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Material de Apoio

Data: 01/08 Curso: 2ºE.M. Disciplina: Sociologia Prof. Sarah


Aula 11 – Joaquim Nabuco e Euclides da Cunha
Aula 12 – Oliveira Vianna e Luis da Câmara Cascudo

Pensamento Social do Brasil

Três períodos do pensamento social brasileiro:

1) No final do século XIX a 1930: diversos estudiosos buscaram analisar as particularidades do Brasil. Eles
investigaram como a nação teria se formado, quais seriam as bases dessa formação social, em que medida o
passado colonial e escravista teria influenciado essa formação e quais seriam as características centrais da
identidade social brasileira. Preocupam-se ainda em compreender como tornar o Brasil uma nação moderna,
com a formulação de princípios políticos e a organização dos procedimentos burocráticos para o
funcionamento do Estado. Teorizam sobre quais seriam os obstáculos à esta modernização e apontam para
a miscigenação como uma degeneração do nosso povo.
Expoentes: Oliveira Vianna, Nina Rodrigues, Euclides da Cunha, Luis da Câmara Cascudo.
2) Década de 1930 a 1960: gradual profissionalização das ciências sociais no Brasil, com a concentração de
professores estrangeiros. Como efeito do Modernismo da década de 20, a noção de raça é substituída pela
de cultura (influência do pensamento de Franz Boas), a miscigenação passa a ser valorizada e o povo
brasileiro, antes visto como entrave à modernização do país, agora é o detentor da “alma nacional”. Essa
mudança de paradigma permite que o nacionalismo produza as novas imagens do Brasil, tanto no campo
estético quanto no pensamento social.
Expoentes: Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior (autor de transição).
3) 1960 em diante: destacaram-se os trabalhos que refletiam sobre o papel econômico e político do Brasil na
divisão social do trabalho e a relação de dependência com os países de economia mais avançada.
Expoentes: Octavio Ianni, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso.

Primeira fase do pensamento social do Brasil

Na primeira fase, a qual nos dedicaremos na nossa primeira aula, o conhecimento sociológico e antropológico era
produzido por intelectuais que não era formados na área, pois essa formação acadêmica só passou a existir no Brasil
em 1933, na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e em 1934, na Universidade de São Paulo (USP). Na época,
o principal interesse de estudo era a formação da sociedade brasileira.

Predominavam as ideias evolucionistas e o darwinismo social e muitos intelectuais se dedicavam a investigar como a
composição do povo brasileiro ao longo da história influenciaria nas relações sociais da época.

Esses autores, com diferentes abordagens, viam a população brasileira do ponto de vista da hierarquia racial. Esse
olhar resultou numa visão racista e pessimista do Brasil: entendiam que a composição racial brasileira era ‘inferior’,
por considerarem a miscigenação um problema social, e que esta característica populacional tornava impossível
construir um país desenvolvido. Embora atualmente tais ideias pareçam totalmente questionáveis, entre o final do
século XIX e início do XX, esse tipo de pensamento teve grande relevância. E também enormes efeitos práticos. A
política de incentivo à imigração europeia do período, capitaneada pelo Estado brasileiro, estava diretamente
relacionada à essa visão pessimista sobre a miscigenação. Essa tentativa de ‘branqueamento’ foi uma resposta à
ideia de que a população brasileira, majoritariamente composta por indígenas, negros e mestiços não poderia
construir um país desenvolvido.

Joaquim Nabuco

Nascido em 19 de agosto de 1849, em Recife, Joaquim Nabuco cresceu em uma família politicamente
influente, formou-se em Ciências Sociais e Jurídicas e seguiu para a vida pública. Joaquim Nabuco faleceu em 1910,
após longo período de doença.

Na década de 1880, tornou-se uma das principais lideranças do movimento abolicionista. Na sua visão, a escravidão
não representava apenas uma forma vil de relação de trabalho entre senhor e escravo, tratava-se de um elemento
central da estrutura do país, marcado pelo poder dos latifúndios, das oligarquias rurais e locais, de uma massa de
homens e mulheres privados da cidadania, e que representava um entrave à modernização do Brasil. Nabuco
procurou demonstrar em sua obras O abolicionismo que a escravidão não era só degradante, mas improdutiva e
ignorante.

Apesar de sua defesa da abolição, Nabuco se inseria nas ideias de sua época, que defendiam uma teoria científica
das raças, ou seja, que cada raça apresentaria características, tais como a docilidade ou a brutalidade. Nabuco
acredita que a condição dos negros se deve justamente ao fato de estarem submetidos a um sistema que lhes priva
da possibilidade de um aperfeiçoamento social e moral.

Joaquim Nabuco preocupou-se em não defender uma abolição a partir de uma guerra civil, como a ocorrida nos
Estados Unidos, mas sim de uma lei, aprovada em Parlamento. Essas políticas, decretadas de forma democrática,
permitiriam surgir, no Brasil, o verdadeiro patriotismo.

Oliveira Vianna

Francisco José de Oliveira Viana nasceu em Saquarema, em 1883. Educou-se no Rio de Janeiro, concluiu o curso de
Direito em 1905 e tornou-se professor da Faculdade de Direito de Niterói em 1916.

Em 1920, publicou o livro Populações meridionais do Brasil, nas palavras do autor, um “[...] estudo sobre a formação
social do povo brasileiro e a sua capacidade para a vida pública sob um regime de democracia representativa e
federativa, de estilo anglo-saxônico”.

Vianna empreende seu estudo, na verdade, para demonstrar que o povo brasileiro, de maneira geral, menos uma
diminuta elite, não está pronto para este sistema. Prega, com isto, um governo forte, autoritário, capaz de conduzir
a nação e apagar o sentimento localista e regionalista que impede a formação da consciência nacional.

Diferentemente da discussão feita por autores que apresentavam a população brasileira como homogênea, Oliveira
Vianna afirmava ser um erro tratar os brasileiros como uma massa homogênea por habitar o mesmo território, e
distinguiu, a partir da antropogeografia, três tipos característicos na formação do Brasil: o sertanejo (norte), o
matuto (centro-sul) e o gaúcho (extremo sul). Para ele, o habitante urbano representa um reflexo da região na qual
está inserido.

O desenvolvimento histórico, socialmente diferenciado de cada uma dessas regiões do Brasil, assim como os
ambientes naturais peculiares teriam gerado um tipo diverso com uma “psicologia política” também própria para
cada uma. Os sertões geraram o sertanejo, as matas geraram o matuto e os pampas geraram o gaúcho.

Vianna observa que entre esses três tipos sociais, o matuto seria o tipo preponderante, por ter maior peso na massa
social do país e porque a sua zona de elaboração seria o centro de gravitação política do Brasil. Segundo o autor, é
esse o tipo social que teria permitido a estabilidade política e a consequente manutenção de nossa unidade
territorial.

É o matuto do centro-sul - com “suas virtudes pacíficas e ordeiras”, dos “seus instintos de brandura e moderação” e
seu “horror do sangue e da luta” - que teria permitido o desenvolvimento de uma elite dirigente, responsável pela
estruturação do Brasil independente e que teria impedido a nossa fragmentação inevitável, caso prevalecesse a
“psicologia” do sertanejo ou do gaúcho. Mesmo assim, frisa com bastante eloquência, dado o caráter ganglionar do
país, que não há um sentimento profundo de nacionalidade na sociedade brasileira.

Cabe ressaltar, ainda, que o matuto capaz é apenas a aristocracia rural – da qual ele descende. Ela é o “[...] centro de
polarização dos elementos arianos da nacionalidade [...]” (Ibid: 47), ou seja, a única capaz de desenvolver a
consciência nacional. Já o povo-massa não passa de um agregado da “alta classe rural”, incapaz de sentimento tão
alto. Deve, por isso, ser tutelado pelo Estado.

No processo de formação do brasileiro, além de evidenciar as especificidades regionais e seus tipos – para mostrar
que não há uma massa homogênea – identifica duas categorias presentes na população: a elite e o povo-massa. Na
busca das características históricas, sociais e psicológicas particulares da constituição e do desenvolvimento do povo
e das elites brasileiras, Vianna, compreende que são “duas civilizações e duas culturas inteiramente distintas”.

Então, quais seriam as características culturais e sociais da elite e do povo-massa? Por um lado, as raízes profundas
da formação das elites brasileiras são, por ele, identificadas na nobreza europeia, transplantada para cá no processo
de colonização, expressando a nossa “nobreza da terra”. Essa “nobreza da terra” se desenvolve tendo como base a
grande propriedade, autossuficiente e isolada, com características de clã, chamada de clã parental, cuja
solidariedade estaria restrita a sua esfera familiar e de afinidade. Mas, dada as especificidades nacionais de grande
extensão territorial e de isolamento das comunidades, a nossa elite desenvolve-se sem qualquer espírito
democrático, sem espírito público e sem espírito de solidariedade nacional, de tal forma que cada família se
assemelha a uma “república”. Para o autor, somente no Império, a partir do poder de aglutinação de D. Pedro II, foi
possível articular uma elite com espírito público. Mas, com a substituição desta elite pela que proclamou a
República, na condução dos destinos do país reforçou-se uma oligarquia rural e regional, com todos os desmandos
característicos deste período. Esse mesmo processo histórico que gerou as nossas elites também teria gerado o
povo-massa. A grande propriedade engendra a formação de uma população que estabeleceu com o senhor de
engenho ou com o sesmeiro relações sociais, instituições e costumes que geram solidariedade e dependência com
para estes. É uma estrutura diversa da que identifica na “aldeia agrária” europeia, aspecto gerador – na opinião de
Vianna - do espírito democrático do anglo-saxão.

Euclides da Cunha

Em 1866, na Fazenda Saudade, em Cantagalo, Rio de Janeiro, nasceu Euclides da Cunha. Em 1884 apresentou
indícios de um pensamento político em artigo no jornal de alunos O Democrata. Enquanto estudava na Escola
Militar, em 1888, Euclides da Cunha atirou sua espada aos pés do ministro da Guerra como gesto de insubordinação.
Desligou-se, momentaneamente, do Exército e participou do jornal A Província de São Paulo. Com a Proclamação da
República, foi reintegrado ao Exército e concluiu seu curso. Em 1896, afastou-se novamente do Exército e, em 1897,
cobriu a 4ª expedição contra Canudos como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo. Essa experiência o
estimulou a escrever e publicar o livro Os sertões. O livro discute, entre outros elementos, alguns aspectos da
vegetação e do solo das áreas por ele visitadas. Ao discutir o homem sertanejo, Euclides discorreu sobre um dos
problemas enfrentados pelo país:

“Adstrita às influências que mutuam, em graus variáveis, três elementos étnicos, a gênese das raças mestiças do
Brasil ainda é um problema que por muito tempo ainda desafiará o esforço dos melhores espíritos”. Euclides da
Cunha. (Os sertões. São Paulo: Três, 1984).

Essa mistura de raças faz com que elas se entrelacem, pois não é possível buscar uma distinção clara entre os
brasileiros. Para o autor:

“Não temos unidade de raça. Não a teremos, talvez, nunca. Predestinamo-nos à formação de uma raça histórica em
futuro remoto, se o permitir dilatado tempo de vida nacional autônoma. Invertemos, sob este aspecto, a ordem
natural dos fatos. A nossa evolução biológica reclama a garantia da evolução social. Estamos condenados à
civilização. Ou progredimos, ou desaparecemos”. (Idem, ibidem).
Essa miríade de possibilidades biológicas, físicas, culturais e geográficas geraria igual miríade de subcategorias entre
os indivíduos, impossibilitando, assim, uma catalogação do brasileiro. Como o meio físico não forma uma raça, o
Brasil apresentaria a diferenciação entre as dosagens estabelecidas em cada região, não formando, assim, um tipo
antropológico brasileiro. Essa mistura, calcada num darwinismo social, indica mestiçagem como uma breve
existência individual, visto que o mestiço é uma sombra do indivíduo puro:

“E o mestiço – mulato, mameluco ou cafuso –, menos que um intermediário, é um decaído, sem a energia física dos
ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores. Contrastando com a fecundidade que
acaso possua, ele revela casos de hibridez moral extraordinários: espíritos fulgurantes, às vezes, mas frágeis,
irrequietos, inconstantes, deslumbrando um momento e extinguindo-se prestes, feridos pela fatalidade das leis
biológicas, chumbados ao plano inferior da raça menos favorecida”. (Idem, ibidem)

Com essa análise, Euclides apresentou o sertanejo como um marginal, ou seja, alguém que se encontra ao largo das
culturas que o influenciam. Esse homem não se identifica mais com a tradição cultural da qual provém ou que
adotou. No caso do mestiço, é um híbrido que não consegue se realocar em nenhuma das raças fundadoras. Apesar
dessa suposta fraqueza por parte dos mestiços, o autor mostra o sertanejo do norte como apresentando
características de raça forte, não desenvolvendo as piores características de cada raça. No entanto, este não teria
desenvolvido a civilização. Em sua análise, o sertanejo:

“É um retrógrado; não é um degenerado. Por isto mesmo que as vicissitudes históricas o libertaram, na fase
delicadíssima da sua formação, das exigências desproporcionadas de uma cultura de empréstimo, prepararam-no
para a conquistar um dia”. (Idem, ibidem)

Para Euclides da Cunha, percebe-se que o sertanejo, portanto, ainda conquistará uma posição entre as culturas
civilizadas, encontrando-se, dessa forma, não em uma escala evolutiva diferenciada, mas sim em um estágio
evolutivo diferenciado, pois precisaria de mais tempo para desenvolver as mesmas capacidades que as outras
civilizações.

Além do estudo da mestiçagem das raças, Euclides da Cunha apresentou uma minuciosa pesquisa sobre a cultura
sertaneja. Descreveu, por exemplo, os festivais, as tradições, as danças, os desafios e os costumes populares. Um
dos aspectos culturais do sertanejo que foi observado atentamente pelo jornalista, é a religião mestiça. Atribuindo a
esta um caráter de “monoteísmo incompreendido”, apresenta características indígena e africana. Dessa forma, a
religião também é, como o habitante do lugar, mestiça.

Conjuntamente ao antropomorfismo do indígena e do animismo africano, a religião sertaneja apresenta


características que remontam a tradições medievais da cultura europeia. Crenças que desapareceram em Portugal
encontram-se, ainda, difundidas entre os sertanejos. Esse é mais um elemento do seu isolamento social.

Essa distinta sociedade permite, por sua singular complexidade, o aparecimento de Antônio Conselheiro como
resultado de uma série de elementos que estimularam o surgimento deste: Todas as crenças ingênuas, do fetichismo
bárbaro às aberrações católicas, todas as tendências impulsivas das raças inferiores, livremente exercitadas na
indisciplina da vida sertaneja, se condensaram no seu misticismo feroz e extravagante. Ele foi, simultaneamente, o
elemento ativo e passivo da agitação de que surgiu. O temperamento mais impressionável apenas fê-lo absorver as
crenças ambientes, a princípio numa quase passividade pela pró- pria receptividade mórbida do espírito torturado
de reveses, e elas refluíram, depois, mais fortemente, sobre o próprio meio de onde haviam partido, partindo da sua
consciência delirante. Idem, ibidem. Consequentemente, a cidade criada por Conselheiro, a “Troia de taipa dos
jagunços”, cresceu e passou a gerar desconforto na estrutura política da região. Após a quarta expedição, a
República acaba, por fim, com Canudos.

A discussão da formação das raças e sub-raças em Euclides da Cunha

Euclides da Cunha inicia apresentando os três tipos antropológicos que constituem a base racial da qual deriva
diversas sub-raças brasileiras. Ele manifesta preocupação com essa mistura que, conforme os pressupostos
evolucionistas que o influenciavam, enfraquecia os seres humanos. Assim, quanto menos miscigenação houvesse
mais vigorosos seriam os homens tanto física como moralmente.

O indígena é o primeiro tipo apresentado. Os silvícolas encontrados aqui, à época do descobrimento, eram, de
acordo com Cunha, originários de raças autóctones que habitavam o continente americano. O segundo tipo, o negro,
o mais subjugado e desprotegido entre os três. E, por fim, o português responsável pelo gene aristocrático do povo
brasileiro, seu elo com a civilização. Para o autor, não faz sentido a discussão sobre qual dentre as três raças seria
predominante porque a tendência é de uma miscigenação contínua, dando origem à sub-raças, impossibilitando,
dessa maneira, a unidade racial. O único meio desse povo biologicamente enfraquecido sobreviver é progredindo
socialmente, já que o progresso físico estava comprometido.

Cunha associa como era comum naquele período, o desenvolvimento ou não de determinadas habilidades físicas ao
meio geográfico. O clima e o relevo seriam elementos determinantes na formação dos habitantes de uma região
específica. Para evidenciar nossa composição heterogênea, ele destaca duas sub-raças, mulata e sertaneja, cujas
características singulares são contrapostas e diretamente vinculadas ao meio ambiente na qual foram forjadas, uma
no litoral e outra no sertão.

Ele trata primeiramente do mulato, cuja gênese está fora do país. Embora a mistura entre branco e negro já
acontecesse em Portugal, no Brasil, ela ganhou uma dimensão irreversível. O autor põe ênfase na subordinação
cruel imposta aos africanos a ponto destes serem percebidos em relação de equivalência valorativa com um animal
de carga. Aqui, os negros foram debilitados pelos grilhões e pelos desejos lascivos dos brancos. O mulato brasileiro
surge quebrado pela serventia dos negros e contaminado pelos vícios dos brancos, tornando-se, segundo Cunha, o
tipo característico do litoral.

O segundo tipo é o sertanejo, cuja origem remonta aos desbravadores bandeirantes oriundos de São Paulo e sua
mistura com os indígenas. Por ser uma sub-raça mais pura, é também mais forte. O homem do sertão é apresentado
sob três espectros: o jagunço, o vaqueiro e o gaúcho. Os três são vigorosos, mas o jagunço se sobressai porque é
mais tenaz e mais resistente. Nas palavras de Cunha, os sertanejos eram retrógrados, mas não degenerados como os
habitantes do litoral. O isolamento fez com que tivessem hábitos próprios e grande apego às tradições, com
destaque para o sentimento religioso levado até o fanatismo. O sertão era, portanto, um lugar propício para que
uma figura como Antônio Conselheiro encontrasse interlocutores.

O sertanejo é, por suas contingências existenciais, pouco desenvolvidos psiquicamente, por conseguinte, sua forma
de cultivar a religiosidade era despida de conteúdos racionais mais elaborados. O autor define sua religião como
mestiça, fundada, entre outras coisas, sobre um monoteísmo incompreensível. Incorpora elementos de religiões,
narrativas e práticas distintas: “o antropismo do selvagem, o animismo do africano [...] e o aspecto emocional da
raça superior na época do descobrimento”.

Raimundo Nina Rodrigues

O médico Raimundo Nina Rodrigues – que atuava na Faculdade de Medicina da Bahia - afirmava a importância da
raça como fator explicativo fundamental da sociedade brasileira e de seus cidadãos. Com base no evolucionismo
social ou darwinismo social, segundo o qual os seres humanos são desiguais por natureza devido às diferentes
aptidões inatas que fazem de uns superiores e outros inferiores, ele produziu estudos relacionando raça, patologias
psiquiátricas e tipologias criminais. Em seu livro As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1894) propôs
a criação de leis diferenciadas para brancos e negros, baseadas na ‘evolução de cada raça’.

Rodrigues ainda elaborou a tese de que o retrocesso econômico da Bahia se devia à grande presença da raça negra e
de mestiços no Estado, que, com suas doenças, costumes e religião, influenciavam o restante da população. Para ele,
os mestiços não conformavam uma raça, mas eram inferiores pela influência de seus ancestrais negros e indígenas.

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