A advogada Isabel Franco afirma que a corrupção nas empresas brasileiras pode ser maior do que no governo. Ela argumenta que as empresas precisam estabelecer programas de compliance abrangentes para combater a corrupção interna e monitorar fornecedores e parceiros. Programas de compliance podem proteger a reputação da empresa e aumentar seu valor de mercado.
A advogada Isabel Franco afirma que a corrupção nas empresas brasileiras pode ser maior do que no governo. Ela argumenta que as empresas precisam estabelecer programas de compliance abrangentes para combater a corrupção interna e monitorar fornecedores e parceiros. Programas de compliance podem proteger a reputação da empresa e aumentar seu valor de mercado.
A advogada Isabel Franco afirma que a corrupção nas empresas brasileiras pode ser maior do que no governo. Ela argumenta que as empresas precisam estabelecer programas de compliance abrangentes para combater a corrupção interna e monitorar fornecedores e parceiros. Programas de compliance podem proteger a reputação da empresa e aumentar seu valor de mercado.
Lizandra Magon de Almeida and HSM | jun 16, 2016 | direto ao ponto | 0 Comentários
A corrupção das empresas no Brasil pode ser maior que a
relacionada com o governo, afirma a advogada Isabel Franco, perita da ONG Transparência Internacional 5. Estamos vendo a corrupção no governo, envolvendo as empresas, vir a público na Operação Lava-Jato. Quão corruptas são as empresas brasileiras? A corrupção existe no setor privado na mesma medida ou até mais. Embora isso não seja mensurado, percebe-se um enorme contingente de profissionais de empresas que pagam uma propina particular comercial aqui ou dão presentes em troca de favores acolá. Como não há uma legislação que proíba tais práticas, configurando-as como fraude, isso não aparece. É uma pena, porque uma mudança na postura das empresas em relação ao procedimento teria enorme impacto na sociedade. Os idealistas do combate à corrupção no mundo atual, eu incluída, acreditam que começar na empresa talvez seja o melhor caminho para se exterminar a corrupção em um país. 4. Há sinais exteriores de corrupção que servem de alerta para o CEO ou o conselho de administração e costumam ser ignorados, quando não deveriam sê-lo? Sim. Se um fornecedor pratica um preço que não é de mercado, alguma coisa errada foi feita, pode ter certeza. Em vez de um executivo sênior achar que o gerente foi eficiente em contratar alguém muito barato, por exemplo, ele deve questionar-se se não há algo de “podre” nessa contratação –o mesmo vale para valores muito superiores e para contratação de fornecedores sem expertise comprovada. Aliás, para não haver surpresa com práticas ilegítimas de fornecedores, é fundamental ter um relacionamento próximo com eles. É muito importante também que as empresas estabeleçam metas razoáveis para seus profissionais e não criem expectativas tão inatingíveis que se configurem em um convite a usar métodos pouco ortodoxos para alcançá-las. 3. Muitos dizem que o brasileiro é culturalmente corrupto. Isso é verdade? Brasileiro sempre acha que tudo aqui é pior que no resto do mundo e isso não procede. Eu morei em vários países e posso dizer com segurança que a tendência à corrupção existe em toda parte; ela precisa é ser contida. Agora, nós, brasileiros, nascemos e crescemos engessados na burocracia que vem de um Estado superdimensionado e que fiscaliza tudo o tempo todo. Nossa cultura nos diz que somos culpados até que se prove o contrário e essa estrutura de fiscalização superdimensionada cria mais oportunidades para a corrupção. O regime militar talvez também tenha deixado como herança uma aversão às denúncias, vistas como delação, o que dificulta o combate à corrupção, mas sou otimista sobre a superação disso, porque cada vez mais sinto que há executivos brasileiros bem-intencionados batalhando para erradicar a corrupção. Aliás, isso fica claro até por como o Brasil é percebido no mundo, na medição da Transparency International. O Brasil é percebido como o 76º país menos corrupto do mundo, menos corrupto do que China (83º) e Rússia (119º), outras economias emergentes, e empatado com a Índia [no ranking de 2015], para falar dos BRICs. Entre os sul-americanos, está melhor do que Argentina (107º), Bolívia (99º), Equador (107º), Colômbia (83º), Peru (88º), México (95º). No entanto, diga-se, em outro ranking da Transparency International, o das empresas que mais pagam propina no exterior, feito em 2011, o Brasil aparecer como o 14º maior corruptor. 2. Como é a relação custo–benefício de um programa de compliance em uma empresa? Pagar propina não sai mais em conta, se você nos permite uma pergunta amoral? Muitas empresas veem os programas de compliance como um custo muito alto, e nós temos de explicar que é um investimento, porque o que elas podem pagar de multas, a perda da reputação, a queda no valor das ações são custos muito mais altos. Isso sem contabilizar os valores absolutos das próprias propinas ou dos desfalques internos. E um estudo que fizemos com a Ápis Investimentos provou que empresas com programa de compliance têm um valor de mercado maior. Sabe o que acontece? Normalmente, as empresas são vendidas pelo Ebitda [lucro antes dos impostos] multiplicado por um um fator “x” e, nessa pesquisa, notamos que as empresas com governança corporativa já consolidada conseguem um múltiplo “x” maior. 1. Uma empresa consegue de fato combater a corrupção? E um governo? Sim. No caso da empresa, primeiro ela deve decidir só contratar pessoas que passem pelo crivo da integridade. Então, realmente precisa monitorar seus funcionários, fornecedores e parceiros e colocar ordem na casa. Por fim, deve fazer um programa de compliance completo, que as ajudasse a ter uma reputação ilibada. Um programa de compliance completo ajuda a empresa a criar códigos de conduta, de ética e de boas práticas; avalia seu risco de exposição a autoridades do governo; mapeia todos os relacionamentos com terceiros e organiza um grupo de funcionários internos para monitorá-los; faz treinamentos que envolvem do presidente até o office- boy para criar a consciência do que é a corrupção e de quão nociva ela é para as empresas e para os cidadãos; explica a todos como é a legislação anticorrupção no mundo inteiro etc. Um programa assim começa com um levantamento detalhado de todo o funcionamento da empresa para entender suas vulnerabilidades, porque é muito fácil esconder a corrupção de um funcionário em uma organização. Do ponto de vista do governo, a Alemanha é um modelo interessantíssimo para o Brasil. Até uns 15 anos atrás, mais ou menos, ela dava isenção fiscal ao pagamento de propina no exterior –ou seja, corrupção era uma prática oficial e legítima para alemães no exterior. Por volta de 2012, o governo tinha outra postura: processou uma empresa tão tradicional quanto a Siemens por corrupção, que não apenas precisou pagar uma fortuna em multas, como também teve presos membros de seu conselho de administração. E vários acionistas estão processando a empresa pela queda do valor de suas ações. O Japão é outro em que a prática de corromper era normal e conseguiu acabar com isso, mudaram a mentalidade. Então, por que a gente não conseguiria? Quando as pessoas se dispõem a fazer as coisas, elas acontecem.
(Entrevista de Lizandra Magon de Almeida)
Essa matéria foi publicada originalmente na Edição 92 de maio-junho de 2012 da
revista HSM Management, e atualizada em junho de 2016.