupa ou me deixa
foder você. Me faz gozar.”
Sorri, repousando o olhar no músculo rijo que atravessava o abdômen.
Ele estava banhado em suor, o lindo rosto corado e as pupilas brilhando.
Com os olhos fixos em mim, envolvi-o com a boca e chupei, enfiando-o até o
fundo da garganta.
“Assim”, disse ele com a voz rouca, o pescoço arqueando para afundar a
cabeça no travesseiro. “Isso é bom. Sua boca…”
Naquele momento, eu o possuía. Jackson Rutledge era meu.
Seus dedos embrenharam-se em meu cabelo, deslizando pelas raízes
úmidas, tirando os fios do meu rosto. “Ah, Gia. Chupa assim, linda.”
Ele latejava em minha língua, o sabor e o desejo me intoxicando. Eu
adorava aquilo. Adorava lhe dar tanto prazer que seu corpo tremia.
“Vou gozar tão forte…”, arfou ele.
Desvencilhando-me dele, sentei no colchão e deslizei para fora da cama.
“Gia.” Jax me fitou com as pálpebras pesadas. “Que merda. Termina o
que você começou.”
“É ruim quando você está se dedicando a uma coisa… quando está tão
empolgado que é quase capaz de sentir aquilo se realizando… aí vem
alguém e tira isso de você, não é?”
Rosnando, ele se ergueu num sobressalto. “Volta aqui.”
Sorri e peguei sua camisa no chão. “Acho que primeiro você precisa se
acalmar.”
“Acho que você tem que trazer essa bunda linda aqui para a cama.” Jax
levantou do colchão feito um sonho orgástico encarnado, os músculos rijos
e a pele dourada. O pau estava grosso e longo, curvado para cima e tão duro
que mal se movia à medida que vinha na minha direção. Era
proporcionalmente perfeito, ousadamente masculino.
Foi difícil resistir à tentação de pular na cama e deixá-lo me foder até eu
dizer chega.
Jax tentou me segurar, mas eu o driblei, soltando uma gargalhada.
A campainha tocou.
Jax nem ligou. Estava me seguindo com uma determinação obstinada. Eu
me desvencilhei, lutando para passar os braços por sua camisa. O tecido
tinha seu cheiro. Eu gostava daquilo.
“Melhor atender”, disse a ele.
“Gia”, retrucou Jax, num tom de alerta. “Se quiser sexo controlado,
melhor voltar para a cama. Caso contrário, vou foder você na primeira
superfície lisa que encontrar.”
Corri para longe dele, e a campainha tocou de novo. “Tem alguém na
porta!”
“Que espere.” Ele agarrou o próprio pau. “Porque isto aqui não pode
esperar.”
Ginguei para a direita, então para a esquerda, como nas fintas que
aperfeiçoara nas quadras de basquete. Estava impressionada com o fato de
que ele estava me perseguindo pelado e ainda assim parecia tentador e
maravilhoso. Seu abdome brilhava com o suor; o olhar era ávido e quente, o
corpo rijo de músculos.
Jax me agarrou antes de eu passar pela porta do quarto. Seus braços me
envolveram, duros feito aço, o peito pesado contra minhas costas.
“Jax…”
“Fala que você não quer se for verdade”, arfou ele, asperamente. “Caso
contrário, tenho que comer você, linda.”
O tom de desespero em sua voz me amoleceu, fez com eu quisesse ceder.
Ser desejada por Jax era um dos maiores baratos que eu já tinha
experimentado.
“Jackson.”
Nós dois nos sobressaltamos diante da voz de Parker Rutledge na sala
de estar.
“Eu sei que você está aí”, gritou ele. “A gente precisa conversar, filho.”
Jax soltou um palavrão. Sua mão deslizou por entre a camisa aberta que
eu vestira e segurou meu seio possessivamente, seu aperto ao redor do
meu corpo se intensificando até erguer meus pés do chão.
“Me dê um minuto”, gritou ele, antes de dar um passo para trás e bater a
porta com um pontapé.
Achei que ia me soltar, mas ele me virou para si e me beijou, ofegante.
Com uma das mãos, segurava meu cabelo, enquanto a outra apertava
minha bunda.
Quando me soltou de repente, tropecei, as pernas fracas pela ferocidade
da paixão em seu beijo.
Jax caminhou até o banheiro da suíte e pegou um roupão de seda preto,
amarrando-o com raiva na cintura. “Fique aqui.”
“Você não quer que eu diga oi?”, perguntei baixinho.
Jax nem sequer me olhou ao responder: “Não vou dar a ele essa
satisfação”.
A porta se fechou com um pouco de força demais atrás dele, em seguida
ouvi o som de suas passadas. O tom de sua voz fora longe de convidativo, e
me apressei a me vestir. Não ia me esconder no quarto feito uma
adolescente.
Quando terminei de colocar a roupa, já não ouvia mais o burburinho
grave de vozes. Quando abri a porta do quarto, fui recebida pelo silêncio.
Saí pé ante pé, em busca dos meus sapatos, e, quando os calcei, senti-me
mais bem preparada para lidar com Parker… apesar de preferir que meu
cabelo estivesse preso.
Enquanto esperava que Jax e seu pai aparecessem, perambulei pela sala,
examinando-a com cuidado em busca de sinais do amante que achava que
conhecia. O que encontrei foi apenas um punhado de fotografias
emolduradas, a maioria delas de uma loira exuberante que imaginei ser a
mãe de Jackson.
As fotos variavam de retratos em preto e branco de quando era jovem
até os mais recentes, em cor, e a transformação que as imagens
documentavam era surpreendente. A suavidade da juventude endurecera
ao longo do tempo, fora polida numa fachada reluzente e então
desaparecera. A curva dos belos lábios gradualmente voltara-se para baixo.
Uma das fotos, tirada sem que tivesse percebido, a pegou mirando por uma
janela. O olhar em seu rosto elegante transmitia solidão.
Peguei-a, para examiná-la mais de perto, e notei que atrás havia um
porta-retratos virado para baixo. Puxei-o e levei um susto ao descobrir uma
foto minha e de Jax.
Fora Vincent quem batera com seu celular e encaminhara para mim.
Tinha sido tirada durante aquele primeiro e último jantar em família com
Jax no Rossi’s. Jax estava sentado atrás de mim, escorando-me. Estávamos
rindo, e ele tinha os braços em volta da minha cintura. Eu tinha mandado a
imagem para Jax e a colocara de papel de parede em meu telefone até se
tornar doloroso demais olhar para ela.
Com o coração disparando junto com meus pensamentos, coloquei o
porta-retratos de volta em seu lugar, de pé, e voltei a fotografia da mãe
para a prateleira.
Onde Jax tinha se metido?
O apartamento estava estranhamente silencioso. Saí à procura dele, o
olhar passando distraído pela porta da frente e, então, parando no pequeno
monitor de vídeo de segurança instalado ao lado da porta. Jax estava com o
pai no hall. Ele estava de braços cruzados sobre o peito, e o pai com as
mãos enfiadas nos bolsos. Por mais parecidos que fossem fisicamente, não
poderiam estar mais diferentes com aquelas roupas. Ainda assim, Jax era
obviamente capaz de manter a linha.
Estudei a distância entre eles, o jeito como se mantinham afastados,
examinando-se com cautela. A dinâmica daquela família era tão estranha
para mim, tão longe do calor Rossi.
Os Rutledge eram exigentes. Eu não sabia todos os detalhes da educação
de Jax, mas era óbvio que crescera num ambiente de grande pressão. Ele
deixara claro que não tinha muito apreço pela família, nem por ele mesmo,
mas havia escolhido os Rutledge em vez de mim, certificando-se de que Ian
sabotasse o acordo com a Mondego depois de dizer que eu era a única
pessoa a quem dava valor.
Estava mais do que na hora de fazer uma pesquisinha.
Segui pelo corredor, sem qualquer vergonha de sair em busca de
respostas. Jax estava me escondendo alguma coisa, e eu ia bisbilhotar até
encontrar.
Caminhei até o escritório e parei na porta, observando um cômodo mais
parecido com o que esperava dele. Embora a decoração fosse moderna e
masculina, as paredes neutras e os móveis de madeira clara com toques de
vermelho e dourado davam um ar mais aconchegante ao ambiente.
Estantes forravam as paredes, cheias de uma seleção colorida de
exemplares de capa dura e livros de bolso de ficção popular bem gastos.
Havia outra foto minha numa das prateleiras: uma imagem vertical. Eu
estava sozinha. Sem Jax.
Era uma foto recente. Tirada não mais do que seis meses antes.
Fitei o retrato do outro lado do cômodo, sentindo as mãos úmidas de
suor.
Ele tinha ficado de olho em mim.
As dúvidas continuaram se acumulando em minha cabeça, mas algo
muito importante ficou evidente diante da existência daquela fotografia. Eu
não podia decidir se sentia alegria ou dor. Talvez uma mistura dos dois.
A mesa de Jax estava coberta de folhas espalhadas e pastas abertas, mas
dei as costas para todos aqueles documentos. Já tinha visto o suficiente.
Voltei para a sala de estar, peguei minha bolsa e parti em direção à
porta. Os homens lá fora pareceram surpresos quando a abri. Pararam de
falar, e acenei rispidamente antes de seguir até o elevador com a cabeça
erguida.
“Gia.” Jax deu um passo na minha direção. “Não vá embora.”
“Desço com você, srta. Rossi”, ofereceu Parker, aproximando-se com um
sorriso que era gentil demais para meu gosto. “Que bom ver você de novo.”
“Sr. Rutledge.”
“Por favor, me chame de Parker.”
“Pai”, rosnou Jax, aproximando-se. “Ainda não terminamos a conversa.”
Parker deu um tapinha de leve no ombro dele. “Depois terminamos,
filho.”
Jax virou-se para mim. “E o jantar?”
“Vou ter que deixar para outro dia.”
“Não faça isso, Gia.”
Sorri, enternecida. “Não se preocupe. Volto outro dia.”
O elevador chegou, e Parker gesticulou para que eu entrasse antes dele.
Jax me segurou pelo ombro. “Me dê cinco minutos.”
“Ligo mais tarde”, eu disse, percebendo que não estava nem tentada a
ficar. Estava despreparada demais, confusa demais. Precisava de um pouco
de espaço.
Ele apertou a mandíbula.
“Pode deixar, Jackson”, disse Parker, calmamente. “Vou com ela até lá
fora.”
Jax virou a cabeça lentamente para encarar o pai, a expressão rígida
feito pedra. “Eu estava falando sério.”
“Você sempre fala sério.” Parker abriu um sorriso cínico.
Entrei no elevador bem quando as portas haviam começado a se fechar.
Parker se juntou a mim, mas mantive a atenção em Jax, nossos olhares fixos
um no outro. Ele tinha as mãos cerradas em punhos, a mandíbula tensa e
determinada. Mas os olhos… aqueles olhos profundos e escuros… eles me
faziam as mesmas promessas de sempre. E eu acreditava nelas agora. Tinha
a prova.
Parker virou-se para mim, sorrindo, assim que o elevador começou a
descer. “Como vai, Gianna?”
“Já estive melhor. E você?”
“Você torna difícil dizer que tem sido um dia proveitoso.”
Meus lábios se curvaram num sorriso. “E um dia proveitoso para seu
amigo Ian.”
“Ah.” Seus olhos brilharam, divertidos. “Por favor, não desconte no
Jackson.”
Dei de ombros. “São só negócios.”
“Você é uma mulher muito prática. Sem dúvida um dos muitos motivos
por que ele está tão encantado por você. Falando nisso…” Parker balançou-
se nos calcanhares. “Gostaria de conhecer você melhor, Gianna. Será que
poderiam ir jantar comigo e com minha mulher um dia desses? Uma coisa
simples na nossa casa nos Hamptons, quem sabe?”
“Adoraria.” E realmente adoraria qualquer coisa que me permitisse
compreender Jax melhor.
“Ótimo. Vou falar com Regina.” Seu sorriso se dissipou ligeiramente.
“Não deixe Jackson convencer você do contrário. Ele quer guardar você só
para ele.”
“Ah é?”
Parker ficou ainda mais sério. “Ele é muito protetor.”
“É mesmo? Do que estaria me protegendo?”
“Somos homens, Gianna”, comentou ele, com a fala arrastada. “Nem
sempre somos racionais no que diz respeito a mulheres.”
Assenti, concluindo que Parker era tão enigmático quanto o filho.
Parecia que os Rutledge eram naturalmente inclinados a ser misteriosos e
difíceis de interpretar.
O elevador se abriu, e entramos num ambiente pré-guerra
meticulosamente restaurado que transpirava luxo e privilégio.
“Tem um carro me esperando”, disse ele. “Quer uma carona?”
“Obrigada, mas não.” Não queria ter que contemplar a expressão no
rosto de Parker se ele visse onde eu morava. Comparado à portaria
decorada em mármore do prédio de Jax, com um recepcionista e um
funcionário para abrir a porta, meu prédio pareceria… desinteressante. Não
sentia vergonha do meu apartamento nem da minha família, mas achei que
seria mais inteligente não dar motivo para levantar suspeitas de
oportunismo da minha parte até que os Rutledge me conhecessem melhor.
“Se você prefere assim.” Parker hesitou, como se estivesse me dando
uma chance de mudar de ideia. Como não falei nada, ele completou: “Aviso
Jax sobre o dia do jantar. Vai ser um prazer, Gianna”.
Pensei no homem sozinho lá em cima, no alto de sua torre, um estranho
de tantas formas, mas que me conhecia por dentro e por fora. “Será todo
meu.”


Ouvi a música alta em nosso apartamento antes de o elevador de carga
parar no andar. Ao me aproximar, reconheci o antigo sucesso do Guns N’
Roses. “Welcome to the Jungle.” Bem-vindo à selva. Muito apropriado,
considerando minha noite com os Rutledge.
Ao abrir a porta de casa, fui atingida pela força bruta do sistema de som
de Vincent e a visão de meu irmão fazendo abdominais na barra que ele
instalara entre dois pilares. Estava pingando de suor e rangendo os dentes,
a tábua de músculos em sua barriga contraindo-se à medida que erguia os
joelhos até o peito. Vincent cortava o cabelo mais curto que meus outros
irmãos, praticamente um corte militar, que combinava bem com suas
feições italianas.
Uma vez li um livro que comparava o herói ao rosto cunhado numa
moeda romana, mas posso garantir que não chegava aos pés de Vincent.
Sem camisa, descalço e usando apenas um short de corrida, era a
materialização dos sonhos de outras mulheres. Ao contrário de Nico,
Vincent era um namorador em série. Não tinha medo nenhum de
compromisso, mas nunca conseguia ultrapassar a marca de alguns meses
de relacionamento.
“Ei!”, reclamou ele, quando baixei o volume.
“Você ainda fala com Deanna?”, perguntei, referindo-me à jornalista com
quem costumava sair.
“Falo.” Ele se deixou cair de pé no chão e pegou uma toalha que havia
deixado ao lado de uma garrafa de água. “Por quê?”
Coloquei minha bolsa no banco junto à porta e chutei os sapatos para
longe. “Preciso de alguém para me atualizar a respeito dos Rutledge.”
Vincent coçou a cabeça, fechando a cara. “O cara é um babaca. Não
merece você.”
“Não vou negar isso.” Deixei-me cair no sofá e fitei os canos e as vigas
expostos do teto. “Mas não significa que não possa ser salvo.”
“Pode esquecer esse negócio de mudar o cara. Ache um esperto o
suficiente para saber o que ele tem nas mãos desde o início.”
Olhei meu irmão de relance, observando seu pomo de adão mover-se à
medida que virava a garrafa inteira de água. “Você quer dizer que nunca
estragou as coisas com uma garota e quis uma segunda chance?”
“Não conta. Você é uma Rossi. Não tem desculpa para ele estragar as
coisas além de ser burro”, respondeu.
“Você vai falar com ela?”
“Tudo bem.” Vincent seguiu para a cozinha, acrescentando: “Mas só
porque estou torcendo para ela desencavar alguma coisa bem cabeluda a
respeito dele”.
“Obrigada.”
“Não vá pensando que você vai conseguir um favor só na base do
‘obrigada’.” Ele jogou a toalha sobre o ombro e lavou as mãos. A cozinha era
a parte mais ajeitada do apartamento, com utensílios de aço inoxidável
novinhos, fogão profissional, forno duplo e uma imensa ilha com bancada e
pia. “Tenho um cesto cheinho de roupas para lavar.”
Sentei no sofá. “Está brincando?”
“Não. Melhor correr.” Ele abriu um sorriso. “Estou sem camisa do Rossi’s
e meu turno começa em duas horas.”


Havia acabado de fechar a porta que escondia a lavanderia quando ouvi
meu celular tocar. Corri para o quarto para atender, mas perdi a chamada.
Não foi um problema, no entanto, porque ele recomeçou a tocar na mesma
hora.
Era Jax.
Respirando fundo, atendi e disse: “Oi”.
“Você disse que ia ligar”, acusou ele.
“Você também”, retruquei. “Levou dois anos.”
“Meu Deus.” Ele respirou asperamente. “Por que foi embora?”
“Estava na hora. Seu pai nos convidou para jantar.”
“Não vamos.”
Dei de ombros. “Vou sem você.”
“De jeito nenhum! Que merda, Gia. Você está nadando com os tubarões e
fica agindo como se estivesse de férias.”
“Definitivamente estou vendo coisas que nunca vi antes. Como aquelas
fotografias que você tem em casa. Há quanto tempo tem me seguido? Aliás,
tem um lado meio psicopata seu que eu não conhecia.”
Ele soltou um palavrão. “Você está transando com um Rutledge.
Espionagem e invasão de privacidade fazem parte do pacote.”
“Eu não estava transando com você na época daquela foto do escritório.”
“Você entrou no escritório? Está maluca, Gia?”
Minha boca fechou-se com tristeza diante da admissão involuntária de
que havia mais fotos que eu não encontrara. “Vou fazer parte da sua vida…
Pode ir se acostumando.”
Jax ficou em silêncio por um longo período, então perguntou baixinho:
“O que você acha que está fazendo?”.
“Estou processando o fato de que está apaixonado por mim, Jax.” Ouvi-o
prender a respiração do outro lado da linha e senti uma onda triunfal de
prazer. “E, mesmo assim, você desapareceu. E agora está sabotando meu
trabalho e suas chances comigo.”
“Gia…”
“Estou na sua cola, Jackson Rutledge.” Minha voz soou grave, séria e
inabalável. “Vou descobrir seus segredos.”
“Sou um livro aberto”, retrucou ele.
“Você é um prato cheio.” Ignorei a mala me esperando ao lado da cama,
sentei à mesa e mexi o mouse para ligar o computador. “E seus dias de
homem misterioso estão contados.”
Desliguei o telefone, coloquei em modo silencioso e comecei minha
pesquisa.

CONTINUA
IAN SPANIER PHOTOGRAPHY



SYLVIA DAY é autora best-seller #1 do New York Times
e das listas internacionais, com mais de 20 livros
premiados, vendidos em mais de 40 países. É autora
#1 em 27 países, com dezenas de milhões de livros
impressos. Sua série Crossfire teve os direitos
comprados para TV pela produtora Lionsgate.

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