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swanwick-fala-sobre-o-ensino-de-musica-nas-escolas
Prática Pedagógica
Existem ritmos mais apropriados para cada uma das faixas etárias?
SWANWICK Não. A variação de ritmos é importante para favorecer o
desenvolvimento da turma. Também não diria que exista uma sequência
mais adequada, do tipo "primeiro música clássica e depois popular". É claro
que pode ser inadequado submeter a criança pequena ao rock pesado, por
exemplo, porque ela não vai se identificar com esse tipo de som. Mas é
interessante apresentar a ela alguns tipos de percussão. Na outra ponta,
talvez os mais velhos não queiram se aproximar de canções de ninar porque
elas não fazem mais parte de seu universo. De qualquer forma, um bom
conselho é evitar rotular os estilos musicais, pois esse tipo de estereótipo
pode afastar. Se eu digo para um adolescente para ouvir apenas Beethoven
(1770-1827) quando seu interesse é o rock, ele não vai dar a devida atenção e
pode pensar: "Isso não serve para mim". Por isso, não falo de antemão para
os alunos que eles vão ouvir uma música de determinado tipo. É preciso
contextualizar a criação de modo que o estilo seja apenas um dos dados
sobre a música.
Criar uma lei que torne compulsório o ensino de Música é uma boa ideia?
SWANWICK Acredito que é uma boa iniciativa porque oferece às diferentes
classes sociais oportunidades iguais de aprender. Nem todas as crianças têm
a chance de frequentar um curso de música pago por seus pais em uma
instituição privada. Possibilitar esse acesso nas escolas públicas é muito bom.
Mas é preciso ficar atento ao conteúdo dessas aulas. Toda criança gosta de
música. É natural do ser humano. Mas uma aula de música mal dada pode
estragar tudo. Se ela for distante demais da realidade do aluno ou
excessivamente teórica, por exemplo, o estudante pode ficar resistente ao
ensino de Música e piorar a situação.
Muitos professores de Arte, disciplina que hoje engloba o ensino de música, reclamam
que a área não é reconhecida no Brasil. Qual sua opinião?
SWANWICK Eu entendo que muitas vezes o ensino se torna tão penoso que fica
fácil esquecer o valor da música. Eu diria que cada professor também pode
atuar para recuperar esse entusiasmo, independentemente de o
reconhecimento existir ou não. Uma das maneiras é experimentar a música
por si mesmo. Fiz um trabalho para uma organização do Reino Unido que
queria avaliar a qualidade de seus professores de música. Eu dei vários
cursos para esses docentes e, um dia, um deles me disse: "Eu estava
desmotivado e suas aulas me despertaram. Eu até voltei a tocar piano".
Imagine só: ele era professor e tinha parado de tocar seu instrumento! Além
de tocar, o professor deve ouvir boa música - enfim, ficar em contato com a
área de uma forma prazerosa fora da sala de aula.
Muitas vezes, o principal objetivo das aulas de Música é preparar as crianças para
apresentações em datas comemorativas. Isso é ruim?
SWANWICK Você não pode impedir os pais de querer ver os filhos no palco em
uma festa. A tentação de mostrar a criança é muito grande não apenas na
música como também nos esportes e em recitais de poesias, por exemplo.
Entretanto, é preciso fugir da armadilha de reduzir o ensino de Música a
essas atividades. Também não se pode cair na ideia de que o objetivo escolar
é formar músicos ou apenas fazer com que as crianças gostem um pouco
mais de música.
BIBLIOGRAFIA
Ensinando Música Musicalmente, Keith Swanwick, 128 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-17-2002, 36 reais
Music, Mind and Education, Keith Swanwick, 192 págs., Ed. Routledge (em inglês, sem edição no Brasil), 45,95
dólares