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História do Japão

Autor: Francisco Handa, Doutor em História pela Unesp, é monge budista da escola Soto
Zen. Grande incentivador do Haikai, Handa foi editor do jornal Portal (de cultura
japonesa) e autor de diversos artigos sobre o assunto.

Da Idade da Pedra à
chegada do Budismo
– de 20 mil a.C. a 538 d.C.
O arquipélago japonês esteve unido ao continente, quer dizer, fazia parte da placa
asiática. Isso deve ter acontecido há mais de 100 mil anos. Nesta época, supõe-se que a
faixa de terra, que viria a se tornar o Japão, era habitada. Para confirmar esta hipótese,
foram encontrados esqueletos fossilizados de homens e animais, inclusive de elefantes
préhistóricos. A existência desses animais teria provocado a migração dos povos do norte
para o Japão.

O período datado a partir de 20 mil a.C. é conhecido como pré-Jomon. Os habitantes do


Japão viviam da caça e da pesca, utilizando-se de instrumentos de pedra, conseguidos
através do lascamento. Pode-se dizer, era o período da pedra Lascada ou Paleolítico.
Pouco se sabe a respeito deste período.

Os japoneses costumam contar a história, quase sempre, a partir do período posterior ao


Paleolítico, denominado era Jomon, que iniciou-se aproximadamente no ano 8 mil a.C. O
que marca a era Jomon, ou era Neolítica, é a existência de uma cultura mais complexa.
Seus habitantes continuam vivendo da caça e da pesca mas com o uso de instrumentos de
pedra, desta vez polida. A diferença é a passagem da pedra lascada para a polida.
Entretanto, outros artefatos desenvolvidos na Era Jomon devem ser considerados. Os
homens inventaram armas como o arco, a flecha e a lança, úteis para a caça. Técnicas
mais apuradas de caça foram criadas nesta época. De todos os aperfeiçoamentos, talvez
o maior tenha sido a cerâmica. Potes de barro, magnificamente torneados e depois
desenhados em relevo com uso de cordas, serviam para o cozimento de alimentos e para
o seu armazenamento. O nome Jomon vem daí: quer dizer, marcas de corda.

No período Jomon haviam tribos, portanto os habitantes compartilhavam um espaço


comum. A vida organizada já fazia parte do homem de Jomon. Viviam em casas feitas de
galhos de árvores e cobertas com palha que ficavam em valas cavadas na terra. Para
alimentação, os habitantes costumavam partir os ossos grandes dos animais para extrair o
tutano. O javali era caçado para se conseguir a gordura, produto indispensável para a
fabricação do óleo. Do veado, conseguia-se a pele para o vestuário de inverno.

Animais domésticos como o cão, foram incorporados rapidamente à comunidade. Eram


usados durante as caças. É desta época a evolução dos cães japoneses, entre os quais os
de raça Shiba. Quanto ao gato, acredita-se que teria vindo de outras regiões. O mesmo
acontecendo com o porco e o cavalo. Mas os dois últimos foram introduzidos no Japão no
período que se segue ao Jomon, a Era Yayoi.

O que irá separar o período Jomon do Yayoi é o início da cultura do arroz, período este
que inicia-se um ou dois séculos antes de Cristo. A cultura do arroz vem acompanhada de
uma migração vinda do continente, jamais vista até então. Técnicas mais avançadas são
introduzidas. O metal passa a ser utilizado junto com a pedra polida. Utiliza-se espadas
feitas de bronze e espelhos de metal nos rituais religiosos. Instrumentos agrícolas são
incrementados a partir do metal e da madeira.

Mas foi a cultura do arroz que provocou modificações profundas na vida social, política e
econômica dos aldeões. Como o cultivo do arroz exigia um trabalho coletivo, houve a
divisão do trabalho e, conseqüentemente, as diversas divisões de classe, surgindo uma
classe dirigente. Os imigrantes tomaram-se integrantes da corte e de clãs poderosos. Em
caso de guerra, eles conseguiam vencer os nativos, com facilidade. E suas aldeias
prosperam mais do que a dos antigos moradores. A par com a cultura do arroz, estes
migrantes, que trouxeram as técnicas de tecelagem, costura e criação do bicho da seda,
formaram grupos de trabalho, o dos artífices, para a manufatura de instrumentos de
metais, o dos comerciantes, vendedores de potes de barro e, por fim, o dos agricultores.
Este fluxo migratório se fixou notadamente ao sul do Japão.

A partir de Yayoi, e o que viria a se tornar depois o Japão, germinam os alicerces de uma
cultura agrária e tribal fundamentada na formação de pequenos estados. Documentos
chineses da dinastia Han referem-se a um “país de cem reinos”. Estes reinos localizar-se-
iam ao norte de Kyushu, uma das quatro ilhas que formam o arquipélago nipônico. Os
chineses falam nos reinos de Nu (Na), l-tu (Ito), Mo-lu (Matsura) e Pu-mi (Fumi). Há
indícios que o reino de Nu pagava tributos a Han no ano 57 a.C.

As guerras internas assolavam os reinos de Kyushu. A paz só foi conseguida com o


entronamento de uma mulher, a rainha Himiko, possivelmente no ano de 188 d.C. Como
rainha, Himiko unificou 28 nações sob o nome de reino de Yamatai. Estas informações
constam dos documentos chineses. Diz, por exemplo, que Himiko tinha poderes
sobrenaturais. Ela conseguia prever se a safra de arroz seria boa, e em caso de guerra, se
Yamatai sairia vencedor. As adivinhações eram feitas queimando-se pedaços de ossos.
Pela rachadura produzida, podia se prever os acontecimentos.

Com a morte de Himiko, as guerras voltaram a acontecer. Havia a necessidade de alguém


que mantivesse a unificação de Yamatai. Portanto, diante do impasse, foi escolhida como
sucessora, Iyo, de apenas 13 anos. Assim, Yamatai continuou existindo.

Outro fato importante acontecido no período Yayoi é a consolidação do país de Yamato,


no século IV. Yamato localizava-se ao lado do rio, do mesmo nome, nas proximidades da
atual província de Nara, na ilha central de Honshu. Yamato consegue dominar as nações
do norte de Kyushu, as do vale de Yamato e as de Izumo. O chefe de Yamato recebe o
nome de Okimi ou Oaiwô (grande rei), e posteriormente, passou-se a denominá-Io Tennô
(imperador). Os indícios levam a crer que a origem dos imperadores japoneses esteja em
Yamato.

Dos tempos de Yamato, o que o Japão conserva ainda são os gigantescos túmulos,
conhecidos por Kofun(Ryô). O mais famoso é o do imperador Nintoku, na cidade de Sakai,
em Osaka. Os imperadores eram enterrados junto a artefatos feitos de argila, o haniwa.
Constitui-se o haniwa de réplicas, em miniatura, de casas, cavalos e seres humanos.

Em pleno explendor, Yamato mandou chamar do continente (China e Coréia) artesãos


para ensinar os japoneses. Mas de todos os ensinamentos, quem sabe, os mais
importantes foram o budismo e a escrita em forma de ideogramas, o kanji.
Do príncipe Shotoku
ao período Heian
– de 604 a 1192
A partir da consolidação do reino de Yamato, o Japão começa a tomar forma como um
Estado unificado, cabendo aos dirigentes esta unificação. Aquele que vai dar um passo
grande neste sentido é Shôtoku Taishi. Saímos do período Yayoi, mais precisamente de
sua fase tardia, Kofun (o dos grandes túmulos, de 300 a 391), para o período Assuka. A
introdução do budismo se dá neste período.

Intensifica-se as relações com o continente, no caso, a China. Entretanto, Yamato vivia


constantes guerras pelo poder. No reinado da imperatriz Suiko surge a figura de Shôtoku
(séc. VII). Ele assume a regência e promove diversas mudanças na máquina
administrativa. Baixa um decreto no qual os servidores públicos são divididos em doze
categorias. Também promulga a “Constituição de Dezessete Artigos”, cuja finalidade é
disciplinar o trabalho dos funcionários público, tendo por base os ensinamentos do
educador chinês Confúcio.

Buscando inovações, Shôtoku torna-se um adepto do budismo. Com entusiasmo, dedica-se


a difundir a doutrina de Buda. Ele próprio possui mestres vindos da Coréia para ensina-lo.
Um grande contingente de coreanos dos reinos Kokuli e Paikché, dentre monges,
estudiosos e artistas fixam residência no Japão. Os templos budistas proliferam e as
famílias aristocráticas disputam entre si a sua construção. O mais famoso, o de Hôryuji,
fica na cidade de Nara e foi construído por Shotoku Taishi.

A Reforma Taika, de 645 é um marco que os historiadores utilizam para demarcar o final
do período Assuka. Com ela é abolido o sistema de propriedade particular, conhecido por
“Ujikabane”. Assim, os aristocratas, donos da terra, teriam o seu poder enfraquecido.
Antes, eles tentavam, através das guerras, influir nas decisões dos imperadores. Com a
Reforma Taika, o imperador fortaleceria o seu poder em detrimento dos aristocratas. Em
troca das terras, os aristocratas tornar-se-iam funcionários do governo.

Em suma, a Reforma Taika introduziu o regime Ritsuryô, inspirado no modelo chinês.


O período seguinte é conhecido como: Nara. A cidade de Nara torna-se capital em 710.
Ela é construída seguindo-se o modelo de Chang’an (atual Xian), a capital de Tang, na
China. O período Nara foi marcado por um governo centralizador e burocrático.
Beneficiado pelo Estado, o budismo prosperou, assim como a arquitetura e a escultura.

As relações com Tang intensificam-se neste período. Por duzentos anos o intercâmbio
cultural e diplomático se mantém. As frágeis embarcações deixam Naniwa (Osaka) em
direção ao continente enfrentando as tempestades que assolam o Mar da China. As que
conseguem vencer as intempéries, retomam ao Japão trazendo os louros da cultura mais
avançada do mundo. Vão para Yamato chineses, coreanos, indianos e persas. É desta
época a chegada do monge chinês Ganjin (688-763) para transmitir o Ritsu. Uma das seis
correntes do budismo, depois de ter enfrentado as dificuldades da travessia.

Como religião do Estado, o budismo se expande em todas as direções. No mosteiro de


Todaiji é construído um Buda de bronze, de 16 metros de altura.

No campo das letras, surgem três obras significativas. As narrativas Kojiki e Nihon Shoki,
possivelmente as primeiras fontes da história japonesa, escritas em chinês, contêm
lendas a respeito da família imperial, remetendo sempre ao “tempo dos deuses”. A outra
obra é o Man-yo-shu, onde se encontram reunidos cerca de 4.500 poemas “waka”.

A riqueza do período Nara não se estendia às classes menos privilegiadas. Estas


continuavam no mesmo estado de pobreza; tinham direito a uma parcela da terra desde
que a cultivassem e pagassem os tributos.

Cada vez mais os monges budistas fortaleciam-se como classe, interferindo nas questões
burocráticas do Estado. As intrigas palacianas voltaram a acontecer. Quando o sistema
encontrou-se saturado, a fim de romper com ele, a solução foi a da mudança da capital.
Nara foi trocada por Heian (Kyoto). O período Heian se estendeu de 784 a 1192.

O rompimento no período Nara com o sistema chinês, significava o retorno a uma forma
nativa que atendesse aos anseios da nação. Esta forma era a da sofisticação da cultura ao
estilo japonês. A família Fujiwara, que se despontou a partir da Reforma Taika, tomou a
frente do governo. Utilizando-se de habilidade política aproximou-se da família imperial
e por meio de casamentos, o clã Fujiwara passou a exercer poderes próprios ao
Imperador.
Enquanto isso, transformações significativas iriam acontecer no campo. As terras, que
pertenciam ao governo, entram em colapso. Aproveitando-se disso, as terras privadas
(shôen) aumentam nas mãos das famílias poderosas, o mesmo acontecendo com os
monges budistas e fazendeiros influentes. Por fim, o governo teve que reconhecer a sua
dificuldade em manter as terras. Na época, tinha aumentado o ataque das tribos Ezo
vindos do norte do país. Para combatê-Ias, é mandado um grupo de soldados
profissionais. A mesma tática é adotada pelos governadores das províncias e donos das
terras agrícolas. Eles formam uma guarda particular, recrutando os soldados dentro de
seus próprios clãs, de partidários e seguidores. Esta é a origem dos samurais.

Da era Kamakura a
Azuchimomoyama
– no tempo dos samurais, 1192 a
1600
A classe dos samurais instala-se no governo através do clã Taira em 1167. À maneira de
Fujiwara, duas famílias vindas das classes guerreiras, Heike e Genji, mesclam o sangue
com a família imperial. Era a forma para chegar ao poder. Taira, que é chamado também
de Heike, chega antes de Genji ao governo. Após a decadência da família Fujiwara, os
imperadores tentaram restaurar o seu poder. Período em que inaugura-se a época dos
“imperadores enclausurados”. As intrigas conduzem às rebeliões, entre elas a de Hogen
(1156) e a de Heiji (1159). Desgastes por parte da corte, por outro lado, aumenta o poder
dos samurais. Mais precisamente do clã Heike.

Heike que ingressou no governo foi Taira Kiyomori. Casou uma filha com o imperador
Takakura, de cuja união nasceu o imperador Antoku. Copiando o fausto da vida
palaciana, Taira Kiyomori continua repetindo os erros de Fujiwara, enquanto isso, por
fora, os da família Genji estão conspirando. Por fim, os Heike são derrotados na batalha
marítima de Danno-ura. Batalha em que todos os chefes Taira são exterminados. O
imperador Antoku, de sete anos, é atirado nas águas do mar interior Seto nos braços da
avó. Tinha triunfado o clã Genji.
Com Genji no governo inicia-se o período dos shoguns, que perdurou por quase sete
séculos. Mais uma vez, a capital é transferida. Desta vez, o shogun escolhe Kamakura.
Shogun era o título outorgado pelo imperador ao guerreiro de sua confiança, tornando-o
assim, no generalíssimo. No período Kamakura, que se inicia em 1192, coexistem dois
governos, o do shogun e o do imperador. Um independente do outro. Em resumo, isto
significava o enfraquecimento do poder do imperador.

Entre os fatos marcantes deste período está a invasão do Japão pelos mongóis. Ela
acontece por duas vezes no século XIII. Na primeira tentativa, a de 1274, os mongóis
chegam a aportar ao norte de Kyushu após sangrenta batalha com os samurais. Mas um
tufão violento sopra consegue frustrar as tropas de Kublai Khan. Mas Khan não desiste.
Por sorte, mais uma vez o vento sopra a favor dos japoneses. Daí nasce a expressão
Kamikaze, ou seja, “o vento divino”.

Consolida-se no período Kamakura o poder dos samurais, distribuídos nos feudos. Com o
tempo, os feudos se tornam cada vez mais auto-suficientes. Feudos do interior afastam-
se do poder central. Assim, conforme aumenta o poder local, as rixas aumentam. As
guerras se tornam inevitáveis. Enquanto a classe guerreira se fortalece, são criados
códigos que regulamentam as relações entre os seus membros. É o código moral dos
samurais.

A história japonesa parece desenrolar-se quase que apenas nas camadas mais elevadas da
população. As classes estão divididas entre os nobres, samurais, bonges (comuns) e
semmin (marginais). Inúmeras escolas budistas são estabeleci das através do envio de
monges japoneses para a China. Às seitas Shingon e Tendai vêm somar-se outras: Jôdo,
Jôdo Shin, Hokke e Zen. Seitas ainda existentes no Japão atual.

As guerras desgastam o poder central exercido pelo shogun, principalmente as tentativas


dos mongóis em invadir o Japão. Aproveitando-se destas brechas, os imperadores
conspiravam a fim de restaurar o seu poder de fato. A primeira tentativa se deu em 1221
com Gotoba, sem sucesso. Mais tarde com Godaigo em 1331. Alguns samurais,
descontentes com o shogun, conspiram junto com Godaigo. Entre eles, Takauji Ashikaga.
Por fim, o shogun é derrotado e o imperador Kômyô concede a Ashikaga o título de novo
shogun. O shogunato de Kamakura vigorou por 140 anos.
Mas Ashikaga não era melhor que o seu antagonista. Com a mudança do governo, muda-se
a capital. Ashikaga transferea para Kyoto. O terceiro shogun desta dinastia, Yoshimitsu,
habita o Palácio das Flores de Muromachi, nome usado também para designar este
período. A ostentação é uma das marcas fundamentais de Muromachi. O shogun manda
construir o Pavilhão de Ouro, cujas paredes são cobertas pelo nobre metal. Em
contrapartida, uma outra característica do período são as guerras internas. A primeira é
a Guerra Ônin. A partir desta, diversas outras afloram, manchando com sangue o
arquipélago japonês. Os feudos disputam entre si a supremacia diante de um governo
desorientado. Apesar desta situação o clã Ashikaga consegue manter-se no poder por 235
anos.

A contradição do período foi a arte convivendo com a desordem provocada pela guerra
civil. Enquanto guerreiam, os nobres cultivam a poesia “waka”, o teatro “nô” e a
cerimônia do chá. O gosto pela estética invade os paladares mais finos. É também deste
período a chegada dos primeiros ocidentais, os comerciantes portugueses e os jesuítas.

Vai provocar a queda definitiva do clã Ashikaga um general aparentemente obscuro,


Nobunaga Oda. De início, fiel a Ashikaga, com o crescimento do seu poder, este é traído
por ele. Ashikaga cai. Cresce a influência de Oda a cada batalha ganha. Ele se torna o
unificador do Japão, colocando fim nas guerras civis. Derrota a tropa de Katsuyori, o filho
do seu maior inimigo, Shinguen Takeda, aliando-se na batalha de Nagashino com Ieyasu
Tokugawa. A tática de Oda foi a utilização das armas de fogo, trazidas pelos portugueses.
Derrota também os monges guerreiros de Tendai.

A carreira de Oda vai terminar após uma traição. A traição do general Mitsuhide Akechi,
depois morto por Hideyoshi Toyotomi, o continuador de Nobunaga Oda. O período
conhecido por Azuchimomoyama é pontilhado de acontecimentos, apesar de curto. Não
se inaugura nenhum shogunato. A guerra continua fazendo parte do cenário político. É
também o momento da expansão do cristianismo na terra de Buda. Quanto ao comércio,
os portugueses nunca lucraram tanto como neste período.

Do período Edo aos


tempos modernos
– de 1603 a 1867
Mais hábil que os seus antagonistas Nobunaga Oda e Hideyoshi Toyotomi, leyasu
Tokugawa conseguiu obter o poder após a derradeira vitória na Batalha de Sekigahara em
1600. Tokugawa era mais um político, que sabia esperar, do que um guerreiro. Foi assim
que ele conseguiu obter sucesso. A partir de 1603 começa o último shogunato, o do clã
Tokugawa. Nova mudança de capital. Tokugawa preferiu a longínqua vila de Edo, mais
tarde Tóquio, distante dos centros aristrocráticos, na região de Kantô.
Não quer repetir os erros dos shogunatos anteriores de permitir que os feudos se
fortaleçam e iniciem uma nova guerra civil. Visando este objetivo, Tokugawa fortalece o
shogunato, o governo centralizador, e vigia a ação de seus aliados e de antigos inimigos.
Este sistema garante um período de imensa paz, que os historiadores denominam de “Pax
Tokugawa”.

Com Tokugawa no governo, os ânimos são abafados. As divisões em classes sociais,


iniciadas por Hideyoshi, tornamse marcantes. Eram elas em ordem hierárquica: samurais,
lavradores, artesãos e comerciantes.

Como visava a reconstrução do país, após mais de cem anos em guerra, Tokugawa resolve
tomar medidas duras. Uma delas é a expulsão dos estrangeiros, no caso portugueses e
espanhóis. O cristianismo é proscrito e os cristãos perseguidos pelo governo. Por fim, o
governo resolve fechar os portos a todos os navios estrangeiros, exceto dos chineses e dos
holandeses. Os holandeses só podiam ficar na ilha de Dejima em Nagasaki.

Ainda no primeiro século da administração Tokugawa, as últimas resistências tinham de


ser vencidas. A mais significativa foi a revolta de Shimabara, em 1637. Os camponeses
revoltamse contra a opressão dos senhores de Hizen e Amakusa. São mais de 25 mil
revoltosos, somando-se aos camponeses os samurais derrotados em Sekigahara e os
cristãos proscritos. A revolta tem à frente um católico, o jovem samurai Shiro Amakusa,
de 16 anos.

Outras revoltas vão acontecer, sendo sempre abafadas e os revoltosos punidos. Eram
revoltas por causa de problemas relacionados à terra. São menos significativas do que as
mudanças que ocorrem durante este período de paz. Com o passar das décadas, a classe
dos comerciantes começa a ganhar importância. É ela que fomenta a cultura das áreas
urbanas. Os senhores feudais pegam dinheiro emprestado dos comerciantes.
Graças aos comerciantes, as cidades se desenvolvem. Principalmente em Edo e Osaka
intensificam as transações comerciais. A indústria é igualmente beneficiada. Período de
fartura, a cidade conduz também ao esbanjamento. A cultura, antes confinada nos
palácios, escapa para as ruas. É a vez da cultura popular. A escola não é mais privilégio
dos nobres. Todos que vivem na cidade podem aprendem a ler e escrever.

Nunca produziu-se tanta literatura como nesta época. E os livros de grande tiragem
ficavam ao alcance do povo em geral. A arte popular tendia para as poesias “haikai” e
“senryu”, para o teatro “kabuki” e “Jôruri”, para as xilogravuras ukiyo-e.

As mudanças em todos os setores, inevitavelmente iriam dilapidar a imagem do samurai.


Sem mais guerras, a classe guerreira tornou-se uma lembrança do passado, que não tinha
acompanhado o desenvolvimento da história. Quem entrava em crise não era somente o
shogunato, mas o seu equivalente, o samurai. Em oposição ao samurai estava o
comerciante, chamado de chõnin.

Período Moderno
Da modernização Meiji à
democracia Taishô
– de 1868 a 1926
O fim do domínio dos shoguns acontece no momento em que o mundo ocidental acabava
de experimentar as principais revoluções civis, como a americana e a francesa. E a
economia capitalista necessitava cada vez mais de novos mercados, inclusive o japonês.
O isolamento provocado após a instauração do shogunato Tokugawa contrariava as leis de
oferta e procura. Foi assim que a pressão internacional para a abertura dos portos
começou na metade do século passado. Sem sucesso, entre os séculos XVIII e início do
XIX, os navios ingleses e russos tentaram quebrar o isolamento. Entretanto, a situação
iria se modificar.

A intervenção foi dos Estados Unidos na qual o comodoro Mathew Perry entrega uma
mensagem ao emissário do shogum pedindo o fim do isolamento. Este fato acontece em
1853. A abertura dos portos iria provocar, posteriormente, a derrubada do shogunato. Os
antigos inimigos de Tokugawa, instalados em Kyushu, aproveitando-se da situação,
conspiram. Período em que senhores feudais debelam-se contra os estrangeiros,
demonstrando também descontentamento com a fraqueza do shogum. Quem se fortalece
neste momento é o imperador, apoiado pelos que querem a derrubada do shogunato
Tokugawa.

Por fim, depois de um longo período governado pelos shoguns, o governo centralizado na
figura do Imperador volta a existir. A volta dos poderes ao Imperador ocorre em 1867.

Quem se encontra no trono é o jovem Mutsuhito que assumiu aos 14 anos, após a morte
do imperador Kômei em 1866.

O retomo do governo para o imperador significa uma total reestruturação nacional, que
passa a se chamar Restauração Meiji. Para realmente modificar as estruturas do país,
Mutsuhito, o imperador Meiji precisou promover as mudanças mais radicais, como o
abolição da classe dos samurais. Precisava modernizar o país para atender as
necessidades de desenvolvimento capitalista. Em 1890 foi instituído um governo
constitucional, tendo como modelo a constituição alemã.

Com o tempo, o governo japonês começa a enfrentar questões internacionais. Quer que a
Coréia estabeleça relações comerciais com o Japão. Mas a China, que cobrava tributos da
Coréia e a via como parte de seu território, não se simpatiza com os interesses
japoneses. O desentendimento com a China irá lançar o Japão na primeira experiência
bélica com o uso de armamentos modernos. Surpresos, os países do Ocidente assistem a
vitória japonesa sobre a China. Aumenta no Japão o sentimento nacionalista,
fortalecendo o espírito militar.

Numa outra guerra, desta vez com a Rússia, novamente o sucesso esteve do lado do
Japão. A partir de então, o Japão pode se considerar a nação mais influente de toda
Ásia.

O mérito do imperador Meiji, que governou o Japão por 45 anos, foi o fortalecimento
interno, modernizando em pouco tempo os setores industriais, políticos e sociais. É
também o momento de efervescência intelectual com a tradução e leitura dos clássicos
ocidentais.
Durante o governo Meiji, a concentração urbana causada pelos êxodos rurais, vai
provocar a emigração para outros países. Primeiro os emigrantes foram para o Havaí,
depois Peru e, a partir de 1908, vieram para o Brasil.

O fenômeno emigratório japonês é conseqüência de momentos de grandes mudanças


estruturais na sociedade japonesa. Se durante o período de reclusão, da era Tokugawa,
os japoneses tiveram que isolar-se do resto do mundo, mudanças radicais aconteceriam
com o advento da era Meiji. De certa forma, o processo se deu de maneira inversa. A
transição do trabalho campesino para o industrial trouxe conseqüências drásticas.
Problemas de modernidade que o Japão foi obrigado a resolver através da emigração.

O imperador Meiji morre em 1912, tendo como sucessor o príncipe Yoshihito, o imperador
Taishô. É neste governo que o Japão participa da I Guerra, ao lado dos aliados. Não foi
um governo centralizador como o de Meiji, caracterizado pelo avanço das idéias
democráticas. Os democratas queriam menos poder para o imperador e mais para o povo.
O sufrágio universal se torna lei em 1925, mas só beneficiando homens acima de 25 anos.
Movimentos de cunho operário ganham notoriedade ao lado das idéias socialistas e as dos
sindicatos.

Entretanto, mal a democracia começa a criar raízes, nos moldes ocidentais, ela tem
morte prematura. Tal como o cristianismo nos séculos XVI e XVII, a democracia é uma
idéia pouco atraente para a aristocracia japonesa. A oligarquia não está disposta a ceder
espaço. O primeiro-ministro Hara Takashi assume o cargo em 1918. Três anos foram
suficientes para que um atentado colocasse fim ao seu governo. Hara não era ligado nem
à aristocracia e nem à oligarquia “hambatsu”, que apoiava o imperador.

No setor econômico, o Japão obteve sucesso durante o período Taishô. Conseguiu


monopolizar o mercado asiático, sem a intromissão dos europeus. Devido a desgaste
provocado pelo conflito de 1914 a 1918, a Europa estava debilitada. Os industriais
japoneses lançam-se a construir navios diante da escassez mundial deste produto. E
conseguem capitalizar na indústria naval. Os produtos industrializados, antes fornecidos
pela Alemanha, agora são fabricados pelos japoneses que conquistam o mercado. É o
caso dos produtos químicos, medicamentos, tintas e adubos. Dos ingleses, os japoneses
tomam o mercado asiático de fiação e tecelagem.
Os grandes bancos japoneses são formados nesta época, devido, principalmente, ao
crescimento do parque industrial. São grupos de créditos como o Mitsui, Mitsubishi,
Sumitomo, Yasuda e Daiichi.

O crescimento da economia japonesa foi temporário. Durou enquanto a Europa demorou


para se recuperar. Com o fim da guerra, os japoneses conheceram o reverso do sucesso
capitalista. Os produtos japoneses perdem espaço no mercado. Com isso, a recessão
toma conta da vida dos japoneses, mas é justamente nesta situação que prosperam as
idéias democráticas.

O fim da era Taishô, de altos e baixos, de democracia e crescimento econômico, vai ser
marcado com a ascensão das idéias nacionalistas, com o respaldo dos militares.

Do imperador Shôwa ao
imperador Akihito
– de 1926 aos tempos atuais
Ao falar da era Shôwa, remetemo-nos naturalmente ao imperador Hirohito -nome que
usava quando vivo-, que teve o mais longo dos governos no Japão moderno. De 1926 até
1989, portanto por 64 anos, o imperador Shôwa governou um país que passou por uma
guerra mundial, a responsabilidade e o peso da derrota, inclusive experimentando os
horrores da bomba atômica, seguida de um intenso trabalho para a recuperação do país.
Após a guerra. O imperador, até então considerado uma divindade, declara ser um
homem de carne e osso. Falando pelo rádio para todo o país para explicar a derrota, e
mais tarde, caminhando pelos destroços e pedindo para que o povo tivesse esperança
para reconstrução, ele assumiu a condição de um ser humano. E foi a primeira vez que a
grande maioria dos japoneses ouviu ou viu seu líder de perto.

Todas as contradições do Japão’ estiveram presentes na era Showa. De nação bélica, o


Japão se tornou um país pacífico, cujo espírito provém inclusive da cláusula de sua nova
Constituição.

Quando o imperador Showa recebeu o governo de seu antecessor Taisho, a crise estava
instaurada. O malogro da democracia tinha criado condições para o fortalecimento de
forças paralelas. Para piorar, o “crack” da Bolsa de Nova York em 1929 afetou a já
debilitada economia japonesa. O desemprego chega a uma cifra assustadora: dois
milhões de trabalhadores estavam fora das fábricas. Na zona rural, o preço dos produtos
agrícolas chega ao ponto crítico. Em contrapartida, há o acúmulo de riqueza nas mãos
dos capitalistas. Os partidos políticos estão ameaçados pela corrupção. Nesta
instabilidade econômica e política nasce o germe do fascismo japonês. Tratase de um
sistema populista centralizador alicerçado na figura do imperador como o único caminho
que poderá conduzir o Japão para o desenvolvimento.

Cada vez mais aumenta a influência dos militares diante do fracasso do sistema
democrático. O incidente que vai reforçar a expansão imperialista japonesa, sob o
comando dos militares, é o de Manchúria. A força japonesa estacionada naquela província
desde 1919 provoca em 1931 uma explosão na Estrada de Ferro Sulmanchuriana,
pertencente ao governo japonês. A culpa recai sobre os chineses e com isso surge o
argumento necessário para justificar uma agressão militar. Assim se inicia o ataque a
cidades chinesas pelo exército japonês.

Com a tomada do território, é declarada a independência da Manchúria, colocando como


regente Pu Yi, o último imperador da dinastia Ching, deposto pela república. Este Estado,
controlado pelos japoneses, é chamado Manchukuo – Nação Manchu.

A situação interna no Japão não é das melhores. Não há liberdade de expressão. Os


líderes socialistas, operários e liberais desaparecem de cena. São condenados ao
ostracismo ou desaparecem nos porões da repressão.

Devido as campanhas militares na China, a economia japonesa encontra-se dilapidada e o


comércio exterior impedido de se expandir por pressão dos aliados. Foi quando os Estados
Unidos resolveu dar o golpe fatal. O governo americano suspende em 1939 a venda de
matérias-primas e demais insumos industriais para o Japão. O petróleo seria uma delas.

Nenhum acordo com o presidente Franklin Roosevelt foi possível. Do lado japonês, o
endurecimento das posições se dá com o ministro da Guerra, o general Tojo Hideki, que
ascende ao cargo de primeiro ministro. O general não queria mais acordo com os Estados
Unidos, preferindo a opção pela guerra.
Ainda não tinha amanhecido em Havaí, em 7 de dezembro de 1941, quando a aviação
japonesa ataca a base norteamericana de Pearl Harbor. Em seguida, declara guerra aos
Estados Unidos e Inglaterra. Mas a entrada do Japão na guerra estava fadada ao fracasso.
Já em 1942, os japoneses davam sinais de debilidade nas guerras do Pacífico.

Derrotada na guerra, o Japão precisa ser reconstruído e adaptado à modernidade. Mas


antes, teve que arcar com as dores. As forças aliadas ocupam o Japão em 1945 sob o
comando do general Douglas Mac Arthur. O período de ocupação americana, que vai de
1945 a 1951, serviu para o Japão retomar o caminho do desenvolvimento. Foram
eliminadas as idéias bélico-imperialistas e restaurada a democracia. Uma década depois,
o Japão mostrava sinais de recuperação. É daí a expressão “milagre japonês”.

Algumas décadas foram necessárias para colocar o Japão entre os países adiantados. Se
no início os produtos japoneses eram considerados baratos e ruins até pelos próprios
japoneses, em pouco tempo o País passou a ameaçar os Estados Unidos como segunda
potência econômica. Assimilando bem os ensinamentos dos americanos quanto ao
aumento de produtividade e melhoria de qualidade, os japoneses passaram a adotar
métodos de trabalho que hoje são utilizados no mundo inteiro, que visam principalmente
a eliminar o desperdício no processo industrial. Na área comercial, os japoneses
ganharam dos americanos em muitos segmentos. Produtos japoneses invadiram as lojas
dos Estados Unidos.

O grande desenvolvimento econômico do Japão provocou, a partir da década de 80, um


movimento inverso de imigração, comparado àquele do início do século. Os nikkeis do
Brasil, do Peru e dos demais países sul-americanos estão retomando ao Japão como mão-
de-obra não especializada. São conhecidos como “Dekassegui”. Sonham retomar ao Brasil
após alguns anos de trabalho no Japão. Por isso, trabalham arduamente a fim de poupar
o suficiente para montar um negócio próprio ou adquirir bens no Brasil. Isso nem sempre
se realiza. Depois de retomarem ao Brasil, passado algum tempo, voltam ao Japão. E o
ciclo volta a se repetir enquanto não conseguem garantir uma estabilidade financeira. A
comunidade brasileira no Japão é grande e com isso muitas casas de espetáculos
procuram programar shows de música brasileira, enquanto muitos supermercados
oferecem comidas típicas. É a cultura brasileira chegando naquele país.

Em 1989, os japoneses choram a morte do imperador Hiroito, que acompanhou os


momentos mais difíceis do povo japonês. O imperador que assumiu a nova era, a de
Heisei, Akihito, foi o primeiro a se casar com uma moça plebéia, a imperatriz Michiko, e
também foi o primeiro a criar seus filhos em sua própria casa. Apesar de a aparência
sempre discreta da família imperial ter se mantido a mesma, transformações estavam
ocorrendo dentro da milenar tradição. O príncipe herdeiro, Naruhito, seguindo o exemplo
do pai, também se casou com uma moça sem laços familiares com a nobreza.

O Japão moderno, consciente de sua limitação territorial e de recursos naturais, procura


manter uma relação de cordialidade com todos os países, incentivando sempre o
intercâmbio comercial e cultural, Dependente de fornecedores externos, o Japão se
tornou o principal exportador de produtos manufaturados e detentor da tecnologia de
ponta em quase todos os setores industriais.

Extraído do livro História do Japão – Origem, Desenvolvimento e Tradição de um País


Milenar.

Leia mais no livro “História do Japão em Mangá” – 2ª edição 2001, Associação Cultural e
Esportiva Saúde, autores: Francisco Noriyuki Sato, Antonio Paulo Goulart, Roberto
Kussumoto e Francisco Handa.

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