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2.

Conceito de Sexualidade
“(…) A sexualidade, quando inserida nas circunstâncias de vida de uma pessoa,
participa do seu processo de desenvolvimento e, é um instrumento que propicia
experiências indispensáveis ao crescimento pessoal, à autonomia e ao
desenvolvimento da individualidade. Percebemos que há um vínculo estabelecido
entre a sexualidade e a cidadania, acreditando que, pela vivência saudável da
sexualidade, cada um aprende a relacionar-se melhor consigo mesmo e com o outro,
percorrendo um caminho mais seguro na construção da sua identidade e, em
consequência da sua cidadania” (Moraes, 2006: 20). Muitos dos receios em torno da
Educação Sexual, devem-se à ideia redutora do conceito de Sexualidade. Pois, a
Sexualidade para a maior parte das pessoas, resume-se ao sexo e ao sistema
reprodutor. É verdade que a reprodução é uma componente indispensável nos
programas de Educação Sexual, mas a Sexualidade é muito mais abrangente.
Estamos, hoje, mais conscientes de que a sexualidade não se esgota no acto
sexual uma vez que ela é prazer e descoberta, é palavra e gesto, é amizade e
afecto, satisfação e sofrimento, enfim, é expressão da nossa PES e Educação Sexual
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existência. A sexualidade expressa-se não só no que sabemos, mas sobretudo nos
nossos sentimentos, atitudes e comportamentos. A sexualidade aparece mais
como uma experiência pessoal, fundamental na construção do sujeito, ela é,
segundo a Organização Mundial de Saúde: “(...) uma energia que nos motiva para
encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como nos
sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo
sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e,
por isso, influencia também a nossa saúde física e mental” (Pereira, 2006: 15). Em
suma, a Sexualidade engloba:
• Identidade de género (masculino/feminino);
• Os afectos e a auto-estima, isto é, os nossos sentimentos em relação a nós
próprios e em relação aos outros, em relação a todas as mudanças do nosso
corpo, etc.
• Todas as alterações físicas e psicológicas ao longo da nossa vida;
• Conhecimento da anatomia - fisiologia do sexo feminino e masculino;
• Higiene na puberdade;
• A gravidez, o parto, a maternidade e a paternidade;
• Os métodos contraceptivos;
• As doenças sexualmente transmissíveis.

Então, a sexualidade precisa de ser entendida numa abordagem mais ampla,


como atributo de todo o ser humano e que, por esta razão é parte integrante das
relações que este estabelece consigo mesmo e com os outros. PES e Educação Sexual
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3. A Educação Sexual em Contexto Escolar

“(…) poderíamos apontar como grande objectivo da Educação Sexual escolar o de


contribuir (ainda que parcialmente) para uma vivência mais informada, mais
gratificante e mais autónoma, logo, mais responsável da sexualidade” (Frade et al,
2001: 19). A abordagem de temas sexuais na escola pode contribuir para o
desenvolvimento de determinadas competências sociais pois a frequência de
programas de educação sexual aumenta os comportamentos preventivos,
nomeadamente o uso de contraceptivos nos jovens envolvidos em relações
sexuais. Outras competências que podem ser exercitadas são, também, os
mecanismos da tomada de decisão, a utilização dos recursos disponíveis e as
capacidades de comunicar. A Educação Sexual na escola é um dos factores que
contribui para o conhecimento e valorização dos direitos sexuais e reprodutivos:
que dizem respeito à tomada de decisões sobre a fertilidade, saúde reprodutiva e
maternidade/paternidade responsáveis. O trabalho de Educação Sexual também
contribui para a prevenção de problemas graves, como o abuso sexual e a
gravidez indesejada. Relativamente à gravidez indesejada, o debate sobre a
contracepção, o conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais e a reflexão
sobre a própria sexualidade ampliam a percepção sobre os cuidados necessários
quando se quer evitá-la. A sexualidade em contexto escolar contribui, ainda, para a
prevenção do abuso sexual de crianças e jovens, pois ao favorecer a apropriação
do corpo e o desenvolvimento da auto-estima, promove a consciência de que o
corpo só ao mesmo pertence, e deve unicamente ser tocado por outro com o seu
consentimento ou por razões de saúde e higiene. Mas, é sobretudo no domínio
dos conhecimentos que a escola poderá ter um papel importante, quando
comparada aos outros agentes de socialização que referimos. PES e Educação Sexual
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Ao contrário do que acontece habitualmente com os media, a escola tende a
promover uma aprendizagem de forma articulada e com um sentido lógico. Por
outro lado, a escola, por ser um espaço de ensino formal e de saberes
interdisciplinares, é capaz de transmitir conhecimentos técnicos e científicos que,
muitas vezes, as famílias não podem promover devido sua natureza informal e
pela deficiente preparação e dificuldades de comunicação de muitos progenitores.
Em síntese, a Educação Sexual é um processo pelo qual se obtém informação, se
formam atitudes e crenças acerca da sexualidade e do comportamento sexual.
Tem como objectivos:
• Desenvolver de competências nos jovens que permitam escolhas informadas e
seguras no campo da sexualidade;
• Melhorar os relacionamentos afectivos – sexuais;
• Reduzir possíveis consequências negativas dos comportamentos sexuais, tais
como a gravidez não planeada e as infecções sexualmente transmissíveis (IST);
• Desenvolver a capacidade de protecção face a todas as formas de exploração e
de abuso sexuais (GTES, Relatório Preliminar, 2005).

Os valores básicos e princípios éticos que norteiam a educação sexual são os


seguintes:
• O reconhecimento de que a sexualidade, como fonte de prazer e de
comunicação, é uma componente positiva e de realização do desenvolvimento
pessoal e nas relações interpessoais;
• Valorização das diferentes expressões da sexualidade, nas várias fases de
desenvolvimento, ao longo da vida;
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• Respeito pela pessoa do outro, quaisquer que sejam as suas características
físicas e a sua orientação sexual;
• Promoção da igualdade de direitos e de oportunidades entre os sexos;
• Respeito pelo direito à diferença;
• Reconhecimento da importância da comunicação e do envolvimento afectivo e
amoroso na vivência da sexualidade;
• Reconhecimento do direito a uma maternidade/ paternidade livres e
responsáveis;
• Reconhecimento que a autonomia, a liberdade de escolha e uma informação
adequada são aspectos essenciais para a estruturação de atitudes responsáveis
no relacionamento sexual;
• Recusa de formas de expressão da sexualidade que envolvam manifestações de
violência e promovam relações de dominação e de exploração

Oficina 2 - Mitos ou realidade?


Objetivo
• Fazer uma primeira aproximacao dos temas a serem abordados ao
longo do curso.
Tempo de duração: } 1 hora
Material necessário: lista de afirmacoes e folha de recursos para o
facilitador, fita
adesiva, 3 cartazes com as palavras Concordo – Discordo – Tenho
duvidas.
Sugestão para o encaminhamento da oficina
• O facilitador apresenta o objetivo da oficina e distribui pela sala os
cartazes, afixandoos
nas paredes;
• Informa que vai ler um conjunto de afirmacoes e que, apos a leitura
de cada uma
delas, os participantes deverao dirigir-se ao cartaz que expressa sua
posicao em relacao
a afirmacao apresentada. O grupo deve escutar com atencao cada
frase, que sera lida
duas vezes, para, so entao, se movimentar;
• Apos cada deslocamento, o facilitador pode apresentar algumas
informacoes
disponiveis na folha de recursos ou promover rapidas trocas de ideias
sobre cada
tema;
• Ao termino desta etapa, o facilitador abre um debate utilizando-se
de algumas
referencias, como:
• Os mitos estao relacionados com o grau de informacao pessoal mas,
principalmente,
com a cultura e os valores predominantes na sociedade;
• Um dos principais objetivos do trabalho educativo no campo da
sexualidade e
prevencao de DST/aids e permitir que as pessoas possam questionar
os mitos e
preconceitos para ampliar sua liberdade na busca de novos
conhecimentos, recursos
de protecao e experiencias de vida.
Texto de apoio
Afirmações
- O homem costuma ter varias parceiras porque sente mais desejo
sexual do que
a mulher.
- Uma pessoa pode ter uma doenca sexualmente transmissivel sem
ter nenhuma
dor ou problema aparente- .
- Um homem com o penis grande e sexualmente mais potente do que
um homem
com o penis menor.
- O fornecimento de metodos contraceptivos para adolescentes
requer a
autorizacao de pais ou responsaveis.
- A masturbacao pode causar doencas mentais.
- O uso da camisinha e importante no inicio de um relacionamento,
quando os
parceiros estao se conhecendo.
- Os adolescentes usam preservativo com menor frequencia do que os
adultos
porque muitos nao estao atentos para a importancia da prevencao da
gravidez nao
planejada e das DST/aids;
- Uma mulher pode engravidar mesmo que o homem ejacule fora
dela.
- Os grupos de risco para aids sao os homossexuais, os drogados, os
hemofilicos
e as pessoas que tem diversos parceiros ou parceiras sexuais.
- Quando alguem se infecta com o virus da aids- o HIV - comeca a
emagrecer e
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perder cabelo.
- A mulher pode saber exatamente o periodo do mes em que pode
engravidar.
- Quase todas as vezes que adolescentes e jovens sao abusados
sexualmente, o crime
e cometido por desconhecidos.
Folha de Recursos para o Facilitador
- A cultura e o papel social do homem na sociedade sao os principais
fatores que
condicionam os comportamentos sexuais masculino e feminino
considerados
“normais” e nao as suas caracteristicas biologicas, como muitas
vezes somos levados
a crer.
- E possivel ter doencas sexualmente transmissiveis sem sentir nada
e sem
apresentar sintomas por um longo periodo apos a infeccao. Para
algumas doencas
sexualmente transmissiveis, a ausencia de sintomas costuma ser
mais frequente
entre as mulheres.
- O tamanho do penis nao determina a capacidade de procriar ou o
prazer do homem
ou da mulher na relacao sexual .
- Um(a) adolescente nao necessita de autorizacao dos pais ou
responsaveis para
solicitar ou comprar metodos contraceptivos. E direito de
adolescentes de ambos
os sexos, tambem, a busca de orientacao adequada para o uso de
contraceptivos.
- A masturbacao nao causa doencas mentais, acne, nem faz crescer
pelos nas maos
ou no corpo.
- O fato de nao conhecer o parceiro nao e o principal motivo para usar
camisinha.
Para que ela funcione para evitar a gravidez, as doencas sexualmente
transmissiveis
e a aids, ela precisa ser usada em todas as relacoes sexuais, pois uma
unica relacao
pode bastar para a transmissao de doencas por via sexual. Hoje,
ocorre com muita
frequencia nos namoros e casamentos um pacto entre os casais de
usar preservativo
apenas se forem mantidas relacoes sexuais com outros parceiros.
Mas, na vida real,
pode ser mais dificil utilizar a pratica do sexo seguro nas situacoes
imprevistas do
que nas relacoes estaveis. Atualmente, a infeccao pelo HIV esta
aumentando, de
forma desigual, entre mulheres que tem um unico parceiro e que nao
se beneficiam
da dupla protecao oferecida pelo preservativo (contra DST/aids e
gravidez nao
desejada).
- O uso de preservativos e muito mais difundido entre adolescentes
do que entre
adultos. Alem disso, cabe refletir sobre o planejamento da gestacao.
Sera que a
maioria das gestacoes que ocorrem entre pessoas adultas sao
planejadas?
- Pode. Ejaculacoes “nas coxas”, proximas a entrada da vagina,
podem levar a gravidez.
O liquido expelido antes da ejaculacao contem espermatozoides.
- O conceito de grupo de risco ja foi abandonado. Alem disso, os
comportamentos
que aumentam as chances de contrair a aids nao podem ser
compreendidos ou
transformados sem considerar as condicoes de vida das pessoas e
grupos sociais.
A associacao inicial da aids a grupos de risco ampliou o preconceito
contra
determinadas pessoas e grupos e, tambem, gerou a falsa ideia de que
as pessoas
que nao pertenciam a esses grupos nao corriam risco de infectar-se.
- Uma pessoa pode se contaminar com o HIV, tornando-se
soropositiva, e nao
desenvolver a doenca – aids – por varios anos. Nesses casos, a
portadora ou
portador do HIV, mesmo sem ter nenhum sintoma, pode transmitir o
virus se nao
fizer sexo seguro. Mesmo quando adoecem de aids, a medicacao
permite que as
pessoas mantenham peso adequado e nao apresentem queda de
cabelo.
- Nao e facil saber com exatidao o periodo fertil de uma mulher.
Existem formas
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de calcular esse periodo, mas para isto os ciclos precisam ser
regulares, sendo
necessario observa-los durante alguns meses, pois sempre ha uma
pequena
variacao. Alem disso, mudancas no ritmo de vida, doencas, etc.
podem alterar
momentaneamente o ciclo ovulatorio. Na adolescencia e mais dificil
determinar o
periodo fertil porque e frequente a irregularidade dos ciclos.
- A maior parte dos abusos sexuais de criancas e adolescentes e
cometida por pessoas
conhecidas das vitimas, muitas vezes os proprios familiares.
Adaptado de SERRAO, Margarida e BALEEIRO, Maria Clarice.
Aprendendo a ser e a conviver.
Sao Paulo: FTD/ Fundacao Odebrecht, 1999, pp. 209-212.
Comentários
-Poderao surgir novas questoes para as quais o facilitador nao tem
resposta. Nesse caso
nao se deve ter receio de afirmar que sera necessario procurar novas
fontes de informacao;
- O objetivo da oficina e a realizacao de uma primeira aproximacao
das questoes a
serem aprofundadas durante o desenvolvimento do curso e as
respostas oferecidas
como subsidio podem nao dar conta de eliminar as duvidas no grau
de profundidade
desejada.

Oficina 1 - Identificando estereótipos


Objetivos
• Identificar e refletir acerca de estereotipos para o comportamento
masculino e
feminino;
• Compreender e debater o conceito de genero;
• Trocar experiencias e ideias sobre como enfrentar as desigualdades
nas relacoes de
genero no cotidiano da atuacao profissional.
Tempo de duração: + 1 hora e 40 minutos
Material necessário:
folhas de papel para a elaboracao de cartazes, canetas de ponta
grossa, fita adesiva,
lousa e giz; copias do texto de introducao da unidade.
Sugestão para o encaminhamento da oficina
• O facilitador pede aos participantes que formem quatro grupos,
dando a cada um
deles a seguinte tarefa:
- Grupo 1: descrever o homem ideal, segundo a forma de pensar mais
comum entre os
homens
- Grupo 2: descrever o homem ideal, segundo a forma mais comum
de pensar entre
as mulheres
- Grupo 3: descrever a mulher ideal, segundo a forma de pensar mais
comum entre os
homens
- Grupo 4: descrever a mulher ideal, segundo a forma mais comum de
pensar entre as
mulheres
• Dependendo da composicao do grupo, agrupam-se homens e
mulheres para a
realizacao da tarefa;
• Os subgrupos apresentam os resultados de seu trabalho e abre-se
uma rodada para a
livre expressao dos participantes, na qual o facilitador pode colocar
algumas questoes
para fomentar o debate, entre elas:
◉ Cada participante se sente retratado ou retratada nas descricoes
de homem e de
mulher apresentadas?
◉ Como podem ser explicadas as diferencas e semelhancas
encontradas nas descricoes
dos quatro grupos?
◉ Podem ser lembradas obras de arte (musicas, filmes, poemas) que
espelham diferentes
imagens do masculino e do feminino?
• Ao termino dos comentarios sobre o exercicio realizado, o facilitador
apresenta os
objetivos da oficina e distribui copias do texto de introducao dessa
unidade para leitura
e discussao coletiva, interrompendo a cada paragrafo ou sempre que
necessario;
• Propoe-se aos participantes que se reunam em pequenos grupos
para trocar
experiencias sobre as seguintes questoes:
◉ A escola e os servicos de saude reforcam as diferencas entre os
sexos de forma
preconceituosa? De que maneiras?
◉ Em quais aspectos a nossa atuacao, no que diz respeito as relacoes
de genero, influencia
a formacao para a cidadania de adolescentes e jovens?
◉ Como e possivel, no dia-a-dia de nosso trabalho, contribuir para a
igualdade de
genero?
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Oficina 2 - A construção social dos gêneros


Objetivos
• Reconhecer o processo de construcao dos papeis sexuais dos
homens e das mulheres
nas sociedades;
• Obter recursos para a producao de novos discursos e novas formas
de atuacao no que
diz respeito as relacoes de genero.
Tempo de duração: } 2 horas
Material necessário:
lousa, giz e copias dos textos de apoio.
Sugestão para o encaminhamento da oficina
• O facilitador apresenta os objetivos da oficina e propoe aos
participantes que se
dividam em dois grupos. O primeiro grupo deve listar as vantagens de
ser homem
(grupo 1) e, o segundo grupo, as vantagens de ser mulher (grupo 2);
• Quando o facilitador sentir que a discussao ja esta perdendo forca,
distribui os textos
O mito da superioridade masculina (grupo 1), A luta da mulher por
seus direitos
(grupo 2) para uma leitura critica e apresentacao de um resumo,
destacando os pontos
em que concordam ou discordam da autora;
• O facilitador abre para a apresentacao das conclusoes e
observacoes dos grupos.
Textos sugeridos na oficina
O MITO DA SUPERIORIDADE MASCULINA
O estereotipo masculino dominante no Ocidente exige que o homem
negue suas proprias
necessidades afetivas, pois a expressao de emocoes e considerada
sinal de fraqueza.
Segundo esse estereotipo, o homem deve demonstrar auto-
suficiencia, independencia
e provar sua superioridade em relacao aos outros, obtendo sucesso e
poder. Homem
que e homem deve exibir coragem, audacia, agressividade, mostrar-
se mais forte que
os outros, ainda que para isso faca uso da violencia. Todos nos
estamos familiarizados
com a cena do menino que apanha na rua, volta machucado para
casa e e estimulado
pelo pai a revidar para recuperar a honra.
O homem que se submete aos comandos do estereotipo masculino e
o supermacho que
ainda hoje povoa a imaginacao das massas. A imagem do cauboi
duro, solitario, viril e
impassivel, do Exterminador ou do Rambo, ainda povoa a imaginacao
de milhoes de
homens (e de mulheres) no mundo inteiro. (....)
Na verdade, esse estereotipo masculino e inacessivel aos homens de
carne e osso,
o que provoca tensao entre o ideal coletivo e as possibilidades dos
homens reais. A
imagem mitica de sucesso, potencia, controle e forca acabam fazendo
com que os
homens tenham a sensacao de que sao incompletos, insuficientes. Tal
sentimento e
fonte de angustia e leva muitos homens a lutar, continuamente, para
provar a propria
superioridade, agredindo outros homens e, sobretudo, agredindo e
humilhando as
mulheres. Provar virilidade exige que o homem, com frequencia,
manifeste brutalidade,
explore as mulheres, tenha reacoes rapidas e agressivas.
O modelo de masculinidade dominante e prejudicial nao so para as
mulheres, mas
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tambem para os proprios homens, pois eles tem as mesmas
necessidades psicologicas
das mulheres: amar e ser amado, comunicar emocoes e sentimentos,
ser ativo e passivo.
A proibicao de satisfazer essas necessidades e prejudicial ao seu
bem-estar fisico,
emocional e mental. O medo do fracasso e a necessidade de provar a
masculinidade
empurram os homens para comportamentos compensatorios
potencialmente perigosos
e destruidores: os homens tendem a assumir mais riscos que as
mulheres (bebem mais,
andam em motos e automoveis em alta velocidade, envolvem-se,
com mais frequencia,
em brigas e disputas violentas etc.). Tambem a obsessao de
desempenho, a competicao e
o estresse que acompanham a vida profissional, aumentam a
fragilidade dos homens.
Embora traga opressao e sofrimento aos homens, o mito da
onipotencia masculina
proporciona-lhes tambem satisfacoes fantasiosas. Assim, o mito
persiste, gracas a
cumplicidade dos proprios homens (e das mulheres) que sao por ele
oprimidos.
O mito da superioridade masculina. In: BALEEIRO, Maria Clarice et all.
Sexualidade do Adolescente. Fundamentos para uma acao educativa.
Salvador:
Fundacao Odebrecht; Belo Horizonte: Secretaria de Estado da
Educacao e Secretaria
de Estado da Saude de Minas Gerais, 1999, pp. 153-154.
A LUTA DA MULHER POR SEUS DIREITOS
O seculo XX tem sido marcado pelo reconhecimento dos direitos de
grupos antes
ignorados ou oprimidos (criancas, idosos, negros, mulheres,
deficientes, homossexuais
etc.). As transformacoes sociais e o surgimento de movimentos de
defesa das minorias
fizeram crescer a consciencia das desigualdades e discriminacoes.
Coube aos movimentos feministas trazer para o espaco publico a
discussao das
diferencas de poder entre os generos, questionar os seculares
privilegios masculinos e
reivindicar para as mulheres o direito de serem donas de si mesmas.
A rebeliao contra
o papel do objeto sexual dos homens, o direito de decidir sobre a
propria fertilidade
e de ter acesso ao prazer sexual fazem parte da agenda desses
movimentos. A partir
deles, cresce a consciencia de que a falta de equidade entre os
generos, profundamente
arraigada na sociedade, gera comportamentos considerados
“naturais”, que sao
obstaculos a concretizacao dos direitos sexuais e reprodutivos da
mulher.
Na realidade, a luta das mulheres para alcancar autonomia esta
apenas comecando. Na
pratica, a maioria das mulheres nao consegue resistir as pressoes dos
seus parceiros:
muitas mantem relacoes sexuais desprotegidas por nao conseguir
negociar com os
homens o uso da camisinha; aceitam engravidar para satisfazer seus
companheiros,
ainda que nao desejem faze-lo ou, inversamente, sao pressionadas a
evitar a gravidez,
a interrompe-la e ate mesmo a submeter-se a ligadura de trompas por
imposicao do
homem ou por sua absoluta alienacao frente as questoes da
anticoncepcao.
Quanto ao prazer, sabemos que nao raro as mulheres sao obrigadas a
manter relacoes
sexuais que nao desejam e que muitas tem dificuldades de
experimentar o orgasmo. Os
disturbios do prazer e do desejo costumam estar relacionados a
repressao, a sentimentos
de culpa ou de baixa auto-estima. Muitas vezes, esses problemas sao
agravados pelas
dificuldades de comunicacao do casal e pela indiferenca do homem
ao que a mulher
sente durante o ato sexual.
O modelo cultural de imposicao do poder masculino nao favorece a
autonomia e o
respeito das mulheres por si mesmas. Entretanto, nao podemos
conceber o homem
como o vilao da historia. Trata-se de uma realidade cultural que
atinge a homens e
mulheres e que as proprias mulheres contribuem para manter.
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Capítulo 22
A Mulher e sua Sexualidade
Introdução
Para o entendimento da sexualidade humana é determinante a compreensão de nosso organismo, juntamente
com seu aparelho sexual: útero, ovários, clitóris, canal vaginal, enfim, dos órgãos sexuais e suas funções,
impulsos, instintos e respostas sexuais a todo tipo de sentimentos, pensamentos e fantasias inter-relacionados
com o desempenho sexual e a reprodução humana, incluindo a nossa formação cultural e social em
consonância com a de nosso(a) companheiro(a) e parceiro(a), com quem iremos nos relacionar.
O conceito atual de sexualidade que é utilizado é o da Organização Mundial de Saúde, que a define da seguinte
forma: “uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade; ela integra-se no modo
como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser sensual e ao mesmo tempo sexual. A
sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia a nossa saúde
física e mental”.
Alguns autores acreditam que a nossa sexualidade inicia-se antes da concepção, no momento em que nossos
pais fantasiam o nascimento de uma menina ou de um menino, e a partir dessa fantasia delegam papéis sociais
e sexuais a esses futuros seres humanos. Quando ocorre a concepção, essas fantasias e desejos maternos e
paternos serão passados para esse novo ser humano a partir do nascimento, e se estará presente ao longo do
desenvolvimento desse novo ser (infância, puberdade, adolescência e fase adulta).
No intuito de compreender a nossa formação cultural e social, será útil conhecermos a história da sexualidade
humana.
História da sexualidade humana
O primeiro período da história da sexualidade humana ocorreu por volta do séc. IX a.C. nas sociedades agrárias
do Oriente Médio. Nesse período o homem não possuía o conhecimento de que ele era necessário para a
procriação. Ele acreditava que somente a mulher possuía o dom de procriar, pois existia um culto à fertilidade
representada pela “Deusa Mãe”. A figura que aparecia nesse período como a deusa da fertilidade, que venerava
as partes sexuais femininas, mais especificamente a vagina, e exaltava a mulher com sendo o centro simbólico
de toda a atenção da sociedade primitiva era “Vênus”, a deusa da fertilidade. Esse período estendeu-se até o
séc. V a.C. e foi denominado de Matriarcalismo.
O segundo período da historia da sexualidade humana ocorreu a partir do séc. V a.C., quando surgiram as
primeiras culturas de trigo, cevada, arroz e milho. O homem então começou a fixar-se em determinadas regiões
e iniciou a criação de animais, passando a observar que o “macho” desempenhava papel importante na
procriação; portanto, compreendeu que para ocorrer a formação de um novo ser vivo era decisiva a participação
do “macho”. Desta forma, o homem passou a ter conhecimento de que ele participava da fecundação e da
reprodução da espécie humana. Iniciou-se então o patriarcalismo, prolongando-se até os dias atuais, com idéias
e pensamentos machistas. Os deuses passaram a ser representados pela figura do homem, e a mulher passou
a ser submissa e a “servir” o homem. A partir daí apareceram a Bíblia e o Velho Testamento por volta do séc. II
a.C., afirmando que Eva fora criada através de uma costela de Adão, ou seja, a mulher viria de uma parte do
homem, e por isto teria que ser submissa a ele. Para o homem era permitida a poligamia, o sexo anal, o sexo
oral e o divórcio. Para a mulher, ao contrário tudo era proibido, e ela era tida como auxiliar do homem.
Nessa época ocorriam também as orgias greco-romanas, às quais grande parte da sociedade primitiva se
mostrava contrária. Nos guetos de Roma, nas catacumbas e na boca dos pobres começava a aparecer uma
nova ideologia revolucionária, que pregava a igualdade entre todos os seres humanos e a libertação do Deus-
homem heróico, reparador dos pecados, que pregava também a distribuição dos bens, numa espécie de
socialismo primitivo, sendo Cristo o único senhor. Das pregações e ensinamentos de Cristo começava a Era
Cristã, que condenava as orgias greco-romanas, surgindo então a Moral Cristã, que se posicionava contra a
promiscuidade das relações sexuais que ocorriam nessa sociedade primitiva.
Constantino, no séc. IV d.C., aliou-se à Igreja não só por motivos religiosos, como também políticos, elevando o
cristianismo à condição de religião oficial do Império Romano.
Após a fusão da cultura judaica com a greco-romana, o cristianismo não só deixou de ser a religião dos pobres
e oprimidos, como também perdeu seu caráter político de socialismo primitivo, incorporando uma ideologia
universalista e moralista.
O prazer na relação sexual era então condenado como sendo uma coisa “má”, e aos poucos a moral cristã foi
condenando o sexo prazeroso e venerando o sexo procriativo. As relações sexuais para seus fiéis só deveriam
ocorrer com vistas à “procriação” e não ao prazer. A menstruação era tida como uma impureza do corpo da
mulher, e se punia com a morte a mulher que mantivesse relação sexual durante o fluxo menstrual. Surgiu
assim o conceito de pecado para os cristãos. O parto vaginal também gerava impureza e obrigava a mulher a
passar por um período de recolhimento denominado quarentena, e após os quarenta dias do parto tomava um
“banho de pureza”.
Por volta do séc. VI d.C. surgiu o Novo Testamento com a doutrina de São Paulo, que condenava a
homossexualidade, o adultério, a prostituição, o sexo anal, e proibia também o divórcio e propunha um ideal de
mulher: submissa e obediente ao marido. Florecia o idealismo da “virgindade” como forma de identidade cristã e
de pureza.
Alguns teólogos cristãos da época recomendavam aos casados abstinência sexual: nas quintas-feiras, em
respeito à prisão de Jesus Cristo; nas sextas-feiras, em louvor à sua morte; nos sábados, em homenagem a
Nossa Senhora; nos domingos, em honra a ressurreição de Cristo, e nas segundas-feiras, em memória dos
mortos. Somente nas terças e quartas-feiras era permitida a relação sexual, caso não houvesse coincidência
com os dias de jejum e festas religiosas. Deveriam abster-se também durante a Quaresma, o Pentecostes e o
Natal, sete dias antes da comunhão, nos dias em que a mulher estivesse menstruada e quarenta dias após o
parto. Observem que através dos séculos a Igreja foi nos tirando o nosso aparelho sexual, com uma repressão
total à nossa sexualidade, aos nossos desejos e às nossas fantasias. A Igreja determinava o dia em que se
deveria ter relação sexual, e o sexo passou a ser estritamente procriativo, uma vez que o sexo prazeroso era
totalmente condenado pela Igreja. A repressão não parou por aí, pois a nudez, que era vista com naturalidade,
começou igualamente a ser condenada e coberta de panos e conceitos da moral cristã. Desta maneira, a
sexualidade era tida como fruto do pecado, uma “coisa” ruim e pecaminosa, e ter prazer passava a ser
“pecado”.
Os séculos que se sucederam, séculos XV e XVI d.C., continuaram reprimindo nosso aparelho sexual,
condenando a masturbação, que também passaria a ser encarada como uma doença, uma anomalia causadora
de males mentais que poderia levar à morte. Na Inglaterra, o médico Dr. Tissot condenou a masturbação,
“comprovando” que ela poderia causar apatia no indivíduo e levá-lo à morte. A Igreja pregava ser desperdício o
resultado da masturbação, da homossexualidade e do coito praticado mais de uma vez por semana sem a
intenção de procriar.
Somente nos séculos XIX e XX d.C. Sigmund Freud, com seu conhecimento da mente humana, orientou para
as possibilidades de que as neuroses poderiam ser conseqüência de toda a repressão sexual ocorrida durante a
história do ser humano através dos tempos. Freud era contrário a toda moral cristã imposta pela Igreja, que
aniquilava o aparelho sexual dos seres humanos. Portanto, todo esse panorama histórico-social, que reprimiu a
sexualidade durante séculos, levou a mulher a desconhecer o seu aparelho sexual e a não tocá-lo,
comprometendo um autoconhecimento e prejudicando um auto-erotismo.
Graças a essa repressão sexual é que 45% das mulheres são anorgásmicas, e este número poderá ser bem
maior se considerarmos as dificuldades de realizar trabalhos e pesquisas na esfera da sexualidade. A
sexualidade passou a ser objeto de estudo e é tida como ciência desde de 1920. Somente na década de 60 é
que Master & Johnson descreveram a resposta da sexualidade humana (excitação, desejo, libido e orgasmo).
Na década de 60 surgiram os anticoncepcionais hormonais, e desta maneira a mulher passou a programar o
número de filhos desejados, possibilitando-lhe uma certa autonomia na utilização de seu aparelho sexual para o
obter prazer sem se preocupar com a reprodução. A partir de então ocorreu uma massificação do sexo, com
uma hipergenitalização sexual: se faz sexo por fazer, sem vínculos de afetividade e cumplicidade.
A mulher, hoje, representa 55% a 65% do mercado de trabalho e das universidades, e conseguiu à custa de
muitas lutas reverter em parte o que a sociedade patriarcal lhe impôs através dos séculos e, evidentemente, por
todas as lutas alcançadas está tentando conhecer melhor seu aparelho sexual, melhorando assim o
conhecimento de si mesma e do seu erotismo. Acreditamos que a mulher atual está procurando o verdadeiro
amor maduro. O que significa o “amor maduro”? Segundo Amparo Caridade, o amor maduro só é maduro
quando conquista dimensões especiais. Caso contrário, permanece infantil ou adolescente. Não é a idade que
define a maturidade no amor. Somos maduros quando, por exemplo, não apenas despimos o corpo do outro e o
possuímos, mas somos maduros quando, ao fazer isso, fazemos como se fôssemos deuses, como se
tivéssemos aprendido a arte da contemplação da vida através do corpo do outro. Ficamos maduros no amor
quando o outro se torna tão especial para nós, que lembramos dele como quem reza uma oração ou escreve
um poema. Somos maduros no amor quando não cobramos nada, porque conquistamos a certeza interna de
que é bom estar com o outro.
Esperamos, por meio deste texto, ter-lhe proporcionado uma reflexão para o conhecimento da sexualidade da
mulher atual, para que ela tenha a clara compreensão de como a formação judaico-cristã prejudicou seu
aparelho sexual, e que, através desse conhecimento, ela possa compreender melhor o seu corpo, tocá-lo por
meio da masturbação e redescobrir um autoconhecimento e um auto-erotismo, porque para nos relacionarmos
com outra pessoa é importantíssimo termos o conhecimento de nosso próprio corpo. Procure então explorá-lo
da melhor forma possível, pois isto fará com que a sua “saúde sexual” melhore muito e, conseqüentemente, a
sua “vida sexual” será infinitamente melhor.

HISTÓRIA DO SEXO
(13/05/2009)

Fazer sexo todo animal faz. Mas entender bem o sexo é algo bem
difícil. Os gregos antigos acreditavam que o pênis ereto ficava
cheio de ar. E essa crença perdurou até o século XV da nossa
era, quando o gênio "Leonardo da Vinci descobriu que é o sangue
que faz o pênis ficar ereto, e não o ar, como acreditavam os
gregos antigos". De lá para cá muito se estudou e muito se fez
pelo sexo.

Como era o sexo na Pré-História?


por Marina Motomura e Gabriel Silveira

Os homens da Pré-História já distinguiam sexo de reprodução,


usavam cosméticos naturais para incrementar a paquera, faziam
sexo em posições bem diferentes do papai-e-mamãe e usavam
até mesmo métodos anticoncepcionais. Pelo menos é isso que
indicam os estudos feitos por arqueólogos baseados em objetos
como estátuas e pinturas rupestres. Só não dá para ter certeza,
porque a Pré-História é caracterizada justamente pela inexistência
de documentos escritos. “Chegar à verdade acerca da Pré-História
é quase impossível. A arte pré-histórica, grande parte da qual
tem conteúdo sexual explícito, obviamente revela coisas sobre as
quais as pessoas pensavam, mas não pode refletir por completo o
que realmente faziam”, afirma o arqueólogo Timothy Taylor no
livro A Pré-História do Sexo. Veja nestas páginas o que os
cientistas descobriram sobre os hábitos sexuais que faziam a
cabeça da humanidade que habitou o planeta entre 2 milhões a.C.
e 4000 a.C. :

É PAU, É PEDRA...
Na Idade da Pedra, métodos anticoncepcionais e masturbação já
faziam parte da rotina sexual.
POSIÇÕES
Nada de papai-e-mamãe na Pré-História. Uma imagem
encontrada em Ur, na Mesopotâmia, datada de 3200 a.C., mostra
a mulher por cima, posição também encontrada em obras de arte
da Grécia, do Peru, da China, da Índia e do Japão. Uma outra
imagem pré-histórica mostra a mulher sentada com as pernas
levantadas para facilitar a penetração do homem. A relação com
penetração por trás também aparece com frequência, assim como
imagens de sexo oral.

CASAMENTO
No Paleolítico, a Idade da Pedra Lascada, os machos dominantes
se casavam com várias mulheres, seguindo o comportamento de
animais polígamos, como bisão e veado. Já no Neolítico, a Idade
da Pedra Polida, a monogamia passa a ser predominante. Nessa
época, os homens passaram a domesticar animais. Observando o
estilo de vida dos bichos e o papel do macho na procriação, os
homens passaram à monogamia.

MASTURBAÇÃO
Não faltam exemplos da prática do sexo solitário na Pré-História:
há de estátuas a bastões fálicos talhados em madeira ou em
pedra. Uma das estátuas, de Malta, mostra uma mulher se
masturbando de pernas abertas por volta de 4000 a.C. Outra
retrata um homem sentado descabelando o palhaço em 5000 a.C.

CIÊNCIA
Os homens usam plantas medicinais há pelo menos 40 mil anos.
Não há provas diretas, mas arqueólogos desconfiam que plantas
do gênero Aneilema eram usadas para evitar a gravidez,
enquanto a borragem provavelmente já era usada para amenizar
os sintomas da tensão pré-menstrual nas mulheres e como
afrodisíaco para os homens.

HOMOSSEXUALIDADE
Pesquisadores apontam que a atividade homossexual masculina e
feminina é comum em mais de 200 espécies de mamíferos, aves,
répteis, anfíbios, peixes e insetos, o que poderia indicar que
também era praticada pelos homens pré-históricos. Entre os
grandes macacos, como chimpanzés e gorilas, também rola sexo
entre animais do mesmo gênero.

SEXO SELVAGEM
A relação do homem pré-histórico com os animais era bem
próxima – até demais! Há uma pintura rupestre de cerca de 3000
a.C., em Val Camonica, na Itália, que mostra um homem
copulando com um asno! Já na Sibéria aparecem imagens de
homens copulando com alces – em uma das pinturas, o homem
está usando esquis nos pés enquanto transa com o bicho.

MULHER MELANCIA ANCESTRAL


Os homens faziam estátuas eróticas que podem ser consideradas
ancestrais da pornografia. A mais famosa é conhecida como
Vênus de Willendorf: uma mulher de nádegas e peitos grandes
com traços de corante vermelho, encontrada em uma região com
traços de ocupação de até 40 mil anos atrás. Naquela época, a
Europa vivia a Era Glacial, e as mulheres gordinhas teriam maior
potencial de resistência, e por isso podem ter sido as gostosas da
vez.

PAQUERA
Na hora da paquera, o homem pré-histórico já tinha à disposição
cosméticos feitos de plantas, como a hena, usada nos cabelos.
Sabe-se que extratos de beladona eram usados para dilatar as
pupilas e, assim, chamar mais a atenção. Havia ainda pigmentos
avermelhados, que destacavam partes da pele, e joias feitas de
pedras, madeira ou dentes de animais.

CORPO A CORPO
Quando o homem virou bípede, o corpo passou a ter novos focos
de atração sexual. Os peitos das mulheres, únicas fêmeas entre
os primatas que têm seios permanentemente grandes, passaram
a ser tão atrativos quanto a bunda. Assim, o ser humano passou
a ser um dos poucos animais que fazem sexo cara a cara,
enquanto outros bichos praticam o coito por trás.

Como era o sexo na Antiguidade?


por Marina Motomura

Na Antiguidade, a prostituição era regulamentada, o divórcio


começou a existir e havia até deuses do sexo! Os documentos da
Idade Antiga, que vai de 4000 a.C. ao século 5 d.C. de acordo
com a datação convencional, mostram curiosidades sobre a vida
sexual de povos como gregos, romanos e egípcios. Os romanos,
por exemplo, prezavam tanto o sexo que havia uma lei para
desincentivar o celibato: a solteirice e a falta de filhos eram
punidos, e as pessoas cheias de herdeiros tinham privilégios. Foi
também na Idade Antiga que os conhecimentos científicos sobre o
rala-e-rola começaram a se aprimorar com Hipócrates,
considerado o pai da medicina. Os romanos também estudavam o
corpo humano e já conheciam algumas doenças venéreas, como a
gonorreia, termo cunhado por Galeno no século 2. Mesmo assim,
algumas crendices sexuais bizarras permaneciam. Na Grécia, por
exemplo, acreditava-se que o contato com uma mulher
menstruada faria o vinho novo ficar azedo e faria as árvores não
dar mais frutos. :-()

À MODA ANTIGA
Prostituição e homossexualidade eram comuns, mas havia leis
severas para punir abusos

CASAMENTO
Os gregos e romanos eram monogâmicos – no império de
Diocleciano, em Roma, a bigamia foi declarada ofensa civil. Mas
os grecoromanos descobriram que o amor não é eterno: foi nessa
época que surgiu o divórcio. Na Roma arcaica, as mulheres
adúlteras podiam ser condenadas à morte – isso só mudou após
uma lei do imperador Augusto, que trocou a pena para o exílio.

POSIÇÕES
Em Roma, as posições sexuais apareciam em pinturas, mosaicos
e objetos de uso cotidiano, como lamparinas, taças e até moedas.
Em uma face, ficava a posição sexual, e, na outra, um número.
Para alguns historiadores, as moedas eram fichas de bordel, e as
posições com penetração tinham números maiores, indicando que
poderiam ser mais valorizadas.

MASTURBAÇÃO
Nada de condenar o sexo solitário: na Grécia e na Roma antigas,
a masturbação era vista como natural. No Egito, a masturbação
era até parte do mito da criação. Um dos ditos piramidais afirma
que Aton, o deus do Sol, teria criado o deus Shu e a deusa Tefnut
através do sêmen de sua masturbação!

HOMOSSEXUALIDADE
Casais de homem com homem e mulher com mulher eram
comuns na Grécia. Havia até mitos para explicar a origem da
pederastia, a relação entre homens maduros e jovens: o primeiro
dizia que Orfeu, um dos seres da mitologia grega, acabou se
apaixonando por adolescentes depois que sua mulher, Eurídice,
morreu. Outra lenda afirma que a pederastia começou com o
músico Tamíris, que foi seduzido pelo belo Jacinto.

CIÊNCIA
O grego Hipócrates, pioneiro da medicina, achava que o útero
poderia deslocar-se pelo corpo da mulher em busca de umidade e
poderia chegar até o fígado! Mas ele também deu bolas dentro:
calculou a duração da gravidez em 10 meses lunares (cerca de
290 dias do nosso calendário), tempo parecido com os 9 meses
atuais, e prescreveu semente de cenoura como anticoncepcional e
abortivo.

PAQUERA
Os galanteios dos romanos seguiam um manual: o livro A Arte de
Amar, do poeta Ovídio, escrito entre 1 a.C. e 1 d.C. Entre as dicas
dadas pelo escritor, estava o uso do goró: "O vinho prepara os
corações e os torna aptos aos ardores amorosos". Ovídio também
incentivava a galera a melhorar o visu: “Esconda os defeitos e, o
quanto possível, dissimule suas imperfeições físicas".

NO TRIBUNAL
A legislação sexual da Roma antiga era polêmica! Eram puníveis
com a morte: adultério cometido pela esposa, incesto e relação
sexual entre uma mulher e um escravo. No estupro, a punição
sobrava até para a vítima – se não gritasse por socorro, a virgem
poderia ser queimada viva! Entre as penas leves, estava a
apreensão de propriedades de quem fizesse sexo anal. No Egito,
o adultério era mau negócio: os homens eram castrados e as
mulheres ficavam sem o nariz.

PROSTITUIÇÃO
Regras para sexo pago eram diferentes na Grécia e em Roma

GRÉCIA
As moças da vida não eram todas iguais – elas seguiam uma
hierarquia. A maioria delas era escrava, mas havia também
mulheres vendidas aos bordéis pelos pais ou irmãos.

CLASSE ALTA
Prostitutas de primeira classe, com treinamento intelectual e
cultural.

CLASSE MÉDIA
Tocadoras de flauta e dançarinas, especialistas em ginástica e
sexo oral. Eram imigrantes.

CLASSE BAIXA
Vendidas pela família, ganhavam mal e tinham poucos direitos.

ROMA
Registradas e pagadoras de impostos, as prostitutas se vestiam
com tecidos floridos ou transparentes, e, por lei, não podiam usar
a estola, veste das mulheres livres, nem a cor violeta. Os cabelos
deviam ser amarelos ou vermelhos. O lugar mais comum de
trabalho delas era sob arcos arquitetônicos: a palavra fornicação
vem do latim fornice, que significa arco.

Como era o sexo na Idade Moderna?


por MARINA MOTOMURA

Os costumes medievais recatados continuaram na Idade Moderna, mas a Reforma


Protestante ajudou a tornar alguns deles menos rígidos. O divórcio, por exemplo, que
era proibido pelo catolicismo, passou a ser aceito na Igreja Anglicana. Para quem não se
lembra das aulas de história, a Idade Moderna vai de 1453 a 1789, data da Revolução
Francesa. Nesse período, a Europa viu o monopólio da Igreja Católica cair, mas as
igrejas protestantes que surgiram na Alemanha, Inglaterra e Holanda continuaram bem
rigorosas no que se refere às práticas sexuais. O que mudou foram os padrões de
beleza - mulheres com cinturas fina e seios fartos passaram a ser as mais desejadas.
Tanto é que, no século 16, surgiu o espartilho, peça de roupa que projetava o peito da
mulherada para cima e afinava suas cinturas. Que aperto! :-D

SEXO, AMOR E TRAIÇÃO


Liberdade sexual aumentou, mas leis para punir traição ficaram bizarras na Idade
Moderna

PAQUERA
A paquera às moças solteiras tinha até data para acontecer. Nas noites de 30 de abril,
árvores parecidas com pinheiros, chamada maio, eram plantadas diante das casas das
moças casadoiras. As plantas tinham significado: as plantas espinhosas eram dedicadas
às garotas orgulhosas e o sabugueiro, que exala mau odor, era uma forma de debochar
das pobrezinhas.

AMOR
Na Idade Moderna, começaram a ser mais comuns os casamentos por amor, e não
apenas por interesse. O hábito de trocar cartas entre os apaixonados tornou-se comum.
Muitas vezes, as cartas tinham códigos secretos e ininteligíveis - o rei Henrique IV, que
governou a Inglaterra de 1399 a 1413, usava, por exemplo, o $ em seus textos quando
queria esconder algo.

CASAMENTO
De 1545 a 1563, o Concilio de Trento tornou a Igreja a responsável pelo casamento –
antes, os casamentos eram só civis, e aconteciam em casa mesmo. A partir daí,
passaram a acontecer diante de um membro da igreja. Com a Reforma Protestante,
houve novidades nesse segmento: o rei Henrique VIII, da Inglaterra, rompeu com a
igreja Católica e fundou a Anglicana em 1534 apenas para poder se divorciar e se casar
com outra mulher. E os anabastistas, outra denominação protestante surgida na época,
defendiam a poligamia.

POSIÇÕES
No século 16, o pintor italiano Giulio Romano pintou uma série de 16 desenhos para um
livro de sonetos obscenos de Pietro Arentino, retratando várias posições sexuais. Em um
dos quadros, um homem de joelhos segura uma mulher, que está na diagonal e com
uma das pernas sobre seu pescoço! A série acabou confiscada pela igreja em 1524.

E O KAMA SUTRA ORIGINAL?


As pinturas de Giulio Romano são fichinha comparadas ao Kama Sutra, que foi escrito
provavelmente entre os séculos 3 e 4, mas só foi popularizado no Ocidente a partir de
1883, quando ganhou uma tradução em inglês. O livro contém a descrição de 529
posições sexuais. Há desde posições complexas, como o Ato das Cabras, em que vários
homens transam com uma mulher, a situações “simples”, como abraços e estrega-
esfrega.

HOMOSSEXUALIDADE
Mesmo com a pena de morte por enforcamento, os homossexuais não deixavam de sair
do armário. No século 18, começaram a surgir vário bordéis masculinos na Inglaterra,
as “molly houses” (“molly” era a palavra em inglês para “efeminado”). Mas eles
funcionavam na surdina. Em 1726, Margaret Clap, dona de um deles, foi descoberta e
condenada a dois anos de prisão.

PROSTITUIÇÃO
As prostitutas eram chamadas de cortesãs e seus quartos eram cheios de pentes, caixas
de pó e frascos de perfume. Havia dois tipos de cortesãs. Algumas atendiam em casa
(geralmente, depois da morte do chefe de família, quando ficavam sem dinheiro para o
sustento) e tinham uma agente, a alcoviteira, que buscava clientes nas ruas. Havia
ainda as que trabalhavam em bordéis, tabelados pelo estado

PORNOGRAFIA
Quem estudou a Idade Moderna na escola já ouviu falar de Rousseau e Voltaire. O que
os professores não contam é que esses intelectuais também escreviam pornografia! Na
era moderna, tornaram-se comuns livros de contos eróticos. Voltaire escreveu o livro
Candide, que tem alguns textos eróticos, Diderot fala de sexo em Les bijoux indiscrets,
e Montesquieu também resvala no assunto em Le temple de Cnide

LEIS
As leis da Idade Moderna mais humilhavam que puniam. O adultério, por exemplo, era
“punido” na França com um desfile dos maridos traídos e das mulheres traidoras! Os
homens eram obrigados a montar um asno e passear pela cidade usando chifres, e as
mulheres adúlteras também tinham que montar em um asno, besuntadas de mel e
cobertas de penas, com um cesto na cabeça!

CIÊNCIA
Como os conhecimentos sobre sexo evoluíram na Idade Moderna
1495 – soldados franceses em Nápoles dão sinais de tumores genitais. É o início da
sífilis na Europa

1527 – é empregada pela primeira vez a expressão “doença venérea” por Jacques
Bethencourt

1550 – por volta dessa data, o médico italiano Gabriel Fallopius descreveu os órgãos
reprodutivos femininos, e um deles ganhou seu nome: as trompas de Falópio, hoje
chamadas de tubas uterinas

1550 – A invenção da camisinha moderna também é creditada a Fallopius e ocorreu


nessa década. Ele que recomendava o uso de um envoltório de linho sobre a glande
para evitar a disseminação da sífilis

1554 – o médico alemão Johannes Lange descreve uma doença bizarra: a clorose, que
atacava quem não fizesse sexo! Entre os sintomas, letargia e palidez. O tratamento:
sexo, claro

1595 – invenção do microscópio moderno na Holanda; ele ganha esse nome somente
em 1625, com Galileu Galilei

1677 – O holandês Antoine van Leeuwenhoek descobre o espermatozóide

(Mundo Estranho)

Mas evolução do conhecimento sobre o sexo

"Século 15: Leonardo da Vinci descobriu que é o sangue que faz o


pênis ficar ereto, e não o ar, como acreditavam os gregos
antigos"
1785: Lazzaro Spallanzani realiza a primeira inseminação
artificial, provando que o orgasmo feminino não ocorre somente
para a reprodução.
1905: Freud publica o livro Três Ensaios sobre a Teoria da
Sexualidade, no qual desenvolveu seu trabalho sobre sexualidade
humana, detalhando o desenvolvimento desde a infância e
afirmando que comportamentos sexuais são comuns às crianças.
1920: Criada a camisinha de látex. Antes, era de papel de seda,
linho e intestinos de animais.
1948: Alfred Kinsey gera polêmica ao publicar seus relatórios
sobre sexualidade e revelar mais sobre as práticas dos
americanos. É considerado o pai da sexologia.
1950: Descoberta do ponto G feminino pelo ginecologista alemão
Ernst Gräfenberg. O termo foi cunhado e popularizado pelos
sexólogos John D. Perry e Beverly Whipple.
1960: Criação da primeira pílula contraceptiva.
Anos 60: A era dos contraceptivos viu nascer uma revolução
sexual em que muitos jovens adotaram o estilo de vida hippie e
abraçaram o 'amor livre'.
1973: A homossexualidade deixa de ser considerada uma doença
mental no Reino Unido. Ela também deixa de ser citada no
Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais da
Associação Psiquiátrica Americana em 1986.
1998: Chegada do Viagra.
2007: Lançamento do intrinsa, adesivo de testosterona usado
para tratar mulheres com disfunções sexuais depois da
menopausa." (Galileu, Ed. 213, abril/2009, págs. 12 e 13).

O ciclo menstrual feminino sempre foi motivo de especulações, seja por ser uma incógnita, seja
por ser um determinante de alguns rótulos ao longo do tempo. Durante o desenvolvimento de
nossa civilização, as mulheres passaram por diversas situações, que atualmente vemos de
forma cômica ou desumana. Principalmente nas eras primitivas, a menstruação, mesmo sem os
seres humanos o saberem de fato, era vinculada ao sexo, e é inegável essa correlação.

O presente ensaio apresenta reflexões acerca das idéias de Coutinho (1996) que é médico
ginecologista que propõe a supressão da menstruação com base na análise do desenvolvimento
feminino sob o aspecto da menstruação em várias épocas da história humana. Também reflete
as compreensões de Berenstein (2001) médico ginecologista e relacionadas com a visão do
médico psiquiatra Cheniaux Junior (2001). Os três autores serão comparados na tabela ao final
do texto.

O estudo do fenômeno da menstruação é interessante pelo fato de apresentar


compreensões históricas que efetivamente podem ser desconhecidas desse processo fisiológico.
A história do comportamento humano e suas relações com o processo da menstruação
possuem estreita relação, tal aspecto é fundamental para as compreensões acerca do
comportamento humano e da realidade histórica do ser humano.

Compreensões de Coutinho acerca do histórico da menstruação


Segundo Coutinho (1996) as mulheres na pré-história apresentavam um ciclo menstrual que
iniciava normalmente aos 18 anos, devido supostamente ao quadro de subnutrição que as
mulheres da época deveriam ter, principalmente pelas longas caminhadas da vida nômade e da
escassez de alimentos. Quando entravam na menarca (primeira menstruação), elas passavam a
chamar a atenção dos homens da tribo, e as relações sexuais ocorriam naturalmente pela
atratividade das fêmeas e pela agressividade sexual dos machos. As fêmeas humanas sempre
disponíveis tornavam-se mais desejáveis nos dias que precedem e nos dias em que ocorrem as
ovulações, seguindo o instinto natural da oscilação dos hormônios. Normalmente a concepção
ocorria naturalmente nos primeiros ciclos, o que determinava a amenorréia (ausência da
menstruação) durante a gravidez e a lactação. Como a expectativa de vida nesse período do
desenvolvimento humano era em torno de 33 anos para o homem e de 28 para as mulheres, a
suposição de que a mulher paleolítica estaria a maior parte da vida grávida ou amamentando,
ou seja, em amenorréia contínua durante sua vida, é reforçada por evidências que demonstram
que naquela época o número de homens era três vezes maior que o de mulheres, sendo difícil
para as mulheres escaparem do assédio sexual dos homens, engravidando muitas vezes. A
mortalidade feminina era maior, principalmente por problemas reprodutivos, e muitas mulheres
morriam durante o parto. Como as mortes infantis também eram freqüentes, embora houvesse
muitas gestações, a população crescia muito pouco.

Quando os seres humanos primitivos passaram a viver em grupos e a se entender por meio
de linguagem, chegamos à fase de civilização. Nessa fase a situação da mulher passou a
mudar, e a organização social que passou a existir, dividia a vida em tarefas específicas para
homens e mulheres, que teriam que prestar contas de seus atos a alguém, que no caso eram
os mais velhos e experientes membros da comunidade. Para atender aos interesses da
sociedade, a liberdade sexual praticada anteriormente na vida selvagem não era mais
permitida, e o acasalamento obedecia a regras pré-estabelecidas, surgindo a oficialização do
casamento. Dessa forma, ter filhos passou a ser um objetivo de grande interesse social, devido
a grande mortalidade existente nessa época devido as guerras, as endemias e epidemias.
Começou-se a condenar os casais sem filhos, ou os jovens que permanecessem solitários e não
criassem filhos, ou, mais cruel ainda, a jovem que não fosse deflorada nem engravidasse.

Nessa época os casamentos monogâmicos passaram a ser arranjados pelos pais na infância
ou até mesmo antes do nascimento dos filhos. Quando chegava à puberdade a menina deixava
sua família para ser introduzida na família do esposo e lá permanecia até a morte, a não ser
que fosse estéril o que determinava a rejeição por parte de esposo. Devido às solicitações da
época, as mulheres assim casadas tinham filhos sucessivamente, menstruando, portanto, só
raramente. Menstruar regularmente durante muitos anos era destino reservado para as
mulheres que não conseguiam ter filhos, e assim sendo, eram consideradas doentes, sendo
rejeitadas pelos maridos e condenadas à prostituição.
Normalmente as prostitutas eram inférteis, ou quando não eram inférteis, elas não
desejavam ter filhos, praticando o aborto ou infanticídio. A profissão de prostituta, considerada
a mais antiga do mundo, tinha na época das civilizações mais primitivas, uma estreita relação
com a incapacidade de ter filhos e constituir família.

As prostitutas mantinham uma função social de preservação da família (dos outros), uma vez
que evitava os perigos do adultério, atraindo os homens para os prazeres sem conseqüências e
sem perspectivas de concepção proporcionadas por profissionais que não engravidavam.

Já na época da Grécia Antiga, grandes vultos como Pitágoras, Aristóteles, Sócrates e


Hipócrates, dentre outros, transformaram a Grécia no berço da sabedoria em praticamente
todas as áreas do conhecimento. No caso da medicina e menstruação, Hipócrates, sem ter
como examinar cadáveres humanos, pensava que o útero fosse subdividido internamente,
formando inúmeras subdivisões e saliências, e que o seu interior contivesse tentáculos e
ventosas. Ainda assim Hipócrates foi quem primeiro analisou o fenômeno da menstruação,
atribuindo ao mesmo uma função benéfica à saúde.

Durante o Império Romano (século II a.C. até o século IV), em torno do ano 60, Plínio, o
velho, escreveu História Natural, a primeira enciclopédia da história. No volume de biologia, ele
descreve o sangue da menstruação como um veneno fatal que mata os insetos, definha as
plantas, murcha as flores, apodrece as frutas e cega as navalhas. Para ele, se a menstruação
coincidir com um eclipse da lua ou do sol, os males serão irremediáveis. Relações sexuais com
uma mulher menstruada podem ser fatais para o homem. A autoridade dele não era desafiada,
seja por falta de fonte confiável, seja por que as afirmações não podiam ser testadas.
Resumindo: ele atribuía ao sangue menstrual um caráter venenoso e considerava a sua
descarga mensal um fenômeno purificador para a mulher, porém perigoso para aqueles que
entrassem em contato com ela. Somente após catorze séculos depois de ter vivido é que sua
influência diminuiu. Essa má impressão dos antigos sobre os sangue menstrual transformou-se
em verdadeiro tabu, adotado por todas as religiões que excluem a mulher da vida social
durante o período menstrual por encontrar-se impura. Ainda em Roma, cerca de um século
depois, a menstruação ainda era alvo de rótulos negativos. Com a reputação de “sangue ruim”,
o sangue menstrual deveria ser expurgado, argumento reforçado por Galeno, médico famoso
da época que escreveu sobre os benefícios dos sangramentos purificadores.

Na época do Paganismo e do Politeísmo e a ascensão do Cristianismo, a situação mudou


profundamente, porque a nova religião pregava a abstinência sexual como a melhor forma de
servir a Deus.

Durante a Idade Média, houve uma prolongada estagnação da ciência e a igreja católica
passou a dominar a escrita e o pensamento. Foram séculos dominados pela superstição e
medo, pela busca do céu e a fuga do inferno. As solteiras estavam condenadas a menstruar a
vida inteira, e como para os médicos era benéfico para a saúde “jogar aquele sangue fora”, não
havia quem não aceitasse resignadamente a ocorrência da menstruação. Nessa época não eram
apenas as inférteis, prostitutas e doentes que menstruavam, mas as mulheres mais “puras”, as
“santas”, que repudiavam o sexo, apesar de férteis, também menstruavam a vida toda.

Do mesmo modo que as fêmeas dos primatas não-humanos quando segregadas dos seus
machos no cativeiro, as mulheres passaram a menstruar repetidamente quando foram sujeitas
à indisponibilidade sexual e conseqüente não existência de gravidez imposta pelos interesses da
sociedade.

Com a Renascença foi possível a retomada das iniciativas da ciência, e foi possível, pela
primeira vez, conhecer a anatomia e fisiologia da mulher por meio de estudos que permitiram
afastar conceitos absurdos e fantasiosos sobre o útero feminino e sobre a circulação do sangue.

Somente no final do século XIX e principalmente no século XX, a partir da descoberta dos
hormônios, se tornou possível compreender de fato o que era a menstruação, um fenômeno
inteiramente governado pela atividade endócrina do ovário, cuja repetição mensal resulta
exclusivamente de uma falha reprodutiva. A progressiva redução da idade da menarca através
dos tempos continuou até o século XX, quando as mulheres ocidentais passaram a menstruar
em torno de 10 a 11 anos de idade, principalmente pelo fato de que cada vez mais
precocemente se atinge o peso necessário para desencadear a menarca.

Concepções de Berenstein sobre o histórico da menstruação

De acordo com o autor Berenstein (2001), médico ginecologista, a análise histórica da


menstruação como feita pelo autor Elsimar Coutinho não foi realizada, porém ele escreve sobre
o ancestral do Homo Sapiens, os Australopithecus afarensis, chamados de símios, e com isso
faz uma relação semelhante ao autor descrito anteriormente. A diferença é que ele descreve a
rotina desses ancestrais, que são extremamente instintivos. O que ele relata sobre o possível
cotidiano deles é impressionante devido à instintividade relacionada à atividade sexual. Nessa
descrição vemos que a atividade sexual dessa espécie obedecia exclusivamente a uma ação
hormonal, e o ato sexual ocorria quando as fêmeas entravam no cio e liberavam uma
substância chamada de ferormônio. Os machos atraídos pelo odor copulavam com a fêmea em
uma sedução que ocorria apenas pela bioquímica dos genitais. Se elas ficassem grávidas,
outros hormônios eram liberados (gonadotrofina coriônica), que afastavam os machos, fazendo
com que as fêmeas não tivessem mais interesse pelo ato sexual. Seus interesses estavam
voltados para as demais fêmeas, que iriam auxiliar no parto e nos cuidados à prole. Quando
estavam amamentando liberavam outro hormônio, a prolactina, que também as mantinha
afastadas dos machos, principalmente porque precisavam garantir a sobrevivência dos filhotes.
A espécie humana é a única em que a mulher faz sexo estando grávida ou amamentando,
mesmo tendo a influência dos mesmos hormônios. Após essa explanação ele continuou fazendo
o relato da forma como nossos ancestrais foram evoluindo até chegarmos ao Homo Sapiens.
Isso inclui a alteração do posicionamento dos órgãos genitais externos, que ficavam para trás,
abaixo da coluna lombar; para frente, entre as pernas. Com isso a posição dos parceiros
durante a cópula mudou, e, um ato totalmente instintivo que ocorria sem que os parceiros se
olhassem – por trás, foi trocado para o ato como o conhecemos hoje, em que os parceiros
passaram a se olhar, e com isso o afeto começou a tomar espaço nas atividades sexuais, além
da bioquímica.

Apesar dessa concordância sobre instintos, ele mostra os benefícios da menstruação.

Ele confere à menstruação e à ciclicidade propiciada pela variação hormonal o fato de que as
mulheres são mais maleáveis e se adaptam melhor a diversas situações, conseguindo ter
criatividade de realizar e resolver várias atividades ao mesmo tempo, tais como cuidar da casa,
dos filhos e do trabalho. Em uma referência a pesquisas realizadas, ele mostra que graças ao
estrogênio as células nervosas do cérebro conseguem criar mais conexões.

Ele faz referências ao ciclo como algo natural, e se ele ocasiona dor ou desconforto, estes
devem ser tratados com medicamentos ou com terapias próprias para cada caso.

O que é marcante na escrita de Berenstein (2001), é que ele identifica nas mulheres
comportamentos determinados em cada fase do ciclo e que, se as mulheres conhecessem seu
corpo e a fase do ciclo em que estão poderiam fazer com que os hormônios atuassem a seu
favor. Seria mais ou menos como se elas aprendessem uma nova forma de agir e de evitar
situações que prejudicariam suas relações interpessoais nas fases em que se encontram.
Também mostra que estimular determinadas atitudes de acordo com a fase por outro lado
melhoraria alguns aspectos dos relacionamentos que a mulher tem no dia-a-dia. A forma com
que ele propõe isso é a realização de um hormonograma diário, que pode ser realizado pela
própria mulher e que fornece um gráfico ao final do mês mostrando as oscilações hormonais a
que ela está sujeita. Assim ela pode identificar cada fase e mudar atividades que – ela
previamente responderia negativamente – e alterar suas relações interpessoais.

Ele faz referência ao modelo feminino e masculino e faz algumas inferências a respeito dos
hormônios que estão relacionados a isso. Ou seja, ele explica que as mulheres têm
bioquimicamente mais diversidade hormonal, o que faz com que ela se desenvolva mais
ricamente. Ela possui os andrógenos (embora em menor quantidade que os homens)
hormônios com características masculinas, o que lhes confere certo grau de competitividade,
agressividade, e os complementa com os hormônios femininos, estrogênio e progesterona. Já
os homens têm a falta da progesterona por toda a fase de sua vida, o que pode explicar a
limitação em entender determinados aspectos da feminilidade.

Reflexões de Cheniaux Junior sobre a menstruação e seu processo histórico

O terceiro autor, Cheniaux Junior (2001), médico psiquiatra, aborda o aspecto da síndrome
de tensão pré-menstrual (STPM), porém relata no início do livro dados que corroboram com a
análise histórica da menstruação. Ele relata que o sangramento menstrual havia sido
relacionado com sujeira, perigo, lesão, doença e magia. Embora mais simplista e pouco
aprofundado, ele mostra que Aristóteles afirmou que o reflexo de uma mulher menstruada em
um espelho poderia enfeitiçar qualquer pessoa que, em seguida o mirasse. Ele também faz
referência a Plínio, que dizia que o fluxo menstrual azedava o vinho, estragava a colheita,
destruía árvores e plantas, enferrujava o bronze e o ferro e enlouquecia cães.

Até hoje tem sido impostas restrições comportamentais às mulheres menstruadas, como
evitar manipular certos alimentos, pelo risco de contaminá-los, não podem comer determinados
pratos, lavar a cabeça, tomar banho ou manter relações sexuais.

O autor aborda que desde que a menstruação começou a ser estudada já se verificava que
ela poderia causar problemas, muito conhecidos hoje como a STPM. Antigamente Hipócrates
deu o nome de Doença das virgens à idéia de que a retenção da menstruação seria capaz de
provocar alterações no comportamento, delírios, alucinações e ideação suicida. Diversos autores
fizeram muitas correlações, até chegarem ao que temos hoje como definição de STPM.

Enfim, sendo a menstruação um fenômeno puramente fisiológico, saudável e natural na


maioria das mulheres, é incrível como chegue ao século XXI como um tabu, embora
desconfortos menstruais devam ser resolvidos com uso de medicamentos ou terapias
complementares. A menstruação deveria ser levada mais levemente, e não como um “fardo”, já
que faz parte da fisiologia normal da mulher. Diversos estudos têm tentado mostrar o que é
melhor: a supressão da menstruação ou a continuidade do ciclo, mas até agora não chegaram
a um consenso nas respostas

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