Restringindo a apresentação dos principais métodos de análise
fatorial (baricêntrico e eixos principais) a um único capítulo, os
autores expõem, em linguagem acessível e informal, acompanhados de numerosos exemplos, os princípios de rotação, os métodos de estimação de comunalidades, e o emprêgo de testes de significância em análise fatorial. Ao estudante oferecem, ainda, dois capítulos propedêuticos, versando sõbre o conceito de correlação e sõbre noções simples de geometria e álgebra matricial. Segundo o depoi- mento dos Drs. Guertin e Bailey, o livro incorpora, em parte, res- postas a consultas de colegas universitários em dúvida quanto à melhor forma de análise dos dados; motivo pelo qual carece de uma organização lógica e coerente dos vários' capítulos. Desta forma, excetuada uma breve menção a propósito do número de fatõres a serem conservados após rotação, é somente no nono capítulo que os autores expõem a análise em componentes principais e chamam a atenção de leitor para a subdivisão básica da variância total e a inter-relação dos conceitos derivados de unicidade, comunalidade e especificidade. Em que pêse a sua abordagem especificamente didática, refle- tida nos sumários colocados ao final de cada capítulo e nos exer- cícios propostos (cujas soluções também são dadas pelos autores, facilitando a aprendizagem das técnicas apresentadas), o livro en- cerra duas contribuições originais: a primeira, referente aos vários programas FORTRAN, elaborados e adaptados pelo Dr. Guertin, ao longo de vários anos de estudos e pesquisas na Universidade de Florida, e a segunda, dois capítulos referentes à análise fatorial de perfis e à análise tipo Q, documentando assim aplicações pioneiras da análise fatorial em psicologia aplicada.
EVA NICK
DE BONO, Edward. O pensamento criativo. Petrópolis, Vozes.
1970. 145 p. . Numa hora em que a investigação psicológica das aptidões, aban- donando as provas implicitamente fundamentadas em conhecimentos adquiridos, procura avaliar as capacidades criadoras do indivíduo, a publicação dêste livro traz subsídios tanto para a justificação teórica como para a construção de testes de criatividade. O título do original inglês, Uso do pensamento lateral, é algo misterioso, porém mais adequado ao conteúdo do livro. Trata, com efeito, de mostrar a importância do pensamento não-aristotélico. A lógica convencional apóia-se no pensamento "vertical", que "tem sido até hoje ó único tipo respeitável de pensamento" (p. 11). A matemática moderna, no entanto, revelou a utilidade do pensa-
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mento lateral. O modêlo aristotélico não é .mais o único. Nem por isso tem menos validade. "O pensamento vertical é um pensamento de alta probabilidade. ( ... ) Assim como a água segue os· declives, acumula-se nos buracos e confina-se no leito dos rios, o pensamento vertical segue as vias mais prováveis e, pelo seu próprio fluxo, aumenta a probabilidade futura dessas vias". (p. 13-4). Prosseguindo na metáfora, o pensamento lateral barra os velhos canais e cava novos leitos. Raciocina seguindo linhas de baixa probabilidade. As vêzes leva apenas a novas maneiras de encarar um velho problema. Em certos casos, porém, dá-se o estalo de uma solução genuína, verdadeiramente criadora. O autor situa o pensamento lateral em relação à criatividade. O pensamento criador requer umá capacidade de expressão especí- fica (no campo artístico por exemplo). O pensamento lateral apre- senta-se mais como um método de resolução de problemas. Consiste em deixar fluir livremente as idéias, procurar modelos nas situações mais esdrúxulas, sem entretanto deixar de lado o objetivo da pes- quisa. A função lógica compara e seleciona. O pensamento lateral não é devaneio. Como qualquer método, pode ser aprendido e treinado. O pro- pósito do livro é precisamente êste. Num estilo leve e agradável. com boa dose de sense of humour, o autor ensina como conseguir elaborar novas percepções de estímulos e problemas. Em primeiro lugar, é preciso desfazer-se dos maus hábitos liga- dos ao refôrço exclusivo· do pensamento aristotélico no ensino tra- dicional. "O processo educacional é usualmente eficaz e a educação é feita no sentido de que as pessoas aceitem os buracos que para elas foram escavados pelos seus mestres ( ... ) a educação não tem realmente nada a ver com o progresso: sua finalidade é tornar bem disponível um conhecimento que parece ser útil. Ela é comunicativa e não criativa". (p. 25). Escapar da influência das idéias recebidás não é fácil. Numa série de desenhos ,geométricos, o autor mostra como uma figura simples pode ser decomposta em elementos arbitràriamente esco- lhidos, infinitamente. Poderíamos chamar antigestalt essa "análise !i de elementos componentes". Uma figura pode ser compreendida como conjunto de elementos familiares. A pregnância é tal que nos afasta da liberdade de escolher outro arranjo, embora talvez dê conta da figura de maneira mais econômica. "É embaraçoso pensar no número de situações incompletamente compreendidas por insistência em II explicá-las através de estruturas familiares bem testadas, as quais deviam ser reexaminadas". (p. 66). Os princípios do pensamento lateral são agrupados pelo autor sob quatro títulos (agrupamento arbitrário ~ste, não esqueçamos que ! I Resenha bibliográfica 129 I I I teria sido válido escolher outro arranjo!): 1. reconhecimento de idéias dominantes ou polarizadoras; 2. pesquisa de maneiras diversas de examinar as coisas; 3. relaxamento do rígido contrôle exercido pelo pensamento vertical; 4. uso da sorte. A escolha dêsses princípios ressalta o propósito do autor, de procurar desinibir o pensamento, dar-lhe inúmeros graus de liber- dade. Isto não é interessante apenas como ginástica ou higiene mental. No campo da tecnologia, a descoberta de uma solução nova pode economizar muitos milhões. No mundo de amanhã, em que os pro- blemas serão equacionados e resolvidos através de computadores - triunfo do pensamento vertical - talvez reste ao homem descobrir e utilizar sua disponibilidade para soluções realmente criativas. Abrindo êste campo, De Bono dá-nos uma lição de liberdade. "Todos têm o direito de duvidar de tudo quantas vêzes o qui- serem e têm o dever de o fazer pelo menos uma vez. Nenhum modo de ver as coisas é tão sagrado que não possa ser reconsiderado. Nenhum modo de fazer as coisas está livre de ser aperfeiçoado. Deveria ser possível olhar-se para a roda e reconsiderar sua efi- ciência." (p. 83). MONIQUE AUGRAS
RYCROFT, Charles et alii. Psychoanalysis observed. Harmonds-
worth, Middlesex, England, Peguin Books, 1968. 160 p. Além de bibliografia de 87 títulos e glossário, o volume c()ntém uma série de cinco trabalhos de autores que observam a psicaná- lise, de posições diversas. Três dêles são analistas - Rycroft, L9mas e Storr - e os dois outros são considerados como profissionais de campos afins: Gorer, da antropologia social, e Wren-Lewis, da teologia e da ciência industrial. Rycroft esclarece que psicanálise, nesse volume, abrange tôdas as teorias e terapias que: a) admitem a existência de processos mentais inconscientes; b) preocupam-se com a elucidação de moti- vos; c) utilizam a transferência. Assim vista, a psicanálise contrasta apenas com a corrente da psiquiatria organicista e com o behavio- rismo, uma vez que considera a experiência subjetiva como objeto central de estudo e não como componente estranha a ser ignorada ou eliminada. Diz ainda Rycroft, em sua introdução, que o título original pla- nejado para êsse volume seria: Objeções à psicanálise. Embora alte- rado o título, a crítica nos parece uma posição comum aos vários 130 A.B.P.A. 2/71