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Poesias

Poesias
Marlus Dias

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3
“Tô parado
no ponto da tristeza
Esperando
o Transporte da Saudade”
Zé Geraldo

4
“Dedico esse livro aos meus amigos
que no momento que mais precisei
me abandonaram”

5
ÍNDICE

1- Desafio….6 45- Manicômio…47


2- A quem Beija sem Sentimento…7 46- Soneto…48
3- A Mão da Moça…7 47- Rosa, rosa, rosa…49
4- Ecos Noturnos…8 48- Rosas de Jardim…50
5- Soneto…9 49- Cemitério Fantasma…51
6- O Nome Dela…10 50- Pleonasmo…51
7- Quadras…11 51- Natureza Morta…52
8- Poema de Ano Novo…12 52- Epitáfio…52
9- O Medidor do Infinito…13
10- Cotidiano…14
11- Rápido…14
12- O Pensamento de um Urubu…15
13- Retrato…16
14- Sombras de Mulher…17
15- Umbras Vitae…18
16- A Cigana…19
17- Soneto…20
18- Uma coisa …21
19- Vinho, Sangue e Orgia…22
20- Os Robôs…24
21- As Almas e o Monstro da Gruta…25
22- Seios Lindos…26
23- Perpétua Orgia…27
24- Roupas de Boneca…28
25- Soneto…29
26- Resultado Mortal…30
27- Aline…31
28- Borboleta…
29- Amor…32
30- Minha Nova Casa…33
31- Ter Saudades…33
32- …esperando minha carona…34
33- Coração Apodrecendo…35
34- Com a Corda no Pescoço…36
35- Uma Estrofe…36
36- Soneto…37
37- O Bêbado…38
38- Pequena Conclusão do Amor…38
39- Eu Vegetal…39
40- Assassino de Todo Dia…40
41- Sofrimentos de um Leitor…41
42- Soneto…42
43- Trovoadas Acorrentadas…43
44- Passar do Tempo…46

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PRÓLOGO

No ano de 2004, em um dia de agosto, estava sentado


no banco da praça central da cidade me sentindo
deconfortável comigo mesmo. Então lembrei que dizem
que escrever ou desenhar é uma ótima terapia; estava com
os cadernos da escola e as canetas, peguei uma folha e
comecei a escrever tudo que me vinha do coração, sem
me preocupar com rimas (que vieram espontaneamente),
e em poucos minutes estava escrita a poesia “Desafio”, a
primeira do livro.
Assim fui externando minhas mágoas, tritezas, dores e
tudo que vinha do meu coração.
Nunca acreditei nesses versos, mas vem o sonho de
fazer um livro mesmo de maneira simples, apenas para
eternizar meu legado.
Não são bonitos, nem agradáveis, mas não podiam ser
diferentes… eu valseio com a morte, toco as cordas da
tristeza e os clarins da amargura.

Marlus Dias…

7
Contato:

sulram@hotmail.com

8
Desafio

Ah! A vida de humano


Que simples tragédia,
Tão complexa
Quando a complexidade de entendê-la.

Faz-me rir, oh! Vida,


Se tú és verdadeira
E na derradeira lágrima
Faz-me alegre.

Teus enigmas
E tuas vitórias,
Uma prosódia no universo irracional!

Vamos! Alegre-me!
Pois teu antônimo me chama
Para sair dessa lama,
Denominada vida humana!

9
A Quem Beija sem Sentimento

Duas bocas (sem sentimento) se beijando


É como homem e mulher
Na boca, um do outro,
Vomitando.

A Mão da Moça

Na minha casa tem um quintal


Onde minha mãe plantou um monte de rosas.
Um dia apanhei uma rosa amarela
E ofereci a uma moça, que na rua passava.
Ela sorriu e aceitou...
Quando olhei sua mão, em sangue, se banhou,
Com os espinhos da rosa
Toda a mão ela cortou!

10
Ecos Noturnos

Ao longe, nos dispersos minutos


Da infinita noite, lua bela a clareia.
Ouve-se das crateras de ocultos mundos
A majestosa sonata que anseia.

Ânsia incrível pelo mistério


De revelar tal sonata, ânsia de pecado
Tal qual beijar defuntos no cemitério
E encher mais um copo quando desesperado.

... é cada vez mais noite, mais frio,


A orquestra não se cala,
O corpo prova o derradeiro arrepio.

Agora se revela o mistério que não cala,


A sonata se revela aos moribundos,
Sonata desafinada – Ecos Noturnos...

11
Soneto

Eu chamo pelo nome dela


Ela já foi, não responde
Uma carcaça no sol do deserto
O deserto onde ela se esconde.

Sufoca a garganta
Como a corda do suicída
Aperta e dói
Eu chamo mas não têm saída.

Essa tristeza, um spleen


Que me entorpece e me faz flutuar
… Grito seu nome

Ecoa faz ressonar


Num momento de tristeza
Que minha paz ela consome.

12
O Nome Dela

Sei muito - até de mais, Que


Amor por mim não sentes e é
Bom eu saber disto, pois dou mil
Risadas de minha infantil
Inocência. Amar você com o amor
No grau máximo e mais louco
A gritar seu nome à noite

Sensação indecifrável e eufórica,


Ao som do infinito tédio.
Berro em prantos, canto a solidão,
Rasgo o pano sujo da alegria,
Ignoro os conselhos, me escondo
Na sua foto que cada vez me
Assombra e me consola.

Sepultura - isto se tornou meu coração!


A eterna sepultura onde jaz o
Bendito nome dela. Ah! malvado nome!
Rompa essas barreiras e me compreenda.
Isso é o amor e ela ainda
Não o conhece. Amor que me faz
Andar e me deixa sempre a gritar o nome dela.

13
QUADRAS

Triste tarde nublada de outono,


Tarde que me penetra à mente!
Paisagem decadente, árvores sem frutos,
O sol já frio, cansado, com sono.

Recordo meu amor único, platônico,


Desbotado como um fantasma da meio noite,
Amor colorido como esta tarde,
Onde tudo dá errado, amor agônico.

Ah! Meus olhos já não prendem as lágrimas


Que contemplo uma a uma escorrendo
Pelas maçãs murchas do meu rosto,
Vão descendo e encontram a consistência do chão.

Soluço tanto que me falta ar!


Parado, ainda contemplo a paisagem
Lembro que é tarde, que é outono..
E me resta o aconchego do meu leito tumular.

14
Poema de Ano Novo

Um Diabo de asas bonitas


Sobrevoa, em vôo rasante
A história de um ano velho,
Assombra as incertezas do novo ano
Indignado com suas poucas fatias,
Fatias de um bolo amarelo,
Tão amarelo quanto mofado,
Tão mofado quanto incerto.

O que fica para trás ficou lá,


Mas o Diabo nos lembra que ali passamos
Nos toca com seus chifres e cochicha:
“Lembra aquele dia que você foi nada?”
Às vezes uma lágrima toca sem espera
A ponta ou a lateral do nariz
E uma ou várias lágrimas do ano passado
Incomoda como um espinho que estrepa.

O vento trás o hálito do Diabo


Anunciando sem trombeta:
“O Ano Novo vem chegando”
Novo só no calendário,
Refletindo o ano passado e retrasado
E todos os anos da minha vida,
Anos bons e cruéis que vivi
Na palma da mão de Deus
Rodeado pelas asas do Diabo.

15
O Medidor do Infinito

A arte de medir as coisas


Encerra toda lógica da vida
Combatendo as teorias da metafísica
Enodoa os compêndios das noivas.

Tudo é medido e todos medem


Medir é comparar universos
Cegando com o lapidar dos metros
A liberdade que as menarcas convertem...

Eu também uso medir (por opção)


O que é para ser medido
A lealdade d’um olhar

Ou talvez um sonho escondido.


Com as flores do seu caixão
Acabei aprendendo a medir o infinito.

16
Cotidiano

Não tenho dinheiro


Para pagar sue cerveja
Não tenho cerveja
Para pagar o seu dinheiro
Tenho tributos com a sorte
E o ar vagabundo é o meu
Maior companheiro.

Rápido

Auto-retrato da carniça de uma carcaça ao sol...


A parte mais inútil do modus vivendi...
Auto flagelado, carregando a taça da amargura e
beijando...
Beijando o nada...

17
O Pensamento de um Urubu

Passou um avião...

E um urubu que voava atoa,


Disse a si mesmo:

- Burro,
São os homens
Que voam nesses aviões grandes.

São tão burros


Que não perceberam,
Que se fosse para voarem,
Já nasceriam com asas.

...e o avião sumiu no horizonte...

18
Retrato
“Se o retrato sair imperfeito e as cores esmorecidas
Desculpem-me; minha paleta não é variada e ao tocar
Nessas páginas do coração, a mão treme e o pincel enodoa a tela”
Casimiro de Abreu

De fundo para o seu retrato


Busco no âmago da natureza
O parto mal feito e negado,
Rabisco com tinta pitoresca
As cores primárias do retrato.

Esboço seu rosto à carvão


Fecho os olhos e, avulso, traço
Formando seu retrato – uma ficção
Essas esquisitices que faço
As coloro com raiva, com a mão.

Encaracolei seus negros cabelos


Com os dentes de um serrote
Seus gritos serviram aos olhos – para enchê-los
Suas orelhas, fiz com a velhice precoce
E o resto pintei com os nevoeiros.

Acabei seu rosto lindo e meigo


Aqui, estafado – pintei seu retrato
Obra magnífica reconhecida pelo leigo
Sua imagem – misturas de tons abstratos
Queixume da arte e obra do defeito.

19
Sombras de Mulher

Ela passa nas sombras

Eliminando o caminho de flores mortas

Com seu ar de moça

Ela abomina os homens a sua volta.

Num grito de tristeza

Ela parte corações

Ela é muito mais forte

Ela é dona de uma certeza

Mata, morde, mastiga destrói o homem

Ela está passeando por aí

Sempre vem no entardecer

Sombria e misteriosa

Ela vem buscar você.

20
UMBRAS VITAE

A marca exata da existência


É onde termina - fatidicamente
A pergunta derradeira de ontem
Caindo no paradoxo do não-ser
Examinando com cautela,
A meta traçada pelo passado.

As aranhas da parede
Estão me olhando
Isso as mata de tédio
Suas seis pernas sonham,
Sonham com o dia de enrugar-se,
Virar borboletas e dar piruetas.

Desconheço as propriedades da matéria


Uma barra de ferro
Separa o leito confortável
Do espírito ascendente
Que saiu de um ovo esférico
Conhecido por lágrima.

Entorpecido por distúrbios


Pego referência na contra-mão
E volto pela mesma avenida
Que andei, para chegar aqui
No suor do seu rosto, desperto,
Imaginando a madrugada que se foi.

21
A madrugada já se foi
E junto com ela eu fui
Meio óvulo, meio espermatozóide,
Gênio das cidades pequenas,
Perna de aranha na parede
Liquidificador liquidificando idéias.

A Cigana

Fumaça preta e fedorenta


Dia pesado e nauseante
Todo dia vejo a cigana lendo a mão
Todo dia me pergunto
Por que ela não lê a própria mão?
Quem sabe ela consegue viver melhor
Quem sabe eu sou um cigano?
Vou ler a mão das ciganas para trocar experiências
E quem sabe eu encontre a linha
Que vai me levar até a felicidade?

22
Soneto

Quando acordei, falei comigo:


- Mais um dia começa!
Eu, pagando a alheia promessa
Avisando o mundo do perigo.

Muito perigo no mundo


Ameaças que não calam
Mortes que não acabam
Do poço, só conheço o fundo.

Desgraça ditada pelo filósofo


Eu me tornando misógino
Desejando o fim da alegria.

Amores eternos, abandonados


Sentimentos ardentes encovados
- Eis o triste monólogo do meu dia!

23
Uma Coisa

Das dúvidas que tenho


A maior é se estou realmente vivo
Pois na inutilidade prossigo
Causando no mundo desdenho.

Costelas estaladas eu ouço


Como uma harpa de um anjo
Sonho desde sempre o meu assanho
Para as minhas barras de calça de moço.

Minha tinta é desbotada


Meu cordel é sem rima
Minha alma (se tenho uma) para o abismo se atina.

Minha mãe sempre chora magoada


Por ter dado ao mundo tal esquisitice
Que mata ela, mata eu, mata tu e deixa o resto triste.

24
Vinho, Sangue e Orgia

Ao lado da minha morada


Têm uma festa.
Choram rosas e choram remorsos
Batuque de ossos
No clima que paira no ar... magia
No festim de vinho, sangue e orgia.
Ao lado da minha morada
Têm uma festa.
Não sei o que acontece lá...
Parece ser bruxaria,
Um festim animado,
Vinho, sangue e orgia!
Vinho, Sangue e Orgia

Nutrir-se de vinho,
Banhar-se de sangue,
Profanar-se na orgia
Galopar com a morte
No vale das almas esquecidas.

Vinho, sangue e orgia!


Por que privar-se destes talentos?
Se Deus nos deu, que aproveitemos!Não sei o que
acontece lá...
Parece ser bruxaria,
Um festim animado,

25
Vinho, sangue e orgia!
Vinho, Sangue e Orgia

Nutrir-se de vinho,
Banhar-se de sangue,
Profanar-se na orgia
Galopar com a morte
No vale das almas esquecidas.

Vinho, sangue e orgia!


Por que privar-se destes talentos?
Se Deus nos deu, que aproveitemos!
O pecado já está despedaçado,
As velas vão queimando
Num momento solene
De vinho, sangue e orgia!

Me desfaço e me refaço
Nessa obra, dita ser do Diabo
Tudo ao redor chora
Até na festa ao lado da minha morada
Choram amores e pesadelos

O pecado já está despedaçado,


As velas vão queimando
Num momento solene
De vinho, sangue e orgia!

Me desfaço e me refaço

26
Nessa obra, dita ser do Diabo
Tudo ao redor chora
Até na festa ao lado da minha morada
Choram amores e pesadelos
Choram rosas e choram remorsos
Batuque de ossos
No clima que paira no ar... magia
No festim de vinho, sangue e orgia.

Os Robôs

A formidável mente humana


Criou, com os mistérios da cibernética
Os Robôs.

E os Robôs são ingratos!


Roubaram o emprego do moço!
“Bem feito, quem mandou invent-los ????”

27
As Almas e o Monstro da Gruta

Os violinos que se escuta


São apenas os ecos
Do grito das almas, que choram
O eterno sopro do monstro da gruta.

Essas almas apenas vagam


Não reencarnam nem morrem,
Só vagam, por que caíram
Na tentação de inertes na vida, amaram.

O monstro da gruta são homens


E mulheres que foram amados.
Hoje estão na gruta agonizantes e acorrentados.

A gruta é o coração das almas e do monstro


E um vive na gruta do outro
Sendo, cada um, alma e monstro.

28
Seios Lindos

Ah! Que lindos seios


São duas esculturas
Feitas por um artista
Do barroco celestial
Dois travesseiros macios
Para uma alma
Triste e vagabunda
Se deitar e aconchegar.

Rosados, maciíssimos
Raros, digo, até, exclusivos
Feitos para se admirar
Sentir e beijar bem suave
Para não machucar nem marcar
Tamanha obra, tamanho deleite.

Só queria dar um beijo…


Depois pode vir a morte.

29
Perpétua Orgia

Cultuo esta planície de fulgida beleza


Onde uma eterna orgia liba o prazer
E alegra meus olhos por me dizer:
"Acalma-te que na tua hora, parte desta orgia tu há de
fazer".

Eu, pusilâmine de viver e esperar,


Me encanto com o que meus olhos vêem,
Encanto fatal e trágico como se fosse encantado
Pela doce voz da sereia que encanta o trovador desamado
.

Apaixonado!Estou eterno, submerso e apaixonado


Por esta linda visão invulnerável
Que pelos meus olhos, perenemente adentraram.

Agora ofereça-me tuas sinceras exéquias


Pois irei, finalmente, me esbanjar nesta perpétua orgia
De covas, túmulos, fungos e bactérias.

30
Roupas de Boneca

Roupas de boneca
Mais que trapos
Coisa feia aos farrapos
Louça suja que não quebra.

Sai das sombras do peito


Um corcel manco e atrevido
Igualzinho uma pedra no vidro
Vai quebrando o devaneio.

Roupas de boneca
Medo, terror, vertigem...
Já passou meu reinado

Minha faca está cega


Meus cristais não tinem
Meu coração é túmulo fechado.

31
Soneto

O meu mundo pedia um monstro


Abri a jaula e deixei-o sair.
Monstro feio, frio, rude, bronco
Faz desgraças e semeou medos por aí.

Acabou com vidas e com sonhos


Não respeitou nada nem ninguém,
Sem a mim, seu próprio dono
Que criou-o sem ter um vintém.

Soltei o monstro pelo mundo


Mas ele voltou para sua jaula
Dentro do coração no meu peito.

Pedra e gelo, que não escalda


Lugar desconhecido e imundo
Mas que o monstro não vê nenhum defeito.

32
Resultado Mortal

Na verdade absoluta
Da agonia emocional
Na cúpula tumbal
Perplexa luta visceral
Carne e bactéria
Se unem ao ideal.

Na cova matreira
Escorre a seiva
Da junção natural
Verme e ventre animal!

No cemitério medonho
Os coveiros sepultam o defunto "risonho"
Trancafiado no caixão de veludo.

Ah! Que resultado,


Corpo mortificado
Nos confins do caixão
Resultado engraçado
Carne em putrefação!!!

33
Aline

Sentia prazer em te olhar


Bem sei que por mim você chorava
Broncamente chgou ao meu saber
Que agora foi para Estrada
Foi sem medo livre e querendo viver.

Por dentro sou uma atópsia mal feita


Deselegante e deixando a desejar
Perdi o que num dia me amou
Para a vida de pecados me banhou
Deixei cair no meu coração/abismo
Eu não fui, Aline, como você sonhou.

Não sei seu enereço


Não vou sair procurando
Eu perdi – o martelo está batido
Hoje vejo que era um anjo
Que enquanto vai vivendo
Eu vou le lametntos brutos morrendo

34
Borboleta

No crepúsculo e na aurora, devora,


Carne e músculo dentro do manto da manhã
Um casulo, larva evoluída, irmã,
Saudável de outra larva construída e transformada
No casulo, casa e esconderijo, corpo rígido,
Amanhã sairá bela – asas beleza, eterna...
De larva arrogante a vôo bonito e possante
Variação de cores na paleta – feia metamorfose
E agora linda borboleta!!!

Amor

O Amor faz a vida florecer


Faz inocente quem o esperimenta
Faz calma a mulher que Ele alenta
Faz com consciência a alegria morrer.

35
Minha Nova Casa

Hoje acordei e minha casa eu estranhava...


Não era o útero de minha mãe
(onde eu ainda morava).
Aqui é a lata do lixo
Que outrora, minha mãe me jogara.

Ter Saudades
Ter saudades!
Ato contínuo da condição humana,
Filosofia dos fracos,
Gênero dramático do teatro da vida.

Ter saudades!
Força dos poetas do século,
Presença no amor
Duas estrofes de saudade

E um verso disperso de dor...

36
… esperando minha carona
(V.R.B)

Um sopro afogado
Tangendo as fribras do coração
Na noite que segue minha vida
Os lobos uivam para uma lua grávida
Esperando a hora de parir o mel da solidão.

A solidão grita e esperneia


A solidão chora uma faísca de luz
Ela é a dama da noite vestindo estrelas
O véu mais lindo da procissão
Oração feita por criança mimada
Quando o sono perturba o encanto da inocência.

O momento de encontro é bom


Mas as cismas que o precede
É uma corda a ponto de arrebentar
E se arrebentar… se arrebentar
Cái na angústia absurda do esquecimento
No fim é nada…

37
Coração Apodrecendo

Meus olhos vagabundos


Estáticos, cançados, seCm foco
Observam como vou me desfalecendo
Tal qual orquídeas mal cuidadas
Esquecidas no sereno.

Não têm mais gosto o meu néctar


As esculturas saem sem forma
O barro que uso
É o mesmo que, intruso,
Suja meus pés com sapatos engraxados.

Na adega que me entorpeço


Um vinho amargo como eu
Esquecido por tanto tempo
Que no tempo morreu.

Um barco leva minhas dores


Vai calmo, vai sereno
Próximo do naufrágio
Uma rocha sempre no caminho
Vai barquinho flutuando
Enquanto vai sumindo.

A paisagem vai esmorecendo


No mesmo passo
Vou indo, meu peito se abrindo
E meu coração apodrecendo.

38
Com a Corda no Pescoço

Pendurado com a corda no pescoço


Sinto vir do mais longínquo osso
A frialdade do fim do posso...

Pendurado com a corda no pescoço


Do dorso raquítico - misterioso
Sei que vai chegar a hora do fim do esboço

Já falei demais e mais um pouquinho


Pendurado com a corda no pescoço
Vou pular do banquinho para o mundo maravilhoso.

Uma Estrofe

... na companhia da noite eu me dissolvo...


dissolvido me solto...
solto sou mau...
mau sou eu...
eu sou você quando está triste...

39
Soneto

Às vezes penso porque sou assim


Amo alguém nesse mundo
Não sinto o calor que vem do fundo
Acho que é o que escolhi pra mim.

O relógio marca o tempo


Que fico sonhando nesta vida
Aventuras e uma paixão bandida
Mas nada vence este coração pedrento.

Peço com vergonha e sinceridade


Fui, para todos, uma cruz de verdade
Desculpem-me amigos do peito.

Vocês escolheram uma péssima companhia


(Incapaz de proporcionar alegria)
Um doente, inútil, cheio de defeito.

40
O Bêbado

Embreagado ando
Sujo pelos meus pecados
Minha mãe se engravidou
-Mãe não geraste um santo
Celebro solitário
O dia que morreu
Triste a rodar – iam ar soprando
Soprando a fronte do malandro
Carregou os pesos das vítimas
Estrelas velam a esquife
Eterna, do Bêbado sonhanho.

Pequena Conclusão do Amor

O amor é o produto
Do consume do nada
Multiplicado pela dúvida:
“Será amor mesmo?”

41
Eu Vegetal

Me vejo na hipótese
Comparativa de parecer
Com as plantas.

Conclusão concreta
Da simples forma,
Que sendo eu, como
Uma planta que vegeta.

Plantado no útero,
Germinado em meio a gosma maternal
E brotado com dor e alegria!

Sugando ódio,
Na minha fotossíntese,
Convertendo amor em misantropia
E a ingenuidade em filosofia.

Assim como uma planta,


Fui plantado
Para ornamentar um jardim.

De mim flores
Não brotam,
Mas sim, espinhos,
Para machucar quem em mim,
Ousar tocar.

42
Assim sou,
Quase um cáquito no deserto,
Isolado, porém resplandecente.
E como as outras
Fui semente, germinei,
Desabrochei, procriei
E como a outras morri...
E na agonia da minha decadência sequei.

Assassino de Todo Dia

Meu verdugo impiedoso,


Punhal que me sangra o pescoço,
Venha me sangrar mais uma vez
Por vinte e quarto horas bem contadas
“Dia” - o nome do assassino que me mata.

43
Sofrimentos de um Leitor

Não consigo ler o livro que está na mesa


Está empoeirado e sei que conta uma estória
Fala de um moço na flor da idade
Que quis apenas viver, tem um dia de glória.

Dele tudo foi tirado


E ele está sempre nos cantos das casas
Reclamando que nunca brilhou
Chorando, lágrimas de uma lagoa raza.

Que é triste todos sabem


Que é desonesto já perceberam
Que não está vivendo é evidência,

Têm um olhar de alma sofrida


O gelo da solidão que lhe sopra a testa
E morrer um pouco por dia é sua maior experiência.

44
Soneto
(Escrito depois da chuva, quando o céu
começou a estrelar)

Guiado pela trágica melancolia


Nutrido de profundo tédio
Monótono como um prédio
Ando a gritar de agonia.

Sinto as batidas do coração


Cada vez mais lentas, fracas,
Sinto-me repugnante como as baratas
Fraco, inútil, perdido, pura ilusão.

Venha sol e me esquente


Chega de frio, de prisão,
Sou livre, não fiz nada, sou inocente.

Vou ser da vida, vou ser uma canção


Vou viver sem amor, sem paixão
Viver sem remorso, tosco, amargamente.

45
Trovoadas Acorrentadas

Labirinto apológico
Aos antigos mestres
O sonho seria isso
Querer o que se quer
Idealizadamente buscando-o.

Terras tremem de medo


Mares choram até encharcar
As unhas ficam sujas por baixo
E traições acorrentam trovoadas.

O mundo se tornou ateu


Jesus ainda está na cruz
Ainda não se adaptou a situação
Continua a ressuscitar
De três em três dias.

Terras tremem de medo


Mares choram até encharcar
As unhas ficam sujas por baixo
E traições acorrentam trovoadas.

O bizarro escravo sem língua


Clama com sinais pela manhã
Quer o sol, quer calor
Mas calado (como muitos)
Só terá noite e luar minguante.

46
Terras tremem de medo
Mares choram até encharcar
As unhas ficam sujas por baixo
E traições acorrentam trovoadas.

Afamados são os fracos


Burros são os diplomados
Aplaudemos os sábios
Que criaram o hábito
De serem gênios anônimos.

Terras tremem de medo


Mares choram até encharcar
As unhas ficam sujas por baixo
E traições acorrentam trovoadas.

Virgem branca e doce


Falda dos meus delírios
Esfacelei-te sem remorso
Com o mesmo visgo que lhe criei
Coisa absurda do sonho dessa noite.

Terras tremem de medo


Mares choram até encharcar
As unhas ficam sujas por baixo
E traições acorrentam trovoadas.

Feitiços, adivinhações e bruxaria


Meso, terror, angústia e insônia

47
Deuses, diabos, anjos e nós
Homens e mulheres vivos
Fazendo tudo isso pela vida.

Terras tremem de medo


Mares choram até encharcar
As unhas ficam sujas por baixo
E traições acorrentam trovoadas.

Queimados sejam os ingratos,


Os gratos e os comuns
O intelecto coletivo
A sabedoria popular e acadêmica
Está frio e o fogo precisa de alimento.

Terras tremem de medo


Mares choram até encharcar
As unhas ficam sujas por baixo
E traições acorrentam trovoadas.

Troveja e rangem correntes


Uma luz no fim do túnel
A multidão corre para salvação
Eu me sento e vou escrever
O verso final deste relâmpago.

48
Passar do Tempo

Martirizado pelos anos


Cruéis que passaram por mim
O tempo caleja e no fim
-Carcaça de ossos ficam sobrando.

Já não corro pelas ruas


Com galeras e garrafas
Hoje sozinho tomo uma taça
Êxtase…onde há uma porta, vejo duas

Não sou, mais moço das feições


Nas noites esguiando vacilante
Vou exspirar pecados sintilantes.

Vacilo já enfadado
Pois minha condição diz
Que até a prostituta me nega seu trabalho.

49
Manicômio

Ahhhhh
Uhuuuuu
Nãooooo
Socorrooooo
Sai daqui
Cala a boca

Eu sou Javé
Eu sou Jesus
Eu sou uma sombra
Quero dormir

Nãoooooooooo

Ódio de vocês
Que tristeza
Quero morrerrrr

Ahhhhhh

(Dia normal, sem imprevistos no manicômio).

50
Soneto

Hausto é o sentido da vida


Ambulante entre tristezas
Que na insitência das certezas
Leva o homem na mansão que o verme habita.

Triste e insolúvel teus consolos


Meus fantasmas profanam teu mimo
Sondando as rudezas de quando dormindo
Tomo os sonhos como real malogro.

Evite este que escreve


Deixo ele em paz com suas angústias
-Para alimento ainda serve.

Canibais etéreos, fantasmas e bruxas


Deixem que se entendam
Enquanto ele vira um buquê de flores murchas.

51
Rosa, rosa, rosa

Rosa, rosa, rosa


Nesse ramo de espinhos
Desabrocha tú
Linda rosa, rosa, rosa.

Dá –me um pouco do seu colorir


Para eu fazer a tinha
Que faz o triste sorrir
Rosa, rosa, rosa.

Rosa tão bonita


Botão desabrochado
Rosa,rosa,rosa
Enfeita meu jardim
Para ver bonita
Como é rosa
Para sobrepor as almas
Rosa das mais lindas
Tú és mais forte
E de abraços com a morte
Mande lembranças à ela.

52
Rosas de Jardim

Nos jardins de ilusão


Passeia um embrião
Condenado a danação

Jardim com rosas,


Rosas despetaladas,
Pétalas de amargura,
Ódio e ilusão.

Rosas decaídas
Com feridas divididas
Entre a espada e a matilha.

Teus espinhos de venenos


Teus desdenhos obscenos
Tua beleza fictícia
A pureza de tua vida
Murcha e te limita
A fazer parte desta vida!

53
Cemitério Fantasma

Um dia
Estava eu, num vasto campo,
Comecei a cavar,
Cavei fundo
Para tentar chegar ao inferno,
Não o encontrei...
Só encontrei
Restos de defuntos...
Ah! Eu estava num cemitério.

Pleonasmo

Sonhei num sonho


Que meu nível intelectual
Desceu tão pra baixo
Que pensei num pensamento
“Será que sou uma prostituta?”

54
Natureza Morta

Hoje eu acordei mais cedo que de costume


Vivendo um momento de muita tristeza
A bela do quadro velho morreu
Ah!como eu amava aquela mulher!
Que vivia quietinha,
Sem perturbar,
Sem se queixar,
Só ficava ali
Me olhando...olhando...olhando...

Hoje eu estou triste.

Epitáfio

“Aqui jaz um feliz homem


Que venceu a vida à guisa da morte
E na sua espada cintilante
O sangue no fio que deu o corte
Traz a lembrança do morto no caixote”

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