Você está na página 1de 41

MANEJO ECOLÓGICO DO SOLO E PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS

Laila Brito1
Angela Billar de Almeida2

1. INTRODUÇÃO

Neste capítulo, você terá a oportunidade de conhecer o que é um manejo ecológico


do solo e aprenderá a implantar práticas conservacionistas que melhor se adaptem à
realidade dos produtores.

O solo é uma das maiores riquezas fornecidas pela natureza. Sem ele a vida na Terra
não seria possível. Ele é resultante da transformação das rochas ao longo do tempo pela ação
do clima (chuva, vento, sol, etc.), pelas características do relevo e pelos efeitos dos agentes
biológicos (fungos, bactérias, insetos, etc.). Por conter grandes quantidades de ar, água e
matéria orgânica, o solo fornece os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas
e, consequentemente, dos animais que delas se alimentam, inclusive o ser humano.

O solo desempenha um papel de extrema importância no ecossistema, por isso


devemos nos preocupar com sua conservação. Em primeiro lugar, para um bom
aproveitamento e um mínimo de danos, é necessário conhecer o tipo de solo que vai ser
utilizado. Por esse motivo, esta apostila começa comentando os tipos de solo encontrados na
região de Botucatu; em seguida, trata dos problemas enfrentados pelo produtor que faz um
manejo inadequado do solo; e, por fim, sugere soluções para minimizar tais problemas,
visando principalmente à conservação ou à recuperação do solo.

Boa leitura!

1
Discente do 4º ano do curso de Engenharia Florestal da Faculdade de Ciências Agronômicas “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP). Campus de Botucatu/SP. E-mail: lailabrt@gmail.com
2
Engenheira Agrônoma. Mestra em Agronomia (Área de Concentração: Agricultura da Faculdade de Ciências
Agronômicas “Júlio de Mesquita Filho” - Unesp) - Campus de Botucatu/SP. E-mail: gebillar@hotmail.com
2. MANEJO ECOLÓGICO DO SOLO

O manejo ecológico, assim como a ciência de conservação, defende um conjunto de


medidas para a manutenção (nas terras em boas condições) ou a recuperação (nas terras
danificadas) das condições físicas, químicas e biológicas do solo. Para isso, é preciso
estabelecer critérios de uso e manejo das terras de modo que não se comprometa a
capacidade produtiva dessas terras. Para proteger o solo dos efeitos danosos da erosão e criar
condições adequadas ao desenvolvimento das plantas, é necessário aumentar:

 a disponibilidade de água,

 a quantidade de nutrientes, e

 a atividade biológica do solo.

Para uma conservação do solo mais eficaz, é necessário conhecer o ambiente em que
se vai trabalhar, levando-se em consideração:

 o clima da região,

 o tipo e a condição do solo utilizado,

 o relevo do terreno,

 os problemas enfrentados pelo produtor,

 a condição financeira do produtor, e

 a disponibilidade de mão-de-obra para a implantação de medidas preventivas e curativas


dos problemas ocasionados pelo mau uso do solo.
3. CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS LOCALIZADOS NO
PERÍMETRO DE BOTUCATU

O perímetro de Botucatu,
localizado na APA Corumbataí –
Botucatu – Tejupá, abrange os
municípios de Angatuba, Avaré, Bofete,
Botucatu, Guareí, Itatinga, Pardinho, São
Manuel e Torre de Pedra, entre os rios
Tietê e Paranapanema. Uma das
características mais marcantes da região
é o relevo de cuestas3 ( Figura 1 ), que
resulta do trabalho contínuo de erosão
sobre o solo, gerando a formação de grandes Figura 1. Cuesta de Botucatu.
(Fonte: www.guardioesdacuesta.com.)
plataformas rochosas que se destacam dos
vales suaves ao redor.

Devido ao processo erosivo, os solos das cuestas são muito frágeis, o que aumenta a
necessidade de conservá-los. Considerando que para cada tipo de solo há um modo mais
eficaz de conservação devemos, antes de selecionar as práticas conservacionistas, conhecer
as características, os potenciais e as fragilidades do solo que será manejado. Por esse motivo,
estão listados a seguir os tipos de solo mais representativos da região e suas principais
características.

 Latossolo Vermelho-Amarelo

 é um solo profundo (espessura superior a 1 metro na maioria das ocasiões), em


avançado estágio de intemperismo4;

 homogêneo ao longo do seu perfil e muito permeável (permite a passagem de


líquidos e gases);

 pode ter textura média, argilosa e muito argilosa;


3
Cuesta: tipo de formação geológica que contrapõe um relevo suave a um relevo acentuado, criando uma
diferença de altitudes.
4
Intemperismo: conjunto de processos (físicos, químicos e biológicos) que ocasionam a desintegração e a
decomposição das rochas.
 apresenta coloração que varia do amarelo ao vermelho;

 é típico de regiões equatoriais e tropicais;

 geralmente ocorre em áreas de relevo plano e suave ondulado, onde a superfície é


relativamente estável, dificultando a erosão;

 predomina nos municípios de São Manuel e Botucatu.

 Latossolo Vermelho

 antigamente chamado de Latossolo Roxo ou Latossolo Vermelho-Escuro;

 apresenta características semelhantes às do Latossolo Vermelho-Amarelo, porém com


coloração mais avermelhada (devido à presença de ferro);

 predomina nos municípios de Botucatu e Angatuba.

 Nitossolo Vermelho

 antigamente chamado de Terra Roxa Estruturada;

 apresenta textura argilosa ou muito argilosa;

 é bastante poroso, com boa estrutura;

 devido ao elevado teor de óxido de ferro, a cor é vermelho-escura, tendendo ao


arroxeado;

 pode ser levemente ácido ou muito ácido; quando comparado aos Latossolos,
apresenta maior potencial de resposta às adubações;

 ocorre em áreas de relevo ondulado;

 é bastante produtivo;

 predomina no município de São Manuel.


 Argissolo Vermelho-Amarelo

 antigamente chamado de Podzólico Vermelho-Amarelo;

 apresenta teor de argila bem mais elevado na subsuperfície que na superfície; por
esse motivo, a velocidade de infiltração da água é muito rápida na superfície e lenta na
subsuperfície, podendo causar erosão severa;

 ocorre em situações de relevo com inclinações mais acentuadas que os Latossolos,


aos quais geralmente estão associados;

 predomina nos municípios de Pardinho, Bofete e Guareí.

 Neossolo Litólico

 antigamente chamado de Litossolo;

 a maior parte de sua massa é composta de fragmentos de rocha, pois é um tipo de


solo muito raso (menos de 40 centímetros de espessura);

 por ser muito raso, é mais suscetível à erosão;

 não apresenta boa produtividade agrícola;

 predomina nos municípios de Angatuba e Torre de Pedra.


Figura 2. Mapa de solos da região de Botucatu.
LEGENDA: LVd = Latossolo Vermelho distrófico 5 / PVAd1 = Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico 1 / RQo típico =
Neossolo Quartzarênico órtico típico / LVAd1 = Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico / NVdf = Nitossolo Vermelho
distroférrico / RUbd = Neossolo flúvico distrófico / GXbd = Gleissolo háplico distrófico / RLe = Neossolo Litólico eutrófico 6 /
PVAd2 = Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico 2 / LVdf = Latossolo Vermelho distroférrico / LVAd2 = Latossolo Vermelho-
Amarelo distrófico argiloso. (Fonte: Piroli, 2002.)

5
Distrófico: tipo de solo em que a porcentagem de saturação por bases (V) é inferior a 50%, sendo ,portanto, bastante
ácido. É um solo de média ou baixa fertilidade.
6
Eutrófico: solo em que a porcentagem de bases (V) é superior a 50%. É um solo de alta fertilidade.
4. PROBLEMAS CAUSADOS PELO MAU USO DO SOLO

De modo geral, o solo mantido em estado natural, sob a vegetação nativa, apresenta
características físicas adequadas a um ótimo desenvolvimento das plantas. Nessas condições,
o volume de solo explorado pelas raízes é relativamente grande. Contudo, à medida que o
solo é submetido ao uso agrícola, suas propriedades físicas sofrem alterações, geralmente
desfavoráveis ao desenvolvimento vegetal.
Um manejo inadequado do solo gera inúmeros problemas e produz efeitos em cadeia,
que afetam todo o bioma7. A erosão, a compactação e o aumento da salinidade do solo são os
maiores problemas relacionados com o manejo inadequado e poderão ser responsáveis pela
escassez de alimentos num futuro não muito distante, se práticas corretas de manejo e
conservação do solo não forem adotadas desde já.

A seguir, serão abordados os problemas decorrentes do mau uso do solo, dando-se


maior importância aos problemas associados à erosão, que é a principal causa de degradação
das áreas agricultáveis da região, principalmente devido ao tipo de relevo.

4.1 Salinização

Chama-se salinização do solo o processo de acumulação de sais solúveis de sódio, de


magnésio e/ou de cálcio.

 Causas da salinização:
 material originário de rochas;
 irrigação com água com alto teor de sais;
 problemas na drenagem interna do solo;
 irrigação em solos rasos ou mal drenados;
 adubação excessiva e localizada.

O acúmulo de sais no solo pode alterar sua estrutura, além de reduzir sua fertilidade.
Com o excesso de sais, a planta enfrenta dificuldades na absorção de água e sofre
interferência nos processos fisiológicos (efeitos indiretos), prejudicando seu crescimento e
7
Bioma: nome que se dá a uma grande comunidade (todas as plantas e animais de uma região), estável e desenvolvida,
adaptada às condições ecológicas de uma certa região, e geralmente caracterizada por um tipo principal de vegetação.
desenvolvimento. Esse tipo de problema ocorre principalmente em regiões áridas e semi-
áridas, mas o uso indiscriminado de fertilizantes e irrigação com água salina podem originar
o mesmo problema em solos de outras regiões.

 Controle da salinidade:
 lixiviação dos sais em excesso na zona radicular da cultura;
 manutenção de altos níveis de umidade no solo;
 utilização de culturas tolerantes à salinidade;
 melhoria na drenagem do solo.

4.2 Compactação do solo


Quando o solo sofre pressões inadequadas, suas partículas tornam-se muito densas
(sólidas), e dizemos que ocorreu um processo de compactação. Esse é um grande problema,
pois ocasiona quebra dos agregados e diminuição no seu volume, o que impede uma correta
infiltração de água.
Na subsuperfície do solo (Figura 3), a compactação aparece quando o equipamento
agrícola é utilizado sempre na mesma profundidade, ou quando este não está devidamente
afiado; na superfície, a compactação aparece devido às pressões inadequadas ocasionadas
durante o tráfego de máquinas e implementos agrícolas.
A B

(B)
Figura 3. (A) Solo com camada compactada; (B) solo bem
desenvolvido, em equilíbrio. (Fonte: www.sobiologia.com.br.)

 Problemas ocasionados ao solo pela compactação


 diminuição da troca gasosa (oxigênio e dióxido de carbono);
 limitação no movimento de nutrientes;
 diminuição da taxa de infiltração de água no solo, promovendo o excesso de água e a
possibilidade de enxurradas.
 Problemas ocasionados às plantas pela compactação
 dificuldade para a germinação, brotação e emergência das plantas;
 prejuízo no crescimento radicular — as raízes são impedidas de penetrar no solo e
ficam retidas na camada superficial;
 apodrecimento das raízes pelo excesso de água;
 inibição no crescimento da parte aérea.
“Por afetar a densidade, porosidade do solo, infiltração e drenagem de água, a
compactação do solo favorece o escoamento superficial da água, portanto, facilita a
ocorrência de erosão hídrica.” (MACHADO & FAVARETTO, 2006).

 Identificação da compactação

Pode ser feita no campo, por meio de observações práticas ou de equipamentos


apropriados. A determinação da densidade do solo deve ser destacada, pois é o método de
maior precisão e largamente utilizado, uma vez que busca avaliar a proporção do espaço
poroso em relação ao volume de solo.

 Como minimizar a compactação dos solos


1. Alternar todo ano a profundidade de preparo do solo e fazer periodicamente a
manutenção dos equipamentos agrícolas.
2. Atentar para as condições de umidade do terreno por ocasião de seu preparo. O ponto
de umidade ideal é aquele em que o trator opera com o mínimo esforço, produzindo
os melhores resultados na execução do serviço. Com o solo muito úmido, aumentam
os problemas de compactação, pois ocorre maior agregação das partículas e
impregnação da terra nos implementos, chegando a impedir a operação.
3. Incorporar matéria orgânica ao solo, uma vez que a matéria orgânica melhora a
agregação das partículas de solo, melhorando a porosidade e, consequentemente, a
infiltração de água. O principal papel da matéria orgânica contra a compactação é o
seu poder de absorção de água. Quando se adiciona matéria orgânica ao solo, a quantidade
de água para que ocorra a compactação é maior do em um solo que não a possui.

4.3 Erosão
É chamado erosão o processo de arrastamento das partículas do solo devido à ação do
vento (erosão eólica) e da água (erosão hídrica).

A erosão é um processo que ocorre de forma natural e que — ao longo de bilhões de


anos, muito lentamente — "esculpiu" as montanhas, as planícies e os vales do nosso planeta.
Em condições naturais, a quantidade de solo erodido é muito pequena, sendo recomposta
pela própria natureza. Isso caracteriza uma condição de equilíbrio.

Entretanto, quando o homem cultiva a terra, esse equilíbrio é rompido. Florestas são
derrubadas e queimadas, a camada superficial de solo é revolvida por arados e grades durante
o preparo do solo para o plantio. Em um solo descoberto e preparado, os agentes erosivos
(chuva e vento por exemplo) não encontram barreiras, arrastando uma quantidade de solo
maior do que aquelas que são deslocadas em condição natural.

Os processos de erosão ocorrem em três etapas:

1ª) Desagregação: pela ação dos ventos e das chuvas, as partículas do solo são soltas da
superfície, o que ocorre com maior facilidade em terrenos descobertos.

2ª) Transporte: as partículas desagregadas são arrastadas, principalmente pela água que não
se infiltra no solo e escorre superficialmente (enxurrada).

3ª) Deposição: as partículas desagregadas são depositadas nas partes mais baixas da
paisagem (vales e leitos dos rios), o que ocasiona o assoreamento (como será visto
adiante).

A chuva é o principal agente erosivo no nosso país. A água da chuva transporta o


material erodido (o material que é arrastado do solo) para locais onde ele não poderá ser
aproveitado pela agricultura, tornando o solo que sofreu a erosão, menos fértil e menos
espesso.

Quando um terreno apresenta infiltração excessiva, ou seja, quando a água da chuva


ou de irrigações percorre toda a camada de solo sem ser retida, os nutrientes presentes
naquele solo são dissolvidos e levados para os lençóis freáticos 8, tornando-se indisponíveis
para a nutrição e o crescimento das plantas. Esse processo é chamado de lixiviação.

O material erodido é transportado para o leito de rios, riachos e lagoas. O acúmulo


desse material no leito aquático (no fundo dos rios) desencadeia um processo chamado de
8
Lençóis freáticos são as camadas de água subterrâneas que se encontram em nível pouco profundo, logo abaixo do solo,
da superfície.
assoreamento (Figura 4), que é a diminuição da profundidade da camada de água. O rio
assoreado passa a correr mais lentamente, o que por sua vez provoca maior assoreamento,
gerando um círculo vicioso. Com o passar do tempo, o espaço para a água fica muito
reduzido, provocando grandes danos, como o prejuízo de toda a vida aquática, a modificação
dos ecossistemas9, a inviabilização da navegação, inundações nas áreas próximas e
problemas de abastecimento (o volume de água disponível para consumo também diminui).

Figura 4. Rios assoreados. (Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br)


A erosão hídrica pode ocorrer basicamente de três formas: laminar, por sulcos ou
como voçorocas.

 Erosão hídrica laminar

É a primeira forma de erosão a atingir qualquer terreno, na qual ocorre a remoção


de uma fina camada superficial ocasionada pela passagem de água durante uma chuva.
Essa remoção ocorre ano após ano, sendo percebida apenas quando as raízes das plantas
(principalmente de árvores) ficam expostas. É bastante preocupante, pois dificilmente é
notada. O que agrava o problema é o fato dessa camada removida ser componente da
parte mais rica do solo, da parte que contém grande quantidade da matéria orgânica,
necessária ao desenvolvimento vegetal.

 Erosão hídrica em sulcos

Ocorre quando a enxurrada se concentra em alguns pontos, abrindo pequenas


"valetas", de alguns centímetros de profundidade, na superfície do terreno (Figura 5).
Com o passar do tempo, esses canais vão aumentando, tornando-se mais largos e
profundos a cada precipitação. Esse tipo de erosão acontece principalmente em solos
desprotegidos e de relevo íngreme (muito inclinado), onde a água da chuva escoa com
9
Ecossistema é o nome que se dá ao conjunto de todos os seres vivos (os vegetais e os animais) e do ambiente (o solo, os
minerais etc.) de certa região.
maior velocidade. Em solos cultivados continuamente (um cultivo seguido logo após o
outro) o efeito desse processo costuma ser maior. Sulcos que apresentam uma queda
d’água em sua extremidade provavelmente se transformarão em voçoroca ao longo do
tempo.

Figura 5. Erosões em sulcos. (Fonte: Lima, 2007).

 Erosão hídrica em forma de voçorocas

São chamados de voçorocas os sulcos que apresentam largura e profundidade


muito maiores que os citados acima (Figura 6). Esse tipo de erosão ocorre geralmente em
solos profundos, de fácil penetração e cultivados sem o mínimo cuidado com a
conservação, o que impede futuros cultivos. As voçorocas aumentam suas dimensões (a
largura e a profundidade) com a ação da água que escoa pelo sulco, levando mais
material erodido e derrubando as paredes do sulco, podendo afetar muitos hectares e
deixando a área economicamente inaproveitável.

Figura 6. Erosões em voçorocas. (Fonte: Lima, 2007).


5. FATORES ASSOCIADOS À EROSÃO

De acordo com Resende (1985), o grau de erosão depende de vários fatores, que são:
textura, estrutura e permeabilidade do solo; matéria orgânica presente no solo; declive,
comprimento de rampa e forma de encosta do relevo.

5.1Textura

Chamamos de textura à aparência física do solo, que depende da massa (do peso) das
partículas que o formam e da agregação entre elas (o modo como essas partículas se unem).
A massa e a agregação das partículas influenciam a coerência entre as partículas (a força de
união entre elas) e a permeabilidade do solo (o quanto de água ele permite passar).

“O solo mais resistente à erosão é aquele que apresenta a melhor combinação das
duas características opostas: permeabilidade e coerência entre as partículas.” (VIÇOSA,
1979, citado por RESENDE, 1985.)

“Os solos que apresentam maior coerência entre as partículas tendem a apresentar
uma erosão do tipo laminar; já os solos com menor coerência costumam apresentar erosão
em sulcos.” (RESENDE, 1985.)

 Solo arenoso

Solo em que há o predomínio de partículas de areia. Apresenta textura mais grossa


e baixa agregação entre as partículas (as partículas são mais separadas). Por formar
grandes espaços porosos, esse tipo de solo, durante uma chuva de baixa intensidade,
absorve com facilidade a água precipitada. Contudo, devido à baixa proporção de argila
que atua ligando as partículas grandes, uma pequena enxurrada, escorrendo pela
superfície, pode arrastar grande quantidade de solo. Por isso, o solo arenoso sofre mais
com a erosão.

 Solo siltoso
Tipo de solo que contém elevados teores de silte (partículas de tamanho
intermediário entre as da argila e as da areia, mas menos pesadas que as partículas de
areia). Apresenta melhor agregação que a areia quando seco mas, quando úmido, forma
agregados instáveis, que são transportados com maior facilidade.

 Solo argiloso

Solo em que há o predomínio de partículas de argila. Apresenta menores espaços


porosos, o que proporciona maior retenção de água; por esse motivo, a penetração da
água é difícil e mais lenta, o que favorece o escorrimento pela superfície. Entretanto,
devido à grande presença de argila, a força de coesão das partículas é maior, o que faz
aumentar a resistência à erosão.

 Relação entre a textura e as ocorrências naturais (ventos e chuvas)

Quando os agregados são destruídos — pela ação da chuva ou de implementos


agrícolas — o deslocamento das partículas torna-se mais fácil. Assim, a areia grossa,
devido ao peso, é depositada com maior facilidade, enquanto a argila e o silte, que são
mais finos e leves, são transportados e mais bem aproveitados pelos vegetais.

A areia fina, em relação à grossa, sofre mais com a erosão, pois além de
apresentar baixa agregação, é levada com maior facilidade pelo vento e pela chuva.

5.2 Estrutura

Em solos bem estruturados, ou seja, bem agregados, as partículas menores agregam-


se com partículas maiores, aumentando o número de macroporos do solo. Isso facilita a
infiltração de água, evitando a ocorrência de enxurradas. Esses solos são mais resistentes à
erosão, pois dificultam a primeira etapa desse processo, que é a desagregação pela água.

A estrutura em blocos proporciona permeabilidade menor e, consequentemente,


erosão laminar acentuada. A estrutura granular proporciona maior permeabilidade e uma
tendência maior de desenvolver erosão em sulcos.

5.3 Permeabilidade
A permeabilidade é um fator intimamente ligado com a estrutura do solo. Solos de
pouca permeabilidade (que dificultam a infiltração da água) tendem a sofrer maior erosão,
pois favorecem o arrastamento das partículas através do escoamento superficial ou
subsuperficial. Solos extremamente permeáveis (que facilitam a infiltração da água) tendem a
ter grandes perdas por lixiviação, tornando-se empobrecidos. Portanto, o solo ideal deve
apresentar permeabilidade equilibrada, nem muito alta nem muito baixa.

OBSERVAÇÃO: Tanto para diminuir quanto para melhorar a permeabilidade de um


solo, é necessário adicionar matéria orgânica. No caso de solos arenosos, a matéria orgânica
contribuirá para maior agregação das partículas e ajudará na retenção de água. Em solos
argilosos, devido aos agregados, ocorrerá aumento no tamanho dos poros, o que facilitará a
movimentação da água.

5.4 Presença de matéria orgânica

A matéria orgânica presente no solo é proveniente dos restos animais e vegetais que
entram em processo de decomposição. Ela é de extrema importância, sendo principalmente
fonte de nutrientes. A matéria orgânica também melhora a estrutura do solo, aumentando sua
permeabilidade. Ela auxilia na agregação das partículas (areia, silte e argila), agindo como
um agente cimentante, além de manter a umidade do solo e de conferir maior estabilidade aos
agregados, o que dificulta sua dispersão e arraste pela enxurrada.

5.5 Relevo (comprimento, declive e forma da encosta)

Altas declividades acentuam as perdas por erosão, por aumentarem a velocidade com
que a água escorre nessas circunstâncias. Lançantes (qualquer terreno em declive) extensos e
de forma linear agravam a erosão, pois facilitam a movimentação de maiores volumes de
água. Ou seja, quanto maior o comprimento da rampa ou maior sua inclinação, maior será a
perda por erosão.

Quanto mais convexa a forma da encosta, maior será o grau de erosão, pois a
concentração da água causa grande instabilidade, especialmente no terço inferior da encosta.
Nos terrenos convexos, há divergência da água da enxurrada, desenvolvendo-se uma erosão
mais uniforme e laminar, o que causa a retirada do solo erodido do sistema, que leva consigo
os nutrientes. Nos terrenos côncavos, há convergência da água da enxurrada, desenvolvendo-
se uma erosão mais localizada, tendendo à formação de sulcos e voçorocas. Além disso, o
solo erodido é depositado nas partes baixas do terreno, fazendo os nutrientes acumularem-se
nelas.

Enquanto os solos de declividade acentuada sofrem com a erosão, os solos planos e


muito permeáveis são atingidos pela lixiviação intensa.

6. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS

“Práticas conservacionistas são técnicas utilizadas para aumentar a resistência do


solo ou diminuir as forças do processo erosivo” (BERTONI & LOMBARDI NETO, 1990). A
escolha das práticas é feita em função dos aspectos ambientais e socioeconômicos de certa
propriedade e região. Cada prática, aplicada isoladamente, previne apenas de maneira parcial
os problemas, por isso o ideal é o uso simultâneo dessas práticas.

As práticas conservacionistas podem ser de três tipos: edáficas (ligadas ao solo e ao


manejo realizado nele), vegetativas ou mecânicas, e são divididas conforme a Tabela 1.

Tabela 1: Principais técnicas de conservação do solo

Práticas Edáficas
Práticas Vegetativas Práticas Mecânicas

 Controle de queimadas  Alternância de capinas  Preparo do solo

 Calagem  Cobertura morta  Cutivo mínimo

 Adubação: química,  Rotação de culturas  Plantio direto


orgânica, verde
 Aumento da produção  Formação e manejo de  Plantio em nível
vegetal pastagem
 Terraceamento
 Adequação da cultura  Quebra-ventos
ao tipo de solo  Irrigação e drenagem
 Florestamento e
reflorestamento
 Cordão de vegetação
permanente

 Recomposição de matas
ciliares

 Cultura em faixas
 Consórcio de culturas

(Fonte: Elaborado pela autora do capítulo, BRITO, L., 2010.)


6.1 Práticas edáficas

Visam à melhoria da fertilidade do solo.

LEMBRETE: Antes de realizar a adubação e a calagem, é preciso fazer uma análise do solo
em questão, para saber as quantidades certas a serem aplicadas, evitando-se o desperdício de
dinheiro e a poluição do solo com nutrientes desnecessários.

 Controle de queimadas

As queimadas são uma forma muito barata, simples e eficaz de limpar o terreno e
eliminar pragas e doenças. Porém, essa prática traz muitos prejuízos ao solo:

 diminui a quantidade de matéria orgânica disponível;

 reduz a fertilidade do solo, pois boa parte dos nutrientes disponíveis às plantas é
perdida durante a queima;

 torna o pH do solo mais alcalino (ou seja, há um aumento no pH), mas, com o passar
do tempo, esse efeito é ao contrário, causando diminuição no pH, que é prejudicial ao
desenvolvimento das plantas;

 devido à formação de uma camada que repele a água, diminui a permeabilidade do


solo e a infiltração;

 aumenta as perdas por erosão, pois deixa o solo descoberto e diminui a infiltração de
água.

Apesar de todas essas desvantagens, o fogo ainda é muito utilizado,


principalmente em pastagens.

Lembrete: Deve-se, pelo menos, minimizar os danos causados pelas queimadas. A


freqüência deve ser baixa, a cada dois ou três anos. O período mais favorável, no Brasil, é
no final de agosto, quando a pastagem encontra-se menos úmida, o início das chuvas está
próximo e a temperatura aumentando, o que auxilia no rebrote do pasto.

 Calagem
Certas plantas não toleram solos ácidos, enquanto outras já são mais resistentes.
Isso ocorre porque o pH do solo influencia no teor de alumínio e de ferro, que são
prejudiciais às plantas, e na absorção de muitos nutrientes pelas plantas, como o fósforo,
nitrogênio, potássio, enxofre, cálcio, magnésio, entre outros. Esses elementos são
fundamentais ao desenvolvimento sadio dos vegetais e, quando o solo apresenta pH
muito baixo ou muito elevado, esses nutrientes não são absorvidos. O pH ótimo para a
maioria das culturas está entre 5,5 e 6,5, por coincidir com a faixa de absorção dos
nutrientes.

O calcário é a base dos compostos químicos usados para corrigir a acidez do solo.
Ele é uma mistura de carbonato de cálcio com impurezas, podendo ser rico em cálcio ou
dolomita10, que é a forma mais utilizada e que apresenta um equilíbrio entre os teores de
cálcio e magnésio. Os produtos mais comumente usados, encontrados no mercado, são
carbonato de cálcio, óxido de cálcio (cal virgem ou cal viva), hidróxido de cálcio (cal
extinta ou cal apagada).

A quantidade de calcário a ser aplicada depende:

 do pH em que o solo se encontra (quanto menor o pH, maior a quantidade de


calcário);

 do teor de matéria orgânica (quanto mais matéria orgânica existente no solo, maior a
quantidade de calcário);

 da textura do solo (quanto mais argiloso, maior quantidade de calcário);

 da cultura que se deseja plantar (plantas com maior ou menor tolerância à acidez).

IMPORTANTE: Em solos com o pH muito elevado (solos muito alcalinos), o que


também traz prejuízo às plantas, geralmente é utilizado gesso para reduzir o teor de
alcalinidade.

A época e o modo de aplicação do calcário também são importantes. Em culturas


perenes, a calagem deve ser feita entre as adubações, distribuindo-se o calcário por toda a
superfície do solo e, em seguida, incorporando-o ao solo com gradagem leve. Em culturas
anuais, a calagem deve ser feita antes do plantio, durante o preparo do solo,
preferencialmente entre uma gradagem e uma aração. O ideal é dividir a calagem em

10
Dolomita: mineral composto por carbonato de cálcio e magnésio; é utilizado como fonte de magnésio e é encontrado em
abundância na natureza, na forma de rochas dolomíticas.
mais de uma aplicação, mas quando o pH do solo estiver entre 5,5 e 6,0, ela pode ser feita
de uma única vez.

 Adubação

Muitas vezes o solo não apresenta a quantidade de nutrientes necessária às


plantas, obrigando o agricultor a fazer adubações, para obter uma produtividade maior do
cultivo. A adubação pode ser corretiva – tendo por finalidade a melhoria da fertilidade do
solo, ou de manutenção – tendo como objetivo a reposição dos nutrientes do solo sem
alterar sua fertilidade. A primeira é dirigida ao solo, e a segunda visa uma absorção rápida
pelas plantas. A adubação do solo pode ser realizada de três formas: química, orgânica ou
verde.

 Adubação química: é aquela em que o adubo usado é formado por compostos


químicos originados por mineração ou industrialmente. Na adubação química,
adicionam-se aos solos adubos sintéticos providos de nutrientes necessários para o
crescimento de plantas.

 Adubação orgânica: Os restos de culturas, excrementos animais, sobras da


alimentação e outros resíduos orgânicos podem ser utilizados para aumentar a
produtividade do solo. Os adubos orgânicos não devem ser considerados fonte de
fertilizantes minerais, exceto o nitrogênio; porém, eles oferecem muitos benefícios,
melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo. Os adubos
orgânicos podem ser adicionados no solo pelo homem através de esterco, composto,
resíduo orgânico, pela incorporação de cobertura verde e pela formação de palhada
com a aplicação do sistema de semeadura direta.

De acordo com a quantidade de NPK11, os estercos mais ricos são pela


ordem: galinha, carneiro, cavalo, porco e boi.. O esterco também é rico em
matéria orgânica e contém elementos como magnésio, cálcio, enxofre e
micronutrientes. Apesar disso, a quantidade de elementos nutritivos
presentes no esterco é baixa, portanto não deve ser a única fonte de
adubação de uma cultura. (FERREIRA, 1984)

11
NPK é a forma reduzida utilizada para designar o nitrogênio, cujo símbolo químico é a letra N, o fósforo, cujo símbolo é
o P, e o potássio, cujo símbolo químico é a letra K.
Figura 7. Ciclo da adubação orgânica. (Fonte: www.sobiologia.com.br.)

 Adubação verde: consiste na utilização de plantas herbáceas para adubar o solo,


cultivando-as e, em seguida, incorporando-as ao solo. Essa técnica aumenta
significativamente a quantidade de matéria orgânica do solo, melhora sua estrutura,
retorna às camadas superiores os nutrientes absorvidos pelas raízes das herbáceas
durante seu desenvolvimento, e, quando são utilizadas leguminosas na adubação
verde, o teor de nitrogênio do solo aumenta, pois elas apresentam a característica de
fixar o nitrogênio do ar atmosférico.

Exemplos de culturas leguminosas utilizadas na adubação verde: feijão-de-


porco (Canavalia ensiformis L.), crotalária (Crotalarea juncea L.), cow-pea (Vigna
unguiculata (L.) Walp.) e trigo (Triticum aestivum L.).

Exemplos de culturas não leguminosas utilizadas na adubação verde: azevém


(Lolium multiflorum Lam.), aveia (Avena sativa L.), cevada (Hordeum vulgare L.) e
capim-sudão (Shorghum sudanense L.).

LEMBRETE: Quando forem escolhidas espécies leguminosas, é necessário verificar


se existem bactérias fixadoras de nitrogênio no solo. Também é aconselhável fazer
uma calagem antes do plantio, quando o solo for ácido, e uma aplicação de fósforo
natural, quando houver deficiência desse nitrogênio no solo.

O plantio do adubo verde deve ser feito antes do da cultura principal; as plantas
da adubação devem ser cortadas com arado ou grade de disco antes de produzir
sementes, para que se decomponham rapidamente no solo.
Quando a quantidade de matéria orgânica fresca adicionada é muito
grande, os produtos iniciais da decomposição podem causar danos às
plantas novas da cultura seguinte, portanto é conveniente esperar alguns
dias para o material enterrado secar. ( FERREIRA, 1984)

 Aumento da produção vegetal

Solos com cobertura vegetal maior são menos afetados pela erosão. Por isso deve-
se optar por culturas que ofereçam uma cobertura maior do solo e que cresçam
rapidamente, para fechar a área. Isso ocorre porque há um impacto menor das gotas de
chuva no solo e a estrutura deste é fortalecida, minimizando os efeitos da enxurrada.

Assim, quando for escolher a cultura a ser plantada em locais onde a ocorrência
de erosão é bastante acentuada, dê preferência a esse tipo de planta, ou melhor, dê
preferência a culturas que se adaptam melhor ao clima e ao solo do local, o que também
auxilia na produtividade e na qualidade do produto.

 Adequação da cultura ao tipo de solo

Dentro de uma propriedade rural, geralmente são encontrados diferentes tipos de


solo, alguns com boa fertilidade, outros nem tanto. Por isso, durante o planejamento do
uso da terra, deve ser decidido que cultura será plantada em cada local.

As culturas anuais (milho, feijão, cana-de-açúcar, etc.) devem ser cultivadas no


melhor terreno da propriedade, ou seja, no solo que apresentar o melhor equilíbrio de
certas características, sendo elas: maior fertilidade, baixa erosão e pouca declividade
(terrenos planos). As culturas perenes (frutíferas, café etc.) devem ser plantadas no
segundo melhor terreno, e as pastagens ficam com o terceiro melhor terreno.

OBSERVAÇÃO: Partes erodidas ou com inclinação muito acentuada devem ser


aproveitadas para pasto ou reflorestamento.

6.2 Práticas vegetativas

A cobertura vegetal é a defesa natural que um terreno tem contra a erosão, por
eliminar ou reduzir o impacto das gotas de chuva sobre a superfície, diminuindo a
desagregação do solo e a velocidade de escoamento das águas, aumentando assim a
infiltração da água no solo. As práticas vegetativas utilizam a vegetação para proteger o
solo dos efeitos da erosão.

 Alternância de capinas

Quando todo o mato da plantação é carpido, o solo fica vulnerável ao arraste pela
enxurrada. Ao capinar as ruas de forma intercalada, ou seja, ao carpir rua sim, rua não, o
mato que deixa de ser capinado forma uma barreira que segura a terra arrastada durante
as chuvas. O procedimento é invertido na capina seguinte: as ruas antes carpidas ficam
com mato, e as que não foram carpidas são limpas dessa vez. Essa é uma prática simples,
barata e muito eficiente no controle da erosão.

 Cobertura morta

Nessa prática, o mato carpido (capim seco, palha) e os restos de plantas são
mantidos na superfície do solo, no intervalo entre as ruas plantadas. Isso auxilia na
proteção do solo contra o impacto da chuva, na manutenção da umidade, no controle da
temperatura do solo, na preservação de microorganismos benéficos para o solo e na
infiltração da água, além de reduzir a velocidade das enxurradas, o que diminui as perdas
por erosão. A cobertura morta tem um papel importante no plantio direto para o controle
de plantas daninhas, pois muitas delas não germinam quando encobertas por uma camada
uniforme de palha.

A escolha da cultura que vai servir como palhada é muito importante: o


tremoceiro (Lupinus albus L.), a ervilhaca-comum (Vicia sativa L.), o chícharo (Lathyrus
sativus L.) e o nabo-forrageiro (Raphanus sativus L.) são excelentes no controle de
espécies daninhas de folhas largas (latifoliadas); enquanto o centeio (Secale sereale L.), a
aveia-preta (Avena strigosa S.), o girassol (Helianthus annuus L.) e o trigo plantado no
Brasil (Triticum aestivum L.) são ótimos no controle de daninhas gramíneas.

LEMBRETE: A espécie utilizada como cobertura morta deve ser alternada com o tempo,
para que haja uma reciclagem de nutrientes.

ATENÇÃO: Deve-se tomar cuidado para não ser muito prolongado o tempo de
permanência da palhada no solo, tornando-se abrigo para pragas e doenças em geral.
A espessura da cobertura morta também tem grande importância, pois uma
camada muito espessa controla muito bem a erosão, mantém a umidade e a temperatura
do solo, mas, por outro lado, abriga pragas que atacam a cultura com maior facilidade.

Figura 8. Cobertura
morta em cultura
perene. (Fonte: Lima,
2007.)

 Rotação de culturas

Quando um solo é cultivado muitas vezes com um mesmo tipo de cultura, ele fica
empobrecido, com escassez de alguns nutrientes e sobra de outros. Para evitar esse
desperdício, adota-se a prática do rodízio (ou rotação) de culturas, com culturas de
exigências nutricionais diferentes e raízes diferentes. Uma sequência pré-estabelecida de
culturas deve ser obedecida, intercalando-se um plantio de gramíneas com um de
leguminosas, por exemplo.

Essa prática protege o solo contra a erosão, diminui a infestação de plantas


daninhas e a incidência de pragas e doenças, proporcionando um aumento na produção.

Exemplos de rotação de culturas:

 plantar batatinha e, após a colheita, plantar amendoim;

 plantar algodão, depois amendoim e, em seguida, milho;

 plantar soja e, em seguida, trigo.

 Formação e manejo de pastagens


As áreas com pastagens geralmente são utilizadas em terras não muito produtivas,
em áreas de declives acentuados (bastante sujeitas à erosão) ou em áreas com restrições
ao uso para culturas anuais ou perenes (pedregosas, solos rasos, drenagem difícil).

As pastagens geralmente são formadas por gramíneas, plantas com grande


densidade de hastes e sistema radicular abundante e que, se bem manejadas, são
excelentes no controle da erosão, pois diminuem a intensidade da enxurrada e retêm as
partículas de solo. Porém, quando mal manejadas, perdem seu vigor e deixam áreas de
solo descobertas. Para que isso não ocorra, é necessário que durante a implantação da
pastagem, o solo esteja corrigido e adubado e as sementes tenham boas características.

LEMBRETE: Os animais só devem ser colocados no pasto, ou piquete, quando o sistema


radicular das gramíneas estiver bem desenvolvido.

Para pastagem com perda de vigor, o restabelecimento do pasto envolve a


recuperação da fertilidade, o plantio de pastagem anual e a adequação do manejo animal.
Para pastos em degradação, a recomendação é o controle de invasoras, a subsolagem, e as
próximas etapas seguem como nos casos com perda de vigor. Já as degradadas exigem
além dos passos tradicionais, um tratamento contra pragas e doenças, um preparo total do
solo e a adoção de práticas conservacionistas.

 Quebra-ventos

Essa prática é mais usada onde ocorrem ventos fortes, que carregam grandes
quantidades de solo para longe ou formam montes de areia que podem atrapalhar na
agricultura (erosão eólica). Na prática dos quebra-ventos, uma fileira de árvores e/ou
arbustos é plantada em sentido contrário à direção dos ventos dominantes, fazendo com
que o solo fique protegido numa faixa que vai de 10 a 20 vezes a altura da barragem das
plantas.

As árvores menores e os arbustos devem ser plantados nas pontas da fileira, dos
dois lados, e as árvores mais altas devem ficar no centro. As espécies mais usadas são as
plantas de crescimento rápido, como o eucalipto (Eucalyptus sp.) e o bambu (Bambusa sp.).
Figura 9. Efeito do quebra-vento. (Fonte: www.pir.sa.gov.au)

 Florestamento e reflorestamento

Em solos que apresentam baixa produtividade, que são suscetíveis à erosão ou


muito inclinados, a cobertura com florestas é a maneira mais econômica, segura e
rentável de utilização. Essa prática deve ser empregada nos topos de morros, nas áreas
com voçorocas, em várzeas de rios, entre outros locais. Para o caso de implantação de
florestamento ou reflorestamento, é necessário realizar estudos sobre as plantas
recomendadas.

 Cordão de vegetação permanente

Consiste em plantar, seguindo o contorno (nível), fileiras de plantas perenes e de


crescimento denso entre as faixas do cultivo principal (seja ele anual, bianual ou perene).
A largura das fileiras deverá ser de 2 a 3 metros, e as espécies utilizadas podem ser de
valor econômico. Esses cordões auxiliam no controle da erosão, diminuem as perdas de
água do solo e possibilitam a formação gradual de terraços, porém há uma perda da área
destinada à cultura principal. Quando o objetivo for a formação de terraços, deve ser
levado em consideração o espaçamento recomendado.

As espécies utilizadas devem apresentar crescimento rápido e denso desde o solo,


ter alta durabilidade, não possuir caráter invasor e não fornecer abrigo para doenças e
pragas que ataquem a cultura principal. Espécies utilizadas: cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum L.), capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.), erva cidreira (Melissa
officinalis L.), vetiver (Vetiveria zizanioides (L.) Natsh.).

 Recomposição de matas ciliares

É chamada ciliar a mata localizada nas margens de rios, nascente, lagos e açudes.
Elas são responsáveis pela regularização do lençol freático, pela manutenção da
qualidade e quantidade da água disponível. A mata ciliar também ajuda na estabilidade
dos barrancos, evitando o assoreamento e fornecendo condições ao desenvolvimento e
sustento dos organismos aquáticos e da fauna silvestre local. Pelos motivos mencionados,
a manutenção da mata ciliar é essencial para a conservação da água e para a redução dos
efeitos danosos da erosão.

Na implantação da mata ciliar, é importante dar preferência, em primeiro lugar, às


plantas nativas, ou seja, às plantas típicas do local. Se não for possível, podem ser
utilizadas plantas frutíferas que forneçam alimento à fauna local. Antes de realizar
qualquer atividade na mata ciliar, consulte a agência ambiental de sua região.

 Cultura em faixas

O plantio em faixas consiste em alternar, em uma dada área, o plantio de espécies


vegetais que possuem diferentes coberturas do solo. Desse modo, parte do solo fica
coberta por culturas que o recobrem menos e outras partes ficam com culturas que o
recobrem mais. Com isso, o solo da área plantada ganha maior cobertura vegetal do que
se estivesse inteiramente coberto pela cultura de menor recobrimento do solo, a qual é
geralmente a cultura principal da área.

LEMBRETE: Adubos verdes, como a mucuna ou a crotalária, são plantas adequadas para
realizar o plantio em faixas, uma vez que possuem rápido crescimento e fornecem
altíssima cobertura do solo.

Um dos benefícios da utilização de adubos verdes para o plantio em faixas é que


eles produzem, acima do solo, grande quantidade de biomassa; se o solo tiver bactérias
nitrificantes, esses adubos podem fixar o nitrogênio atmosférico, aumentando a
fertilidade do solo.

Após a colheita da cultura principal, as faixas de maior cobertura do solo passam


para o lugar onde a cultura principal estava implantada, e vice-versa. Dessa maneira, a
cultura principal pode se beneficiar da fertilização e da maior proteção do solo oferecida
pela cultura de maior cobertura. Assim, no plantio em faixas, há a alternância também
dos locais de plantio da cultura de menor e maior recobrimento do solo. A espessura das
faixas de cada cultura geralmente varia de 20 a 40 metros.

Pelas razões explicadas, o plantio em faixas constitui uma prática de conservação


do solo relativamente barata e muito saudável para a proteção. Vale observar que, quando
corretamente aplicada, essa técnica pode substituir o uso de terraços agrícolas para
conservar o solo e, por consequência, a água e o ambiente.

O plantio em faixa é uma prática eficiente no controle da erosão hídrica e também


eólica.

 Erosão hídrica: o plantio deve obedecer às curvas de nível.

 Erosão eólica: as faixas devem ser orientadas de forma que fiquem perpendiculares à
direção dos ventos predominantes.

LEMBRETE: A largura das faixas será menor quanto menos resistente à erosão for o
solo; maior for a declividade do terreno e menor for a densidade das culturas.

Figura 10. Cultura em faixas. (Fonte: Lima, 2007).


 Consórcio de culturas

Essa prática consiste no plantio em linha de duas ou mais culturas em uma mesma
área. Os consórcios podem ocorrer entre uma cultura anual e uma cultura perene, entre
duas culturas anuais (de preferência consorciar uma gramínea com uma leguminosa) e
entre duas culturas perenes.

Quando a cultura principal for perene, o produtor deve consorciá-la com plantas
anuais apenas durante a fase inicial das perenes; caso contrário, haverá concorrência por
nutrientes, água e luz entre as espécies, prejudicando a cultura principal. “Não se devem
usar plantas esgotantes na consorciação, pois elas retiram do solo grandes quantidades
de nutrientes” (FERREIRA, 1984).

A B

(A) (B)

Figura 11. (A) Consórcio entre seringueira e café, (B) Consórcio entre seringueira e
palmito. (Fonte: Lima, 2007.)

6. 3 Práticas mecânicas

São assim chamadas as práticas que têm por finalidade evitar, diminuir ou controlar
os efeitos e as causas provocadas pela erosão hídrica e, como objetivo principal, reduzir o
escoamento superficial da água advinda das chuvas.

 Preparo do solo

O impacto que as arações e gradagens causam no solo é profundo, alterando


drasticamente sua estrutura, muitas vezes pulverizando-o e diminuindo a retenção da
água. Para preservá-lo desses efeitos, o número de gradagens e arações deve ser
diminuído e a escolha das máquinas utilizadas nessas operações deve ser feita de acordo
com o tipo de solo e o tamanho da propriedade, visando à conservação, produção e menor
compactação do solo.

 Cultivo mínimo

É uma técnica que utiliza o mínimo de máquinas agrícolas possível durante o


preparo do solo, evitando que ele seja revolvido e compactado, sofrendo maiores perdas
por erosão.

LEMBRETE: Deve-se escolher o cultivo mínimo em áreas que não apresentam forte
compactação, não necessitam de calagem e não sofrem com pragas.

Nesse tipo de preparo, o implemento mais usado é o escarificador, pois


proporciona menor revolvimento e menor incorporação de restos vegetais de culturas,
protegendo a superfície do solo e melhorando a infiltração de água.

O escarificador tem função de promover a desagregação do solo, romper


camadas compactadas (sem desperdiçar os restos de cultura ou adubação
verde), aumentar a infiltração de água, minimizar o escoamento superficial
e mobilizar nutrientes do perfil do solo possibilitando que as raízes
alcancem maiores profundidades. (CASTRO, 1989)

Após uso do escarificador deve ser evitado o excesso de trânsito e uso


desordenado de implementos de superfície como grades. Os escarificadores
atuam nos primeiro 30 cm de profundidade, portanto quando houver a
necessidade de romper camadas compactadas mais profundas é indicado o
uso de subsoladores. (FAVARIN, 1998)

 Plantio direto

É um método que visa a maior conservação do solo e a diminuição do tráfego de


máquinas, tendo como princípio o plantio diretamente em solo não revolvido, no qual a
mobilização é efetuada apenas na linha de semeadura, mantendo os restos de cultura
anterior na superfície.
Figura 12. Plantio direto de amendoim sobre pastagem.
(Fonte: IAC – Instituto Agronômico de Campinas, 2008).

Nesse tipo de manejo do solo, os restos vegetais e a palha são mantidos na


superfície, fazendo a cobertura vegetal da área ser muito maior em relação ao plantio
convencional. As vantagens e desvantagens do sistema de cultivo mínimo e plantio
direto estão descritos na Figura 14.

IMPORTANTE: Para a adoção do sistema de plantio direto, é necessário um treinamento


de qualificação dos agricultores e uma correção inicial da área de plantio em questão,
para descompactar o solo, caso seja preciso. Além disso, é preciso ter equipamentos
adequados, fazer o manejo correto de infestantes e definir as culturas adequadas para a
rotação e cobertura do solo.

Tabela 2: Vantagens e desvantagens relacionadas ao cultivo mínimo e plantio direto

Tipo de Vantagens Desvantagens


preparo do
solo

 Reduz o custo do preparo do solo.


 Gasto maior com herbicidas,
 Minimiza as perdas por erosão e
Cultivo que devem ser utilizados
a ocorrência de compactação do
mínimo antes dos implementos, para
solo.
evitar a competição entre as
 Garante a possibilidade de plantar
daninhas e a cultura.
em épocas chuvosas sem que
haja compactação do solo.
 Controla as perdas de solo e de  Alto custo inicial.
água.  Uso de mão-de-obra
 Promove a melhoria das especializada no manuseio
condições físicas e químicas do das adubadoras e dos
solo. implementos utilizados no
 Reduz, a médio e longo prazo, os manejo da cobertura do solo
custos operacionais. (palhada).
 Promove o aumento da matéria Na camada superficial do solo
orgânica, que beneficia a  Aumenta a densidade e a
atividade biológica e disponibiliza microporosidade.
nutrientes para as plantas.  Diminui os valores de
Plantio Camada de palha macroporosidade e de
direto porosidade total.
 Protege o solo contra o impacto
Camada de palha
direto das gotas da chuva,  Proporciona microclima
favorável à proliferação de
impedindo o transporte e o
algumas pragas e organismos
arrastamento de partículas pela causadores de doenças.
 Facilita o surgimento e a
enxurrada, minimizando a erosão.
propagação de incêndios.
 Protege o solo da incidência  Pode ocasionar problemas de
emergência de plântulas e
direta de raios solares,
germinação de sementes.
promovendo temperatura mais
amena.
(Fonte: Elaborado pela autora do capítulo, ALMEIDA, A. B., 2010.)

Com o passar dos anos, a densidade na superfície de um solo sobre plantio


direto pode vir a diminuir, em parte devido ao aumento do conteúdo de
matéria orgânica na camada superficial, favorecendo a melhoria da
estrutura do solo. (CASTRO, 1989)
As desvantagens do cultivo mínimo e plantio direto podem ser superadas
com a rotação para evitar as doenças e a suplementação de nitrogênio para
atender a demanda das plantas e suprir os microrganismos. ( GASSEN &
GASSEN, 1996)

 Plantio em nível

Nessa técnica, todas as operações de preparo de terreno, balizamento e plantio


obedecem às curvas de nível. Criam-se, assim, obstáculos à descida da enxurrada,
diminuindo a velocidade de arraste, e aumentando a infiltração de água no solo. Essas
curvas são marcadas por instrumentos como o pé-de-galinha, o trapézio e o nível de
borracha.
Figura 13. Plantio em nível: (b) área cultivada,
intercalada por faixa de retenção; (a) área não cultivada.
(Fonte: Embrapa, 2002.)

É interessante pedir ajuda do engenheiro agrônomo conservacionista, que


poderá dizer como se faz e quando se deverá fazer o plantio em nível, qual
a distância entre as curvas de níveis, como conservá-las, remarcá-las, e
assim por diante. (FERREIRA, 1984, p. 78.)
Figura 14. Plantio em nível. (Fonte: www.webartigos.com)

 Terraceamento

É assim chamada a construção de degraus transversais (terraços) à direção do


maior declive, seguindo as curvas de nível do terreno que possibilitam um
aproveitamento agrícola de áreas de declividade acentuada ( Figura 17 ). São construídos
para controlar a erosão, porque diminuem a velocidade e o volume da enxurrada e,
consequentemente, as perdas de solo.

Figura 15. Visão esquemática do terraceamento. (Fonte: BERTOLINI et al., 1989.)

O terraço consiste em um canal (sulco ou vala) e um camalhão (monte de terra),


construído transversalmente à direção do maior declive, e se baseia no princípio da
diminuição da rampa de escoamento ( Figura 18 ). Essas estruturas são barreiras ao fluxo
da enxurrada que facilitam a infiltração de água no canal do terraço (terraços de
absorção) ou conduzem a água para fora da lavoura (terraços de drenagem).

IMPORTANTE! Por ser uma prática que necessita de investimentos, o terraceamento


deve ser usado apenas quando não é possível controlar a erosão, em níveis satisfatórios,
com a adoção das práticas mais simples de conservação do solo. Porém, é bastante útil
em locais onde é comum a ocorrência de chuvas cuja intensidade e volume superam a
capacidade de armazenamento de água do solo e onde outras práticas conservacionistas
são insuficientes para controlar a enxurrada.
Para o sucesso do terraceamento, é necessário:

 conhecer o solo utilizado, principalmente suas condições de infiltração e drenagem de


água;

 fazer um planejamento adequado das estradas e ramais, considerando o escoamento


das águas de chuva de fora da gleba;

 garantir uma manutenção adequada dos terraços.

NÍVEL ORIGINAL DO TERRENO

CAMALHÃO
CANAL

C
B
A

Figura 16. Estrutura de um terraço indicando a seção do canal ou corte (dimensão C), do
camalhão ou aterro (dimensão B) e do terraço todo (dmensão A).
(Fonte: BERTOLINI et al., 1989.)

Para que um terraço seja eficiente, é necessário um correto


dimensionamento, no que diz respeito tanto ao espaçamento entre
terraços quanto à secção transversal. Outros aspectos a considerar são
a forma e os tipos de terraços que podem ser construídos em
determinada área. (WALT, 2003, p. 16)

Classificação dos terraços

Os terraços podem ser classificados de acordo com:

 função: de infiltração ou de drenagem ( Tabela 3 ),

 modo de construção: tipo canal ou tipo camalhão ( Tabela 4 ),


 dimensão: base estreita, média ou larga ( Tabela 5 ),

 forma: comum ou patamar ( Tabela 6 ).

Tabela 3: Características de terraços divididos quanto à função

Terraços construídos em desnível, cujo objetivo é


Terraços interceptar a enxurrada e conduzir o excesso de água
que não foi infiltrada até locais devidamente protegidos
de (escoadouros).
Recomendados para regiões de alta precipitação
infiltração
pluviométrica; solos com permeabilidade moderada ou
QUANTO lenta; e áreas com mais de 8% e até 20% de declividade.
À Normalmente são terraços de base estreita ou média.
FUNÇÃO
 Terraços construídos em nível com o objetivo de reter e
Terraços acumular a enxurrada no canal para posterior infiltração
da água e acúmulo de sedimentos.
de
 Recomendados para regiões de baixa precipitação
drenagem pluviométrica; solos com boa permeabilidade e para
terrenos com declividade menor que 8%.
 Normalmente são terraços de base larga.
(Fonte: elaborado pela autora do capítulo, ALMEIDA, A. B., 2010.)

Tabela 4: Características de terraços divididos quanto à construção

São conhecidos como tipo Nichols.


São construídos cortando-se a terra e
movimentando-a sempre de cima para baixo,
Terraços formando um camalhão.

tipo canal Recomendados para declives de até 20%, para


regiões com altas precipitações pluviométricas e
com solos de permeabilidade de média a baixa.
QUANTO Geralmente são construídos com implementos
reversíveis de tração animal ou manual, como
À arado de disco.

CONSTRUÇÃO
São conhecidos como terraço tipo Magnum.

São construídos cortando-se e jogando a leiva para


Terraços ambos os lados da linha demarcatória, formando
tipo ondulações sobre o terreno.
camalhão Recomendados para áreas com até 10% de
declive, regiões de baixa precipitação pluviométrica
e solos permeáveis.
Podem ser construídos com arados (fixos e
reversíveis) ou terraceadores.
(Fonte: elaborado pela autora do capítulo, ALMEIDA, A. B., 2010.)
Tabela 5: Características de terraços divididos quanto à dimensão

 São construídos sobre uma faixa de movimentação de


terra de até 3 metros de largura.
Terraços
de base  Recomendados apenas para as condições em que não
estreita seja possível instalar terraços de base larga ou média.
 Indicados para pequenas propriedades, com baixa
intensidade de mecanização agrícola e para áreas com
declividade de até 18%.

 São construídos sobre uma faixa de movimentação de


QUANTO Terraços terra que varia de 3 a 6 metros de largura.
de
 Preferencialmente construídos com arado de três ou
À cinco discos.
base
DIMENSÃO média  Indicados para pequenas ou médias propriedades, onde
exista maquinário de potencial suficiente para os
implementos recomendados e com declividade do
terreno de até 12%.

 São construídos numa faixa de movimentação de terra


maior que 6 metros de largura (até 12 metros).
Terraços
de base  Recomendados para lavouras extensas em terrenos com
declividade de até 8%.
larga
Desvantagem: elevado custo de construção.
Vantagens: possibilitar o cultivo em toda a sua extensão
e ser de manutenção mais fácil.
(Fonte: elaborado pela autora do capítulo, ALMEIDA, A. B., 2010.)

Tabela 6: Características de terraços divididos quanto à forma

Terraços São construções de terra, em nível ou desnível, compostas de


um canal e de um camalhão.
de tipo  Usados normalmente em áreas com declividade inferior a 20%.
QUANTO comum  Incluem-se nessa classificação os terraços de base estreita,
média, larga e algumas variações, tais como terraço embutido
À e murundum (leirão).

FORMA  Constituem-se de uma plataforma, na qual são plantadas as


Terraços culturas, e de um talude, que deve ser estabilizado com
revestimento de grama ou outro tipo de vegetação.
de tipo  São utilizados em terrenos com declives superiores a 20% e
patamar construídos transversalmente à linha de maior declive.
 Facilitam as operações agrícolas devido à sistematização do
terreno.

(Fonte: elaborado pela autora do capítulo, ALMEIDA, A. B., 2010.)


IMPORTANTE!

No terraço do tipo camalhão, a movimentação de terra é maior que no terraço do


tipo Nichols e também os canais são mais rasos e mais largos. A disponibilidade de
maquinaria agrícola e a declividade do terreno são os fatores que determinam a opção do
processo de construção de um terraço.

A declividade do terreno, a intensidade de mecanização (culturas x sistemas de


cultivo), as máquinas e implementos disponíveis, assim como a condição financeira do
agricultor são os fatores que condicionam a escolha do tipo de terraço quanto à
movimentação de terra.

Devido ao elevado custo de construção, recomenda-se o terraço do tipo patamar


apenas em áreas altamente valorizadas e com culturas de alto rendimento econômico.

 Irrigação e drenagem

Irrigação é a técnica que tem por objetivo o fornecimento controlado de água para
as plantas, isto é, o fornecimento em quantidade suficiente e no momento certo,
assegurando a produtividade e a sobrevivência da plantação. Complementa a precipitação
natural e, em certos casos, enriquece o solo com a deposição de elementos fertilizantes.
Porém, a irrigação deve ser utilizada com critério e consciência ecológica, pois um
sistema mal planejado pode causar sérios desastres ambientais.

(A) (B)

Figura 17. (A) Irrigação manual; (B) Irrigação por aspersão. (Fonte: www.wikipedia.org)

A drenagem é a prática de escoar as águas de terrenos encharcados por meio de


tubos, túneis, canais, valas e fossos, sendo possível recorrer a motores como apoio ao
escoamento. Em outras palavras, é o processo de eliminação do excesso de água ou de
umidade do solo. Os canais podem ser naturais (rios ou córregos) ou artificiais. Os
sistemas de drenagem servem para o escoamento das águas de chuvas e de irrigação e
para evitar enchentes.

Uma irrigação mal planejada pode prejudicar o fornecimento da água suficiente


para o bom desenvolvimento das plantas. Em decorrência de um sistema de irrigação e
drenagem inadequado, pode haver excesso de água no solo, o que ocasiona sérios
problemas, como o apodrecimento de raízes ou sementes, o favorecimento ao
aparecimento de doenças e pragas, a inibição de trocas gasosas e diminuição na
temperatura do solo. Outro problema ocasionado pelo excesso de água no solo é a
ocorrência de escoamento superficial da água, um tipo de erosão já comentado neste
texto.

Além desses problemas, outro dano grave gerado pelo manejo incorreto da
irrigação é a salinização, que pode ocorrer quando a irrigação é feita com água de alto
teor de sais ou quando existem problemas na drenagem interna do solo ou, ainda, quando
a irrigação é feita em solos rasos ou mal drenados.

7. APLICAÇÃO DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS


Para o controle da erosão em sistemas de pastagens, são benéficas as boas práticas
de manejo, como o plantio de leguminosas em consórcio com gramíneas, a rotação de
pastos e o não uso de fogo. O uso de leguminosas, quando em consórcio, além de melhorar
a qualidade da forragem para o gado, fornece nitrogênio à gramínea, melhorando seu
desenvolvimento vegetativo.
A rotação do pasto permite um corte mais homogêneo, facilitando a rebrota
uniforme da gramínea e melhorando a cobertura do solo. Quando essa prática é adotada em
conjunto com o não uso de fogo, seus benefícios são maiores, porque se reduzem as perdas
de nutrientes pela erosão.
Nas áreas de pastagens, à época de reforma ou implantação, é aconselhável
construir terraços, para disciplinar o escoamento da água de chuvas, cujo dimensionamento
deve ser orientado por técnicos ou engenheiros agrônomos.
Para culturas perenes e florestais, normalmente os maiores problemas de erosão
ocorrem nos primeiros anos de implantação, quando as espécies arbustivas ou arbóreas
estão pouco desenvolvidas e, por isso, produzem insuficiente cobertura do solo. Nesse
caso, as técnicas mais recomendadas são:
 o cultivo em nível,
 a construção de terraços, e
 o plantio de leguminosas, como adubos verdes intercalados com espécies comerciais.
No caso de áreas agrícolas cultivadas com espécies de ciclo curto, em que é
necessário constante preparo do solo, as práticas conservacionistas mais recomendadas são:
 o plantio direto na palha,
 o plantio em nível,
 a construção de terraços,
 a rotação e a sucessão de culturas.
Deve-se dar atenção especial para a combinação de espécies com diferentes
exigências nutricionais, produção de fitomassa e sistema radicular abundantes, utilizando-
se na rotação e sucessão de culturas a alternância de uma cultura de relação
carbono/nitrogênio (C/N), como as gramíneas, com outra de baixa relação C/N, como as
leguminosas, para se obter um equilíbrio entre quantidade e qualidade de matéria orgânica.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seja o produtor agricultor ou pecuarista, é necessário lembrar que seu maior bem
não são os bois no pasto, a lavoura ou a pastagem em bom estado, mas a terra e, por isso,
ela precisa, sempre, ser cuidada e preservada.
Quando se considera que a degradação do solo não é um problema apenas
econômico, mas também social, tem-se consciência da extrema importância de uma
utilização racional e consciente dessa riqueza natural. Por isso, a adoção de práticas de
conservação e manejo dos recursos naturais, em especial para a manutenção da
potencialidade do solo e da água, é uma medida da maior urgência, tanto para o produtor
rural obter maior produtividade com melhor renda quanto para os futuros usuários poderem
também explorar esses recursos e garantir uma vida com qualidade.

9. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. B. Tabelas elaboradas especialmente para a composição do capítulo Manejo


Ecológico do Solo e Práticas Conservacionistas. Botucatu, SP. 2010.

BAYER, C.; MIELNICZUK, J. Dinâmica e fundação da matéria orgânica. In: SANTOS, G. A.


et al. Fundamentos da matéria orgânica no solo: ecossistemas tropicais e subtropicais. 2
ed. Porto Alegre: Metrópole, 2008. p. 7-18.
BERTONI, J e LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990. 355 p.

BERTOLINI, D. et al. Tipo e formas de terraços. In: SIMPÓSIO SOBRE TERRACEAMENTO


AGRÍCOLA, Campinas, 1988. Anais...Campinas, SP: Fundação Cargil, 1989. p. 79-98.

BOWEN, H. D. Alleviating mechanical impedance. In: ARKIN, G. F. e TAYLOR, H. M., (eds.)


Modifying the root environment to reduce crop stress. St. Joseph: American Society of
Agricultural Engineers, 1981. p. 21-57.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em: www.embrapa.br/. Site


acessado em: 12/04/2010.

BRITO, L. Tabelas elaboradas especialmente para a composição do capítulo Manejo


Ecológico do Solo e Práticas Conservacionistas. Botucatu, SP. 2010.

CASTRO, O. M. Preparo do solo para a cultura do milho. Campinas: Fundação Cargill,


1989. 41 p.

CRUCIANI, D. E. A drenagem na agricultura. Nobel: São Paulo, 1989. 337 p.

DEPARTAMENTO DE INDÚSTRIAS E RECURSOS PRIMÁRIOS SUL-


AUSTRALIANOS. Windbreaks for the Lower South East. Disponível em:
http://www.pir.sa.gov.au/pirsa/more/factsheets/fact_sheets/vegetation/windbreaks_for_the_l
ower_south_east. Site acessado em: 19/04/2010.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de


solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999. 338 p.

FABIAN, A. J. Manejo e conservação do solo e da água. Uberaba: Centro Federal de


Educação Tecnológica de Uberaba, ago. 2004. 79p.

FAVARIN, J. L. Sistema de preparo do solo. In: Curso de especialização em manejo do


solo. Piracicaba: ESALQ, 1998. p. 3-44.

FEIDE, A. Conceitos e princípios para o manejo ecológico do solo. Seropédica: Embrapa


Agrobiologia, 2001. 26 p. (Documentos,140).

FERREIRA, P. H. M. Princípios de manejo e de conservação do solo. 3 ed. São Paulo:


Nobel, 1984. 135 p.

GASSEN, D., GASSEN, F. Plantio direto: o caminho do futuro. 2 ed. Passo Fundo: Aldeia
Sul, 1996. 207 p.

GUARDIÕES DA CUESTA. Site acessado em: 29/04/2010.

LACERDA, M. P. C. & BAHIA, V. G. Material de origem x Erodibilidade dos solos.


Informe agropecuário. Epamig, v. 19, n. 191, 1998, p. 10-18.

LIMA, S. L. Práticas Edáficas (slides didáticos). Disciplina de Conservação de Solos,


ministrada pelo Prof. Dr. Sérgio L. de Lima. Botucatu: Faculdade de Ciências Agronômicas
– Unesp, 2007. 75 slides.
MACHADO, A. M. M.; FAVARETTO, N. Atributos físicos do solo relacionados ao manejo e
conservação dos solos. In: LIMA, M. R. et al. Diagnóstico e recomendações de manejo do
solo: aspectos teóricos e metodológicos. Curitiba: UFPR/Setor de Ciências Agrárias, 2006.
p. 234-254.

MONIZ, A. C. Elementos de pedologia. São Paulo: Polígono, 1972. 390 p.

PAULA, M. B. et al. Efeitos do manejo dos resíduos culturais, adubos verdes, rotação de
culturas e aplicação de corretivos nas propriedades físicas e recuperação dos solos.
Informe agropecuário. Epamig, v. 19, n. 191, 1998, p. 66-70.

PIROLI, E. L. Geoprocessamento na determinação da capacidade e avaliação do uso


da terra do município de Botucatu – SP. 108 f. Tese (Doutorado em Energia na
Agricultura)–Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista,
Botucatu, 2002.

PORTAL SÃO FRANCISCO. Meio Ambiente – Assoreamento. Disponível em:


http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-assoreamento/. Site acessado em:
01/05/2010.

PRIMAVESI, A. Manejo ecológico do solo. São Paulo: Nobel, 2002. 549 p.

RESENDE, M. Aplicações de conhecimentos pedológicos à conservação de solo. Informe


agropecuário. Epamig, v. 11, n. 128, 1985, p. 3-18.

SÓ BIOLOGIA. Só ciências – Solo – O que existe no solo e Compostagem. Disponível


em: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Solo/Solo7.php e
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Solo/Solo12_1.php. Site acessado em: 16/04/2010
e 20/04/2010.

SOUZA, J. A. & BAHIA, V. G. Seleção de práticas conservacionistas baseada em critérios


pedológicos. Informe agropecuário. Epamig, v. 19, n. 191, 1998, p. 19-27.
VENTURIM, R. P. & BAHIA, V. G. Considerações sobre os principais solos de Minas
Gerais e sua susceptibilidade à erosão. Informe agropecuário. Epamig, v. 19, n. 191,
1998, p. 7-9.

WADT, P. G. S. Construção de terraços para controle de erosão pluvial no estado do


Acre. Embrapa Acre, 2003, 44 p. (Documentos, 85).

WEB ARTIGOS. Plantio direto e seus benefícios ao solo. Disponível em:


http://www.webartigos.com/articles/Plantio-Direto-e-Seus-Beneficios-ao-Solo/. Acessado
em: 01/05/2010.

WIKIPEDIA. Irrigação. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Irriga


%C3%A7%C3%A3o. Site acessado em: 01/05/2010.

Você também pode gostar