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A actual cidade de Alcobaça cresceu nos vales do rio Alcoa e do rio Baça.

A área do actual concelho de Alcobaça foi habitada pelos Romanos, mas a denominação
ficou-lhe dos Árabes, cuja ocupação denota uma era de progresso a julgar pelas
numerosos topónimos das terras adjacentes que os recordam, tais como
Alcobaça, Alfeizerão, Aljubarrota, Alpedriz e ainda outros topónimos.

Quando Alcobaça foi reconquistada, a localidade tinha acesso ao mar que perto formava a
grande Lagoa da Pederneira que atingia Cós e permitia navegarem as embarcações que
transportavam para o resto do País os frutos deliciosos produzidos na região graças à
técnica introduzida pelos monges de Cister.

Afonso Henriques doou aos monges Cistercienses a 8 de Abril de 1153 as Terras de


Alcobaça, com a obrigação de as arrotearem; as doações feitas ao longo dos diversos
reinados vieram a constituir um vastíssimo território - Os Coutos de Alcobaça - que ia
desde cerca de São Pedro de Moel a São Martinho do Porto e de Aljubarrota aAlvorninha,
tendo o território atingido o seu máximo no reinado de D. Fernando I.

Os monges de Cister chegaram a ser senhores de 14 vilas das quais 4 eram portos de
mar: Alfeizerão, São Martinho do Porto, Pederneira e Paredes da Vitória.

Os monges de Alcobaça, além da sua actividade religiosa e cultural- tiveram aulas públicas
desde 1269 e nelas, além de Humanidades, Lógica e Teologia, ensinaram
técnicasagrícolas - desenvolveram uma acção colonizadora notável e perdurável, pondo
em prática as inovações agrícolas experimentadas noutros mosteiros e graças às quais
arrotearam as terras, secaram pauis, introduziram culturas adequadas a cada terreno e
organizaram explorações ou quintas, a que chamavam granjas, criando praticamente a
partir do nada uma região agrícola que se manteve até aos nossos dias como uma das
mais produtivas de Portugal. Joaquim Vieira Natividade refere-se aos monges de
Alcobaça, como os monges-agrónomanos.

Os concelhos de Alcobaça e Nazaré, bem como parte do norte do concelho de Caldas da


Rainha, foi arroteada e administrada pelos monges alcobacenses. Este vasto território
denominava-se os Coutos de Alcobaça.

A cidade de Alcobaça recebeu foral de D. Manuel I em 1514. As outras 12 vilas receberam


forais na mesma época.

Em 1567, o mosteiro de Alcobaça separou-se de Cister, a casa-mãe em França, para se


tornar cabeça da Congregação Portuguesa, por bula do Papa Pio V.

Em meados do século XVII, a maioria das terras dos coutos de Alcobaça pertencia já aos
habitantes das vilas e dos seus concelhos.

O mosteiro esteve a saque durante 11 dias em 1833, após o abandono forçado dos
monges, em virtude da vitória liberal na guerra civil. Com a extinção das ordens
religiosasdecretada em 1834, parte do Mosteiro de Alcobaça foi vendido em hasta pública.
Das 14 vilas-concelho apenas Alcobaça e Pederneira (a actual Nazaré) são hoje sede de
concelho, tendo os outros sido entretanto extintos.

Nos antigos coutos, administrados pelos monges cistercienses durante quase 700
(setecentos) anos, subsistem, para além da actividade agrícola por eles introduzida, uma
profusão de elementos arquitéctónicos sobretudo manuelinos, alguns pelourinhos e muitas
casas rurais e anexos agrícolas, como lagares de varas que no século XVII e século
XIX foram utilizados para a extracção do azeite a partir dos olivais da Serra dos
Candeeiros.

A 30 de Agosto de 1995, Alcobaça foi elevada a cidade.

Até 12 de Julho de 2001, fazia também parte do município a freguesia da Moita, a qual
entretanto foi transferida para o vizinho concelho da Marinha Grande.

A Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça, também referida como Real Abadia de
Alcobaça ou simplesmente Abadia de Alcobaça localiza-se no distrito de Leiria,
em Portugal.

Constituiu-se em um vasto senhorio clerical com um território de quase 500 km²,


compreendido entre a serra dos Candeeiros e ooceano Atlântico, que abrangia os atuais
concelhos da Nazaré, quase todo o de Alcobaça, assim como a parte norte do concelho
deCaldas da Rainha, e tinha a sua sede no Mosteiro de Alcobaça. Foi formado por doação
concedida por D. Afonso Henriques ao abade da Ordem de Cister, Bernardo de Claraval,
em 1153, e mais tarde alargado por doação de Fernando I de Portugal no século XIV.

Ao longo de vários séculos, a abadia constituiu-se em importante centro espiritual do país,


com autonomia governamental, e o seu abade era um dos mais altos conselheiros do rei.
O mosteiro constitui-se, na atualidade, local de atração para os mais de 250.000 visitantes
que o visitam anualmente.

Índice
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 1 História
o 1.1 Antedecentes
o 1.2 O reconhecimento do novo rei pelo Papa
o 1.3 Política de povoamento
o 1.4 Mosteiro da Idade Média
o 1.5 Coutos de Alcobaça
o 1.6 Aumento do poder
o 1.7 Posição da abadia dentro do Estado
o 1.8 Dependência do poder real
o 1.9 Congregação Autónoma Portuguesa dos Cistercienses
o 1.10 As três catástrofes
o 1.11 A pilhagem do Mosteiro (1833)
o 1.12 Encerramento dos mosteiros por parte do Estado (1834)
o 1.13 Decadência das instalações do Mosteiro
o 1.14 Reconstrução na Idade Moderna
 2 Significado cultural da Abadia
o 2.1 Ensino e economia
o 2.2 Ciência
o 2.3 Arte
o 2.4 Congregações filhas
 3 Número de monges
 4 Referências
 5 Bibliografia

História[editar | editar código-fonte]


Antedecentes[editar | editar código-fonte]
Segundo a lenda, no contexto da Reconquista, à época da formação da nacionalidade
portuguesa, D. Afonso Henriques prometeu aSanta Maria erguer um mosteiro em sua
homenagem, caso ele conseguisse conquistar aos mouros o importante Castelo de
Santarém. Com a conquista do mesmo em 1147, o monarca cumpriu o prometido, doando
e coutando, em 1153, o território de Alcobaça a Bernardo de Claraval. Esta narrativa
encontra-se documentada nos paineis de azulejos nas paredes da Sala dos Reis do
Mosteiro, que datam do século XVIII.

Em 1178, os monges iniciaram a construção do atual Mosteiro, vindo este a tornar-se um


dos mais ricos e poderosos da Ordem de Cister.1

O reconhecimento do novo rei pelo Papa[editar | editar código-


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Após a vitória na Batalha de Ourique (1139), D. Afonso Henriques autoproclamou-se Rei
de Portugal e libertou-se da prestação de vassalagem ao reino de Castela.
Em 1143, Afonso VII de Castela reconheceu a independência de Portugal por meio de um
representante do Papa. Mas era fundamental o reconhecimento da independência do
estado português pelo Papa, o que levou D. Afonso Henriques a pedir auxílio a Bernardo
de Claraval.2 Enquanto abade e fundador da abadia de Claraval, Bernardo de Claraval foi
um dos clérigos mais influentes de seu tempo. Além disso, no ano de 1145 foi eleito como
primeiro Papa cisterciense, Papa Eugénio III. Em 1144, D. Afonso Henriques concedeu aos
Cistercienses a vila de Tarouca, no norte de Portugal. Quando em 1147,
conquistouLisboa, Sintra, Almada e Palmela aos mouros o reconhecimento da
independência de Portugal tornara-se muito mais premente. Com a doação de Alcobaça
em 1153, e ainda durante a vida de Bernardo de Claraval – tendo sido este o último
Mosteiro que ele fundou antes da sua morte -, é provável que houvesse a intenção de lhe
ligar especial importância. Contudo, o reconhecimento do Papa chegou somente
em 1179 através de uma bula do Papa Alexandre III. Sobre esta conjuntura, na Sala dos
Reis do Mosteiro encontra-se representada a coroação imaginária de D. Afonso Henriques
por Bernardo de Claraval e pelo Papa Inocêncio II (1130—1143) num grupo de figuras
de barro em tamanho real que data do século XVIII.

Política de povoamento[editar | editar código-fonte]


Independentemente desta ocasião excepcional, a doação aos mosteiros de terras
conquistadas aos mouros na península, correspondeu a uma política de povoamento
geral, destinada a pacificar o território ocupado e a converter os novos súbditos. Desta
forma, na luta pela independência, D. Afonso Henriques entregou, em 1127, Vimieiro à
congregação beneditina de Cluny; em 1128, oCastelo de Soure à Ordem dos Templários;
em 1131, fundou o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra; entregou o Castelo de Tomar aos
Templários em 1159, assim como, em 1169, um terço do território conquistado no Alentejo.
Por fim, em 1172, a Ordem de Santiagoobteve o Castelo de Arruda, na localidade
de Évora.3

Mosteiro da Idade Média[editar | editar código-fonte]


Doze monges cistercienses e um abade da mesma Ordem – de acordo com as regras
gerais da Ordem o número de monges correspondia ao tamanho mínimo de uma abadia -,
tomaram posse do terreno pertencente ao Mosteiro e construíram, a poucos metros do
atual Mosteiro e junto ao rio Alcoa, a abadia provisória de Santa Maria-a-Velha, da qual a
igreja de Nossa Senhora da Conceição ainda hoje é um testemunho. Quando, no ano de
1178, foram iniciadas as obras de construção da igreja e das primeiras divisórias do
Mosteiro, o território ainda não se encontrava de todo pacificado, sendo a construção
atrasada pelas investidas dos mouros. No massacre de 1195, muçulmanos vindos de
Marrocos, penetraram, possivelmente através da Lagoa da Pederneira (actual Nazaré) e
assaltaram o Mosteiro em construção, tendo morto os 95 monges que aí se encontravam a
trabalhar. Os monges só encontraram protecção numa fortaleza vizinha, o Castelo de
Alcobaça, que era um antigo castelo mouro, segundo algumas opiniões, este castelo era
de origem visigoda. O castelo foi restaurado tanto por D. Afonso Henriques como pelo seu
sucessor, D. Sancho I. Hoje em dia ainda restam as paredes das muralhas exteriores. No
dia 6 de Agosto de 1223, os monges abandonaram a velha abadia, mudando-se para o
novo Mosteiro. O túmulo do terceiro rei de Portugal, D. Afonso II, falecido em 1223, foi
acolhido nesta igreja em 1224. Contudo, as obras só terminariam fundamentalmente em
1240, dando-se a consagração em 1252.

Coutos de Alcobaça[editar | editar código-fonte]


O território cedido aos cistercienses e que, anteriormente, tinha pertencido aos mouros,
provavelmente não tinha sido utilizado para a agricultura, devido às inúmeras guerras que
se passavam nesse local. Os monges iniciaram de imediato o seu povoamento através da
criação de granjas a partir das quais nasceram os coutos (lat. cautum: para segurança),
uma espécie de comunidades que a igreja vigiava e dirigia. Estas comunidades nunca se
encontravam a mais de um dia de marcha do Mosteiro. Com a passagem dos anos, os
colonos locais foram adquirindo direitos de exploração próprios, sendo obrigados a prestar
contas à abadia. As primeiras comunidades- como, por exemplo, a de Aljubarrota-,
surgiram já nos anos de 1164/1167; as últimas foram criadas no século XIV. O único granja
que perdurou até aos dias de hoje na sua estrutura básica é a Quinta do Campo,
no Valado dos Frades no concelho da Nazaré. A granja já existia no século XIII, datando
possivelmente do século XII, tendo sido criado através da secagem dos pântanos. A partir
do século XIV, os monges criaram nesse sítio uma escola agrícola. Hoje em dia, os
edifícios têm meramente um valor turístico.4 A maior parte das localidades circundantes de
Alcobaça e da Nazaré remontam ao tempo destas colonizações como nos testemunham
as igrejas e as capelas construídas em primeiro lugar, assim como os pelourinhos que
detinham a sua própria jurisdição. O abade de Alcobaça tinha o privilégio real de poder
tomar decisões judiciais sem a confirmação do rei, pelo que alguns fugitivos ou mesmo,
inicialmente, alguns criminosos, encontravam aqui protecção mesmo relativamente ao
rei.5 Deste modo, os monges cultivavam e povoavam rapidamente as terras e possuiam,
através dos coutos, um domínio clerical e, simultaneamente, mundano. Já no século XIII, o
Mosteiro possuia dois portos (Alfeizerão/São Martinho do Porto situados na Lagoa de
Alfeizerão, e Pederneira, hoje uma parte da Nazaré), possibilitando aos monges a prática
da pesca, a exportação de vinho e de sal, extraído das salinas da lagoa que existia desde
a Pederneira (Nazaré) até poucos quilómetros de Alcobaça. Mais tarde, exportavam
azeitonas e azeite, nozes, frutos secos e madeira. Em 1368 e em 1374, por meio de uma
doação do rei D. Fernando, o domínio da abadia foi alargado com territórios perto
de Paredes da Vitória e Pataias. Deste modo, passaram a fazer parte integrante do
Mosteiro dezanove localidades, das quais treze se tornaram vilas, tais
como Aljubarrota(1164/1167), Alvorninha ( 1210), Pederneira
( hoje Nazaré (1236/1238), São Martinho do Porto (1257), Paredes da
Vitória (1282), Évora de Alcobaça (1285), Cela Nova (1286), Salir de
Matos (provavelmente século XIII), Cós (1301), Maiorga (1303), Santa
Catarina (1307),Turquel (1314), e Alfeizerão ( 1332, mas que já existia nos tempos dos
mouros).6 Esta estrutura de povoação marca, ainda hoje, o distrito de Alcobaça, possuindo
esta, na maior parte das suas freguesias, de 2000 e 6000 habitantes, aproximadamente.
Devido à grande experiência dos monges, os reis pediam-lhes o seu auxílio para a
secagem de pauis noutras zonas do território português. Em troca do auxílio na secagem
dos pauis por parte da abadia, ela recebia bens feudais .

Aumento do poder[editar | editar código-fonte]


O sucesso económico trouxe consigo uma considerável afluência populacional, o que
obrigava a um permanente alargamento das instalações do Mosteiro. Por este motivo,
surgiu a construção, hoje considerada de estilo medieval, nas imediações a norte da igreja.
De acordo com recentes achados arqueológicos antes da viragem do século,
possivelmente teriam sido iniciadas construções de outros edifícios já no século XIV, no
lado sul da igreja provavelmente mesmo um novo claustro e suas instalações
circundantes, do qual o actual lado sul do Mosteiro fazia parte. 7 Até àquele momento
pensava-se que esta ala só tivesse sido acrescentada no século XVIII, altura em que toda
a frente ocidental do Mosteiro foi revestida por uma fachada barroca. Até ao início do
século XV, os monges desenvolveram uma grande actividade, cultivando as terras e
desenvolvendo a agricultura, dedicando-se à pesca, extraindo sal e ferro, desenvolvendo a
arte de forjar, promovendo o artesanato e educando os colonos. Em 1269, criaram uma
das primeiras escolas públicas do ocidente,8 cuja transferência, em 1290, para Coimbra,
deu origem à Universidade de Coimbra. As comunidades pertencentes ao Mosteiro
floresciam de tal maneira que na própria abadia de Alcobaça o relaxamento começava a
substituir as regras rígidas cistercienses, à semelhança do que sucedia noutros mosteiros.
Por este motivo, o Papa Bento XII determinou, em 1335, uma reforma da ordem
cisterciense que o rei D. Afonso IV (1291-1357) aproveitou para reduzir o poder da abadia
e subordinar ao seu poder a maior parte das terras pertencentes a Alcobaça com o
argumento de o certificado de doação de D. Afonso Henriques não englobar as vilas mas
apenas o campo. No entanto, a abadia readquiriu o seu poder através de D. Pedro I, seu
filho, cujo túmulo foi depositado juntamente com o da sua amada Inês de Castro no
transepto da Igreja de Alcobaça (ver abaixo). D. Pedro I foi um grande defensor da abadia,
restabelecendo o direito da abadia sobre as vilas confiscadas. Contudo, não lhe concedeu
a jurisdição real mais elevada, reservando-a para si próprio.

Posição da abadia dentro do Estado[editar | editar código-fonte]


O abade de Alcobaça era membro, por nascença, das cortes, era o padre principal do rei,
não se encontrando, hierarquicamente, muito abaixo dos bispos, sendo-lhe reservada,
pelo contrário, uma grande importância, devido ao seu domínio territorial. Desta forma, ele
tornou-se numa das pessoas mais importantes do reino e tinha o título de Dom Abade do
Real Mosteiro de Alcobaça, do Conselho de Sua Majestade, seu Esmoler-
Mor, Donatário da Coroa, Senhor dos Coutos e Fronteiro-Mor. Ele praticava a jurisdição,
embora esta fosse limitada pelos poderes do rei como, por exemplo, no que respeitava à
decisão das penas de morte. A sua jurisdição estendia-se desde Alcobaça, passando
por Porto de Mós até bastante a sul (Ota) e a leste (Beringel, perto de Beja). No seu
território a abadia não era obrigada a recrutar tropas para o rei. D. João I(1385-1433),
Mestre de Avis, grão-mestre da Ordem de São Bento de Avis e membro da Ordem de
Cister, foi extremamente benevolente para com o Mosteiro, restituindo-lhe todo o poder
que antepassados seus lhe tinham tentado tirar. Mesmo assim, no ano de 1427, D. João I
declarou, perante as Cortes, que considerava a Abadia de Alcobaça como pertença do rei.

Dependência do poder real[editar | editar código-fonte]


Devido à sua enorme riqueza e poder, os monges distanciavam-se novamente dos
ensinamentos rígidos dos seus fundadores. J. Vieira Natividade escreveu: "A Abdadia
enriquece, transforma-se em poderoso feudo, e a crescente opulência pouco e pouco faz
esquecer o rigor da Ordem e toda a simplicidade e austeridade da primitiva vida
monacal."9 Em 1475, o abade Nicolau Vieira abdicou, secretamente, dos seus direitos a
favor do arcebispo de Lisboa, - mais tarde o cardeal da cúria Jorge da Costa -, em troca de
uma concessão anual de 150.000 reis. Os monges só tomaram conhecimento desta
situação quando uma delegação do arcebispo tomou posse dos seus novos direitos.
Devido à sua influência em Roma, as queixas dos monges ao Papa eram inúteis,
principalmente quando o arcebispo obrigou o Mosteiro a pagar tributos a Roma. 10 O
Mosteiro, que sempre elegeu autonomamente os seus abades, encontrou-se, assim, sob a
influência de abades colocados pelo rei ( os abades comendatários). Por volta do século
XV, a fragilidade do Mosteiro levou a que muitas povoações subordinadas à abadia
exigissem uma maior autonomia administrativa, que lhes acabou por ser concedida em
1514 pelo rei D. Manuel I (1469-1521) através de uma reforma da cidade. Assim, o número
de irmãos leigos reduziu drasticamente. O domínio imediato das terras e a própria
agricultura limitavam-se a poucos territórios perto do Mosteiro. Em 1531Afonso de
Portugal (1509-1540), o quarto filho do rei D. Manuel I e irmão do futuro rei D. João
III (1502-1557), tornou-se abade de Alcobaça, sendo simultaneamente bispo de Lisboa e
cardeal. Após a sua morte, D. João III proclamou o seu irmão Henrique (1512-1580)
abade, que era, igualmente, arcebispo de Lisboa bem como inquisidor-mor de Portugal ,
tornando-se, mais tarde, cardeal. Dois anos antes da sua morte, o Cardeal D. Henrique foi
proclamado rei de Portugal. Esta ligação íntima do cardeal com a Casa Real- que escolhia
o abade há mais de 50 anos -, levou, no ano de 1567, a que após as primeiras
divergências sobre um afastamento de Claraval, o Papa Pio V decretasse numa bula a
independência da Ordem dos Cistercienses portuguesa.

Congregação Autónoma Portuguesa dos


Cistercienses[editar | editar código-fonte]
A daqui consequente Congregação Autónoma dos Cistercienses de São Bernardo de
Alcobaça tornou-se no dirigente de todos os mosteiros cistercienses portugueses e o
abade recebeu o título de abade-geral da congregação. Tanto a Ordem de Avis como
a Ordem de Cristo, a sucessora da Ordem dos Templários em Portugal, estavam
subordinados à sua jurisdição. Assim, a abadia de Alcobaça voltou a ser o que era na
Idade Média. Embora, entretanto, os habitantes dos coutos se administrassem de forma
autónoma, encontravam-se subordinados ao domínio da abadia, sendo obrigados a pagar-
lhe tributos. Após a Restauração de 1640, o Mosteiro tinha no rei D. João IV (1640-1660)
novamente um devoto, que lhe concedia novos direitos e privilégios. Nestes tempos,
houve um alargamento do Mosteiro em dois novos claustros, ligando-se a norte ao
primeiro existente desde a Idade Média, o Claustro da Levada, (também apelidado de
Claustro do Cardeal ou Claustro dos Noviços), que se iniciou ainda nos tempos do cardeal
D. Henrique e terminou em 1636, e o Claustro do Rachadeiro (também apelidado de
Claustro da Levada ou Claustro da Biblioteca). A própria parte central do Mosteiro - datada
do período da Idade Média -, sofreu profundas alterações, sendo, nessa altura, construída
a cozinha nova que ainda hoje em dia impressiona. A partir de 1702, o Mosteiro recebeu a
sua magnífica fachada barroca, tendo a igreja obtido os seus dois campanários. Este
conjunto ainda hoje dá ao Mosteiro mais o aspecto de um palácio, não revelando
absolutamente nada da simplicidade inicial dos cistercienses. Em 1755, a construção
terminou com a criação da Biblioteca, sendo esta, naquela época, uma das maiores da
Península Ibérica.

As três catástrofes[editar | editar código-fonte]


Apesar dos grandes danos causados pela peste, que no ano de 1348 matou, em três
meses, 150 monges, pelas inundações (como as de 1437 e 1495) e pelos
terramotos(como os de 1422 ou de 1563), a Abadia conseguiu sobreviver. No entanto,
houve três acontecimentos que levaram ao final do desdobramento do poder. Na
sequência do histórico Terramoto de 1755, tanto a parte sul do Mosteiro como a sacristia
foram danificadas. O Colégio de Nossa Senhora da Conceição, pertencente ao Mosteiro e
que se encontra, desde 1648, no terreno da Abadia Velha – a primeira abadia provisória-,
foi totalmente destruído, acabando por ser integrada nas partes restabelecidas a sul. Os
monges fizeram duas procissões ao Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, a fim de
agradecer à Senhora o tê-los poupado a estragos maiores. Este santuário encontrava-se a
10 km de distância numa localidade chamada Sítio (perto de Pederneira, hoje
Nazaré).11 Contudo, no ano de 1772, algumas partes de Portugal foram destruídas por
uma inundação – a grande cheia-, que se presume tratar-se de um tsunami, cujas
consequências eram historicamente relacionadas com o terramoto ocorrido 17 anos antes.
Embora o Mosteiro se localizasse a 10 km de distância da costa litoral, esta onda
gigantesca foi muito mais destrutiva do que aquela que ocorrera em 1755. A parte sul do
Mosteiro foi danificada, pela segunda vez, seriamente, deixando outras partes atoladas
nas lamas deixadas pela água quando esta recuou. Demorou muitos anos até que as
grandes massas de terra – que enterraram a maior parte do muro do Mosteiro-, fossem
eliminadas. Ainda hoje, a forma ondulada da fachada Norte, com ca. de 250 m de
comprimento, relembra os danos provavelmente causados pela inundação às fundações.
Por fim, no âmbito das Invasões Francesas durante a Guerra Peninsular , as tropas
napoleónicas entraram em Alcobaça no ano de 1810, saqueando e destruindo várias áreas
do Mosteiro e da Igreja.

A pilhagem do Mosteiro (1833)[editar | editar código-fonte]


Durante os anos 1820, houve nos Coutos de Alcobaça, perturbações políticas, pois o povo
ambicionava a libertação do domínio pelo Mosteiro. Esta situação derivava essencialmente
das responsabilidades de reconstrução que lhe tinham sido acrescidas devido às
catástrofes de 1755, 1772 e 1810. Em 1833 houve, no largo à entrada do Mosteiro, várias
batalhas entre as tropas de D. Miguel e o batalhão voluntário dos Coutos de Alcobaça.
Este batalhão também participara, em 1834, na batalha decisiva emÉvora Monte a favor
dos Constitucionalistas. Tanto os monges como toda a Igreja encontravam-se do lado dos
Miguelistas e criaram, igualmente, um regimento de voluntários dos Coutos de Alcobaça,
batalhando com as tropas de D. Miguel.12 Entretanto, quando os monges perceberam que
os Constitucionalistas estavam a ganhar a guerra, evacuaram o Mosteiro, pela primeira
vez em Julho de 1833 e, posteriormente em Outubro de 1833. A 16 de Outubro do mesmo
ano, no delírio da liberdade, a população entrou no edifício e saqueou-o durante onze dias.
Durante o saque, desapareceram muitos objectos utilitários, de culto e de arte e uma
grande parte do acervo da Biblioteca, cujos restos só alguns anos depois puderam ser
transferidos para a Biblioteca Nacional de Lisboa. Durante estes tumultos, desapareceram
também uma das caldeiras e recipientes de cobre em forma de tacho com um diâmetro de
cerca de 1,20 m e com a altura de um metro, que os portugueses tinham tomado aos
espanhóis em 1385 durante a Batalha de Aljubarrota e que D. João I tinha entregue ao
Mosteiro. A outra caldeira pode ser vista na Sala dos Reis. De acordo com algumas
informações, os túmulos de D.Pedro e de Inês de Castro terão sido novamente violados.
Somente no ano de 1837 é que o estado tomou posse do Mosteiro, passando a controlá-
lo.

Encerramento dos mosteiros por parte do Estado (1834)


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Ver artigo principal: Extinção das ordens religiosas masculinas

Nos tempos que se seguiram, só foram reparados a ala da fachada ocidental do Mosteiro,
a Igreja e os três claustros a norte. Em 1834, a rainha D.Maria II decretou a abolição de
várias congregações, conventos e mosteiros em Portugal. O motivo prendia-se com
as Guerras Liberais durante as quais surgiram divergências entre a vertente liberal da
monarquia. Em 1820, a Revolução Liberal levou ao reconhecimento da primeira
Constituição pelo rei, o que foi combatido ferozmente tanto pela casa real, como também
por toda a nobreza e pelo clero. D. Miguel I, irmão do rei, principal opositor à Constituição
e ao rei, autoproclamou-se como rei opositor. O abade-geral de Alcobaça, tal como o
fizeram outros clérigos, tomou posição contra a facção liberal, que exigia o afastamento
dos privilégios da Igreja. Em 1834 (Concessão de Évora Monte), venceram os
constitucionalistas. Num decreto, relativo ao encerramento dos mosteiros, ficou
estabelecido que as suas riquezas reverteriam a favor do estado, à excepção dos objectos
relacionados com acções sacras.

Decadência das instalações do Mosteiro[editar | editar código-


fonte]
Com a extinção do seu Mosteiro, Alcobaça perdeu repentinamente a sua importância e
ficou entregue a si própria. Os monges desapareceram sem deixar rasto. Desde aí,
deixaram de existir os cistercienses. Em 1838, iniciou-se a venda das pedras de
construção do castelo vizinho. A muralha da cidade, que dividia os terrenos de agricultura
a norte do Mosteiro do átrio ocidental do mesmo, foi demolida em 1839. O pelourinho, o
grande símbolo da justiça da Abadia, foi eliminado em 1866. Os edifícios sofreram
continuamente actos de vandalismo e de roubo, sendo as suas janelas e portas furtadas e
qualquer guarnição desmontada. Na ala sul do Mosteiro foram criadas habitações e a
parte norte passou a ser utilizada por serviços públicos e pelo comércio. O refeitório,
existente desde os tempos da Idade Média, foi transformado numa sala de teatro em 1840,
existindo até ao ano de 1929. No claustro mais recente, o Claustro da Biblioteca ou
Claustro do Rachadoiro, foi inserida uma arena destinada a touradas (1866/68). As partes
orientais mais recentes do Mosteiro passaram a ser utilizadas pela cavalaria,
transformando-se posteriormente num lar para deficientes e idosos. Tanto os edifícios do
Mosteiro como o campanário, danificado a norte da Igreja da abadia, entraram em
decadência.

Reconstrução na Idade Moderna[editar | editar código-fonte]


No final do século XIX, alguns cidadãos consciencializaram-se da importância do velho
Mosteiro. Entre estes cidadãos encontravam-se principalmente Manuel Vieira de
Natividade (1860-1918), historiador, arqueólogo e agrónomo. Este último tornou pública a
sua obra sobre o Mosteiro de Alcobaça em 1885. O Presidente da Câmara só em 1901 fez
uma petição junto ao governo para a reparação e a limpeza da fachada do Mosteiro. Em
1907, o governo português publicou, pela primeira vez, um decreto que protegia partes do
Mosteiro. A partir de 1929, o Estado, com a ajuda dos serviços responsáveis pelos
monumentos, começou a reparar de forma sistemática a Igreja e o Mosteiro medieval,
restituindo-lhes o seu aspecto original. Nos anos 1990, a ala sul do Mosteiro passou
novamente para o domínio do estado e os dois claustros, juntamente com as suas
construções datadas dos séculos XVI a XVIII, foram restituídos, apenas, em 2003. A igreja
e a parte medieval eram consideradas património mundial pelaUNESCO 1989. Depois de
o Mosteiro ter sido seriamente danificado por uma estrada principal que atravessava a
praça principal continuando ao longo do lado norte, causando uma poluição devastadora
ao edifício a circulação de trânsito nessa via foi cancelada e a praça do Mosteiro foi
totalmente alterada de acordo com sua situação histórica com suporte de União Europeia.
Em 7 de Julho de 2007 o mosteiro foi eleito como uma das Sete Maravilhas de Portugal.

Significado cultural da Abadia[editar | editar código-


fonte]
Ensino e economia[editar | editar código-fonte]
O desenvolvimento da agricultura era um ponto fulcral na cultura medieval dos monges,
que já nos primeiros povoamentos da região de Alcobaça colocaram a primeira pedra para
uma agricultura próspera. Os monges instruíam os colonos e ensinavam-lhes algumas
perícias artesanais. Deste modo, eles promoviam o artesanato que na época medieval só
existia nas cidades. A escola pública, criada no ano de 1269, assim como as escolas de
agricultura criadas na época medieval, como a escola de agricultura datada do século XIV
na Quinta do Campo em Valado dos Frades, também as escolas de agricultura
em Alvorninha, Vimeiro e Maiorga, são exemplos dessa instrução. Assim, floresceram
cidades numa área de ca.600 km², das quais durante muito tempo muitas ainda criaram
concelhos. Destas cidades só subsistiram Alcobaça e a Nazaré. Até hoje, a paisagem
encontra-se marcada pelo mais alto grau de aproveitamento (como fruta, vegetais, vinho e
óleo). Por outro lado, as capacidades artesanais, especialmente cuidadas, conduziram a
um florescimento do artesanato em Portugal no século XIX, desde a criação de fábricas de
papel, de vidro.

Ciência[editar | editar código-fonte]


O facto de, em 1755, ter sido criada uma das maiores bibliotecas deve-se ao surgimento
de inúmeros monges cronistas e historiadores (como Frei Bernardo de Brito, Frei António
Brandão e Frei Fortunato de São Boaventura). Estes monges tornaram-se conhecidos
pelos Cronistas de Alcobaça. Eles publicaram durante séculos a Monarchia Lusitana, uma
obra que tratava da História de Portugal, mas que também fazia referência, através de
monografias, a diversos temas históricos.13

Arte[editar | editar código-fonte]


À excepção das partes medievais do Mosteiro, que impressionam devido à sua
simplicidade, os monges não deixaram marcas significativas deste tempo para além de
duas estátuas de Nossa Senhora, datadas do século XV e XVI, respectivamente. O motivo
prendia-se não só com a proibição, por parte dos cistercienses, de representar imagens,
mas também com os ideais de virtude, prevalecendo os valores da simplicidade e da
modéstia. A influência da Casa Real e o desligamento de Claraval fizeram cair estes ideais
e, a partir do século XVII, formou-se uma escola de arte barroca extremamente produtiva,
que criava esculturas de barro. A maior parte das obras são anónimas, sendo atribuídas,
de uma forma geral, aos Barristas de Alcobaça Ainda hoje, a Capela das Relíquias na
sacristia, o grupo com a representação da morte de São Bernardo, que se encontra numa
capela com o mesmo nome no transepto a sul da Igreja (e que fora extremamente
danificada pelas Invasões Francesas em 1810) e um grande número de imagens de altar,
em tamanho real , que se encontram normalmente nas capelas da Rotunda e do Mosteiro,
são um testemunho dessas esculturas. Uma parte dessas estátuas, assim como a da
representação de Santa Ana, também aqui presente, são originárias do altar de uma
capela-radial, que tinha sido dedicada à Sagrada Família.

Congregações filhas[editar | editar código-fonte]


A importância da abadia se apoiava mais no seu poder espiritual e político que atingira em
Portugal, não tratando das fundações das congregações filhas. Enquanto a abadia se
encontrava sob o poder de Claraval, era aqui que eram tomadas as decisões relativamente
a qualquer fundações de congregações-filhas. O abade de Alcobaça fundou um convento,
em 1279, em Cós - que se localiza a apenas 8 km de distância de Alcobaça-, o Mosteiro
de Santa Maria de Cós e por meio de uma determinação testamentária do rei D. Sancho
II (1209-1248). No entanto, este convento vivia "na sombra" da Abadia até ao ano de 1558,
adquirindo importância a partir do momento em que o cardeal D. Henrique se tornou abade
de Alcobaça, de 1540 a 1580, e o completou. Do convento ainda existem a Igreja, o coro e
a sacristia. Em 1566, D. Henrique fundou nos Capuchos (em Évora de Alcobaça) - que
também se localiza a poucos quilómetros de distância de Alcobaça-, o Convento de Santa
Maria Madaleina, um mosteiro para mongesFranciscanos, que aí permaneceram até à
dissolução dos mosteiros no ano de 1834. Deste mosteiro somente existem as ruínas ao
lado de uma capela. Na sequência da grande influência que os cistercienses adquiriram
em Portugal, alguns mosteiros de outra proveniência submeteram-se à Ordem dos
Cistercienses. Desta maneira, a abadia de Alcobaça passou a deter, mais tarde, também a
jurisdição, enquanto Congregação Autónoma dos Cistercienses em Portugal. No entanto,
não se trata, propriamente, de filiais do Mosteiro como, por exemplo, aquelas que
aparecem nos índices de livros cistercienses como mosteiros fundados por Alcobaça,
como Santa Maria de Tamaraes, Santa da Maria de Maceira Dão, Santa Maria de Bouro,
Estrela e São Paulo de Frades, todos eles de origem beneditina.

Número de monges[editar | editar código-fonte]


Segundo a lenda, terão vivido na abadia de Alcobaça 999 monges, estando o número
1000 reservado ao rei. Na verdade, este número de monges nunca existiu. Infelizmente,
não existe bibliografia precisa sobre o assunto. Os cistercienses, tal como outros
mosteiros, faziam a distinção entre os monges brancos (frei) e os irmãos leigos. Nos
primeiros séculos de construção, do povoamento do território do Mosteiro e da criação dos
coutos, é possível que o número dos irmãos leigos tenha ultrapassado o dos monges
brancos na proporção de 2 para 1. Deste modo, pensa-se terem existido ca. de 500
monges, dos quais ca. de 130 eram monges brancos.14 Por volta de 1500, prova-se a
existência de ca. de 150 monges brancos, tendo o número de irmãos leigos diminuido já
no século XIV. Ao longo do século XVI, o número de monges brancos diminuiu para 40,
aumentando para 110 aquando da nomeação de Alcobaça como Congregação Autónoma
dos Cistercienses em Portugal. Em 1762, contavam-se 139 monges brancos. A partir dos
relatos existentes sobre a capacidade da cozinha nova, terminada por volta de 1700, é de
presumir que o Mosteiro, nesse tempo, alojasse novamente ca. de 500 pessoas.

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