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Turma e Ano: Master B - 2015

Matéria /Aula: ECA – Continuação de Prevenção Especial (arts. 81 ao 85) e Parte Especial (arts. 86 ao 97)
Professora: Angela Silveira
Monitora: Kathleen Feitosa
Aula 05

PREVENÇÃO ESPECIAL (CONTINUAÇÃO)

O poder familiar é relativo, uma vez que há limitações legais, como o disposto no
parágrafo único do art. 751 e no art. 802, por exemplo.

Art. 81. É proibida a venda à criança ou adolescente de:


I – armas, munições e explosivos 3;
II – bebidas alcoólicas³;
III – produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que
por utilização indevida4;
IV – fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam
incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida;
V – revistas e publicações a que alude o art. 78;
VI – bilhetes lotéricos e equivalentes.

Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão ou


estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável.

Se houver hospedagem, está configurada a infração administrativa prevista no art. 250.


O entendimento jurisprudencial a respeito dos menores de idade casado é de que não há infração,
pois estaria apenas exercendo um ato da vida civil e a emancipação advinda com o casamento tem
o condão de permitir isso ao adolescente.

Ainda sobre o art. 82, por se tratar de uma infração formal, a autorização não pode ser
arguida após o fato. Isto é: a autorização dos pais e do responsável deve existir no momento em

1 Art. 75, parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos
locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
2 Os responsáveis por estabelecimento que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por

casas de jogos, assim entendidas as que realizam apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para que
não seja permitida a entrada e a permanência de crianças e adolescentes, afixando aviso para orientação
do público.
3 Constitui, inclusive, tipo penal.
4 Regra susidiária às substâncias não abarcadas pela Lei 11.343/06 (lei de drogas), como, por exemplo, tiner,

cola de sapateiro, xaropes, etc.

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que se verifica a permanência do menor nesse estabelecimentos, não possuindo validade a
declaração apresentada posteriormente.

Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada
dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial.

Note-se que o artigo fala em criança, não em adolescente. Viagens dentro de território
nacional apenas são restritas às crianças, contudo, ao adolescente é vedada a hospedagem
desacompanhado! Dessa forma, é permitido ao adolescente viajar, sem que lhe seja permitido
pernoitar.

A companhia exigida para as crianças pode ser de apenas um dos pais, não
necessitando da autorização do outro. Isso nas viagens temporárias, em que se presume que não
ocorrerá mudança do domicílio da criança.

§1º A autorização não será exigida quando:


a) tratar-se de comarca contígua à residência da criança, se na mesma unidade da Federação,
ou incluída na mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o
parentesco;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
§2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização
válidapor dois anos.

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou


adolescente5:
I – estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
II – viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de
documento com firma reconhecida.

No que se refere a viagens ao exterior, as imposições são feitas tanto para crianças
quando para adolescentes.

Outra diferença é com relação à documentação exigida: em viagens internacionais é


exigida autorização com firma reconhecida, enquanto nas viagens nacionais não é estabelecida
nenhuma forma para a declaração.

5 A Portaria 131/11 do CNJ versa sobre a autorização de viagem para o exterior com crianças e adolescentes
e é utilizada pela Polícia Federal.

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Ao juiz da Vara da Infância e da Juventude cabe, além de sua função jurisdicional
regular, também a função legislativa por ocasião da lavratura de portarias que visem regulamentar
determinadas situações. No caso de viagens de menor, por exemplo, é possível que o juiz elabore
portaria determinando que o comissário de menores junto ao aeroporto emita autorização para
que a criança viaje na companhia de indivíduo determinado, desde que atenda ao melhor interesse
da criança.

Ocorre que no RJ, em certo momento, foi criada portaria que permitia a autorização
verbal dos pais, em dissonância com o previsto no art. 84, de modo que não possuia validade.

PARTE ESPECIAL

Trata dos instrumentos disponíveis para a viabilização do efetivo exercício dos direitos
das crianças e adolescentes.

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de
um conjunto articulado de ações governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios.
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I – políticas sociais básicas;
II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que deles
necessitem;
III – serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de
negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV – serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes
desaparecidos6;
V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente;
VI – políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do
convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar e crianças e
adolescentes;
VII – campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes
afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de
adolescentes, com necessidades específicas de saúde e com deficiências e de grupos de irmãos.

Importante destacar que, com advento da Constituição de 1988, a descentralização


político-administrativa, o município passou a garantir o efetivo exercício dos direitos. Da mesma

6O desaparecimento deve ser comunicado imediatamente, por força de lei. Não há o que se falar em prazo
para a comunicação.

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sorte, a municipalização não significa “prefeiturização”, haja vista que cabe ao município a
efetividade de políticas e programas que podem ser propostos também pelo Estado e pela União.

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:


I – municipalização do atendimento;
II – criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do
adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação
popular paritária por meio de organizações representativas, sengudo leis federais, estaduais e municipais;
III – criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-
administrativa;
IV – manutenção de fundos nacional, estadual e municipal vinculados aos respectivos
conselhos dos direitos da criança e do adolescente;
V – integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização
do atendimento inicial a adolesncente a que se atribua autoria de ato infracional;
VI –integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho
Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de
agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar
ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal resolução se mostrar
comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas
no art. 28 desta Lei;
VII – mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos
segmentos da sociedade.

O Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente objetiva viabilizar a participação


da sociedade civil em conjunto com o Poder Público para elaboração de políticas públicas. São
órgãos autônomos e especiais, que sofrem fiscalização do Ministério Público e possuem
composição paritária. Suas decisões não possuem força de lei, mas devem ser respeitadas. Já o
Conselho Tutelar atua nas questões que envolvem crianças e adolescentes, com atividade direta.

A verba dos fundos a que se refere o inciso IV é vinculada! Assim, apenas podem ser
destinados às políticas públicas, programas e ações relacionadas à proteção de crianças e
adolescentes.

Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais
dos direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será
remunerada.

As entidades previstas no art. 90 que correspondem a medidas socioeducativas,


quase seja, semiliberdade e internação, necessariamente serão governamentais.

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Art. 90, §1º As entidades governamentais e não governamentais deverão proceder à inscrição
de seus programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e
das suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.

Cabe ao Conselho de Direitos a fiscalização das entidades cadastradas, cujos


programas de execução têm validade de 2 anos, conforme o art. 90, §3º. São considerados por
ocasião da reavaliação, os índices de sucesso na reintegração familiar oi adaptação à família
substituta (art. 90, §3º, III).

Art. 91. As entidades não governamentais somente poderão funcionar depois de registradas
no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao
Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva localidade.
§1º Será negado o registro à entidade que:
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas da habitabilidade, higiene,
insalubridade e segurança;
b) não apresente plano de trabalho compatível com os princípios desta Lei;
c) esteja irregularmente constituída;
d) tenha em seus quadros pessoa inidôneas;
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações relativas à modalidade
de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos
os níveis.
§2º O registro terá validade de 4 anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação, observado o disposto
no §1º deste artigo.

Já o artigo 92 cuida dos princípios que devem ser seguidos pelas entidades de
acolhimento familiar ou insititucional e deve ser lido cuidadosamente.

As unidades de abrigamento se designam apenas para crianças e adolescentes, de


modo que, ao atingir aos 18 anos de idade, o jovem é desligado da instituição. Assim, é
fundamental que o adolescente seja preparado para a vida adulta, com autonomia, para que possa
dar prosseguimento à sua vida ainda que sozinho após atingir a idade adulta.

Art. 92, §1º O dirigente da entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é
equiparado ao guardião, para todos os efeitos de direito.
§2º Os dirigentes das entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou
institucional remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 meses, relatório ciircunstanciado
acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para fins de reavalização prevista
no §1º do art 19 desta Lei.

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§6º O descumprimento das disposições desta lei pelo dirigente de entidade que que
desenvolva programas de acolhimento familiar ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo
da apuração de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal.
Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em
caráter excpcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena de
responsabilidade.

A excpecionalidade a que se refere o art. 93 está na impossibilidade da instiuição, sem


determinação judicial, escolher quais crianças a integrarão, de modo que apenas em casos especiais
isso será possível ante a comunicação judicial. A responsabilidade poder ser civil e criminal.

O art. 94 trata especificamente das instituições que abrigam menores em conflito com a
lei e, portanto, sua leitura é fundamental.

Art. 94, §1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes deste artigo às entidades que
mantêm programas de acolhimento institucional e familiar.
Art. 94 – A. As entidades, públicas ou privadas, que abriguem ou recepcionem crianças e
adolescentes, ainda que em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, profissionais capacitados a
reconhecer e reportar ao Conselhor Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais referidas no art. 90 serão
fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.

Importante frisar que o art.97 traz sanções distintas às unidades governamentais e não-
governamentais!

Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem obrigação
constante no art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos:
I – às entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
II – às entidades não-governamentais:
a) advertência;
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
c) interdição de unidades ou suspensão de programas;
d) cassação de registro.

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