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A atividade conduzida pelos módulos deve fluir sem interferências indevidas.

A
hesitação sobre o módulo inicial da Sonata para piano op. 31, n. 3 21 de Beethoven
na execução de Artur Rubenstein (ou na de Wilhem Backhaus) só traz resultados
negativos, pois impossibilita o ritardando e a fermata especificados por Beeetho-
ven nos próximos compassos (3-6). No momento do ritardando indicado, os dois
intérpretes aceleram o tempo, pois não podem diminuir ainda mais do que já
o haviam feito. Algumas vezes os intérpretes acreditam que estão "trazendo à
tona" uma idéia ou demonstrando a expressividade de uma passagem através de
tais hesitações. Freqüentemente, parecem desconhecer a expressividade compos-
ta no ff-uxo rítmico, que é comprometida no processo. O caso referido causa espe-
cial perplexidade. A idéia de relutância nas execuções de Rubenstein e Backhaus
é evidenciada por Beethoven em diversas repetições durante a composição. Qual-
quer um que não possa escutar esta idéia sendo ressaltada pela música de Beetho-
ven não será auxiliado pela interpretação de Rubenstein nem pela de Backhaus.
O custo deste procedimento é a subordinação de cada gesto deste movimento
(mesmo os mais importantes) a este simples detalhe e a total desorientação do
fluxo rítmico.
As características de pulsação e respiração do fluxo temporal são o coração
da obra musical. Um intérprete que atingiu um nível de compreensão preciso e
profundo desse fluxo em determinada obra pode comunicá-lo melhor através da
definição nítida de seus pontos importantes: os inícios e finais de seus membros,
tais como as seções e as frases. O cultivo efetivo dos três hábitos que sugerimos
anteriormente ajudará o intérprete a eliminar as distorções indesejadas que são
tão comuns e geralmente bastante destrutivas para as formações rítmicas.
Nossa visão dos níveis rítmicos visa favorecer duas virtudes que não são
habitualmente encontradas na execução musical:

1) a articulação clara do movimento e das interrupções do fluxo rítmi-


co de uma obra, dando especial ênfase aos pontos onde as interrup-
ções na atividade definem os níveis rítmicos mais elevados;
2) a definição dos níveis rítmicos, de maneira a auxiliar a compreensão
de obras em uma variedade de estilos, durante toda a história da
música.

Para demonstrar a segunda virtude, devemos prosseguir adiante com nossa in-
vestigação rítmica em obras que ainda não discutimos sobre esta ótica.

334 TEMPO E RITMO: DIMENSÕES E ATIVIDADE

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