Você está na página 1de 8

Turma e Ano: Jurisprudência e Exercícios (2016)

Matéria / Aula: Direito do Consumidor


Professor: Samuel Côrtes
Monitora: Fernanda Helena

Aula 02
Responsabilidade civil nas relações jurídicas de Consumo
O CDC trouxe 3 grandes inovações à tutela jurídica do vulnerável:
a) Mudança da dogmática contratual, trazendo princípios sociais do contrato;
b) Momento de início da contagem prazos prescricionais mais benéficos;
c) Dever jurídico de indenizar (reparar o dano) decorrente de um dever primário
previamente previsto em lei ou no contrato. Trouxe a regra de responsabilidade
solidária e objetiva, salvo disposição em contrário (ex: profissional liberal na ocorrência
de fato do serviço, responsabilidade do comerciante pelo fato do produto, etc).

Todo o consumidor tem o direito de que ver colocado no mercado de consumo produtos
adequados e seguros.

Vicio do produto
Quando o dever jurídico de adequação é violado, fala-se que há um vício do produto. Nele, o
vício é inerente ao próprio produto, não se exterioriza e não causa ao consumidor outros
problemas que não sejam o decorrente do da própria coisa demonstrando-se inadequada.
Busca tutelar a incolumidade econômica do consumidor e, portanto, gera indenização material
e moral.
Este vício pode ser de qualidade ou quantidade, ocultou ou aparente.
O prazo no vício do produto é decadencial (art. 26, CDC). Sendo que estes prazos não são
prazos de garantia, mas sim um regramento de garantia contratual, que é complementar à
legal. Esta é a garantia de adequação (de desempenho) dentro de um período de tempo
casuisticamente observado que a doutrina e jurisprudência chamam de vida útil do produto.
Já a garantia contratual é política de marketing do produto que pode ter ou não ter
(facultativa). A presença dela, em nenhum caso pode retirar o prazo de garantia de adequação
do produto.
O art. 26 do CD traz um prazo de reclamação que pode variar de 30 (produto durável) a 90
dias (produto não-durável) a partir do surgimento do vício (vício oculto) ou do contato com a
coisa (vício aparente).
Responsabilidade do comerciante é solidária.

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.
Acidente de consumo (Fato do produto – art. 12 do CDC; fato do serviço – art. 14 do CDC)
Quando o dever jurídico de segurança é violado, fala-se que há um fato do produto/serviço.
Quando a insegurança causa danos ao consumidor fala-se em acidente de consumo.
A insegurança se dá pela presença de um defeito (fabricação, projeto, ausência de informação
quanto ao uso do produto).
Comerciante apenas responde de maneira subsidiária.
No acidente de consumo, deve-se observar o prazo prescricional (art. 27 do CDC) para fins de
exercer a pretensão reparatória do dano extrapatrimonial ou material.
No acidente de consumo, não se busca um direito potestativo para que o vício seja sanado,
mas sim uma pretensão de direito subjetivo, de natureza indenizatória em razão do dano
causado pelo defeito ora do produto ou serviço. Não se fala em prazo de garantia, pois a
obrigação de segurança é ambulatorial, acompanhando a coisa onde quer que ela vá. Sendo
certo que, se o produto é inseguro, pouco importa quanto tempo passou de sua data de
fabricação, em caso de defeito que causando danos aos consumidores há acidente de consumo.

3º JULGADO
Terceira Turma
DIREITO DO CONSUMIDOR. DIREITO À REPARAÇÃO DE DANOS POR VÍCIO DO
PRODUTO. Não tem direito à reparação de perdas e danos decorrentes do vício do produto o
consumidor que, no prazo decadencial, não provocou o fornecedor para que este pudesse sanar o
vício. Os vícios de qualidade por inadequação dão ensejo, primeiro, ao direito do fornecedor ou
equiparado a corrigir o vício manifestado, mantendo-se íntegro o contrato firmado entre as partes.
Apenas após o prazo trintídio do art. 18, §1º, do CDC ou a negativa de conserto, abre-se ao
consumidor a opção entre três alternativas: a) a redibição do contrato; b) o abatimento do preço; ou
c) a substituição do produto, ressalvada em qualquer hipótese a pretensão de reparação de perdas e
danos decorrentes. A escolha quanto a alguma das soluções elencadas pela lei consumerista deve ser
exercida no prazo decadencial do art. 26 do CDC, contado, por sua vez, após o transcurso do prazo
trintídio para conserto do bem pelo fornecedor. Nota-se que toda a construção acerca da tutela dos
vícios redibitórios, seja sob o enfoque civilista, seja sob o enfoque consumerista, diz respeito a
viabilizar a manutenção do contrato e de seu sinalagma original. Isso faz sentido porque os vícios,
embora desconhecidos, são contemporâneos ao contrato ou preexistentes. No entanto, na hipótese, a
pretensão não é a de recomposição do equilíbrio contratual, mas tão somente a efetiva reparação de
dano decorrente de existência de vício oculto que teria provocado a realização de despesas não
condizentes com a legítima expectativa do consumidor. Diante dessa distinção entre o regramento
dos vícios redibitórios e a pretensão de mera recomposição de prejuízo decorrente do vício, há
precedentes que, aparentemente, concluíram pelo afastamento do prazo decadencial do art. 26 do
CDC, fazendo incidir na hipótese o prazo prescricional quinquenal do art. 27 do CDC (AgRg no
AREsp 52.038-SP, Quarta Turma, DJe 3 11 2011; e REsp 683.809-RS, Quarta Turma, DJe
3 5 2010). Todavia, a moldura fática daqueles precedentes é essencialmente distinta, uma vez que
naqueles houve, mais do que a comprovação da reclamação quanto à existência dos vícios dentro do

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.
prazo decadencial, a demonstração de que os vícios não foram devidamente sanados no prazo
trintídio. A partir daí, está constituído o direito à pretensão de reparação, obviamente sujeita a prazo
prescricional, e não a prazo decadencial. Diferente é a hipótese em que não foi demonstrada a
realização da notificação do fornecedor dentro do prazo decadencial. Desse modo, não se constituiu
o direito à reparação civil, de forma que não há que se discutir qual seria o prazo prescricional
aplicável, se o civil (art. 206, § 3º, V, do CC) ou o consumerista (art. 27 do CDC). Entender de modo
diverso seria admitir que, transcorrido o prazo decadencial, o adquirente lançasse mão de
instrumento diverso para, ao fim e ao cabo, atingir o mesmo objetivo perdido exclusivamente em
razão de sua desídia. Noutros termos, seria desnaturar a garantia desenhada por lei que, embora
destinada precipuamente à proteção do adquirente e, em especial, do consumidor, não perde o caráter
geral de garantir previsibilidade e segurança às relações jurídicas, resguardando expectativas
mútuas legítimas. REsp 1.520.500-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/10/2015,
DJe 13/11/2015 (Informativo 573).

Caso concreto: Consumidor adquire produto de vida útil de 5 anos e o consumidor descobre
que o mesmo está eivado de vício de fabricação.
Cuidado: Do próprio vício não surge qualquer outro direito de reparação ademais do limitado
pelo valor da própria coisa. Se surgir, trata-se de fato do produto.
Existem algumas situações (ex: descaso do fornecedor, violação do princípio da boa-fé objetiva
na relação pós- contratual) que, apesar de serem relativamente independente ao vício do
produto, gera dano indenizável. Ex: Ausência da coisa no período de tempo em que o
fornecedor possui para sanar o vício. Para buscar esta pretensão indenizatória que foge das
hipóteses que a lei outorga para a sanação do vício (abatimento do preço, troca do produto ou
rescisão do negócio jurídico), o prazo deixa de ser decadencial e passa a ser prescricional em
razão da natureza indenizatória.
Ex: Consumidor descobre o vício dentro do prazo de vida útil do produto (de 5 anos). Nos
termos do art. 26 c/c art. 18 do CDC, constatado o vício surge um prazo decadencial de 90 dias
(produto durável) para reclamar o vício diante do consumidor. Esta reclamação obsta a
decadência (interrompe o prazo). Após a reclamação, o fornecedor tem, como regra, um prazo
de 30 dias para sanar o vício, salvo em caso de produto essencial, sanação do vício
comprometer o desempenho do produto, sanação do vício acarretar diminuição de valor de
mercado.
Deve-se lembrar que, no prazo de 30 dias para a reparação por parte do fornecedor, deve-se
observar o princípio da reparação integral do dano segundo o qual todo e qualquer prejuízo
que o consumidor venha a ter pela não utilização do produto naquele prazo que o fornecedor
estipulou para sanar o vício surge o direito de buscar a reparação, que deve observar o prazo
prescricional.
Não sanado o vício em 30 dias surge para o consumidor as 3 soluções que a lei prevê.
Se o fornecedor der resposta inequívoca de que não sanará o vício no 15º dia, a partir de então
reinicia-se o prazo decadencial de 90 dias para o ajuizamento da ação de indenização e a
buscando a sanação do vício.

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.
Assim, devemos observar duas situações:
 O consumidor, observando o vício oculto do produto dentro da vida útil do produto (ex: 5
ano), possui o prazo de 90 dias (bem durável) para requerer ao fornecedor a sanação de vício.
Após a reclamação, o fornecedor tem um prazo de 30 dias para a sanar o vício. Caso não haja
a sanação do vício no prazo de 30 dias ou ocorra resposta inequívoca da empresa que não irá
fazê-lo, surge o prazo decadencial de 90 dias para o consumidor reclamar em juízo que o vício
seja sanado ou as 3 hipóteses legais.

 Se, o consumidor deixar de exercer essa pretensão em juízo no prazo de 90 dias, decai
para ele o direito de buscar a sanação do vício (rescisão do negócio jurídico, abatimento
do preço ou substituição do produto). Entretanto, caso o consumidor tenha sofrido
algum dano dali decorrente, possui o prazo prescricional de 5 anos para exercer
eventual pretensão reparatória/indenizatória do prejuízo material ou imaterial que
decorreu do vício do produto.
 Por outro lado, se o consumidor não provocar o fornecedor no prazo decadencial (ex:
90 dias em produtos duráveis) para que este possa sanar o vício, perderá o direito de
exigir a sanação do vício e o direito de exigir verbas indenizatórias que decorram
indiretamente do vício do produto.

4º JULGADO
Terceira Turma
DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DE FRANQUEADORA EM
FACE DE CONSUMIDOR. A franqueadora pode ser solidariamente responsabilizada por
eventuais danos causados a consumidor por franqueada. No contrato de franquia empresarial,
estabelece-se um vínculo associativo entre sociedades empresárias distintas, o qual, conforme a
doutrina, caracteriza-se pelo “uso necessário de bens intelectuais do franqueador (franchisor) e a
participação no aviamento do franqueado (franchise)”. Dessa forma, verifica-se, novamente com base
na doutrina, que o contrato de franquia tem relevância apenas na estrita esfera das empresas
contratantes, traduzindo uma clássica obrigação contratual inter partes. Ademais, o STJ já decidiu
por afastar a incidência do CDC para a disciplina da relação contratual entre franqueador e
franqueado (AgRg no REsp 1.193.293-SP, Terceira Turma, DJe 11/12/2012; e AgRg no REsp
1.336.491-SP, Quarta Turma, DJe 13/12/2012). Aos olhos do consumidor, entretanto, trata-se de
mera intermediação ou revenda de bens ou serviços do franqueador, que é fornecedor no mercado de
consumo, ainda que de bens imateriais. Aliás, essa arquitetura comercial – na qual o consumidor
tem acesso a produtos vinculados a uma empresa terceira, estranha à relação contratual diretamente
estabelecida entre consumidor e vendedor – não é novidade no cenário consumerista e, além disso,
não ocorre apenas nos contratos de franquia. Desse modo, extraindo-se dos arts. 14 e 18 do CDC a
responsabilização solidária por eventuais defeitos ou vícios de todos que participem da introdução do
produto ou serviço no mercado (REsp 1.058.221-PR, Terceira Turma, DJe 14/10/2011; e REsp
1.309.981-SP, Quarta Turma, DJe 17/12/2013) – inclusive daqueles que organizem a cadeia de
fornecimento –, as franqueadoras atraem para si responsabilidade solidária pelos danos decorrentes
da inadequação dos serviços prestados em razão da franquia, tendo em vista que cabe a elas a
organização da cadeia de franqueados do serviço. REsp 1.426.578-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 23/6/2015, DJe 22/9/2015 (Informativo 569).

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.
A relação jurídica entre a franqueadora e a franqueada não se trata de relação jurídica de
consumo, pois não é um consumidor destinatário final.
Contudo, aos olhos do consumidor a franqueada e a franqueadora são a mesma pessoa (teoria
da aparência). Assim, há a observância do princípio da reparação integral do dano (art. 7 do
CDC). Há responsabilidade solidária vez que a franqueadora nada mais é do que uma
intermediadora na relação jurídica existente entre o consumidor e a franqueada.
A franqueada, intermediária (terceira) nessa relação jurídica de consumo, é considerada pela
jurisprudência como um fornecedor por equiparação.
Cuidado: No caso de fato do produto, a responsabilidade do comerciante é subsidiária (art. 12
e 13 do CDC).

4º JULGADO
DIREITO DO CONSUMIDOR. HIPÓTESE DE CONFIGURAÇÃO DE FATO DO
PRODUTO E PRAZO PRESCRICIONAL APLICÁVEL.O aparecimento de grave vício em
revestimento (pisos e azulejos), quando já se encontrava devidamente instalado na residência do
consumidor, configura fato do produto, sendo, portanto, de cinco anos o prazo prescricional da
pretensão reparatória (art. 27 do CDC). Nas relações de consumo, consoante entendimento do STJ,
os prazos de 30 dias e 90 dias estabelecidos no art. 26 referem-se a vícios do produto e são
decadenciais, enquanto o quinquenal, previsto no art. 27, é prescricional e se relaciona à reparação
de danos por fato do produto ou serviço (REsp 411.535-SP, Quarta Turma, DJ de 30/9/2002). O
vício do produto, nos termos do art. 18 do CDC, é aquele correspondente ao não atendimento, em
essência, das expectativas do consumidor no tocante à qualidade e à quantidade, que o torne
impróprio ou inadequado ao consumo ou lhe diminua o valor. Assim, o vício do produto restringe-
se ao próprio produto e não aos danos que ele pode gerar para o consumidor, sujeitando-se ao prazo
decadencial do art. 26 do CDC. O fato do produto, por sua vez, sobressai quando esse vício for grave
a ponto de ocasionar dano indenizável ao patrimônio material ou moral do consumidor, por se tratar,
na expressão utilizada pela lei, de defeito. É o que se extrai do art. 12 do CDC, que cuida da
responsabilidade pelo fato do produto e do serviço. Ressalte-se que, não obstante o § 1º do art. 12 do
CDC preconizar que produto defeituoso é aquele desprovido de segurança, doutrina e jurisprudência
convergem quanto à compreensão de que o defeito é um vício grave e causador de danos ao patrimônio
jurídico ou moral. Desse modo, a eclosão tardia do vício do revestimento, quando já se encontrava
devidamente instalado na residência do consumidor, determina a existência de danos materiais
indenizáveis e relacionados com a necessidade de, no mínimo, contratar serviços destinados à
substituição do produto defeituoso, caracterizando o fato do produto, sujeito ao prazo prescricional
de 5 anos. REsp 1.176.323-SP, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 3/3/2015, DJe 16/3/2015
(Informativo 557).

O STJ entendeu que o caso em tela se trata de fato do produto (não apenas vício de
inadequação) vez que o consumidor, além de sofrer prejuízo inerente ao próprio revestimento
sofre outros danos como os materiais imprescindíveis para a colocação de revestimento (ex:
consumidor terá que adquiri novos revestimentos para colocar no local, contratar profissional

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.
para a colocação). Assim, como o valor extrapola o da própria coisa, trata-se de fato do
produto.

5º JULGADO
Terceira Turma
DIREITO DO CONSUMIDOR. INTERMEDIAÇÃO ENTRE CLIENTE E SERVIÇO DE
ASSISTÊNCIA TÉCNICA. O comerciante não tem o dever de receber e de encaminhar produto
viciado à assistência técnica, a não ser que esta não esteja localizada no mesmo município do
estabelecimento comercial. De acordo com o caput do art. 18 do CDC, todos os que integram a cadeia
de fornecimento respondem solidariamente pelos produtos defeituosos. Dessa forma, se o comerciante
opta por ofertar a seus clientes produtos fabricados por terceiros, não pode eximir-se da
responsabilização pelos produtos defeituosos inseridos no mercado por ele próprio. Nesse contexto,
não se olvida a infindável busca do legislador em proteger o consumidor da inserção irresponsável
de produtos viciados no mercado. Todavia, o mesmo legislador obtempera a proteção da boa-fé do
consumidor com a impossibilidade fática de se garantir de forma absoluta e apriorística a qualidade
dos produtos comercializados. Reconhecendo, portanto, que falhas acontecem, insere-se o direito
subjetivo dos fornecedores de corrigir os vícios, como uma demonstração inclusive de sua própria
boa-fé objetiva. Envolvida nessa atmosfera ética, exige-se de ambos os contratantes a atuação leal e
cooperada, atuação estendida, no âmbito do CDC, a todos os integrantes da cadeia de fornecimento.
Nessa ordem de ideias, a disponibilização pelo produtor de um serviço especializado, a fim de dar o
necessário suporte aos consumidores na hipótese de os produtos comercializados apresentarem vícios,
em princípio, não representa qualquer prejuízo ou desvantagem ao consumidor. Ao contrário,
representa o cumprimento de um dever de lealdade e cooperação que subsiste para além da conclusão
do contrato, concretizando o ideal ético do CDC, devendo, por essa mesma razão, ser observada pelos
consumidores. Claro que essa observância apenas poderá ser exigida na medida em que o serviço seja
disponibilizado de forma efetiva, eficaz e eficiente. Do contrário, acabaria por representar uma
dificuldade excessiva, caracterizando o exercício abusivo de um direito do produtor. Ora,
disponibilizado serviço de assistência técnica de forma eficaz, efetiva e eficiente na mesma localidade
do estabelecimento do comerciante, a intermediação do serviço apenas acarretaria delongas e
acréscimo de custos. Desse modo, existindo assistência técnica especializada e disponível na
localidade de estabelecimento do comerciante (leia-se, no mesmo município), não é razoável a
imposição ao comerciante da obrigação de intermediar o relacionamento entre seu cliente e o serviço
disponibilizado, visto que essa exigência apenas dilataria o prazo para efetiva solução e acrescentaria
custos ao consumidor, sem agregar-lhe qualquer benefício. REsp 1.411.136-RS, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 24/2/2015, DJe 10/3/2015(Informativo 557).

O art. 18 determina que a responsabilidade perante o consumidor é solidária, assim, todos os


fornecedores, inclusive o comerciante, quando demandado em juízo tem a obrigação
(responsabilidade) de efetivar a restituição do preço, abatimento ou a troca do produto.
Assim, é possível ajuizar ação contra as Casas Bahia se uma TV, por exemplo, não estiver
funcionando de maneira adequada vez que ela é parte legítima. Entretanto, como ela não é
fabricante, não é ela que irá sanar o vício. Quem deverá sanar o vício é fabricante, que possui
a obrigação de manter a assistência técnica para atender o consumidor.

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.
No julgado, o STJ entendeu que, apensar de o comerciante possuir responsabilidade solidária,
este não é obrigado a receber o produto viciado em seu estabelecimento e encaminhar para
assistência técnica, salvo quando naquela localidade (município) não houver assistência
técnica do fabricante. Havendo a assistência na localidade é responsabilidade do consumidor
encaminhar o produto.

6º JULGADO
DIREITO DO CONSUMIDOR. RESCISÃO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO
MERCANTIL VINCULADO A CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE AUTOMÓVEL. Na
hipótese de rescisão de contrato de compra e venda de automóvel firmado entre consumidor e
concessionária em razão de vício de qualidade do produto, deverá ser também rescindido o contrato
de arrendamento mercantil do veículo defeituoso firmado com instituição financeira pertencente ao
mesmo grupo econômico da montadora do veículo (banco de montadora). Inicialmente, esclareça-se
que o microssistema normativo do CDC conferiu ao consumidor o direito de demandar contra
quaisquer dos integrantes da cadeia produtiva com o objetivo de alcançar a plena reparação de
prejuízos sofridos no curso da relação de consumo. Ademais, a regra do art. 18 do CDC, ao regular
a responsabilidade por vício do produto, deixa expressa a responsabilidade solidária entre todos os
fornecedores integrantes da cadeia de consumo. Nesse sentido, observe-se que as regras do art. 7º, §
único, e do art. 25, § 1º, do CDC, estatuem claramente que, “havendo mais de um responsável pela
causação do dano, todos responderão pela reparação prevista nesta e nas Seções anteriores.”
Ampliase, assim, o nexo de imputação para abranger pessoas que, no sistema tradicional do Código
Civil, não seriam atingidas, como é o caso da instituição financeira integrante do mesmo grupo
econômico da montadora. Na hipótese ora em análise, não se trata de instituição financeira que atua
como “banco de varejo” – apenas concedendo financiamento ao consumidor para aquisição de um
veículo novo ou usado sem vinculação direta com o fabricante –, mas sim de instituição financeira
que atua como “banco de montadora”, isto é, que integra o mesmo grupo econômico da montadora
que se beneficia com a venda de seus automóveis, inclusive estipulando juros mais baixos que a média
do mercado para esse segmento para atrair o público consumidor para os veículos da sua marca. É
evidente, assim, que o banco da montadora faz parte da mesma cadeia de consumo, sendo também
responsável pelos vícios ou defeitos do veículo objeto da negociação. REsp 1.379.839-SP, Rel.
originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
11/11/2014, DJe 15/12/2014 (Informativo 554).

OBS: O STJ partiu da mesma premissa anterior, mas com conclusão diferente.
A responsabilidade pelo vício do produto é solidária e todos os fornecedores que participaram
da cadeia de consumo sofrerão as consequências desta responsabilidade solidária.
No caso concreto, o consumidor adquiriu veículo financiado, realizando arrendamento
mercantil em Banco da própria montadora (não varejista). Assim, apesar de a compra e venda
e o arrendamento mercantil serem contratos distintos e autônomos, eles possuem uma relação
íntima (laço de intermediação) pois foi esta relação que facilitou o crédito e possibilitou a
aquisição do veículo.

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.
Quando o consumidor se depara com vicio do produto e opta por rescindir em razão de vício
de qualidade, o financiamento obtido junto ao banco da montadora é objeto de rescisão vez
que o banco da montadora na condição de fornecedor (intermediário) deve se submeter aos
efeitos do vício do produto.

7º JULGADO
Terceira Turma
DIREITO DO CONSUMIDOR. INOCORRÊNCIA DE DANO MORAL PELA SIMPLES
PRESENÇA DE CORPO ESTRANHO EM ALIMENTO. A simples aquisição de refrigerante
contendo inseto no interior da embalagem, sem que haja a ingestão do produto, não é circunstância
apta, por si só, a provocar dano moral indenizável. Com efeito, a fim de evitar o enriquecimento sem
causa, prevalece no STJ o entendimento de que “a simples aquisição do produto danificado, uma
garrafa de refrigerante contendo um objeto estranho no seu interior, sem que se tenha ingerido o seu
conteúdo, não revela o sofrimento [...] capaz de ensejar indenização por danos morais” (AgRg no Ag
276.671-SP, Terceira Turma, DJ 8/5/2000), em que pese a existência de precedente em sentido
contrário (REsp 1.424.304-SP,Terceira Turma, DJe 19/5/2014). Ademais, não se pode esquecer do
aspecto tecnológico das embalagens alimentícias. No caso específico dos refrigerantes, verifica-se que
os recipientes que recebem a bebida são padronizados e guardam, na essência, os mesmos atributos e
qualidades no mundo inteiro. São invólucros que possuem bastante resistência mecânica, suportam
razoável pressão e carga, mostrando-se adequados para o armazenamento e transporte da bebida em
condições normais, essas consideradas até muito além das ideais. Desse modo, inexiste um
sistemático defeito de segurança capaz de colocar em risco a incolumidade da sociedade de consumo,
a culminar no desrespeito à dignidade da pessoa humana, no desprezo à saúde pública e no descaso
com a segurança alimentar. Precedentes citados: AgRg no AREsp 445.386-SP, Quarta Turma, DJe
26/8/2014; AgRg no REsp 1.305.512-SP, Quarta Turma, DJe 28/6/2013; e AgRg no AREsp
170.396-RJ, Terceira Turma, DJe 5/9/2013. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 18/11/2014, DJe 19/12/2014 (Informativo 553)

O fato de existir corpo estranho no produto, sem a ingestão, não configura fato do produto,
mas apenas vício de qualidade do produto (art. 18, §6º do CDC)
Quando há a ingestão do produto (não necessariamente do corpo estranho) trata-se de fato do
produto.

Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a
reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.

Você também pode gostar