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09/10/2019 Invenções Insólitas

Esboços de
Leonardo Da
Vinci (1475)
Nosso
Patrono

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José Cardo Ollé, nasceu na Espanha, no povoado de Aiguamurcia próximo da


cidade histórica de Tarragona (Catalunha), testemunhas recentes (1992) do
povoado, definiram muito bem a pessoa de José Cardo, era um homem "honesto,
habilidoso e empreendedor", uma definição pequena para um homem que foi
agricultor, padeiro, forjador, pedreiro (no sentido da pedra), político, militante do
partido socialista, instrutor de cavalaria, soldado da República, combatente de
guerra civil espanhola, líder dos companheiros no campo de concentração, líder de
uma cooperativa vinícola.
Seu esporte preferido, seguindo os passos de seu pai, era a caça (coelhos,
perdizes e lebres). Os companheiros de caça foram quase todas figuras
José Cardó Ollé 1930 representativas da região (delegados, prefeitos, padres e historiadores), que
freqüentavam a casa de Aiguamurcia e nunca se desviou de seu ideal socialista,
seus oponentes ideológicos o respeitavam muito, pois acima de tudo tinha uma postura pacifista,
sempre condenou a guerra.

Com o movimento da guerra espanhola 1938/41, José foi um homem marcado, só


sobreviveu porque seus oponentes ideológicos (vencedores) o protegeram. Em 1950
dez anos após guerra, tomou a decisão de imigrar para a "América", com os recursos
da venda das propriedades.
Ele foi o último da Casa "Cal Mas Stret" fundada em 1486, fruto da Sentencia Arbitral
de Guadalupe (lei promulgada pelos reis católicos da Espanha em favor dos
agricultores) e migrou em 1952 para o Brasil, com a esposa e quatro filhos,
desembarcou em Santos em 05/10/1952.

José Cardó Ollé


1963

Para entender isso, é preciso voltar atrás no tempo e verificar onde José Cardo cresceu. A região da
Catalunha foi palco de grande movimentos históricos:

• 700 a.C. colonizada pelos gregos de Rodes (Ampurias);


• 270 a.C. o general Romano Spicion instalou-se em Tarragona;
• 30 a.C. Júlio César venceu Pompeu na batalha de Illerda (Lleida atual);
• 700 d.C os árabes invadem a Espanha e param nos Pirineus, onde são empurrados pelo
imperador Carlos Magno até o rio Llobregat (marca hispânica), os próximos 400 anos a marca
chega ao rio Ebro (ao sul dos Pirineus) e assim formou-se as Fronteiras da Catalunha.

No ano mil o povo, que segundo os historiadores sofreram muitas invasões porém não se misturaram
etnicamente, tinham assimilado o uso da pedra com argamassa (cal e areia), o uso da pedra, o moinho
de trigo movido a água , a forja catalana (ficou famosa como "método Catalão", veja livros sobre
siderurgia), a prensa de uva que foi introduzida pelos Romanos nos campos de Tarragona em 50 a.C
que evoluiu de alavanca com pesos para rosca e clic até 1750, os modelos melhorados ainda
funcionavam em 1950; politicamente tinham evoluído para fazer acôrdos com seus oponentes ("A
Concordata" muito usada por políticos Catalães).

A religião, do ano 1000 até 1492 era livre, com predominância Cristã, a partir de 1492 com os reis
católicos as outras religiões foram banidas, em especial dos Judeus e dos Árabes (maometanos).
Poetas populares cantam em lamentos o quanto à Espanha perdeu com a expulsão dos Árabes.

Neste contexto, o homem do campo (paijes), sempre escravo do senhor das terras ganhou um
presente dos reis católicos, uma reforma no campo, a "Sentencia Arbitral de Guadalupe", uma espécie
de liberdade para o oprimido lavrador, dentro destes benefícios os "Cardo", construíram sua sede na
pequena praça de Aiguamurcia, junto com outras quatro famílias, a casa foi construída com frente
muito estreita devido ao espaço disponível, dandos origem ao nome "Cal Mass Stret" (cal-os, mass-
casa e stret-estreito), isto é, os da casa estreita.

Depois evoluiu para "Cal Massestret", esta casa foi sede da família até 1904,
quando o pai de José Cardo comprou uma maior construída em 1100, as duas
casas ainda existem e estão bem conservadas.
A nova sede passou a chamar-se "Cal Sisco Massestret", traduzindo seria "Casa
de Francisco da Casa Estreita".

Casa de Aiguamurcia
1950 Em 1950, a casa possuía a seguinte estrutura:

• Sala de armas (oficina de armas)

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• Forja (com fole e bigorna)
• Marcenaria (fabricavam "Botes"- barris de madeira)
• Água, luz elétrica e esgoto.
• Um ambiente para manufaturas artesanais de madeira, ferro forjado e era palco de discussões
políticas e religiosas, já que um primo de José, foi Cônego de Barcelona em 1936 (escritor e
redator da revista Bom Pastor).

Portanto, se podemos acreditar que o homem é grande parte do fruto da tradição e comportamento do
meio, sendo que o meio foi muito fértil, estava pronto o "inventor José Cardo Ollé".

José Cardo, em 1957 já tinha estabilizado a vida com muito trabalho e ajuda dos filhos, logo teve
excedente (era um Pater Família), em 1958 buscando outras formas de rendimento, alugou uma olaria
e analisou como era produzido o tijolo, já não dormiu mais, desistiu do método artesanal e partiu para
uma solução mais produtiva.

1ª Etapa - Constuir uma máquina de madeira


Era uma roda de madeira com uns 20 formas, com fundo móvel fixado num pino,
que era usado para extrair o tijolo, para comprimir o barro tinha dois rolos
superiores (veja foto ao lado). Esta máquina foi elaborada e testada durante seis
meses, tudo movido por manivelas e funcionou precariamente.

Testemunho roda de
madeira 2ª Etapa - Construir uma
Máquina de Ferro
Depois de longas discussões, foi desenhar e construir
uma máquina de ferro móvel, que deixaria o tijolo no
terreno para pré-secagem, método usado no tijolo feito
à mão. Esta máquina foi elaborada e testada durante
um ano (custo alto). Funcionou, mas ficou inviável
Persperctica
alimenta-la em movimento, fazia 20 tijolos/ minuto e Desenho Tijoleira Móvel
Tijoleira Móvel
tinha duas rodas.

3ª Etapa - Um Parceiro (R. Cerveline Ltda.)


Foi feita uma máquina fixa, com esteira extratora, foram construídos e vendidos
vários modelos desta máquina, assim nascia a revolução nas olarias, depois
descobrimos que não estávamos sós. Os testes da tijoleira "Cardo" têm muitas
histórias uma delas é que tivemos muitos torcedores e até colaboradores e muitas
críticas também.

Os primeiros testes, foram feitos na olaria modelo do Dr. Nicolau


Desenho Tijoleira
Fixa
Assef, em Ouro Fino (Ribeirão Pires/SP), esta olaria era uma utopia
pelo menos 50 anos na frente da realidade, tinha forno túnel com secador e zona de
queima. Chegou a funcionar com a primeira máquina, mas quebrava muito, e tinha-se
problemas com desmoldante, mais tarde descobriu-se que em telha já era usado há
muito tempo, uma mistura de querosene e estearina (foi a solução para o problema
do desmoldante).
Fabricaram cerca de 250.000 tijolos e pararam, pois o forno era gasogênio e depois
foi usado óleo queimado, infelizmente ficou inviável e parou, um desastre econômico
e uma vitória tecnológica. Catálogo Tijoleira
Cardo

Neste contexto de invenção fabricação e comercialização, aventurei-me a visitar o "rei do tijolo", na


região de Rebeirão Pires, o Sr. Cosmo Rigo tinha várias olarias convencionais, recebeu-me muito bem,
mas após minha explicação sobre máquina de tijolos, fui colocado para fora da olaria sem cerimônias,
alegando que o tijolo de maquina era liso e o reboque não iria aderir, este argumento foi usado
amplamente pelos concorrentes convencionais (à mão), por mais de uma década.

Tivemos os que acreditaram, o nosso primeiro cliente comercialmente falando foi o Sr. Waldemar, que
chegou a funcionar precariamente, pois a nossa máquina não misturava o barro só substituia o
"Batedor".

Acredito que chegaram aproximadamente aos 700.000 tijolos, tudo caminhava muito bem e iniciamos
as melhoras que o mercado precisava.
• Primeiro reforçamos a máquina.
• Segundo fizemos uma pipa separada.
• Terceiro anexamos a pipa na máquina.

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Máquina B a 1°
Croqui da Tijoleira acoplada
com pipa Catálogo Tijoleira Cardo B
com pipa (B)
acoplada 1964

Em 1964, tínhamos chegado quase aos 30 tijolos/minuto e já falavam em 5.000.000 tijolos. E fomos
sorprendidos pelo movimento de 1964, então tudo parou e José e família, viram-se com os negócios
parados também.
A sociedade com R. Ceveline, ficou abalada e a fabricação da máquina só foi recomeçada em 1977,
onde foram construídas algumas dezenas de unidades da "Cardo C".

Desenhos Tijoleira Cardo C Tijoleira CArdo C

A fabricação deste modelo foi provisória, sem uma boa estrutura de assistência e foi decidido parar
definitivamente em 1978.
Em 1995, José Cardó Ollé uma pioneiro da "Tijoleira", morreu em Presidente Prudente, na casa de um
filho, nunca foi a um hospital em toda sua vida, simplesmente parou de funcionar.
José Cardo Ollé, teve uma vida plena e a "Tijoleira"é mais que uma capítulo de inúmeras realizações e
podemos afirmar com toda certeza, que no Estado de São Paulo o tijolo feito à mão, já faz parte do
passado.

1905- nasce filho de Francisco Cardo Boronat e Maria Ollé Ferre.

1925- serve o exército da monarquia e é promovido a instrutor de cavalaria.

1930- milita no partido socialista espanhol de forma informal.

1936- Casa-se com Antonia Batet Mateu, de uma família tradicional de Aiguamurcia.

1938- Participa do movimento da República espanhola.

1939- participa como combatente da República, sendo um dos poucos sobreviventes de


seu batalhão na "Batalha do Ebro", foi prisioneiro por oito meses num campo de
concentração dos "Nacionales".

1941- com o fim da guerra, volta para casa e reinicia a padaria do Povoado e
José e Antonia recuperando as terras de seu pai.
1936
1942- nasce seu último filho (agora eram quatro homens).

1952- faz opção pela "América"chega ao Brasil em Santos no navio Florida.

1953- Monta de "a meias"com fazendeiro de Capelinha próximo de


Guarulhos, um viveiro de cítricos de 150.000 mudas e mais agricultura de
subsistência.

1954- o mercado de mudas de cítricos não é bom e muda-se para um sítio


do Itaim Paulista (próximo a São Miguel Paulista) também de "a meias"
(agricultura e granja), já possuía um trator.

Igreja de Capelinha 1967 1955- desanimado com a estrutura "meieira"das terras, resolve de uma
vez por todas optar pela cidade.

1957- com ajuda dos filhos, já grandes. Fixa-


se em Santo André/SP e em 1958 já estava
estável com renda e alguns bens.

1958 - constrói a Tijoleira Cardo (1961 a 1977


- 125 unidades fabricadas)

1975- com 70 anos mudou-se para Presidente

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Prudente e passou tudo para os filhos. Filhos: Francisco, Pedido de
Jaime, Platão, Antonia 1936 (Espanha) patente
José(1965) 133400
1977- perde a companheira de sua grande
jornada.

1995- morre na única vez em que vai a um hospital, de insuficiência pulmonar.

Está é uma homenagem ao inventor José Cardo Ollé, pois mesmo que não obteve o sucesso financeiro
esperado em nenhum momento de sua vida passou privações humilhantes. Viveu como todo ser
inconformado, tentando mudar o "normal" em direção ao desconhecido e nunca mais se fez um tijolo à
mão.

F.C. Batet

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