O Brasil vive um contexto em que o fracasso escolar configura-se como um
grande problema a ser enfrentado pelo sistema educacional. Tal fracasso deve-se grande parte a diversas fragilidades encontradas no ambiente escolar: número excessivo de alunos por turma, pouca qualificação profissional, práticas pedagógicas inadequadas, faltas de recursos humanos em número suficiente, são apenas algumas das dificuldades encontradas hodiernamente. Decorrem disso, altos índices de repetência e evasão escolar, além da quantidade de pessoas analfabetas – funcionais ou não – que ilustram negativamente essa situação. Analisar suas possíveis causas e buscar alternativas para o seu enfrentamento, pensando no papel da escola com relação a este fracasso, é a proposta deste artigo. Tanto os teóricos e estudiosos do assunto, quanto o professorado que está diretamente envolvido com o tema em questão, apontam vários fatores responsáveis por esse processo. A família, o aluno, a sociedade, o sistema de ensino, a escola e o professor, todos – de alguma forma – estão relacionados ao problema. Faz-se necessário, então, considerar todas as variáveis que influenciam neste processo, ressaltando-se que a escola e, consequentemente, o professor, são partes determinantes na escolarização dos indivíduos e que direta ou indiretamente também podem promover situações de fracasso. Portanto, através deste estudo, propõe-se refletir, à luz de referenciais teóricos, acerca das práticas pedagógicas adotadas na escola, as quais precisam ser revistas redimensionadas, buscando minimizar este quadro e promover um ensino com mais qualidade. Abstract
Brazil is experiencing a context in which school failure is configured as a
major problem being faced by the educational system. Such failure is due largely to several weaknesses found in the school environment: too many students per class, less-skilled, inappropriate teaching practices, lack of sufficient human resources are just some of the difficulties of today. This result, high rates of repetition and dropout, and the number of illiterate people - whether functional or not - that illustrate this situation negatively. Analyze the possible causes and find alternatives for solving them, thinking the role of schools in relation to this failure is the purpose of this article. Both theorists and scholars, as teachers who are directly involved with the issue at hand, point to several factors responsible for this process. The family, students, society, education system, school and teacher, all - somehow - related to the problem. It is necessary then to consider all the variables that influence this process, pointing out that the school and, consequently, the teacher, shares are paramount in the education of individuals who directly or indirectly and may also promote situations of failure. Therefore, through this study, it is proposed to reflect the light of theoretical, about the actual performance in school, which need to be resized magazines, trying to minimize this situation and promote a higher quality education. 1- Histórico, contextualização e teorias referentes ao fracasso escolar na escola pública atual A educação brasileira tem vivenciado aquilo que podemos chamar de fracasso escolar, fenômeno que atinge uma grande camada da população. O número de crianças e adolescentes que ao final da série ou ciclo encontram-se reprovados ou abandonam o seu percurso educacional antes mesmo de seu término, cresce consideravelmente. Segundo dados divulgados pela Rede Globo de Televisão, “hoje há 14 milhões de brasileiros com mais de 15 anos que não sabem ler nem escrever. Segundo os pesquisadores, o número de pessoas analfabetas vem caindo, mas muito lentamente. Se o ritmo dos últimos anos for mantido, o país vai precisar de mais duas décadas para acabar com o problema”. (Jornal Nacional, 07/10/2009). Ainda, segundo a reportagem, “a taxa de analfabetismo é maior entre os que têm mais de 40 anos (16,9%). É maior, também, entre negros (13,6%) do que entre brancos (6,2%). Na comparação da região Nordeste com a Sudeste também há diferenças, 19,4% e 5,8%, respectivamente. O número mostra que a ação das políticas públicas no combate ao analfabetismo deixa a desejar e poderia estar ocorrendo de uma forma mais veloz”, explicou o diretor de estudos sociais do Ipea, Jorge Abraão”. 2 Segundo dados obtidos junto ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), o Brasil possuía no ano de 2003 cerca de 16 milhões de analfabetos com mais de 15 anos e um número aproximado de 30 milhões de pessoas com menos de 4 anos de escolarização, os chamados analfabetos funcionais. Percebe-se através desses dados que o fracasso escolar ainda está longe de ser superado, embora a legislação brasileira (LDBN 9394/96) em seu artigo art. 2º, assegure a todos, independentemente de raça, cor, credo, ou classe social, o direito (ou a obrigatoriedade) aos primeiros anos de escolarização e determine a responsabilidade da família e do Estado no dever de orientar a criança ou adolescente em seu percurso sócioeducacional, garantindo assim o acesso universal à escolarização fundamental, esta não tem sido plena no que se refere à qualidade do ensino, haja vista os altos índices de evasão e repetência escolar dos alunos, fato que também se reflete na ação docente. É possível ilustrar esse quadro tomando-se por base o fato de que nas reuniões de Conselho de Classe, ou na sala dos professores durante o horário do recreio, a conversa que geralmente toma conta e traduz-se como principal foco de comentários e questionamentos é o enfrentamento de grandes dificuldades para dar aulas. Os professores se queixam da indisciplina dos alunos, da falta de respeito destes pelos colegas e pelos professores, do desinteresse pela aprendizagem, da não realização das atividades propostas, da falta de motivação dos alunos frente aos estudos e da omissão da família quanto à vida escolar das crianças, entre outras tantas. Muitos desses professores colocam que os alunos não obtiveram uma sólida aprendizagem inicial. Portanto, quando chegam às séries finais do ensino fundamental têm-se a impressão de que eles apenas “passaram” pela escola e aprenderam muito pouco. Outros atribuem a aspectos externos à escola o fato de os alunos irem “mal” nos estudos. Fazem suposições de que as crianças estão enfrentando dificuldades - emocional, econômica, familiar, afetiva - as quais resultam em problemas de concentração em seu aspecto cognitivo e de aprendizagem. 3 Diante de tais suposições solicitam que a equipe pedagógica realize um trabalho junto às famílias e que essas sejam orientadas a procurar recursos em psicólogos, psicopedagogos, médicos, fonoaudiólogos, e outros, para que as crianças sejam “medicadas” e quem sabe, então, tornem-se aptas para receber os conteúdos trabalhados. Compreende-se que todos esses fatores concorrem para um quadro de fracasso, caracterizado pelo desinteresse dos alunos frente à aprendizagem, pela desmotivação tanto de alunos, como de professores, pedagogos e até mesmo dos pais. Muitos estudos têm sido desenvolvidos por pesquisadores a respeito do insucesso escolar, procurando identificar as causas que levam nossas crianças a fracassarem na aprendizagem. A problemática posta pelo fracasso dos alunos é complexa e pode ser tomada sob diferentes enfoques de acordo com o ponto de vista teórico de vários autores. Entre esses enfoques podemos citar o desenvolvido pela pesquisadora PATTO(1996), que aponta para a necessidade de entendimento onde este conceito foi produzido através da história. A autora atribui à consolidação do capitalismo industrial do século XIX e à dominação do poder econômico e político pela burguesia com a ruptura dos ideais burgueses do final do século XVII e início do século XVIII de igualdade, fraternidade e liberdade como fatores históricos responsáveis pela gênese dessa problemática. Os ideais de um mundo igualitário eram incompatíveis com o sistema capitalista. A visão da classe dominante emergente da burguesia era marcada pela crença no progresso do conhecimento humano, no qual o sucesso depende fundamentalmente do indivíduo. Estabelece-se assim, uma nova ordem que acredita na liberdade individual, num mundo racional como valor máximo, de onde advém todos os resultados positivos em termos de progresso econômico, técnico e científico. HOBSBAWM (Apud MANTOVANINI; 2001, p.23) argumenta que a ciência positiva, devido a trabalhar com fatos precisos e objetivos, se apresentaria como uma maneira eficaz para a compreensão do mundo. Para ele, a teoria Evolucionista de CHARLES DARWIN é a que melhor representa a concepção positivista da ciência, uma vez que incorpora o homem dentro da 4 evolução biológica, extinguindo a linha divisória entre as ciências naturais e as ciências sociais. Dentro de um contexto histórico social, oficializam-se a psicologia, a antropologia e a sociologia, que se constituem como ciência, reforçando a visão do mundo dominante que legitima a sociedade de classes e suas desigualdades. Segundo Patto (1996) a psicologia desempenhou seu papel social, influenciada pela teoria da evolução natural, passando a determinar aqueles que estavam mais ou menos aptos a percorrerem os caminhos para o alcance do sucesso. Testes psicológicos para medir a aptidão, em consonância às teorias racistas, foram utilizados para “justificar” as diferenças do rendimento escolar das crianças, justificando também as diferenças individuais e de classes, à medida que corroboravam ao pressuposto de aptidão como uma característica inata, que determinava a capacidade de aprender. Os instrumentos de avaliação intelectual mais difundidos estão embebidos de valores culturais, de modo que os resultados neles obtidos refletem o quanto da cultura dominante foi absorvido pelo sujeito, e não seu potencial de aprendizagem (ROSENBERG;1984, p.18). Educadores e terapeutas tentaram buscar nas Ciências Biológicas e na Medicina explicações para as dificuldades de aprendizagem, as quais estimularam os estudos neurológicos, neurofisiológicos e neuropsiquiátricos. Patto (1996) alerta sobre os diferentes resultados que o exame psicológico pode produzir. Dependendo da classe social onde a criança está inserida, este poderá traduzir-se como um indicador da necessidade de acompanhamentos especializados ou como mera justificativa das dificuldades escolares. No caso das crianças de classe mais favorecida, a família, de posse do laudo psicológico, procurará tratamentos psicoterápicos, pedagógicos e outros para a superação das dificuldades e o ajuste da criança a uma escola ideal. Porém, as crianças de classe menos favorecida, frente ao laudo, terão suas dificuldades escolares justificadas, o que poderá significar sua exclusão da escola. Assim, a educação passa a ser “medicalizada” em ritmo acelerado, na qual se destaca o fracasso escolar e seu reverso a aprendizagem, como 5 objetos essenciais desse processo. As aprendizagens e não-aprendizagens, muitas vezes, são relatadas como individuais, inerentes ao aluno, elementos que transcendem ao que o professor não tem acesso e, consequentemente, não tem responsabilidade. Inúmeras vezes o diagnóstico é centrado no aluno, chegando ao máximo até sua família. É muito importante identificar as características psicológicas dos alunos que interferem no seu rendimento escolar, não para justificar seu fracasso, mas para orientar a atuação pedagógica no sentido de superar as dificuldades por eles apresentadas. Porém, voltar-se apenas a esses aspectos pode deslocar a atenção dos educadores quanto ao problema da inadequação da escola ao seu público alvo, das questões referentes aos conteúdos, aos métodos utilizados, aos materiais de apoio à disposição dos professores, aos critérios de avaliação adotados, às atitudes do professorado e a sua interação com a comunidade. Nas décadas de 30 a 60 a educação no Brasil adotou as tendências da Escola Nova, cujos princípios estavam alicerçados em teorias desenvolvidas nos Estados Unidos e Europa as quais eram contraditórias ao ensino tradicional. Esta centra no aluno o processo de ensino, trata a aprendizagem como um ato individual, valoriza os aspectos psicológicos (aplicação de testes de inteligência) enquanto o professor é visto como um mero facilitador da aprendizagem. Dessa forma, a aprendizagem depende da capacidade da criança para aprender e esta passa a ser responsável pelo seu fracasso. Já na década de 70 houve a preocupação com a qualidade do ensino, como forma de minimizar a questão do fracasso escolar, no entanto, na década de 80, com a abordagem de uma educação sócio-cultural, pesquisas atribuíram aos professores a responsabilidade pelo fracasso escolar. Embora haja diferentes abordagens imputando cada uma a contribuição de diferentes fatores responsáveis pelo insucesso de nossos alunos e alunas, essa questão continua instalada de forma alarmante e persistente. A maioria dos professores inseridos no cotidiano escolar, não podendo acessar a uma compreensão crítica dessa problemática, não vê perspectivas reais de enfrentamento e muito menos de superação, rendendo-se, quase sempre, ao ceticismo e ao desânimo. 6 Segundo Ana Maria Poppovic (Apud ROSENBERG; 1984, p.17) O analfabetismo virtual, juntamente a ignorância, a doença, a baixa qualidade de vida, a marginalização dos processos sociais, culturais e produtivos da sociedade e a condenação a legar aos filhos o mesmo pobre padrão de vida que receberam dos pais, configuram o lado humano e social do fracasso escolar. Diante desse quadro é preocupante a situação em que muitos alunos depositam anos de suas vidas nos bancos escolares e quando chegam à vida adulta percebem-se como excluídos de uma sociedade ideal, tendo que interagir com a sociedade real. De acordo com BOSSA (2001, p.19): No Brasil, a escola torna-se palco cada vez mais de fracassos e de formação precária, impedindo os jovens de se apossarem da herança cultural, dos conhecimentos acumulados pela humanidade e, consequentemente, de compreenderem melhor o mundo que o rodeia. A escola, que deveria formar jovens capazes de analisar criticamente a realidade a fim de ao mesmo tempo, preservar as conquistas sociais, contribui para perpetuar as injustiças sociais que sempre fizeram parte da história do povo brasileiro. Concretizam-se as palavras da autora através da veiculação nos meios de comunicação de pessoas analfabetas que conseguem passar em vestibulares de faculdades particulares, e de alunos que se encontram em séries avançadas do Ensino Fundamental, mas mal sabem ler ou escrever. Assim, fica evidenciada, através de fatores como esses, a crise que vem passando nosso sistema de ensino. Diante de um quadro de reprovações e evasões escolares, surgiram algumas propostas educacionais, como a aceleração de aprendizagem configurada num projeto de adequação idade-série ou correção de fluxo, organização escolar por ciclos, classes aceleradas, todos com o intuito de resolver o problema referente ao fracasso escolar. Porém ainda não se colocou em questão a responsabilidade da própria escola como um fator determinante desse quadro. A instituição escolar ou a política educacional pouco são questionadas no cotidiano da escola. “Aparentemente o processo de ensino-aprendizagem iria muito bem, não fossem os problemas existentes nos que aprendem”. (COLLARES E MOYSES; 1994, p. 26). 7 O sistema educacional brasileiro vem passando por um processo de desmonte em termos de referenciais acerca daquilo a que a escola se propõe, ou seja, o desenvolvimento humano, o que significa fornecer ao homem as ferramentas necessárias para que ele possa assumir um papel de sujeito de sua própria história. Dessa forma, convém realizar uma reflexão acerca das fragilidades que a escola precisa dar conta para minimizar os problemas referentes ao fracasso, não só dos que aprendem, mas também dos que ensinam, pois o professor também sofre as consequências desse fracasso, seja em termos profissionais, morais, físicos ou sociais. Vasconcellos (2007, p.18), aponta para fatores que contribuíram para um quadro de desvalorização da educação, mais especificadamente do trabalho docente afirmando que: Num tempo relativamente pequeno, mudanças enormes aconteceram. Para ajudar a compor o cenário, podemos apontar alguns indícios dessas transformações da escola (e do professor) nos últimos anos no Brasil: Avanço do processo de industrialização e exponencial urbanização, aumentando a demanda pela escola; Expansão quantitativa x deterioração qualitativa. Degradação progressiva e acentuada das condições de trabalho (número excessivo de alunos por sala, falta de instalações adequadas, equipamentos, material didático, etc.); Aumento efetivo do número de vagas no ensino fundamental e médio na escola pública, e no ensino superior nas faculdades particulares; Fragmentação e esvaziamento da formação dos professores; Diminuição drástica dos salários dos professores; Queda do status social do professor; deixa de ser referência cultural da comunidade; Crescimento da valorização social baseada na capacidade de consumo (não basta ter; é preciso mostrar que tem, consumindo); Parcialização do trabalho do professor no interior da escola; com a entrada dos “especialistas”, vai perdendo o controle sobre as várias etapas de sua atividade; Aumento dos “problemas de disciplina” em sala de aula, levando até mesmo muitos professores a pensarem em deixar o magistério; Tendência a ter o professor como o grande responsável pelos males da educação. Da cumplicidade quase doentia entre escola e família, passando por um estágio de esvaziamento do papel docente (expresso, entre outras coisas, no famigerado fenômeno de chamar a professora de “tia”), parte-se para uma relação de desconfiança e de defesa incondicional dos filhos nos conflitos com o professor. O professor não tem vez com os pais: se o filho vai bem, é mérito dele (filho); se vai mal, é culpa do mestre. Assim sendo, analisar esses fatores e direcionar esforços na tentativa de superar tais dificuldades torna-se uma ação urgente que requer viabilizar 8 mecanismos os quais possam contribuir significativamente para a “reconstrução” do processo de ensino e aprendizagem com maior qualidade. Além de todos esses fatores, há, ainda, a problemática de a escola ter assumido para si algumas funções basicamente familiares ou políticas. A educação das crianças passou a determinar aquilo que deve ser trabalhado em sala de aula. Refere-se aqui à educação moral, de bons costumes, bons tratos, hábitos de higiene, boas maneiras, respeito ao próximo, valorização da vida,... . Esses temas podem e devem ser abordados como meio para enriquecer os conteúdos de matemática, línguas, ciências ou qualquer outra disciplina, contribuindo para a promoção de um clima favorável à aprendizagem. Todavia, a escola passou a assumir aquilo que antes era tão bem definido às crianças no seio familiar em tempos não muito tardios. Hoje, delegada-se à escola a função de formação de caráter dos indivíduos, deixando-se de dar ênfase, em muitos casos, à formação acadêmica tão necessária ao processo de humanização. Desestruturação familiar? Falta de vontade política? Problemas sociais? Não importa. Ocorre que à escola foi dada mais essa responsabilidade e os conteúdos passaram por um processo de secundarização, ficando o conhecimento em segundo plano, estabelecendo-se maior valor sobre o ter em detrimento do ser. Essa foi uma política reforçada pelas teorias neoliberais que através de um currículo calcado em competências e habilidades traz para a escola a impressão de “poder” para resolver os problemas da sociedade, trabalhando-os de forma pontual, sem uma análise crítica das causas desses problemas, quais fatores contribuíram ao longo do tempo para que fossem instalados, bem como a consciência social e política para que todos – alunos, professores e comunidade em geral – pudessem sentir-se responsáveis pelo bem comum. No artigo A Educação dos Alunos (ou filhos) da Pós-Modernidade, Lízia H. Nagel (2009), destaca a escola como uma instituição que vem perdendo sua função fundamental que é a de ensinar. Segundo a autora, Os professores, no interior de uma situação de opacidade, de indefinições, de discursos e de práticas sociais contraditórias, vivenciam essa realidade cotidianamente em sala de aula. Homem de sua época, e também sem um saber totalizante que de conta desse universo histórico, social e/ou psicológico, o 9 professor enfrenta, sozinho, as acusações de que seu ensino não corresponde às necessidades individuais dos seus alunos...Escuta as reclamações dos pais que, independentemente do nível da escola a qual se dirigem, responsabilizam o corpo docente e/ou técnico pelos “problemas dos filhos”. Problemas que, segundo a ótica paterna, só existem ou se transformam em problemas, pela falta de conhecimento, de compreensão, administração e/ou de atendimento às peculiaridades de cada um de seus rebentos( ...) É a pós-modernidade falando, agora, objetivada na figura do pai que não se compromete, não estabelece vínculos, não admite frustrações e tampouco se dispõe a refletir sobre a prática social, da qual faz parte ativa e que transforma seu filho em eterno irresponsável por seus próprios atos. Diante do exposto, verifica-se que a questão referente ao fracasso escolar requer ser analisada com profundidade na tentativa de angariar meios para o seu enfrentamento, sempre em busca de elevar os índices de aprovação e melhorar o desempenho dos alunos, através do esforço coletivo entre alunos, pais, educadores e autoridades. 2- Fragilidades e possibilidades para o enfrentamento do fracasso escolar no chão da escola No caso do Estado do Paraná, alguns esforços têm sido direcionados pela Secretaria de Estado da Educação – SEED, através de ações que procuram focar a qualificação docente como forma de ofertar uma educação de qualidade. Dentre elas podemos citar o NRE itinerante – nome dado a um grupo de professores e pedagogos designados para organizar e desenvolver atividades de capacitação para o quadro docente e pedagógico por disciplinas afins, distribuídos pelos setores de atuação de cada núcleo. Podemos citar também a Semana Pedagógica que ocorre em duas etapas. Uma no início e outra no meio do ano letivo, trazendo em suas abordagens temas gerais como currículo, concepções de educação e análise das diretrizes curriculares estaduais, ficando sob responsabilidade das equipes pedagógicas das escolas sua organização e aplicação. Outra forma de qualificação docente é o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, ofertado para subsidiar o avanço no plano de cargos e carreiras para o Magistério Estadual, o qual oportunizou este estudo e a aplicação de um projeto de intervenção na Escola Estadual Nossa senhora de 10 Fátima – Ensino Fundamental, trazendo algumas alternativas como forma de enfrentamento do fracasso escolar nessa escola. Uma das estratégias utilizadas foi a de organizar os índices da própria escola com relação ao número de alunos aprovados e reprovados ou aprovados por conselho de classe nos últimos três anos, ou seja, 2006, 2007 e 2008, os quais foram obtidos junto ao SERE (Sistema Estadual de Registro Escolar) tendo como resultado os dados da tabela a seguir: Tabela demonstrativa dos índices de aproveitamento escolar Total de alunos matriculados Alunos aprovados por média Alunos reprovados Alunos aprovados por conselho de classe 5ª série 635 330 120 185 6ª série 551 305 117 185 7ª série 568 260 71 237 8ª série 528 185 84 259 Fonte: Relatório do Sistema Estadual de Ensino – SERE Tais resultados demonstram que embora o número de alunos aprovados (aproximadamente 39%) seja consideravelmente maior que o de reprovados (em torno de 17,5%), existe uma lacuna que foi preenchida pelos alunos aprovados, por Conselho de Classe (em torno de 47,5%). Cabe aqui analisar se esses alunos tinham realmente se apropriado dos conteúdos mínimos para aprovação ou, ainda, se foram aprovados por não se enquadrarem no critério de estarem reprovados em pelo menos três disciplinas – o que, nesse caso, nem sequer entraram em análise sua verdadeira apropriação acadêmica; se os meios utilizados para as avaliações foram pertinentes e fidedignos à aprendizagem dos alunos, se as metodologias utilizadas alcançaram seus objetivos. Diante dessas informações foi possível realizar uma reflexão acerca daquilo que o corpo docente identifica e entende por fracasso escolar, suas causas e possibilidades de superação. Dentre as causas, foram elencadas várias respostas que se enquadravam perfeitamente àquilo que através dos estudos realizados anteriormente, nos parece justificar plenamente o mau 11 desempenho escolar de nossas crianças e jovens. E a “culpa” pelo fracasso escolar recai em primeira mão sobre o aluno e sua família, sobre a televisão, a falta de interesse das pessoas em relação à educação, ao próprio sistema de ensino, ficando a escola e a prática pedagógica de fora de tais causas, parecendo mesmo vítimas da situação. Sem contar com os aspectos psicologizantes, haja vista a quantidade de encaminhamentos de alunos a profissionais especializados como médicos, psicólogos, psicopedagogos, ... Além disso, existe uma “cobrança” às pedagogas da escola, como se estas tivessem o poder de solucionar os problemas surgidos em sala de aula que impedem o bom andamento do trabalho pedagógico, como a indisciplina dos alunos, as dificuldades na aprendizagem, a falta de interesse dos alunos, a não realização das atividades escolares, a falta de concentração, ... Foram traçadas então algumas ações que ao ver da equipe de professores, direção e pedagogas podem auxiliar na superação das dificuldades. Uma delas foi esclarecer o papel do pedagogo, retirando-lhe o caráter tarefeiro para um caráter articulador do trabalho pedagógico. Quanto a isto, no documento fornecido pela própria SEED como subsídio de estudo para um dos encontros denominados Jornada Pedagógica (2008) que ocorre em várias etapas para capacitação dos pedagogos da rede, está bem clara a posição que a mantenedora adota quanto ao verdadeiro papel do pedagogo diante do processo de aprendizagem, colocando que: O pedagogo não é bombeiro, não é enfermeiro, não é psicólogo, não é inspetor, não é técnico, não é pai nem mãe, embora não negligencie os fatores pontuais e cotidianos da escola e, para tal, é necessário que conte com todos os envolvidos no processo pedagógico. Contudo, sua função não pode ser tomada por essas ocorrências. O pedagogo deve ser visto sim em uma multidimensão: social, política, humana e cultural – mas isso jamais implica numa plurifunção. O que implica a Organização do Trabalho Pedagógico da Escola Pública? Segundo o CADEP (Coordenadoria de Apoio ao diretor e ao pedagogo) a OTP ( Organização do Trabalho Pedagógico) envolve: - Construção e implementação do Projeto Político Pedagógico da Escola; - Organização do trabalho pedagógico no coletivo da escola: espaço e tempo escolar – organização da prática pedagógica; - Formação continuada dos profissionais da Escola; - Relação entre Escola e Comunidade; - Avaliação do Trabalho Pedagógico; Faz parte também da OTP e situam-se dentro dos elementos acima, o currículo, o planejamento e a avaliação escolar. (SEED, PR, 2008) 12 Desta forma, evidencia-se a importância do trabalho do pedagogo na escola, como forma de auxiliar o professor a estabelecer sua prática pedagógica com vistas a reconhecer a necessidade de propor e desenvolver atividades com seus alunos de forma bem planejada e estruturada. Para tal é preciso um bom e coerente planejamento docente, um currículo que não esteja destoado da realidade do aluno, que lhe traga significado, avaliações elaboradas de forma clara quanto aos seus critérios, sua mensuração, com enunciados claros, numa visão transformadora deixando de ser um “acerto de contas”, mas um momento de avaliar não só o aluno, mas também o próprio trabalho realizado em sala de aula estabelecendo diferentes metodologias que estejam de acordo com os conteúdos a serem abordados com os alunos. Em todo esse contexto, entra muito fortemente a contribuição do pedagogo, pois ele poderá somar seus conhecimentos com os dos professores que, por muitas vezes, não falam o “pedagogês” e que em seus cursos de licenciatura, temas próprios da pedagogia, tão necessários para a elaboração de uma boa aula, são trabalhados de forma acelerada, dando-se maior ênfase aos conteúdos específicos de cada curso. Mesmo que o professor já tenha uma certa experiência no Magistério, faltalhe bagagem teórica para poder refletir sobre a própria prática e torna-se então necessária uma “parada”, para que juntamente com os colegas da disciplina que ministra e pedagogos da escola, existam momentos para troca de experiências, estudos, busca por atividades inovadoras que possibilitem um ensino de qualidade. É justamente neste momento que o trabalho do pedagogo é imprescindível para fazer a articulação e criar os espaços para discussão, podendo-se caracterizar assim, uma formação continuada. Além disso, cabe a ele também, promover e articular o envolvimento da família e da comunidade, buscando uma gestão democrática e participativa, pois a partir do momento em que a família se vê responsável pela educação dos filhos, tende a participar e auxiliar mais a escola no processo de escolarização dos alunos. Porém, esta ainda é uma tarefa difícil, pois existe de forma muito forte, a visão tarefeira do trabalho do pedagogo, por parte dos professores e 13 direção, que encaram ainda o pedagogo enquanto supervisor, inspetor de alunos, educador disciplinar, enfermeiro, professor substituto, “bombeiro”,... . Ilustra-se este posicionamento através da fala de alguns professores dizendo: “– Nossa! Se a pedagoga não está para apagar os incêndios, mandar bilhetes e dar bronca nos alunos, para que serve então?” Outra fragilidade para que o trabalho do pedagogo se efetive de forma satisfatória, é o número insuficiente de pedagogos nas escolas. Os poucos que ali trabalham acabam tendo que “apagar os incêndios” - haja vista que pela falta às aulas, quase que diária, de professores, o aluno não pode e não deve ficar sem atendimento, já que é preciso evitar situações que possam proporcionar violência e/ou acidentes as quais possivelmente ocorreriam caso estes permanecessem sozinhos, pois, esses fatos já ocorrem mesmo sob a supervisão do professor ou no horário de recreio, uma vez que a escola é um espaço que gera conflitos, principalmente, tratando-se da faixa etária dos 10 aos 14 anos - além de dar conta das tarefas burocráticas, porém necessárias que fazem parte do dia a dia escolar. É preciso que haja um maior número de pedagogos, funcionários e inspetores de alunos nas escolas, para que se possa dar conta de toda a demanda que o espaço escolar exige, a fim de transcender a visão tarefeira do pedagogo para a do verdadeiro articulador do trabalho pedagógico. Fato esse que, através dos estudos e das discussões realizados, está, paulatinamente, tomando um rumo certo com os professores dessa escola vendo as pedagogas como colaboradoras e articuladoras do processo de ensino e aprendizagem. Outra estratégia foi proporcionar temas para estudo, análise, discussão e redimensionamento sobre a Avaliação Escolar e o Conselho de Classe. Quanto à avaliação, Luckesi faz uma análise deste processo descrevendo algumas ações utilizadas no ato de avaliar, colocando que: Após um período de aulas e exercícios escolares (um mês ou dois de aulas), denominado unidade de ensino, os professores procedem a atos e atividades que compõem o que normalmente é denominado avaliação da aprendizagem escolar. 14 Para tanto, formulam provas ou testes, ou um outro mecanismo qualquer, que possa ser utilizado como instrumento por meio do qual o professor solicita dos alunos a manifestação de condutas esperadas, através da qual os alunos possam expressar seus entendimentos; compreensões de conteúdos e habilidades ensinados. Esses instrumentos de avaliação são cotidianamente construídos da seguinte maneira. Próximo ao final da unidade de ensino, o professor formula o seu instrumento de avaliação, a partir de diversas variáveis: conteúdo ensinado; conteúdos “extras” que o professor inclui no momento da elaboração do teste, para torná-lo mais difícil; o humor do professor em relação à turma de alunos que ele tem pela frente; a disciplina ou a indisciplina social desses alunos; uma certa “patologia magisterial permanente”, que define que o professor não pode aprovar todos os alunos, uma vez que não é possível que todos os alunos tenham aprendido suficientemente todos os conteúdos e habilidades propostos, etc. Assim, são muitos os ingredientes que se fazem presentes na elaboração do instrumento de avaliação, ainda que tecnicamente muitos desses elementos não deveriam se fazer presentes nos testes. (LUCKESI, 1995; p. 66-80) As colocações do autor são ainda visíveis nas práticas avaliativas de muitos professores, que por vezes tendem a utilizá-las como meio para punir os alunos, classificá-los e manter a autoridade em sala de aula conseguida pelo medo da reprovação e não pelo respeito que deve ser despertado e construído no aluno para o seu desenvolvimento acadêmico. Essa é uma prática que vem sendo analisada buscando-se a superação do caráter classificatório e punitivo com vistas a um caráter transformador, que auxilie o professor a reelaborar suas metodologias, rever suas práticas e reconstruir os caminhos que levem o aluno a compreender melhor os conteúdos trabalhados. A este respeito Celso Vasconcellos afirma que: O professor que quer superar o problema da avaliação precisa, a partir de uma autocrítica: Abrir mão do uso autoritário da avaliação que o sistema lhe faculta, lhe autoriza; Rever a metodologia de trabalho em sala de aula; Redimensionar o uso da avaliação (tanto do ponto de vista da forma como do conteúdo); Alterar a postura diante dos resultados da avaliação; Criar uma nova mentalidade junto aos alunos, aos colegas educadores e pais. (...) Deixar muito claro para os alunos e pais quais os critérios de avaliação que estão sendo adotados pelo professor. O educando deve saber o que vai ser exigido dele. Evitar sistematicamente o fator sorte, pois este leva à irresponsabilidade, à convicção mística. (VASCONCELLOS, 2006, p. 66,78) Adotando-se esta prática, é possível observar um melhor rendimento dos alunos, sendo que os enunciados das provas ou atividades são mais bem 15 elaborados proporcionando maior entendimento e evitando-se dúvidas quanto aquilo que está sendo “cobrado” na prova, teste ou atividade. Também evitam-se as “pegadinhas” que nada contribuem para o avanço na aprendizagem dos alunos, satisfazendo apenas o “espírito sarcástico” daquele que a utiliza, além de proporcionar a avaliação também do próprio trabalho docente. Quanto ao Conselho de Classe, este também tornou-se foco para análise, discussão e redimensionamento, devendo ser utilizado como mais um espaço para avaliar não só a ação do aluno, mas também a da escola e suas práticas, e não usá-lo apenas para “ditação de notas”, classificação e veredictos. Nessa premissa, o Conselho de Classe deve ser entendido como um espaço de discussão das questões do ensino referentes a métodos, conteúdos, relações, significado e consequências para a aprendizagem do aluno e a pertinência dessas dimensões com o Projeto Político Pedagógico, e não como espaço de julgamento e críticas improdutivas (CRUZ, 2005). Portanto, proceder de forma a desconsiderar o Conselho de Classe como parte desse processo e associar seu sentido à função classificatória da avaliação, seu objetivo enquanto espaço de reflexão e de avaliação coletiva se perde, passando a ser concebido somente como um ritual burocrático, a ser cumprido no final dos bimestres. Percebe-se assim, que ao se adotar uma postura crítica frente à prática pedagógica adotada em sala de aula, que determine ações inspiradas nos resultados das avaliações e nos momentos do Conselho de Classe, podem auxiliar para a superação do fracasso escolar, uma vez que se torna possível “aparar as arestas” no cotidiano escolar, após cada avaliação. Outro ponto relevante é estudar e analisar de forma coletiva o Projeto Político Pedagógico e a Proposta Pedagógica da escola, levando-os ao conhecimento de todos, inclusive dos professores novos, mesmo que estejam apenas exercendo funções em caráter de substituição. O corpo docente de qualquer estabelecimento de ensino precisa estar a par das concepções que norteiam as ações propostas nos documentos da escola, para que a partir deles possa existir uma unidade em relação àquilo que se compreende por aprendizagem, conhecimento, indivíduo, colegiado,... . 16 Acreditamos que em toda ação docente existe uma intenção, um aspecto social e/ou político, o qual deve estar estabelecido de acordo com uma concepção de ensino contando com aspectos democráticos que valorizem a ação coletiva. Nessas ações, não poderiam ficar de fora aqueles que se constituem como objetivo principal de todo o trabalho pedagógico, ou seja, os estudantes. De acordo com uma visão democrática, são dados a eles espaços para que possam expressar suas opiniões a respeito do ensino que vêm recebendo, apontando dificuldades e sugerindo alternativas para sua superação. Para tal, é realizado pelas pedagogas um pré-conselho com os alunos. Seus depoimentos e sugestões são levados ao professorado no momento do Conselho de Classe, onde suas colocações são analisadas pelos professores que se colocam disponíveis para atender suas reivindicações, o que proporciona condições de abertura ao diálogo e à reflexão. Na ocasião do pré-conselho com os alunos, foca-se também o próprio comprometimento deles com a aprendizagem. São feitos vários questionamentos, e, o diálogo é conduzido de forma a conscientizá-los da importância de assumir suas responsabilidades frente ao processo educativo. Tal ideia é corroborada através das palavras do Presidente Americano Barack Obama, divulgadas pela revista Veja, quando diz que: “Você pode ter os professores mais dedicados, os pais que oferecem o maior apoio e as melhores escolas do mundo e nada disso vai fazer diferença se você não assumir as suas responsabilidades” (Revista Veja, 2009). E aqui também não podemos deixar de dialogar com eles questões sobre a participação da família em sua vida escolar. A grande maioria dos alunos, quando argüidos julgam importante que os pais participem de alguma forma de sua vida acadêmica, julgam essa participação como um fator de suma importância para seu crescimento. Disseram em seus depoimentos que se sentem valorizados quando os pais se interessam por seus afazeres escolares, que precisam da “fiscalização” e acompanhamento deles para “entrarem nos eixos”. Segundo eles, esta participação não é vista 17 como algo ruim e controlador, mas como uma demonstração afetiva, de pais que se preocupam com seus filhos e lhes ajudam a trilhar os passos para um futuro de sucesso. Na tentativa de tentar promover uma maior interação entre pais e escola, foi oportunizada uma reunião diferenciada para a entrega dos resultados referentes ao 1º bimestre ou entrega de boletins, seguindo o seguinte protocolo: Apresentação e acolhimento, leitura e discussão de um texto sobre a importância da participação da família na vida escolar das crianças e dos adolescentes, exposição das dificuldades mais freqüentes no trabalho pedagógico que podem ser auxiliadas pelos pais, apresentação dos resultados obtidos através dos depoimentos dos alunos no pré-conselho, aplicação de um questionário aos pais com o intuito de levá-los à reflexão sobre sua participação nos assuntos escolares de seus filhos, demonstração dos índices alcançados pela escola no “Prova Brasil” e outros instrumentos de qualificação escolar, encerrando com a entrega dos boletins e o agendamento individual para esclarecimento de dúvidas conforme a necessidade e interesse dos pais. Nesta ocasião, foi notório que a preocupação e participação dos pais é maior na 5ª e 6ª séries e esta vai diminuindo nas séries posteriores nas quais, coincidentemente ou não, existem os maiores índices de aprovação por Conselho de Classe. Além dos estudos de cunho pedagógico já citados, existe também a preocupação de fornecer ao corpo docente subsídios teóricos a respeito das dificuldades de aprendizagem como dislexia, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade–TDAH e outras que têm se configurado até mesmo como corriqueiras e que não podem ficar de fora do contexto da escola, evitando-se assim supostos diagnósticos precipitados. Como dificuldades pontuais que necessitam da intervenção, desta vez do Estado, como forma de minimizar e quem sabe superar questões relacionadas ao fracasso escolar, refere-se à contratação em tempo hábil de todo o quadro de professores, sejam eles estatutários ou por contrato temporário. O que importa, é que no início do ano letivo a equipe de professores esteja completa evitando-se os atrapalhos que prejudicam toda 18 a organização escolar devido à falta de professores. Outra questão é prever a diminuição de alunos por turma, pois por maior preparo e domínio que um professor possa ter para controlar a sua turma de alunos, seu atendimento acaba sendo precário devido à grande quantidade de alunos exigida para cada turma as quais chegam a atingir um número de 40 alunos para a faixa etária mencionada anteriormente. Esta é uma queixa antiga, porém ainda sem nenhuma ação no sentido de diminuir esse número, ou de disponibilizar professores auxiliares para um melhor atendimento aos alunos, principalmente àqueles que apresentam algum tipo de dificuldade referente à aprendizagem. Através dessas ações já foi possível observar algumas mudanças que se concretizaram no interior da escola. Os professores têm procurado utilizar recursos didáticos diferenciados, as avaliações estão sendo mais bem elaboradas adotando-se aos poucos uma concepção transformadora, os conteúdos a serem trabalhados são analisados de forma a valorizar seu significado para os alunos e os professores têm demonstrado maior satisfação por poderem realizar um trabalho de melhor qualidade. Com isso, esperamos atingir um resultado melhor em termos de aprovação por média no ano de 2009. 3 - Considerações finais O tema relacionado ao fracasso escolar é muito amplo e requer uma preocupação permanente por parte não só dos educadores, mas também das famílias e governantes. Foi possível verificar a partir deste estudo, que o fracasso escolar é um problema antigo que ainda atinge uma grande camada da população brasileira, sendo que, na busca por alternativas de superação, foram propostas algumas estratégias as quais não deram conta de solucionar essa problemática. Tais propostas, como a tentativa de equiparar ou corrigir idade/série através da aceleração de estudos, propor a organização escolar através de ciclos, sem infra-estrutura para tal, ou apenas aprovar nossos educandos 19 por decreto, apenas criam a impressão de que os alunos estão escolarizados. Afinal, “concluem os estudos”, recebem seus históricos escolares que comprovam terem frequentado a escola. Porém, o que aprenderam, ou os conhecimentos que foram verdadeiramente apropriados por eles, só serão sentidos através do desempenho exigido na esfera social, profissional, política e pessoal que poderão determinar, subjetivamente, a formação de um cidadão crítico, capaz de transformar sua própria realidade. É preciso que se estabeleçam objetivos claros quanto aquilo que se pretende atingir, envolvendo todo o colegiado da escola, para ao se tratar desse tema, atitudes de mera acusação e caça aos culpados sejam superadas, já que verificamos que a culpa pelo fracasso escolar é atribuída a vários fatores o que tem gerado um verdadeiro “jogo de empurra” entre escola, sistema de ensino, família e sociedade. Diante de um quadro que mostra a existência de 14 milhões de pessoas analfabetas e, além disso, ainda existirem em torno de 34 milhões de analfabetos funcionais, a sociedade como um todo deve ficar em alerta. Cruzar os braços e ficar no “muro das lamentações” da escola apontando este ou aquele culpado, sem se colocar – neste caso a própria escola – como agente também de produção deste fracasso, de nada contribuirá para o seu enfrentamento e superação. E todos perdemos. Perde a sociedade, perdem as pessoas, perdem aqueles que trabalham e lutam por um mundo mais justo, mais democrático, mais humano, mais consciente. Para tanto, é preciso atenção de nossos governantes para promover e viabilizar a melhoria da infra-estrutura escolar no que diz respeito à diminuição da quantidade de alunos por turma, aumento da demanda para pedagogos, instituição da função de professor auxiliar para as séries finais do ensino fundamental, além de resgatar a valorização do trabalho docente tendo em vista o processo de formação continuada dos educadores. Nesta perspectiva, Altenfelder (2008,p.1) salienta a ”importância de se considerar a formação continuada como parte integrante do trabalho docente e para a necessidade de novos estudos que ultrapassem a dicotomia entre teoria e prática”, assegurando assim ao professor o direito de estudar, de enriquecer e atualizar seus conhecimentos em direção a um 20 “fazer” pedagógico de qualidade, que possa contar com a participação efetiva do pedagogo como um mediador das relações pedagógicas entre professores, alunos, currículo, metodologia, processo de avaliação, processo de ensino e aprendizagem, organização curricular e organização do Conselho de Classe. Além disso, é necessário reconhecer a importância da adoção de uma prática participativa de caráter coletivo sustentada nos princípios da ação democrática de gestão da escola, que promova o envolvimento da comunidade com as atividades acadêmicas de forma que o trabalho coletivo seja encarado como suporte para o enfrentamento dos desafios impostos pela realidade educacional brasileira. REFERÊNCIAS ALTENFELDER, Anna Helena. Desafios e tendências em formação continuada. Construção Psicopedagógica V.13 n.10, São Paulo, 2005. Disponível em http://pepsic.bvs-psi.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1415-69542005000. Acesso em 27 de novembro de 2008. BOSSA, N. A. Fracasso Escolar: Um Olhar Psicopedagógico: Artmed, 2002 COLLARES, C. A. L. e MOYSES, M. A. A. A Transformação do Espaço Pedagógico em Espaço Clínico (A Patologização da Educação): Série Idéias n. 23, São Paulo: FDE, p.5–31, 1994 (Artigo Científico). Disponível em www.crmariocovas.sp.gov.br Acesso em junho de 2008. CRUZ, Carlos Henrique C. Conselho de Classe: espaço de diagnóstico da prática educativa escolar. São Paulo: Edições Loyola, 2005. LUCKESI, C. C. Subsídios Para A Organização do Trabalho Pedagógico: Série Idéias n. 11, São Paulo: FDE, p.88–103, 1991 (Artigo Científico). Disponível em www.crmariocovas.sp.gov.br Acesso em julho de 2008. MANTOVANINI, M. C. Professores e Alunos Problemas: Um Círculo Vicioso. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. 21 NAGEL, Lízia H. A Educação dos Alunos (ou filhos) da Pós-Modernidade: Artigo científico 2009. PATTO, M. H. A Produção do Fracasso Escolar: Histórias de Submissão e Rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz reimpressão, 1996. REVISTA VEJA, Edição 2130, ano 42 nº37; 16 de setembro de 2009. ROSENBERG, L. Educação e Desigualdade Social. São Paulo: Ed. Loyola, 1984. (Coleção Espaço, n. 8). VASCONCELLOS, Celso Avaliação: Concepção dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. São Paulo: Libertad, 2006..